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Resenha de A Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo

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Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Mestrado em Administração – PPAGEI
R E S E N H A C R Í T I C A
Aluno: Luiz Carlos de Almeida Oliveira			Data: Novembro de 2000
Professora: Dra. Isabella Freitas G. de Vasconcelos
Identificação da Obra: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Editora Pioneira, 15ª Edição, 2000, São Paulo. 
Autor: Max Weber, 
Economista, sociólogo e filósofo alemão (Erfurt 1864 – Munique 1920). Foi conselheiro da delegação alemã às conferências que levaram ao Tratado de Versalhes, em 1919, e integrante da comissão de peritos que redigiu a Constituição da República de Weimar (1919). Nacionalista alemão convicto, foi, no entanto, contrário ao racismo e ao imperialismo. Segundo ele, o objeto da sociologia envolve uma reconstrução do sentido subjetivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador. Daí vem o nome sociologia compreensiva , muitas vezes dada ao seu método. Negou qualquer monocausalidade dos fenômenos sociais, ressaltando o que chamou de adequação do sentido, isto é, a congruência da ação no âmbito de duas ou mais esferas que compõem o social. 
Foi isto que postulou em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905), que parte da preocupação fundamental de sua análises: a tendência à racionalização progressiva da sociedade moderna. Seu método ideal consiste na elaboração de “tipos ideais”, isto é elaborações conceituais do objeto examinado, que permitam o conhecimento dos fenômenos estudados. Realizou extensos estudos de história comparativa e foi um dos autores mais influentes no estudo do surgimento e do funcionamento do capitalismo e da burocracia, bem como da sociologia da religião.
Outras obras: Ciência como vocação (1919), Política como vocação (l919), Estudos reunidos sobre a sociologia da religião (1921), Economia e Sociedade (1922), A Metodologia das Ciências Sociais (1922) e História econômica geral (1923). 
Introdução
A obra começa com uma comparação entre aspectos culturais do oriente e ocidente. Uma série de questões já há muito dominadas no oriente apresentam-se como novas no ocidente. Isto no tocante à filosofia, cultura, artes etc., caracterizando uma enorme diferença cultural e de valores. 
Isto também está presente na dita vida moderna na conceituação do capitalismo, que apresenta visões diferenciadas das já existentes na história, inclusive na história oriental. 
Abordando os diversos conceitos, o autor cita pertencer ao jardim da infância da História da Cultura o conceito de que o capitalismo está associado ao “impulso para o ganho”, à “ânsia pelo lucro”. O desejo de um ganho ilimitado não se identifica, nem um pouco, com o dito “espírito do capitalismo”. 
O Ocidente veio a conhecer, na era moderna, um tipo completamente diverso e nunca antes encontrado de capitalismo: a organização capitalísitica racional assentada no trabalho livre. 
Ao focar, com ênfase, o racionalismo econômico como fator diferencial do capitalismo ocidental (sustentado pela técnica, pela matemática, pela ciência, pelo direito e pela administração), o autor aborda também outro aspecto, que passa a ser o objeto de estudo da obra, que diz respeito às influências religiosas e ideais éticos que se fizerem presentes e interferiram na construção do tal capitalismo ocidental sustentado então por um racionalismo econômico e por fatores que podem ser citados como elementos irracionais. Influências estas advindas tanto da Igreja Católica, como de correntes protestantes, mesmo que de naturezas diferentes. 
Assim são tratadas visões diferenciadas das forças religiosas no desenvolvimento do dito “espírito do capitalismo”, em especial as de base protestantes da Europa dos séculos XV à XVIII, e estas visões são contrapostas à visão do racionalismo econômico, apresentando um conjunto de elementos que sustenta o dito “espírito do capitalismo”.
O Contexto Histórico
O entendimento da questão aqui tratada passa por um rápido resgate do momento histórico envolvido. Assim, no contexto aqui trabalhado, pelo menos dois aspectos merecem destaque:
O primeiro diz respeito ao período da renascença e a decorrente decadência da idade média, sendo revistas as relações sociais regidas pelos costumes, mitos e pelos ditames religiosos, onde as pessoas pertenciam à determinadas classes e estas, por sua vez, contavam com direitos e deveres pré-estabelecidos e legitimados pela ética religiosa. 
As relações giravam em torno do modelo feudal, sendo a terra o bem principal. O lucro e o juro eram de certa forma condenados pela Igreja. 
Neste contexto que teve origem uma nova ordem, a ordem mercantil burguesa, com novos valores e princípios, diminuindo a importância da terra como meio de riqueza, aumentando a participação burguesa e possibilitando uma mobilidade social. 
O segundo diz respeito ao surgimento do protestantismo como um questionamento aos valores e práticas da época, principalmente as práticas da Igreja católica, como a venda de indulgência, seus sacramentos, a adoração aos santos etc. 
O protestantismo trouxe também novos valores e novas práticas. Algumas de natureza radical, como as associadas ao determinismo do Calvinismo ou do Pietismo, sendo, acima de tudo, um movimento de contestação dos valores de uma sociedade que, pela própria existência da contestação, apresentava-se decadente. 
Assim, no momento histórico da análise em questão, observa-se, por um lado uma forte presença e influência do aspecto religioso e, por outro lado, um período de questionamentos, contestações e mudanças dos citados aspectos religiosos, definindo uma nova ordem social.
 
Na definição desta nova ordem social o racionalismo econômico encontrou nas forças religiosas e nos ideais éticos do dever uma resistência sobre a disposição do homem em adotar uma conduta racional em relação ao trabalho.
 
É neste contexto histórico que a análise é apresentada, reforçando a natureza da sociologia compreensiva e da visão não monocausal Weberiana. 
Aspectos Fundamentais – A visão do protestantismo
A questão fundamental trata da influência da religiosidade na construção social de uma prática capitalista. A primeira abordagem traz à tona a relevância da participação protestante nos casos de sucesso da economia, quer como empresário ou comerciante, quer como trabalhador especializado. 
Este sucesso nos empreendimentos vem da construção de uma ética religiosa que centrava no trabalho, e nos seus decorrentes ganhos, uma ação e obrigação do indivíduo, aproveitando as oportunidade e condições que a vida (Deus) lhe oferecera, ou seja, se valendo de sua vocação. Entendida esta como uma tarefa ordenada, ou pelo menos sugerida, por Deus, dando um significado religioso ao trabalho secular cotidiano. 
Assim o homem deve se dedicar à sua verdadeira vocação (no sentido de opção de trabalho) e esta passa a ser uma parte fundamental da sua vida, um elemento agregador de outras virtudes, ao mesmo tempo que passa a ser também um elemento que deve afastar o homem do ócio e da vadiagem. Uma proposição é feita por Baxter: 
“Fora de uma vocação bem sucedida, as realizações do homem são apenas casuais e irregulares, e ele gasta mais tempo na vadiagem do que no trabalho”. 
Esta ética religiosa centrada na vocação apresenta um estreito relacionamento com o dito “espírito capitalista”, não na forma como será descrita adiante no dito capitalismo moderno, mas em suas conseqüências. Neste cenário a vadiagem, a mendicância, o desperdício de oportunidades, o não aproveitamento das oportunidades de evolução material são vistas como contrárias às ofertas de Deus aos homens. O trabalho e a construção do material devem ser usados, nesta abordagem, como ferramenta para a própria evolução do caráter e da moral humana, tanto individual como coletiva. Assim é citado: 
“Se Deus vos aponta um meio pelo qual legalmente obtiverdesmais do que por outro, sem perigo para a vossa alma ou para a do outro, e se o recusardes e escolheres um caminho menos lucrativo, então estareis recusando um dos fins de vossa vocação, e recusareis a ser servo de Deus, aceitando sua dádivas e usando-as para Ele, quando Ele assim o quis. Deveis trabalhar para serdes ricos para Deus, e, evidentemente, não para a carne ou para o pecado” 
Talvez a grande diferença do protestantismo, decorrente da Reforma, esteve no reconhecimento do trabalho, da vocação, como uma forma lícita de vida, e de progresso, frente aos olhos de Deus. Assim, o efeito da Reforma foi aumentar a ênfase moral e o prêmio religioso para o trabalho secular e profissional, em contraste com a concepção católica.
Esta visão da ética religiosa associada à vocação apresenta diferenças em segmentos do protestantismo, em especial o Calvinismo o Pietismo o Metodismo e o movimento Batista, representantes históricos do protestantismo ascético. 
 No Calvinismo a doutrina da predestinação era considerada o seu dogma mais característico. Considerando que as pessoas já nasciam com um futuro pré-determinado, e nada havia que pudesse mudar este futuro, de nada adiantava a ação da Igreja, com, por exemplo, os sacramentos da Igreja Católica. Bastava saber se: “Sou um dos eleitos ?”, e nada poderia mudar este destino. 
Neste contexto, em nada agregava o trabalho, as realizações, a busca da vocação no sentido antes relatado. 
Também o Pietismo se coloca historicamente como uma doutrina de predestinação tendo também o movimento ascético como ponto de partida. 
Aspectos fundamentais - A Visão do Catolicismo 
Nesta discussão da ética religiosa, do conceito de vocação e da influências destes aspectos na formação do conceito do “espírito capitalista”, se faz presente um conjunto de aspectos relevantes da ética da Igreja Católica: 
“O maior alheamento do mundo do catolicismo, os traços ascéticos dos seus mais altos ideais, levaram seus seguidores a uma maior indiferença frente aos bens desse mundo. Essa constatação corresponde, aliás, aos esquemas populares de julgamento de ambas as religiões. Do ponto de vista protestante, essa concepção é usada para a crítica daqueles ideais ascéticos do modo de viver católico, ao passo que os católicos a isso respondem como uma crítica ao “materialismo” resultando da secularização de todos os ideais pelo protestantismo”
Assim o católico é visto com um ser mais tranqüilo, como menos poder aquisitivo, preferindo uma vida a mais segura possível, mesmo que isto implique em uma renda menor, à uma vida arriscada e cheia de excitação, mesmo que essa torne possível a obtenção de riquezas. 
Essas diferenças são retratadas no provérbio: “Coma ou durma bem”, sendo que o protestante prefere saciar-se, ao passo que o católico prefere dormir sem ser perturbado.
Muitos e conhecidos são os dizeres do catolicismo a favor da pobreza, da mendicância, do contemplação e passividade frente às questões materiais. 
Aspectos fundamentais – O Capitalismo moderno 
Visões absolutamente desassociadas de uma ética religiosa, ou de uma vocação no sentido já exposto, também são analisadas no entendimento do espírito do capitalismo, em especial do capitalismo moderno. Entretanto o autor descarta estas origens como as verdadeiras do espírito do capitalismo por ele proposto, embora presentes na sociedade moderna e com origem em elementos irracionais. . 
Algumas citações, creditadas a Benjmin Franklin e satirizadas por Ferdinand Kürnberger como o “Retrato da Cultura Americana”, caracterizam bem o que o autor aborda como o capitalismo sem vocação:
Lembra-te que tempo é dinheiro. Deixar de trabalhar, mesmo sem gastar, é deixar de ganhar....
Lembra-te que crédito é dinheiro. Pode-se ganhar dinheiro com o dinheiro dos outros....
Lembra-te que o dinheiro é de natureza prolífica, procriativa. Dinheiro gera dinheiro, quanto mais dinheiro se tem, mas se ganha.....
Lembra-se do refrão: “O bom pagador é dono da bolsa alheia” . Pagar pontualmente as dívidas abrem novas possibilidades de crédito....
As mais insignificantes ações que afetam o crédito de um homem devem ser consideradas. O som do teu martelo às cinco da manha, ou às oito da noite, ouvido por um credor, o fará conceder mais crédito....
Fará com que pareças um homem tão cuidadoso quanto honesto e isto ainda aumentará mais o teu crédito.
Guarda-te de pensar que tens tudo o que possuis e de viver de acordo com isto. Este é um erro em que caem muitos que têm crédito.... As mínimas e insignificativas despesas se amealham em grandes somas.....
Por seis libras anuais poderás Ter o uso de cem libras, uma vez que sejas um homem de conhecida prudência e honestidade.
Aquele que gasta inutilmente um “groat” por dia, desperdiçara mais de seis libras por ano, que é o preço do uso de cem libras.
Aquele que desperdiça o valor de um “groat” do seu tempo por dia, um dia após o outro, desperdiça o privilégio de usar cem libras todos os dias.
Aquele que inutilmente perde o valor de cinco xelins, perde cinco xelins e poderá com a mesma prudência, atirar ao mar cinco xelins.
Aquele que perde cinco xelins, não perde somente esta soma, mas todo o proveito que, investindo-a, dela poderia ser tirado, o que durante o tempo em que um jovem se torna velho, integraria uma considerável soma de dinheiro. 
Este capitalismo selvagem, de origem materialista, é também uma construção social, onde o objetivo é o acúmulo de riquezas, cujo objetivo normalmente aceito é o de se deixar para os filhos e netos. Esta, a mais comum das explicações, é ainda irracional, pois na realidade o homem existe em função do seu trabalho e não do contrário. 
Esta visão é também desprovida de qualquer vínculo religioso, bem como contrária aos sentimento éticos de épocas inteiras, apresentando uma conduta fundamentada no egoísmo ético.
Neste contexto o Homem é dominado pela produção de dinheiro, pela produção entendida como finalidade última de sua vida. A aquisição material não mais é vista como forma de sustentação ou satisfação das necessidades, mas como um fim em si mesmo.
No surgimento deste dito “espírito do capitalismo moderno” profundas transformações ocorreram, diminuindo o lazer e aumentando o trabalho. Estas transformações não se operaram pela inserção de mais capital, mas pelo maior aproveitamento das estruturas produtivas já existentes, gerando então uma nova ordem e uma concorrência que até então não existia. 
Conclusões
Conforme citado pelo autor (pg. 61) a obra apresentada desejava verificar até que ponto, ou em que medida, participam as influências religiosas da moldagem qualitativa e da expressão quantitativa do “espírito do capitalismo” pelo mundo. Isto no sentido que não se pode aceitar uma tese doutrinária segundo a qual o “espírito do capitalismo” somente teria surgido como conseqüência de determinadas influências da Reforma, ou que, o capitalismo, como sistema econômico, seria produto da Reforma. 
Até porque formas importantes de sistemas comerciais capitalistas eram ateriores à própria Reforma.
Assim, entendida a perspectiva sociológica compreensiva e a negação da monacausalidade, características do autor, concluímos que sua obra retrata a influência de, no mínimo, três vertentes significativas da construção do dito “espírito capitalista”, sendo elas:
A “vocação”, no sentido trazido pela Reforma protestante (aspecto focal da obra)
A racionalidade econômica do dito capitalismo moderno (aspecto secundário na abordagem da obra)
O Ascetismo e a resignação do Catolicismo (aspecto secundário e de menor influência, porém presente).
Esta conclusão pode ser reafirmada pelas análises diferenciadas dos entendimentos, meios e origens do tal “espírito do capitalismo”, contraposta pela análise unificada de suas conseqüências e significados práticos. 
 
Críticas
Cabem aquialguns poucos comentários e reflexões:
Particularmente tenho tido, ainda nos dias de hoje, a oportunidade de conviver com comunidades de confissão Protestante Luterana e Católicas. As diferenças são ainda expressivas, presentes fortemente no sentido dado ao trabalho e aos seus ganhos. O valor dado ao trabalho, à profissão, à vida dedicada a este trabalho/profissão e, principalmente, aos ganhos financeiros e materiais decorrentes destes, é ainda muito diferente entre estas comunidades. Isto quase cem anos depois da obra analisada.
Entretanto não se observa, nos dias de hoje, com a mesma clareza que se percebe a diferença acima citada, a idéia e o conceito da vocação (no sentido apresentado na obra), do trabalho como um componente da vida ofertado por Deus e a Ele dedicado. 
Visões que agregam ainda outras perspectivas, que não as abordadas por Weber, podem trazer uma nova dimensão para o entendimento da ética em relação ao capitalismo. Por exemplo, com base em Allan Kardec (estudando-o como filósofo), poderíamos agregar a análise de uma Ética Espiritualista no Espírito do Capitalismo, sustentada pelas suas visões da sociedade, do trabalho e dos gozos terrenos.
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