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I ÍNDICE 1) Introdução à Ciência dos Materiais 1.1) Classes de Materiais 1.1.1) Metais 1.1.2) Cerâmicas 1.1.3) Polímeros 1.1.4) Compósitos 1.1.5) Semi-Condutores 1.2) Propriedades dos materiais e seu processamento 2) Estrutura Atómica 2.1) Estrutura atómica 2.1.1) Equação de Schrödinger 2.1.2) Números Quânticos 2.1.2.1) Número quântico principal (n) 2.1.2.2) Número quântico secundário ou angular (l) 2.1.2.3) Número quântico magnético (ml) 2.1.2.4) Número quântico de spin (ms) 2.1.2.5) Combinações possíveis de números quânticos 2.1.2.6) Degenerescência 2.1.2.7) Níveis, subníveis e orbitais 2.1.3) Orbitais atómicas 2.1.4) Forma das orbitais 2.2.1) Preenchimento das orbitais atómicas 2.2.1.1) Regras de preenchimento 2.2.1.2) Obtenção das configurações electrónicas II 2.2.1.3) Estado de preenchimento das orbitais 2.2.2) Representação da configuração electrónica 2.3) Termodinâmica e Cinética 2.4) Ligação Química 2.4.1) Noção de ligação química 2.4.2) Parâmetros da estrutura molecular 2.4.2.1) Energia das ligações 2.4.2.2) Comprimento das ligações 2.4.2.3) Ângulos das ligações 2.4.3) Principais teorias da ligação química 2.4.4) Ligações por compartilhação de electrões 2.4.4.1) Ligação covalente 2.4.4.1.1) Ião-Molécula de Hidrogénio 2.4.4.1.2) Molécula de Hidrogénio 2.4.4.1.3) Orbitais moleculares 2.4.4.1.3.1) Orbitais moleculares bicêntricas 2.4.4.1.3.2) Orbitais moleculares pluricêntricas 2.4.4.1.3.3) Hibridação das orbitais atómicas 2.4.4.1.4) Preenchimento de orbitais moleculares. Ordem de ligação 2.4.4.1.5) Electronegatividade dos átomos. Influência na ligação química 2.4.4.1.5.1) Polaridade das ligações 2.4.4.1.6) Geometria de Sidgwick e Powell (VSEPR) 2.4.4.2) Ligação coordenada 2.4.4.2.1) Formação de complexos 2.4.4.2.2) Terminologia usada em compostos de coordenação 2.4.4.2.3) Quelatos 2.4.4.3) Ligação metálica 2.4.4.3.1) Características da ligação metálica III 2.4.4.3.2) Propriedades físicas dos metais 2.4.5) Ligações de natureza electrostática 2.4.5.1) Ligação iónica 2.4.5.1.1) Propriedades dos compostos predominantemente iónicos 2.4.5.1.2) Cristais iónicos 2.4.5.2) Ligações fracas (forças de Van der Walls) 3) Estruturas Cristalinas 3.1) Materiais cristalinos 3.2) Estrutura cristalina dos metais 3.2.1) Sistema cúbico 3.2.1.1) Sistema cúbico simples 3.2.1.1.1) Número de coordenação para o sistema cúbico simples 3.2.1.1.2) Relação entre raio atómico (r) e parâmetro de rede (a) 3.2.1.1.3) Factor de empacotamento atómico 3.2.1.2) Sistema cúbico de corpo centrado 3.2.1.2.1) Número de coordenação para o sistema cúbico de corpo centrado 3.2.1.2.2) Relação entre raio atómico (r) e parâmetro de rede (a) 3.2.1.2.3) Factor de empacotamento atómico 3.2.1.3) Sistema cúbico de face centrada 3.2.1.3.1) Número de coordenação para o sistema cúbico de face centrada 3.2.1.3.2) Relação entre raio atómico (r) e parâmetro de rede (a) 3.2.1.3.3) Factor de empacotamento atómico 3.2.1.4) Resumo do sistema cúbico 3.2.2) Cálculo da densidade 3.2.3) Sistema hexagonal 3.2.3.1) Sistema hexagonal simples 3.2.3.2) Sistema hexagonal compacto 3.2.4) Raio atómico e estrutura cristalina de alguns metais IV 3.3) Sistemas cristalinos 4) Polimorfismo ou alotropia 4.1) Polimorfismo do Ferro 4.2) Polimorfismo do Titânio 5) Direcções nos cristais 5.1) Direcções para o sistema cúbico 5.1.1) Sistema cúbico de corpo centrado 5.1.2) Sistema cúbico de face centrada 6) Imperfeições cristalinas 6.1) Exemplos de efeitos na presença de defeitos nos materiais 6.2) Imperfeições estruturais 6.2.1) Defeitos pontuais 6.2.1.1) Vazios 6.2.1.2) Átomos intersticiais 6.2.1.3) Defeitos de Frenkel 6.2.1.4) Defeitos de Schottky 6.2.1.5) Considerações gerais 6.2.1.6) Impurezas nos sólidos 6.2.1.7) Ligas metálicas 6.2.2) Defeitos lineares 6.2.2.1) Considerações gerais 6.2.3) Defeitos planos ou interfaciais 6.2.4) Defeitos volumétricos 6.3) Difusão 6.3.1) Tipos de difusão 6.3.2) Factores que favorecem a difusão 6.3.3) Factores que dificultam a difusão 7) Propriedades mecânicas dos metais V 7.1) Principais propriedades mecânicas 7.2) Tipos de tensões 7.3) Determinação das propriedades mecânicas 7.3.1) Testes de determinação de propriedades mecânicas dos metais 7.3.1.1) Resistência à tracção 7.3.1.1.1) Módulo de elasticidade ou Módulo de Young 7.3.1.1.2) Considerações gerais 7.3.1.2) Resistência à compressão e à torção 7.3.1.2.1) Módulo de cisalhamento ou de rigidez 7.3.1.3) Tensão de escoamento 7.3.1.3.1) Limite de escoamento 7.3.1.4) Informações que se podem obter de uma curva tensão Vs deformação 7.3.2) Propriedades mecânicas de alguns metais 7.4) Variação das propriedades mecânicas com a temperatura 8) Propriedades eléctricas e magnéticas 8.1) Condutividade eléctrica 8.1.1) Semi-condutores 8.2) Condutividade e ligação química 8.2.1) Metais 8.2.2) Semi-condutores 8.2.2.1) Nível de energia de Fermi 8.2.2.2) Condução intrínseca 8.2.2.3) Condução extrínseca 8.3) Propriedades magnéticas 8.3.1) Ferromagnetismo 1 CIÊNCIAS DOS MATERIAIS 1) INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DOS MATERIAIS Definição: Ciência dos materiais é um ramo da ciência relativo ao estudo dos materiais e a relação entre as suas propriedades, estrutura, performance, formas de caracterização e processamento. Cada processamento altera a estrutura do material, alterando, assim, as suas propriedades que, por sua vez, delimitam o seu desempenho. 1.1) Classes de Materiais: Metais (ferro, alumínio, prata, ouro…) Cerâmicas (areia, tijolo, vidro…) Polímeros (celulose, nylon, polietileno, teflon, poliestireno, …) Compósitos (fibra de carbono, cimento, …) Semi-condutores (silicone, germânio, …) Ao conhecer as semelhanças e as diferenças entre os diferentes tipos de materiais, podemos fazer a escolha certa, de acordo com o avanço tecnológico. Agrupamento de materiais: porquê? Alguns materiais têm estruturas atómicas ou propriedades semelhantes, o que faz com que se agrupem desta forma, distribuídos pelos 2 5 grupos referidos. No entanto, deve-se ter em conta que esta classificação é, de alguma forma, arbitrária. As propriedades dos materiais estão relacionadas com a sua estrutura. Para compreender estas propriedades, temos que analisar as estruturas macroscópica e microscopicamente. Uma vez que as propriedades dos materiais dependem da sua estrutura, a forma como cada material é processado afecta a sua estrutura e, consequentemente, as suas propriedades. 1.1.1) Metais Os metais formam sólidos nos quais os átomos estão localizados em posições regulares, bem definidas e repetidas ao longo da estrutura. Estas estruturas regulares e repetidas denominam-se cristais e dão origem a propriedades específicas. Os metais são excelentes condutores de corrente eléctrica, são relativamente resistentes, são densos, podem ser moldados em formas 3 complexas e são resistentes a fissuras, quando sujeitos a forças de grande impacto. Este conjunto de propriedades mecânicas e físicas torna os metais uma das mais importantes classes de materiais para aplicações eléctricas e estruturais. Os metais são utilizados na indústria automóvel, na aeronáutica, na construção de edifícios e pontes, em maquinaria variada e ferramentas, em muitas outras áreas, onde a combinação de elevada resistênciaà quebra e forças externas é requerida. O conhecimento dos metais e das suas propriedades é, actualmente, muito avançado. Têm-se vindo, no entanto, a desenvolver melhoramentos no processamento deste tipo de material. 1.1.2) Cerâmicas As cerâmicas são, geralmente, compostas por espécies atómicas metálicas e não-metálicas. Muitas, mas não todas, as cerâmicas são cristalinas e, frequentemente, o não-metal é o oxigénio (Al2O3, MgO e CaO). Uma diferença significativa entre as cerâmicas e os metais reside nas ligações: nas cerâmicas existem ligações covalentes e/ou iónicas, enquanto que, nos metais, as ligações são apenas covalentes. Assim, as cerâmicas não têm electrões “livres”. 4 Normalmente, as cerâmicas são maus condutores de corrente eléctrica, mas são muito usadas como isoladores, em aplicações eléctricas. São muitas vezes usadas para isolar diferentes metais, par evitar curto- circuito. As ligações iónicas e covalentes são extremamente fortes. Em resultado disso, as cerâmicas são, intrinsecamente, mais fortes que os metais. No entanto, e devido à sua estrutura mais complexa, os átomos e iões não podem ser tão facilmente separados por aplicação de forças. Em vez de se reorganizarem para absorver essas forças, as cerâmicas tendem a quebrar. Esta fragilidade, normalmente, limita o uso de cerâmicas como materiais estruturais, embora melhoramentos recentes tenham sido conseguidos, misturando fibras cerâmicas em matrizes cerâmicas. A configuração rígida das cerâmicas confere outras vantagens, incluíndo estabilidade a altas temperaturas, resistência à absorção de substâncias externas e resistência a ataques químicos. São o material ideal para aplicações a altas temperaturas, como contentores de reagentes químicos e como louças, onde se evitam, assim, contaminações. Algumas cerâmicas não são cristalinas. O exemplo mais comum de uma cerâmica não cristalina é o vidro, que é composto por SiO2 (dióxido de silício ou sílica), com adição de vários óxidos metálicos. As propriedades ópticas são de grande importância no vidro, e podem ser controladas através da composição e processamento. As propriedades térmicas e mecânicas do vidro podem também ser controladas. Por exemplo, o vidro “inquebrável” tem constituição igual à do vidro “normal”, mas é sujeito a um ciclo térmico diferente, que deixa a sua superfície num estado de compressão, tornando- o muito mais resistente a fissuras. De facto, é difícil partir um vidro sujeito a este tipo de tratamento, mesmo com um martelo. 5 Algumas aplicações potenciais para materiais cerâmicos, com grande impacto económico, são: - na indústria automóvel, como componentes dos motores, devido às suas propriedades térmicas e de resistência; - cerâmicas com base de YBa2Cu3O7 e Ba2Sr2CaCu2Ox são óptimos supercondutores, a temperaturas superiores a 95 K, pelo que podem ser aplicadas em variadíssimas áreas; - como componentes eléctrico-ópticos em computadores, que aumentam a velocidade e a eficiência. 1.1.3) Polímeros Os polímeros são constituídos por moléculas de cadeia longa, com repetição de grupos, que estão fortemente ligados por ligações covalentes. C, O, N e Si são elementos que, normalmente, pertencem ao esqueleto da cadeia. Polietileno: é um exemplo de um polímero com uma estrutura simples As ligações do esqueleto são todas covalentes, pelo que as cadeias moleculares são muito fortes. No entanto, as cadeias ligam-se umas às outras através de ligações secundárias, relativamente fracas. Isto significa 6 que é relativamente fácil as cadeias deslizarem umas sobre as outras, quando são aplicadas forças, e a resistência é relativamente pequena. Muitos polímeros têm tendência a derreter a temperaturas moderadas, pelo que não podem ter aplicações que impliquem temperaturas elevadas. Os polímeros apresentam, no entanto, propriedades que os tornam atractivos para muitas aplicações. Uma vez que contêm elementos comuns e são relativamente fáceis de sintetizar, ou existem naturalmente, são pouco dispendiosos. Apresentam baixa densidade, devido à sua constituição, a partir de elementos leves, e são facilmente moldáveis em formas complexas. Assim, os polímeros substituíram os metais em peças moldáveis, de diferentes aplicações, principalmente devido ao seu baixo custo. São também utilizados como contentores e tubos de canalização. Assim como para os metais e as cerâmicas, as suas propriedades podem ser modificadas por alteração da composição e do processamento. Por exemplo, a substituição de um hidrogénio por um benzeno, em cada 4 hidrogénios do polietileno, transforma-o em poliestireno. O polietileno é flexível e é usado em aplicações tais como garrafas deformáveis. No poliestireno, os benzenos, relativamente maiores, restringem o movimento da cadeia, tornando-se um material mais rígido. Se o benzeno, do poliestireno, for substituído por um átomo de cloro (tamanho intermédio entre o hidrogénio e o benzeno), obtém-se policloreto de vinil (PVC). O cloro dá uma resistência ao movimento maior que o 7 hidrogénio e menor que o benzeno. É, então, obtido um material com propriedades, de alguma forma, intermédias entre o polietileno e o poliestireno. Estes três polímeros ilustram o princípio fundamental, aplicável a todos os materiais, da relação entre a constituição e as propriedades correspondentes. Algumas aplicações dos polímeros: - O desenvolvimento de polímeros biodegradáveis oferece o potencial para minimizar o impacto negativo no meio ambiente, que resulta da tremenda quantidade de resíduos que a nossa sociedade produz. - A tecnologia avançada de polímeros cristal-líquido pode permitir o desenvolvimento de materiais estruturais leves. - Polímeros condutores de corrente eléctrica podem substituir os tradicionais fios metálicos em aplicações que exijam materiais mais leves. 1.1.4) Compósitos Compósitos são estruturas nas quais dois ou mais materiais são combinados para produzir um novo material, cujas propriedades não seriam conseguidas de forma convencional. Exemplos: contraplacado, cimento e pneus. 8 As aplicações mais frequentes de compósitos reforçados com fibras são como materiais estruturais, onde a rigidez, resistência e baixa densidade são propriedades importantes. Muitas raquetes, bicicletas e skis são fabricados em compósitos de epóxido e fibra de carbono, material que é leve, resistente e moderadamente dispendioso. Neste compósito, as fibras de carbono são misturadas numa matriz de epóxido. Estas fibras são resistentes e rígidas, mas apresentam ductilidade limitada. Devido ao seu brilho, não seria prático construir uma raquete ou uma bicicleta apenas a partir de carbono. O epóxido, que por si só não é muito resistente, tem dois aspectos importantes: funciona como um meio para transportar as fibras, e o interface matriz-fibra deflecte e evita pequenas fissuras, obtendo-se, assim, um compósito mais capaz de resistir a fissuras do que qualquer um dos seus componentes em separado. 1.1.5) Semi-condutores Os materiais mais conhecidos como semi-condutores são constituídos por ligações covalentes entre os elementos, como a silicone, germânio e compostos incluíndo GaAs, CdTe e InP. Alguns semi-condutores podem ser considerados como uma subclasse das cerâmicas, uma vez que as características de ligação e as propriedades mecânicas de ambos são muito similares. No entanto, a importância comercial dos semi-condutores garantem-lhes uma classificação distinta.9 O processamento dos semi-condutores tem que se realizar de forma a permitir um controlo preciso de composição e estrutura. Neste tipo de processamento, o controlo de impurezas dá-se numa escala de partes por milhão (ppm). A aplicação maioritária deste tipo de material está inerente à micro- electrónica. Com os avanços tecnológicos, temos evoluído para máquinas e processadores cada vez mais pequenos e leves, pelo que se tem que garantir que os semi-condutores sejam capazes de operar a uma velocidade cada vez maior e com uma maior precisão. 1.2) Propriedades dos materiais e o seu processamento Os materiais usados em qualquer aplicação são seleccionados com base nas suas características e propriedades, de forma a terem um desempenho adequado. Propriedades mecânicas: Na escolha de um material, tem sempre que se ter em conta a sua resistência, dureza, maleabilidade e ductilidade. Propriedades eléctricas: A propriedade eléctrica mais básica dos materiais é a condutividade, que corresponde a uma medida normalizada da quantidade de carga que irá fluir através do material, por unidade de tempo, em resposta à aplicação de um campo eléctrico. A condutividade de um material pode ser alterada significativamente por adição de impurezas: nos metais, a adição de impurezas diminui a condutividade, uma vez que o átomo “impuro” interfere com o livre movimento dos electrões que transportam a corrente eléctrica neste tipo de materiais, por aumento da resistência; no caso dos semi-condutores, a 10 adição de pequenas quantidades de uma espécie “estranha” faz com que haja um aumento bastante significativo de condutividade; no caso dos polímeros, a condutividade pode ser significativamente afectada pela presença de impurezas, quer por ocorrência natural na sua constituição, quer pela presença de impurezas na superfície. Efeitos do ambiente: o ambiente refere-se a factores tais como a temperatura, pressão e humidade. Um aumento de temperatura, normalmente, diminui a resistência da maior parte dos materiais, assim como aumenta a velocidade de reacções que ocorram à superfície dos materiais, muitas das quais degradam as propriedades iniciais dos mesmos. Como exemplo mais comum, pode-se referir a corrosão (formação de um óxido e sua penetração na constituição do material). A corrosão é um fenómeno complexo, que se manifesta de várias formas, por ataque de espécies iónicas existentes no meio ambiente. A degradação de polímeros, a partir de luz ultra violeta tem um impacto negativo nas propriedades do material. Por outro lado, a oxidação controlada de algumas cerâmicas pode melhorar significativamente as suas propriedades. Deve-se ter em atenção, portanto, o impacto que o ambiente pode provocar nos materiais, mas também no impacto que os materiais podem ter no ambiente, tendo em atenção factores como a poluição causada e mecanismos de reciclagem disponíveis, etc… 11 2) ESTRUTURAS À ESCALA ATÓMICA As ligações atómicas têm características diferentes, dependendo dos átomos ou grupos de átomos envolvidos. O carácter da ligação determina as propriedades físicas, mecânicas e químicas, incluíndo o estado de agregação, assim como a estrutura, dentro de determinadas condições. Exemplo: carbono. As ligações de carbono podem ter diferentes carácteres, dependendo das condições sob as quais o composto é formado. Duas formas alotrópicas do carbono são a grafite e o diamante. - Grafite: As ligações primárias existem num plano; as ligações entre os átomos de carbono que se estendem ao longo de um plano são bastante fortes e há a formação de uma malha bidimensional. As forças que ligam planos adjacentes são mais fracas. A estrutura é, então, formada de forma a que planos adjacentes possam deslizar uns sobre os outros e o material apresenta boas propriedades de lubrificação. A grafite é a forma mais estável do elemento à temperatura e pressão ambientes. 12 - Diamante: Neste cristal, cada átomo de carbono está ligado covalentemente a quatro outros átomos de carbono nos vértices de um tetraedro. Esta estrutura pode ser obtida a partir da grafite, por aplicação de altas pressões e temperaturas. O diamante é a estrutura cristalina mais dura actualmente conhecida. É possível produzir diamantes comercialmente. Uma das suas mais conhecidas aplicações é na forma de lâminas, para cortar minerais duros. Apesar de as propriedades dos materiais dependerem, a todos os níveis, da sua estrutura, muitas propriedades são determinadas apenas pela estrutura atómica. Por estrutura atómica entenda-se: - o tipo de átomos presente; - os tipos de ligação entre os átomos; - o modo como os átomos são empacotados. 13 2.1) Estrutura atómica Toda a matéria é composta por átomos e as propriedades de um átomo são determinadas por vários factores, entre os quais: - o número atómico (Z), que corresponde ao número de electrões ou protões num átomo neutro; - a massa do átomo; - a distribuição espacial dos electrões pelas órbitas em torno do núcleo; - a energia dos electrões pertencentes ao átomo; - a facilidade de adição ou remoção de electrões aos átomos, de forma a criar espécies carregadas (iões). Os últimos 3 factores podem ser alterados por condições externas (por exemplo, a partir do efeito fotoeléctrico). A Teoria da Mecânica Quântica descreve a interacção dos electrões, protões e neutrões nos átomos e moléculas. Um dos princípios da Mecânica Quântica aceita que o átomo apresenta características de onda e de partícula, considerando-o como uma onda energética. A equação que descreve o comportamento dos electrões é a equação de Schrödinger, desenvolvida por Erwin Schrödinger (1925). 2.1.1) Equação de Schrödinger Para o movimento de uma partícula, num espaço a três dimensões, a equação é: 14 2 2 2 2 2 2 2 2 8 0m E V x y z h Nesta equação são conhecidos: - m: massa da partícula - V: energia potencial E pretende-se obter: - E: valores quantificados possíveis de energia da partícula, chamados valores próprios; - Ψ: a função de onda, que pode ter uma infinidade de expressões, chamadas funções próprias. Quando se aplica aquela equação a qualquer caso concreto, susceptível de resolução, verifica-se que a resolução só é possível para certos valores de E, com validade física, relacionáveis por intermédio de números – os chamados números quânticos. As funções próprias, Ψ, não permitem dizer qual a posição exacta da partícula, num determinado instante de tempo. Só permitem exprimir, matematicamente, como varia, de região para região do espaço, a probabilidade de se encontrar essa partícula. Essa probabilidade é directamente proporcional ao valor que tem Ψ2 (função real), num dado ponto. Desta forma, não faz sentido falar em trajectórias de partículas, o que está de acordo com o Princípio da Incerteza de Heisenberg. A resolução da equação de Schrödinger só é possível para o átomo de hidrogénio ou para partículas hidrogenóides (que só têm um electrão), e leva ao aparecimento de três números quânticos, a partir dos quais se podem especificar as energias permitidas para o electrão e o seu comportamento geral no átomo. 15 2.1.2) Números quânticos Os números quânticos mais importantes são: - número quântico principal (n); - número quântico secundário ou angular (l); - número quântico magnético (ml).Estes três números provêm todos da equação de Schrödinger. - número quântico de spin (ms) Este número é referente a certas propriedades magnéticas intrínsecas de partículas elementares. 2.1.2.1) Número quântico principal (n) É um número que pode tomar qualquer valor inteiro e positivo (n = 1, 2, 3,…, ∞). Como o nome indica, é o mais importante e o seu valor determina a energia do electrão numa partícula hidrogenóide, de acordo com a expressão: 2 1 2 2 2 2 me ZE n h Onde: E – energia m – massa do electrão e – carga do electrão Note-se que todas as grandezas são positivas e todas as energias são negativas, sendo o valor máximo 0E , para n . Este valor significa que o 16 electrão deixou de pertencer à partícula, isto é, de estar submetido à influência do núcleo. Assim, encontram-se no mesmo nível de energia os electrões que tiverem o mesmo número quântico principal. 1n 1º nível de energia 2n 2º nível de energia 3n 3º nível de energia Etc… Este número também está relacionado com o tamanho da orbital: o tamanho da orbital será tanto maior quanto maior for o valor de n, isto é, electrões a que correspondem maiores valores de n, têm maior probabilidade de se encontrarem mais afastados do núcleo. 2.1.2.2) Número quântico secundário ou angular (l) Verifica-se que os níveis de energia são, afinal, constituídos por subníveis, que dependem do movimento angular do electrão, tendo sido necessário, por isso, considerar um novo número quântico – Número quântico secundário (l). O valor de l condiciona o momento da quantidade de movimento do electrão, sendo esse momento tanto maior quanto maior for l. O momento da quantidade de movimento, também chamado de momento cinético ou momento angular, é o vector definido por r mv . 17 Se um electrão tiver momento angular não nulo, tem uma certa energia cinética angular que é, necessariamente, inferior à energia total do electrão. Logo, não é de surpreender que a teoria restrinja os valores permitidos a l, conforme o valor de n. Assim, este número quântico, l, pode assumir todos os valores inteiros que vão de 0 a n-1. Por exemplo, teremos: n=1 l=0 (1 subnível) n=2 l=0 e l=1 (2 subníveis) n=3 l=0, l=1 e l=2 (3 subníveis) Etc… De um modo geral, no nível “n” haverá “n” subníveis. Este número quântico está relacionado com a forma das orbitais, o que será abordado mais à frente. 2.1.2.3) Número quântico magnético (ml) Para distinguir os electrões, de acordo com o seu comportamento, na presença de campos magnéticos, foi necessário introduzir o número quântico magnético, ml, que se relaciona com a orientação da orbital. mv mv 18 Visto esse campo magnético ter por origem o momento cinético do electrão, é de esperar que os valores possíveis para ml dependam do correspondente valor de l. Assim, este número quântico pode, para cada valor de l, ser qualquer número inteiro entre –l e +l, incluindo o 0. Por exemplo: l = 2 → ml = -2, -1, 0, +1, +2 Os electrões que ocupam a mesma orbital têm números quânticos n, l e ml iguais. Sendo assim, podemos dizer que a subcamada com l=2 engloba 5 orbitais (caracterizadas pelos valores de ml iguais a -2, -1, 0, +1 e +2). De um modo geral, o número de orbitais que uma subcamada l engloba é de 2 1l orbitais. 2.1.2.4) Número quântico de spin (ms) Além do efeito magnético proveniente do seu momento cinético, o electrão tem uma propriedade magnética intrínseca. Se um feixe de átomos de hidrogénio passar no seio de um campo magnético forte e não homogéneo, verifica-se que o feixe é dividido em dois. Isto deve-se ao facto de os electrões possuírem movimento de rotação (spin, em Inglês), e serem partículas carregadas electricamente. O pequeno campo magnético, criado pelo electrão em rotação, faz com que o átomo respectivo se comporte, grosseiramente, como um minúsculo íman. Como só há dois sentidos possíveis para esse movimento, o número quântico associado ao spin do electrão só pode ter dois valores: + ½ e – ½. 19 2.1.2.5) Combinações possíveis dos números quânticos Como o valor de “n” restringe o valor de “l”, e este, por sua vez, o de “ml”, só são permitidas certas combinações dos quatro números quânticos para electrões num átomo. Para n=1: l = 0 ml = 0 ms=- ½ e + ½ Logo, há duas maneiras de uma partícula hidrogenóide poder estar no seu estado fundamental (notar que n = 1), correspondente aos dois conjuntos seguintes de números quânticos: 1,0,0, 1/2 1,0,0, 1/2 Para n=2: l = 0 e 1 ml = -1, 0 e 1 ms=- ½ e + ½ Logo: n=2 l = 0 ml = 0 ms = - ½ 2,0,0, 1/2 ms = + ½ 2,0,0, 1/2 l = 1 ml = -1 ms = - ½ 2,1, 1, 1/2 ms=+ ½ 2,1, 1, 1/2 ml = 0 ms = - ½ 2,1,0, 1/2 ms = + ½ 2,1,0, 1/2 ml = +1 ms = - ½ 2,1, 1, 1/2 ms = + ½ 2,1, 1, 1/2 Regra geral, o número de combinações possíveis dos números quânticos correspondentes a um dado valor de n é dado pela fórmula: 2n2. 20 2.1.2.6) Degenerescência Como já foi referido, a energia total do electrão, numa partícula hidrogenóide, depende exclusivamente do valor de n. Logo, desde que n › 1, há vários estados com a mesma energia, visto que o número quântico de spin não tem qualquer influência na energia de uma partícula isolada. Estados com a mesma energia dizem-se degenerados, sendo o grau de degenerescência avaliado pelo número de valores de ml, isto é, pelos valores que ml pode assumir. Assim, será: l = 0 1 valor de ml Degenerescência nula l = 1 3 valores de ml Degenerescência tripla l = 2 5 valores de ml Degenerescência quíntupla Etc… 2.1.2.7) Níveis, subníveis e orbitais Estes são os três termos frequentemente utilizados no estudo da configuração electrónica dos átomos. a) Nível (ou camada): conjunto dos quatro números quânticos correspondentes a um mesmo valor de n. de uma forma geral, pode escrever-se: 1 , 0 a n-1 , -l a +l , 2 n l ml . b) Subnível (ou subcamada): subconjunto formado pelos elementos do conjunto do nível correspondentes a um mesmo valor de l, isto é, o conjunto dos quatro números quânticos possíveis para um electrão 21 num átomo, correspondentes aos mesmos valores de n e l. De uma forma geral, pode escrever-se: 1 , , -l a +l , 2 n l ml . O número de elementos de cada subnível é dado por 2 2 1l ; com efeito, para cada valor de l existem 2 1l valores possíveis de ml e, para cada um destes, dois valores de ms. c) Orbital: conjunto dos quatro números quânticos com os mesmos valores de n, l e ml. De uma forma geral, pode escrever-se: 1 , , , 2 n l ml . É, pois, um subconjunto do subnível, que só pode ter dois elementos. 2.1.3) Orbitais atómicas Cada conjunto de valores dos números quânticos está associado a um tipo diferente de movimento do electrão e, como se viu, a Mecânica Quântica só fornece a expressão matemática 2 ou * , da probabilidade de encontrar o electrão em todo e qualquer ponto do espaço. Esta probabilidade é a melhor indicação de que se dispõe acerca do comportamento do electrão no átomo, porque, em virtude do Princípio da Incerteza de Heisenberg, o que se sabe sobre o movimento do electrãoé limitado. A Mecânica Quântica permite saber, exactamente, a probabilidade de encontrar o electrão em dois quaisquer pontos do espaço, mas não permite saber como o electrão se deslocou de um desses pontos para o outro. Perde-se, assim, a noção de órbita, mas aparece a noção de probabilidade de encontrar o electrão. A sua probabilidade chama-se orbital e pode ser numericamente caracterizada pela definição dada. 22 Há vários tipos de orbitais possíveis, de acordo com os valores de n e l que lhes estão associados. Para evitar confusões quanto ao uso destes dois números, substituem-se os valores numéricos de l por letras, com a seguinte correspondência: Valor de l 0 1 2 3 4 5 … Símbolo s p d f g h … De acordo com esta convenção, chamam-se electrões s os que têm l = 0, electrões p aqueles que têm l = 1 e assim por diante. Como o número quântico principal é representado pelo seu valor numérico, o átomo de hidrogénio, no seu estado fundamental, com n = 1 e l = 0, tem um electrão 1s ou, o que é o mesmo, a probabilidade de encontrar esse electrão corresponde a 1s. 2.1.4) Forma das orbitais As funções que satisfaçam à equação de Schrödinger representam superfícies. Daí resulta que a maneira mais corrente de representar graficamente orbitais é por meio daquelas superfícies, orientadas com respeito a um sistema de três eixos coordenados, ortogonais, cuja origem se faz coincidir com o centro de massa do átomo. Dois factos importantes há a salientar: 1º: As funções representam superfícies e, por isso, as orbitais não têm dimensões definidas. É costume, porém, fixar-lhes dimensões tais que definam um volume onde haja, por exemplo, 95% de probabilidade de encontrar um electrão, isto é, um volume com elevada densidade electrónica. 23 2º: Com excepção de Ψ(1s), há valores das coordenadas que anulam Ψ, isto é, pode haver probabilidade nula. Esses valores definem as características nodais das orbitais, que podem ser pontos nodais, rectas nodais, planos nodais ou superfícies nodais, conforme o caso. É usual representar a variação da função de onda com o raio (Ψ) e a variação de probabilidade radial (4πr2Ψ2). Figura 1.6: Representação de algumas orbitais atómicas 1s 2s 24 2p 2.2) Configuração electrónica A distribuição dos electrões pelas várias camadas e subcamadas constitui a configuração electrónica do elemento. A configuração electrónica é sempre referente ao estado fundamental, pois só assim haverá, para cada átomo, uma distribuição única de electrões por orbitais. Na prática, o estado fundamental é um estado ideal de que se aproximam átomos isolados, no estado gasoso e a pressão reduzida. 2.2.1) Preenchimento das orbitais 2.2.1.1) Regras de preenchimento O preenchimento electrónico das orbitais baseia-se nas seguintes regras: 1º: Princípio de Exclusão de Pauli Cada electrão de um átomo deve ser, inequivocamente, identificado, isto é, caracterizado por um conjunto de números quânticos único para esse 25 electrão. Logo, a cada electrão de um átomo corresponde um conjunto , , ,n l ml ms tal que, para qualquer outro electrão do mesmo átomo, pelo menos um daqueles quatro valores é diferente. Este é um dos aspectos que pode assumir o Princípio de Pauli, segundo o qual: “Dois electrões de um átomo não podem ter os mesmos valores para os quatro números quânticos.” Conclui-se, então, que uma orbital de um átomo comporta, no máximo, dois electrões com spins opostos. Dois electrões de um átomo, que tenham o mesmo valor de ms dizem- se paralelos e pertencem, obrigatoriamente, a orbitais diferentes. Se esses dois electrões tiverem valores diferentes de ms, dizem-se antiparalelos, podendo pertencer à mesma orbital ou a orbitais diferentes. 2º: Princípio da Energia Mínima As orbitais atómicas são preenchidas de forma a que a energia total do sistema seja mínima. A ordem crescente de número quântico principal não é, necessariamente, a ordem crescente de energia das orbitais, porque a energia associada a uma certa orbital depende de quais são as outras orbitais ocupadas e não é a mesma para todos os átomos. Assim, apesar de a ordem crescente de energias de orbitais atómicas ser: 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 3d < 4s < 4p….. a ordem de preenchimento das orbitais será: 26 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < 5d… Esta ordem de preenchimento é obtida a partir da regra empírica de ordenação das orbitas atómicas, baseada na mnemónica: Há, no entanto, excepções a esta regra: Cr, Mo, W, Cu, Ag, Au, La; que só podem ser interpretadas num estudo detalhado, que inclua o spin dos electrões. 3º: Regra de Hund Devido a interacções magnéticas, para uma mesma distância, dois electrões, com spins antiparalelos, repelem-se menos do que dois electrões com spins paralelos. Assim, esta regra impõe que, num átomo, enquanto o princípio de exclusão de Pauli o permitir, electrões de um mesmo subnível (mesmos valores de n e l) ocuparão orbitais correspondentes a diferentes valores de ml e terão o mesmo valor de ms. Ou seja, por outras palavras, no 27 preenchimento de orbitais com a mesma energia (orbitais degeneradas), os spins dos electrões manter-se-ão, enquanto possível, paralelos. 2.2.1.2) Obtenção das configurações electrónicas A fim de se obterem as configurações electrónicas, pode imaginar-se que um átomo é construído pelo seguinte processo: 1º: Partir do núcleo, com carga positiva, dada pelo número atómico do elemento, com as respectivas orbitais, vazias, colocadas por ordem crescente de energia. 2º: Atribuir o número devido de electrões a essas orbitais, começando pelas de menor energia e atendendo às regras de preenchimento referidas. Figura 1.7: Preenchimento das orbitais atómicas Lítio 3 electrões 1s2 2s1 1s 2s Berílio 4 electrões 1s2 2s2 1s 2s Boro 5 electrões 1s2 2s22p1 1s 2s 2p 28 Carbono 6 electrões 1s2 2s22p2 1s 2s 2p Azoto 7 electrões 1s2 2s2 2p3 1s 2s 2p Oxigénio 8 electrões 1s2 2s2 2p4 1s 2s 2p Flúor 9 electrões 1s2 2s2 2p5 1s 2s 2p Néon 10 electrões 1s2 2s2 2p6 1s 2s 2p 2.2.1.3) Estado de preenchimento das orbitais Uma orbital pode, portanto, estar: a) Completa: contém dois electrões, com spins + ½ e – ½; o seu conjunto constitui o que se chama um dupleto. b) Semipreenchida: contém um só electrão, que se diz solitário ou não emparelhado. c) Vazia: não contém electrões, ou porque tem energia demasiadamente elevada, ou porque o número de electrões é insuficiente para ficarem semipreenchidas todas as orbitais do mesmo subnível. 2.2.2) Representação da configuração electrónica Por exemplo, para o átomo de N, a configuração electrónica é: 7N = 1s 2 2s2 2p3 29 em que: - o coeficiente de cada letra é o número quântico principal; - as letras (s, p, …) descrevem a subcamada ocupada pelo electrão, ou, mais simplesmente, o tipo de orbital; - os expoentes indicam o número de electrões em cada camada. Todos os átomos, excepto o H, têm uma parte da configuração electrónica coincidente com a do gás nobre imediatamente anterior. Essa parte diz-se fechada e a representação da configuração electrónica de qualquer átomo pode simplificar-se. Assim, começa por se escrever, dentro de parêntesis rectos, o símbolo do gás nobre imediatamente anterior:[gás nobre]; a representar o núcleo do átomo e a parte fechada da sua configuração electrónica. A seguir, indicam-se os restantes electrões, por ordem crescente de número quântico principal, e que são electrões pertencentes a orbitais de energia superior à de qualquer uma das orbitais incluídas na parte fechada. Todos ou alguns destes electrões são electrões de valência, isto é, os electrões responsáveis pelas combinações entre átomos. Por exemplo: 10Ne = 1s 2 2s2 2p6 16S =1s 2 2s2 2p6 3s2 3p4 Logo, a configuração de 16S pode ser simplificada para: 16S =[10Ne] 3s 2 3p4 2.3) Termodinâmica e cinética Termodinâmica: estuda as relações entre as propriedades térmicas da matéria e as variáveis externas do sistema, como a pressão, a temperatura e a composição. As considerações termodinâmicas são 30 fundamentais para determinar se as reacções, quer químicas, quer físicas, irão ocorrer. Cinética: determina com que velocidade se dão as reacções. As reacções e as suas respectivas velocidades determinam a estrutura dos produtos resultantes, estrutura essa que determina as propriedades do material. Assim, o conhecimento da termodinâmica e cinética de uma reacção é necessário para a compreensão do comportamento dos materiais. Os princípios básicos da termodinâmica mostram que uma reacção ocorre espontaneamente apenas se essa reacção resultar numa diminuição da energia total do sistema. Na ausência dessa diminuição, a reacção não ocorre, mas o inverso não se verifica. Mesmo que uma reacção seja termodinamicamente favorável, ela pode não ocorrer. Assim, a termodinâmica estabelece algumas, mas não todas, as condições para a ocorrência de uma reacção. Alterações na estrutura das ligações podem alterar as propriedades de um material. Uma vez que estas alterações envolvem alterações de energia, as alterações estruturais são controladas pelas considerações termodinâmicas. Exemplos: Fusão de um sólido para formar um líquido Ataque químico dos materiais em ambientes agressivos Formação de um sólido a partir de átomos isolados 31 Degradação de polímeros por acção de luz ultravioleta Alterações nas variáveis do sistema podem resultar na alteração do favorecimento termodinâmico de uma dada reacção. A termodinâmica fornece informação acerca dos processos que podem ocorrer, mas não dá qualquer informação acerca da velocidade com essa reacção ocorrerá. Em muitos casos, os factores cinéticos são mais importantes que os termodinâmicos. Exemplo: O vidro usado nas janelas não é uma estrutura termodinamicamente estável. No entanto, provou-se que, à temperatura ambiente, a velocidade com que o vidro evolui para uma situação de menor energia (mais estável), é de tal ordem que o vidro pode existir na sua forma menos estável durante milhares de anos. Assim, uma reacção ou alteração estrutural só ocorrerá apenas se for favorável termodinamicamente e cineticamente. A temperatura é um factor de grande importância para a cinética da maioria dos processos químicos. Na maioria dos casos, a cinética de uma reacção aumenta exponencialmente com a temperatura. Ea RTv Ae A equação apresentada acima denomina-se equação de Arrhenius e qualquer processo que obedeça à expressão é activado termicamente. 32 Nesta expressão, A e Ea não são constantes universais. Dependem de cada reacção e do estado dessa reacção. R é uma constante universal. T corresponde à temperatura do sistema. 2.4) Ligação química 2.4.1) Noção de ligação química O facto de existirem espécies poliatómicas estáveis, formadas quer por átomos de um só elemento (exº Cl2), quer por átomos de elementos diferentes, mostra que os átomos se podem unir uns aos outros, constituindo agregados mais estáveis do que os átomos separados. Entre átomos podem, pois, existir forças atractivas, de intensidades e naturezas diferentes, que provocam modificações nos próprios átomos. As principais dessas forças, quanto à sua natureza, são: 1º Forças gravíticas: forças devidas à acção da gravidade dos corpos; são de pequena intensidade, que só actuam a curta distância e que, por si só, não dão origem a agregados atómicos estáveis. 2º Forças electrostáticas: são forças devidas à existência de cargas eléctricas nos átomos, particularmente quando se exercem entre iões. 3º Forças de compartilhação de electrões: são forças de natureza quântica, devidas ao facto de os electrões estarem, simultaneamente, submetidos à acção de dois ou mais núcleos. Estas forças podem ser muito intensas, em especial, quanto maior for o número de electrões e o de núcleos. Pode, assim, estabelecer-se uma ligação entre átomos, tornando-se necessário decidir quando é que essa ligação é uma ligação química. A sua 33 definição inequívoca não é fácil, pois implica aspectos qualitativos e quantitativos difíceis de delimitar. Adoptando a versão mais corrente, dir- se-á: 1º: Forma-se uma ligação entre átomos se a energia do conjunto for inferior à energia dos átomos separados. 2º: A ligação é uma ligação química se esse abaixamento de energia for de, pelo menos, 3-5 kcal/mol de ligações. Estes limites mínimos de energia fundamentam-se no facto de energias de estabilização daquela ordem de grandeza produzirem espécies que têm propriedades químicas e, quase sempre, físicas diferentes das dos átomos separados. Essas propriedades manifestam-se nas reacções químicas que, fundamentalmente, consistem na substituição de um arranjo de ligações por outro. Objectivos das teorias da ligação química Desde os primórdios da Química, bastantes teorias têm sido propostas sobre a ligação química, por vezes chamadas teorias de valência. Todas elas procuram alcançar os seguintes objectivos: 1º Explicar as fórmulas dos compostos: Pretende-se, neste caso, saber porque é que os elementos se combinam, nos compostos, em determinadas proporções e não noutras. As teorias modernas sobre a ligação química relacionam, como se verá, as fórmulas dos compostos com as configurações electrónicas dos átomos e as energias que lhes estão associadas. 34 2º Explicar a formação de ligações químicas Formam-se ligações químicas porque, ao fazê-lo, os átomos seguem a tendência universal para um estado de energia mínimo. Visto dois átomos, quando formam uma ligação, libertarem uma certa quantidade de energia para o meio exterior, a mesma quantidade de energia, chamada energia de dissociação, deve ser fornecida pelo meio exterior para romper a ligação. As teorias pretendem explicar como e porquê há uma diminuição da energia de um sistema de átomos quando se forma uma ligação química. Embora, por aplicação dessas teorias, não se consiga calcular a energia de dissociação, pode prever-se, qualitativamente, a sua ordem de grandeza. Se esse cálculo só excepcionalmente pode ser efectuado, não é difícil, no entanto, racionalizar as energias de ligação. 3º Explicar a estereoquímica dos compostos Neste caso, procura-se uma explicação para a existência de isómeros e para a geometria das moléculas. Por exemplo, pretende-se saber porque é que as estruturas das moléculas de CO2 e H2O são diferentes: uma é linear e a outra angular. 4º Permitir uma representação gráfica da fórmula O objectivo é escrever uma fórmula que represente inequivocamente o composto, indicando o tipo de ligações e o modo como se formaram. 2.4.2) Parâmetros da estrutura molecular 2.4.2.1) Energiadas ligações 35 Para uma molécula diatómica, a energia de dissociação da ligação é a variação da entalpia normal na reacção de decomposição da molécula gasosa em dois átomos gasosos. Estas energias são, geralmente, expressas em kcal/mol ou kJ/mol de ligações rompidas, referindo-as à temperatura normal (298 K). Tabela 2.1: Energias de dissociação de algumas moléculas diatómicas (kJ/mol) Li2 105 F2 158 N2 946 LiH 241 HF 566 Na2 71 Cl2 242 O2 498 NaH 197 HCl 431 K2 50 Br2 193 H2 436 KH 180 HBr 366 Rb2 46 I2 151 NO 628 RbH 163 HI 299 Cs2 44 CO 1073 CsH 176 Podem, facilmente, pela observação da tabela acima, notar-se tendências entre congéneres, assim como diferenças consideráveis entre elementos consecutivos do mesmo período: N2, O2 e F2, por exemplo. Alguns destes factos têm explicações extremamente simples, ao passo que outros requerem a máxima cautela. É, também, possível definir a energia de dissociação para ligações em moléculas poliatómicas. Exemplo: -1 2 497 kJ×molH O g H g OH g D H O Uma ligação entre dois determinados átomos, O e H, por exemplo, pode surgir num grande número de moléculas e a energia necessária para romper essa ligação não é sempre a mesma. Os seguintes exemplos, baseados em valores experimentais, justificam esta afirmação: 36 2 2 2H O g OH g -1201 kJ×molD HO OH OH g O g H g -1421 kJ×molD O H HOOH g HOO g H g -1431 kJ×molD HOO H Como a diferença é, em geral, inferior a 10% do valor médio, pode afirmar-se que a energia de uma ligação entre dois átomos depende, principalmente, de que átomos se trata e, secundariamente, de como estão ligados a outros átomos da molécula. Pode, assim, obter-se um conjunto corrente de valores de energia média de ligação, D, entre esses átomos. Tabela 2.2: Energias médias de ligação ( -1kJ×mol ) Ligações E―E H―H 436 N―N 160 F―F 158 C―C 356 P―P 209 Cl―Cl 242 Si―Si 226 O―O 146 Br―Br 193 Ge―Ge 188 S―S 226 I―I 151 Sn―Sn 151 Se―Se 172 Ligações E―H C―H 416 P―H 322 Te―H 238 Si―H 323 As―H 247 F―H 566 Ge―H 289 O―H 467 Cl―H 431 Sn―H 251 S―H 347 Br―H 366 N―H 389 Se―H 276 I―H 299 Ligações múltiplas C C 598 P F 489 C N 866 37 C C 813 O O 498 C N 598 N N 418 S S 427 C O 695 N N 946 A energia média de ligação é uma propriedade aditiva e constitutiva, ou seja, adicionando os valores correspondentes a contribuições individuais, com as correcções correspondentes à constituição (ou estrutura) das moléculas, obtém-se uma estimativa do valor para a molécula no seu todo. Logo, utilizando valores de energias médias de ligação, pode fazer-se uma estimativa da energia libertada quando se forma uma molécula gasosa, a partir de átomos gasosos. Duas aplicações importantes desta estimativa são: 1ª: Calcular o valor aproximado da entalpia de formação de uma molécula; 2ª: Prever a viabilidade de certa molécula poder ser ou não sintetizada. Exemplo: A entalpia de atomização da hidrazina 2 2H N NH , obtida experimentalmente, é 1724 kJ/mol. Avalie essa entalpia, a partir das energias médias de ligação e compare os dois valores. N N H H H H Logo, pelas energias médias de ligação, vem: N N 1 x 160 = 160 N H 4 x 389 = 1556 1716 38 A diferença entre o valor experimental e o valor calculado é só de 8 kJ/mol, isto é, um erro da ordem de 0,5%. 2.4.2.2) Comprimento das ligações Os átomos de uma molécula estão em vibração constante e, por isso, embora a vibração tenha pequena amplitude, não há uma distância fixa entre dois núcleos atómicos. Há, porém, uma distância de equilíbrio bem definida, chamando-se comprimento de ligação à distância de equilíbrio entre os centros de massa dos núcleos atómicos de dois átomos de uma molécula, entre os quais exista uma ligação química. Esses comprimentos são obtidos por via experimental. Tabela 2.3: Comprimentos de ligação (Å), em algumas moléculas diatómicas H2 0.742 Li2 2.672 CO 1.128 HF 0.918 Na2 3.078 HCl 1.274 K2 3.923 N2 1.098 HBr 1.408 P2 1.893 HI 1.608 O2 1.207 F2 1.418 IF 1.910 S2 1.887 Cl2 1.988 BrF 1.756 Se2 2.152 Br2 2.284 ClF 1.628 I2 2.666 ICl 2.321 BrCl 2.138 39 Nestes valores, pode observar-se, por exemplo, que o comprimento da ligação aumenta com o número atómico, para moléculas análogas de elementos congéneres. Atendendo a que o comprimento da ligação corresponde à posição de maior estabilidade, isto é, de energia mínima para um par de átomos ligados, esta tendência é a que se esperaria. Com efeito, o decréscimo de energia associado à formação de ligação tem a sua origem na forma como os electrões de valência dos átomos ligados se passam a comportar, opondo-se à ligação as repulsões electrostáticas entre os dois núcleos e entre os electrões nos níveis interiores dos dois átomos. Como é óbvio, a intensidade destas forças repulsivas aumenta à medida que os átomos se aproximam. No ponto onde a energia é mais baixa, pode-se determinar o comprimento de ligação, à distância de equilíbrio (r = 1,05 Å). Ora, quando aumenta o número atómico num grupo de elementos congéres, os electrões de valência ficam a distâncias sucessivamente maiores do núcleo e as cargas nucleares também aumentam. Logo, a distância a que a energia do conjunto dos dois átomos ligados é mínima, isto 40 é, o comprimento a que a ligação é mais forte, tenderá a aumentar com o número atómico. Como se disse atrás, a energia de dissociação de uma certa ligação é, em grande parte, independente da molécula em que surge. Fenómeno idêntico se observa para o comprimento de ligação. Por exemplo, a ligação O – H tem, praticamente, o mesmo comprimento em espécies químicas muito distintas, como: 2 ..........0.96H O Å ( )..........0.97OH radicalÅ 2 2 .........0.97H O Å 3 ..........0.96CH OH Å A razoável constância de valores como estes apoia a hipótese apresentada de as propriedades de uma ligação serem, principalmente, devidas aos átomos ligados. Note-se, porém, que, para um dado par de átomos ligados, podem surgir diferenças apreciáveis, como se exemplifica na tabela a seguir. Tabela 2.4: Comprimento e energias de algumas ligações químicas Ligação Espécie química Comprimento (Å) Energia (kJ·mol-1) C C 2 6 C H 1.54 345.6 2 4 C H 1.34 602 2 2 C H 1.20 835.1 O O 2 2 H O 1.48 207.1 22 2 O em BaO 1.49 --- 2 2 O em KO 1.28 --- 41 2 O 1.207 493.6 2 O 1.12 628 N N 2 N 1.098 941.7 2 2 N H 1.25 418 2 4 N H 1.45 247 No entanto, estas diferenças, em vez de serem a negação da hipótese feita, constituem uma boa evidência experimental sobre a possibilidade de dois determinados átomos se poderem unir entre si de mais do que uma maneira. Por outras palavras, é uma demonstração da existência de ligações diferentes entre os mesmos átomos. 2.4.2.3) Ângulos das ligações Chama-se ângulo de duas ligações ao ângulo interno formado pelos dois segmentos de recta que partem do centro de massa do núcleo de um átomo X para os centros de massa dos núcleos de dois átomos, Y e Z, a que X está ligado. Veja-se o exemplo da molécula de água. Como os átomosestão em constante vibração, aquele ângulo não tem um valor fixo e definido, como sucede com o comprimento de uma ligação. O ângulo tem, porém, um valor médio de equilíbrio bem definido e é esse valor que se considera. O ângulo que formam duas ligações que partam de um determinado átomo X pode variar de espécie para espécie, mas as variações são, em geral, inferiores a 10%, como se mostra nos seguintes exemplos: 42 Espécie Ângulo X O X 2 H O 104º40’ 2 OF 103º24’ 2 Cl O 111º 3 2CH O 111º 3 CH OH 109º Se se compararem valores para compostos análogos de elementos congéneres, podem observar-se regularidades explicáveis, pelo menos, em parte, pela geometria da molécula. Ângulo H X H 4 CH 109º29’ 3 NH 107º30’ 2 H O 104º40’ 4 SiH 109º29’ 3 PH 93º36’ 2 H S 92º24’ 4 GeH 109º29’ 3 AsH 91º48’ 2 H Se 91º 4 SnH 109º29’ 3 SbH 91º36’ 2 HTe 89º30’ Como se pode ver, dentro de certos limites, o ângulo de duas ligações que partem de um determinado átomo depende, principalmente, de propriedades desse átomo e só, secundariamente, dos átomos ou grupos de 43 átomos a que está ligado, sem menosprezar a influência do espaço requerido por estes. A semelhança verificada para elementos congéneres, particularmente a partir do 3º período, mostra que o ângulo das ligações é, principalmente, função do número e configuração de electrões de valência do átomo central, pois esta é a característica fundamental comum a elementos congéneres. Tipos fundamentais de ligação química Os dois modelos, ou conceitos, fundamentais de ligação química são a ligação iónica e ligação covalente. Estes, porém, são tipos extremos de ligação, que só surgem em casos raros e isolados. A maioria das ligações químicas situa-se entre estes extremos, aproximando-se mais de um ou outro e, por isso, a maior parte dos fenómenos de ligação explica-se, muito razoavelmente, à custa daqueles dois modelos extremos. 2 Modelos Fundamentais de Ligação Química Ligação Iónica Ligação Coordenada Tipos extremos de ligação, que só aparecem em casos raros e isolados 44 1º: Ligações de natureza electrostática a) Ligação iónica – as atracções electrostáticas verificam-se entre iões de sinais contrários. No caso de iões monoatómicos, a ligação pode ter origem na transferência de electrões entre átomos. b) Ligação ião-dipolo – a ligação é, em geral, fraca, consistindo na orientação do dipolo pelo ião (dipolo é um conjunto de duas cargas eléctricas iguais, mas de sinais contrários, situados a uma certa distância), por atracção do pólo de sinal contrário ao do ião e repulsão do pólo com o mesmo sinal. c) Ligação dipolo-dipolo – a ligação é, em geral, fraca, consistindo, pelo menos inicialmente, na orientação de um dipolo por outro; como casos particulares, há as ligações dipolo permanente-dipolo permanente, dipolo permanente-dipolo induzido e dipolo induzido- dipolo induzido. São, em geral, desta natureza as ligações entre as moléculas. d) Ligação de hidrogénio – é, também, uma ligação geralmente fraca; pode considerar-se do tipo dipolo-dipolo, em que participa o átomo de hidrogénio, onde está localizado o extremo positivo de um dos dipolos. 2º: Ligações por compartilhação de electrões: a) Ligação covalente – os electrões compartilhados por um número restrito de núcleos atómicos podem supor-se provenientes de electrões de valência de todos os átomos ligados. Muitas vezes, esses números não são iguais, mas não há nenhum átomo que não contribua. Esta ligação pode ser extremamente forte. 45 b) Ligação coordenada – esta ligação, por vezes bastante forte, pode ser considerada o caso particular de uma ligação covalente entre duas espécies, para a qual só uma delas contribui com electrões. c) Ligação metálica – nesta ligação, em geral bastante forte, consideram-se os electrões de valência compartilhados por todos os catiões. Esses electrões são provenientes dos átomos, por ionização desses electrões, existentes no metal. Os electrões são bastante livres, isto é, podem deslocar-se, facilmente, em qualquer direcção. Os vários tipos de ligação mencionados vão ser abordados de uma forma mais aprofundada mais à frente. 2.4.3) Principais teorias da ligação química Não há teoria que seja razoavelmente satisfatória para todos os tipos de ligação atrás mencionados. Podem, até, considerar-se dois grupos de teorias, cada um correspondente a um dos dois fenómenos predominantes: No caso da ligação iónica, admite-se o modelo esférico: cada ião monoatómico é considerado como uma pequena esfera rígida, com carga positiva ou negativa, conforme se trata de um catião ou de um anião. Entre esses iões exercem-se forças electrostáticas que, numa primeira aproximação, se supõem regidas pelas leis de Coulomb. Quanto às ligações por compartilhação de electrões, admite-se que os electrões são descritos por orbitais provenientes da coalescência de orbitais dos átomos, isto é, as orbitais atómicas interpenetram-se e 46 originam novas orbitais. A este respeito, as duas teorias mais usadas são: 1ª: Teoria da ligação de valência (Pauling) Nesta teoria, as orbitais não perdem, por completo, a sua identidade, continuando ligadas ao átomo primitivo. As orbitais resultantes estão concentradas entre dois núcleos atómicos, os núcleos dos dois átomos ligados. Pode ser necessário modificar, convenientemente, as orbitais atómicas correspondentes ao estado fundamental do átomo, para atender à geometria da molécula. Embora se aceite que dois electrões com spins antiparalelos possam ocupar a mesma orbital, atende-se à repulsão entre electrões em orbitais diferentes. 2ª: Teoria das orbitais moleculares (Mulliken) Esta teoria postula a formação de novas orbitais, em consequência de se ligarem átomos, sendo as orbitais atómicas individuais substituídas por orbitais moleculares, características da totalidade da molécula. As orbitais moleculares têm, entre outras, as seguintes propriedades: - Cada orbital está associada a todos os núcleos atómicos, ligados entre si, existentes na molécula. - Uma orbital molecular é descrita por uma função, obtida, por exemplo, por combinação linear das orbitais atómicas envolvidas na sua formação. - Orbitais moleculares chamadas ligantes têm menor energia do que qualquer uma das orbitais atómicas de que provêm. Qualquer electrão associado a uma orbital ligante é, pois, mais estável do que num átomo isolado. 47 - As orbitais moleculares exercem, nas moléculas, o mesmo papel que as orbitais atómicas nos átomos, sendo-lhes aplicáveis as regras de preenchimento de orbitais já estudadas. Ao serem abordados os diferentes tipos de ligações, vão ser utilizadas estas duas teorias: a primeira para, através da repulsão entre electrões em orbitais diferentes, explicar a geometria molecular; e a segunda para prever a ligação química, uma vez que é a teoria mais correcta. 2.4.4) Ligações por compartilhação de electrões 2.4.4.1) Ligação covalente Conceitos gerais A existência de ligações fortes, em moléculas diatómicas homonucleares, como H2, N2 ou O2, mostra que as energias de ionização e as afinidades electrónicas não têm influência na formação dessas ligações, pois as diferenças são nulas, em consequência de os átomos serem iguais. Admite-se que os electrões dos átomos estão, na molécula, simetricamentedistribuídos pelos núcleos, o que se designa por compartilhação de electrões. A formação e estabilidade destas moléculas diatómicas é atribuída à igual compartilhação de electrões de valência (os outros, quando existem, podem ser ignorados) e, então, a ligação é uma ligação covalente pura. O estudo quantitativo da ligação covalente é um problema que só pode ser resolvido para as moléculas mais simples e só se citarão alguns aspectos qualitativos ou, quando muito, semiquantitativos. 48 2.4.4.1.1) Ião-molécula de hidrogénio O caso mais simples de ligação covalente é o que surge em 2 H . A ligação é bastante forte, pois 2 D = 64 kcal/molH g H g H g A distância de equilíbrio entre os dois núcleos é 1.07 Å, distância da ordem de grandeza dos comprimentos de ligação vulgares. Há, portanto, uma força repulsiva electrostática entre os núcleos e duas forças atractivas entre o electrão e cada um dos núcleos. Como a força repulsiva se exerce tanto na ausência como na presença do electrão, examine-se, primeiro, só o que se passa quanto às forças atractivas. Nos casos 1 e 2, as forças tendem a aproximar os núcleos, contrariando a sua repulsão; no caso 3, estas forças tendem a afastar os núcleos, favorecendo a sua repulsão electrostática. Haverá, pois, posições do electrão, no plano da figura, para as quais há compensação exacta de forças atractivas e repulsivas, em consequência do que não se altera a posição relativa dos núcleos. Este sistema de dois núcleos e um electrão é susceptível de ser tratado pela correspondente equação de Schrödinger, obtendo-se valores 49 de energia e comprimento da ligação que condizem com os obtidos experimentalmente. À energia mínima da partícula 2 H , isto é, ao estado fundamental, corresponde uma função de onda que descreve uma orbital. A essa função corresponde, por sua vez, uma família de superfícies, todas com o mesmo contorno, podendo definir-se, assim, a região do espaço em que há uma elevada probabilidade – 95%, por exemplo – de se encontrar o electrão. O contorno dessas superfícies tem o aspecto da figura seguinte, sendo superfícies de revolução em torno do eixo internuclear. Figura 2.1: Orbital sigma 1s Como se trata de uma orbital que não pertence a qualquer um dos núcleos, mas sim à totalidade da molécula, chama-se-lhe uma orbital molecular (OM); se pertencesse a um só dos núcleos, chamar-se-lhe-ia orbital atómica (OA). O electrão descrito por esta OM distribui-se simetricamente pelos dois núcleos e a ligação forma-se em resultado de uma diminuição da energia do sistema, deslocando-se a maior parte da densidade electrónica de regiões exteriores ao núcleo para regiões internucleares, próximas dos núcleos (fig. 2.2). 50 A OM considerada é uma das muitas orbitais possíveis, que descrevem o comportamento do electrão de 2H . Por corresponder ao estado fundamental, isto é, por ser a orbital de energia mínima e, em virtude disso, originar uma ligação estável, dá-se-lhe o nome de orbital molecular ligante 1s . O primeiro estado electrónico excitado de 2 H corresponde à descrição do electrão por uma orbital cujo contorno é representado pela figura 2.2, orbital esta que, ao contrário da anterior, é formada por dois lóbulos de revolução, em torno do eixo internuclear. Pode também dizer-se que, neste caso, o electrão continua a dividir o seu tempo igualmente entre os dois núcleos, mas que passa a maior parte desse tempo nas regiões periféricas, relativamente afastadas de ambos os núcleos. Assim, no primeiro estado excitado, o 2 H é instável e, não só não existe qualquer ligação, mas também há mesmo uma força repulsiva intensa entre os dois fragmentos. A esta distribuição de densidade electrónica corresponde o que se chama, logicamente, uma orbital molecular antiligante *1s . Figura 2.2: Orbitais moleculares 1s e *1s 51 2.4.4.1.2) Molécula de hidrogénio O estudo de 2 H pôs em evidência o fenómeno fundamental de que deriva a estabilidade da ligação covalente. No entanto, é habitual associar a existência de ligação covalente à compartilhação de dois electrões, com spins antiparalelos, e que, por isso, podem ser emparelhados. Esta ideia de emparelhar dois electrões, para formar uma ligação, é um dos conceitos empíricos mais importantes nas teorias da ligação química. O conceito corresponde, no fundo, a uma extensão natural do princípio de exclusão de Pauli. Para os átomos, o princípio exige que não haja electrões com o mesmo conjunto de valores para os quatro números quânticos e, então, como se viu, na mesma orbital atómica não pode haver mais de dois electrões e com spins antiparalelos. Assim como os átomos podem ser “construídos” a partir de orbitais hidrogenóides, também as moléculas diatómicas o podem ser, usando orbitais moleculares semelhantes às do 2 H . Surgiram, até agora, duas dessas orbitais moleculares: uma é a orbital ligante , de menor energia, correspondente ao estado fundamental de 2 H ; a outra é a orbital 52 antiligante * , de maior energia, correspondente ao primeiro estado excitado de 2 H , que é um estado dissociativo. Figura 2.3: Molécula de H2 O primeiro electrão do 2 H ocupará, naturalmente, a orbital ligante; se o spin do segundo electrão fosse igual ao do primeiro, pelo princípio de exclusão de Pauli teria de ir para a orbital imediatamente a seguir em energia, isto é, para a orbital anti-ligante. Resultaria, daí, uma molécula excitada e a experiência mostra que tais moléculas são instáveis, com respeito à dissociação em átomos. Por outro lado, se os spins dos dois electrões forem antiparalelos, podem ambos ocupar a orbital ligante e, assim, contribuírem ambos para a ligação da molécula. O emparelhamento de electrões exerce, pois, um papel indirecto na formação da ligação, visto simplesmente permitir que ambos os electrões se comportem de modo a reforçar a ligação. 53 Este efeito manifesta-se, com grande evidência, nos respectivos parâmetros de estrutura molecular: 2.4.4.1.3) Orbitais moleculares Para dois átomos A e B, a orbital molecular que se forma é σ1s, a partir das orbitais (1sA + 1sB) Existem 3 orbitais moleculares possíveis: 1) orbitais moleculares ligantes: têm menor energia que as orbitais atómicas que lhe deram origem; correspondem a atracção nuclear 2) orbitais moleculares antiligantes: têm maior energia que as orbitais atómicas que lhe deram origem; correspondem a repulsão nuclear 3) orbitais moleculares não-ligantes: têm a mesma energia das orbitais atómicas; não afectam a ligação Considerando todas as OM da partícula, o princípio da conservação da energia exige que a energia total de OM seja igual à energia total das OA que lhes deram origem. O número de orbitais moleculares tem de ser igual ao número de orbitais atómicas. As suas características geométricas permitem classificá-las em: σ (σ*), π (π*), δ (δ*). As orbitais moleculares, quanto aos núcleos que abrangem, podem ser: 1) Bicêntricas: quando só abrangem dois núcleos, σ, π, δ. 54 2) Pluricêntricas: quando abrangem três ou mais núcleos; π, δ. 2.4.4.1.3.1) Orbitais bicêntricas Orbitais σ bicêntricas Aparecem em todas as partículas, podendo ou não ser únicas. As orbitais σ são quase sempre bicêntricas e, quandonão o são, provêm de AO do tipo s. Estas orbitais caracterizam-se por não terem qualquer plano nodal que passe no eixo internuclear (ver figura). Orbitais π bicêntricas As orbitais π podem bicêntricas ou pluricêntricas. Caracterizam-se por terem um plano nodal que passa pelos núcleos. Não podem ser formadas a partir de OA s; exigem OA p ou d. Resultam da sobreposição, lado a lado, de OA (ver figura). 2.4.4.1.3.2) Orbitais moleculares pluricêntricas Não estão localizadas entre dois núcleos atómicos. São também designadas por OM deslocalizadas (ver figura). 2.4.4.1.3.3) Hibridação de orbitais atómicas As orbitais atómicas híbridas resultam da combinação linear das funções que descrevem duas ou mais orbitais atómicas de um átomo. A operação de hibridação tem um consumo de energia – energia de hibridação. Assim sendo, a energia das ligações tem que exceder a soma das energias de promoção da ligação e de hibridação. 55 1) Hibridação “sp” Refere-se à combinação de duas orbitais atómicas, uma do tipo s e uma do tipo p. As combinações lineares mais simples são s + p e s – p. Destas combinações, surgem as orbitais híbridas (sp)1 e (sp)2 (ver figura). Estas orbitais têm 50% de carácter s e 50% de carácter p. As orbitais são formadas por dois lóbulos desiguais e estão fortemente concentradas para um dos lados da origem dos eixos. 2) Hibridação “sp2” Neste caso, há a combinação de uma orbital s com duas orbitais p, originando três orbitais híbridas equivalentes sp2. São formadas por dois lóbulos desiguais e são idênticas entre si, variando a direcção da densidade electrónica máxima. As orbitais fazem um ângulo de 120º entre si. Os compostos com este tipo de hibridação têm geometria triangular (ver figura). 3) Hibridação “sp3” Neste caso, existem 4 electrões de valência e uma orbital atómica s e três orbitais atómicas p. A sua combinação origina 4 orbitais híbridas equivalentes sp3. Cada uma das orbitais é constituída por dois lóbulos desiguais. Os eixos de revolução das orbitais estão direccionados para o vértice de um tetraedro (ver figura). 56 2.4.4.1.4) Preenchimento de orbitais moleculares. Ordem de ligação As regras de preenchimento de orbitais moleculares são idênticas às do preenchimento de orbitais atómicas: A partir das OA do estado fundamental ou OA híbridas, obter as OM resultantes; Ordenar as OM por ordem crescente de energia; Atribuir os electrões de valência às orbitais, tendo em conta o princípio de exclusão de Pauli. Para orbitais degeneradas, aplicar a regra de Hund. As OM seguem, normalmente, a ordem: Ligante < Não Ligante < Antiligante σ 1s < σ * 1s < σ2s < σ * 2s< σ 2p< πx = πy < π * x = π * y < σ * 2p A diferença entre o nº de electrões ligantes e antiligantes determina se a ligação é mais ou menos forte – ordem de ligação. Ordem de ligação = ½ (nº e- ligantes – nº e- antiligantes) Quanto maior a ordem de ligação, mais forte ela será. Quando o nº de electrões em OM ligantes é igual ao nº de electrões em OM antiligantes, há ruptura da ligação. Exemplo: Molécula de N2 → ligação tripla Ligação tripla = 1 orbital σ + 2 orbitais π 57 2.4.4.1.5) Electronegatividade dos átomos. Influência na ligação química As ligações entre os átomos são mais fortes quando estes têm electronegatividades diferentes. Utilizando a fórmula de Pauling: DAB = ½ (DAA + DBB) + 23 (XA – XB)2 é possível atribuir valores numéricos à electronegatividade a quase todos os elementos da TP. Estes valores são úteis porque: 1) dão ideia da capacidade que os átomos têm para atraírem electrões; 2) as diferenças de electronegatividade podem ser relacionadas com propriedades da ligação, como energia, polaridade, etc. 2.4.4.1.5.1) Polaridade das ligações A polaridade das ligações baseia-se na diferente compartilhação electrónica entre dois átomos. Quando isto acontece, diz-se que a ligação é covalente polar, porque existem regiões com carga negativa e outras com carga positiva – pólos eléctricos. A polaridade das ligações é diferente da polaridade das moléculas. Tem que se ter em conta os momentos dipolares – grandezas vectoriais – e achar a resultante da soma de todos os vectores existentes na molécula (ver figura). CONFIGURAÇÃO ELECTRÓNICA E GEOMETRIA MOLECULAR Notação de Lewis. Regra do octeto 58 Utiliza-se o símbolo do elemento para representar o cerne do átomo e representam-se os electrões de valência na forma de sinais, em torno do símbolo. Tem que se ter cuidado na interpretação da notação de Lewis porque: 1) o facto de se representarem electrões com sinais diferentes não significa que existam electrões diferentes; 2) esta notação não põe em evidência a geometria da molécula; 3) muitas moléculas podem ser representadas por mais do que uma destas fórmulas. O nº de ligações covalentes que um átomo pode estabelecer pode ser determinado da seguinte forma: “ o nº de ligações covalentes formadas por um átomo é igual ao nº de orbitais de valência semipreenchidas que esse átomo pode ter” Elementos do 2º período: “Todo o átomo tende a formar ligações até ficar rodeado por um octeto de electrões” Restantes períodos: a regra do octeto pode não ser satisfeita. 2.4.4.1.6) Geometria molecular de Sidgwick e Powell (VSEPR) (Valence shell electron pair repulsion) Segundo esta Teoria, os electrões de valência, em torno do átomo central, são tratados como um conjunto de dupletos compartilhados e 59 não compartilhados, entre os quais se exercem repulsões electrostáticas. Baseia-se nas seguintes regras: 1) Os dupletos orientar-se-ão, no espaço, de modo a minimizarem as suas repulsões mútuas. 2) As repulsões diminuem pela ordem: par não compartilhado – não compartilhado > par não compartilhado – compartilhado > par compartilhado – compartilhado. 3) Se houver 5 ou mais dupletos a considerar, podem ignorar-se interacções para as quais o ângulo do vértice no átomo central for maior que 90º. As segunda e terceira regras permitem escolher a orientação possível de dupletos compartilhados e não compartilhados, tendo em conta a ordem de grandeza das respectivas repulsões (ver exemplos). 2.4.4.2) Ligação coordenada 2.4.4.2.1) Formação de complexos Aspectos que diferenciam ligação covalente de ligação coordenada: 1º: uma das espécies que intervém deve ter orbitais vazias e a outra deve ter orbitais não ligantes completas. A que tem orbitais vazias é a espécie aceitadora e a que cede os electrões é a espécie dadora ou ligando. 2º: as espécies intervenientes têm, quase sempre, existência independente. 3º: na ligação coordenada não tem que se concretizar quais os núcleos ligados entre si. 60 4º: os átomos raramente se ligam por coordenação antes de terem formado todas as ligações covalentes vulgares de que são capazes. 2.4.4.2.2) Terminologia usada em compostos de coordenação Ião central ou nuclear: catião metálico M Ligandos: espécies que se ligam ao ião central, L. Podem ser mono ou poliatómicos e possuir um ou mais átomos coordenadores. Átomo coordenador: átomo do ligando que estabelece ligação com o ião central O ligando pode ser: Unidentado: se o ligando tiver um só átomo coordenador. Polidentado: se o ligando tiver mais do que um átomo coordenador e se estes se ligarem, simultaneamente, ao ião
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