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Física 3 O Potencial Elétrico 2/2 Giovani Manzeppi Faccin Lição 08 Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 1 / 29 Cálculo do Campo Elétrico a Partir do Potencial Em aulas anteriores, verificamos as duas formas possíveis para a Lei de Gauss: Forma Integral:∮ ~E · d ~A = Q �0 Forma Diferencial: ∇ · ~E = ρ �0 Estas formas, somadas à própria Lei de Coulomb, correspondem a mecanismos para o cálculo do campo elétrico. Hoje vamos conhecer mais um mecanismo, envolvendo o potencial elétrico. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 2 / 29 Cálculo do Campo Elétrico a Partir do Potencial Vimos na aula anterior que o potencial elétrico de uma partícula carregada que se move num campo elétrico ~E é dado pela integral de linha: V − VO = − ∫ ~r O ~E · d~s onde O corresponde à configuração na qual as cargas estão infinitamente separadas umas das outras; por convenção, definimos VO = 0. A diferença de potencial entre dois pontos ~a e ~b é: V ( ~b ) − V (~a) = − ∫ ~b O ~E · d~s + ∫ ~a O ~E · d~s = − ∫ ~b O ~E · d~s − ∫ O ~a ~E · d~s = = − ∫ ~b ~a ~E · d~s. Logo: V ( ~b ) − V (~a) = ∫ ~b ~a −~E · d~s. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 3 / 29 Cálculo do Campo Elétrico a Partir do Potencial V ( ~b ) − V (~a) = ∫ ~b ~a −~E · d~s Por outro lado, o teorema fundamental do cálculo nos diz que: V ( ~b ) − V (~a) = ∫ ~b ~a (∇V ) · d~s Igualando os lados direitos das equações: ∫ ~b ~a −~E · d~s = ∫ ~b ~a (∇V ) · d~s → Relação Potencial - Campo: ~E = −∇V Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 4 / 29 Cálculo do Campo Elétrico a Partir do Potencial Um detalhe muito relevante deve ser observado: o campo elétrico é um vetor, com 3 componentes, enquanto que o potencial é apenas um escalar. Relação Potencial - Campo: ~E = −∇V Para determinar o campo elétrico temos que determinar todas as suas componentes, o que pode ser muito trabalhoso dependendo do método utilizado. O seguinte atalho pode então ser adotado: calculamos o potencial primeiro, e partir dele, com operações de derivação, obtemos as componentes do campo elétrico. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 5 / 29 Exemplo: O Campo de uma Carga Pontual Vamos aplicar este resultado a um caso conhecido: a partícula pontual carregada, mostrada ao lado. Já sabemos que, nesse caso: V (~r) = 1 4pi�0 Q r O operador de gradiente em coordenadas esféricas é: ∇f = ∂f ∂r rˆ + 1 r ∂f ∂θ θˆ + 1 r sin θ ∂f ∂φ φˆ Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 6 / 29 Exemplo: O Campo de uma Carga Pontual Logo: ~E = −∇V = −∂V ∂r rˆ −ZZ ZZ 1 r ∂V ∂θ θˆ − HHHHHH 1 r sin θ ∂V ∂φ φˆ = − Q 4pi�0 ∂ ∂r [ 1 r ] rˆ ~E = Q 4pi�0 1 r2 rˆ Chegamos no resultado esperado, que já encontramos antes via Lei de Coulomb e via Teorema de Gauss. Suponha que uma distribuição de cargas complicada tenha um potencial V com dependências radiais e angulares, do tipo V (r , θ, φ). Calcular o campo elétrico desta distribuição diretamente pode ser difícil; todavia, se encontrarmos o potencial desta distribuição, automaticamente poderemos encontrar o campo elétrico associado. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 7 / 29 Exercício O potencial elétrico numa dada região do plano xy é dado por V = 2.0x2 − 3.0y2, em V/m2. Determine o vetor campo elétrico no ponto (3.0, 2.0) (m). a) 12xˆ + 12yˆ V/m. b) −12xˆ + 12yˆ V/m. c) −6xˆ − 6yˆ V/m. d) −6xˆ + 6yˆ V/m. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 8 / 29 O Rotacional de ~E Aproveitando o exemplo da partícula pontual carregada, façamos um pequeno experimento numérico. Sabemos que o campo elétrico desta partícula será: ~E = 1 4pi�0 Q r2 rˆ Vamos tentar calcular a integral de linha deste campo num caminho fechado, em coordenadas esféricas:∫ ~b ~a ~E · d~s = ∫ ~b ~a [ 1 4pi�0 Q r2 rˆ , 0, 0 ] · [ dr , rdθθˆ, r sin θdφφˆ ] = = Q 4pi�0 ∫ ~b ~a 1 r2 dr = − Q 4pi�0 [ 1 r ]∣∣∣∣~b ~a → ∫ ~b ~a ~E · d~s = − Q 4pi�0 [ 1 rb − 1 ra ] Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 9 / 29 O Rotacional de ~E Num caminho fechado, ~a = ~b, logo ra = rb, o que resulta em:∮ ~E · d~s = XXXXXXXXX − Q 4pi�0 [ 1 ra − 1 ra ] = 0 Por outro lado, pelo teorema de Stokes, sabemos que:∮ ~E · d~s = ∮ ( ∇× ~E ) · d ~A Como o lado esquerdo da equação anterior é nulo, para que o lado direito seja nulo para qualquer superfície, é necessário que o argumento da integral seja nulo. O Rotacional de ~E ∇× ~E = 0 Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 10 / 29 O Rotacional de ~E Importante: este resultado foi calculado para uma partícula carregada no vácuo, na ausência de campos magnéticos. O Rotacional de ~E ∇× ~E = ~0 A situação muda quando existem campos magnéticos, conforme veremos mais à frente no curso. Como o resultado foi encontrado apenas para uma partícula, você pode estar se perguntando qual a utilidade geral dele. Suponha que você tenha um conjunto de partículas indexadas por 1, 2, 3 . . ., ou uma distribuição de cargas. Pelo princípio da superposição, temos: ~E = ~E1 + ~E2 + . . . Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 11 / 29 O Rotacional de ~E ~E = ~E1 + ~E2 + . . . Calculando o rotacional deste campo: ∇× ~E = ∇× ( ~E1 + ~E2 + . . . ) = ∇× ~E1︸ ︷︷ ︸ =0 +∇× ~E2︸ ︷︷ ︸ =0 + . . .→ ∇× ~E = 0. Logo a aplicação do princípio da superposição nos permite generalizar o resultado, feito para apenas uma partícula, para um conjunto qualquer de partículas. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 12 / 29 A Equação de Laplace As duas formas diferenciais (ou locais) do campo eletrostático são: Rotacional de ~E : ∇× ~E = ~0 Lei de Gauss: ∇ · ~E = ρ �0 Uma vez que ~E = −∇V , podemos reformular estas equações em termos do potencial: ∇ · ~E = ∇ · (−∇V ) = −∇2V ∇2V = − ρ �0 Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 13 / 29 A Equação de Laplace Assim temos a equação de Poisson em termos do potencial. No caso particular de ausência de cargas elétricas, teremos a equação de Laplace. Equação de Poisson: ∇2V = − ρ �0 Equação de Laplace: ∇2V = 0 Repetindo a operação para ∇× ~E : ∇× ~E = ∇× (−∇V ) = 0 Nada de novidade neste resultado: o rotacional do gradiente de qualquer vetor é sempre nulo. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 14 / 29 O Potencial Elétrico de Condutores Carregados e Isolados Vimos na aula anterior que o campo elétrico dentro de um condutor sempre é nulo: ~E = ~0. Mas isto implica que: ~E = −∇V = 0→ ∇V = 0→ V = constante! No interior de condutores, o potencial elétrico é constante. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 15 / 29 O Potencial Elétrico de Condutores Carregados e Isolados Esse resultado continua valendo mesmo se o condutor estiver imerso num campo elétrico. Nesse caso o campo irá induzir cargas que se ajustarão de forma a manter o potencial no interior do condutor constante, e consequentemente, o campo elétrico no seu interior nulo. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 16 / 29 Exercício Determine o excesso de carga numa esfera condutora de raio r = 0.15 m, se o potencial na esfera é V = 1500 V e V = 0 no infinito. a) −10 < q ≤ −10−5 C b) −10−5 < q ≤ 0 C c) 0 < q ≤ 10−5 C d) 10−5 < q ≤ 10 C Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 17 / 29 O Potencial Elétrico de Condutores Carregados e Isolados O fato de que não há cargas na parede interna de um condutor oco carregado foi observado por B. Franklin em 1755, suspendendo um pedacinho de rolha por um fio de seda e colocando-o dentro de uma lata carregada, conforme mostrado ao lado. Mas,e se a rolha inserida estivesse carregada? Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 18 / 29 O Potencial Elétrico de Condutores Carregados e Isolados Nesse caso a carga q inserida induziria uma distribuição de cargas −q no interior do condutor e +q no exterior, de forma a manter o campo elétrico no seu interior nulo. Se, em seguida, a carga q tocar a parede interna do condutor, imediatamente será cancelada pela carga −q induzida nas paredes internas. Porém, nesse caso, teríamos uma carga resultante líquida +q sobrando na superfície do condutor. Esse mecanismo é usado para transferir e acumular cargas em condutores. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 19 / 29 O Gerador Van de Graaff É o princípio de funcionamento dos geradores Van de Graaff: Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 20 / 29 As Descargas de Corona Será que um objeto qualquer pode acumular carga sem limites? O limite de acúmulo de carga é dado pela rigidez dielétrica do meio. Para o ar, isto vale cerca de 3× 106 Vm . Ao atingir esse limite, as moléculas do gás se ionizam, criando uma atmosfera condutora na qual corrente elétrica pode fluir. O termo técnico para esse fenômeno é descarga de corona. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 21 / 29 Exercício Uma técnica utilizada para o estudo de relâmpagos consiste na construção de um domo esférico no qual carga é continuamente acumulada através de um gerador Van de Graaff. O processo de acúmulo de carga é mantido até o ponto em que o campo elétrico na superfície do domo se iguale à resistência dielétrica do ar. Qualquer excesso de carga adicional gera pequenos relâmpagos, tais como os mostrados na figura. Suponha que o domo tenha um diâmetro de 30.0 cm e esteja rodeado por ar seco cujo campo elétrico de ruptura seja 3.00× 106 V/m. Qual é o máximo potencial elétrico no domo? a) −106 < V ≤ −10 V b) −10 < V ≤ 0 V c) 0 < V ≤ 10 V d) 10 < V ≤ 106 V Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 22 / 29 As Descargas de Corona Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 23 / 29 O Poder das Pontas Considere duas esferas condutoras de raios r1 e r2, cujos centros distam de uma distância d � r1, r2. Seus potenciais serão: V1 = 1 4pi�0 q1r1 + q2d︸︷︷︸ ≈0 ≈ q14pi�0r1 V2 = 1 4pi�0 q2r2 + q1d︸︷︷︸ ≈0 ≈ q24pi�0r2 Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 24 / 29 O Poder das Pontas Conecte agora estas esferas através de um fio condutor muito fino. A carga total q = q1 + q2 irá fluir entre as esferas, deixando-as com novas cargas q′1 e q ′ 2. Desprezando a presença do fio, teremos então: V ≈ q ′ 1 HHH4pi�0r1 ≈ q ′ 2 HHH4pi�0r2 → q ′ 1 r1 ≈ q ′ 2 r2 Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 25 / 29 O Poder das Pontas q′1 r1 ≈ q ′ 2 r2 → q′1 = q′2 r1 r2 A carga total será: q = q′1 + q ′ 2 ≈ q′2 r1 r2 + q′2 ≈ q′2 ( r1 r2 + 1 ) Isolando q′2, e depois repetindo o processo substituindo q ′ 1: q′2 ≈ q( r1 r2 + 1 ) ≈ qr2 r1 + r2 ; e q′1 ≈ q( r2 r1 + 1 ) ≈ qr1 r1 + r2 ; Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 26 / 29 O Poder das Pontas q′2 ≈ qr2 r1 + r2 ; e q′1 ≈ qr1 r1 + r2 ; As densidades superficiais de carga são: σ1 = q′1 4pir21 e σ2 = q′2 4pir22 Dividindo uma equação pela outra: σ1 σ2 ≈ q′1 ZZ4pir21 q′2 ZZ4pir22 ≈ HHqr1 XXX(r1+r2)r C21 HHqr2 XXX(r1+r2)r C22 ≈ 1 r1 1 r2 ≈ r2 r1 → σ1 σ2 ≈ r2 r1 . Conclusão: a densidade de cargas é inversamente proporcional ao raio de curvatura da superfície condutora. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 27 / 29 O Poder das Pontas Isso explica um fenômeno conhecido como poder das pontas. Em condutores a carga elétrica tende a se acumular em objetos pontiagudos. No caso do pára-raios a carga induzida na superfície da Terra se acumula na ponta do dispositivo Quando o raio ocorre, ele é atraído diretamente para a alta concentração de cargas presente no pára-raios, e com isso, não atinge outros objetos próximos. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 28 / 29 Tarefa Para Casa Exercícios Sugeridos - Capítulo 24 do livro do Halliday, 8ª edição: 39, 67, 72, 94, 118. Giovani Manzeppi Faccin Física 3 Lição 08 29 / 29
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