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PRETI, Dino. Análise de textos orais

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USP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ISBN: 85-86087-55-6
FFLCH FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E cIÊNCIAS HUMANAS
Reitor
Vice-Reitor
Diretor
Vice-Diretor
Prof. Or. JacquesMarcovitch
Prof. Dr. Adolpho José Melfi
Prof. Dr. FrancisHenrik Aubert
Prof. Dr. RenatodaSilva Queiroz
PROJETO DE ESTUDO DA NORMA LINGüíSTICA
URBANA CULTA DE SÃO PAULO
(PROJETO NURC/SP-NÚCLEO USP)
CONSELHO EDITORIAL ASSESSOR DA HUMANITAS
Presidente
Membros
Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento(Filosofia)
Prol". Dt".LourdesSola (CiênciasSociais)
Prof.Or. CarlosAlbertoRibeiro deMoura (Filosofia)
Prol".N. Sueli Angelo Furlan (Geografia)
Prof. Or. Elias ThoméSaliba(História)
Prol".N.BethBrait (Letras)
ÂngeiaC S.Rodrigues- BeIhBmit-DionaL R deBarros- DinoPreti-
HudinilsonUrlxuw- IedaM. Alves- ]. GNonHilgm-Leonorúpes
FávmJ-qgilCD.Moraes- PauJode T. Galembeck
PROJETO DE ESTUDO DA NORMA LINGüíSTICA
URBANA CULTA DE SÃO PAULO
(PROJETO NURC/SP •NÚCLEO USP)
Endereçoparacorrespondência
Comissão Editorial
PROJETONtlRdSP - NÚCLEOUSP FFLCHlUSP
Área de FiloJogia c Língua Portuguesa
Av. Prof. Luciano Gualberto,403
sala205 - Cidade Universitária
05508-900- São Paulo - SP - Brasil
Tel: (011) 818-4864
c-mail: nurc@cdu.usp.br
Compras e10uassinaturas
HUMANITAS LIVRARIA - FFLCHlUSP
Rua do Lago, 717 - Cid. Universitária
05508-900- São Paulo - SP - Brasil
Tel/Fax: 818-4589
c-mail: pub.och@edu.usp.br
http://www.usp.br/ff1chlff1ch.hUllI
SERVIÇO DE DIVULGAÇÃO E INFORMAÇÃO
Tel.: 818-4612- e-mail: di@edu.usp.br
~
ANALISE
DE TEXTOS ORAIS
Dino Preti (Org.)
~a.edição
SBD-FFLCH-USP
1111111111111111111111111111111111111111
325969
[[§JJ
\-\WN'••.:~
pueuCAÇOES
""""~c•..•/u.s"'"
HumanitasPublicações- FFLCHIUSP - junho 1999
A
FFLCH
\l~,.~
PUBLlCAÇ6ES
FFLCI-VU,SP
1999
p
v' tf
(i
Copyright1999daHumanitasFFLCHlUSP
É proibidaareproduçãoparcialou integral,
semautorizaçãopréviadosdetentoresdo copyright
SériePROJETOS PARALELOS
Vol. 1 ANÁLISE DE TEXTOS ORAIS
VoI. 2 O DISCURSO ORAL CULTO
Vol. 3 EsTUDOS DE LlNOVA FALADA
ServiçodeBibliotecae DocumentaçãodaFFLCHlUSP
Fichacatalográfica:Márcia Elisa GarciadeGrandiCRB 3608
A532 AnálisedetextosoraisI Dino Preti (organizador).4. ed. - São
Paulo: HumanitasPublicaçõesFFLCHlUSP, 1999-
(PROJETOS PARALELOS: V. 1)
Acima do título: Projeto de Estudo da Norma Lingüística
UrbanaCultadeSãoPaulo(ProjetoNURCISP - NúcleoUSP).
237p·
ISBN: 85-86.087-55-6
1.Análisedaconversação2.Línguaescrita3.Língua oral4.
Linguagem culta 5. Português - São Paulo (cidade) 6.
SociolingüísticaI. Preti,Dino, org.lI. ProjetodeEstudodaNorma
LingüísticaUrbanaCulta deSãoPaulom.Série
CDD (20.ed.)
469.798611
SUMÁRIO
Apresentação 7
Normasparatranscriçãodosexemplos 1
1.Línguafaladaelínguaescrita
Ângela Cecília SouzaRodrigues 13
2.O tópicodiscursivo 33
LeonorLopesFávero
3.O turnoconversacional 55
Paulo de TarsoGalembeek
4.Marcadoresconversacionais 81
HudinilsonUrbano
5.Procedimentosdereformulação:aparáfrase 103
José GastonHilgert
6.Procedimentosdereformulação:acorreção 129
Diana Luz PessoadeBarros
7.O léxiconalínguafalada 157
Ieda Maria Alves
HUMANITAS PUBLICAÇÕES FFLCH/USP
e-mail:editflch@edu.usp.br
Te!':818-4593
Editor Responsável
Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento
Coordenaçãoeditoriale
Diagramaçãoe Capa
M. HelenaG. Rodrigues
Revisão
dosautores
Montagem
CharlesdeOliveira I MarceloDomingues
1".edição1993
2".edição1995
3".edição1997
DEDALUS - Acervo - FFLCH
11111111111111
20900091099
8.A sintaxenalínguafalada 169
Lygia CorrêaDias deMoraes
9.O processointeracional 189
BethBrait
10.A línguafaladaeodiálogoliterário 215
Dino Preti
Glossário 229
APRESENTAÇÃO
Dino Preti
Desde a publicaçãodo volumeda série A linguagemfalada culta
na cidadede São Paulo - Estudos,em 1990,os pesquisadoresque com-
põema equipedo Projeto NURC/SP vêmcontinuandoa realizarcstudos
sobreo materialgravado(316horas),emespecialsobreumaparterepre-
scntativado corpus (18he 22min) queabrangetodasasvariáveisprevis-
tasno Projeto. Esse materialselecionadofoi todo transcritoe publicado
nostrêsprimeirosvolumesda sérieacimareferida.
Esta obra,publicadapelaFaculdadede Filosofia, Letrase Ciências
Humanas da Universidadede São Paulo é o resultadodessetrabalho,
realizadoao longodosanosde91e92,e temobjetivosbemdefinidos.
O Projeto de estudoda normalingüísticaurbanacuILa,conhecido
como Projeto NURC, temâmbitonacional,e gravaçõesforamrealizadas
em cinco capitaisbrasileiras:São Paulo (Projeto NURC/SP), Rio de Ja-
neiro, Porto Alegre, Recife e Salvador.Cada umadessascidadesgravou
aproximadamente300horascomfalantescultos(entendidoscomo talos
de formaçãouniversitáriacompleta);brasileiros;nascidosna cidade em
que as gravaçõesforam realizadas;filhos de luso-falantes;distribuídos
em três faixasetárias(25-35,36-55,56anosem diante);de sexomasculi-
no ou feminino;que deixaramseutestemunhooral da fala urbanae dos
três tipos de inquéritorealizados:elocuçõesformais,diálogose entrevis-
tas.
Conforme sabemos,o estudoda modalidadeoral da língua am-
pliou-seconsideravelmentenasdécadasde 80e 90e a aplicaçãodasteo-
rias daAnálise daConversação(ornoupossívelo estudodo fenômenoda
oralidade, fora dos métodostradicionalmenteusadospara a análiseda
língua escrita.Problemasnovos,como o do turno (a macrounidadeda
línguafalada)esuasestratégiasdegestão;dasleisde simetriana conver-
saçãonatural;da estruturaçãodos tópicosou temas;dos procedimentos
de reformulação;do empregode sinais característicosda língua oral
(marcadoresconversacionais);da sobreposiçãode vozes;do fluxo con-
versacional;da densidadeinformativa;etc.vierammostrarque a língua
faladatemsuasregraspróprias.
7
Análisedetextosoraisprocuratratardessese deoutrosassuntos
ligadosà línguaoral,inclusivesuacomparaçãocomaescritae atémes-
mosuapresençanodiálogoliterário.
Os pesquisadoresdaequipeNURC/SP preocuparam-seemescre-
verumaobradeiniciaçãoàanálisedalínguaoral,empregandoumestilo
acessívelaestudantesuniversitários(ouatépré-universitários),aprofes-
soressecundárioseusandoapenasa nomenclaturatécnicaessencial.E,
principalmente,partindodetextosfaladosreais,retiradosdocorpusdo
ProjetoNURC/SP, usando,àsvezes,textosescritosparacomparaçãodas
teoriasdesenvolvidas.
Se percorrermososváriosensaiosaquireunidos,poderemosver
queestaobrapretendeoferecerumavisãogeral,abrangente,quepoderá
servircomopontodepartidaparaanalisartextosoraisouparacompará-
loscomosescritos.
Assim,noprimeiroartigo,ÂngelaC. S.Rodrigues,daáreadeLín-
guaPortuguesa,naUniversidadedeSãoPaulo,apresentaalgumasrefle-
xõessobrea línguafaladaeescrita,desdeo problemadatranscriçãoaté
outrosimportantes,comoo docontextoconversacional,doplanejamen-
to,doenvolvimentodosinterlocutoresnaconversação.Emseguida,par-
tindodeumtextoliteráriodeCarlosDrummonddeAndrade,observaos
mesmosproblemasnalínguaescrita,paraconcluirque,emborao siste-
malingüísticosejao mesmo,"asregrasdesuaefetivação,bemcomoos
meiosempregadossãodiversoseespecíficos",nasuarealização.
Em "Otópicodiscursivo",LeonorLopesFávero,professoradeLin-
güística,naUniversidadedeSãoPaulo,procuramostrarcomosecons-
trói o conteúdoda interação,ligando-oa uma série de fatores
contextuais,comoascircunstânciasemqueocorre,o conhecimentode
queosinterlocutorespartilham,aspressuposiçõesetc.Paraestudaressa
construçãocolaborativado discurso,a A. passapor temascomoo da
centração,daorganicidade,dasegmentaçãoedadigressão.
No terceiroensaio,PaulodeTarsoGalembeck,professordeLín-
guaPortuguesa,naUniversidadeEstadualPaulista- campusdeArara-
quara- propõe-se,segundosuasprópriaspalavras,"aefetuarumestudo
dasformasdeparticipaçãodecadainterlocutor(turnos)e dosprocedi-
mentospelosquaisocorrea trocadefalantes".Seupontodepartidaéo
"examedasduasmodalidadesbásicasdainteração,quaissejam,assitua-
çõesdesimetriaeassimetrianaparticipaçãodosinterlocutores".HudinilsonUrbano,daáreadeLínguaPortuguesa,naUniversida-
dedeSãoPaulo,aotratardosmarcadoresconversacionais,umdoste-
8
masmaisdiscutidosdaAnálisedaConversação,propõe-seaanalisares-
sessinais,sobo aspectoformal,semântico,sintáticoetambémquantoàs
suasfunçõescomunicativo-interacionais.
José GastonHilgert,da áreadeLingüística,na Universidadede
PassoFundo(RS), e DianaLuz Pessoade Barrosda mesmaárea,na
UniversidadedeSãoPaulo,tratamdos"Procedimentosdereformulação"
nalinguagemfalada.O primeiro,especificamentedaparáfrase;asegun-
da,dacorreção.O prof.Hilgertintroduzo quintotextodaobra,falando
sobrea construçãodotcxto,suaformaçãoe planejamentoe,depois,es-
tudao fluxodaformulação(descontinuidadeeproblemas).A seguir,en-
tra nas atividadeslingüísticasde reformulaçãoe na paráfrase
propriamentedita,queconstituio temacentraldeseuartigo.DianaLuz
PessoadeBarroscentraseuensaio(osextodolivro)nacorreção,carac-
terizando-ae classificando-aem reparaçãoe correçãopropriamente
dita.A A. passapelasmuitasvariaçõesqueessesfenômenosapresentam
nalínguaoral.Por último,refere-seaosmarcadorese padrõeslingüísti-
cosdecorreçãoeàsfunçõesqueacorreçãorepresentanoatoconversa-
cional.
No sétimoartigo,IedaMariaAlves,lexicógrafadaáreadeLíngua
Portuguesa,naUniversidadedeSãoPaulo,escrevea propósitodasca-
racterísticasapresentadaspeloléxicodalínguafalada.Partindodotexto
deumaelocuçãoformal(aulauniversitária),discuteo problemadadefi-
niçãodosvocábuloscientíficosetécnicos,levandoemcontaoaspeCtodi-
dáticodo textolexicográficoe do textodo professor.Por meio de
comparaçõesdeexemplos,aA. estabeleceasequivalênciasentredefini-
çãosinonímicaeparáfraseporvariaçãolexical;entredefiniçãoporsínte-
sec paráfraseexplicativo-definidora;e entredefiniçãopor denotaçãoe
paráfraseexemplificadora.
LygiaCorrêaDiasde Moraes,daáreadeLínguaPortuguesa,na
UniversidadedeSãoPaulo,estuda"A sintaxenalínguafalada".Em seu
Iextopreocupa-seaA. emesclarecerpreviamenteasdefiniçõesdafrase,
oraçãoe período,para,emseguida,fazera comparaçãoentreo que
ocorrenalínguafaladae naescrita.Utilizando-sesempredeexemplos
dodiálogoqueabreseutexto,estudaasintaxeintraturno(abordandoo
problemadaestruturasintáticadasfrases,a organizaçãodo períodoe
doselementosinternosdaoração)easintaxeinterturnos(estudando,en-
Ire outrosproblemas,apresençadasconjunçõesee mase suasfunções
naorganizaçãodosturnos).Naconclusãodeseuensaio,afirmaque,em-
horasepossadizerque"tudooqueseencontranalínguaescritaseacha
tambémnafalada,o certoéquearecíprocanãoéverdadeira:nemtudo
9
)CORRÊNCIAS SINAISEXEMPLlFICAÇÁO*
ncompreensãodepalavras
( )donívelderenda...( )
lU segmentos
nívelderendanominal...
Iipótesedoqueseouviu
(hipótese)(estou)meiopreocupado
(como gravador)--
1----------------- ---f---
rruncamento(havendo IOmografia,usa-seacentondicativodatônicae/ouimbre)
Iecoméle reinicia
:ntonaçãoenfática
maiúsculaporqueaspessoasreTêM
moeda---------------- rolongamentodevogalemsoante(comos,r) ::podendoaumentarpara::::oumais aoemprestaremos...éh:::...o dinheiro
ilabação
-pormotivotran-sa-ção
llerrogação
?eo Banco...Central...
certo?
lualquerpausa
...sãotrêsmotivos...outrês
razões...quefazemcomqueseretenhamoeda...existeuma...retenção
-"-.- omentáriosdescritivosdo
anscritor
~~minúscula))«tossiu))
--
NORMAS PARA TRANSCRIÇÃO
s
Estetrabalhofoi realizadosobacoordenaçãodoprofessorDinoPreti
(USP-NURC/SP-NúcleoUSP)epublicadocomo apoiofinanceirodaFa-
culdadedeFilosofia,Letrase CiênciasHumanasdaUniversidadedeSão
Paulo,daCAPES(TaxasAcadêmicas)eCNPq(TaxasdeBancada).
o quehánalínguafaladaestátambémnaescrita"c asrazõesdissosãoas
condiçõesdeproduçãodasduasmodalidadesdelíngua.
Em "O processointeracional",BethBrait,daáreadeLingüística,
naUniversidadedeSãoPaulo,escrevesobreasestratégiasutilizadaspor
falantesemcontextosdeinteraçãoverbal.Examina,entreoutrosproble-
mas,o dascondiçõesdepoderreveladasnaconversaçãoe procura,se-
gundo suas própriaspalavras"caracterizara interaçãocomo um
fenômenoqueincluiaspectossociais,culturais,discursivose lingüísti-
cos",demonstrandoa inlluênciadetaiscaracterísticasnosentidodotex-
to.
No últimoensaiodestaobra,DinoPreti,professordeLínguaPor-
tuguesa,naUniversidadedeSãoPaulo,estudaa elaboraçãodo diálogo
literárionumfragmentodecontodeRubemFonseca,procurandofazer
umlevantamentodasmarcasdaoralidadenoprocessoescritoliterário.
Encerrandoo livro,inclui-seum"Glossário",elaboradopelaspro-
fessorasMarli QuadrosLeitec RosaneMalusáGonçalvesPeruchi,do
CursodePós-Graduação(doutorado)daUniversidadedeSãoPaulo.
SeaAnálisedetextosorais,porumlado,continuaalinhadepubli-
caçõesda equipedo ProjetoNURC/SP, poroutro,inauguraumasérie
novae maisabrangente- a de"PROJETOS PARALELOS" - queéde-
corrêncianaturalda primeira.Foi a experiênciatrazidapelotrabalho
comumcorpllS transcrito(e publicadopelaprimeiraveznoBrasil)que
permitiua realizaçãodeprojetosparalelos(comoo daLinguagemdos
idosos,deDino Preti)c quepossibilitouampliaraslinhasdeanálisedo
atoconversacional,comoestaobraestádemonstrando,comalgunsestu-
dossobreasmodalidadesoraleescritadalíngua.I
Em breve,novaspublicaçõesdeverãosurgir,nestasérie,visandoa
trazeraoslingüistas,aosprofessoresdelínguase aoleitoruniversitário
emgeralo frutodotrabalhodeumaequipeque,aolongodeumadéca-
da,vempesquisandoosmateriaisgravadosdoProjetoNURClSP (o pri-
meirovolumedeA linguagemfaladacultanacidadedeSãoPaulosurgiu
em1986,comoresultadodeumprojetoiniciadoem1984)e o fez,por-
tanto,muitoantesdeosestudosdelínguaoralseteremconsolidadona
LingüísticadoBrasil.A procuradosquatroprimeirosvolumes(trêsdos
quaisjá esgotados)constituio testemunhodessaatividadeedarepercus-
sãoquemereceudosváriossetoresdaLingüística,emnossopaísenoex-
terior.
(I) OinoPreti- A linguagemdosidosos.SãoPaulo,Contexto,1991. • ExemplosretiradosdosinquéritosNURC/SPnº338EF e33102.
lO 11
I.Consideraçõesintrodutórias
ÁngelaC. SouzaRodrigues
l.l--tNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA
As reflexõesa seremdesenvolvidas,nestecapítulo,a respeito de
língua falada e língua escrita, terão, como ponto de partida, algumas
questõessugeridaspelo Diálogo entreDois Informantes(02)do Projeto
NURC/SP abaixotranscrito.
dizem~p.-vocêvê--dentrodaprofissãodovendedor
...acoisamaisdifícilévocêmanterrealmenteo
indivíduo'" éhOito horasemcontatodiretocomos
clientes...umacoisa::...realmentedifícil...entãoa
genteinclusive::...pedeparaqueo indivíduonãoperca
temponesseshorárioscerto?...e procurealmoçar...no
seuterritóriodetrabalho...poralimesmoemvezdeter
quesedeslocardeumterritóriodetrabalho
parasuaca::sa...
I, "
paraasuaresidência paravoltar::...issoacarreta
muitaperdadetempo masacoisamaisdifícildentro
daprofissãodovendedorvocêrealmente...éconseguir
manteroitohorasnaqueleterritóriodetrabalhoSEM
sairdelá...eMAIS umavezeu...euvejoainfluência
doclimaetudomais...seéumclimachuvosotaltalvez
atémeajude...nessesentidoeupossoficar...enemter
vontadededesairdelá.paramedeslocarparaalgum
outrolocalporquenãodátambém...perderiamuito
tempo...diadechuva...coriformeo::...o diarealmente
prejudicanesseaspecto
eu::euJheperguntariaaídentrodesseproblema...você
não...possuiuma...umcontrole--digamosassim--em
cimadevocê!~ocêdeveproduzirtantonumdia!..ou...
ouexisteissooudigamos/umdiadechuvaestáumdia
horrívelparatrabalharumdiaquevocêestáindisposto
vocêpoderiapegarvoltarparasuacasaentrarnum
cinemadistrairumpoucoentende?...que(quevocê)
LI
LI
245
NO
2.15
l50
1.2
l55
OCORRÊNCIAS SINAISEXEMPLIFICAÇÁO
Comentáriosquequebrama
seqüênciatemáticadaexposição;desviotemático
.... _ .....ademandademoeda- -
vamosdaressanotação- -demandademoedapormotivo
Superposição,simultaneidade
devozes [ligandoaslinhas A. na [casadasuairmãH. sexta-feira?
A. fizeram[lá ...
H. cozinharamlá?
Indicaçãodequeafalafoi
tomadaouinterrompidaemdeterminadoponto.Nãonoseuinício,porexemplo.
(...)(...) nósvimosque existem...
Citaçõesliteraisouleituras
detextos,duranteagravação
"" PedroLima...ahescrevenaocasião...·0 cinemafaladoem línguaestrangeiranãoprecisadenenhumabaRREIraentrenós·...
OBSERVAÇÕES:
1. Iniciais maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP
etc.)
2.Fáticos: ah, éh,ahn, ehn,uhn,tá (nãopor está: tá? você estábrava?)
3.Nomesdeobrasou nomescomunsestrangeirossãogrifados.
4. Números:porextenso.
5.Não seindicao pontodeexclamação(fraseexclamativa)
6. Não seanotao cadenciamentodafrase.
7. Pooem-secombinarsinais. Por exemplo:oh::::...(alongamentoepausa).
8.Não seutilizamsinaisdepausa,típicosdalínguaescrita,comoponto-e-
vírgula,pontofinal,doispontos,vírgula.As reticênciasmarcamqualquer
tipodepausa.
12
13
285 L2
LI
L2290
LI
L2LI
295
L2
LI
L2
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L2
LI
L2LIIW L2LI
11111
L2
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L2
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LI
260
265
270
275
280
LI
L2
LI
L2
LI
L2
LI
L2
LI
L2
LI
(vocêpoderia fazer iSso?)
não ...podeperfeitamenteeu achoque::essa::essa::.,.
essaresponsabilidade...ela nosé atribuída ... inclusive::
dentro daprofissão devendaso que:: interessaé:: .,.
faturar ...entende?...paraelespouco importa::àsvezesa::
o tempode de trabalho né?
comovocê utilizao seu tempode trabalho ...ele tem
queser ...bem utilizadoparavocêefetuarsuasvendas
... umavezquevocêutiliza ...
(
masexisteum limite em quevocêdevaum mínimo
leI levarnestetal de faturamento?
(
não não existe...não existe...nãoexiste...
vocêtem umavantagemsobrea genteentende?o dia
que vocêestiverchateadoo dia estivermuito bonito você
pode pegarseucarro e::dar umadeslocada
para o litoral e tal
(
é masseria difícil né?
quevocêque para a subsistênciavocê
I
umdia chuvoso
vocêprecisatrabalharbastante
precisa... um dia um dia dechuvavocêentra numcinema
distrai umpouquinho ...
não isso realmentenão existenão há problema nenhum
se o indivíduo que estiverbastantechateadoqualquer
coisaassim...V ... inclusivequeo:: que o:: ...que o
próprio a própria condutadelenaqueledia não está
rendendo..,
nãoé produtiva ...
não é produtiva elepode procurar umaumaoutra forma
qualquerde ...espairecer...
não deixade ser um privilégioné'!.., nósali dentro
ficamosali fechadosvocêé obrigadoa cumprir ...as oito
horasdeterminadase ...
vocêvê quevocêganha...
I
você( ) fica fechadoali masvocêfica ali vocêjá
pensouaqueleTÉdio que negócioCHAto .
vocêvêque vocêganhaé emé em funçãoda sua
produção...nós estamosmudandoum pouco para ...
profissão
podejá ( ) aí ...
vocêvêque vôlnósganhamosmesmoem em função
14
mesmoda nossaprodução...então.., o motivopelo
qual éh::maisumavezeu euchamoo aspectoda da
responsabilidade...a gentetemque ter porque eu
dependodaquilo
certo ...
seeu não fizer direito asminhasvisitasou se eu passar
trêsquatro dias interrompendomeuserviço
porque estoucansado.., evidentemente
[
ganharámenos
vou faturarmenosvou ganharmenos
lógico
e elesbaseadosem :: ...em estatísticasem previsões eles
podemmaisou menossabercomoo indivíduo
estásecomportando...
(
entãoelestêm umcerto controlesobrevocêcerto'!'"
é um controleexiste...
elestêmuma.., o quantonormalmentevocêdeveria
produzir ...se trabalhasse...
ahsim
aqueletempo
baseadoevidentementeemestatísticasem::casos
anteriores...
certo ...
e tudo maisnão existeaquelaaquelarigiDEZ aquele
controledi! diÁrio
Trata-sedo inquéritonº62,diálogoentredoisjovensde26anos,
ambosdosexomasculino,solteiros,filhosdepaispaulistanos.O primei-
10,deagoraemdianteLI, éeconomista,exercendoatividadesdevende-
dor,e o segundo,L2, é estatístico.Eles conversamsobre"instituições",
"ensino","profissões"e "tempocronológico".Nestetrecho,o assuntoda
nlnversaé a profissãodevendedor:LI fazcomentáriossobreasvanta-
",ensepercalçosdesuaprofissão,aoresponderàsperguntasdeL2 sobre
a práticadevenda;este,por suavez,emitesuasopiniõesa respeitodo
Iilmodetrabalhodovendedor.Trata-sedeumdiálogobastanteequili-
hradoentre"iguaislingüísticos",umaconversasimétrica(Cf.capo9),cujo
rit moédadopelosprópriosinteriocutores,queparticipamcomesponta-
neidadedoeventodefalae semostramàvontadepara,a qualquermo-
mento,informar,perguntar,avaliar,enfim,ter a palavra(HILGHERT,
I ()90 ) . Notrechosobanálise,L2 dividecomo documentadoratarefade
15
entrevistador,pois é ele quem,de fato,faz perguntasa LI; o documeta-
dor, por suavez,atuacomoterceiroparticipantedo diálogo.
Uma questãoaté certo ponto ingênuapoderia ser feitapelo leitor
leigo,não familiarizadocomquestõesde língua:o textosobanálisecons-
titui exemplode línguafaladaou de línguaescrita?
Pelo menos,algunssinaisgráficosqueo falantealfabetizadoutiliza
quando escreveali estão facilmenteidentificáveis.É o caso de letras
maiúsculase minúsculasem:
(I) manteroito horasnaqueleterritório SEM sair de lá...e mais
umavezeu...euvejo a influência
(linhas243-4)
Instala-sea dúvida:a simplesfixaçãodosinquéritosno planoescri-
111 seriasuficienteparadar-Iheso estatutode línguaescrita?O usode si-
lI;lisgráficosque representamelementosfonológicose prosódicosseria
·.lIfieientepara transformarum textooral/faladoem textoescrito? Em
Ll,O negativo,que outros traçosdistinguiriamo oral/falado(Cf. capo4)
do escrito?Enfim, quaisseriamasdiferençasentrelínguafaladae língua
,':,erita?
Buscar-se-árespondera algumasdessasquestõesno decorrer do
I)ITsentetrabalho.
2. I Jngua falada
LI estáconscientede não fugir do assunto,digamos,principal, ao
'"IIi"alízar"... e MAIS umavezeu...eu vejo a inl1uênciado clima",ênfase
("I"Tsentada graficamentepelas letras maiúsculas.É L2 que "muda a
dirc,ão da conversa"ao optarpeloabandonodo assunto"clima"e manter
o 1<'Jpico"profissões",o queelefazao perguntarsobreo possívelcontrole
'111,' se exerceriasobrea produtividadedos vendedores.Mas, não deixa
di"retomaro assunto,comoseobservana suafalada linha270a 278.Os
Como vimos,no trechoem estudo,os inter1ocutoresdialogamso-
!lI(' a profissãode vendcdor.Eles já sabiam,no início da gravação,que
1111Idosassuntosemtoroo dosquaisgirariaa conversaseria"profissões";
,'pesardisso, tal assuntopassoua ser temado diálogosomenteno mo-
IIIl'nto em que LI o introduziu,como parte das considcraçõesque vi-
IIham fazendo,desdeo início do inquérito,a respeitodo clima de São
1'.l\Ilo.Esse trechoda eonversanão se deseneadeousob o estímulode
IIl11aperguntado documentador,o queeomumenteseverificanosDiálo-
",I)S entre Dois Informantes(02) principalmentequando se iniciam; a
trlleade idéiassobrea profissãode L1 resultouda associaçãoque ele fez
,'.\lre as condiçõesclimáticasde São Paulo e a possibilidade,ou necessi-
,Lllk, de permanecerno escritórioemdiaschuvosos.Confira:
ou dos diacríticoscomo os acentosagudosemterritório, difícil, horário,
mínimo e circunl1exo,emYlli:ê.,vê. inl1uência,e o til para indicar nasali-
zaçãoemnfu1,profissão,produção,alémdossinaisde pontuaçãocomo o
ponto de interrogaçãoe as reticências.Além disso,separam-sepor um
espaçoembrancoosvocábulosformais,istoé,asunidadeslingüísticasde
naturezasemântica.
Por outro lado, outrossinaisgráficosque não os convencionaisda
língua escrita tambémsão utilizadosno texto (CASTILHO e PRETI,
1986:[ indica simultaneidadede vozes,-- -- indicamdesviotemático,::
significamprolongamentode vogale consoante,/ indica truncamentode
palavra,( ) correspondemàhipótesesobreo queseouviu.Mais que isso,
os próprios sinaisda línguaescritautilizadosno textonão têmo mesmo
valor com queconvencionalmenteo alfabetizadoos emprega:as reticên-
cias indicam qualquerpausa,que,aliás,ele normalmenterepresentana
escrita por vírgula,ponto e vírgulaou ponto final; as letrasmaiúsculas,
por suavez,nãoindicamo início dafrase,masentoaçãoenfática.
Nosso leitor, porém, sabeque os textosque constituemobjeto de
análisedos estudosdo presentevolume,fazempartedo corpus de língua
falada do Projeto NURC/SP; uma pequenaamostradestematerial foi
publicadacomo objetivode facilitaro acessode estudiososa partedesse
arquivosonoro,fIXadograficamentenoplanoescrito.O quefoi realizado
inicialmenteno plano da oralidade,"materializou-se"aosolhos do leitor
sob o aspectográfico, que evocaa fala. Ou seja, algunsinquéritos do
NURC/SP foramfIXadosemdoismomentosdiferentes,e de duasmanei-
ras diversas:inicialmenteforamgravadosem fitas,que podemser ouvi-
das na sededo Projeto em São Paulo (USP) e Campinas(UNICAMP);
emsegundolugar,foramtranscritos.
(/l
J,I'-.
muitaperdade tempo...masa coisamaisdifícil dentro
daprofissãodo vendedorvocêrealmente...é conseguir
manteroito horasnaqueleterritório de trabalho SEM
sair de lá ...e MAIS umavezeu '"'euvejo a influência
do climae tudo mais...se é umclimachuvosotal talvez
(linhas241-45)
16 J7
dois interlocutorcs mostram-seinteiramenteenvolvidos,não só pelo'
assuntodo diálogo,mastambémpela própria interação,na medida em
quetrocamidéiassobreo temacomdesenvoltura.
A análisedestetrecho do inquérito nos sugerealgumasreflexões
sobreascaracterísticasda línguafalada.
Os interlocutoresmostram-senãosó perfeitamenteconscientesde
'(IICo diálogoestásendogravado,mastambémse preocupam,pelo me-
'"),~no início do inquérito,com a presençado gravador.A conversasó
v,li tornar-semaisdescontraídaquandoeles se esquecemdo aparelho.
N('slemesmotrechohá referênciaa vozesdistantes,outrodado de situa-
(;ao,
L!.Planejamentoenão-planejamento
Outras vezesfaz-sealusãoà atmosferadescontraídaem que se de-
',('IlVolvea conversapelareferênciaa reaçõesdos interlocutores,comori-
',')s,Cf. trechodo inquéritosobanálise:
Vimos que,no inquéritoe!" estudo,os interlocutoressabiam que
11111dosassuntosda conversaseria"profissões",maso textonãonossuge-
I(' que elesdeveriamseguirumdeterminadoplano de exposição,mesmo
p"rque elesse mostramà vontadepara,espontaneamente,mudarde as-
',111110, ou retomaro temainicial da conversa.Tal consideraçãoremeteà
'(III'stiíodo planejamentodiscursivo.
Em gerala conversação,comoa que estamosanalisando,inicia-se
,,,11I o tópico quemotivoua interação,ou encontro,isto é, ela seestabe-
(1'('(' c se mantémna medidaem que existaalgo sobre o que conversar
(Mi\RCUSCHI, 1986),e disponibilidadedosinterlocutoresparao diálo-
Assim, aindaque o analistapossadispor de algunsdadosde situa-
'.,H) passíveisde seremfIXadosnasgravações,elas nos privamde outras
IIIl'mmaçõessobreo processoda interação,que podemser surpreendi-
,I,I,', na expressãoracial,nosgestos,nosolhares,nosmovimentosdo cor-
(") dos interlocutores,istoé, nosdadosparalingüísticos(MARCUSCHI,
I 'lS()), que,combinadoscomos dadosverbalizados,completamo quadro
doi interação.Todos esseselementosnosdão contada atmosferaem que
',I'dcsenrolaa conversa.Na ausênciadeles,os dadosde línguasãopistas
IlIlIdamentaispara a montagemdo contextosituaeionalda conversação,
,.h'1I1 dos dados relativosaos informantes,como idade,sexo,procedên-
I í,l. nívelde escolaridade.
(linhas30- 32)
agenteficaatémaisalegre..,vocênãoacha?maisalegre«risose
vozes»...o diaquefazasquatroestaçõesnomesmodiadia::..é
horrívelné?
L!(I)
(linhas8 - 11)
2.1.Contextoconversacional
(3) L! - - vocêviuseestágravandoaí?- -
Doe.estáestáeu já deixonoautomático.,.
L! - - aho automáticonãoindicavelô/",- -
Doe. não".«vozesdistantes))
LI c L2 estãoexercendo,numdadomomentoe numdado espaço,
uma atividade característicae privativa do ser humano: a atividade
verbal.Na situaçãode diálogo,os interlocutoresalternamseuspapéisde
falantee ouvinte,e dessaatividade"a quatro mãos",ou "a duasvozes",
resultao textoconversacional,elaboradonumadeterminadasituaçãode
comunicação.Dizemos, então,que todo eventode fala acontecenum
contexto situacional específico, aqui entendido como o ambiente
extralingüístico:a situaçãoimediata,o momentoe as circunstânciasem
que tal eventoacontece,envolvendo,inclusive,os próprios participantes
comsuascaracterísticasindividuaisepossíveislaçosqueosunam.
A conversaçãoé um eventode fala especial:correspondea uma
interaçãoverbal centrada,que se desenvolveduranteo tempo em que
dois ou maisinterlocutoresvoltamsuaatençãopara umatarefacomum,
queé a de trocaridéiassobredeterminadoassunto.Conversaçãonatural,
que ocorre espontaneamenteno dia-a-dia,dá-sefacea face,presentesos
dois falantes, ao mesmo tempo, num mesmo espaço. É o caso da
conversaqueestamosanalisando.De fato,apenasa identidadetemporal
é necessária,e nãoa identidadeespacial,ou seja,a interaçãoface a face
não é condição necessáriapara que haja uma conversação,razão pela
qual as conversas telefônicas também constituem exemplos de
conversação.No casodos diálogosdo NURC/SP, muitopoucaou quase
nenhumainformaçãopossui o analistaa respeitoda situaçãoespecífica
em que foi feitacadaumadasgravações.Sabe-seque,emgeral,ficavaa
cargodos informantesa escolhado local e da hora maisadequadospara
a conversacom o documentador.Uma ou outra referênciaa dados do
contextosituacionalé feita no decorrerda própria gravação,o que se
ilustranapassagem,abaixotranscrita,do D2 343(CASTILHO e PRETI,
1987).
18 19
go. otópico, entendidocomoaquiloa respeitodo quese fala,é, e deve
ser,desenvolvidopelosinterlocutores.Associandoa idéiade tópico à de
planejamentodiscursivo,podemosdizer que umaprimeiradimensãodo
processodo planejamentodo discursoé a do planejamentotemátieo:no
casopresente,osdois interlocutoresconversamsobreumtemaestabele-
cido apriori pelo documentador.Mas, independentementede scr o tcma
estabelecido"defora paradentro",e nãopelosinterlocutores,a conversa
sempregira em torno de um assuntoou tema,condição indispensável
paraa coerênciado produtodaconversação,istoé,do textoconversacio-
na!.
Por outro lado,se,naconversaçãoespontânea,o temapodesugerir
algumgrau de planejamento,dificilmentese pode falar em formulação
verbalplanejada(URBANO, 1990). A questãodo planejamentodiscur-
sivoé discutidapor OCHS (1979),que fala de quatro níveisde planeja-
mento no discurso de falantescultos de inglês: falado não planejado,
faladoplanejado,escritonãoplanejadoe escritoplanejado.
O textosob análiseapontaparaum discursofaladonão planejado.
Em termosmaisgerais,a línguafaladaapresentaumatendênciapara o
nãoplanejado,ou,ainda,combasenasidéiasde OCHS, a línguafaladaé
planejadalocalmente,isto é, constituiumaatividadeadministradapasso
a passo.
Como já dissemos,o textoé resultadode um trabalhocooperativo
dos dois interlocutores,que o vãocompondoà medidaquea conversase
realiza.Assim, planejamentoc realizaçãodo discursocoincidemno eixo
temporal,ou sãopraticamenteconcomitantes.Conseqüentemente,"cada
turno pode colocar uma reorientação,mudançaou quebrado ponto de
vistaemcurso"(MARCUSCHI, 1976),e marcasdo processode planeja-
mento,ou de replanejamento,podemser detectadasno textofalado.Tal
fatoseconfirmanafalade L2 em:
Com essaperguntaele quer dizer:Você pretendecontinuartraba-
lhandocomo vendedor?Assim, a conversase organizaà medidaque se
vaifalando.
Podemosassociara idéiade nãoplanejamento,ou de atividadead-
lIIinistradapassoa passo,a umaoutracaracterísticada línguafaladasu-
,'.nida por CHAFE (1979),que é a sua chamadafragmentação.Esta
IIlH,ãosó podeserentendidacomopartedasexplicaçõesqueCHAFE dá
,10 processamentoda fala. Ele esclareceque observaçõesa respeitoda
hnl'.uafaladaespontânea,feitasnão só por ele, mastambémpor outros
IIlvestigadores,conduziramà descobertade que ela é produzida aosja-
I()S, aos borbotões,que são unidadesde idéia,ou significativas,com um
(ontorno entonacionaltípico,e limitadaspor pausas.A passagemde uma
IInidadeparaoutraé feitamuitorapidamente,o que tornao processode
I.lbr hemmaisaceleradodo queo de escrever.Na fala,produzimosape-
II.I,Slima idéia por vez;alémdisso,cadaunidadede idéia tendea ser, na
l.t1a,menoslongae menoscomplexado quenaescrita.
A fala de L1 ilustra com propriedadeas idéiasde CHAFE. Ela é
,nlrl'llleada de muitaspausase alongamentos,fenômenostípicos da Iín-
1'.11.'falada,que lhevãodandotempoparaorganizarseutexto.Este, por
',1\.1vez,mostra-sefragmentadoemtermossintáticos,pois frasessãocor-I.I!!;IS,ou asidéiassãoretomadasemfrasesestruturadasde umamaneira
dik:ente daquelacomque seanunciava.Percebe-serupturada eonstru-
'.,10(anacoluto)na medidaemquea frasese desviade suatrajetória,to-
11I.llldooutradireçãosintática.Verifiqueo exemploquesegue:
(5) L2 eu::eulheperguntariaaí dentrodesseproblema
(linha251) (grifo nosso)
li·)
( I)
'(111
L2
LI
certocerto...cvocêpretendecontinuarcomisso?
(linha324)
não...podeperfeitamenteeuachoque::essa::essa::...
essaresponsabilidade...elanoséatribuída...inclusive::
dentrodaprofissãodevendaso que::interessaé::...
Diante da possibilidadedeL1 retomaro tópico "tempoclimáticoe
cronológico",eleavisaao seuinterlocutorquepretendecontinuara falar
sobre "profissões"ao usar a expressãoanafóricaaí dentro desseproble-
ma, que remeteao assuntoreferidoanteriormente,ou seja,a questãoda
flexibilidadede horáriode trabalhodosvendedores.É L2 quevai mudar
de novo a direção da conversa,desencadeandonovo tópico, no trecho
subseqüentedo inquérito,queseiniciacoma questão:
20
( '1:
(Il)
(linhas259-261)
Além de ruptufas,sãofreqüentesas repetiçõesde palavrase frases.
1.1 nãonãoexiste...nãoexiste...nãoexiste...
(linha269)
21
2.3.Envolvimentoe distanciamento
(linhas244-247)
não ..o podeperfeitamenteeu achoque::essa::essa::"o essa
responsabilidade..o ela nos é atribuída 0.0 inclusive::
(linhas259-260)
sair de lá o •• e MAIS umavezeu ...euvejo a influência do clima e
tudo mais o •• seéum climachuvosotal talvezaté me ajude o •• nesse
sentidoeu posso ficar ..o e nemter vontadede de sair de lá para me
deslocarparaalgum
dizemné? ••vocêvê -- dentro daprofissão do vendedor
'0'a coisamaisdifícil é vocêmanIerrealmenteo
indivíduo ..o éh OIto horasemcontatodireto comos
clientes..o umacoisa::0'0 realmentedifícil 0.0 entãoa
genteinclusive::..o pedeparaqueo indivíduo nãoperca
LI
LI
LI
~J!.)
'IIH'acc'itaa colaboraçãode seuinter1ocutore a incorporaà suafala, re-
I,dllldo-ao
Ocorrênciasdessetipo exemplificamumadasfacetasdo fenômeno
01" ('lIvolvimento(CHAFE, 1985),característicoda línguafalada.Trata-
',(dot:nvolvimentodos inter1ocutorescomo assuntoda conversa,o que
'~plicao próprio processodeelaboraçãodo textoconversacional,que,já
oIl'.:.el11os,é o resultadode um trabalhocooperativo,ou "a duasvozes".
( '011I0os falantesseencontramemsituaçãode interaçãofacea facecom
',"li:'inter1ocutores,podemosfalar emmaisdois outrostipos de envolvi-
IIWlIlo,aindanaesteirade CHAFE ( 1985):o do falanteconsigomesmo
"'11ego-envolvimento,e o do falantecomo ouvinte,relacionadocoma di-
'''lIllica da interaçãocomoutrapessoa.
No textosob análise,são diversasas marcasde envolvimentodos
mlnlocutores.Considerem-seosexemplosabaixo:
II I)
li,!)
(linhas283-286)
(...) que sedeslocarde um território de trabalho
parasuaca::sa...
I
para a sua residência...paravoltar::..o issoacarreta
(linhas 238-40)
(9) LI
LI
(10)
LI
1.2LI
que o próprio a própria condutadele naqueledia não estárendendo...
não é produtiva ...
não é produtiva ele podeprocurar umaumaoutra
forma
Já nos referimosao envolvimentodos inter1ocutoresdo inquérito
sob análisecom o assuntoda convcrsa,ao compromentimentotácito de
cada um delescomo tópico convcrsacionaJ.Eles mostramteremaceita-
do o assuntosugeridopclo documentador, ou estaremperfeitamentede
acordocomo tema,e a conversaquesedesenrolasugerealgunsprocedi-
mentosqueconfirmam a contínuasintoniados inter1ocutorescomo con-
teúdodo diálogooConsiderem-seostrechosabaixotranscritos:
Em síntese,na línguafaladaas frasesseapresentammaisindepen-
dentesumas com relação às outras,e sua identificaçãoe classificação
funcionalmuitasvezesconstituiproblemade difícil solução.
Observa-se,portanto,queascaracterísticasformaisdo textofalado
aqui referidasestãorelacionadascomo processode planejamentoda lín-
guafalada.
É evidenteque cadaumdos falantesestá"seguindoo pensamento"
de seu inter1ocutor.Em (9) e (11), L2 praticamentecompletaa fala de
LI, sobrepondosuavoz à de LI. No segmento(10),a expressão"nãoestá
rendendo"de LI é substituídapelo sinônimo"não é produtiva"de L2,
(linhas306-308)
(
1.2 ganharámenos
LI vali faturar menosvou ganharmenos
(11) LI porque estoucansado"O evidentemente
(linhas231-235)
Em (12), temos um caso de ego-envolvimentoexplicitado pelos
prollomesda Ia pessoado singulareu e me:LI, o vendedor,refere-sea
,.1 IIIcsmoe àssuasopiniõessobrea própriaatividade.Em (13) e (14),ele
"t· apresentacomopartedo grupodevendedores,dondesuapreferência
pOl'IIOS, pronomeda 1ª pessoado plural,e a gente,substitutode nós. OS
I.l'S casosconstituemexemplosde envolvimentodo locutorconsigomes-
1lI0o
Consideremosoutrasocorrências:
22 23
Os exemplosacimanosremetemà questãodo envolvimentodo ou-
vinte com o seu interlocutor.Tal envolvimentose torna nítido, em pri-
meiro lugar, no uso de pronomespessoaisde 2ª pessoalhe e vocêem
(15).Em (16),a expressãovocêvê,e nãoexclusivamenteo pronomevocê,
denotao envolvimentodo falantecomo ouvinte:elesugerea seuinterlo-
cutor que acompanheseu raciocínio a respeitoda profissãode vendas.
Mais que isso,em(17),pelo usodo marcadorné,L2 pedea Li que con-
firmeseinterpretoucorretamentea fala.
Por outro lado, perguntase respostastambémconstit']emmarcas
de envolvimentodos falantes,ou, maisque isso,constituemmecanismos
típicosde construçãodo textoconversacional.Em (15),L2 nãoquestiona
diretamenteLI dizendo"eulhe pergunto"algumacoisa;atenuao possí-
vel impactodo pedidode informação,sugerindo,inclusive,a possibilida-
de de o ouvinte não lhe respondera questãoformulada, pelo uso da
formaverbalde futurodo pretéritoperguntaria,e maisainda,peloverbo
poder na sua forma poderia. O uso dessesprocedimentosatenuadores
nãodeixamde sermarcasdo envolvimentodo falantecomseuouvinte.
No decorrer do diálogo,os falantesestãosempremostrandoque
compreendema falade seuinterlocutor,assinalandoque ele podeconti-
nuar falandocomoatéentãovinhafazendoporqueo ouvintesesenteem
sintoniacom o que estáouvindo.São sinaisde entendimentoexpressões
como:certo (linhas303e 321);lógico.(linha309);ah sim (linha317),co-
nhecidoscomomarcadoresconversacionais(Cf. Capo4) .
(15)
(16)
(17)
1,2
LI
L2
eu::eu lhe perguntariaaí dentro desseproblema ...você
não 000 possuiuma...um controle -- digamosassim-- em
cimadevocêvocêdeveproduzir tantonum dia ...ou ...
ou existeissoou digamosumdia dechuvaestáum dia
horrível para trabalharum dia quevocêestáindisposto
vocêpoderia pegarvoltar parasuacasaentrar num
cinemadistrair um poucoentende?...que (que você)
vocêpoderia fazer isso?
(linhas251-258)
dizem né? -- vocêvê-- dentro da profissãodo vendedor
(linha231)
o tempode trabalhoné?
Estasconstataçõesconfirmamsero envolvimentoumacaracterísti-
ca da línguafalada.
3. Língua escrita
As questõesdiseutidasa respeitoda línguafaladaserãoagorareto-
madastendoemvistaascaracterísticasda línguaescrita.O pontode par-
tida para tais reflexõesseráo textode Carlos Drummond de Andrade
quesegue.
A FALSA ETERNIDADE
O VERBO PRORROGAR entrou em pleno vigor, e não só se
prorrogaramos mandatoscomoO vencimentodasdívidase dos compro-
missosde todasorte.Tudo passoua existiralémdo tempoestabelecido.
Em eonseqüência,nãohaviamaistempo.
Então suprimiram-se os relógios,as agendase os calendários.Foi
eliminadoo ensinode História. Para que História? Se tudo era a mesma
coisasemperspectivade mudança.
A duraçãonormaldavidatambémfoi prorrogadae, porquea mor-
te deixassede existir,proclamou-seque tudo entravano regimede eter-
nidade.Aí começoua chover,e a eternidadese mostrouencharcadae
lúgubre.E o seriaparasempre,masnãofoi. Um mecânicoque seemen-
tediavaemdemasiacom a eternidadeaquátiea,inventouum dispositivo
paranãosemolhar.Causoua maioradmiraçãoe começoua receberinú-
meraseneomendas.A chuvafoi neutralizadae,por faltade objetivo,ces-
sou. Todas as outras formas deduração infinita foram eessando
igualmente.
Certa manhã, tornou-seirrefutávelque a vida voltaraao signodo
provisório e do contingente.Eram observadosoutravez prazos, limites.
Tudo refioresceu.O filósofoconcluiuquenãosedeveplagiara eternida-
de.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis.Rio, José
OlympioEditará, 1985.)
O autornosfalade umfatoqueteriaacontecidoemalgummomen-
to, numplausívelmundodoshumanos,quandodeixoude existiro tempo
e, conseqüentemente,a perspectivade mudança.Tudo setornou eterno,
24 25
· inclusiveachuva.Masalguémdescobriuumdispositivoparaseuproble-
maimediatodenãosemolhare foi admiradoporisso.Gradativamente,
tudofoideixandodesereterno,comoaconteceraàchuva,eo provisório
daexistênciavoltouaseinstalar.E avidavoltouaseroquesemprefora:
passageira,provisória,contingente.
Comoalguémquetivesseassistidoà distânciaao desenrolardos
acontecimentos,o autornarraahistóriadomecânicoqueconseguiumu-.
daro rumodaHistória,paraqualquerleitorque,eventualmente,venhaa
lerseuconto;independentememtedeserlidoounão,ocontoexistepara
ele,o autor,mesmoquenãoseinstaleumaponteentreo autoreo even-
tualleitor,viaprocessodeleitura.Ou seja,a mensagemdo autornãoé
transmitidadeimediatoaoleitore,porisso,o escritornãorecebeumre-
tornoimediatoparao queescreveu,respostaqueseráconstruídanoato
da leiturapeloreceptorda mensagem.Alémdisso,emissore receptor
nãoseconstituememprotagonistasdosacontecimentosnarradose,mui-
tomenos,co-autoresdotexto,poisapenasoescritoro cria,nãodeixando
sinaisdo processode elaboração.Drummondnosapresentaum texto
acabado,semmarcasdeprodução,umtextocoeso,dotadodeseqüencia-
çãotemporal,namedidaemqueosfatosnarradossesucedemcronologi-
camente.
Ninguémtitubeariaemrotulardelínguaescritaa quefoiutilizada
peloartistaemseuconto.Alémdeteremsidousadosossinaisgráficos
convencionaisdaescrita,comoletrase diacríticos,e deo textoseapre-
sentardistribuídoemparágrafos,a leiturado textoescritofazemergir
umaoralidadequenãoéaquelatípicadalínguafalada,masconfecciona-
daa partirdoescrito,caracterizadaporumjogoentonacionale depau-
sas,deumamusicalidadetodaprópria,característicosdalínguaescrita.
Estestraçosprosódicossãoindicadospelossinaisdepontuaçãoconven-
cionais,comfunçõesdefinidasnoscompêndiosdegramáticanormativa.
Conseqüentemente,o textosobanálisenãoconstituitranscriçãode um
textofalado,mas"nasceu"escrito,segundointençãodoseuautor.
3.1.Contextoescrito
A leituradocontodeDrummondlevaaumaobservaçãoinicialso-
brea situaçãodoescritorcomrelaçãoà doleitorenquantoreceptorda
mensagemescrita:elesnãoocupamaomesmotempoo mesmoespaço.
Um lapsodetempomaioroumenorobrigatoriamentepõedistânciaen-
treo atodeelaboraçãodotextopeloescritore o atodeleiturapelolei-
26
tor.Aliás,oescritornemmesmosabequem,eventualmente,leráseutex-
to escrito,nemsepodcafirmarqueelesepreocupacomtalproblema;
eleconstróisozinhoo seutexto.O isolamentodoescritorcomrelaçãoao
leitorfazcomqueesteleitorsópossadispordeinformaçõespassadasno
epelotexto,já quenãodispõededadosdocontextosituacional.A língua
escritatemdecompensaraausênciadasituaçãofornecendo,lingüistica-
mente,informaçãoaelaequivalente,ou,emtese,precisahaverarecupe-
raçãolingüísticadocomponentesituacional(HALLIDA Y, 1974).
Alémdisso,escritore leitornãoalternamseuspapéisnodecorrer
daelaboraçãodotextoescrito,semprea cargodeumúnicosujeito,seu
autor.Ele semostrasemprepreocupadoemproduziralgoconvincente
paradiferentesleitores,emdiferentesmomentos,emdiferenteslugares
(CHAFE,1985).
No textoliteráriodeDrummond,muitodesuabelezaresultadas
sugestõesarespeitodomundofictício,emquealguémpretendeuplagiar
a eternidade,um mundosemnome,atemporal,em que,de repente,
"tudopassouaexistiralémdotempoestabelecido".Tudosefazplausível
nocontextocriadopeloartista.No textoescrito,principalmentenolite-
rário,atotalidadedasituaçãoéfornecidapeloprópriocontextodaobra.
O fatodeescritore leitornãoestabeleceremumainteraçãofacea
facelevao escritora nãosepreocuparporprendera atençãodo leitor
nomomentoemqueescreve:o escritortemmaistempoparapensarso-
breo queescrevee comoescreve,domesmomodoqueo leitorvaidis-
pordemaistempoparaentenderoescrito.O escritor,livredaspressões
dotempo,temcondiçõesdeseabastecerdemuitasinformaçõessobreo
assuntoquepretendedesenvolver,assimcomoparasededicaraumaor-
ganizaçãomaiscuidadosadosprocedimentoslingüísticosquevaiadotar
noseutextoescrito.Desseprocessodeelaboraçãoresultaa línguaescri-
tacomsuasespecificidades.
3.2.Planejamentoenãoplanejamento
O textoA FalsaEternidadeevidenciao escritoremsintoniacomo
seumomento.Dificilmenteo leitorbrasileirodeixadepercebero Brasil
demeadosdadécadade80,o Brasildasprorrogaçõesdemandatoedo
adiamentodecompromissos,comoo pagamentodadívidaexterna.Mas,
comoartista,Drummondtranscendeo imediatoe criaummundosem
tempo,comoresultadodesuasreflexõessobreoprovisóriodavida.E foi
27
esteo temadesenvolvidopeloartistananarrativaqueelaborou.Pode-
mosfalar,então,numplanejamentotemátieoeomocaracterísticado es-
crito:qualquerumquese proponhaa escrever,em princípio,sabeo
temaquepretendedesenvolver,escolhaunilateralquenãolevaemconta
interessesepredileçõesdoeventualleitor.A pardoplanejamentotemá-
tico,ocorreo planejamentolingüístico,ou seja,a formulaçãoverbalé
tambémplanejada(URBANO, 1990).Assim,alémde serplanejada,a
línguaescritaé tambémplanejável(AKINNASO, 1982),poispressupõe
articulaçãotantodeidéiascomodedadoslingüísticosestabelecidosan-
tes(oudurante?)doatodeescrever.
Em termosdeOCHS (1979),o textosobanáliseapontaparaum
discursoescritoplanejado,planejamentoquesetornaevidentenaestru-
turanarrativa.Trata-sedeumtextocoeso,dotadodeseqüenciaçãotem-
poral, termo usadono sentidoestritode tempodo "mundoreal"
(FÁVERO, 1991).Algumasexpressõesassinalama ordenaçãodasse-
qüênciastemporais,como:então(linha4),aí (linha9),certamanhã(li-
nha14).
DiantedotextoacabadodeDrummond,nadapodemosdizerares-
peitodepossíveisrevisóese formulaçõesquetenhafeitonodecorrerde
suaelaboração.Estaéoutracaracterísticadaescrita:nãofornecerpistas,
marcasaparentesa respeitodo processodecriação.Geralmenteelaes-
condetais processosdo leitor e mostraapenaso produtoacabado
(CHAFE, 1985).
Comovimos,em2.2,CHAFE (1985)propõea noçãodeunidade
deidéiacomopontodepartidaparacaracterizaçãodalínguafaladaeda
línguaescrita.Umaunidadedeidéiaexpressaatotalidadedeinformação
a queumapessoapodeprestaratençãoequepodeverbalizarconforta-
velmente.No textoescrito,taisunidadesseevidenciamcomclarezano
usodesinaisdepontuaçãoparaindicaçãodeseuslimitesouparasugerir
umjogoentonacionaltípico.A leituradotextoemvozaltafazemergir
taisunidadesdeidéia.Na línguaescrita,asunidadesdeidéiatendema
sermaislongasemaiscomplexasdoquenalínguafalada.O escritortem
maistempoe artifíciosparaaumentaro tamanhoe a complexidadede
umaunidadede idéia.O contodeDrummondapresentaalgunsdesses
artifíciossugeridosporCHAFE (1982):
1.Nominalizações- Nominalizaçãoéo processopeloqualverbose
adjetivossetransformamemnomesquepodemsersujeitoouobjetode
outrosverbosouobjetosdepreposições.É o casode:o vencimento(das
dívidas)(linha02);o ensino(de História)(linha05);(perspectivade)
mudança(linha05,06);aduração(normaldavida)(linha07);(causoua
28
maior)admiração(linha11);(receberinúmeras)encomendas.A nomi-
nalizaçãopermitequeumanoção,queé verbalnaorigem,sejainserida
numaunidadedeidéiacomosefosseumnome.
2.Frasescoordenadas- A possibilidadedeseapresentaremcoor-
denadosentresisintagmasverbais,deumlado,esintagmasnominaisde
outro,constituioutroartifíciopeloqualmaiorquantidadedeinformação
podeserconcentradanumaunidadedeidéia.Sejamosexemplosabaixo:
(18) enãosóseprorrogaramosmandatoscomoovencimentodasdívidasedos
compromissosdetodasorte.(linhas1-2)
(19) Entãosuprimiram-seosrelógios,asagendaseoscalendários.(linha4)
(21) eaeternidadesemostrouencharcadae lúgubre.(linha9)
(21) A chuvafoi neutralizadae,porfaltadeobjetivo,cessou.(linha12)
(22) avidavoltaraaosignodoprovisórioedocontingente.(linhas14-15)
Seo autoroptassepelodesdobramentodossintagmascoordenadosemorações,o resultadoseria,porexemplo,nafrase(19),umperíodoas-
sim organizado:"Entãosuprimiram-seos relógios,suprimiram-seas
agendas,suprimiram-seos calendários",períodopesado,saturado pela
repetiçãodoverbosuprimir.Nestecaso,a coordenaçãoconstituiumar-
tifícioquetornamaiscomplexaumaunidadedeidéia.
(23) proclamou-seque tudoestavanoregimedeeternidade(linha8)
(24) tornou-seirrefutávelqueavidavoltaraaosignodoprovisórioedocontingente.
(linhas15-16)
(25) O filósofoconcluiuquenãosedeveplagiaraeternidade.(linhas16-17)
3. Frasesouoraçõesdependentes- Estesartifíciosdetectadosno
contodeDrummondlevamaconfirmarasidéiasdeCHAFE (1985),se-
gundoo qualo maiortempodequedispõeo escritorparaescreverlhe
dácondiçõesparaelaborarfrasesmaisdensasemtermosdesignificadoe
maiscomplexasdo pontodevistasintático,resultandoa integraçãode
unidadesdeidéiasemconstruçõesmaiscomplexas.
3.3.Envolvimentoedistanciamento
Comovimos,escritore leitornãoocupam,ao mesmotempo,o
mesmoespaçonomomentoemquedesempenhamsuatarefasrespecti-
29
vasde elaborare descodificara mensagemescrita.Por isso,o escritorse
mostramenospreocupadoconsigomesmo,ou com qualquer interação
direta com seu eventualleitor. De fato,elese preocupacom o processo
de elaboraçãode umtextoconsistenteedefensávelsegundopadrõesque
elemesmoestabelece.Nessecaso,é possívelfalarmosnumdistanciamen-
to do escritor correspondentea um distanciamentoda língua escrita
(CHAFE, 1985).O escritorusaalgunsartifíciosIingüísticospara obten-
ção desseefeito de distanciamento,dos quais Drummond tambémfaz
uso.
O primeiro é o empregode nomesabstratos:o vencimento,o ensi-
no, a mudança,a duração,aeternidade.
Outro é o usodavoz passiva,de queDrummond fazusode manei-
ra expressiva.Considerem-seosexemplosabaixo:
(26) e nãosóseprorrogaramosmandatos(linha1)
(27) Então suprimiram-seos relógios,as agendase oscalendários.
(linha4)
(28) Foi eliminadoo ensinodeIlistória.(linhas4-5)
(29) A duraçãonormaldavidatambémfoiprorrogada.(linha29)
(30) Proclamou-sequetudoentravanoregimedeeternidade.(linha30)
(31) A chuvafoineutralizada.(linha12)
(32) Eramobservadosoutravezprazos,limites.(linha15)
Os dois tipos de construçõespassivasem portuguêssão utilizadas
por Drummond, quer com auxiliarser, quer com pronomeapassivador
se.Em nenhumdoscasoseleexplicitao agenteda passiva,o quepoderia
ser feito nasfrasescomverboser,aindaquetal procedimentosejararo e
artificial,muitodo gostodo estilotécnico-científico.Assim,alémde con-
seguirumefeitode distanciamentodo queaconteceno seumundoplau-
sível,torna claro que nessecontextode passividadetotal,o único a agir,
ou a reagir,é o mecânico,quemudaa direçãoda História.
4.Conclusões
A análisedos dois textos,um de línguafalada,outro de línguaes-
crita, dá-nos oportunidadede apresentar,maissistematicamente,algu-
mas diferenças entre as duas faces da língua, ou as suas duas
manifestações,a faladae a escrita.
30
Evidentemente,elas não se diferenciamapenasquantoà substân-
cia, ou à matériaprimada língua,substânciafônicapercebidapelaaudi-
ção, a da língua falada, substânciagráfica ou visual da língua escrita.
Afinal, a línguaescritanãoconstituipura transcriçãoda falada.Ao mes-
mo tempo,não bastaquea línguasejarealizadaoralmente,constituindo
produtoperceptívelpelaaudição,paraserconsideradafalada.A oralida-
de é umacaracterísticaessencialda línguafalada,masnão suficiente,o
que faz comquenotíciastransmitidaspor rádioc televisão,por exemplo,
secaracterizempelaoralidade,masnão pelocaráterfalado(HILGERT,
1991).São,de fato,textosescritosrealizadosoralmente.
Assim, as diferençasentrelínguafaladae línguaescritasão de ou-
tra natureza,como se sugeriuno decorrerdo trabalho;elasresultamde
diferençasentreos processosde falar e de esçrc_,,-er,ou entrecondições
de produçãodo textofaladoe do escrito.
Num primeiro momento,chamamosa atençãodo leitor paraos di-
ferentescontextosde realizaçáoda fala e da escrita.A língua falada
constituiumaatividadenumcontextoespecífico,resultadoda tarefacoo-
perativade dois inter1ocutoresnummesmomomentoe num mesmoes-
paço.Em outrostermos,é a dialogicidadeinstauradapelasituaçãofacea
face(HILGERT, 1991)quecaracterizaa línguafalada.
Ao contrário,o ato de escreverconstituialgo solitário:o escritor
náo interagecom seuleitor,eleelaboraseutextosozinho,sema colabo-
raçãodo eventuallcitor,e astarefasde planejare elaboraro textosãode
suainteiraresponsabilidade.
Num segundomomento,mostramosque duasoutrascaracterísti-
casda línguafaladaem oposiçãoà línguaescritaresultamda diferença
básicaentreascondiçõesde produçãode umae outra:tendênciaparao
não planejamentoe envolvimentoda línguafaladae planejamentoc dis-
tanciamento(ou não envolvimento)da língua escrita. O texto falado
apresentamarcaslingüísticasevidentesdeseuplanejamentopassoa pas-
so,enquantotextoconstruídopeloslocutoresenvolvidosna conversação,
de queresultamfrasesmaisfragmentadasdo pontodevistasintático.
O textoescritonãodeixamarcasdo processode planejamento:ele
se apresentacomo um todo coeso,acabado,com frasesmais densase
sintaticamente-maiscomplexas.
Por outro lado,o envolvimentoconstituicaracterísticada línguafa-
lada, entendidonão só comoenvolvimentodos inter1ocutorescom o as-
sunto da conversa,mastambémentre elesmesmos.O texto falado sob
31
análiseapresentoudadoslingüístieosqueconfirmaramtal envolvimento.
Ao contrário,o distaneiamentoconfirmou-seno planoda línguaescrita.
Em síntese,aindaque,tantonaproduçãofaladacomonaescrita,o
sistemalingüístieosejao mesmo,as regrasde sua efetivaçãobem como
os meiosempregadossãodiversosc específicos,o queacabapor eviden-
ciar produtosdiferenciados(RATH, 1979,apudMARCUSCHI, 1986).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da. On the differeneesbetweenspokenand wriUen language.In:
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de de São Paulo. São Paulo, T. A Queiroz, 1986,v. I: Eloeuções
Formais.
____ o A linguagemfalada culta na cidadede São Paulo. São Paulo,
T. A Queiroz, 1986,v.11:DiálogosentreDois Informantes.
CHAFE, W. L. Integrationand Involvementin Speaking,Writing, and
Oral Literature.In: TANNEN, D. (ed.)Oral andwrittendiscourse.
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FÁ VER O, Leonor Lopes.Coesãoecoerênciatextuais.SãoPaulo, Átiea,
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HALLIDA Y, M. A K.; MclNTOSH, A; STREVENS, P. As ciências
lingüísticaseo ensinodelínguas.Petrápolis,Vozes, 1974.
MARCUSCHI, L. A Análiseda Conversação.São Paulo,Ática, 1986.
OCHS, E. Plannedand unplanneddiscourse.In: GIVélN, T. (ed.) Dis-
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URBANO, H. Do oral para o escrito.Anais do XXXVII Seminário do
GEL. Hauru,1990,p. 633-41.
I
t
2.O TÓPICO DISCURSIVO
LeoIlor Lopes Ifávero(*)
Os textossobanáliseforamextraídosdo inquéritonº360,dotipoD2
(diálogo entre dois informantes),pertencenteao arquivo do Projeto
NURCjSP epublicadoemA LinguagemFalada Culta na Cidade deSão
Paulo deA. T. de Castilhoe D. Preti,vaI. II, São Paulo,T. A. Queiroz-
FAPESP,1987.
TEXTO 1(D2 360- linhas1-99)
LI ...(uma)deno::ve...ea outradeseis...
Doe. a senhora... procuroudarespaçodetempoentreume
OUtro...
L2 aconteceramouforam
[
5 Doe. aconte/...
L2 programados
Doe. (isso)... faz favor( )
[
LI a p/ a p/ é... a programação...
haviasidoplanejada...masnãodeucerto...«risos»
10 L2 filhosdapílula não?«risos»
LI não...«risos»
L2 nemd1tabela?«risos»
LI nãojustamenteporqueatabelanão::nãodeucertoé
que::«risos»vieramaoacaso
15 L2 ahnahn
LI e::nóshavíamosprogramadoNOve ou dezfilhos...
nãoé?
[
L2 (nossaquechique)
[
LI então...
32
(")Estec.1pítulocontoucom a colaboraçãoda professoraMaria Lúcia da Cunha Victório de
OliveiraAndrade
33
(Jf) LI
L2 LI
L265
80
LI
L2
85 LIL2')0
20 L2a sua faml1iaégrande?
L!
nós somos::seisfilhos
L2
e a do marido?
[L!
e a do marido...eramdozeagorasãoonze...
L2
ahn ahn
[25
LIquer dizer somosde faml1iasGRANdes e::...entãoach/
achoque::...dadoessefator nosacostumamosa:: muitagenteL2
ahn ahn
L!
e"
30
L2e daí o entusiasmopara NOve filhos...
L!
exatamentenoveou dez...
[L2
( )
L!
ée::mas...depoisdiantedasdificuldadesde conseguir
quem meajudasse...nó::sparamosno sextofilho...35
L2ahn ahn
L!
não é?...e ...estamosmuito contentese...
L2
e dão muito trabalho temessesessesproblemasde
juventudeessesnegócios()(não estámuito na idadené'!)[40
LInão por enquantonão porque...estãoentrandona as
maisvelhasestãoentrandoagoranaadolescênciae...[L2
()
L!
massão muito acomodadas...aindanãocomeçaram
assim...aquelafase...chamadade...mais45
difícil de crítica
[L2
(chamadamaisdifícil)
L!
né?
L2
ahn ahn
L!
ainda não... felizmente(aindanão)começaram
50
L2()
L!
agora...eu achoque::...eu...esperonão::ter problema
comelasporque...nós mantemosassimumdiálogo bemabertosabe'!L2
uhn uhn
55
L!com ascrianças...então...esperamosquenão :: haja
maioresproblemasL2
ahn ahn
L!
com o avançardos anos...enfim...o futuro
[L2
()
34
70
75
')5
LI
L2
pertence...
ah
a Deus c não ... a nós
( )rcalmentedeveser umadelícia ter
umafamília gran/bemgrandecom bastantegente eu
sou filha única...ah tenhoum irmão de trezeanos mas
gostariadeMAIS de ter tido...mais irmãos...porque
quando::...com meuirmão eujá:: já tinhacurso
universitáriojá já tinhasaídoda faculdadequer dizer
entãonão temquasequevantagemnenhumanão é'! eu
queria entãoumafamíliagrandetínhamospensa::do .
numa fan1l1iamaior masdepoisdo segundo...já deve
estartodo mundotão desesperadoque nós«risos»
estamospensando...
I
()
é (pensamos)seriamenteem parar...depoisdissoainda
ti/tive problemasde...saúdeproblemasde tiróide não sei
quê::entãoo médicoestáaconselhandoa não ter mais...
então nósestamospensando...estamospensandonão
ofic/oficialmentenãoestáencerrado...masde fato está
porque::...o endocrinologistaproibiu terminantemente
que eu tenhamaisfilhos...
I
()
inclusive...seeu tiver...ele dissequevai ser necessário.. um aborto...
entãoestamosnaquelenegócioeh...como
fazer::...se façooperação::so o marido fa::zmasele
achaque::...dejeito nenhum::«risos»
precisaconvencê-Ionãoé'!
é precisarealmente.:estarconvencidodisso
e ele é umacoisaque nãovai ser fácil convencerentão
desistimos...e~pelo menosdesistinão setocamaisno
assunto...masrealmenteentãoestáencerradomas
gostaríamosdemaisde maisfilhos...emboraeu fique
quasebiruta...«risos»porque é MUlto a gentevivede
motoristao dia inTEIRO maso dia inTEiro ...uma
corrida BÁRbara e levana escola( )e vai buscar... os
dois estãonaescolade manhã-- porque eu trabalhode
manhã-- entãoeuos levopara a escola...e vou
trabalhar depoissaio na hora de buscá-Ios aí depois
temnataçãosegundaquartae sexta...os dois dasduas
35
TEXTO 2 (D2360-linhas 1511-1600)
Doe.
L2
1515
1520
Doe.
L2
1525
1530
LI
L2LI
L21535 LI
L2LI1540
L2
LI
L2
1545
LI
L2
equandovocêsquiseram...escolherumacarreira...
queaslevouescolhera carreira?
a minhaeuacho...eunãotenhocertezaparajulgar
maseuacho'luefui incutida...meupai... foi o um::...
eramilitar::masa vocaçãodeleeralersido...advogado
entãoelevivia dizendoisso...e eutenhoa impressãoeu
nãopossodizerporqueédifícil... paraagentedizer
porquedejeito nenhumelefalou"vocêvai fazerisso"...
nunca...maseuachoqueelefalavatanlotantolanto
e euo admiravamuito...eutenhoa impressãoquefoi...
porcausadisloemboraminhametafosseItamarati
eusempre...
Diplomacia
penseiemfazerDiplomaciasempresempresempre...
mas::...deIX)is...por umasériedecircunst:incias
... nãofoi possível...mas::entãoaa minhametateria
sidodiplomacia...maseuachoqueDireito
particularmentefoi incutidoporele...principalmentefoi
porqueeledizia quedelX)iseu teriacondiçõeseunão...
querdizera pessoateriaelesempre::
(você)( )
I
erasempreimpessoal...o negócioné?
uhn
a pessoateriacondições...porquenaquelealtura...
aescolhaerasempre...ah Direilo EngenhariaMedicina...
exalamente
sóeraumadastrêsnãoexistia::todaessagama
queexisteagora...nãoé?
tantaabertura
(erauma)
né?
eraumadastrêsenlãoeledizl eleadiavaqueessaa que
teriamaispossibilida::dededil dediversificação
depois... equandoasmllraseramm:lisespecíficas... né?
certo
ummédicoerasómédicoo engenheiroerasóengenheiro
36
1550
1555
15ú1i
15(,5
1570
1575
1580
1585
LI
L2
LI
L2
LI
...pclo menosnaquelaaltura...e entrlo::euacho
que fui incutidapor ele...e:: e e não e nüo ri!.o resto
por minha causa...aí... foi...
foram circunstãnciasque nüo favoreceram...
foi circunsl<lnciasquenüo favoreceramqueeu não::..
nüo consegui no Itamarat; ... () nüo 11.:10 consegui 11(10 ...
nemchegueia tentar...acrescidodo fatoque queaí depois
soubeque paramulherera muito difícil que elesquasenão
adimitiameradifiCllimoetceteraet cetera...e aí faltou
ãnimo paratcntar paravaler...eu achoque aí sc cu tivesse
tentadotcria conscguidomasrcalmcntc faltou ãnimo
faltou intercsse...«risos» '" intcresscscomeçam...a se::
I
()
divcrsificar tambémné'!c a gcntcacabadesistindo
e a genteacabadcsistindo...e vocêpor quc quevocêfcl.'!
porque...eu fiz o cursonormal...porque eu haviaperdido
o meupai fazia::ah no no primeiro colcgial...c:: eu
precisava... ter umaah optar por umacarreiraprol--
meu relógio cstáalapalhandoa nossa--...por uma
carreira profissionalizante...eu achciquc ascoisasdali
para frcntc seriammaisdifíceis cu comeccio colcgial...
pensando...cm Medicina..e pensandoemcontarcom°
mcu pai...para...o custeiodo estudomasdcsdco
momentoem quc cu...o pcrdi cu:: prefcri umacarreira
profissionalizantc...umcolegialprofissionalizantepara
quc eu tivcssecham'ede j,í trabalharassim...que formar
nüoé')e::daí mcempolgueipelo magistérioIccionci
algumtcmpo...e::aoterminaro normal cu logo optei
pela Pcdagogiaquc cra um cursoassimquedá uma
cultura...gcral BOa não é'!...ah o nossocursofoi...
bcm dado c tudo maisc eu gostei...e não fiz outra::
outrasespccializaçõesdentro outrascspecializaçõcsnão...
outra::: não sc'guioutrascarreirasal1::...quc o curso
de Pedagogiadaria possibilidadccomoo casoda
Orientação Educacional...quc:: no quartoano cu poderia
ter feito...c a PsicologiaClínica quc:: cu
poderia ter feito no quarto ano como opção...cntre a
liccnciatura...ou ou a liccnciaturaem Pedagogiaou a
Psicologia Clínica semvestibularnaqucic tcmpoera...
possívcl...e:: eu não fiz por faltade tempoporqueeu
mecaseino:: tercei/no no terceiro ano de faculdade
c daí logo vieramasgêmease eu não:: não fiz...
37
1.O tópicodiscursivo
1590
1595
1600 Doc.
a Orientaçãono quartoanoporqueacargahor:íriacra
muitogrande... sabe?entãoen preferiterminara
Pedagogiae fiz a Iicenciatura maséhecomo::...ah::
formadoemPedagogiaeunãofalo comopedagoga
porque::eunão::meconsidero... comoformadaem
Pedagogia...eunãouseio meudiplomaporqueeun:io
lecioneinosecundáriosabe?..entãodaío motivodeeu ler
escolhidoPe(bgogia egostomuito...da::
psicologia(hlcriança do adolescentea psicologiaem
geralmecativasabe? então...aí estáo motivopelo
qual...euescolhíessecurso
a senhoraesl:ícomhorário?
Verifica-sequc grandeparll; do cspaçoconvcrsacionalé usadoem
trocas nasquais falantcc ouvinteprocuramestahelecerum tópico dis-
cursivo c há, além disso, pré-rcquisitosmínimospara que cles possam
dclectara prescnçade umtópico.
Assim, o falanteprecisagarantira atençãodo ouvinte,articulandobem sua fala c construindoseusenunciadosde modo tal que o ouvinte
identifiqueos elementosdo tópicoe estaheleçardaçôes que colahorem
nainstauraçãodo mesmo.
O ouvinte,por suavez,precisaprestaratençãono queo falantediz,
descodificaros e1cmentos(ohjetos,idéias,indivíduos,dc.) que têmfun-
ção no dcsenvolvimentodo tópicoe identilicarasrelaçôesque sedão en-
tre os referentesdo mesmo.
Nemscmpre,porém,a identilicaçãodo tópicoé claraporquepode
ocorrer um tópico implícito que provémdo conhecimentopartilhado.
Veja-seo exemploabaixo:
No texto1, a Documentadora(Doc.) inicia o Diálogo perguntando
pelosfilhos da Locutora(LI), seelesforamprogramadosou sevieramao
acaso,istoé, ela introduzumtópicodiscursivoquepodeserdenominado
de "PlanejamentoFamiliar" 1.
Tomado no sentidogeralde assunto,o tópicopodeser entendido
como "aquiloacercado quesc cstá falando"(BROWN e YULE, 1983;
73).Ele é antcsdetudoumaqucstãodeconteúdo,cstandonadependência
de um processo colaborativo que envolve os participantesJõ ato
interacional.
O sentidoé construídoduranteessainteraçãoe estáassentadonuma
sériede fatorescontextuaiscomo;conhecimentode mundo,conhecimento
partilhado,circunst<lnciasem que ocorrea conversação,pressuposições,etc.
Observe-se que, às linhas 8 e 9, LI tenta responder à
Documentadora,poréma Locutora2 (L2) interrompecom umpedidode
esclarecimento("filhosdapílula não'!");LI respondecomumanegativa,o
quenãosatisfaza suainterloculoraqueim;istecomumpedidode maiores
esclarecimentos("nemdatabela'!").colaborandoparao estabelecimentodo
tópicoquescconstróideacordocomasnecessidadeslocais.
(1) Seráutilizada,neslecapítulo,a segmentaçãodo inquériton"360feitapor Koch, Fávero,Ju-
bran,Marcuschi,Risso,Santos,Souzae Silva, Travaglia,Urbano,Andradee A'luino ln: Orga-
nização Tópica da Conversação- In: Gramática do POl'lugués Falado.vo/. /J _ Níveis de
Análise -organizado IX)fRodol!'oI1ari.Editorada lJNIC'AMP, 1992,p. 357-439.Estespesqui-
sadoresobtiveramumlotalde71segmentos.
38
(3) A- Márcia,já terminouo quecu te pedi?
B- A rcuniãoaindanãofoi marcada.
A- Mas o clicntc tcmccrtaurgência.
Com o auxiliodo conll;xto,conscgue-seestabeleccra coerênciado
Icxto c pcrceherque os dois locutores,por possuíremunlçonhccimento
partilhado,sabempcrfeitamentoqual o tópicodiscursivoem andamento
e interagemperfeitamentc.
Não é só quantoao eonteúdoque a interaçãointerferena estrutu-
ração do tópico, mastambémquantoà formautilizada:à linha 17(tex-
to 1), há um marcador de assentimento,isto é, de aprovaçãonão é,
introduzidopor LI provavelmcntepara certilicar-sede que sua interlo-
eutoraestáatcntae de que pode dar continuidadeao desenvolvimento
de seutópico.
O tópico é, assim,umaatividadeconstruídacoopcrativamente,isto
é, há umacorrespondência- pelo menosparcial- de ohjetivosentreos
interloeutores.
A noçãode tópico é de fundamentalimportânciapara o entendi-
mentoda organizaçãoconversacionale é consensoentre os estudiosos
que os usuários~lalínguatêmnoçãode quandoestãodiscorrendosohre
o mesmotópico,de quandomudam,cortam,criamdigressôes,retomam,
etc.
39
2.1.CentraçflO
2. Propriedadesdo t6picodisclll'sivo
Considcrc-seo trechodaslinhas20a 36:
21) L2
1.I
L2
a sua fan1l1iaé grande'!
n,íssomos::seis filhos
e a do marido"
Paraqueo conceitodeccntraçãopossasermelhorcompreendido,ve-
jam-semaisdoisexemplos.No texto2, LI vinharalandosobreseuabando-
no davida profissionalporcausadosfilhose dastendênciasprofissionais
deseusfilhos,quandoit linha1511umaperguntadaDocumentadorainicia
um novotópicoque,emboratenhasuaorigemno anterior,centra-senas
"Razõesda OpçiioProfissionaldasLoc({{oras"e bifurca-seem dois seg-
mentos:daslinhas1511a 1561"Opçãoprofissionalde L2", e daslinhas
1561-1599"OpçãoprofissionaldeLI".
Buscandoesclarecerum poucomais,observe-senovamenteo seg-
mentoquevaidaslinhas1511a 1561:
() tópicoquesevemdesenvolvendoestácentradono "Planejamen-
to familiar dc LI" (linhas I a F)); o quese desenvolveagoraé o do "Ta-
manhoda família de origemde L 1"que,cmborase tenhaoriginado no
tópico anterior,temoutracentração;aspausase hesitaçõesindicamque
LI estáterminandoo tópicoe permitcma L2 intervir,fazendoa pergun-
ta- "edão muitotrabalhotemessesproblemasdejuventude..." (linha 37)
- quesinalizama introduçãode umnovotópico.
Celltraçãoé o falar-seacercade algumacoisa,implicandoa utiliza-
ção de referentesexplícitosou inferívcis.() tópico temlimitesbem defi-
nidos e pode ser distribuído em segmentossucessivos,que serão
explieitadosmaisadiante.
A centraçãonorteiao tópieode tal formaque,quandosetemuma
novacentração,tem-seumnovotópico.
I.l c a do marido...eramdozeagorasãoonze...
1.2 ahn ahn
25
)1)
)5
1.I
L2
LI
L2
1.I
L2
LI
L2
LI
quer dizer somosde famíliasCiRi\:'\des e::...ent<ioachl
achoque::...dado essefator nosacostumamosa:: muita
gente
ahn ahn
e::
e daí o entusiasmorara )\;()vefilhos...
exatamentenoveou de/...
I
( )
é e:: mas...derois diantedasdificuldadesde conseguir
quemmeajudasse...nó::s raramos no sextofilho...
ahn ahn
n<ioé" ... e ...esiamosmuito coll1entese...
Doe.
L2
1515
1520
Doe.
L2
1525
1530
Ll
L2 Ll
L21535 Ll
L2 Ll1540
L2
Ll
equandovocêsquiseram...escolherumaearreira...
o queas levouescolheracarreira?
a minhaeuacho...eun<iotenhocertezararajulgar
maseuachoquefui incutida...meupai... foi o um::...
eramilitar::masavocaçãodeleeratersido...advogado
entãoelevivia dizendoisso...eeu tenhoa impressãoeu
nãopossodizerporqueédifícil... paraagentedizer
porquedejeito nenhumelefalou"vocêvai fazerisso"...
nunca...maseuachoqucelefalavatantotantotanto
e euo admiravamuito...eutenhoa impressãoquefoi...
porcausadistoemboraminhametafosseItamarati
eusempre...
Diplomacia
penseiemfazerDiplomaciasempresempresempre...
mas::...depois...porumasériedecircunstâncias
... nãofoi possível...mas::entãoaa minhameiateria
sidodiplomacia... maseuachoqueDireito
particularmentefoi incutidoporele...principalmentefoi
porqueelediziaquedepoiseu teriacondiçõeseunão...
querdizera pessoateriaelesempre::
(você)( )
[
erasempreimpessoal...o negócioné?
[
uhn
a pessoateriacondições...porquenaquelealtura...
aescolhaerasempre...ah DireitoEngenhariaMedicina...
exatamente
[
sóeraumadastrêsnãoexistia::todaessagama
queexisteagora...nãoé?
lan.taabertura
[
(erauma)
né?
40 41
2.2.Orgallicidade
No lexto 1, temos um supertópicoFAMiLlA e dois tópicos co-
Çonslituinles:"Tamanhoda Família" e "Papelda Mlllhel' Casada".Cada
osegmentoquevai das linhas 1511a 1548 (até ele) estáeentrado
no tópico "Influênciado pai na opçãoprofissionalde L2 por advocacia".
As proposiçõesqueo integramcstãoassociadaspor Uín conjuntode ele-
mentosque tratamda influênciado pai.Esseconjuntosedestacaem re-
lação a outros que podemser eonsidcradossecundáriose tambémem
relaçãoa outros conjuntoscircunvizinhos,nessemomentoda conversa.
.Já o segmentoimediatamenteposlLrior - linhas 1548 (a partir de ~
não) a 1561(atédesisilindo)- centra-seno tópico"Circunstânciasadver-
sasa opçãoprofissionalde L2 por advocacia",porqueagorahá umoutro
conjunto de elementosque se relacionampor tratarda opçãoprofissio-
nal que se sobressai nesteoulro momentodo diálogo.Como já foi dito
anteriormente,essesdois segmentosou subtópicosformamo tópico "Ra-
zôesda OpçãoProfissionaldasLom/oras"(Op\~ãode L2).
- "PlanejamentofamiliardeL2" -linhas 75a 92(segmento5):
é(pensamos)seriamenteemparar...depoisdissoainda
ti/tiveproblemasde...saúdeproblemasde tiróidenãosei
quê::entãoo médicoest.'Íaconselhandoa nãotermais...
ent~onósestamospensando...estamospensandonão
ofie/oficialmentenãoest.'Íencerrado...masdefatoest.'Í
porque::...o endocrinologistaproibiuterminantemente
programados
(isso)... faz favor( )
[
a p/ a p/é...a programação...
haviasidoplanejada...masnãodeueerto...((risos»
filhos dapílula não?«risos»
não...«risos»
nemdatabela?((risos»nãojustamenteporqueatabelanão::nãodeucertoé
que::«risos»vieramaoacaso
ahnahn
e::nóshavíamosprogramadoNOve ou dezfilhos...
nãoé?
L2
Li
[
L2 (nossaquechique)
[
Li ent.'ío...
L2
Li
L2
Li
Doe.
L2
L2
Li
Doe.
Doe. a senhora... procuroudarespaçodetempoentreume
OUtro...
L2 aconteceramou foram
[
aconte/...
10
umdessestópicosco-com;tituintesde FAMÍLIA é formadoporsubtópi-
coso
O tópico"Tamanhoda Família" contémdois subtópicos:"Planeja-
mentoFamiliar" e "Tamanhoda Família de Origem",Essessubtópicos,
porsuavez,sãoformadosporsegmentosmenoresouporçõestópicas.Para
quese possaobservara linearidadeda fala,essessegmentossãoaquinu-
meradosdeacordocoma ordememqueocorremnotexto,a saber:
a- "PlanejamentoFamiliar":
- "PlanejamentofamiliardeL1" -linhas 2 a 19(segmento1):
15
75
80
5
era umadas trêsentãoele di;j eleachavaque essaa que
teria maispossibilida::dede di! dediversificação
depois...e quandoasoutraserammaisespecíficas...né?
certo
um médicoera só médicoo engenheiroera só engenheiro
...pelo menosnaquelaallura...e ent,io::eu acho
que fui incutidapor ele...e::c e nãoe não fiz o resto
por minhacausa...aí... foi...
foram circunstânciasque não favoreceram...
foi circunstânciasque não favoreceramque eu não:: .
não conseguino Itamarati... ( )não nãoconseguinão .
nemchegueia tentar...acrescidodo fatoque que aí depois
soubeque para mulherera muitodifícil que elesquasenão
adimitiamera difiCllimo et cetcraet celera...e aí fallou
tinimopara tentarparavaler.. Cuachoque aí se eu tivesse
tentadoteriaconseguidomasrealmentefaltou ânimo
faltou interesse...((risos» os inleressescomeçam...a se::
I
()
diversificartambémné? e a genteacabadesistindo
e a genteacabadesistindo...e vocêpor que que vocêfez?
1545 LI
L2
L2
1550 LI
L2
1555
LI
15(,0 L2
42 43
b- "TamanhodaFamília deOrigem":
- "TamanhodafamíliadeorigemdeLI" - linhas20a36(segmento2):
Quantoaotópico"PapeldaMulher Casada",verifica-seque,segun-
do o trechoaquirecortadoparaanálise,eleapresentaum subtópico:
"Trabalhocom os Filhos". Estesubtópicoéformadopelosegmento"Au-
sênciadeproblemascomos filhosadolescentesdeLI", linhas37a 62,
numeradocomosegmento3:
85
90
LI
L2
LI
L2
queeutenhamaisfilhos...
I
()
inclusive...seeutiver...eledissequevaisernecessário..
umaborto...entãoestamosnaquelenegócioeh...como
fazer::...sefaçooperação::soo maridofa::zmasele
achaque::...dejeitonenhum::«risos))
precisaconvencê-Ionãoé?
[
éprecisarealmenteestarconvencidodisso
eeleéumacoisaquenãovaiserfácilconvencerentão
desistimos...eupelomenosdesistinãosetocamaisno
assunto...masrealmenteentãoestáencerradomas
gostaríamosdemaisdemaisfilhos...emboraeufique
70
75
LI
L2
gostariadeMAISdetertido...maisirmãos...porque
quando::...commeuirmãoeujá::já tinhacurso
universitáriojájá tinhasaídodafaculdadequerdizer
entãonãotemquasequevantagemnenhumanãoé? eu
queriaentãoumafamlliagrandetínhamospensa::do.
numafamI1iamaiormasdepoisdosegundo...já deve
estartodomundotãodesesperadoquenós«risos))
estamospensando...
I
()
é(pensamos)seriamenteemparar...
- "TamanhodafamíliadeorigemdeL2"- linhas63a75(segmento4):
edãomuitotrabalhotemessesessesproblemasde
juventudeessesnegócios( )
(nãoestámuitonaidadené'!)
[
nãoporenquantonãoporque...estãoentrandonaas
maisvelhasestãoentrandoagoranaadolescênciae...
[
()
massãomuitoacomodadas...aindanãocomeçaram
assim...aquelafase...chamadade...mais
difícildecrítica
(
(chamadamaisdifícil)
né?
ahnahn
aindanão...felizmente(aindanão)começaram
() .
agora...euachoque::...eu...esperonão::terproblema
comelasporque...nósmantemOliassimumdiálogobem
abertosabe?
uhnuhn
comascrianças...então...esperamosquenão::haja
maioresproblemas
ahnahn
como avançardosanos...enfim...o futuro
[
()
L2
40 LI
L2
LI
45 L2
LIL2LI50
L2
LI
L2
55
LI
L2
LI
L2
asuafamíliaégrande?
nóssomos::seisfilhos
eadomarido?
e"
edaío entusiasmoparaNOvefilhos...
exatamentenoveoudez...
I
()
ée::mas...depoisdiantedasdificuldadesdeconseguir
quemmeajudasse...nó::sparamosnosextofilho...
ahnahn
nãoé?...e ...estamosmuitocontentese...
[
( ) realmentedeveserumadelíciater
umafamlliagranlbemgrandecombastantegente eu
soufilhaúnica...ahtenhoumirmãodetrezeanos mas
L2
LI
L2
I
LI eadomarido...eramdozeagorasãoonze...
L2 ahnahn
I
querdizersomosdefamlliasGRANdese::...e\Jtãoachl
achoque::...dadoessefatornosacostumamosa::muita
gente
ahnahn
LI
L2
LI
L2
LI
L2
LI
L2
LI
L2
20
30
25
35
65
44
45
A noçãodeverticalidaderefere-seàsrelaçõesdeinterdependência
queseestabelecementreos tópicosdeacordocoma maiorou menor
abrangênciadoassuntoepermitemdizerquehá níveisnaestruturação
dostópicos,indodesdeumconstituintemínimo- subtópico(SbT) até
porçõesmaiores- tópicos(T) ou supertópicos(ST), constituindoum
QuadroTópico,comoilustraoesquema:
- a descontinuidade- decorredeuma~erturbaçãona se-
qüencialidade:umtópicoéintroduzi-
do, na linha discursiva,antesde se
teresgotadoo precedentequepode
ou nãoretomar.Se nãohá retorno,
tem-seumcortec sehá,têm-seasin-
serçõesou as digressõesque serão
tratadasnoitem4destetrabalho.
- a continuidade- decorredeumaorganizaçãoseqüencial
dostópicos,demodoqueaaberturade
umsedáapóso fechamentodo prece-
dente.Deve-sedizerqueo tópicocom-
preende mecanismos de início,
desenvolvimentoesaídadetectáveispor
elementosverbaisou por traçossupra-
segmentais. [j]
Trabalhocomos
Filhos
[jJb
PlanejamentoIFamiliarJ
[jJbJ
FAMÍLIA
~------- . __ .~
----~
TamanhóÔaFamília PapeldaMu TerCasada
T7/ '"
I SbTj llti!J
No texto2,o supertópicoé PROFISSÃO e asLocutorasfalamso-
breas."RazõesdesuasOpçõesProfissionais"comosseguintessubtópicos:
b-"OpçãodeLI":
- "Necessidadede carreiraprofissionalizantede LI": linhas1561a
1564(segmento3)
- "PreocupaçãodeL1 comohorário":linha1565(segmento4)
QUADROTÓPICO
Transpondo-seesteesquemaparao texto1, obtém-se:
a-"OpçãodeL2":
- "Influênciado pai na opçãodeL2 por advocacia":linhas 1511a
1548(segmento1)
- "CircunstânciasadversasàopçãoprofissionaldeL2 pordiplomacia":
linhas1548a1561(segmento2)
pertence...
ah
a Deusenão...anós
LI
L2
LI
A relaçãoqueseestabeleceentreo supertópicoe osdoistópicos
co-constituintesé denominadaorganicidade.Esta relaçãosemanifesta
pelainterdependênciaqueseinstaura,concomitantemente,emdoispla-
nos:linearevertical.
A noçãode linearidaderefere-seàsarticulaçõesentreos tópicos
emtermosdeproximidadenalinhadiscursivaeestáligadaàintrodução
deinformaçõesnovas.É atravésdelaquesepodecompreendermelhor
doisfenômenosbásicosqueacompõemaorganicidade:
60
46 47
O segmento4 - "Preocupaçãode LI com o horário"constituiuma
digressão.
Esquematizando,tem-se:
- "Necessidadede carreiraprofissionalizantede LI": linhas1565 a 1574
(segmento5)
- "Opçãode LI por pedagogia":linha1574a 1599(segmento6)
PROFISSÃO
i-----------L-------l
I Razõesda OpçãoProfissionaldasLocutoras
L- __
-----------
OpçãoêÍc~~2
//~.
Q] [~]
-~-----
---------------~
OpÇãô~eLI
/ ..../<:' "~-""'"
Q] U] ~
A\
As marcasnemsempreconstituemumcritérioabsolutoparaa seg-
mentação,já quesão:
facultativas- nemsempreo início e o filU têmumarealiza-
ção marcada.Podem, por vezes,ser detecta-
dos no momentoem que uma determinada
centraçãose distinguede umacentraçãoan-
terior, motivada,por exemplo,por uma mu-
dançadereferentes.
multifuncionais- os elementosque delimitam os tópicos
não exercemsemprea mesmaJunção. O
marcadorentão,quemuitasvezesfêdia o
tópico (segmentos1- Texto 1; e segmen-
to 6 - Texto2), podeaparecer exercendo
outrasfunções.É o que mostraAndrade
(1990:219), a propósito de então acho
quedaslinhas25e26:
3. Segmentação
25 Li ...entãoach!
achoque::...dadoessefatornosaeostumamosa::
muitagente
Para descrevera

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