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2. Direito e Linguagem AEE

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Esta regra, lançada no Código de Processo Civil, determina a utilização obrigatória da língua portuguesa, a nossa língua oficial, o idioma vernáculo. As citações e/ou documentos redigidos em outros idiomas deverão estar traduzidos por tradutor juramentado (Art. 157 do CPC)
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A utilização do idioma português é uma obrigação constitucional:
Art. 13 – A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.
Essa questão pode parecer sem a menor importância, pois todos nós sabemos falar e escrever em português. Todavia, muitos termos jurídicos utilizados no Direito são desconhecidos pela maioria da população. É o popular JURIDIQUÊS!!!!
E mais: muitas palavras da língua ordinária adquirem significados particulares no Direito. EXEMPLO: O Art. 213 do Código Penal considera delito o fato de constranger uma mulher a “conjunção carnal”. (???)
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 “Para o advogado, a palavra é o seu
 cartão de visita. A linguagem é também um dos fatores que condicionam a eficácia do direito.”
 (REALE, Miguel. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: Atlas, 2004)‏
Na linguagem jurídica o nível é sempre culto !
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JURIDIQUÊS
Rui Barbosa, o ladrão de galinhas e o juridiquês
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POR MÁRCIO BARBOSA MAIA
 
Certo ladrão planejou roubar uma casa;
Coincidência ou não, essa era a casa de Rui Barbosa.
Após pular o muro, deparou-se com um pequeno galinheiro;
Foi logo pegando uma galinha e, preparando-se para sair,
No ímpeto da fuga, deparou-se com Rui Barbosa em pessoa;
Rui Barbosa, com toda eloquência que lhe era peculiar, pôs-se a falar:
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"Não é pelo bico de bípede, e nem pelo valor intrínseco do galináceo,
Mas por ousares transpor os umbrais de minha residência;
Se for por mera ignorância, perdoo-te,
Mas se for para abusar de minha intangível, mas concreta, alma,
Juro pelos tacões metabólicos de meus calçados
Que dar-te-ei tamanha bordoada que transformarei
A sua massa encefálica em cinzas cadavéricas.“
O ladrão, todo sem graça, pergunta:
"Como é, seu Rui, posso levar a galinha ou não?"
 
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JURIDIQUÊS
 
- Doutor, ganhamos? – perguntou o cliente, visivelmente nervoso. Era um processo intrincado, que se arrastava por anos e do qual dependia, ganho ou não, o futuro dele. Receber uma ligação do advogado: o processo se havia encerrado. Se havia ganho ou não o advogado fizera mistério.
 
- Sr. Fredolino, – pigarreou o advogado – como eu já havia lhe dito este processo era deveras complicado. O senhor deve recordar no início, quando o senhor me procurou, que as chances eram iguais para ambas as
partes. 
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Fredolino ouvia.
Bem no juízo a quo apresentamos o libelo, a parte excepcionou e contestou. O magistrado rechaçou a exceção, mas em análise da matéria de fundo restou por nos dar procedência apenas parcial. Interpusemos o remédio apropriado tendo, então, o processo sido conduzido à instância ad quem, distribuído o processo, o relator proferiu foto que nos foi inteiramente favorável, entretanto o conteúdo das manifestações do revisor e até do vogal foram incluídos nas razões de decidir.
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Assim ao se verificar que o conteúdo da fundamentação divergia do dispositivo, nada obstante a ementa confirmasse a decisão em nosso favor, nos obrigamos a apresentar embargos de declaração, apontando a contradição existente. Recebidos os embargos foi-nos dado provimento. A parte contrária, contudo, não se conformou, apresentou Recurso de Revista e, do despacho denegatório, apresentou Agravo de Instrumento. O Tribunal Superior negou seguimento a este último e, portanto, os autos estão agora de volta à Vara de origem.
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Fredolino admirou-se que esta narrativa toda saiu de um fôlego só, sem que o advogado sequer resvalasse em um ou outro dos inúmeros termos utilizados. Apreveitou-se do intervalo do advogado e então, um pouco hesitante perguntou:
- Doutor o senhor me desculpe, nós ganhamos?
Disponível em http://direitoetrabalho.com/2007/05/juridiques/. Acesso em 20 de jul. 2014.
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A COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Importante
Justificativa e importância do tema
Deixar claro o problema da pesquisa
Objetivos
Importante
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Emissor: autor da Petição
Receptor: o juiz ou tribunal a que é dirigida a petição inicial
Mensagem: o fato e seus fundamentos jurídicos, as provas, o pedido e suas especificações, a argumentação jurídica do pedido e o valor da causa.
Código: a linguagem empregada
Canal: folha de papel
Contexto: situação que fundamenta a elaboração da petição
ELEMENTOS DA COMUNCIAÇÃO
PETIÇÃO INICIAL- ART 282 DO CPC
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INTENÇÃO
CONTEXTO
COMUNCAÇÃO
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ELEMENTOS DE LINGUÍSTICA
Os contatos entre os seres humanos são feitos mediante a utilização de idiomas naturais, de forma oral ou escrita. Mas para que a língua possa servir de instrumento de comunicação, é necessário que o destinatário (auditório) entenda o locutor (ou autor).
 
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A mesma palavra pode ser utilizada de determinadas formas, e com sentidos que mudam no tempo e no espaço. O sentido de uma palavra depende de convenções sociais e da situação concreta na qual está sendo empregada.
Não existem correspondências naturais entre as palavras e o mundo, nem certezas absolutas. 
Exemplo disso é a palavra “pé”, que nos dicionários recebe aproximadamente 30 significados diferentes, indicando mais de 90 expressões que a utilizam, inclusive de forma que não se relaciona com seus próprios significados, como o tal “pé de moleque”, ou a expressão “em pé de igualdade”.
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As palavras adquirem seu significado pelo contexto da comunicação. A palavra “abacaxi”, como qualquer outra, não tem um significado fixo; seu entendimento depende de como está sendo usada em determinadas situações, e adquire um significado só graças ao uso constante.
A frase “descascar um abacaxi” ganhou um significado metafórico, porque milhões de pessoas, durante muito tempo, a empregaram para indicar “dificuldades”, e não porque descascar um abacaxi seja algo muito difícil de se realizar.
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Quem comete erros, utiliza expressões genéricas, ambivalentes (duplo sentido) ou “fora do lugar”, aumenta as probabilidades de mal-entendidos.
Sabe-se que os destinatários do texto é que são os verdadeiros intérpretes do discurso, os quais podem cometer erros de entendimento porque escutou mal, ou desconhece o exato sentido dos termos empregados ou não compreende a estrutura da frase.
Ou seja: mesmo se a comunicação for tecnicamente perfeita, o sentido que será dado ao discurso depende em grande parte das intenções, dos preconceitos e das ideologias do auditório.
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Em menor grau de importância, a abordagem pragmática também deve ser considerada. Ou seja: as condições e situações nas quais uma expressão pode ser utilizada de forma adequada, bem como as circunstâncias reais que dão sentido ao discurso.
O exato significado de uma frase depende de uma situação concreta, na qual foi utilizada. 
EXEMPLO: A frase “eu gosto de você”, se for utilizada em uma conversa entre dois amigos, terá uma conotação. 
A mesma frase será diferentemente interpretada, com significado bastante diferente, se for utilizada na conversa entre dois namorados.
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(1) POLISSEMIA: verifica-se quando uma palavra ou expressão pode ser utilizada em vários contextos com significados diferentes e incompatíveis entre si, cabendo ao auditório (ouvinte, leitor etc.) decidir qual é o sentido que deve ser atribuído no contexto concreto.
(2) AMBIGUIDADE SINTÁTICA: muitas vezes o modo de construção de uma frase permite vários entendimentos incompatíveis entre si, sendo possível que o auditório entenda algo diferente daquilo que se quis dizer.
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(3) VAGUEZA: termos que não permitem que o auditório decida com certeza sobre o alcance de seu significado, isto é, saber se a sua utilização é procedente ou não no caso concreto.
EXEMPLO: o cliente diz ao vendedor que o produto é “caro”. O vendedor
pode discordar do termo, porque “caro” é muito abstrato, permitindo interpretações subjetivas. Nesses casos é necessário precisar os termos.
Se o cliente disser “o produto é caro, porque o encontrei em outra loja 20% mais barato”, o vendedor dificilmente poderá discordar.
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(4) DIFICULDADE DE AVALIAÇÃO: Quando são empregados termos que indicam características psicológicas do indivíduo, não temos somente o problema da vagueza, mas também o problema da comprovação. Como ter certeza se uma pessoa deve ser caracterizada como “honesta”, “fiel” ou “inteligente”?
FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM
 Uso Emotivo: quando o locutor transmite sentimentos e emoções (Ex.: foi um rio que passou na minha vida)
 Uso Descritivo: quando o locutor oferece informações ou interpretações (Ex.: ontem aconteceu um terremoto no Japão)
 Uso Prescritivo: objetiva emitir ordens, influenciando o comportamento dos demais (Ex.: abra a janela)
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LINGUAGEM JURÍDICA
Esta diferencia-se dos idiomas naturais. É técnico ou artificial, utilizado e entendido pelo grupo socio-profissional dos operadores jurídicos e pensadores do Direito.
A linguística jurídica, desenvolvida em extensos tratados, possui duas características principais:
LINGUAGEM
DE PODER
LINGUAGEM
TÉCNICA
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1. LINGUAGEM DE PODER
O Direito é um idioma de poder. Não é utilizado para simples comunicação humana, isto é, para passar informações, instruir ou divertir.
O Direito emite mandamentos, ou seja, utiliza a ferramenta da linguagem para influenciar o comportamento das pessoas, convencendo-as de se comportarem da forma que este determina (“faça”, “não faça”).
Esse é o uso prescritivo da linguagem que indica que o Direito é um meio de exercício do poder.
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A natureza prescritiva da linguagem jurídica deve ser levada em consideração para interpretar corretamente as normas jurídicas.
Exemplo: “É” significa “deve ser”. Em um livro de geografia está escrito “Brasília é a Capital Federal”. 
O Art. 18, § 1º da Constituição Federal prevê: 
“Brasília é a Capital Federal”.
As duas frases são idênticas, mas também divergem totalmente em seu significado.
A primeira frase informa qual é a capital do país. Se amanhã Salvador voltar a ser a capital do Brasil, os redatores do livro deverão atualizá-lo, informando qual é a nova capital.
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Quando, porém, a Constituição utiliza o verbo “é” não quer informar os leitores sobre a capital do país, mas sim emite uma ordem, proibindo que qualquer outra cidade seja proclamada como capital federal. 
Nesse caso, o verbo “é” temo sentido de: “deve ser, e eventual decisão de mudar a capital será inconstitucional”.
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2. LINGUAGEM TÉCNICA
Poucos são os documentos jurídicos e os textos de doutrina de fácil compreensão e de estilo agradável. Isso não é devido à incapacidade literária de quem trabalha na área do Direito, mas das exigências do próprio sistema jurídico.
A linguagem jurídica não é feita para informar nem para agradar o público, pois seu objetivo é formular com precisão, brevidade, clareza e certeza, determinadas prescrições e, no caso da doutrina, expor de forma sistemática os regulamentos e os conceitos jurídicos.
Quanto mais rigorosa for a linguagem jurídica, menor será o espaço deixado à polissemia, à ambiguidade sintática, à vagueza e às avaliações subjetivas, e maiores serão as garantias de segurança jurídica.
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Ou seja: a tecnicidade e o rigor da linguagem jurídica objetivam minimizar os problemas de comunicação, permitir ao locutor transmitir de forma fiel sua vontade e diminuir os espaços de interpretação subjetiva por parte do auditório, isto é, dos aplicadores do Direito.
EXEMPLO: 
10% ao ano
a taxa de juros deve ser inferior ao dobro da inflação
a taxa de juros deve ser razoável.
A escolha não é questão de preferência literária. Depende da vontade do legislador de controlar efetivamente os juros ou deixá-los à discrição do mercado e do Poder Judiciário, utilizando para tanto termos vagos e ambíguos.
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Da mesma forma, o operador do Direito recorre ao rigor da linguagem técnica para se fazer entender e para evitar que o adversário no processo se aproveite das ambiguidades e vaguezas da linguagem para atribuir a determinadas alegações o sentido que mais lhe favorece.
O leigo pode, por exemplo, considerar que queixa, denúncia e notícia do crime são sinônimos. Mas a comunicação forense só é satisfatória se todos conhecerem o significado técnico de cada um dos termos e os usarem de forma correta.
E mais. A tecnicização da linguagem jurídica não decorre só da preocupação de clareza e, por consequência, de segurança jurídica. Como toda linguagem de “iniciados”, a linguagem jurídica é um “instrumento de poder”, manuseado pelos operadores do Direito que conseguem, assim, adquirir um prestígio social (“o Doutor fala bonito”).
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O resultado da verborragia jurídica, repleta de tecnicismos, é distanciar a população do universo jurídico e manter as vantagens sociais dos operadores do Direito.
Na verdade, esses – os operadores do Direito – possuem o dever de popularizar o conhecimento jurídico e, principalmente, de explicar às partes do processo, com palavras simples, o andamento das causas que os interessam.
O que acham disso?
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