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O QUE TODO GERENTE DE PROJETO DEVE SABER. Introdução O que faz com que um gerente de projeto tenha sucesso na condução de um projeto? Quais as principais práticas que um gerente de projeto deve ter para melhorar o sucesso dos seus projetos? Existem muitos livros no mercado, a cada dia vemos novos softwares implementando mais funcionalidades de apoio ao gerente de projetos, estuda-se modelos de maturidade em gerenciamento de projetos e implementação de escritório de projetos. De acordo com Rita Mulcahy, entretanto, existem pontos básicos que todos gerentes devem seguir para melhorar o sucesso dos seus projetos. Ao que parece as regras são simples e os pontos básicos estão todos no PMBoK, ou seja, o segredo para aumentar as chances de sucesso em gerenciamento de projetos é simples: só exige disciplina e persistência. O que na prática não é tão simples assim. É necessário que as técnicas e habilidades sejam realmente exercidas a cada projeto, seja simples ou complexo, para que se tornem hábitos. Quais as práticas básicas? Vendo tanta literatura de gerenciamento de projetos o gerente pode se ver confuso em o que usar. Temos que usar todas as ferramentas e técnicas em todos os projetos? Muitos se desanimam quando assistem a cursos ou estudam em livros onde são apresentados muitos processos e ferramentas que devem seguir para gerenciar projetos. Mas na verdade muitos gerentes, mesmo os experientes e os certificados não usam como prática do dia-a-dia o mínimo necessário: as práticas básicas que devem ser seguidas por todo gerente. De acordo com Rita Mulcahy essas práticas são: • Uso do Project Charter • Definição da Work Breakdown structure - WBS • Gerenciamento de Riscos • Planejamento de Comunicação • Desenvolvimento do Plano de Projeto E porque eles são tão importantes e considerados básicos, ou seja, mínimo necessários e base para o sucesso do projeto? 1 Project Charter O Project Charter porque define o rumo do projeto, através da definição dos objetivos do projeto, da delegação de autoridade ao gerente, da definição macro do escopo do projeto (o que será feito pelo projeto). Ou seja, o project charter define o objetivo e alvo do projeto. O Project Charter é importante em pequenos ou grandes projetos. WBS Porque a WBS – Work Breakdown Structure é tão importante? A WBS é uma estrutura que quebra o projeto em partes menores para serem melhor gerenciadas. A WBS define o escopo do projeto, ou seja o que deverá ser produzido (deliverables) e o trabalho a ser feito para realizá-los. A WBS é importante porque: • Ajuda a pensar no projeto antes de ser realizado, é um instrumento de planejamento por excelência; • Servirá de base para as estimativas de custo, tempo, recursos e riscos; • Ajuda a deixar claro que trabalho será feito (e o que não será); • Ajuda na organização do projeto; • É excelente ferramenta de comunicação e ajuda no controle de mudanças durante a execução do projeto. Gerenciamento de Riscos Porque gerenciamento de riscos é importante? Porque é um processo que determina o que pode dar certo e o que pode dar errado no projeto e determina estratégias para aumentar os efeitos positivos e reduzir os efeitos negativos no projeto. O gerenciamento de Riscos: • Força a atenção em utilização de expertise e experiência para prever problemas futuros; • Pode eliminar uma grande parcela de problemas no projeto, deixando o gerente e o time do projeto mais dedicado a tarefas produtivas; • Ajuda o time a entender melhor o projeto; • Define um plano de contingência, ações e pessoas responsáveis por tratar os riscos quando ocorrerem; • Ajuda na seleção ou na decisão de go/no-go em projetos; • Cronogramas e orçamento deveriam sempre ser feitos incorporando as ações ou contingências resultantes da análise de riscos. Planejamento de Comunicação 2 Acreditem, o número um em problemas em gerenciamento de projetos é a comunicação. Comunicação insuficiente ou mal feita é um fator crítico que pode “derrubar” qualquer projeto. A comunicação será importante durante a execução do projeto, entretanto ela precisa ser planejada. O Planejamento de Comunicação determina o que será comunicado, para quem, quando e de que forma. Um plano formal de comunicação no projeto tem os seguintes benefícios: • É muito fácil de ser feito; • Reduz drasticamente os problemas de comunicação, desde que esteja tudo bem claro (e que sejam seguidos na execução do projeto); • Reduz conflitos; • Ajuda a esclarecer papéis e responsabilidades; • Diminui a perda de tempo em projetos. Muitos gerentes experientes e que conhecem a importância da comunicação não utilizam o gerenciamento de comunicação na sua plenitude. E quando usam no planejamento não o utilizam, de fato, na execução do projeto. Desenvolvimento do Plano de Projeto Se o gerente de Projeto desenvolveu os quatro produtos anteriores, ele está próximo de completar o Plano do Projeto. O desenvolvimento de Plano de Projeto é fundamental para o sucesso do projeto. Deve ficar claro que: • Project Charter é uma coisa, plano de Projeto é outra coisa; • Plano de Projeto é mais do que o cronograma do projeto. Possui também o Project Charter, Definição do Escopo, a WBS, Plano de Qualidade, o orçamento, o plano de gerenciamento de riscos, Organização do projeto (organograma e papéis e responsabilidades), plano de controle de mudanças, o plano de comunicação e muitos outros componentes; • O Gannt é importante, mas é apenas uma pequena parcela do gerenciamento de projetos; O Plano de projeto deve ser feito e atualizado durante o projeto. Deve ser de fato um instrumento de trabalho e não ser esquecido em uma gaveta. Todos elementos da equipe devem ter acesso e conhecimento do Plano de Projeto. Um plano tem que ser preparado pela equipe, tem que ter a participação e o conhecimento dos stakeholders e do patrocinador, tem que ser APROVADO, tem que ser realista e formal. Alguém disse uma vez que “o PLANO DO PROJETO não é NADA, mas o PLANEJAMENTO é TUDO”. Ou seja, o Plano de Projeto deve ser resultado de um bom planejamento. O gerente de projetos deve desenvolver o plano como um instrumento de Planejamento e não simplesmente preencher campos previstos em 3 uma metodologia. Cada item do plano de projeto é importante para definir muito bem o que é o projeto e como esse será gerenciado. O problema das estimativas Todo gerente de projetos esbarra no problema de se fazer estimativas quando está planejando. Se a estimativa não for bem feita, grande parte do plano não será correto. Uma estimativa, por melhor que seja e por mais apurada que seja será sempre feita baseada em projeção futura. Ou seja, trás em si uma probabilidade de erro. Para ser mais precisa a estimativa precisa de histórico. Por isso é importante a guarda de histórico de projetos similares nas empresas, para aproximação da estimativa ao que realmente será necessário. Algumas técnicas ajudam também nas estimativas, podem ser paramétricas ou matemáticas, o que dependerá da natureza do projeto. Projetos de engenharia por serem mais tangíveis estão cada vez mais depurados na questão de estimativas, tanto de prazos quanto de custos. A perda de material chega a ser insignificante em algumas empresas. Já em projetos de desenvolvimento de pólos industrias, projetos sociais e outros são mais difíceis de serem estimados. Ou seja, de acordo com a natureza do projeto e de acordo com o histórico registrado e a experiência da equipe fica mais fácil ou mais difícil a estimativa. Mas o problema maior que o gerente de projeto tem para estimativas é ter que lidar com cronogramas irrealistas. É normal que ao ser solicitado o projeto já exista como uma data limitede conclusão. Como lidar com isso? Rita Mulcahy nos sugere: 1 – Pergunte como a data foi determinada. Pergunte se a data é simplesmente desejada ou é mesmo uma necessidade de negócio. 2 – Conte ao gerente que você voltará a falar sobre o prazos quando você planejar o projeto. 3 – Ignore a data de projeto e simplesmente planeje o projeto. 4 – Se a data do planejamento for antes do desejado, ótimo. Se for depois, trabalhe com o time para comprimir o cronograma dentro de técnicas apropriadas no caminho crítico, levando em conta a disponibilidade de recursos, até chegar ao mais otimizado possível porém REALISTA. 5 – Se ainda o prazo otimizado não for suficiente, faça um plano de redução de escopo, aumento de recursos e outras opções, com análise de impactos de custos, qualidade, escopo e riscos envolvidos. 6 – Apresente à gerência as suas conclusões e análise de impacto. Peça uma revisão de final de data baseada nos argumentos ou então discuta a redução de escopo. Parece simples mas sabemos que na prática é muito difícil fazer isso. Os gerentes de projetos normalmente são vistos como pessoas que tem responsabilidade mas 4 não autoridade. Muitos nem tem espaço para apresentar esse tipo de contra- argumentação. Mas essa é a postura profissional que um gerente deve ter. Os gerentes seniores, conforme pesquisa realizada, não gostam dos empregados que dizem sempre sim. Questione baseado em informações consistentes e deixe claro que são para o bom resultado do projeto. Não seja forçado a embarcar em um projeto que será inviável. Eric Verzuh, no livro MBA Compacto – Gerenciamento de Projetos, nos alerta ainda para não fazermos estimativas apressadas, daquelas solicitadas “no corredor”. Essas passam a ser vistas como definitivas para o gerente, cliente ou usuário. Dê uma estimativa sempre baseada no escopo, que deve ser detalhado ao máximo. Faça com tempo para se planejar. Se precisar fazer uma estimativa muito cedo, deixe clara a margem de erro que essa tem e que essas deverão ser revistas. Estimativas muito cedo têm margem de erro de -25% a 75%. Execução e controle de projetos - quais as habilidades necessárias e as práticas avançadas fundamentais? Quer dizer que fazendo o Plano de Projeto contendo todos os itens acima o projeto será um sucesso? Claro que não. O desafio agora é executar o que se planejou o que com certeza exigirá do gerente mais do que uso de técnicas o uso de habilidades. O gerente tem que controlar o projeto e gerenciar as mudanças. Deve ainda praticar liderança, manter o pessoal da equipe motivado, comunicar-se com os envolvidos no projeto regularmente (conforme planejado), tratar dos riscos e ajustar os desvios. A questão das habilidades humanas, tais como inter-relacionamento, resolução de conflitos, liderança, comunicação, poder, influência e outras características, apesar de serem importantíssimas e fundamentais, não serão abordadas nesse artigo. Essas são as mais difíceis de serem assimiladas pois são muito interligadas a personalidade e história de cada um. Também são mais difíceis de serem desenvolvidas, uma vez que somente a experiência, a reflexão e a atitude de querer mudar são efetivas no desenvolvimento de algumas dessas habilidades. Em inglês são denominadas “soft skills” e merecem um capítulo à parte. Entretanto, existem técnicas e práticas que podem nos ajudar na condução (execução e controle) de um projeto. Algumas delas: Métricas e Medições Como saber que o projeto está progredindo conforme o planejado? Intuitivamente não pode ser... Não adianta também somente acompanhar o cronograma, pois é comum percebemos que o cronograma atrasou reativamente e então colocarmos as pessoas para trabalhar em outros turnos. Devem ser utilizadas medições em 5 determinados indicadores para que avaliação do andamento do projeto. O earned value é muito utilizado em alguns países para acompanhar desempenho de projetos. Nem sempre podemos utilizar por restrições de cultura ou por dificuldade de contabilidade de custos humanos (horas/homem) envolvidos no projeto. Outras formas de medir o andamento pode ser: produtos entregues (deliverables), requisitos desenvolvidos e outros. Sugere-se que o cronograma possua os marcos muito claros e não somente atividades sem produtos associados. Dessa forma o andamento dos projetos será melhor acompanhado. Conforme Rita Mulcahy os gerentes deveriam seguir esses itens de ação para introdução medição e métricas nos seus projetos: • Determinar quais as medidas você quer usar nos seus projetos para determinar desempenho corrente e futuro; • Planejar essas medidas no projeto e definir como coletar as medidas; • Informar ao time o uso das medidas e métricas e informá-los porque será bom; • Envolver o time do projeto na medição e na tomada de ações corretivas; • Deixar as ações corretivas na agenda de atividades e apresentá-las nas reuniões dos times. Controle do Projeto Por incrível que pareça muitos gerentes de projetos experientes não realizam as atividades de controle de projeto de forma apropriada, ou por que não planejou direito, ou porque não definiu métricas para avaliação de desempenho ou porque não gostam de controlar as pessoas e resultados, ou porque simplesmente não sabem como fazer isso no mundo real. O controle de projetos inclui a criação de documentos e trabalho e de controle, a utilização de sistemas de controle (tracking), a gestão de mudanças, a gestão de configuração, a tomada de ações corretivas e documentação e comunicação apropriada, dentre outras atividades. Conclusão Todos nós sabemos como nos manter em forma e com saúde, certo? Basta cuidar da alimentação, praticar exercícios físicos, manter o nível de estresse sob controle. Porque a maioria das pessoas não o faz? Muito porque as pessoas não se sentem motivadas para isso. As pessoas que vivem da sua imagem colocam essa questão da aparência física como prioritária. As pessoas que tiveram doenças sérias também mudam radicalmente a forma de viver e passam adotar uma vida mais saudável. 6 O mesmo raciocínio se faz para gerenciamento de projetos: não importa a experiência, o tipo de projeto, a área de especialidade do gerente de projetos. As práticas apresentadas nesse artigo têm que ser adotadas, independentemente do tamanho e complexidade do projeto. Esse artigo fala de assuntos óbvios, básicos e simples? Então, porque grande parte dos gerentes de projetos não segue essas práticas? Ou segue parcialmente? Ou segue em alguns projetos e em outros não? Mesmo depois de conhecerem, estudarem, tirarem uma certificação, muitos dos gerentes de projetos deixam de praticar essas regras simples. Porque? Geralmente é devido ao excesso de trabalho: o gerente nem sempre é dedicado a um só projeto, geralmente desempenha outras atividades além de gerenciar projetos. Isso realmente atrapalha, mas cabe ao gerente se esforçar e buscar a disciplina e a persistência em realmente realizar essas práticas. Independente da sua agenda lotada, essas práticas são a sua alternativa de trabalho profissional e competente, de forma a aumentar a taxa de sucesso dos seus projetos. Se quisermos mesmo ser gerentes de projetos ou estamos motivados para essa carreira, então devemos buscar criar o hábito de praticar e incorporar essas práticas. O desafio maior, portanto, é a disciplina e não a técnica. Referências bibliográficas • Project Management Institute - PMBoK Guide – Um Guia do Conjunto de Conhecimentos do Gerenciamento de Projetos – USA – 2002 • Verzuh, Eric - MBA Compacto – Gestão de Projetos – Rio de Janeiro, Editora Campos, 2000. • Cleland, David e Ireland, Lewis – Gerência de Projetos – Rio de Janeiro, Reichmann & Affonso Editores, 2002 • Mulcahy, Rita– (setembro de 2003 ), palestra apresentada em Baltimore, Congresso Mundial do PMI. Escrito por: Margareth Fabíola dos Santos Carneiro, PMP Profissional com mais de 20 anos de experiência em projetos, certificada pelo PMI desde 1999 e certificada MOUS Project 2000 e MOUS Project 2002. Formada em Processamento de Dados pela UnB, com especialização em Projetos pela FGV. Atua 7 8 fortemente como voluntária do PMI. Foi a presidente-fundadora do PMI-DF e atualmente é Diretora Internacional do PMI – Grupo de Interesse em Governo, onde atua como voluntária em vários projetos, dentre os quais fundou a LAZ – Latin América Zone, subsite do PMI GovSIG. Foi a gerente do Projeto do Congresso Ibero Americano do PMI, realizado em Novembro no Rio e São Paulo. Como profissional gerenciou projetos em várias empresas públicas e privadas. Realiza palestras e participa de congressos e seminários nacionais e internacionais. Ministra cursos e realiza consultoria de Gerenciamento de Projetos em várias empresas. Atualmente é diretora da PMA – Professional Management, empresa especializada em gerenciamento de projetos (Implantação de metodologias, implantação de software de gestão, Estabelecimento de Escritório de Projetos, treinamentos, dentre outras atividades), Qualidade no desenvolvimento de Software, Tecnologia da Informação e Qualidade empresarial.
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