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Abordagem da Família 7Manual de Condutas Médicas www.ids-saude.org.br/medicina Promoção à Saúde Introdução O tema da Promoção da Saúde tem se tornando cada vez mais presente na prática dos profissionais de saúde pois na atualidade se inclui como componente de destaque na organização de novos modelos de prestação de serviços no campo da saúde pública, como é o caso do Programa de Saúde da Família. Alem disso, o debate em torno da noção de promoção da saúde vem favorecendo a constituição de um movimento daqueles que entendem que as políticas públicas, em particular aquelas que ocorrem nos municípios, devem estar direcionadas para capacitar as comunidades para atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde. Incluem-se nesta proposta o movimento de alcance internacional conhecido como “Cidades/Municípios Saudáveis”. Pode-se observar também que nas últimas décadas tem havido um interesse maior das pessoas e das comunidades para iniciativas e habilidades que buscam expandir o potencial de vida, uma visão positiva da saúde. Sinteticamente isto pode ser explicado face ao aumento da maioe expectativa de vida na modernidade com a redução da mortalidade nas idades mais jovens e a diminuição dos danos causadas pelas doenças. Nas perspectivas apontadas acima, o que está em questão é o reconhecimento de que a “Saúde”, não está simplesmente relacionado à ausência de doenças ou ao tratamento de doenças, mas tem seu conteúdo ligado à qualidade de vida e ao bem estar das populações. Desta forma a saúde é promovida quando são fornecidas melhores condições de trabalho, moradia, educação, atividade física, repouso e lazer, alimentação e nutrição. Neste artigo procuramos definir o conceito de Promoção da Saúde, incluindo uma breve recuperação histórica do mesmo e assinalar as possíveis estratégias orientadas pelo conceito. O Conceito de Promoção à Saúde A noção de promoção à saúde mais difundida na área médica, foi introduzida por Leavell e Clark em 1976, no desenvolvimento do modelo denominado “história natural da doença”. Neste modelo, aplicado a partir do grau de conhecimento do curso de cada uma das doenças, definem-se três níveis de prevenção: primário, secundário e terciário. A prevenção primária, foco do nosso interesse, tem por objetivo evitar que as pessoas adoeçam; para tanto, lança mão de medidas voltadas para as condições do meio ambiente e social, não só para promoção geral da saúde, como para dar proteção específica a algumas doenças, como é o caso das vacinas. Este modelo repercutiu de forma positiva em dois aspectos. Permitiu uma ordenação e organização das ações no âmbito da vigilância epidemiológica, em particular nas atividades institucionais ligadas ao controle das doenças de notificação compulsória, e reforçou a noção de que a educação é um fator tão importante quanto a assistência clínica na melhoria da saúde. Obteve, porém, pouca repercussão no tocante a aspectos de mobilização das comunidades. A partir de 1980, esta última característica aparece nas novas versões da promoção da saúde. Um entendimento muito freqüente refere-se à promoção como a busca de um ambiente saudável, que as pessoas tenham uma boa qualidade de vida e gozem de bem estar. BRESLOW (1999), entretanto, chama a atenção para o fato de que medidas como a restrição ao fumo, o controle do uso do álcool, a redução do peso nos obesos e diminuição da ingesta de gorduras saturadas e colesterol, embora devam ser alcançadas, constituem-se em medidas tipicamente de prevenção para lidar com fatores de risco (de doença coronariana, câncer de pulmão e alcoolismo) não se caracterizando propriamente como medidas de promoção da saúde. BUSS (2000) salienta que este tipo de enfoque Ana Sílvia Whitaker Dalmaso1 Alexandre Nemes Filho1 1Médico assistente Centro de Saúde-Escola Samuel B. Pessoa, Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina USP 8 Abordagem da Família Manual de Condutas Médicas www.ids-saude.org.br/medicina mantém-se centrado apenas nas mudanças de comportamentos danosos dos indivíduos ou restritos a questões culturais de algumas comunidades. Considera que o conceito moderno de promoção da saúde deve implicar em atividades voltadas tanto a grupos sociais como a indivíduos através de políticas públicas abrangentes (em relação ao ambiente físico, social, político, econômico e cultural) e do esforço comunitário, na busca de melhores condições de saúde. Nesta última perspectiva tem se ancorado as resoluções das “Conferências Internacionais de Promoção da Saúde”, procurando estabelecer consensos e diretrizes para a promoção da saúde. Estratégias de Promoção À Saúde Se já está explicado o que é promoção à saúde, e entendida como ela é importante para melhorar a qualidade de vida das pessoas e diminuir a quantidade e gravidade das doenças, vamos agora estar indicando formas concretas de se fazer promoção à saúde. Destacamos neste texto duas formas que são complementares, isto é uma se soma à outra. Elas não só trazem bons resultados, mas também fazem os recursos empregados produzirem mais benefícios. São elas a ação intersetorial (integração de tipos diferentes de atuação) e o suporte social. Vamos estar privilegiando neste texto o suporte social porque o consideramos um instrumento muito útil para o trabalho dos profissionais de saúde do Programa de Saúde da Família (PSF) para alcançar seus propósitos em termos de qualidade de saúde e vida das pessoas e dos grupos sociais. Ações intersetoriais: integração de esforços visando alcançar mais e melhores resultados e racionalizar recursos. Como diz o ditado: “a união faz a força”. Portanto, somar ações é mais inteligente do que fazer tudo separado. È proveitoso, por exemplo, juntar trabalho nas creches e escolas e ações de saúde; juntar atividades de esporte e cultura e as áreas de saúde e educação; ou ainda transformar o local de trabalho ou o município em um ambiente saudável. Apesar da intersetorialidade ser uma estratégia já conhecida faz tempo, há freqüentemente dificuldades para colocá-la em prática. O segredo é estar disposto a conversar e articular. Para os governos municipais, é muito importante fazer planejamento integrando as diversas áreas de atuação e discutindo com a população as prioridades e como realizar os planos. Suporte social: instrumento de trabalho na atenção básica à saúde visando melhorar a qualidade de vida e o domínio do grupo e do indivíduo sobre as situações. A idéia é que uma pessoa que tenha mais conhecimentos, mais habilidades e maior confiança em si pode proteger sua saúde e viver melhor. O suporte social representa um conjunto de ações que podem ser realizadas por diferentes tipos de pessoas: os membros da equipe de saúde da família, parentes, amigos, voluntários. Faz-se suporte quando se fornece informação: com ela as pessoas e os grupos podem se proteger e se defender melhor, saber onde procurar ajuda para um problema e aprender a se cuidar. Outro tipo de suporte é o apoio emocional: fazer companhia, conversar, aconselhar, encorajar, mostrar que se está do lado da pessoa ou do grupo nas suas decisões. Este tipo de suporte faz com que as pessoas e os grupos ganhem mais confiança, mais força e possam decidir e lutar pelo que desejam. Um terceiro tipo de suporte é chamado de instrumental, significando fornecer recursos técnicos e/ou materiais para ajudar a pessoa a se protegerem e cuidar melhor. Pode ser desenvolver habilidades para, por exemplo, amamentar, fazer dieta ou fazer uma fossa, ou fornecer recursos materiais para cuidado da saúde ou manutenção da qualidade de vida (como, por exemplo, renda mínima, cesta básica, material para construção, medicação). Como já dissemos, o suporte pode ser leigo (parentes, amigos, voluntários) ou profissional. A vantagem do leigo é que muitas vezes quem faz o suporteestá mais perto e conhece mais quem vai receber o apoio. Mas onde o suporte leigo não é suficiente, pode-se contar com o apoio profissional. E de quem? Por exemplo, na equipe de saúde da família quem deve fazer o suporte social? Todos, cada um com a sua função, todos buscando ouvir e acolher as necessidades dos usuários. E um trabalho articulado com o do outro, como uma verdadeira equipe. Aonde fazer o suporte? Um entendimento mais restrito é considerar o suporte como ação comunitária, a ser realizado mais no domicílio e na comunidade do que na unidade de saúde. Uma outra forma de pensar, mais abrangente, é incluir o suporte social entre as ações básicas de saúde, realizadas em todos os espaços: na visita domiciliar, no contato com Abordagem da Família 9Manual de Condutas Médicas www.ids-saude.org.br/medicina agrupamentos, locais de reunião, nos atendimentos individuais, nas atividades educativas. Quem decide qual é o suporte necessário? Não pode ser uma decisão só da equipe, mas da conversa dos profissionais com a população e as pessoas, definindo juntos os problemas a serem enfrentados e como fazer. Se a decisão é unilateral corre-se o risco do profissional pensar que está fazendo um apoio, e de quem o recebe considerar que o apoio é desnecessário ou que até atrapalha mais do que ajuda. Por isso a conversa, a integração e a combinação do suporte é tão importante. Como a área da promoção à saúde é relativamente nova, cabe de um lado experimentar diversas formas de atuação, ou seja, ser criativo. De outro lado, como o suporte profissional é um investimento de recursos (profissionais, tempo de trabalho, recursos materiais), é necessário pensar e colocar em prática formas de avaliação. A promoção deve ser direcionada para capacitar as comunidades a atuarem na melhoria da qualidade de vida e saúde. As ações intersetoriais e o suporte social são instrumentos de promoção. O suporte deve ser feito por todos os membros da equipe do PSF, na comunidade e na unidade, sempre tendo como referência as necessidades das pessoas e dos grupos sociais, seus valores culturais e suas vontades. BIBLIOGRAFIA BRESLOW, L. Da prevenção das doenças à promoção da saúde. JAMABrasil, v.3, n.7, p. 2252-2261, agosto 1999. BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Rio de Janeiro, Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 163- 177, 2000. GENTILE, M. Promoção da Saúde. Promoção da Saúde, Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, ano1, n.1, p. 9-11, ago-out1999. ROBERTSON, A; MINKLER, M. New Health promotion movement: a critical examination. Health Education Quarterly, v.21, n.3, p. 295-312, 1994.
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