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Direito Penal IV

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Prévia do material em texto

2º Prova de Direito Penal IV – Prof. Marco Antônio 
10.10
TÍTULO X - CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA (ART. 289 ATÉ 311-A DO CP)
	Os crimes contra a fé pública têm início lá no artigo 289 do CP. Não vamos adentrar/analisar todos esses tipos penais dos crimes contra a fé pública, vamos nos limitar a alguns deles. Como eu dizia na aula anterior, é corriqueira, quanto ao estudo dos crimes contra a fé pública, uma introdução que diz respeito à análise da teoria geral dos crimes de falso. Quando a gente fala em teoria geral dos crimes de falso, vamos analisar, em primeiro lugar, a questão do bem jurídico “fé pública” e seus desdobramentos; em segundo lugar, os requisitos essenciais dos crimes de falso; em terceiro lugar, os meios de operacionalização/concretização desses crimes de falso, bem como as diferenças entre os três tipos de falsidade: falsidade material externa, falsidade ideológica ou intelectual ou mental ou expressional e a falsidade pessoal; e, por último, analisar tipo penal por tipo penal.
	Na aula anterior, eu comecei dizendo que os crimes contra a fé pública não tiveram desde sempre uma autonomia. No Direito Romano, por exemplo, o crime de falso era tratado junto com o crime de estelionato, como uma espécie de uma unidade só, até porque, não raro, o estelionato é cometido mediante uma falsificação. Cheguei a conceituar a fé pública com o conceito de um jurista italiano famoso chamado Pessina que diz que a fé pública é a expressão da certeza jurídica, da confiança geral na verdade, na veracidade, na autenticidade, na genuinidade de determinados atos, símbolos ou formas a que a lei confere um valor jurídico. 
Entende-se por fé pública, enquanto bem jurídico, um conceito bastante vago e com muitas facetas, um conceito multifacetado. Então, a fé pública, enquanto bem jurídico, tem diversos interesses que estão por trás dessa denominação (fé pública). O primeiro deles seria o interesse patrimonial dos particulares (ex: transações, contratos de compra e venda de imóveis, os bens imóveis também. Os bens imóveis requerem determinados documentos que provam aquela operação, provam aquele negócio jurídico e, portanto, representam o interesse patrimonial das partes. O interesse patrimonial delas depende em grande medida da autenticidade, da veracidade daquele documento). A fé pública também abrange o interesse do público na segurança das relações jurídicas, nesse particular, inclusive, podemos citar esse tipo penal mais recente do art. 311-A que está nesse capítulo, o crime de fraude certame de interesse público, por exemplo. Então, a fé pública também engloba esse interesse do público na segurança das relações. Não só nesse exemplo do art. 311-A, mas vale para tudo, você só existe juridicamente falando se você tiver certos documentos que comprovem que você é você, que não é outrem. Nós vivemos, numa sociedade, que em grande medida opera com base num grau de confiabilidade, ou seja, da palavra dos documentos que comprovam ou que servem de prova para algumas situações jurídicas, para algumas posições de vantagem como se diz no direito civil. 
A fé pública também opera, naturalmente, como desdobramento do que eu já falei agora pouco, no sentido da proteção dos meios de prova, pois o documento serve como meio de prova, como prova documental. Inclusive Karl Binding dizia que a maior relevância da fé pública são os meios de prova. O Binding até criticava esse bem jurídico fé pública porque ele dizia que era um falso bem jurídico, um bem jurídico muito vago e que, na verdade, quando se falava em fé pública estava querendo se mencionar a importância que tinham os meios de prova e só. E, por fim, também podemos citar aí, como mais uma perspectiva/dimensão da fé pública, o privilégio monetário do Estado. Notadamente, nesse quesito, o crime de moeda falsa (falsificar, fabricar ou alterar moeda metálica ou papel-moeda de curso forçado). Basicamente, são essas as dimensões quanto ao bem jurídico fé pública. 
Esse bem jurídico fé pública tem uma dimensão objetiva que diz com a autenticidade dos documentos, a veracidade. E, tem uma dimensão subjetiva que diz com a confiança, o sentimento de confiança, que determinados documentos valem, que determinados documentos são verdadeiros, são genuínos, são autênticos. No que diz respeito a essa dimensão subjetiva, o bem jurídico fé pública é bastante criticado porque é difícil você mensurar essa confiança e difícil de você detectar a violação dessa confiança.
	Exemplo: impressão discriminada de moeda/cédula, o Estado não produz riqueza nenhuma. Ele consegue riqueza com tributação, desde quando controla as finanças precisa de investimento e tira esse investimento da tributação. O estado brasileiro se vê diante de impasses diversas vezes com a falta de dinheiro, o que arruma de solução é a impressão de mais moedas e gera inflação. Inflação é aumento da base monetária sem lastro. O valor do dinheiro diminui. Os Estados fazem isso de maneira descriminada. E as pessoas continuam confiando. O Estado não tem como se manter, emite títulos da divida pública, isso é endividamento público. O Banco Central opera essa questão de emissão da dívida pública. A coisa da confiança é relativa. Quem promove essa fraude toda é o Estado. 
TRÊS REQUISITOS DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA:
1) Natureza dolosa: todos os crimes contra a fé pública são dolosos, não existe crime culposo contra a fé pública. São todos dolosos. Evidentemente alguns, além do dolo, elemento subjetivo geral do tipo subjetivo, também apresentam elementos subjetivos especiais. Mas todos são dolosos.
2) Imitação da verdade: Todos os crimes de falso correspondem à alguma imitação da verdade. Divide-se a imitação da verdade em duas vertentes: imutacio verin e imitacio verin, ou seja, a mutação da verdade e a imitação da verdade. Discutimos na aula passada sobre a nota de três reais. Quando você falsifica uma nota, você está mudando a verdade, ela não é uma nota mais válida, e ao mesmo tempo voce está tentando imitar a verdade. E dentro da imitaçao da verdade é essencial esta questão da aparência da verdade, ou seja, essa imitação tem que ser minimamente apta a ludibriar terceiros.
3) Potencialidade lesiva ou potencialidade de dano: Esse dano não necessariamente é um dano de matis patrimonial, pode ser um dano extra patrimonial. Por exemplo, falsificação de documento de identidade, pode até vir a te trazer danos patrimonias, mas também danos extrapatrimoniais até mais sérios. Dentro da potencialidade lesiva desse elemento, potencialidade de dano, nós podemos mencionar a questão do crime impossivel, tratando da falsificação grosseira. Por exemplo: uma nota de cem reais com a cara do Sérgio Malandro impressa nela é uma falsificação grosseira ou uma nota de três reais com a cara do seu madruga impressa nela, também, é uma falsificação grosseira. Não quer dizer que não venha a enganar ninguém. E, é exatamente isso que diz o enunciado da súmula 73/STJ, que se mesmo grosseira a falsificaçao, ela lograr/enganar terceiros, estaríamos diante aí do crime de estelionato. Vejam só: a utilização de papel moeda grosseiramente falsificada configura, em tese, o crime de estelionato, competência da Justiça Estadual. Remissão à súmula 73/STJ e ao artigo 171 (crime de estelionato). Vimos, então, a hipótese de um crime impossível que tem o meio inidôneo para violar a fé pública (ex: uma nota de três reais com a cara da Xuxa), mas pode ser meio idôneo para violar o patrimônio de um terceiro (ex: uma pessoa que vive no interior, uma pessoa analfabeta e a nota mais valorosa que ela já viu foi de 10 reais. Aí você apresenta uma nota de 50 reais falsificada, por mais bizarra que seja a falsificação, o sujeito não vai se tocar naquilo. Ou, às vezes, até uma pessoa inexperiente) 
	Então, são esses os três elementos. Quais são os três requisitos essenciais nos crimes de falso? Natureza dolosa, imitação da verdade e potencialidade do dano. (CAIU NA PROVA DO PERÍODO PASSADO). Nós já vimos aí a questão do bem jurídico. E, além de ser um bem jurídicocoletivo, atualmente, poderia se dizer que é um bem jurídico supranacional diante dessas reuniões aduaneiras do MERCOSUL ou da União Européia. Então, se poderia falar que é um bem jurídico supranacional, sobretudo em tempo de globalização. 
Imitação da verdade
Existem várias formas de se imitar a verdade. A imitação da verdade é um segundo elemento, aí, essencial dos crimes de falso. Existem várias formas de se imitar a verdade:
1) Contrafação: é a fabricação de um documento falso, desde o começo nasce falso. Você fabrica, você elabora um documento falso. É uma forma de se imitar a verdade por contrafação. 
2) Alteração: pega um documento verdadeiro e muda. Por exemplo, pega uma nota verdadeira e muda o número de série dela. Ou muda o ano de nascimento na carteira de identidade. Isso é alteração.
3) Supressão: é a eliminação de algum componente/caractéristica/sinal daquele documento que é suprimido/eliminado no caso concreto.
4) Simulação: é uma forma de falsidade ideológica. A simulação atinge não a externalidade do documento, a materialidade gráfica dele, mas ela atinge essencialmente o conteúdo ideal, a ideia que o documento representa. A simulação é uma forma também de imitação da verdade. Usar identidade alheia, por exemplo, é esse crime. A simulação é aquela estudada no direito civil. Por exemplo, na escritura de compra e venda, em que eu declaro lá no instrumento que estou vendendo o meu terreno por 700 mil para o André e, na verdade, isso aqui foi uma doação. Você não tem que pagar nada, mas na escritura de compra e venda está que aquela doação custou 700 mil. Então, a simulação tem sempre uma declaração que é exteriorizada e que não corresponde à verdade, não corresponde ao que os sujeitos idealizavam e tem como verdade. Nem toda simulação civil é crime, mas existem simulações que podem ser. A simulação tem uma declaração de vontade exteriorizada que não corresponde a verdade entre duas ou mais pessoas e tem a intenção de enganar terceiro. Esses são os três elementos da simulação. Até aí não necessariamete é crime. Para ser crime, como sustentava Nelson Hungria e outros, tem que ter, além disso, a intenção de prejudicar terceiro. Você pode enganar terceiro de uma forma, como se chamava antigamente, de uma simulação inocente. Ex: eu quero doar o meu bem para o André, só que eu não quero que a minha esposa saiba, mas eu estou tirando da parte disponível dos meus bens. Aí eu faço uma simulação, eu falo que eu estou vendendo, mas estou doando. Não tem crime. Agora, na hipótese de prejudicar terceiro já, aí, pode haver crime. 
	As três primeiras (contrafação, alteração e supressão) são formas de imitação da verdade típicas da falsidade material. A simulação é uma forma de imitação da verdade típica da falsidade ideológica. E, por fim temos a questão do uso do documento, que também é uma forma de praticar esses crimes de falso. Você usa documento falso - artigo 304 do CP.
	Agora podemos delimitar a diferença entre falsidade material, ideológica e pessoal. Vamos começar pela falsidade material x ideológica.
	
	FALSIDADE MATERIAL EXTERNA
	FALSIDADE IDEOLÓGICA/EXPRESSIONAL
/MENTAL/ INTELECTUAL
	1) INCIDÊNCIA
	Incide sobre o caráter externo do documento;
	Recai sobre a veracidade do documento;
	2) REFERÊNCIA
	Autenticidade do documento; geminidade;
	Veracidade do documento;
	3) MODO PERCEPÇÃO
	Perceptível pelos sentidos; empiricamente demonstrável; 
	Demanda um exercício de abstração;
	4) ASPECTO TEMPORAL
	Pode nascer com o documento ou pode ser posterior;
	Sempre nasce com o documento;
	5) MODO DE PERPETRAÇÃO
	Requer um agir positivo;
	Pode ser feito por omissão;
	6) TIPO DE IMITAÇÃO
	Mediante contrafação, alteração ou supressão;
	Simulação;
	Quanto à Incidência: falsidade material incide sobre a materialidade gráfica do documento, sobre o aspecto externo do documento, conforme já comentamos aqui. Já, a falsidade ideológica incide sobre o conteúdo ideal, intelectual do documento, sobre a verdade daquele documento, ou seja, diz respeito a ideia que se extrai, ao pensamento que se extrai, que se deduz daqueles elementos materiais. Diz respeito a verdade mesmo.
	Quanto à referência: a falsidade material incide sobre a autenticidade do documento, a genuinidade do documento. Documento é autentico quando todas as suas características materiais correspondem a aquilo que deve ser, segundo a norma ordena. Por exemplo, carteira de identidade tem que ter letra tal, marca dágua tal, margem tal, papel y, isso tudo corresponde a materialidade gráfica do documento, diz respeito a autenticidade, a genuinidade do documento. Tem como referência a autenticidade. Já a falsidade ideológica tem como referência a veracidade do documento. Então, pode existir um documento autêntico que seja inverídico e pode existir um documento que não seja autêntico, mas que seja verídico. Exemplo: eu emiti uma duplicata para pagar um serviço que o André fez para mim, serviço x que custou y. A duplicata extraviou. Aí o André faz um outro documento que não é autêntico porque não respeita todos os requisitos que a duplicata deveria ter, não é autêntico, mas está lá o serviço e o valor certinho. Conteúdo ideal daquele documento é verdadeiro, só que ele não é autêntico. E vice-versa. Pode ser que exista um documento autêntico, mas que é absolutamente inverídico. Você faz uma carteira de identidade e coloca lá: Jacinto Duro Aquino Rego e coloca a sua foto lá, a marca d’agua, data de nascimento, papel verdinho, tudo bonitinho. Só que você não é o Jacinto. Então, é um documento perfeitamente autêntico, genuíno, respeita todos esses requisitos materiais que devem estar presentes sob o ponto de vista da materialidade gráfica. Mas, ele não corresponde, na realidade dos fatos, à verdade. Ele não está em conformidade com os fatos. É uma desconformidade em relação aos fatos comum da vida. 
	Essa distinção, às vezes, se torna um pouco artificiosa. Porque quando você contrafaz um documento, elabora um documento falso, muitas vezes, você acaba ferindo a questão não só da autenticidade como também a veracidade. Então, não raro, um está acompanhado do outro. Isso, aqui, é mais para acentuar o ponto que é mais relevante no caso concreto, se foi a veracidade ou se foi a genuinidade. Mas, nao raro, os dois estão juntos. Há muitos autores que dizem que essas distinções são artificiais. O Regis Prado é quem idealiza essas distinções como uma meneira competente. 
	Quanto ao modo de percepção, como se refere a materialidade gráfica, a falsidade material, ela é perceptível pelos sentidos, ela é empiricamente demonstrável. Você pega o original, compara e vê que está faltando alguma coisa. É perceptível pelos sentidos. É pericialmente demonstrável. Você pode fazer uma perícia. Já, a falsidade ideológica demanda uma abstração porque diz respeito ao conteúdo ideal daquele documento, a ideia, ao espírito daquele documento. Então, demanda uma operação de abstração da mente. Você compara o que existe na realidade com o que aquele documento diz que é verdade. O documento diz que uma coisa é verdade, mas na prática aquilo não corresponde a verdade. 
	Quanto ao aspecto temporal, na falsidade material externa, essa falsidade pode nascer do documento, no caso da contrafação, como pode ocorrer depois, voce pega um documento autêntico e faz alguma alteração ou suprime alguma coisa e aí ele passa a não ser mais autêntico. Entao, essa falsidade pode nascer com o documento ou pode ser posterior. Já, quanto a falsidade ideológica, ela sempre nasce com o documento. Ex: caso do abuso da folha em branco -> alguém te dá um determinado relatório ou uma folha em branco para ser preenchida e aquilo ali ainda não é um documento. Só que vai ser um documento quando você preencher tudo. Só que você já preenche dando informações que não correspondem à verdade. Então, quando o documento nasce, ele já nasce falso. A falsidade é contemporânea ao nascimento, a fabricação do documento. Ex: um funcionário público atesta que você praticoudeterminado ato que é uma condição necessária para depois você exercer um direito. Só que você não praticou o ato, mas ele diz lá que você praticou. É falsidade ideológica. Entao, a falsidade ideológica já nasce com o documento. Da mesma maneira, a simulação da escritura de compra e venda já nasce falsa. 
	Quanto ao modo de perpetração da falsidade, na falsidade material, se requer sempre um agir positivo, um fazer, uma comissão. Você vai contrafazer. Você vai alterar. Você vai suprimir alguma coisa daquele documento. Já, na falsidade ideológica, pode haver comissão como pode haver omissão. Ex: o tipo penal da falsidade ideológica clássico é o art. 299 e ele já começa com o verbo “omitir”. Então, vai ser feito por omissão. Você faz a escritura de compra e venda e diz que é solteiro. Omite que é casado ou não coloca nada. 
	E, os tipos de imitação que já falamos. Aqui, na falsidade material, são contrafação, alteração e supressão e, na falsidade ideológica, a rigor, a simulação. Como exemplos na legislação poderíamos dar os seguintes: art. 289 é falsidade material; art. 293 é falsidade material; art. 296, 297e 298, também, tratam da falsidade material. 
	Já exemplos de falsidade ideológica: art. 299, art. 241, art. 242, art. 302 do CP. A falsidade ideológica é importante porque disvirtua a realidade. Os documentos são meios de prova, servem para provar uma determinada realidade. Quando você falseia isso, você gera mil problemas, sejam eles patrimoniais ou não. Ex: atestado médico falso. Você emite/fabrica um documento que é apto a provar alguma coisa para tirar alguma vantagem. Ex: art. 300 do CP (crime próprio). Não existe crime de falso culposo!!!! Todo crime de falso tem que ser doloso. Às vezes, além do dolo, pode ter um elemento subjetivo especial. Mas, no mínimo, o dolo tem que ter. Ex: art. 299 – “com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato” - tem um especial fim de agir aí que é além do dolo.
15.10
Aula passada, relembrando (...)
CRIMES DE FALSO
	A fé pública consubstancia um bem jurídico coletivo, atualmente pode se dizer até que, um bem jurídico supranacional, consistente na expressão da certeza jurídica, na confiança por parte da sociedade, na autenticidade, genuinidade, veracidade de determinados atos que a lei confere valor jurídico.
	Existe uma expressão objetiva: autenticidade, veracidade. E uma expressão subjetiva: confiança que o público tem na confiança das relações jurídicas.
	O bem jurídico da fé pública é multifacetado, abrange interesses patrimoniais individuais e do público, da segurança das relações jurídicas, etc.
	Os 3 requisitos essenciais são: a natureza dolosa da conduta (pois não existe crime de falso culposo), a imitação da verdade e a potencialidade de dano – Súmula 73 e 17 STJ.
	Modos de concretização da imitação da verdade: a contratação, a operação, a supressão, a simulação, o uso.
Falsidade material x Falsidade ideológica
	A primeira incide sob aspectos externos, sobre a materialidade gráfica do documento, enquanto o segundo incide sobre o conteúdo ideal, sobre a verdade do documento. A falsidade ideológica é um descompasso/divergências entre as informações declaradas e a verdade. Além disso, a falsidade material tem como referência a autenticidade, a genuinidade do documento, que nada mais é do que a conformação dos elementos concretos, estabelecidos pela lei, enquanto a falsidade ideológica diz respeito, a veracidade. E ainda, a falsidade material é perpetrada por comissão enquanto a falsidade ideológica é perpetrada tanto por comissão, tanto por omissão e que a falsidade material pode ser contemporânea, surge com o nascimento do documento ou pode ser posterior, enquanto que a ideológica é sempre contemporânea, do surgimento do documento. A falsidade material é demonstrada inicialmente, enquanto que a ideológica demanda uma comparação, entre o que acontece na realidade e o que é declarado no documento. 
Exemplos de falsidade ideológica: Art. 299, 300, 301 crime de falsidade de atestado médico (Art. 302), Art. 241 e 242, do CP.
Falsidade material (documental): se refere a vários tipos do código penal como, por exemplo, crime de moeda falsa, entre outros.
Delineação da falsidade pessoal:
	A falsidade pessoal incide sobre os qualificativos de determinado indivíduo, ou seja, seu nome, sua identidade, sua profissão, estado civil, etc. Como exemplo, temos o Art. 307 do CP (crime de atribuição de falsa identidade).
Análise de tipos penais mais importantes:
Art. 311- A - Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)
I - concurso público; 
II - avaliação ou exame públicos; 
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou 
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. 
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público.
	Essa tipificação surgiu da lei .. para tentar suprir uma lacuna a uma conduta que vinha a acontecendo e continua acontecendo: fraudes em certames de interesse público.
	Anteriormente à lei, existia jurisprudência pacífica do STJ que entendia que a fraude em concurso público era conduta atípica. Parte da Doutrina sustentava a existência de um estelionato. Porém o STJ sempre entendeu que a conduta não era típica. Não seria estelionato, pois não se tinha prejuízo de ordem patrimonial, além de ser difícil de identificar a vítima. É claro que existia um argumento: se utilizar de fraude em concurso público, significa que você estaria passando pra trás todos os outros concorrentes, mediante conduta ilícita. Mas o STJ rejeitou essa posição, até por conta do entendimento da inexistência de prejuízo patrimonial. 
	Então, esse tipo penal surge para colmatar essa lacuna, apesar da controvérsia ainda não ter sido exaurida, tendo autor que diz até hoje que é atípico.
Bem jurídico protegido: fé pública, moralidade, credibilidade, probidade, isonomia.
Tipo penal:
	O tipo penal fala em “utilizar” ou “divulgar”, então é um crime misto alternativo, porém se a pessoa fizer os dois será punida por um crime único. Traça diversas hipóteses: I) se refere somente a concurso público (provas ou provas e títulos) – Remissão ao art. 37, II, CF/88; II) avaliação e exames públicos – são aqueles que se dão por meio de processo seletivo, no mínimo; III) processo seletivo para ingresso no ensino superior (pode ser para instituição pública ou privada); IV) exame ou processo seletivo previstos em lei (ex.: exame da ordem – Lei 8.906, art. 8, IV).
É um tipo misto alternativo, ou se divulga ou se utiliza, comprometendo a credibilidade do certame, se utilizando para interesse próprio ou de terceiros. 
Indevidamente: elemento objetivo valorativo do tipo.
O grande problema está na expressão “conteúdo sigiloso”. O que seria um conteúdo sigiloso? Essa expressão permite uma interpretação muito ampla que, no caso de uma prova, poderia ir muito além do gabarito. O conteúdo estaria ligado à ideia de que uma pessoa não tenha vantagem em detrimento dos outros, violando a isonomia, a credibilidade. Então, o prof pensa que não é só o gabarito que seria um conteúdo sigiloso, uma prova também pode ser. O conteúdo sigiloso seria gênero na qual o gabarito é espécie.
Incorre nesse crime, ainda, “quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.” 
	Para Rogério Sanchez, no caso da utilização, por exemplo, de um ponto eletrônico, o fato seria atípico,porque os sujeitos não trabalharam com o conteúdo sigiloso (o gabarito continuou sigiloso para ambos). Porém, o prof defende uma interpretação mais ampla do termo, já que o legislador não especifica o que seria o conteúdo sigiloso (que poderia ser a prova, o gabarito, etc.), podendo então a utilização de um ponto eletrônico ser sim incriminada.
Quando, por exemplo, o gabarito não existe de fato? Poderia ser crime impossível.
	Para o prof, o certo é que quando alguém tem uma ajuda externa, de alguma maneira ela tem acesso ao conteúdo sigiloso, não necessariamente ao gabarito, mas ao conteúdo da questão – que é uma palavra mais ampla do que gabarito. 
Exemplo prático: Se, por exemplo, em uma prova de questões discursivas, não se tem ainda gabarito, porém a pessoa tem acesso a um terceiro (expert) para resolver as questões... Mesmo assim, a pessoa ainda teria acesso ao conteúdo sigiloso, mesmo que não exista gabarito, pois o conteúdo sigiloso pode ser a prova, já que o legislador não especifica. (Cabe ressaltar, que essa é uma posição, não necessariamente dominante na doutrina e jurisprudência, mas é como o prof entende).
“§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública” 
A verificação desse dano é um tanto quanto subjetivo e avaliado no caso concreto. Pode ser um dano patrimonial ou no sentido da moralidade, da credibilidade, da probidade da Administração Pública.
“§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público” - Quando o crime seria próprio.
	Esse crime tipificado no art. 311-A ainda é muito recente e sem posicionamento concreto por parte do STJ .Além disso, esse crime destoa um poucos dos crimes de uso de documento falso, de falsa identidade, de falsidade ideológica, etc.
USO DE DOCUMENTO FALSO
Art. 304, CP
 Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
	Essa é uma norma penal em branco e homogênea, ou seja, o complemento vem da própria lei.
		Em primeiro lugar, o aspecto mais relevante nesse crime, seria uma mudança de perspectiva dentro do STF, quanto à uma situação específica, qual seja: uma pessoa tem antecedentes ruins, e um policial a aborda na rua para se identificar e a pessoa apresenta um documento falso para o policial como forma de identificação – A jurisprudência e a doutrina defendiam que, o fato de alguém fazer uso de documento falso a fim de evitar que se descobrissem maus antecedentes ou uma situação que pudesse lhe causar prejuízo, isso estaria dentro do direito de defesa dessa pessoa, constitucionalmente garantido, o direito da autodefesa (Princípio do “ninguém é obrigado a se descobrir”, princípio da “não auto incriminação”).
	Esse entendimento foi assim até 2011, quando o STF decidiu que essa era uma questão de repercussão geral e mudou seu posicionamento. Como exemplo, temos o Informativo 628 do STF: “não cabe cogitar de que a atribuição de identidade falsa para esconder antecedentes criminais consubstancia autodefesa”. Mais do que isso, tanto o STF, quanto o STJ, fixaram a posição de que incide o crime do uso de documento falso, mesmo que a apresentação do documento seja solicitada por autoridade competente.
	STJ, julgado de 2011, 1º de Dezembro, logo depois do julgamento do STF: A Turma denegou habeas corpus na qual se postulava o reconhecimento da atipicidade da conduta praticada pelo paciente, uso de documento falso (art. 304), em razão do princípio constitucional da auto defesa (princípio que também está contido no Pacto San José da Costa Rica – art. 8º, II, “g”). Alegava-se, na espécie, que o partícipe apresentara à autoridade policial, carteira de habilitação e documento de identidade falsa, com o objetivo de evitar sua prisão, visto que foragido de estabelecimento prisional, conduta plenamente exigível para garantir sua liberdade. O Min. Relator destacou não desconhecer o entendimento da corte – de que não caracteriza o crime do art. 304 – a conduta do acusado que apresenta falso documento de identidade à autoridade policial para ocultar antecedentes e manter seu status libertatis, tendo em vista a se tratar de hipótese de auto defesa, já que atuou amparado pela garantia do art. 5º , LXII da CF. Considerando, contudo, ser necessária a revisão do posicionamento do STJ, para acolher entendimento recente do STF, em sentido contrário, proferido no julgamento do RE 640.139 DF, quando reconhecida a repercussão geral da matéria, onerou-se que, embora a aludida decisão seja desprovida de caráter vinculante, é preciso se atentar para a finalidade do instituto da repercussão geral (que é de uniformizar a interpretação constitucional). Conclui-se, assim, inexistir qualquer constrangimento ilegal suportado pelo paciente, uma vez que a conduta de ocultar antecedentes criminais para preservar sua liberdade é uma conduta típica. 
	Então, esse julgado deixa claro que o posicionamento do STF se alterou quanto à questão, passando a dizer que não existe direito à autodefesa e assim acompanha o STJ, tendo mesmo posicionamento.
“Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados”
	É importante dizer que, em primeiro lugar, o uso desse documento falso, tem que guardar alguma relação com aquilo que o documento destinar a provar. Em segundo lugar, o documento tem que ser original. É pacífico que papéis autenticados não servem como hipótese de incidência desse tipo penal.
	STJ: a utilização de fotocópia não autenticada, afasta a tipicidade do crime de uso de documento falso, devido aos seus elementos intrínsecos (falta de potencialidade lesiva a violar a fé pública e também porque a fotocópia sem autenticação não se destina a “imitar” a verdade). 
	O tipo penal fala em fazer uso, então deve-se utilizar o documento, não basta somente a posse do mesmo. Exceção é no caso de carteira de habilitação – art. 159 §1 da CTB, na qual a simples posse de CNH falsa configura o crime de falso: § 1º É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da Carteira Nacional de Habilitação quando o condutor estiver à direção do veículo. 
	Existe uma outra questão, ainda, que está ligada ao usuário e ao falsário: se alguém fabrica o documento falso e o utiliza, essa pessoa não responde pelos crimes em concurso, mas por um único crime.
	Uma outra questão que pode acontecer à título de aplicação do crime, é a possibilidade de crime continuado: alguém pode se utilizar de documento falso diversas vezes num mesmo contexto, (mesmo assim cometerá um crime só), mas se se utiliza em contextos diferentes, para finalidades diferentes (poderia haver hipótese de concurso material).
	É importante, ainda, salientar uma Súmula do STJ, quanto a questão da competência: é competência do juízo federal, processar e julgar o acusado de crime de uso de passaporte falso (competência do lugar onde o delito se consuma, no juízo federal onde se consumou o crime).
	Informativo n.º 511 do STJ: a “competência para processo e julgamento do delito previsto no art. 304 do CP deve ser fixada com base na qualificação do órgão ou entidade à qual foi apresentado o documento falsificado, que efetivamente sofre prejuízo em seus bens ou serviços, pouco importando, em princípio, a natureza do órgão responsável pela expedição do documento”.
	Assim, em se tratando de apresentação de documento falso à polícia rodoviária federal, que é órgão da União, em detrimento de serviço de patrulhamento ostensivo das rodovias federais, prevista no art. 20, II do CTB, alega-se competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, CF.
[Art. 304 x Art. 308]
	O art. 308 é uso de documento verdadeiro, porém de maneira falsa. O art. 304 é quanto a uso de documento falso.
	Pode-se dizer, ainda, que há uma falsidade material e não somente ideológica, dependendo do caso. Uma identidade comprada de um particular, por exemplo, consequentemente não expedida por ordem competente, seria uma falsidade material de documento.
Obs.: pode existir documento verídico e não autêntico.Outra questão, ainda quanto à autodefesa: caso uma autoridade policial, no momento de uma revista pessoal à alguém, encontre um documento falso – sem que essa pessoa se utilize do documento – a conduta seria atípica.
Disposições da Parte Especial: 
Lei 8.137, art. 1º, IV (lei dos crimes contra a ordem tributária):
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; 
	Jurisprudência recente do STJ: trata da absorção do crime de sonegação fiscal - Art. 1º, I da Lei 8.137 com o crime de uso de documento falso. Na hipótese, uma pessoa declarou imposto de renda e quis fazer uma dedução referente as algumas despesas médicas que ele hipoteticamente teve. Aí o fisco pediu para a pessoa juntar documentos a fim de comprovar a dedução e ele juntou recibos falsos. A discussão toda diria respeito a se a lei de sonegação fiscal iria se punir por falsidade ideológica, pois ele estava declarando uma informação inverídica no imposto de renda e/ou também pelo uso de documentos falsos (por juntar recibos falsos). Porém, nesse caso, decidiu-se nem por um, nem por outro, punindo a pessoa somente pelo crime de sonegação fiscal pois a conduta dele surgiu com essa finalidade.
	Remissão para a Súmula Vinculante 24, STF: 
“NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.” Enquanto não houver lançamento, não se pode falar em delito.
Lei 7.492 (lei dos crimes contra o sistema financeiro)
Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em falência de instituição financeira, declaração de crédito ou reclamação falsa, ou juntar a elas título falso ou simulado:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre o ex-administrador ou falido que reconhecer, como verdadeiro, crédito que não o seja.
Falência: processo de execução concursal em que o devedor, o credor ou o terceiro legitimado, em face da sociedade empresária, empresário individual... que pretende a liquidação judicial para prover os seus credores. O crime aqui é utilização de documentos falsos em prejuízo dos credores.
Lei 11.101 (lei de falências)
 Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou simulado:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
17.10
Com relação à cola eletrônica, até 2011 tratava-se de crime de estelionato, só que o STF não acatou essa posição. Disse que a conduta era atípica porque não se visualizava uma vantagem ilícita de caráter patrimonial e também não se visualizava uma vítima neste caso. O professor Guilherme de Souza Nucci defende que este problema da cola eletrônica não existe mais porque o conteúdo sigiloso é a prova, o gabarito, o horário da prova, ou seja, o seu conceito de conteúdo sigiloso é mais amplo, então, essa conduta passa a ser perfeitamente punível. O professor concorda com essa posição. Isso vai cair na prova!! 
Na ultima aula a gente estava comentando a respeito do art. 304, CP. Nós paramos na análise a legislação especial. Falei pra vocês sobre o art. 14 da lei 7.492(lei dos crimes contra o sistema financeiro), falamos da lei 8.137 (lei dos crimes contra a ordem tributaria). Eu terminei falando do artigo da lei de falências. Deve-se fazer uma remição ao artigo 175 da lei 11.101 que é a lei de falências. Existem muitos autores que se referem a ela na parte dos crimes como crimes falimentares, mas não é uma denominação muito técnica porque tem crimes ali que se referem não só ao âmbito da falência, mas também a recuperação (judicial e extrajudicial). Então, é melhor falar em crimes da lei de falência. 
Na lei 11.101, temos o artigo 175. O que é a falência? Falência é um processo de execução concursal que se dá contra o devedor empresário com a finalidade de promover uma limitação judicial. Há um conjunto de credores que são habilitados no processo de falência. Limitação judicial nada mais é do que a reparação dos bens, para que depois seja distribuído devidamente, segundo aquela ordem de pagamento do artigo 83 da lei. Durante esse processo de falência, que tem três fases a rigor, na primeira fase existe um momento em que apresenta-se uma relação de credores e tais credores habilitam seus creditos. A Marina tem um crédito de natureza de garantia real. A Carolina tem um crédito de trabalho. A Amanda tem um crédito trabalhista. Os credores devem apresentar documentos que deem lastro a esses creditos. O crime é justamente apresentarem em falência ou na recuperação judicial uma relação de documentos que sejam falsos de maneira a criar prejuízo aos credores. Não deixa de ser uma especialização do crime de uso de documento falso, só que neste caso é especificamente para fins falimentares. Reclusão de dois a quatro anos. 
Sobre os crimes da lei de falência, é preciso salientar alguns aspectos. O primeiro deles é que na lei 11.101, a persecução penal só pode existir quando existe também a concorrência de uma condição objetiva de punibilidade. O que é a persecução penal? A persecução penal se caracteriza por duas fases. A primeira delas é uma fase pré-processual de investigação. Em geral, se dá mediante o inquérito ou uma investigação pré-processual. A segunda fase é a do processo criminal em si. A persecução penal nada mais é do que a pratica de atos por meio do Estado para exercer seu direito subjetivo de poder, seu poder-dever de punir. O artigo 180 da lei de falências trata dessa questão (condição objetiva de punibilidade). Então, digamos que o sujeito, na relação de crime de creditos, juntou uma duplicata falsa. Ainda não teve a sentença que declara a falência. Mas, em tese, ele já praticou essa conduta indevida. Mas a persecução penal só vai poder ser iniciada quando houver a decretação da falência, que é a condição subjetiva de punibilidade, ou a concessão de recuperação judicial. Em todos os crimes dessa lei é preciso atentar para esse detalhe. 
Outro detalhe em relação a essa lei é que antes da lei de falências, a lei que vigorava era o decreto-lei 7.661/45, que foi revogado em 2005 quando entrou em vigor essa lei 11.101. no decreto-lei, a prescrição desses crimes era contada de maneira diferente. Existia uma sumula do STF (147/148) que dizia que os crimes falimentares prescreviam em quatro anos a contar da declaração da falência. Hoje isso não existe mais porque a lei 11.101 no artigo 182 diz que a prescrição desses crimes vai obedecer a prescrição normal. A única pegadinha aqui é a seguinte: existe uma possibilidade de decretação de falência no curso de uma recuperação(caso em que o devedor não consegue cumprir com as obrigações advindas do processo de recuperação, então, a recuperação é convertida em falência). Neste caso, há um novo marco interruptivo: a decretação da falência e a concessão da recuperação. 
Uma outra especificidade da lei de falência diz respeito ao rito. O art 185 da lei de falência diz que esses crimes vão obedecer ao rito sumário, com exceção do crime do artigo 178 que é sumaríssimo, por ser um crime de menor potencial ofensivo. Por ser da competência dos JECRIMs vai obedecer ao rito sumaríssimo que é o rito da lei 9.099. 
Voltando ao crime do artigo 304, CP, só ficou faltando dizer uma coisa. O crime é fazer uso do documento falso e não apenas portá-lo. Este uso tem que guardar uma especificidade. Você tem que usar esse documento numa situação de idoneidade, de congruência. A pessoa tem que utilizar esse documento para provar uma situação, para tentar exercer um direito para o qual aquele documento foi criado. Exemplo: o Eduardo tem uma carteira de identidade falsa, ai ele vai na biblioteca, pede um livropara tirar cópia e deixa a carteirinha falsa com a recepcionista. Ele não está cometendo um crime porque não há uma relação de idoneidade. A carteira de identidade não se destina a essa situação. A carteira de identidade se destina a comprovar informações que estão inseridas nela, tais como sua idade, seu nome, filiação... Por exemplo, se uma autoridade polical pede sua identificação na rua, é para isso que a carteira serve. Se você faz uso da carteira falsa, você está cometendo crime do artigo 304, CP. Não é qualquer uso do documento falso que configura a modalidade criminosa. 
Vamos para o artigo 307, CP. 
Trata-se de uma manifestação de falsidade pessoal. Ela incide sobre o conjunto de qualificativos que individualizam aquela pessoa (nome, profissão, estado civil, sexo e naturalidade). O conceito de identidade aqui é mais amplo. Abrange o nome, idade, profissão, estado covil... Existe uma controvérsia se o termo identidade pode abranger outras situações que não essas descritas. Isto porque geralmente o nome, a profissão, o estado civil são características mais obvias para diferenciar as pessoas. Mas é possível que outras características também possam distinguir uma pessoa. Então, discute-se até que ponto vai essa identidade, quais são os atributos que essa identidade abarca. Discute-se, por exemplo, se qualificativos como o endereço seriam relevantes, poderiam fazer parte desse conceito de identidade. Para Nucci, a solução deve impor-se de acordo com a necessidade do dado identificador. Deve-se perguntar se é essencial obter esse informe para identificar a pessoa. Se for essencial, essas características extras, como o endereço, por exemplo, poderiam valer como identidade. Se não, não. 
Outro ponto a ser falado é sobre uma diferença sutil. No art. 307 o crime é atribuir-se falsa identidade. Não tem utilização de nenhum documento. A pessoa apenas diz que detém alguma característica que não detém na verdade. Não se confunde com a utilização. Se a pessoa utiliza algum documento, ela está cometendo o crime do art. 304 e não do 307. No 307 você pode atribuir-se a uma identidade de uma pessoa que existe ou que não existe. Aqui também vale aquela discussão que tivemos no art. 304 quanto a posição atual do Supremo e a possibilidade de se valer da autodefesa, ou seja, se a autoridade policial chega para você e nas mesmas circunstancias (você é foragido da justiça) e para evitar o agravamento da sua situação, você dá um nome falso, de acordo com o STF, você está cometendo o crime do 307. O informativo 537 diz isso. 
Na lei de contravenções (3688) existe uma figura que pode causar confusão, que é o artigo 45. Também deve-se observar o artigo 68 dessa lei. 
Como se diferencia esses crimes da hipótese do artigo 307, CP? No art, 68, a contravenção incide quando você meramente se recusa a se identificar e o 307 der identidade falsa com a finalidade de preservar alguma situação de seu interesse.
Alem disso, deve-se anotar a disposição do artigo 328, CP. Qual a diferença entre o crime de usurpar função publica e o de fingir-se funcionário publico? A usurpação exige que você pratique atos de oficio. Não basta colocar o uniforme e se passar por policial, por exemplo. Deve-se praticar atos de oficio. 
Tem uma questão importante. Se uma pessoa muda a foto de sua identidade, ela comete crime do art. 307 ou comete o crime de falsidade material (falsificação de documento publico)? 
Há quem sustente que se o sujeito altera a foto do RG ele estará incorrendo no crime do 307 se ele fizer essa alteração já com o especial fim de agir de alterar seu qualificativo pessoal. Boa parte da doutrina sustenta isso. Regis Prado diz que não. Segundo ele, quando se muda a foto, altera-se a configuração, a materialidade gráfica do documento. Então, a pessoa estaria cometendo o crime do art. 297, CP(falsificação de documento).
Se vocês repararem bem o art. 307 tem uma condição na aplicação da pena (se o fato não constitui elemento de crime mais grave). Este é o principio da subsidiariedade, ou seja, o art. 307 só vai se aplicar se não houver crime mais grave. Pensem na violação sexual mediante fraude. Não deixa de ser um crime de falsidade pessoal. 
Passamos agora para o crime do artigo 308, CP. Também é um crime que leva em consideração a falsidade pessoal. Aqui não é o uso do documento falso, mas o uso falso de um documento verdadeiro. Eu pego o passaporte do Eduardo e uso. Ou o Eduardo coloca à minha disposição o passaporte dele. O tipo fala “ou qualquer documento de identidade alheia”, ele é genérico, dá azo a uma interpretação analógica. A interpretação analógica existe quando uma clausula genérica se segue a uma serie de formulações casuísticas. Aqui nos temos uma serie de informações casuísticas como titulo de eleitor, passaporte, etc. Ele fala qualquer documento de identidade. 
Ele cita Artigo 353 da lei 4737 (lei dos crimes eleitorais).
O art. 308 fala que as condutas puníveis são a utilização e o ato de ceder o documento a outrem. Ceder é entendido como emprestar ou por à disposição. Uma coisa é o uso de documento falso e outra coisa é o uso falso de documento verdadeiro. Mais uma vez está presente aqui a subsidiariedade expressa. 
Quando eu delimitei a falsidade material, a falsidade ideológica e a falsidade pessoal eu dei exemplos de crime de cada uma dessas hipóteses. Os crimes relativos à falsa identidade são exatamente esses do 307, 308, 309 e 310. 
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional: (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Esse crime é um crime próprio. Só pode ser praticado pelo estrangeiro. 
Vamos falar um pouco agora sobre os crimes de falsidade ideológica. Artigo 299, CP. 
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
Falsidade ideológica incide sobre o conteúdo ideal do documento. Há um descompasso entre as informações declaradas e a verdade dos fatos. Qual é o meio de imitação da verdade presente na falsidade ideológica? É a simulação. Este tipo penal pode ser cometido numa modalidade omissiva (omitir), e também numa modalidade comissiva (inserir ou fazer inserir). Vamos primeiro analisar a questão quanto ao documento publico. 
As condutas de omitir informação ou inserir informação em descompasso cm a verdade no documento publico necessariamente demandam a figura de um funcionário público que tem a incumbência de preencher aquele documento. Há casos em que o funcionário publico não sabe da informação, pois ela deve ser declarada pela pessoa. Neste caso, se o funcionário preenche com os dados informados pela pessoa de maneira equivocada por conta da informação da pessoa ele não comete crime de falsidade ideológica. Ele vai estar praticando crime de falsidade material porque enquanto você tem só um formulário ou uma folha em branco você não tem um documento. Você só tem um documento quando os requisitos são preenchidos. Se você preenche aquele documento com informações falsas, esse preenchimento já é parte da configuração extrínseca do documento. Então, por si só, ele já é materialmente falso. Neste caso, o funcionário público não pode saber do teor falso dessas informações que lhe são dirigidas.
Se uma pessoa preencheum “documento” com informações falsas, mas não assina e sua assinatura é requisito essencial, ainda não é um documento, então, não é valido, não há crime. Ele não prova nada. É um papel. Não é um documento para fins jurídicos. 
22.10
Art. 299 - Falsidade Ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
        Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.”
A falsidade ideológica incide sobre o conteúdo ideal do documento. É o descompasso entre a verdade dos fatos e as informações que compõem o conteúdo de determinado documento. Logo, a falsidade ideológica não guarda nenhuma relação com o aspecto extrínseco do documento.
- Esta é justamente a principal diferença entre o crime de falsidade material e o de falsidade ideológica - enquanto a falsidade material incide sobre a configuração extrínseca, a materialidade gráfica do documento, a falsidade ideológica incide sobre a ideia que se depreende, sobre o conteúdo ideal do documento.
- Outra diferença entre os referidos crimes: enquanto a falsidade material só pode ser cometida mediante comportamento comissivo, a falsidade ideológica pode ser cometida por meio de comportamento comissivo ou omissivo.
Tipo subjetivo
	Para analisar o tipo subjetivo, há que se fazer uma divisão do dispositivo em duas perspectivas. A primeira diz respeito aos verbos “omitir” e “inserir”, enquanto a segunda se refere à expressão “fazer inserir”. Sendo assim:
	Se o documento for público: 
- As condutas “omitir” e inserir” pressupõem, necessariamente, a intervenção de um funcionário público - é indispensável a atuação de funcionário público competente na confecção do documento. Tal funcionário, que omite a declaração que deveria constar no documento ou insere declaração em descompasso com a verdade, pode ou não conhecer o teor falso da declaração em questão;
- A expressão “fazer inserir”, por sua vez, se relaciona exclusivamente ao particular, que emite as declarações e não preenche documento público. Ou seja, ele faz com que o funcionário público insira informações inverídicas no documento. No caso da referida expressão, por conseguinte, é imprescindível que o funcionário público desconheça o caráter inverídico da declaração. Caso conheça, será configurado concurso de agentes entre o particular e o funcionário. Exemplo: médico que preenche atestado para paciente que omite doença preexistente. Se ele de fato desconhece tal doença, só o particular responde.
	Atenção: se um particular preencher, confeccionar, documento público com informações falsas, o crime não será de falsidade ideológica, mas de falsidade material, porque o particular não tem tal atribuição, isto é, não tem competência para preencher documentos públicos. Sendo assim, o documento, por si só, na sua materialidade gráfica, já nasceu falso, independentemente de conter informações inverídicas. Um dos requisitos da configuração extrínseca, nesse caso, já não foi respeitado - o preenchimento e a assinatura de autoridade com atribuição para tal.
Exemplo 2: Hipótese de tributos - a emissão de documento falso com o intuito de reduzir ou suprimir tributos constitui crime. A Lei 8.137/90, em seu art. 1º, inc. I a IV, traz as modalidades tipificadas, verbis:
	Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
        	I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
        	II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
        	III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável;
       	IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato;
 (...)
        Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (...)”.
	Em relação aos crimes desse artigo, aplica-se a Súmula Vinculante nº 24 do STF, que diz:
	“NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.”
	Isso ocorre porque o lançamento é um procedimento administrativo que serve para declarar uma obrigação tributária e constituir o crédito tributário. Logo, se não há lançamento, não há crédito tributário constituído. Quando o lançamento for por homologação, ficando a cargo do particular, constitui-se hipótese de incidência do art. 299, na forma da expressão “fazer inserir”, contanto que funcionário desconheça a falsidade da informação. 
**Exemplo 3 (importante!): Abuso da folha assinada em branco. Um indivíduo A, constituído mandatário de um indivíduo B, recebe instruções deste para preencher determinado documento de seu interesse. B, então, com finalidade de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade em relação a fato juridicamente relevante, insere no documento informações inverídicas. Nesse caso, haverá falsidade ideológica, não material, uma vez que o terceiro tem a incumbência, o dever ou a autorização de preencher o documento. 
	Diferente seria se A não tivesse tal autorização ou incumbência - caso obtivesse o documento de maneira ilegal ou, apesar de ter sido constituído mandatário, a autorização que possuía tenha sido revogada por algum motivo - hipótese na qual se verificaria crime de falsidade material. Este também se configuraria caso se verificasse desvio de finalidade na atuação do mandatário.
	Sendo assim, no que tange ao abuso de folha assinada em branco, somente se configura hipótese de falsidade ideológica no caso de a folha em branco ser confiada ou outorgada a um terceiro que tenha a incumbência ou faculdade de preenchê-la. Na hipótese de este preenchê-la em descompasso com a verdade, haverá a configuração, portanto, do art. 299 do Código Penal.
	Todavia, será hipótese de falsidade material se: 
o agente obtém o documento de forma ilegal ou ilegítima;
o agente detiver legalmente o documento, mas para finalidade diversa, que não a finalidade com a qual preencheu o documento posteriormente;
o mandato ou outorga tiver seu prazo expirado, ou tiver sido revogado.
	Isso ocorre porque, nos três casos acima, o próprio documento, em seus requisitos externos, formais, já será reputado falso, e não meramente o seu conteúdo ideal. Há a falsidade ideológica, mas, antes mesmo de ela existir, já há uma falsidade material.
Exemplo 4: Declaração de pobreza para fins de gratuidade. Não pratica o crime de falsidade ideológica, de acordo com posicionamento pacificado do STJ, a parte que insere na petição inicial declaração de pobreza, quando tal pobreza não se verifica na prática, para fins de obter gratuidade judiciária. Essa hipótese não constitui falsidade ideológica porque o funcionário que recebe a petição em questão não está adstrito ao conteúdo lançado. Ou seja, ele tem a obrigação de verificar a procedência daquelas informações. 
	Dessa maneira, a petição está submetida a condição suspensiva, somente sendo considerada documento eficaz a partir do momento em que se constate a inexistência de irregularidades. O STF reitera tal posicionamento, afirmando que “não há que se falar em documento, para fins penais, nas hipóteses em que o servidor público tenha a obrigação de verificar que a declaração do particular é verdade”, porque a eficáciade tal documento está submetida a condição suspensiva, como anteriormente dito.
	A Defensoria Pública tem como seu objetivo principal a tutela, a prestação de assistência jurídica aos hipossuficientes, também chamados de necessitados econômicos. Entretanto, ela também lida com os denominados “necessitados jurídicos”, que podem ou não ser economicamente necessitados. Há um entendimento que diz que a Defensoria não pode executar o honorário quando a causa se dá contra um estado, posto que ela o integra.
Exemplo 5: Simulação civil (art. 168, §1º, II, CC) - pressupõe três requisitos:
a divergência entre a vontade desejada e a vontade declarada;
o acordo simulatório, o conluio;
a intenção de enganar terceiro.
	Discute-se se a simulação civil é caso de falsidade ideológica ou não. Há autores que dizem que não, como Carrara, que, por exemplo, defendia que trata-se de caso de estelionato. Hungria, em sentido contrário, defende que é caso de falsidade ideológica, contanto que a simulação civil conte com um quarto requisito - a intenção de prejudicar terceiro.
	A simulação que enseja a configuração do crime de falsidade ideológica, portanto, é a simulação maliciosa, em que se tem a intenção de prejudicar terceiros, por exemplo: art. 258, CC - Fraude contra credores. A simulação inocente não constitui o referido crime.
	Se o documento for particular: 
	- Existem três regras que devem estar presentes quando da análise de uma conduta para verificar se existe ou não falsidade ideológica.
- Em primeiro lugar, o particular deve estar adstrito ao dever de dizer a verdade. Não há falsidade ideológica em sede de documento particular se o autor não estiver adstrito ao dever de dizer a verdade.
- Não há falsidade ideológica em documento particular carente de valor probatório. Se não possui valor probatório, não é considerado documento para fins penais.
- O documento deve ser apto a provar fato juridicamente relevante. Ou seja, a falsidade ideológica deve recair sobre um fato que o documento se destine a provar. Exige-se a imprescindibilidade de que a força probatória do documento esteja vinculada à natureza do conteúdo expresso pelo mesmo, isto é, ao objeto que aquele documento se destina a provar.
Exemplo: A celebra compra e venda com B. É lançado na escritura valor inferior ao que foi acordado entre as partes, para evitar o pagamento de tributos. Tal conduta não configura o crime da Lei 8.137, art. 1º, I, verbis:
	“Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
        	I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; (...)
        	Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.”
	Isso se justifica porque a escritura de compra e venda se destina a provar o negócio jurídico de compra e venda. Quanto a esse negócio jurídico, poderá haver falsidade ideológica, se se verificar o objetivo de prejudicar terceiro. No entanto, ela não tem como intuito o provimento de informações ao fisco, razão pela qual não haveria crime de sonegação fiscal, uma vez que a autoridade fiscal tem o dever de verificar essas informações. A força probatória da escritura não se dirige a lançamento tributário, mas ao negócio jurídico de compra e venda.
29.10
Alguns tipos penais da legislação extravagante mantém relação com o crime de falsidade ideológica.
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
 
Vamos fazer uma revisão aqui.
Na modalidade “Omitir, em documento público, declaração que dele devia constar”, com, por exemplo, a finalidade de prejudicar direito. Nessa modalidade aí, é necessária ou não a presença de funcionário público? Nas duas modalidades, “omitir em documento público” e “inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita”, com o fim de prejudicar direito, por exemplo, é imprescindível a intervenção de funcionário público na condição de sujeito ativo, porque é ele quem tem a incumbência de confeccionar aquele documento público, a atribuição para confeccionar o documento público. Pode haver um concurso com um particular, pode haver ou não, mas é imprescindível a intervenção do funcionário público na condição de sujeito ativo. 
Na modalidade “fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito” o funcionário público precisa saber da falsidade da declaração do particular? Essa modalidade aqui é uma modalidade do particular e, necessariamente, o funcionário público tem que desconhecer a falsidade das declarações. 
E, se eu outorgo poderes para o André preencher um formulário pra mim só que depois de já ter revogado essa procuração, ele vai e preenche um formulário inserindo informações em descompasso com a verdade com o fim de me prejudicar? Isso é falsidade material ou ideológica? É falsidade material, porque se considera que nesses casos ele não tem mais poderes para preencher aquele papel e considera-se que os requisitos intrínsecos daquele documento, quando ele nasce, já nasce não autêntico. O sujeito que preenche não tem autorização pra isso. 
 Suponhamos que o sujeito presta uma declaração falsa na petição dizendo que necessita de gratuidade judiciária, ele pratica falsidade ideológica ou não? Não, é dever do juiz confirmar. A eficácia dessas declarações está sob condição suspensiva.
 Então, na legislação especial nós temos alguns tipos interessantes. O primeiro deles no Código Eleitoral (Lei 4.737/65), no artigo 350 nós temos uma disposição que é bastante parecida, mas é especial em relação ao Código Penal. 
Art. 350. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo ou se a falsificação ou alteração é de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.
 O curioso é que a pena nesse crime do Código Eleitoral é de até 5 anos e essa pena é uma constante no Código Eleitoral, é sempre assim, a pena é até tantos anos e não tem pena mínima, não tem previsão quanto a pena mínima. 
 Uma outra disposição está na Lei 8.137, que é a Lei dos Crimes contra a Ordem Tributária ou Contra as Relações de consumo, em seu artigo 1º, incisos I e II. 
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
 	 Então, temos essas duas figuras aqui que são manifestações de falsidade ideológica, mas que estão no contexto dos crimes contra a ordem tributária. A peculiaridade nesses crimes da Lei 8.137, no artigo 1º, incisos I ao IV, para que possa haver relevância penal do comportamento é o lançamento definitivo. O lançamento definitivo é uma condição objetivade punibilidade? Súmula Vinculante 24 do STF.
NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.
 “Não se tipifica”, então não é condição objetiva de punibilidade. 
 Ainda há disposição na Lei 7.493, que é a Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro, nos artigo 9º e 10º.
Art. 9º Fraudar a fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele deveria constar:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
 Também tem um dispositivo na lei 11.101, que é a Lei de Falências e Recuperações, artigo 171, que é o crime de indução a erro.
Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia-geral de credores, o Comitê ou o administrador judicial:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
 É um tipo de falsidade ideológica no posto da falência, da recuperação judicial ordinária ou especial, que é um processo e, também, na recuperação extrajudicial que tem natureza de acordo extrajudicial. Você devedor empresário faz um acordo com seus credores quirografários e esse acordo é levado à Justiça que homologa. Então é qualquer forma de omissão, sonegação ou prestação de informações que visam dificultar não só o Juiz e o MP, mas também o Administrador Judicial, que era a antiga figura do SIM e os próprios credores.
	Aqui nos crimes da Lei de Falências, qual fato/circunstância tem que existir para que ocorra a percepção penal? Artigo 180 da Lei de Falências. A decretação da falência, a concessão da recuperação judicial ou a homologação da recuperação extrajudicial é condição objetiva de punibilidade. (Isso vai cair na prova e vocês vão errar!)
Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei.
	Ainda quanto à legislação especial, a Lei 9.605, que é a Lei dos Crimes Ambientais, artigo 66.
Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
	É um crime próprio, pois tem que ser praticado por funcionário público. É uma falsidade ideológica no âmbito de instrumentos valiosos para a proteção ambiental, o licenciamento ambiental é um instrumento importante da política nacional do meio ambiente. É um procedimento administrativo, são na verdade em três etapas, três tipos de licenciamento ambiental. Isso é importante para verificar se naqueles empreendimentos suscetíveis de causarem impactos ambientais expressivos é imperativo, é necessário o licenciamento ambiental. Qualquer informação desencontrada com a verdade ou omissão de um fato que deveria constar nesse licenciamento configura crime ambiental.
	Por fim, essa Lei vocês não vão encontrar no código provavelmente, é a Lei 8383, artigo 64. Esse artigo pune a abertura de conta fantasma, que traduz uma espécie de falsidade.
Art. 64. Responderão como co-autores de crime de falsidade o gerente e o administrador de instituição financeira ou assemelhadas que concorrerem para que seja aberta conta ou movimentados recursos sob nome:
I - falso;
II - de pessoa física ou de pessoa jurídica inexistente;
III - de pessoa jurídica liquidada de fato ou sem representação regular.
Parágrafo único. É facultado às instituições financeiras e às assemelhadas, solicitar ao Departamento da Receita Federal a confirmação do número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Geral de Contribuintes.
	É a abertura de conta fantasma de pessoa jurídica que já foi liquidada ou que não existe, ou de uma pessoa física que não existe. É um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo administrador da instituição financeira ou pelo gerente e que dá azo a uma falsidade ideológica também, mas no bojo da Lei 8383. (Pode deixar que eu não vou cobrar isso na prova porque é muita maldade)
	Dito isso, podemos passar agora para dois artigos aqui, ainda no bojo da falsidade ideológica, que são o 300 e o 302. O artigo 300 nós já lemos em aulas anteriores, ele também trata de uma falsidade ideológica.
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
	 Firma é assinatura por extenso. Esse crime é o crime do Tabelião, é um crime próprio, não é qualquer um que pode reconhecer firma. Esse artigo segue a lógica de que a falsidade sobre documentos públicos merece uma reprimenda maior
	O artigo 301 também trata de uma falsidade ideológica.
Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Falsidade material de atestado ou certidão
§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa
	Como esse atestado ou certificação falsa se dá em razão da função pública, também não é um crime comum. É crime próprio porque é preciso que esse atestado se dê em razão da função pública. 
	Existe um porém aqui em relação ao artigo 302. Esse artigo também trata da falsidade de atestado médico, é até um crime bastante cobrado pra quem quer fazer prova pra delegado, é uma disposição que cai inclusive na prova de medicina legal.
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
	O artigo 302 é um crime próprio, pois só o médico pode dar atestado médico no exercício de sua função. Mas, se esse médico for funcionário público ele se enquadrará no artigo 301 e não no 302. O artigo 302 se aplica ao médico particular.
	Se eu for médico funcionário público e dou atestado, mas eu dou o atestado sem ser para esse fim que o artigo especifica? A gente vai estudar um artigo que se encaixaria nesta hipótese, que é o crime de Prevaricação.
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Aqui não tem falsidade. O sujeito retarda ou deixa de praticar um ato de ofício para satisfazer um interesse ou sentimento pessoal, mas não tem falsidade aqui.
E quem falsifica atestado do médico? Aí se pratica o crime de falsidade documental, é falsificação de documento particular. Você não é médico, não tem registro, não tem CRM, não tem nada, mas dá um carimbo lá e diz que é médico. Nesse caso você estaria falsificando o documento desde o princípio seria uma falsidade material, externa. Dependendo do caso, pode ser um outro crime.O interessante no artigo 302, ainda, é que, por exemplo, se o médico particular dá um atestado falso sabendo que você vai utilizá-lo para fins de sonegação, defende-se que o médico vai praticar o crime de sonegação fiscal. A sonegação fiscal vai absorver o crime de atestado falso pelo princípio da consunção.
Passando para o artigo 289, temos o crime de moeda falsa. Moeda falsa também é uma falsidade material, falsidade externa.
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
O bem jurídico tutelado é a credibilidade, é a confiança no sistema de emissão de moeda. Tem uma repercussão importante na economia. Quem tem competência para legislar sobre a emissão de moeda é a União, está lá no artigo 48, XIV da Constituição Federal.
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.
Também achamos disposições sobre isso na Constituição no artigo 22,VI, artigo 21, VII e também no artigo 164, na parte de direito financeiro.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
Art. 21. Compete à União:
VII - emitir moeda;
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo banco central .
§ 1º - É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira.
§ 2º - O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros.
§ 3º - As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei.
 A competência para julgar o crime de moeda falsa é da Justiça Federal, artigo 109, IV, da Constituição Federal, porque o crime de moeda falsa é um crime em detrimento do interesse da União. 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
	O tipo objetivo fala em “falsificar, fabricando-a ou alterando-a”, então ocorre o crime quando você fabrica a moeda falsa ou altera. O que significa uma moeda ter curso legal? Significa que ela não pode ser recusada como forma de pagamento. Se ela tem curso penal, você não pode recusar como meio de pagamento, no caso aqui é o real. 
	A Lei 9.069, artigo 1º diz que o real é a moeda nacional e que tem curso legal. 
 Art. 1º A partir de 1º de julho de 1994, a unidade do Sistema Monetário Nacional passa a ser o REAL, que terá curso legal em todo o território nacional.
	Basicamente é o seguinte aqui, o que pode ser objeto material desse crime? Se, por exemplo, eu falsifico quinhentas cédulas de cruzados eu estou praticando esse crime? E se eu falsifico vale-refeição? E se eu falsifico vale-transporte? Não cabe, aqui é só o real. Pode incorrer aqui quem falsifica outros símbolos nacionais, como por exemplo o selo. Literalmente, ao meu ver, a falsificação do dólar não seria típica porque você não é obrigado a aceitar o dólar como meio de pagamento. Eu vou dar uma olhada na Lei 9.069 pra ver se tem alguma disposição nela fazendo essa ressalva, mas eu acredito que não. 
 	E a falsificação de outros títulos de crédito professor? Aí, dependendo do que você for pretender realizar, vai ser crime de duplicata falsa. Artigo 172, CP.
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. 
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
	A falsificação de moeda estrangeira entra no artigo 289 professor? O grande problema aqui é que você não é obrigado a aceitar o pagamento em moeda estrangeira. Então porque está escrito “que tenha curso legal no país ou no estrangeiro”? Sim, Nesse ponto não haveria problema nenhum. Ao meu ver, literalmente você fala que tenha curso legal no país, o comerciante brasileiro não tem obrigação de aceitar o dólar. Mas, em sendo o dólar um moeda válida que tem curso legal no estrangeiro poderia ser objeto material desse crime. Mas eu vou ver o que diz a Lei 9.069. Sinceramente eu não sei. 
O princípio da insignificância se aplica aqui ou não? É possível que vocês encontrem um ou outro julgado que aceite, mas a jurisprudência do Supremo vem negando, diz assim “Não importa se você falsificou cédula de pequeno valor, o que está em jogo aqui é a fé pública, que é um bem jurídico coletivo e por menor que seja a quantia, já seria idôneo violar, fraudar a fé pública”. Isso está no Informativo 548 do STF. Por menor que seja o valor da cédula, a falsificação já é suficiente para defraudar a confiança que a população deposita na autenticidade da moeda. Então, no caso da fé pública, que é um bem jurídico considerado pelo Supremo como importante, como ser coletivo, é afastada qualquer possibilidade de aplicação do princípio da insignificância. 
No Projeto Sarney de novo Código Pena tem uma disposição que fala em pequeno valor, mas salvo engano, é no caso do cidadão que adquire bens de pequena monta por meio de moedas falsas de pequeno valor. Seria um privilégio, reduz a pena na verdade. É uma disposição que não consta no artigo 289 atual. 
Reiterando, não está contido como objeto material do artigo 289 nem vale postal, nem vale-refeição, nem qualquer outro padrão monetário oficial. 
Como fica aquele caso dos caras que criaram a nota de dois reais muito parecida com a nota de dois reais, sendo que teve gente que por algum motivo aceito aquela nota? Aí cabe o enunciado sumular 73 do STJ, que diz que se a falsificação é grosseira o crime é de estelionato. 
Súmula 73, STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.
	Falsificação grosseira, via de regra, é estelionato porque se a falsificação é grosseira não seria hábil defraudar a fé pública, a população em geral. A maioria das pessoas sabe que nota de três reais não existe. Mas é claro que há pessoas e pessoas. Esse é um raciocínio sempre presente, o estelionato acaba sendo um crime que se apresenta ali quando a tipificação não parece muito precisa, porque ela pode não violar a fé pública, mas pode ludibriar alguém de menos informação.
	Ainda sobre o artigo 289 do CP, trata-se de um tipo misto cumulativo conforme sustenta a maior parte da doutrina. Ou seja, se você fabrica e altera haveria no fim ou um concurso material ou um crime continuado, dependendo das circunstâncias.
	O importante

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