Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA – MÓDULOS I E II Direito Penal – Aula 04 Rogério Sanches 1 EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO INTRODUÇÃO Como decorrência do princípio da legalidade, aplica- se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da reali- zação do fato criminoso (“tempus regit actum”). Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde que benéfica ao réu. É possível que a lei penal se movimente no tempo: extra-atividade da lei penal. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO Extra-atividade da lei penal. TEMPO DO CRIME Quando (no tempo) um crime se considera pratica- do? 1- TEORIA DA ATIVIDADE: 2- TEORIA DO RESULTADO: 3- TEORIA MISTA / UBIQUIDADE: Tempo do crime “Art. 4º C.P. - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.” OBSERVAÇÕES: OBS.1: PRINCÍPIO DA COINCIDÊNCIA / CON- GRUÊNCIA / SIMULTANEIDADE: OBSERVAÇÕES: OBS.2: O tempo do crime, EM REGRA, marca a lei que vai reger o caso concreto. SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO A regra geral é a irretroatividade da lei penal, exce- tuada somente quando lei posterior for mais benéfi- ca (retroatividade). 1- SUCESSÃO DE LEI INCRIMINADORA (“NO- VATIO LEGIS” INCRIMINADORA) “Art. 1º C.P. - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Ex.: 2- “NOVATIO LEGIS IN PEJUS” / “LEX GRAVIOR” Lei nova que de qualquer modo prejudica o réu. “Art. 1º C.P. - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Ex.: OBS.: Sucessão de lei mais grave no crime continu- ado e no crime permanente Súmula 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” Conclusão: Sobre a súmula, Paulo Queiroz aponta que, tratan- do-se do crime continuado, a aplicação da lei mais grave a toda a cadeia de delitos é inconstitucional e inverte-se a lógica da continuidade delitiva, em que o último delito é havido como continuação do primei- ro. O agente, ao invés de responder por vários cri- mes em concurso material, deve responder por um único delito, o mais grave, se diversos, com aumen- to de um sexto a dois terços. Portanto, os crimes www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA – MÓDULOS I E II Direito Penal – Aula 04 Rogério Sanches 2 subsequentes só têm relevância jurídico-penal para efeito de individualização judicial da pena: escolha da pena mais grave (quando diversas as infrações) e fixação do respectivo aumento, pois o primeiro crime prevalece sobre todos os demais como se estes simplesmente não existissem, exceto para efeito de aplicação da pena. 3- “ABOLITIO CRIMINIS” Revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora. “Art. 2º, „caput‟ C.P. – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.” ATENÇÃO! Trata-se de desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima. Ex.: NATUREZA JURÍDICA DA “ABOLITIO CRIMINIS” 1ªC: 2ªC: CONSEQUÊNCIAS DA “ABOLITIO CRIMINIS” a) Faz cessar a execução penal: Lei abolicionista não respeita coisa julgada. # E o art. 5º, XXXVI, C.F./88? “Art. 5º, XXXVI CF - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;” R: CONSEQUÊNCIAS DA “ABOLITIO CRIMINIS” b) Faz cessar os efeitos penais da condenação: Os efeitos extrapenais são mantidos (arts. 91 e 92 C.P.) Ex1.: Reincidência? Ex.2: Reparação do dano? 4- “NOVATIO LEGIS IN MELLIUS” / “LEX MITI- OR” Lei que de qualquer modo favorece o réu. Art. 2º, parágrafo único, C.P. - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Ex.: # Depois do trânsito em julgado quem é o juiz com- petente para aplicar a lei mais benéfica? Prova objetiva: Prova escrita: 1ªC: 2ªC: SÚMULA 611 STF “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.” # É possível a aplicação de lei mais benéfica duran- te o seu período de “vacatio legis”? www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA – MÓDULOS I E II Direito Penal – Aula 04 Rogério Sanches 3 1ªC: 2ªC: STJ: (...) Não poderia o Tribunal de origem aplicar a minorante do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06, de 23/8/06, uma vez que a norma não estava em vigor quando do julgamento do recurso acusatório, que se deu em dentro do prazo da vacatio legis. 7. Ordem denegada (STJ, HC 100.692/PR, 5.ª T., j. 15.06.2010, rel. Min. Arnaldo Esteves Li- ma, DJe 02.08.2010). # Para beneficiar o réu, admite-se a combinação de leis penais? 1ªC: 2ªC: O STJ sumulou entendimento vedando a combina- ção: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorá- vel ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis” (súmula 501). # Como proceder em caso de dúvida sobre qual a lei mais benéfica? 5- PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO- TÍPICA ATENÇÃO! Não se confunde com “abolitio cri- minis” Ex.: LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA Art. 3º, C.P. – “A lei excepcional ou temporária, em- bora decorrido o período de sua duração ou cessa- das as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.” LEI TEMPORÁRIA / LEI EXCEPCIONAL (Art. 3º CP) LEI TEMPORÁRIA: LEI EXCEPCIONAL: CARACTERÍSTICAS: leis temporária e excepcio- nal 1- Autorrevogabilidade São leis autorrevogáveis (“leis intermitentes”). Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado ou cessada a situação de (temporária) anormalidade . (excepcional) CARACTERÍSTICAS: leis temporária e excepcio- nal 2- Ultra-atividade São leis ultra-ativas (alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que revogadas). ATENÇÃO! Trata-se de hipótese excepcional de ultra-atividade maléfica Ex.: Lei 12.663/12 (Lei da Copa) CAPÍTULO VIII DISPOSIÇÕES PENAIS Utilização indevida de Símbolos Oficiais Art. 30. Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titula- ridade da FIFA: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa. Art. 34. Nos crimes previstos neste Capítulo, so- mente se procede mediante representação da FIFA. Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014. OBS: A doutrina observa que, por serem de curta duração, se não tivessem a característica da ultra- atividade, perderiam sua força intimidativa. ATENÇÃO: www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA – MÓDULOS I E II Direito Penal – Aula 04 Rogério Sanches 4 ART. 3º C.P: (IN)CONSTITUCIONALIDADE 1ªC: O art. 3º é de duvidosa constitucionalidade. A CF só admite ultra-atividade ou retroatividade da lei penal quando benéficas. A extra-atividade deve ser sempre em benefício do réu. 2ªC: O art. 3º não viola o princípio da irretroativida- de da lei prejudicial. Não existe sucessão de leis penais. Não existe tipo versando sobre o mesmo fato sucedendo lei anterior. Não existe lei para re- troagir. RETROATIVIDADEDA LEI PENAL NO CASO DE NORMA PENAL EM BRANCO RETROATIVIDADE DA LEI PENAL NO CASO DE NORMA PENAL EM BRANCO 1ªC: A alteração do complemento da N.P.B. deve sempre retroagir, desde que mais benéfica para o réu. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL NO CASO DE NORMA PENAL EM BRANCO 2ªC: A alteração na norma complementadora, mesmo que benéfica, é irretroativa (a norma princi- pal não é revogada com a simples alteração de complementos). RETROATIVIDADE DA LEI PENAL NO CASO DE NORMA PENAL EM BRANCO 3ªC: Só tem importância a variação da norma com- plementar na aplicação retroativa da N.P.B. quando esta provoca uma real modificação da figura abstra- ta do direito penal, e não quando importe a mera modificação de circunstância que, na realidade, deixa subsistente a norma penal. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL NO CASO DE NORMA PENAL EM BRANCO 4ªC: A alteração de um complemento na N.P.B. homogênea terá efeitos retroativos, se benéfica. Quando se tratar de N.P.B. heterogênea, a altera- ção mais benéfica só ocorre quando a legislação complementar não se reveste de excepcionalidade (se excepcional, não retroage). Ex.1: Art. 237 C.P. - “Contrair casamento, conhe- cendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano.” Ex.2: Art. 33 Lei 11.343/06 (lei de drogas) - “Im- portar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabri- car, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou forne- cer drogas, ainda que gratuitamente, sem autoriza- ção ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:” Ex.3: Lei nº 1.521/51 - art. 2º, inciso VI (crimes contra a economia popular) – “Art. 2º. São crimes desta natureza: VI - transgredir tabelas oficiais de gêneros e merca- dorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêne- ros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado (...) LEI INTERMEDIÁRIA RETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA - A CF/88, se refere somente à retroatividade da lei (proibindo-a quando maléfica e incentivando-a quando benéfica). - O CP também só disciplina a retroatividade da lei (não da jurisprudência). - O entendimento que prevalece é o de que a extra- atividade só se refere à lei, não se estendendo à jurisprudência. ATENÇÃO: Para Paulo Queiroz deve ser proibida a retroatividade desfavorável da jurisprudência e apli- cada a retroatividade benéfica, autorizando revisão criminal. CUIDADO! Não se pode negar a retroatividade da jurisprudência quando dotada de efeitos vinculantes (Súmula vinculante, ADI, ADC, ADPF). FORÇA GALERA!!! “O sucesso parece ser em grande parte uma ques- tão de continuar se segurando enquanto os outros já se soltaram.” (William Feather) www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA – MÓDULOS I E II Direito Penal – Aula 04 Rogério Sanches 5
Compartilhar