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Em regra, a lei penal, em respeito à soberania dos Estados politicamente organizados, vige em todo o seu território. Pode ocorrer, entretanto, para um combate eficaz à criminalidade, que os efeitos da lei penal ultrapassem os limites territoriais para regular fatos ocorridos além de sua soberania, ou, então, a ocorrência de determinada infração penal pode afetar a ordem jurídica de dois ou mais de Estados diferentes. Para tanto, surge a necessidade de se limitar a eficácia espacial da lei penal, disciplinando qual lei deve ser aplicada em tais hipóteses. Princípio da Territorialidade (art. 5º, caput, do CP): Aplica-se a lei brasileira aos fatos puníveis praticados em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado, ressalvada a validade das convenções, tratados e regras gerais. Tem como principal fundamento a soberania política do Estado; Princípio real, de defesa ou de proteção (art. 7º, I, do CP): Permite a extensão da jurisdição penal do Estado titular do bem jurídico lesado, para além de seus limites territoriais, fundamentado na nacionalidade do bem jurídico lesado, independentemente do local em que ocorreu a infração penal ou a nacionalidade do agente infrator. Protege, além das fronteiras de seu território, bens jurídicos que o Estado considera fundamentais; Princípio da nacionalidade ou da personalidade (art. 7º, II, “b”, do CP + art. 7º, §3º, do CP): Aplica-se a lei da personalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado. O Estado tem o direito de exigir que o seu nacional no estrangeiro tenha determinado comportamento. Visa a impedir a impunidade de nacionais por crimes cometidos em outros países, que não sejam abrangidos pelo critério da territorialidade. Personalidade ativa – caso em que considera somente a nacionalidade do autor do delito (art. 7º, II, “b”, do CP); Personalidade passiva – caso em que importa somente a nacionalidade da vítima (art. 7º, §3º, do CP). Princípio da Universalidade ou Cosmopolita (art. 7º, II, a, do CP): As leis penais devem ser aplicadas a todos os homens, onde quer que se encontrem. Esse princípio é característico da cooperação penal internacional, pois permite a punição, por todos os Estados, de todos os crimes que forem objeto de convenções ou tratados internacionais. Aplica-se a lei nacional a todos fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do delito, a nacionalidade de seu autor o bem jurídico lesado. A competência aqui é firmada pelo critério da prevenção. Princípio da representação ou da bandeira (art. 7º, II, “c”, do CP): É um princípio subsidiário. Quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação, aeronave ou cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior REGRA GERAL princípio da territorialidade – art. 5º, caput, do CP; EXCEÇÕES princípio real ou de proteção – art. 7º, I, do CP; princípio universal ou cosmopolita – art. 7º, II, a, CP; nacionalidade ativa – art. 7º, II, b, do CP; nacionalidade passiva – art. 7º, §3º do CP, e; representação – art. 7º, II, c, do CP CONCEITO: Âmbito espacial sujeito ao poder soberano do Estado que compreende: espaço territorial efetivo ou real: superfície terrestre (solo e subsolo), as águas territoriais (fluviais, lacustres e marítimas) e o espaço aéreo correspondente; espaço territorial por extensão ou flutuante: embarcações e aeronaves – por força de uma ficção jurídica. LIMITES INTERNACIONAIS REPRESENTADOS POR MONTANHAS: nesses casos dois critérios podem ser utilizados: o da linha das cumeadas ou do divisor de águas. LIMITES INTERNACIONAIS REPRESENTADOS POR UM RIO (INTERNACIONAL): podem ocorrer as seguintes situações: a) quando o rio pertencer a um dos Estados, a fronteira passará pela margem oposta; b) quando o rio pertencer aos dois Estados: ○ b.1) a divisa pode ser uma linha mediana do leito do rio, determinada pela equidistância das margens ○ b.2) a divisa acompanharia a linha de maior profundidade do rio, conhecida como talvegue. c) nada impede que o rio pertence aos dois países. Nesse caso o rio seria indiviso, com cada Estado exercendo normalmente sua soberania sobre ele. Faixa ao longo da costa, incluindo o leito e o subsolo, respectivos, que formam a plataforma continental. Os governos militares estabeleceram os limites do mar territorial brasileiro em 200 milhas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular (Decreto n.º 1.098/70). De um modo geral os demais países nunca admitiram as 200 milhas, reconhecendo o domínio territorial em 12 milhas marítimas, o que acabou fixado pela Lei 8.617/93. Navios públicos são os de guerra, os em serviços militares, em serviços públicos (polícia marítima, alfândega, etc.), e aqueles colocados a serviço dos Chefes de Estado ou representantes diplomáticos. Navios privados são as embarcações mercantes, de turismo, etc. NAVIOS PÚBLICOS: independentemente de se encontrarem em mar territorial brasileiro, mar territorial estrangeiro ou em alto-mar, são considerados território nacional. Qualquer crime cometido dentro deles, indiferentemente de onde se encontrarem, deverá ser julgado pela Justiça brasileira (art. 5º, §1º, 1ª parte). Os crimes cometidos em navios públicos estrangeiros, em águas territoriais brasileiras, serão julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Contudo, um marinheiro de um navio público que descer em um porto estrangeiro e lá cometer um crime será processado de acordo com a lei local, e não segundo a lei do Estado a que pertence o seu navio. NAVIOS PRIVADOS: quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam. Quando em portos ou mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do país em que se encontrem (art. 5º, §1º, 2ª parte). Definido por três categorias: Absoluta liberdade do ar, onde nenhum Estado domina o espaço aéreo, sendo permitida a utilização sem restrições; Soberania limitada ao alcance das baterias antiaéreas, representado concretamente pelos limites do domínio do Estado; Soberania sobre a coluna atmosférica (adotado pelo Código Brasileiro Aeronáutico): simboliza que o país subjacente teria domínio total sobre o seu espaço aéreo, limitado por linhas imaginárias perpendiculares, incluindo o mar territorial. AERONAVES: Sujeitas aos mesmos princípios do navios (art. 5º, §§1º e 2º). Para possibilitar a adoção do princípio da territorialidade, suas exceções ou definir os princípios reguladores da competência e jurisdição, é necessário apurar o lugar do crime, o que nem sempre é fácil. Algumas teorias procuram precisar o lócus comissi delicti. teoria da ação ou da atividade: lugar do crime é aquele onde se realizou a conduta típica. Apresenta como defeito a exclusão da ação do Estado em que o bem jurídico tutelado foi atingido (onde o delito pode ter produzido seus efeitos mais nocivos); teoria do resultado ou do evento: lugar do crime é aquele em que ocorreu o evento ou o resultado, isto é, onde o delito se consumou, pouco importando a ação ou intenção do agente. A crítica reside na exclusão da ação do Estado onde a ação se realizou, que tem justificado interesse na repressão do fato; teoria da intenção: lugar do delito é aquele em que, segundo a intenção do agente, deveria ocorrer o resultado. Sua insuficiência manifesta-se nos crimes culposos ou preterdolosos (em que não há nenhuma intenção); teoria do efeitointermediário ou do efeito mais próximo: lugar do crime é aquele em que a energia movimentada pela atuação do agente alcança a vítima ou o bem jurídico; teoria da ação a distância ou da longa mão: lugar do delito é aquele em que se verificou o ato executivo; teoria limitada da ubiquidade: lugar do crime tanto pode ser o da ação como o do resultado; teoria pura da ubiquidade, mista ou unitária: lugar do crime tanto pode ser o da ação como o do resultado, ou ainda o lugar do bem jurídico atingido. É a teoria adotada pelo DP brasileiro (art. 6º, do CP). Evita-se o inconveniente de conflitos negativos de jurisdição (o Estado em que ocorreu o resultado adota a teoria da ação e vice e versa) e soluciona-se a questão do crime à distância, em que a ação e o resultado realizam-se em lugares diversos. A eventual duplicidade de julgamento é superada pela regra constante no art. 8º do CP, que estabelece a compensação de penas, uma modalidade especial de detração penal. As situações de aplicação extraterritorial da lei penal brasileira estão previstas no art. 7º do CP e constituem exceções ao princípio geral da territorialidade (art. 5º do CP) Extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante na hipótese de crimes cometidos fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido julgado no estrangeiro (art. 7º, I do CP), com fundamento nos princípios da defesa (art. 7º, I, a, b e c do CP) e da universalidade (art. 7º, I, d do CP). A importância dos bens jurídicos justifica essa incondicionalidade da aplicação da lei penal brasileira. O poder jurisdicional brasileiro é exercido independentemente da concordância do país onde o crime ocorreu. Inclusive é desnecessário o ingresso do agente em território nacional, podendo ser julgado a revelia. Mesmo que o fato seja lícito no país onde ocorreu o crime, ou esteja extinta a punibilidade do agente, são circunstâncias irrelevantes. Extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira quando satisfeitos certos requisitos (art. 7º, II e §§2º e 3º do CP), com base nos princípios da universalidade (art. 7º, II, a, do CP), da personalidade (art. 7º, II, b, do CP), da bandeira (art. 7º, II, c, do CP) e da defesa (art. 7º, § 3º do CP). Referem-se a crimes que: 01) por tratado ou convenção o Brasil obrigou-se a reprimir: quando firmados pelo Brasil e aprovados pelo Congresso Nacional, os tratadops ou convenções ganham status de leis internas e são de aplicação obrigatória; 02) praticados por brasileiros: aplicação do princípio da nacionalidade ou da personalidade, em que o Estado tem o dever de exigir que os seus cidadãos, quando no estrangeiro, tenha comportamento de acordo com o seu ordenamento jurídico. Aplica-se a lei brasileira, mesmo que o crime tenha sido praticado no estrangeiro; 03) quando praticadas em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não tenham sido julgadas: neste caso, o agente está sujeito à soberania do Estado onde o crime foi praticado. No entanto, se esse Estado não aplicar sua lei, pode o Brasil fazê-lo, a fim de evitar impunidade. Essa ação fundamenta-se no princípio da representação e aplica-se, subsidiariamente, somente quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir. 04) praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil: aplica-se a lei brasileira quando o crime praticado por estrangeiro contra brasileiros fora do Brasil reunir, além das condições já referidas, mais aquelas do 3º do CP.
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