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PERCEPÇÃO DA LINGUAGEM VISUAL Prof.ª Renata Maués Prof.ª Simone Moura AULA 05 Iconografia e iconologia: uma introdução ao estudo da arte da renascença PANOFSKY, Erwin. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2007. Erwin Panofsky( 1892 - 1968) – foi um crítico e historiador da arte alemão, um dos principais representantes do chamado método iconológico, estudos acadêmicos em iconografia. – Considerando a História da Arte uma disciplina, Panofsky propôs, “a partir do objeto artístico, reconstruir seu contexto histórico e ’recriar’ todo o processo de elaboração daquela imagem”. Tal método foi sistematizado no artigo: Iconografia e Iconologia - Uma introdução ao estudo da arte da renascença (publicado em 1939). Iconografia – É o ramo da história da arte que trata do tema ou mensagem das obras de arte em contraposição à sua forma. – Tentemos, portanto, definir a distinção entre TEMA OU SIGNIFICADO, de um lado, e FORMA, de outro. Panofsky identifica tanto nas imagens da obra de arte, quanto nas imagens da vida cotidiana três níveis de significado ou tema: I – Tema primário ou natural Subdividido em: factual e expressional II - Tema secundário ou convencional III – Significado intrínseco ou conteúdo I – Tema primário ou natural Significado factual Exemplo cotidiano: I - Na rua um conhecido cumprimenta tirando o chapéu. Do ponto de vista formal vê apenas alguns detalhes dentro da configuração que faz parte do padrão geral de cores linhas e volumes que constitui o mundo da visão. Quando identifica automaticamente a configuração com um objeto (cavalheiro) e a mudança de detalhe (tirar o chapéu). Ele ultrapassa os limites da percepção puramente formal e penetra na primeira esfera do tema e mensagem - Significado factual - está ligado a experiencia prática. I – Tema primário ou natural Significado expressional Objetos e fatos identificados nos causam reações (pela forma é possível saber se o conhecido está de bom ou mau humor, indiferente, amigável ou hostil – significado expressional é apreendido por empatia (necessita de certa sensibilidade) e isso faz parte ainda da experiência prática, cotidiana. Assim, tanto o significado factual como o expressional podem ser classificados juntos e constituem a classe dos significados primários ou naturais. II – Tema secundário ou convencional O ato de tirar o chapéu representa: – Forma de saudação peculiar ao mundo ocidental – Resquício de cavalheirismo medieval: homens armados tiravam o elmo para demonstrar intenções pacíficas – Sinal de polidez, cortesia. Quando interpreto o fato de tirar o chapéu como uma saudação polida, reconheço nele um significado que pode ser chamado de secundário ou convencional, pois estou familiarizado não só com o mundo cotidiano dos objetos e ações, mas também com o mundo dos costumes e das tradições culturais. É intelígivel em vez de sensível. III – Significado intrínseco ou conteúdo Seguindo com o mesmo exemplo, a ação do conhecido de cumprimentar tirando o chapéu pode revelar muito além. Revelará a um observador experiente tudo aquilo que entra na composição de sua ”personalidade”, condicionada por ser um homem do século XX, por suas bases nacionais, sociais e de educação, pela história de sua vida passada e pelas circunstâncias atuais que o rodeiam, revelará também uma maneira pessoal de ver as coisas e de reagir perante o mundo. O significado descoberto denomina-se intrínseco ou conteúdo Análise da obra de arte I - Tema primário ou natural Subdividido em: factual e expressional II - Tema secundário ou convencional III – Significado intrínseco ou conteúdo I - Tema primário ou natural – Subdividido em Factual e expressional – Apreendido pela identificação das formas puras, ou seja certas configurações de linha e cor ou materiais (bronze e pedra), como representativos de objetos naturais (seres humanos, animais, plantas, casas entre outros), identificação de suas relações mútuas como acontecimentos e percepção de algumas qualidades expressionais. Pode ser chamado de mundo dos motivos artísticos – constitui uma descrição pré-iconográfica de uma obra de arte. II - Tema secundário ou convencional – Ligação dos motivos artísticos e as combinações de motivos artísticos (composições) com assuntos e conceitos. Motivos reconhecidos como portadores de um significado secundário ou convencional podem chamar-se imagens. – A identificação de tais imagens, estórias e alegorias é o domínio daquilo que é normalmente conhecido por iconografia. – Segundo o autor, a análise iconográfica diz respeito à intenção consciente do artista, apesar das qualidades expressivas da representação nem sempre serem intencionais. – Para uma análise iconográfica é necessário mais do que a experiência prática, é necessário o conhecimento de temas específicos ou conceitos adquiridos por fontes literárias ou tradição oral. QUE LUGAR É ESSE? QUEM É ESTE HOMEM? Juízo Final, do pintor Michelangelo, altar da Capela Sistina, no Vaticano, Itália. São Bartolomeu em detalhe do Juizo Final de Michelangelo, altar da Capela Sistina É apreendido pela percepção de que uma figura masculina com uma faca representa São Bartolomeu. São Bartolomeu foi um dos 12 primeiros apóstolos de Cristo. Foi condenado a ser martirizado onde foi ordenada a retirada de sua pele e posterior decapitação. Por isso é representado com uma faca e augumas vezes com sua pela nos braços. III – Significado intrínseco ou conteúdo – Aquele que realmente corresponde à “interpretação” pois revela o seu significado profundo, é a compreensão de seu significado intrínseco ou conteúdo. – “É apreendido pela determinação daqueles princípios subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, de um período, classe social, crença religiosa ou filosófica – assumidos inconscientemente por um indivíduo e condensados numa obra”. – Descoberta e interpretação dos valores ”simbólicos”. Iconografia – Sufixo “grafia” vem do verbo grego Graphein “escrever”. Implica um método de proceder puramente descritivo, ou até mesmo estatístico. – A iconografia é, portanto a descrição e classificação das imagens. Coleta e classifica a evidência, mas não se considera obrigada ou capacitada a investigar a gênese e significação dessa evidência. Iconologia – O sufixo “logia” – derivado de logos, que quer dizer “pensamento”, “razão” – denota algo interpretativo. – Iconologia como uma iconografia que se torna interpretativa e, desse modo, converte-se em parte integral do estudo da arte. – É um método de interpretação que advém da síntese mais do que da análise. Quem seria esta mulher: Salomé ou Judite? Segundo a Bíblia, existem duas histórias de mulheres envolvidas na decaptação de um homem: - Salomé que teve a cabeça de São João Batista trazida numa bandeja, mas não foi ela que o decaptou. - Judite que decaptou Holofernes com as próprias mãos, mas não usou bandeja e sim um saco. NÃO ENCONTRAMOS UMA ÚNICA SALOMÉ COM ESPADA, MAS NA ALEMANHA E NO NORTE DA ITÁLIA EXISTEM VÁRIOS QUADROS DO SÉCULO XVI QUE REPRESENTAM JUDITE COM UMA BANDEJA. Pintura de Francesco Maffei, século XVII. Cabeça de São João Batista. Cidade de Hamburgo, Museum fur Kunst und Gewerbe, ca. 1500 Por que os pintores transferiram a bandeja de Salomé para Judite , mas não a espada de Judite para Salomé? 1º - a espada era um atributo de mártires que possuíam virtudes como a Justiça. 2º - nos séculos XIV e XV a bandeja com a cabeça de São João Batista se transformou numa imagem isoladade devoção muito popular. CARAVAGGIO, Salomé recebendo a cabeça de São João Batista, óleo s/tela, c. 1607. 91.5 cm × 106.7 cm TICIANO (1488-1576). Salomé, 72 x 90 cm1515 ARTEMISIA GENTILESCHI. Judite decapitando Holofernes, c. 1611-12. Óleo sobre tela, 158,8 x 125,5 cm. Museo Nazionale di Capodimonte, Napoles, Itália ARTEMISIA GENTILESCHI. Judite e sua serva, 1614, Óleo sobre tela, 114 x 93 cm, Galleria Palatina, Itália. O livro de Judite, da Bíblia, conta-nos que o general assírio Holofernes estava sitiando a cidade israelita de Betúlia. Os habitantes estavam a ponto de se render quando a viúva Judite se ofereceu para salvar a nação. Sem explicar seu plano, ela vestiu suas melhores roupas e partiu em companhia da criada, Abra, para o acampamento inimigo. Os soldados inimigos ficaram encantados com sua beleza e acreditaram na história contada por ela de que vinha oferecer ajuda ao general Holofernes que, igualmente encantado, convidou-a para comer e beber com ele. Quando ele adormeceu, Judite aproveitou para tirar-lhe a espada e cortar- lhe a cabeça, entregando-a em seguida a Abra, que a colocou num saco. De volta à Betúlia, apresentaram a cabeça do tirano, aconselhando que a mesma fosse exposta para intimidar o inimigo. Ao verem a cena, os assírios se assustaram e dispersaram, sendo facilmente derrotados pelos betulianos. http://www.hacer.com.br/artemisia-gentileschi Artemisia Gentileschi (1593 - c.1652/53) Judite e a Criada com a Cabeça de Holofernes, c. 1625 Óleo sobre tela, 184 x 141 cm Detroit (USA), The Detroit Institute of Arts Roger van der weyden. a visão dos tres reis magos (detalhe). Berlim, Kaiser Friedrich Museum Cristo ressuscitando o moço de Nain. Munique, Staatsbi Bliothek. Clm. 58, fo. 155v., ca.1000. OBJETO DE INTERPRETAÇÃO ATO DE INTERPRETAÇÃO EQUIPAMENTO PARA A INTERPRETAÇÃO PRINCÍPIOS CORRETIVOS DE INTERPRETAÇÃO (História da tradição) I – Tema Primário ou Natural • Factual • Expressional Mundo dos motivos artísticos Descrição pré- iconográfica (análise pseudoformal) Experiência prática (familiaridade com objetos e eventos). História do estilo (compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, objetos e eventos foram expressos pelas formas). II – Tema secundário ou convencional, constituindo o mundo das imagens, estórias e alegorias Análise Iconográfica Conhecimento de fontes literárias (familiaridade com temas e conceitos específicos). História dos tipos (compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, temas ou conceitos foram expressos por objetos e eventos). III – Significado intrínseco ou conteúdo, constituindo o mundo dos valores “simbólicos”. Interpretação Iconológica Intuição sintética (familiaridade com as tendências essenciais da mente humana), condicionada pela psicologia pessoal e Weltanschauung. História dos sintomas culturais ou “simbólicos” (compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, tendências essenciais da mente humana foram expressas por temas e conceitos específicos). Fonte: PANOFSKY, 2007, p.64 - 65 QUADRO SINÓPTICO DE ERWIN PANOFSKY Leitura de Imagens Capítulo I – Imagens na arte SANTAELLA, Lúcia. Leitura de Imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012. Lúcia Santaella (1944) É uma uma das principais divulgadoras da semiótica e do pensamento de Charles Peirce no Brasil, contando com mais de quarenta livros publicados. Suas áreas mais recentes de pesquisa são: Comunicação, Semiótica Cognitiva e Computacional, Estéticas Tecnológicas e Filosofia e Metodologia da Ciência. Imagens na arte Poucos fenômenos são tão difíceis de definir quanto a arte. A ARTE É UMA PRODUÇÃO HISTÓRICA. Isso significa que não existe uma definição universal que dê conta de todas as variações da criação artística no tempo e no espaço. Imagens na arte A arte varia de acordo com: - Os instrumentos, meios e técnicas de que historicamente dispõe; - As funções sociais a que se destina e que não são as mesmas em todas as sociedades; - Os valores humanos que expressa. O modelo artístico renascentista - Renascimento é o período da civilização européia de 1300 a 1650. - Do verbo ”renascer”, é assim chamado porque os ideais religiosos e transcendentes da Idade Média foram susbstituídos pela valorização do ser humano e da natureza inspirada no mundo greco-romano. - Período de grandes transformações: alvorecer da ciência moderna e desabrochar da música, literatura e artes visuais (arquitetura, escultura e pintura). O modelo artístico renascentista - Libertação dos valores religiosos e privilégio do indivíduo. - Imitação da natureza com o auxílio da racionalidade e da matemática. - Perspectiva monocular nas pinturas. - A arte pictórica se soltou das paredes e dos murais da igrejas e migrou para as telas, se tornando mais portátil. - Surgiram museus devido a necessidade de locais para armazenar, preservar, manter e expor a arte. - Esse modelo se mantém preponderante até meados do século XIX com o início do modernsimo. As vanguardas estéticas do modernismo Ver documentário Os Impressionistas. Referências PANOFSKY, Erwin. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2007 SANTAELLA, Lúcia. Leitura de Imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.
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