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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 1 CAPÍTULO 01 – O CARREGAMENTO ELÉTRICO DE CONDUTORES E ISOLANTES 1.1 Fontes dos fenômenos Elétricos e Magnéticos Tome, por exemplo, duas canecas de café de forma geométrica idêntica. Uma delas é feita de cerâmica e a outra de alumínio. Pode-se estabelecer a diferença entre as duas por inspeção visual ou pelo tato. Através da luz refletida por ambas, percebe-se que são feitas de materiais diferentes. Entretanto, a análise ótica dos objetos utilizando apenas os olhos pode parecer incompleta. Sustenta-se, então, uma delas com a mão direita e a outra com a mão esquerda. Verifica-se pelo tato1 que uma delas é mais pesada do que a outra. Além disso, o contato com as mãos revela que uma delas é mais “fria”. Essa sensação de quente e frio, quando se toca dois objetos simultaneamente com as duas mãos, na maioria das vezes, revela que são feitos de materiais diferentes. Pode-se, quase com certeza, afirmar que as duas canecas são feitas de materiais diferentes. O odor natural de ambas, o sabor devido ao contato com a língua e o som provocado quando ambas são batidas com uma caneta, completariam a análise e reforçariam a hipótese de serem realmente de materiais diferentes. Tome, agora, outras duas canecas: uma delas é de vidro e a outra de quartzo. Pode-se concluir por uma análise idêntica à do parágrafo anterior que são feitas de materiais diferentes? Provavelmente, os resultados experimentais que suportariam que as canecas são feitas de materiais diferentes seriam os pesos de ambas, no caso de serem sustentadas, simultaneamente, com as mãos esquerda e direita e o som provocado devido à batida com uma caneta. Conclui-se, dos dois 1 As terminações nervosas da pele são sensores da pressão da força normal �⃗⃗� exercida sobre a pele pelos objetos que tocamos. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 2 experimentos expostos, que a análise da realidade física do mundo que nos rodeia, feita apenas com os nossos sentidos é incompleta e não é raro levar a uma conclusão falsa. Até o século XVII, as observações dos fenômenos naturais eram limitadas pelos sentidos humanos e o entendimento e a descrição dos mesmos também eram limitados. A razão humana, que procura desvendar a origem e o significado dos fenômenos naturais, era refém dos sentidos do homem. Assim, foi com os fenômenos elétricos e magnéticos. Percebeu-se, e os relatos remontam à Grécia da Antiguidade Clássica, que os materiais apresentavam propriedades novas quando as suas superfícies eram atritadas e separadas, posteriormente. Deu-se o nome de carregamento elétrico para esse fenômeno. Também, alguns minerais apresentavam a capacidade “natural” de atrair pequenos pedaços de ferro, o fenômeno do magnetismo. Sabe-se hoje em dia que a carga elétrica é a responsável pelos fenômenos elétricos e magnéticos. Corpos materiais com carregamento elétrico que estão em repouso, relativo a um observador em um corpo material de referência neutro, geram os fenômenos elétricos apenas. Se estiverem em movimento relativo ao observador no corpo material de referência neutro duas situações são possíveis: (a) quando em movimento retilíneo e uniforme (MRU)2 geram campos vetoriais elétricos e magnéticos que não variam com o tempo; (b) quando em movimento acelerado (�⃗⃗� ≠ 0), geram campos vetoriais magnéticos que variam com o tempo e campos de empuxo “tipo elétrico” no fenômeno conhecido como ondas eletromagnéticas. O carregamento elétrico de um corpo material A, ou de um dispositivo feito do mesmo material, significa que o corpo material adquiriu a capacidade de exercer 2 No MRU não há variação do vetor velocidade 𝑣 de deslocamento do corpo. Ou seja, tem-se nesse caso o vetor aceleração nula (𝑎 = 0). Essa situação corresponde a uma resultante nula das forças que atuam sobre o corpo material, ou seja, 𝐹 𝑅 = 0. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 3 forças elétricas e magnéticas sobre outros corpos materiais localizados no espaço da sua vizinhança sem que haja a necessidade de haver contato entre eles. O carregamento elétrico de um corpo material pode ser de dois tipos: o negativo (−) e o positivo (+). Dois corpos materiais, com carregamento elétrico do mesmo tipo (+ + ou − −), exercem forças elétricas repulsivas entre si. Quando o carregamento elétrico dos corpos materiais for de tipos diferentes (+ − ou − +) as forças elétricas entre eles são atrativas. Com o advento da teoria atômica no século XX, descobriu-se que o carregamento elétrico dos corpos materiais deve-se a uma propriedade fundamental dos elétrons e dos prótons, as partículas materiais que compõem o átomo. Ainda de acordo com a teoria atômica, os elétrons se movimentam em órbitas fechadas em torno da região central imóvel chamada de núcleo. O núcleo contém os prótons e os nêutrons. Os elétrons têm a unidade fundamental de carga elétrica negativa e os prótons a de carga elétrica positiva. Em módulo, as duas unidades fundamentais de carga elétrica são iguais, cujo valor medido em coulombs é dado por: Cxe 19106,1 . O modelo atômico de órbitas foi proposto pelo físico dinamarquês Neils Bohr em 1912 e, teve como base os experimentos de J.J. Thompson, cujos resultados foram publicados em 1897, e os de Ernest Rutherford publicados em 1910. Thompson mostrou com um tubo de raios catódicos a natureza corpuscular da carga negativa da matéria, ou seja, a existência dos elétrons de carga negativa. Os experimentos de Rutherford, medindo o espalhamento das partículas α que incidiam sobre finas lâminas de ouro, evidenciaram a existência da carga positiva da matéria dentro de um caroço, o núcleo central do modelo de Bohr. O modelo de Bohr, suportado por esses experimentos, é mostrado na Fig. 1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 4 Figura 1 – O modelo atômico de Bohr. Uma vez que qualquer corpo material (A) apresenta-se neutro, se ele não for submetido ao processo de carregamento elétrico, então o número de elétrons e o de prótons da matéria ordinária deve ser igual: Ne = NP. Ou seja, o processo de carregamento elétrico consiste em alterar a igualdade no número de elétrons e de prótons, transferindo elétrons do corpo material (A) para outro corpo material (B), ou vice-versa. Assim, o carregamento elétrico positivo (+) do corpo material (A) significa que o processo de carregamento elétrico transfere uma quantidade ne de elétrons dele para o outro corpo material (B) e que o corpo material (A) fica com uma quantidade np (= ne) de prótons a mais que a de elétrons. O corpo material (B) recebendo a quantidade adicional ne de elétrons fica carregado negativamente (−). O processo inverso, ou seja, o carregamento elétrico negativo (−) do corpo material (A) também pode ocorrer. Veja na Fig. 2 as duas situações possíveis para o carregamento elétrico do corpo material (A). Atribui-se uma grandeza física para o carregamento elétrico de qualquer corpo material, a chamada quantidade de carga elétrica desbalanceada Q. Mede-se Q em coulombs (1 C) no sistema internacional de medidas (SI). Algumas PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 5 subunidades do coulomb de uso comum são: o milicoulomb (1mC); o microcoulomb (1µC); o nanocoulomb (1nC)e o picocoulomb (1pC). [Q] = 1 coulomb = 1 C 1 mC = 1x10-3 C 1 µC = 1x10-6 C 1 nC = 1x10-9 C 1 pC = 1x10-12 C Figura 2 – Os dois tipos de carregamento elétrico de um corpo material (A). PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 6 Foi o físico norte-americano Robert Millikan quem mediu, pela primeira vez, o valor em coulombs da carga elétrica de um único elétron. Deduz-se, então, que a quantidade de carga elétrica Q de um corpo material que foi submetido ao processo de carregamento elétrico escreve-se como: neQ ; Cxe 19106,1 n Número de elétrons transferidos. EXEMPLO 1 Um eletrodo metálico A está inicialmente neutro. Utiliza-se um procedimento de carregamento elétrico para que tenha uma quantidade de carga elétrica de valor Q = + 10 µC. Calcule o número de elétrons livres que deve ser transferido a outro eletrodo metálico B. Solução: 𝑄 = 𝑛𝑒 → 𝑛 = 𝑄 𝑒 = 10𝑥10−6 𝐶 1,6𝑥10−19𝐶 = 6,25𝑥1013 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠 1.2 O Carregamento elétrico de eletrodos metálicos e de isoladores elétricos 1.2.1 O carregamento elétrico de eletrodos metálicos Objetos metálicos de forma geométrica adequada para uma aplicação específica são chamados de eletrodos. Pode-se carregar, eletricamente, um par de 𝑄 = 𝑛𝑒 → 𝑛 = 𝑄 𝑒 = 10𝑥10−6 𝐶 1,6𝑥10−19𝐶 = 6,25𝑥1013 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠 EXEMPLO 1 Um eletrodo metálico A está inicialmente neutro. Utiliza-se um procedimento de carregamento elétrico para que tenha uma quantidade de carga elétrica de valor Q = + 10 µC. Calcule o número de elétrons livres que deve ser transferido a outro eletrodo metálico B. Solução: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 7 eletrodos metálicos utilizando-se uma bateria ou uma pilha. A bateria foi inventada por Alessandro Volta, nos anos 90 do século XVIII. Ela consiste de um par de eletrodos metálicos, um deles carregado positivamente com + Q, o eletrodo positivo (+), e o outro carregado negativamente com – Q, o eletrodo negativo. O carregamento elétrico dos eletrodos é mantido por meio da reação química que ocorre entre uma substância apropriada em contato com os eletrodos. Veja na Fig. 3 o esboço de uma pilha. Figura 3 – Pilha voltaica de dois eletrodos. Pode-se, facilmente, carregar eletricamente com cargas + Q e – Q qualquer outro par de objetos metálicos utilizando a bateria. Veja na Fig. 4 como se faz isso. Nesse caso, o módulo Q da carga elétrica dos objetos metálicos, resultante do processo de carregamento, é obtido utilizando a seguinte expressão: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 8 CVQ . Q = módulo da carga elétrica. C = Capacitância do par de objetos metálicos. V = Tensão elétrica da bateria ou diferença de potencial elétrico (ddp). Figura 4 – Carregamento elétrico de um par de eletrodos metálicos utilizando uma bateria. A tensão elétrica ou diferença de potencial elétrico V (ddp) é uma grandeza física que é definida quando se analisa o carregamento elétrico de um corpo material, utilizando a conservação de energia elétrica. Essa forma de abordar os fenômenos elétricos é muito útil, uma vez que a energia elétrica é uma grandeza física escalar, ou seja, não é necessário utilizar a geometria euclidiana para executar as operações algébricas de soma, subtração, produto e divisão com ela. Mede-se a tensão elétrica V utilizando-se o voltímetro. No sistema SI de unidades, o volt (1 V) é a unidade de tensão elétrica. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 9 Acompanha-se a transferência de carga do processo de carregamento elétrico de um par de eletrodos metálicos utilizando-se o medidor de corrente elétrica, o amperímetro. O amperímetro mede a corrente elétrica em ampères (1 A), a unidade de corrente elétrica do sistema SI. A corrente elétrica I medida pelo amperímetro é definida como a quantidade de carga elétrica que passa através dele por unidade de tempo: dt dQ I → A s coulomb dt dQ I 1 . Pode-se mostrar que, para o carregamento elétrico do par de eletrodos metálicos, a corrente elétrica I varia no tempo, exponencialmente, de acordo com a seguinte equação: RC t oeItI )( . Nesta equação, R é a soma das resistências elétricas da pilha e de todos os cabos que conectam a pilha com o par de eletrodos. A capacitância C do par de eletrodos metálicos é medida em farad (1 F). Utilizando a equação Q = CV, podem- se obter as unidades da capacitância: V Q C → F volt coulomb V Q C 1 . PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 10 A resistência elétrica de um cabo, ou de um pedaço de condutor metálico, é medida por um ohmímetro. As unidades de R são obtidas da lei de Ohm. Essa lei relaciona a tensão aplicada pela bateria com a corrente elétrica de carregamento: RIV (Lei de Ohm) → 1 ampére volt I V R Vê-se, portanto, que o produto RC, que aparece no fator exponencial para a corrente I do carregamento elétrico do par de eletrodos metálicos, tem unidades de tempo: s s coulomb coulomb volt coulomb x ampere volt RC Pode-se, ainda, utilizar outros métodos para carregar eletricamente um par de eletrodos metálicos. Têm-se utilizado, em larga escala, o método fotovoltaico. Em um dos dispositivos que empregam o método fotovoltaico, o carregamento elétrico do par de eletrodos é mantido incidindo luz ultravioleta sobre a superfície dos eletrodos metálicos, quando eles estão dentro de um tubo onde se faz vácuo. Em outro dispositivo, incide-se luz visível, ou luz com comprimento de onda na região do infravermelho, sobre as junções semicondutoras de um transistor. Isto provoca o carregamento dos dois eletrodos metálicos ligados a ela. Há ainda o método de indução eletromagnética. Nesse caso, a taxa de variação temporal do fluxo magnético M de um campo vetorial magnético �⃗� , gerado externamente por PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 11 imãs, ou por correntes elétricas que circulam numa bobina (os solenoides e os eletroímãs), carrega eletricamente os eletrodos metálicos. Mostram-se na Fig. 5 esses outros métodos. (a) Método fotovoltaico (b) Método de indução eletromagnética PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 12 Figura 5 – Os métodos fotovoltaicos e de indução eletromagnética são utilizados para gerar carregamento elétrico nas extremidades de eletrodos metálicos. Uma situação especial de muita importância prática ocorre quando um dos eletrodos é a Terra. Devido aos seus minerais, pode-se considerar a Terra como um grande eletrodo metálico esférico de raio RT = 6.370 km = 6,37x10 6 m. Assim, de posse de uma bateria, o carregamento elétrico do par eletrodo/Terra pode ocorrer como mostrado na Fig. 6. Figura 6 – Carregamento elétrico do par eletrodo/Terra. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 13 Finalmente, deve-se mencionar a importância de outros dois métodos de carregamentoelétrico de eletrodos metálicos: (a) o método de carregamento elétrico por contato e (b) o método de carregamento elétrico por indução eletrostática. O primeiro ocorre quando um eletrodo metálico carregado toca o outro. Nesse caso, o eletrodo (A) pode estar carregado positivamente (+), negativamente (-) ou neutro. Quando o eletrodo (A) estiver carregado positivamente e o eletrodo (B) também estiver carregado positivamente, pode ocorrer o aparecimento de uma corrente elétrica I entre ambos. O sinal da tensão V = VA – VB indica qual o sentido da corrente elétrica. Se V é positivo, então VA > VB e o sentido da corrente elétrica I é do eletrodo (A) para o eletrodo (B), ou seja, os elétrons se deslocam do eletrodo (B) para o eletrodo (A)3. Se V for negativa, então VA < VB e o sentido da corrente elétrica I é do eletrodo (B) para o eletrodo (A) e os elétrons fluem do eletrodo (A) para o eletrodo (B). Se o eletrodo (B) estiver carregado negativamente, então o sentido da corrente elétrica I é do eletrodo (A) para o eletrodo (B). O mesmo ocorre quando o eletrodo (B) estiver neutro. A corrente elétrica I entre os eletrodos cessa quando V = 0. Na situação onde o eletrodo (A) estiver carregado negativamente ocorre o oposto. Veja na Fig. 7 o processo de carregamento elétrico por contato. 3 Observe que o sentido da corrente elétrica convencional que é utilizado em Teoria de Circuitos Elétricos é o oposto ao sentido real do fluxo de elétrons. Isso se deve às razões históricas do estudo dos fenômenos elétricos. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 14 Figura 7 – Algumas situações de carregamento elétrico por contato. O carregamento elétrico de eletrodos pelo método de indução eletrostática ocorre quando um eletrodo (A) carregado é aproximado de um outro eletrodo (B), que está inicialmente neutro. Se o eletrodo (B) neutro for ligado à Terra, ou então a um terceiro eletrodo metálico qualquer, aparecerá uma corrente elétrica I entre ele e a Terra ou entre ele e o terceiro eletrodo. A intensidade e o sentido de I dependem da carga Q do eletrodo (A). Se a carga do eletrodo (A) for positiva, então o sentido da corrente elétrica é do eletrodo (B) para a Terra, ou seja, elétrons fluem PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 15 da Terra para o eletrodo (B). Posteriormente, se a ligação entre o eletrodo (B) e a Terra for cortada, ele ficará carregado negativamente com uma carga – Q. Quando o eletrodo (A) estiver carregado com – Q ocorre o oposto. Veja na Fig. 8 as duas situações. Figura 8 – Carregamento elétrico de um eletrodo neutro por indução eletrostática. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 16 O DESCARREGAMENTO ELÉTRICO DE ELETRODOS METÁLICOS O aterramento é a técnica utilizada para o descarregamento de eletrodos metálicos. A técnica de aterramento consiste em ligar o eletrodo metálico carregado eletricamente à Terra, o grande eletrodo esférico. A ligação elétrica entre ambos é feita por meio de um fio metálico apropriado, o fio terra. Pode-se usar, também, o chamado “terra”, um grande eletrodo que desempenha o mesmo papel. Nas instalações elétricas prediais pode-se utilizar uma malha de aterramento construída para esse fim. Deve-se, nesses casos, atentar para o fenômeno de corrosão galvânica, que ocorre devido à formação de uma pilha entre o fio terra (ou a malha de aterramento) e as estruturas metálicas próximas. EXEMPLO 2 Dois eletrodos esféricos A e B de mesmo raio R estão suportados por uma coluna e uma base de madeira. O eletrodo esférico A está com carregamento elétrico + Q. O eletrodo esférico B está descarregado eletricamente e ligado à Terra por meio de um fio terra. Com base nessas informações, descreva o carregamento elétrico do eletrodo B quando: (a) Aproxima-se o eletrodo esférico A, desfaz-se a ligação do fio terra ligado ao eletrodo esférico B e, então, afasta-se o eletrodo esférico A. (b) Aproxima-se o eletrodo esférico A e, posteriormente, sem desfazer a ligação do fio terra, afasta-se o eletrodo esférico A. Solução: EXEMPLO 2 Dois eletrodos esféricos A e B, de mesmo raio R, estão suportados por uma coluna e uma base de madeira. O eletrodo esférico A está com carregamento elétrico + Q. O eletrodo esférico B está descarregado eletricamente e ligado a Terra por meio de um fio terra. Com base nessas informações, descreva o carregamento elétrico do eletrodo B quando: (a) Aproxima-se o eletrodo esférico A, desfaz-se a ligação do fio terra ligado ao eletrodo esférico B e, então, afasta-se o eletrodo esférico A. (b) Aproxima-se o eletrodo esférico A e, posteriormente, sem desfazer a ligação do fio terra, afasta-se o eletrodo esférico A. Solução: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 17 (a) Ao se aproximar de B o eletrodo A atrai elétrons para essa face de B. A face oposta de B fica carregada eletricamente com (+), que atrai elétrons da Terra. Quando se desfaz a ligação do fio terra e se afasta o eletrodo A, o eletrodo B fica carregado eletricamente com –Q. (b) Nesse caso, com a presença do eletrodo A as faces opostas de B ficam carregadas eletricamente com +q e –q. Ao se afastar o eletrodo A, o eletrodo B volta a ter a neutralidade de carregamento elétrico (Q=0). EXEMPLO 3 Dois eletrodos esféricos metálicos idênticos (mesmo material e mesmo raio R) A e B estão com o carregamento elétrico indicado nas figuras abaixo. Eles são postos em contato e a seguir são separados. Indique ao lado das figuras o carregamento elétrico final de A e de B. (a) Ao se aproximar de B o eletrodo A atrai elétrons para essa face de B. A face oposta de B fica carregada eletricamente com (+), que atrai elétrons da Terra. Quando se desfaz a ligação do fio terra e se afasta o eletrodo A, o eletrodo B fica carregado eletricamente com –Q. (b) Nesse caso, com a presença do eletrodo A as faces opostas de B ficam carregadas eletricamente com +q e –q. Ao se afastar, o eletrodo A e o eletrodo B volta a ter a neutralidade de carregamento elétrico (Q=0). EXEMPLO 3 Dois eletrodos esféricos metálicos idênticos (mesmo material e mesmo raio R) A e B estão com o carregamento elétrico indicado nas figuras abaixo. Eles são postos em contato e, a seguir são separados. Indique ao lado das figuras o carregamento elétrico final de A e de B. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 18 Solução: 1.2.2 – O Carregamento Elétrico de Isolantes O atrito entre as superfícies em contato dos corpos materiais é o processo mais comum de carregamento elétrico de um par de isoladores elétricos ou de um par isolador/eletrodo metálico. Nesse método, dá-se o carregamento elétrico por transferência de elétrons na região de contato entre os materiais. O fenômeno é conhecido como carregamento tribo-elétrico. Classificam-se os materiais isolantes PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 19 de acordo com a sua capacidade de transferir elétrons utilizando esse método. Essa classificação é chamada de série tribo-elétrica. O material que estiver numa posição superior na tabela da série tribo-elétricatem maior capacidade de transferir elétrons para os materiais que estão abaixo dele. Na Fig. 9 pode-se ver a posição ocupada na tabela da série tribo elétrica por alguns materiais, que encontram muita aplicação na indústria. DOADORES DE ELÉTRONS (MAIS POSITIVOS) NEUTROS RECEPTORES DE ELÉTRONS (MAIS NEGATIVOS) PELE HUMANA SECA MADEIRA ASBESTO ÂMBAR ACETATO BORRACHA DURA PELE DE COELHO ALGODÃO NÍQUEL E COBRE AR SECO AÇO LATÃO E PRATA VIDRO OURO E PLATINA MICA ACRÍLICO CABELO POLIURETANO NYLON POLIÉSTER LÃ ISOPOR PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 20 CHUMBO FILME DE PVC PELE DE GATO POLIETILENO SILICONE TEFLON Figura 9 – Posição de alguns materiais na série tribo elétrica. Utilizando-se a série tribo-elétrica pode-se, por exemplo, explicar porque quando se atrita um balão de festas nos cabelos, ele passa a atrair os fios do mesmo. Quando atritado com o balão de borracha, de acordo com a série da Fig. 9, os fios de cabelo transferem elétrons para o balão de borracha, ficando carregados positivamente (+). Recebendo os elétrons transferidos dos fios de cabelo, o balão de borracha torna-se carregado negativamente (−). Observa-se, então, o fenômeno de atração eletrostática entre os fios de cabelo e o balão de borracha, que parece querer “colar” no cabelo. Observe na Fig. 10 esse fenômeno elétrico. Figura 10 – Atração eletrostática entre um balão de festas e os fios de cabelo. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 21 Em alguns casos, é possível o carregamento elétrico por contato entre um metal e um isolante. De acordo com a série tribo elétrica da Fig. 9, pode ocorrer o carregamento do par eletrodo de alumínio/borracha. Nesse caso, o eletrodo de alumínio transfere elétrons para a borracha, ficando carregado positivamente (+) e a borracha negativamente (−). Também, o ar seco, um bom isolante elétrico, pode carregar negativamente a carroceria de aço de um automóvel ou caminhão, ou ainda a fuselagem de alumínio dos aviões. Após o pouso, as aeronaves devem ser descarregadas. Em algumas situações, o carregamento elétrico da fuselagem das aeronaves gera tensões que podem chegar a V = 300.000 volts. O acidente com o foguete brasileiro na base aérea de Alcântara deveu-se, provavelmente, a faíscas geradas pelas altas tensões, devido ao carregamento elétrico estático. O DESCARREGAMENTO ELÉTRICO DE ISOLANTES Ao contrário dos eletrodos de metais, onde a ligação a Terra (ou ao terra) é o método comumente empregado para a neutralização do carregamento elétrico, a neutralização do carregamento elétrico de isolantes não pode ser feita por esse método, sendo, portanto, mais complicada. Empregam- se os chamados ionizadores para neutralizar o carregamento elétrico de isolantes. Os ionizadores são ventiladores que produzem um fluxo de ar ionizado com íons positivos (+) e negativos (−), sobre os isolantes carregados, possibilitando, dessa forma, a sua neutralização. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 22 XEMPLO 4 Atrita-se uma das faces de um pedaço de isopor aos cabelos secos de uma criança. A seguir, atrita-se a mesma face do pedaço de isopor a uma superfície de teflon. Verifica-se que o isopor continua com carregamento elétrico mesmo depois de atritado ao teflon. Explique: (a) A transferência de carga elétrica entre esses materiais. Utilize a classificação dos materiais na tabela da série triboelétrica. (b) O sinal do carregamento elétrico dos cabelos secos da criança, do teflon e do pedaço de isopor ao final do procedimento de carregamento elétrico. Solução: (a) Os cabelos transferem carga negativa para o isopor. O isopor transfere parte da carga negativa para o teflon. EXEMPLO 5 Atrita-se um balão de festas de borracha aos cabelos secos de um convidado. A seguir, comprime-se esse balão de festas a uma parede de alvenaria seca do salão de festas. Observa-se que o balão de festas adere à parede de alvenaria seca. Utilizando a tabela da série triboelétrica faça uma descrição desse fenômeno elétrico. Solução: Atritando-se o balão de borracha aos cabelos, ele fica carregado eletricamente com – EXEMPLO 6 Três pequenas esferas isolantes A, B e C. estão próximas uma da outra, mas não se tocam. A esfera isolante A atrai as esferas isolantes B e C. Verifica-se, adicionalmente, que B e C se atraem mutuamente. Faça um desenho esquemático de A, B e C indicando o sinal da carga elétrica de cada uma delas. Solução: Uma vez que a esfera B é atraída por B e C ela deve estar carregada eletricamente com uma carga oposta a B e a C. Entretanto, as esferas A e C se atraem mutuamente. Assim, a esfera B deve ser neutra e ficar carregada por polarização das faces. Então, a esfera A poderia estar carregada com + Q, a esfera B ser neutra e a esfera C estar carregada com – Q. É possível, adicionalmente, que as esferas A e C estejam com carregamento elétrico (-) e (+). EXEMPLO 4 Atrita-se uma das faces de um pedaço de isopor aos cabelos secos de uma criança. A seguir, atrita-se a mesma face do pedaço de isopor a uma superfície de teflon. Verifica-se que o isopor continua com carregamento elétrico, mesmo depois de atritado ao teflon. Explique: (a) A transferência de carga elétrica entre esses materiais. Utilize a classificação dos materiais na tabela da série triboelétrica. (b) O sinal do carregamento elétrico dos cabelos secos da criança, do teflon e do pedaço de isopor, ao final do procedimento de carregamento elétrico. Solução: (a) Os cabelos transferem carga negativa para o isopor. O isopor transfere parte da carga negativa para o teflon. (b) Cabelos secos ( + ) Teflon ( - ) e Isopor( - ) EXEMPLO 5 Atrita-se um balão de festas de borracha aos cabelos secos de um convidado. A seguir, comprime-se esse balão de festas a uma parede de alvenaria seca do salão de festas. Observa-se que o balão de festas adere à parede de alvenaria seca. Utilizando a tabela da série triboelétrica faça uma descrição desse fenômeno elétrico. Solução: Atritando-se o balão de borracha aos cabelos, ele fica carregado eletricamente com –Q. Ao comprimir o balão contra a parede, ele repele a carga negativa da superfície da parede. A parede fica com carregamento elétrico superficial +Q e atrai o balão de festas. EXEMPLO 6 Três pequenas esferas isolantes A, B e C. estão próximas uma da outra, mas não se tocam. A esfera isolante A atrai as esferas isolantes B e C. Verifica-se, adicionalmente, que B e C se atraem mutuamente. Faça um desenho esquemático de A, B e C indicando o sinal da carga elétrica de cada uma delas. Solução: Uma vez que a esfera B é atraída por B e C ela deve estar carregada eletricamente com uma carga oposta a B e a C. Entretanto, as esferas A e C se atraem mutuamente. Assim, a esfera B deve ser neutra e ficar carregada por polarização das faces. Então, a esfera A poderia estar carregada com + Q, a esfera B ser neutra e a esfera C estar carregada com – Q. É possível, adicionalmente, que as esferas A e C estejam com carregamento elétrico (-) e (+). PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 23 1.3 Distribuições de Carga Elétrica O carregamento elétrico do par eletrodo/eletrodo, eletrodo/isolante ou isolante/isolante, pode gerar situações onde o carregamento elétrico dos mesmos dá origem a uma distribuição da carga elétrica Q, que é não uniforme. Ou seja,pedaços do eletrodo que têm o mesmo volume elementar dV, ou a mesma área elementar dS, ou ainda o mesmo comprimento elementar dL, possuem quantidades de carga elementar dQ que são diferentes. A informação sobre as variações da quantidade de carga elétrica sobre o volume V, a área S ou o comprimento L de um corpo material com carregamento elétrico é obtida das chamadas distribuições de carga elétrica. 1.3.1 Distribuições de Carga Elétrica em Eletrodos Metálicos No caso de eletrodos metálicos, a carga Q do carregamento elétrico se distribui de maneira uniforme e homogênea sobre a área da superfície do eletrodo. Essa característica de eletrodos metálicos se deve ao grande número de elétrons livres presentes no material. Quando os átomos de um metal se juntam para formar o material metálico, a interação dos elétrons das órbitas mais externas resulta numa configuração eletrônica estável quando 1 ou 2 elétrons por átomo são liberados. O número de elétrons liberados depende do tipo de átomo. Na formação do material cobre, por exemplo, 1 elétron é liberado. Os elétrons liberados da ligação atômica estão livres para se deslocarem através do material ou, caso adquiram energia cinética suficiente, abandonar o metal. A quantidade de elétrons livres de um metal é grande. Pode-se utilizar a fórmula abaixo para estimar o número de elétrons livres de um eletrodo metálico: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 24 AP x pn . 1002,6. 23 V N n = número de elétrons livres/volume p = número de elétrons liberados pelo átomo do metal ρ = densidade de massa do metal 1 mol = 6,02x1023 átomos P.A = peso atômico do metal Portanto, no caso dos eletrodos metálicos, qualquer desequilíbrio local de carga elétrica Q, provocado devido ao carregamento elétrico, altera a quantidade de elétrons numa região do material de volume elementar dV e, é imediatamente acompanhada de uma corrente elétrica dirigida do restante do material para a região. Isso se deve ao campo vetorial elétrico, resultante entre o volume dV com carregamento elétrico e o restante do eletrodo metálico. No caso de ocorrer desequilíbrio por aumento do número de elétrons em dV, a corrente de elétrons é dirigida do volume dV para o restante do material. Caso contrário, ou seja, um decréscimo do número de elétrons em dV, a corrente é dirigida do restante do material para o volume dV. O processo se repete para qualquer volume dV do interior do metal. Então, a superfície do metal é a única região onde o processo de neutralização não pode ocorrer. Define-se a distribuição de carga na superfície de eletrodos metálicos por σ, a densidade superficial de carga elétrica devido ao carregamento elétrico. S Q PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 25 Q = quantidade de carga elétrica em coulombs transferida no carregamento elétrico. S = área da superfície do eletrodo em m2. Unidades de σ no sistema SI = coulomb/m2 = C/m2. Apresentam-se na Fig. 11, abaixo, alguns eletrodos com geometrias muito utilizadas em aplicações, tanto na Física quanto na Engenharia Elétrica e Eletrônica e as respectivas densidades de carga elétrica σ, devido ao carregamento elétrico com carga Q. ba Q S Q . ; CVQ ; Kd ba Kd S C 4 . 4 ; Farad m x C mN xK 9 2 2 9 109 . 109 (a) Eletrodos planos PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 26 RL Q S Q 2 ; CVQ ; r R k L C ln2 (b) Eletrodos cilíndricos 2 1 int 4 R Q S Q erna ; 2 24 R Q S Q externa ; CVQ ; 12 12 RRK RR C (c) Eletrodos esféricos Figura 11 – Densidades de carga de eletrodos metálicos de diferentes geometrias. Se um dos eletrodos é a Terra, dois modos são possíveis para o carregamento elétrico do par eletrodo metálico/Terra. Os dois modos são mostrados na Fig. 12, a seguir: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 27 (a) (b) 24 R Q S Q ; CVQ ; R h R h RR x RRK C T T T 11 1 1 1 ; R = raio do eletrodo esférico. h = distância entre o eletrodo esférico e a superfície da Terra. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 28 Se h « RT e R « RT → R h K R C 1 1 1 1 . Figura 12 – Carregamento elétrico do par eletrodo esférico/Terra. A constante K nas expressões acima para a capacitância C do par de eletrodos metálicos é a constante elétrica. Ela aparece na lei de força entre dois corpos materiais carregados de dimensões muita pequenas, as chamadas cargas elétricas puntiformes. A lei de força entre cargas puntiformes é conhecida como Lei de Coulomb. A lei de Coulomb estabelece que o módulo da força F entre duas cargas elétricas puntiformes separadas de uma distância r varia, proporcionalmente, ao produto da quantidade de carga de cada uma delas, Q1Q2, e é inversamente proporcional à distância entre elas. A força elétrica que uma carga puntiforme exerce sobre a outra ocorre à distância, ou seja, sem que haja contato físico entre as cargas elétricas. Esse fenômeno se deve à existência de um campo vetorial elétrico E gerado no espaço da vizinhança das cargas. EXEMPLO 7 Um eletrodo metálico esférico de raio R = 1 m está a uma altura h = 7 m acima do solo. Utiliza-se uma fonte de tensão elétrica CC para carregar o eletrodo metálico esférico com uma quantidade de carga elétrica Q = + 300 µC. Um dos terminais da fonte elétrica CC é ligado ao eletrodo e a outra à Terra. Calcule o valor da tensão elétrica V que deve ser fixado na fonte de tensão elétrica CC. Solução: 𝑄 = 𝐶𝑉 → 𝑉 = 𝑄 𝐶 𝐶 = 𝑅 𝐾 1 [1 − 1 (1 + ℎ 𝑅) ] = 1 9𝑥109 1 [1 − 1 (1 + 7 1) ] = 1,27𝑥10−10 𝐹 𝑉 = 300𝑥10−6 1,27𝑥10−10 = 2,36𝑥106 𝑉 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 29 EXEMPLO 8 Sabe-se que o carregamento elétrico do eletrodo metálico esférico do Problema 7 ocorreu no intervalo de tempo ∆ t = 2 x 10-6 s. Calcule a corrente elétrica média I desse procedimento de carregamento elétrico. Solução: 𝐼 = ∆𝑄 ∆𝑡 = 300𝑥10−6 𝐶 2𝑥10−6𝑠 = 150 𝐴 1.3.2 Distribuições de Carga Elétrica em Isoladores Elétricos As distribuições de carga nos corpos materiais isolantes e nos isoladores elétricos carregados eletricamente, não se limitam às suas superfícies como nos corpos materiais metálicos e nos eletrodos metálicos. Podem ocorrer ao longo de todo o volume do objeto. É muito comum que a distribuição seja altamente não homogênea, com quantidades de carga dQ diferentes para pequenos volumes dV, em posições diferentes no objeto. Pode ocorrer, inclusive, mudança de sinal do carregamento, com algumas partes carregadas positivamente (+) e outras negativamente (−). Tem-se, assim, uma situação onde a distribuição de carga pode variar de um pontoao outro. Então, para isolantes elétricos, podem ocorrer três distribuições de carga elétrica: (a) a distribuição linear, com densidade linear de carga ; (b) a distribuição superficial, com densidade superficial de carga σ; (c) a distribuição volumétrica, com densidade volumétrica de carga ρ. Ou seja, podem-se ter as seguintes situações: (a) Densidade linear de carga elétrica. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 30 dL dQ → dLQ ; dQ = quantidade de carga no comprimento dL. Se a carga elétrica se distribui de forma homogênea ao longo do comprimento do isolante, então é constante e a relação entre Q e é simplificada para: LdLQ ; L = comprimento do isolante. (b) Densidade superficial de carga elétrica. dS dQ → S dSQ ; dQ = quantidade de carga elétrica na área elementar dS. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 31 Se a carga elétrica se distribui de forma homogênea ao longo da superfície do isolante, então σ é constante e a relação entre Q e σ é simplificada para: SdSQ S ; S = área da superfície do isolante. No caso de σ constante, as áreas S para algumas geometrias importantes são apresentadas abaixo: Discos: 2RS ; R = raio do disco. Esferas: 24 RS ; R = raio da esfera. Cilindros: RLS 2 ; L = comprimento do cilindro. (c) Densidade volumétrica de carga elétrica. dV dQ → V dVQ ; dQ = quantidade de carga elétrica no volume elementar dV. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 32 Se a carga elétrica se distribui de forma homogênea ao longo do volume do isolante, então ρ é constante e a relação entre Q e ρ é simplificada para: VdVQ V ; V = volume do isolante. No caso de ρ constante, os volumes V para algumas geometrias importantes são apresentados abaixo: Esferas: 3 3 4 RV ; R = raio da esfera. Cilindros: LRV 2 ; L = comprimento do cilindro. EXEMPLO 9 Um bastão isolante é carregado eletricamente por atrito. Observa-se que a distribuição de carga linear do bastão é dada por 𝜆(𝑥) = (+ 10 𝑥 10−6) 𝑥2 C/m. O bastão tem uma das suas extremidades em x = 0 a outra em x = 0,2 m. Determine a carga elétrica total Q do bastão isolante. Solução: 𝑄 = ∫ 𝜆(𝑥)𝑥𝑑𝑥 𝑥 𝑥𝑜 = ∫ (10𝑥10−6𝑥2) 0,2 0 𝑑𝑥 = 0,2𝑥10−5 ( (0,2)3 3 − 0) = 2,67𝑥10−8𝐶 EXEMPLO 10 A densidade volumétrica de carga elétrica de uma esfera isolante A de raio R = 2 cm é dada por 𝜌 = + 2𝑚𝐶/𝑚3. Suponha que toda a carga elétrica da esfera isolante A é transferia para outra esfera isolante B de raio R = 1 cm. Calcule a densidade volumétrica de carga elétrica da esfera isolante B. SOLUÇÃO: 𝑄 = 𝜌𝑉 = 2𝑥10−3(4)(3,1416)(2𝑥10−2)3 = 6,7𝑥10−8 𝐶 𝑄 = ∫ 𝜆(𝑥)𝑥𝑑𝑥 𝑥 𝑥𝑜 = ∫ (10𝑥10−6𝑥2) 0,2 0 𝑑𝑥 = 0,2𝑥10−5 ( (0,2)3 3 − 0) = 2,67𝑥10−8𝐶 EXEMPLO 9 Um bastão isolante é carregado eletricamente por atrito. Observa-se que a distribuição de carga linear do bastão é dada por 𝜆(𝑥) = (+ 10 𝑥 10−6) 𝑥2 C/m. O bastão tem uma das suas extremidades em x = 0 a outra em x = 0,2 m. Determine a carga elétrica total Q do bastão isolante. Solução: 𝑄 = 𝜌𝑉 = 2𝑥10−3(4)(3,1416)(2𝑥10−2)3 = 6,7𝑥10−8 𝐶 𝜌𝐵 = 𝑄𝑉𝐵 = (6,7𝑥10 −8)(4)(3,1416)(1𝑥10−2)3 = 1,6𝑥10−2𝐶/𝑚3 EXEMPLO 10 A densidade volumétrica de carga elétrica de uma esfera isolante A de raio R = 2 cm é dada por 𝜌 = + 2𝑚𝐶/𝑚3. Suponha que toda a carga elétrica da esfera isolante A é transferia para outra esfera isolante B de raio R = 1 cm. Calcule a densidade volumétrica de carga elétrica da esfera isolante B. SOLUÇÃO: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 33 . SOLUÇÃO: 𝐶 = 𝑅2𝑅1 𝐾(𝑅2 − 𝑅1) 1 [1 − 1 (1 + 𝑑 𝑅2 ) (1 + 𝑑 𝑅1 ) ] = 1,6𝑋10−4 9𝑥109(0,6𝑥10−2) 1 [1 − 1 (1 + 4 1,6) (1 + 4 1) ] = 3,14𝑥10−12 𝐹 𝑄 = 𝐶𝑉 = 3,14𝑥10−12(50) = 1,57𝑥10−10 𝐶 𝜎𝐴 = 1,57𝑥10−10 4(3,1416)(1𝑥10−2)2 = 1,25𝑥10−7 𝐶 𝑚2 𝜎𝐵 = 1,57𝑥10−10 4(3,1416)(1,6𝑥10−2)2 = 4,88𝑥10−7 𝐶 𝑚2 EXEMPLO 12 Um cilindro isolante de raio R = 1,5 cm e comprimento L = 10 cm tem a mesma carga elétrica Q de uma esfera isolante de raio R = 0,5 cm. Sabendo que a densidade volumétrica de carga elétrica do cilindro é de 100 µC/m3, calcule a densidade volumétrica de carga elétrica do cilindro isolante. 𝐶 = 𝑅2𝑅1 𝐾(𝑅2 − 𝑅1) 1 [1 − 1 (1 + 𝑑 𝑅2 ) (1 + 𝑑 𝑅1 ) ] = 1,6𝑋10−4 9𝑥109(0,6𝑥10−2) 1 [1 − 1 (1 + 4 1,6) (1 + 4 1) ] = 3,14𝑥10−12 𝐹 𝑄 = 𝐶𝑉 = 3,14𝑥10−12(50) = 1,57𝑥10−10 𝐶 EXEMPLO 11 Dois eletrodos metálicos esféricos A e B de raios R1 = 1 cm e R2 = 1,6 cm, respectivamente, estão separados de uma distância d = 4 cm. Utiliza-se uma fonte de tensão elétrica CC de 50 V para carregar o par de eletrodos. Calcule as distribuições superficiais de carga elétrica 𝜎𝐴 e 𝜎𝐵 dos eletrodos metálicos esféricos. SOLUÇÃO: 𝜎𝐴 = 1,57𝑥10−10 4(3,1416)(1𝑥10−2)2 = 1,25𝑥10−7 𝐶 𝑚2 𝜎𝐵 = 1,57𝑥10−10 4(3,1416)(1,6𝑥10−2)2 = 4,88𝑥10−7 𝐶 𝑚2 𝑉𝐶 = 𝜋𝑅 2𝐿 = 7,07𝑥10−5 𝑚3 𝑒 𝑉𝐸 = 4 3 𝜋𝑅3 = 5,24𝑥10−7 𝑚3 𝜌𝐶 = 𝜌𝐸𝑉𝐸 𝑉𝐶 = (100𝑥10−6)(5,24𝑥10−7) 7,07𝑥10−5 = 7,41𝑥10−7𝐶/𝑚3 EXEMPLO 12 Um cilindro isolante de raio R = 1,5 cm e comprimento L = 10 cm tem a mesma carga elétrica Q de uma esfera isolante de raio R = 0,5 cm. Sabendo que a densidade volumétrica de carga elétrica do cilindro é de 100 µC/m 3 , calcule a densidade volumétrica de carga elétrica do cilindro isolante. SOLUÇÃO: 𝑄𝐶 = 𝑄𝐸 → 𝜌𝐶𝑉𝐶 = 𝜌𝐸𝑉𝐸 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 34 1a Lista de Exercícios 1 – Um eletrodo metálico (A) é carregado com uma carga de valor Q = + 10µC. Calcule o número N de elétrons que foi transferido do eletrodo metálico (A) para um outro corpo material condutor (B). Dados: e = 1,6x10-19 C; Q = Ne. Resposta: N = 6,25x1013 elétrons. 2 - Sabendo que a transferência de carga do eletrodo metálico (A) para o corpo material condutor (B), no problema anterior, ocorreu durante um intervalo de tempo t = 0,2 ms (1 ms = 1x10-3 s), qual a corrente elétrica média do processo de carregamento? Dados: t Q I . Resposta: I = 0,05 A → I = 50 mA. 3 – Mede-se uma tensão de 10.000 V para um eletrodo metálico esférico isolado de raio R = 5 cm. (a) Qual é a carga elétrica sobre a superfície do eletrodo metálico? (b) Calcule a densidade superficial de carga elétrica do eletrodo metálico. Dados: Q = CV; K R C ; 24 R Q S Q . Respostas: (a) Q = 5,556x10-8 C = 5,556 nC; (b) 1,768x10-6 C/m2 = 1,768 µC/m2. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 35 Figura 13 – Capacitor esférico isolado de raio R. 4 – Lê-se na etiqueta de uma bateria de carro que a carga elétrica Q dos eletrodos metálicos é de 54 A.h. (a) Qual o número de elétrons presentes no eletrodo negativo da bateria? (b) Resolve-se transferir a carga Q acumulada durante uma noite. Considere que a noite tem duração de 12 horas. Qual o valor da corrente média do processode transferência? Dados: Csx s C hA 360036001.1 ; t Q I . Respostas: (a)1,215x1024 elétrons; (b) I = 4,5 A. 5 – Uma bateria de carro de 12 V é ligada a dois eletrodos metálicos esféricos, concêntricos, cuja capacitância C é de 9 nF. (a) Qual é a carga elétrica em cada esfera ao final do processo de carregamento elétrico? (b) Supondo que os fios que conectam a bateria aos eletrodos tenham resistência total R de 0,0025 , escrever a equação horária para a corrente de carregamento elétrico dos eletrodos metálicos. Dados: Q = CV; RC t oeII ; R V I o . Respostas: (a) Q = 1,08x10-7 C; 111025,24800 x t eI . PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 36 Figura 14 – Capacitor esférico concêntrico. 6 – Dois condutores metálicos esféricos carregados eletricamente têm raios R2 = 2 cm e R1 = 1 cm. Os eletrodos estão separados de 10 cm. A tensão medida entre ambos é de 15.000 V. Se as cargas elétricas, entre ambos, são iguais em módulo e de sinais opostos, qual o valor da capacitância C do par de eletrodos e do módulo da carga elétrica Q? Dados: 12 12 21 11 1 1 11 R d R d RR RR K C ; CVQ . Respostas: C = 2,26x10-12F = 2,26 pF; Q = 3,39x10-8C = 33,9 nC. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 37 Figura 15 – Capacitor esférico com eletrodos não concêntricos. 7 – Utilizando a série tribo-elétrica, explique porque durante o período de inverno no Brasil, época de baixa umidade do ar, as pessoas de pele seca que se vestem com roupas feitas de nylon ou de poliéster, tomam choques ao tocarem em partes metálicas de automóveis. 8 – O carregamento elétrico de um par de isoladores elétricos faz-se, principalmente, por contato entre as suas superfícies e a posterior separação das mesmas. Tendo em vista a série tribo-elétrica da Fig. 9, discuta o que deve fazer um motorista de caminhão tanque, antes do descarregamento da gasolina em um posto de combustível. Lembre-se de que o tanque é metálico e está em contato com o ar. 9 – Um eletrodo metálico é carregado eletricamente com Q = + 6 µC. O eletrodo tem a forma cilíndrica, com raio R = 0,2 mm e comprimento total L = 2 m. (a) Calcule a densidade superficial de carga elétrica do eletrodo. (b) Qual o valor de carga elétrica em ¼ do comprimento do eletrodo? PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 38 Dados: S Q ; RLS 2 ; SQ . Respostas: (a) σ = 2,387 mC; (b) Q = 1,5 µC. 10 – Uma esfera isolante de raio 5 cm tem carga elétrica distribuída uniformemente sobre o seu volume. A densidade volumétrica de carga da distribuição é dada por ρ = 6 µC/m3. (a) Qual a carga elétrica total da esfera? (b) Quanto de carga elétrica existe desde o centro da esfera até r = 3 cm? Dados: VQ ; 3 3 4 rV . Respostas: (a) Q = 3,1416x10-9 C = 3,1416 nC; (b) Q = 6,7896x10-10C = 678,96 pC. 11 – Um fio de 2 m de comprimento está ao longo da direção x e tem uma distribuição linear de carga elétrica dada por mCxx /310 . Calcular a carga elétrica total do fio. Dados: dLQ ; dxdL ; dxx L 0 . Figura 16 – Fio isolante carregado eletricamente com variável. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 39 12 – Carregam-se dois eletrodos metálicos com a mesma carga elétrica Q, em módulo, utilizando-se uma bateria. Um deles é esférico de raio R = 2 cm e o outro é um disco plano. Sabendo que o carregamento elétrico gerou a mesma densidade superficial de carga elétrica σ, tanto na esfera quanto no disco, ache ao raio do disco. Dados: S Q ; 2 4 eesfera RS ; 2 ddisco RS . Resposta: Rd = 2Re = 4x10 -2 m. Figura 17 – Capacitor com eletrodos metálicos de geometrias diferentes. 13 – A ligação metálica no cobre libera 1 elétron livre que se desloca através do material. (a) Qual o número de elétrons livres do cobre metálico? (b) Transferem-se todos os elétrons livres de uma esfera de cobre de raio R = 2 mm. Qual a carga Q positiva de esfera? (c) Calcular a tensão dessa esfera isolada. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FÍSICA E QUÍMICA 40 Dados: AP x pn massa . 1002,6 23 ; 3/95,8 cmgmassa ; PA = 63,5 g; ρcarga = en; Q = ρcargaV; 3 3 4 RV ; K R C ; Q = CV. Respostas: (a) 8,4849x1022 elétrons/cm3; (b) carga = 13.576 C/cm 3; Q = 4,549x102 C; (c) V = 2,047x1012 V.
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