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SAMPIERI - Metodologia de Pesquisa

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e dacombinaçãode ~
r---a-m-b-o-s-S-u-~-g-e-o-------l~~
oprocesso de pesquisa e
os enfoques quantitativo
e qualitativo: rumo a
um modelo integral
Síntese
o capítulo define os enfoques quantitativo e qualitarivo da pesquisa. Apresenta as etapas
do processo de pesquisa de maneira genérica e as aplica às duas perspectivas. Além disso,
propõe um ponto de vista em relação à pesquisa que envolve a possibilidade de mesclar as
duas modalidades de produção de conhecimento em um mesmo estudo, o qual se denomina
enfoque "multirnodal" da pesquisa.
Obietivos de
aprendizagem
Ae Eif1ªhZ<ilf~ eSllildQ·qeste
capí~10, você devefÓ ser
copoz de:
• Fortalecer seu conhecimento
sobre Q processo se
pesquisa.
• Conhecer a perspectiva ou
o enfoque multimodal na
pesquisa científica.
• Determinar as diferenças
ent~e os enfoques quantitativo
e qualitativo da pesquisa.
• Aprender a mesclar os
enfoques quantitativo
e qualitativo dentro do
processo de pesquisa.
METODOLOGIA DE PESQUISA
Advertência Neste capítulo são mencionados conceitos com os quais alguns alunos não estão fami-
liarizados, tais como hipótese, teoria, análise estatística, entrevistas etc, Tais conceitos são
definidos e explicados no decorrer do livro, por isso, os leitores não devem se preocupar agora
em entendê-los por completo, o importante é que fiquem claras as mensagens essenciais a
respeito dos enfoques quantitativo e qualitativo, bem como seu procedimento geral.
QUE ENFOQUES FORAM APRESENTADOS
PARA A PESQUISA?
Ao longo da História da Ciência, surgiram diversas correntes de pensamento, tais como o
empirismo, o materialismo dialético, o positivismo, a fenomenologia e o estruturalismo, os
quais deram origem a diferentes caminhos na busca pelo conhecimento. Agora não vamos
nos aprofundar nessas correntes, já que são abordadas extensamente em antologias e textos
sobre Sociologia.' Contudo, e devido às diferentes premissas que as sustentam.i desde a
segunda metade do século XX essas correntes foram polarizadas em dois enfoques principais:
o enfoque quantitativo e o enfoque qualitativo da pesquisa.
A seguir, comentaremos brevemente cada um e depois proporemos esquemas para
compreensão de sua inserção no processo de pesquisa, como também para visualizar que
podem fazer parte de um mesmo estudo ou de uma mesma aplicação de tal processo, o qual
se denomina os enfoque integrado "rnultimodal". Sabemos que esse enfoque enfrentará o
ceticismo de alguns colegas, em especial aqueles que se mostram radicais diante das posturas
estudadas. No entanto, há muitos anos acreditamos firmemente que ambos os enfoques,
quando utilizados em conjunto, enriquecem a pesquisa. Não se excluem, nem se substituem.
Nossa posição é de inclusão, e em toda a América Latina, aqueles que compartilharam
experiências canosco foram testemunhas disso.
Em termos gerais, os dois enfoques (quantitativo e qualitativo) utilizam cinco etapas
similares e relacionadas entre si (Grinnell, 1997):
a) Realizam observação e avaliação de fenômenos.
b) Estabelecem pressupostos ou idéias como conseqüência da observação e avaliação
realizadas.
c) Testam e demonstram o grau em que as suposições ou idéias têm fundamento.
HORTON, Paul B.; HUNT, Chester L. Sociology, Nova York: McGraw-Hill, 1985; e COSER, Lewis A.;
ROSENBERG, Bernard, Sociological Theory: A Book ofReadings, Nova York: Waveland Press, 1994.
2 O enfoque quantitativo nas ciências sociais tem origem na obra de Auguste Comre (1798-1857) e Émile Durkheim
(1858-1917). Eles propõem que o estudo dos fenômenos sociais deve ser "científico", ou seja, suscetíveis à aplicação
do mesmo método científico que se utilizava com considerável êxito nas ciências naturais. Sustentavam eles que
todas as coisas ou fenômenos podem ser medidos. Essa corrente levou o nome de positivisrno.
O enfoque qualitativo tem sua origem em Outro pioneiro das ciências sociais, Max Weber (1864-1920),
que introduz o termo versteben ou "entendimento", "compreensão", reconhecendo que além da descrição e da
medição de variáveis sociais, devem ser considerados os significados subjetivos e o entendimento do contexto no
qual ocorre um fenômeno. Weber propõe um método híbrido, com ferramentas como os tipos ideais, em que
os estudos não devem ser compostos unicamente de variáveis macrossociais, e sim de instâncias individuais.
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAL~'.5
d) Revisam tais suposições ou idéias sobre a base dos testes ou da análise.
e) Propõem novas observações e avaliações para esclarecer, modificar e/ou fundamentar as
suposições e idéias; ou mesmo gerar outras.
Assim, o pesquisador de organizações buscará observar e avaliar aspectos das empresas ou
instituições, como o grau de satisfação dos funcionários. O pesquisador de direito tributário
fará o mesmo com os fenômenos tributários e tentará explicar a retenção de impostos em épocas
de crise. O pesquisador de engenharia civil, por exemplo, observará e/ou avaliará os novos
materiais para as estruturas. O pesquisador de ciências da comunicação aplicará tais etapas
para conhecer melhor os fenômenos comunicativos, como o surgimento de boatos quando
uma fonte emite mensagens contraditórias. Mesmo que os dois enfoques compartilhem das
mesmas etapas gerais, cada um terá, contudo, suas próprias características.
O enfoque quantitativo utiliza a coleta e a análise de dados para
responder às questões de pesquisa e testar as hipóteses estabeleci das pre-
viamente, e confia na medição numérica, na contagem e Ireqüenternen-
te no uso de estatística para estabelecer com exatidão os padrões de
comportamento de uma população.
O enfoque qualitativo, em geral, é utilizado sobretudo para descobrir e
refinar as questões de pesquisa. Às vezes, mas não necessariamente, hipóteses
são comprovadas (Grinnell, 1997). Com freqüência esse enfoque está baseado
em métodos de coleta de dados sem medição numérica, como as descrições e as observações.
Regularmente, questões e hipóteses surgem como parte do processo de pesquisa, que é fle-
xível e se move entre os eventos e sua interpretação, entre as respostas e o desenvolvimento
da teoria. Seu propósito consiste em "reconstruir" a realidade, tal como
é observada pelos atores de um sistema social predefinido. Muitas vezes
é chamado de "holístico", porque considera o "todo'? sem reduzi-lo ao
estudo de suas partes.
Do nosso ponto de vista, ambos os enfoques são bastante valiosos e
já realizaram contribuições notáveis ao avanço do conhecimento. Nenhum
é intrinsecamente melhor que o outro, são apenas diferentes em relação
ao estudo de um fenômeno. Pensamos que a controvérsia entre as duas
visões tem sido desnecessária e não está isenta de dogmatismo. A posição
assumida nesta obra é que os enfoques são complementares, ou seja, cada um exerce uma
função específica para conhecermos um fenômeno, e para nos conduzir à solução dos diversos
problemas e questionamentos. O pesquisador deve ser metodologicamente plural e guiar-se
pelo contexto, a situação, os recursos de que dispõe, seus objetivos e o problema do estudo em
questão. De fato, trata-se de uma postura pragmática.
A seguir, oferecemos exemplos de pesquisas que, utilizando um ou outro enfoque, se
dirigiram ao mesmo objeto-indivíduo de estudo.
Fundamentalmente, quais características se destacam no enfoque quantitativo da
pesquisa? Em linhas gerais, um estudo quantitativo regularmente seleciona uma idéia,
•Enfoque quantitativo: usa coleta
de dados para testar hipóteses com
base na medição numérica e na
análise estatística para estabelecer
padrões de comportamento.
Enfoque qualitativo: utiliza coleta
de dados sem medição numérica
para descobrir ou aperfeiçoar
questões de pesquisa e pode ou não
provar hipóteses em seu processo de
in terp retação.
3 Aqui, o "todo" é o fenômeno que interessa. Por exemplo, em seu livro Police Work, Peter Manning(1997) mergulha
por semanas no estudo, na informação e na análise do trabalho policial. O que interessa é estudar as relações e a
lealdade que surgem entre indivíduos que se dedicam a este trabalho. O objetivo é alcançado sem a "medição" de
atitudes: apenas captando o próprio fenômeno da vida neste trabalho.
METODOLOGIA DE PESQUISA
Exemplos TEMA-OBJETO ESTUDOS ESTUDOS (ESTUDOS (ESTUDOS
de estudos DE ESTUDO QUALITATIVOS QUANTITATIVOS QUALITATIVOS) QUANTITATIVOS)
: I
quantitativos
e quelitotlvos
sobre o A família Gabriel Careaga (1977): Ma. Elena Oto Mishima Dora Tognoli Guglielme (1988): Viviane Mendonça Pereira (2001):
mesmo tema Mitos y fantasías de Ia ela- (1994): Las migraciones Famílias modernas: um estu- O recente processo migratório
se media en México. a México y Ia contor- do da dinâmica familiar. interno brasileiro e seus deter-
mación paulatina de Ia minantes.
Quadro 1.1 familia mexicana.
Tipo de O livro é uma abordagem Descrição da procedên- Estudo de famílias de Utilizando microdados fornecidos
estudo crítica e teórica do surgi- cia dos imigrantes ao classe média paulistana pela PNAD - Pesquisa Nacional
mento da classe média México; sua integração consideradas a partir da por Amostra e Domicílios (IBGE),
em um país pouco desen- econõmica e social às aliança marido-mulher. este estudo, por meio de uma
volvido. O autor combina diferentes esferas da Foram realizadas oito en- análise gráfica e tabular, procurou
as análises documental, sociedade. trevistas com pares que primeiramente abordar as principais
política, dialética e psica- compunham esses grupos características, composição e estru-
nalítica com a pesquisa contatados individualmente. tura do atual processo migratório
social e biográfica para A partir dos dados obtidos brasileiro. Posteriormente, por meio
reconstruir tipologias ou pode-se ter acesso à de um modelo econcmétrico, o
família-tipo. dinâmica grupal, conflitos de atual trabalho procurou observar
papéis e expectativas não o comportamento das migrações
atendidas. intemas brasileiras atuais e seus
determinantes.
A comunidade Luis González y González Everett Rogers e Rafael Victorino Devos (2004): Maria José Carneiro (2002): O
(1995): Pueblo en vila. Frederick B. Waisanen Uma "ilha assombrada" na ci- ideal urbano: campo e cidade no
(1969): The impact of dade: estudo etnográfico sobre imaginário de jovens rurais.
communication on rural cotidiano e memória coletiva a
development. partir das narrativas de antigos
moradores da Ilha Grande dos
Marinheiros, Porto Alegre.
Tipo de O autor descreve com É determinado como se Tomando o Arquipélago en- A pesquisa foi realizada em duas
estudo detalhe a rnicro-bistória dá o processo de cornu- quanto um "territórto-rnito" da áreas essencialmente rurais e
de San José de Ia Gracia, nicação de inovações cidade, realiza-se a análise agrícolas: no Estado do Rio de
onde são examinadas e em comunidades rurais, da "arte de dizer" desses Janeiro e no Rio Grande do Sul.
entrelaçadas as vidas de e são identificados os narradores antigos e das A pesquisa teve a preocupação
seus residentes GOmseu motivos para aceitar constelações de imagens de levantar informações sobre
passado e outros aspectos ou recusar a mudança presentes ao repertório de filhos de não-agricultores. Ao todo
da vida cotidiana. social. Ademais, fica narrativas míticas, contos foram aplicados 105 questionários
estabelecido qual fantásticos e lendários o trajeto e entrevistas com 23 jovens entre
método de comunicação antropológico de assimilação 15 e 26 anos.
é mais proveitoso. e acomodação da figura de
um "Homem da Tradição" às
margens da cidade.
As profissões Howard Becker (1951): Linda D. Hammond Marcelo Almeida Gadelha Marta de Campos Maia (2005):
The professional dance (2000): Teacherquality (2004): Organização Metodologia de ensino e
musician and his au- andstudent Brown: identidade cultural e avaliação de aprendizagem.
dience. achievement. lideranças em um complexo de
organizações baianas.
continua
que transforma em uma ou vanas questões relevantes de pesquisa (Capítulo 3); logo,
hipóteses e variáveis são derivadas dessas questões; um plano é desenvolvido para testá-Ias;
as variáveis são medidas em um determinado contexto; as medições obtidas são analisadas
(freqüenternente utilizando métodos estatísticos), e é estabelecida uma série de conclusões
a respeito daís) hipóreseís).
Se observarmos o Quadro 1.1, os estudos quantitativos propõem relações entre variáveis
com a finalidade de chegar a proporções precisas e fazer recomendações. Por exemplo, a
investigação de comunicação em que Rogers e Waisanen (1969) propõem que a comunicação
interpessoal é mais eficaz que a comunicação da mídia nas sociedades rurais. Espera-se que, nos
estudos quantitativos, os pesquisadores elaborem um relatório com seus resultados e ofereçam
recomendações que servirão para a solução de problemas ou na tomada de decisões.
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODao
Sê-
5
TEMA-oBJETO
DE ESYUDO
ESTUDOS
.QUAl,ITATI'lQS
Tipo de
estudo
Narração detalhada de
processos de identifica-
ção e outras condutas de
músicos de jazz com base
em suas competências e
conhecimento de música.
Organizações William D. Bygrave e Dan
de trabalho D'Heilly (Eds.) (1997):
The Portable MBA Entre-
preneurship Case Studies.
Tipo de
estudo
Compêndio de estudos de
caso que apóiam a análise
da viabilidade de novas
empresas e os desafios
que enfrentam nos merca-
dos emergentes.
O fenômeno
urbano
Manuel Castells (1979):
The Urban Question.
Tipo de
estudo
o autor critica aqueles que
tradicionalmente estudam
o urbanismo, e argumenta
que a cidade não é mais
que um espaço onde se ex-
pressam e se manifestam
as relações de exploração.
>ESTUDOS
.~Ul\NTlTATIVQ5
Estabelece correlações
entre estilos de ensino, de-
sempenho da ocupação
docente e êxito dos
alunos.
P. Marcus, P. Baptista e
P. Brandt (1979): Rural
Delivery Systems.
Pesquisa que demonstra
a pouca coordenação
que existe em uma rede
de serviços sociais.
Estabelece as políticas
a serem seguidas
para conseguir que os
serviços cheguem aos
destinatários.
E. Wirth (1964): i,Cuáles
son Ias variables que
afectan Ia vida social en
Ia ciudad?
A densidade populacional
e a escassez de habita-
ção se estabelecem co-
mo influências no desen-
volvimento político.
(ESTUDOS
QUALITATIVOS)
o objetivo da pesquisa
foi analisar como se dão
as complicadas relações
entre a cultura baiana, a
Comunidade Candeal e
Carlinhos Brown (artista
baiano, percussionista) nas
gestões das organizações.
Foram realizadas entrevistas
e observação participante.
Gabriela R. B. de Andrade;
Jeni Vaitsman (2002):
Apoio social e redes: conectan-
do solidariedade e saúde.
Baseado em pesquisa quali-
tativa, com entrevistas semi-
estruturadas e observação
participante, o trabalho ana-
lisa o papel de uma
associação, na visão de
profissionais do hospital
e pacientes, a partir dos
conceitos de rede social,
apoio social e empowennent.
Wencesláo Machado de Oli-
veira Jr. (1994): A Cidade
(tele) percebida.
Focaliza algumas das
principais relativizações
impostas ao conceito de
espaço na área do media.
Busca a imagem atual
da cidade, a partir da
interpretação de desenhos
realizados por jovens-das
cidades de Brasília, Rio de
Janeiro e São Paulo.
Exemplos
de es1uda5
quanti
e qual-
sobre o
mesmo
Neste trabalho será apresentada
uma síntese da visão teórica que
embasou este enfoque, onde
se evidencia a importância da
metodologia para a efetividade
do ensino-aprendizado e para a
avaliação de um curso. A seguir
apresentaremos os resultados da
pesquisa quantitativa sobre meto-
dologia de ensino utilizada e de
avaliação de um curso a distância,
que orientaram este trabalho.
Quadro
continuoc;:iD
Ana Lúcia Mendonça (2004):Metodologia de ensino e
avaliação de aprendizagem.
O objetivo desta pesquisa quan-
titativa (exploratória) é analisar os
resultados de uma avaliação apli-
cada aos alunos do curso GVnext,
curso de especialização lato
sensu a distância para executivos
do GVnet sobre a metodologia
de ensino-aprendizagem e de
avaliação.
Raquel Rolnik (1999):
Exclusão territorial e violência.
Explora o nexo entre urbanização
de risco e violência urbana, utili-
zando a experiência concreta
de diferentes cidades no Estado
de São Paulo. A base empírica
deste estudo é uma pesquisa
estruturada para avaliar o impacto
de regulação urbanístioa no
funcionamento de mercados
residenciais nas cidades do
Estado de São Paulo com mais
de 20 mil habitantes.
Essencialmente, quais características se destacam no enfoque qualitativo da pes-
quisa? As pesquisas qualitativas também são guiadas por áreas ou temas significativos da
pesquisa. Contudo, em vez da clareza sobre as questões e hipóteses preceder à coleta e análise
dos dados (como na maioria dos estudos quantitativos, pelo menos em intenção), os estudos
qualitativos podem desenvolver questões e hipóteses antes, durante ou depois da coleta e
da análise. Com freqüência, essas atividades servem, primeiramente, para descobrir quais
são as questões mais importantes na pesquisa; e, depois, para refiná-las e respondê-Ias (ou
testar hipóteses). O processo se move dinamicamente entre os "fatos"
e sua interpretação em ambos os sentidos. Como se observa no Quadro
1.1, seu tipo final muitas vezes consiste em compreender um fenômeno
social complexo. A ênfase não está em medir' as variáveis envolvidas no
fenômeno, mas em entendê-lo.
Modelo multimodal (triangolação):
convergência ou fusão dos enfoques
de pesquisa quantitativo e
qualitativo.
Daniela Batista
METODOLOGIA DE PESQUISA•
Em uma pesquisa
qualitativa, o
importante é
compreender o
fenômeno, como as
normas e condições
próprias que regem a
profissão de
um músico de jazz.
Tomando como exemplo o estudo das profissões
e seus efeitos na conduta individual, no Quadro 1.1
notamos a divergência a que nos referimos. No estudo
clássico de Howard Becker (1951) sobre o músico de jazz,
o autor consegue fazer que compreendamos as regras e os
costumes no desempenho dessa profissão. E a utilidade
disso?, perguntarão algumas pessoas. Ela não está apenas
em compreender esse contexto, mas sim entender que as
normas que o regem podem extrapolar para outras situações
de trabalho. O estudo quantitativo de Hammond (2000),
por sua vez, estabelece com clareza as variáveis pessoais e
do desempenho da profissão de docente, que sirvam para
formular políticas de contratação e de capacitação para os
docentes. Para quê? Com a finalidade de desenvolver o
sucesso acadêmico dos estudantes.
Até agora, o principal é que o leitor se abstenha de
avaliar se um enfoque é melhor que o outro. É preciso
compreender, por enquanto, que tradicionalmente abordamos as diversas questões relativas a
este. Partimos das diferenças em relação ao epistemológico (ou teoria do conhecimento), que
em poucas palavras diz respeito à postura que o pesquisador ou qualquer outra pessoa deve
assumir perante a realidade. O conhecimento do social é a meta das ciências sociais em geral,
mas no particular interessam as divergências que estão sintetizadas no Quadro 1.2 (p. 9).
Que outras características possuem esses enfoques,
e como se diferenciam?
O enfoque qualitativo busca principalmente "dispersão ou expansão" dos dados ou da in-
formação; enquanto o quantitativo pretende intencionalmente "delimitar" a informação
(medir com precisão as variáveis do estudo, ter "foco")."
De acordo com M. A. Rothery (apud Grinnell, 1997), para gerar conhecimento o
enfoque quantitativo se fundamenta no método hipotético-dedutivo, considerando as
. .
segullltes premIssas:
1. Delineamos teorias e delas derivamos hipóteses.
2. As hipóteses são submetidas à prova utilizando os modelos de pesquisa apropriados.
3. Se os resultados sustentam as hipóteses ou forem condizentes com elas, é obtida
evidência em seu favor. Se os resultados as refutarem, são descartadas em busca de
melhores explicações e hipóteses.
Quando os resultados de diversas pesquisas trazem evidência em favor das hipóteses,
geram confiança na teoria que as sustenta ou apóia. Se esse não for o caso, as hipóteses são
descartadas e, eventualmente, também a teoria.
4 Usemos o exemplo de uma câmera forográfica: no estudo quantitativo é definido o que se vai forografar e tira-se
a foto. No estudo qualitativo é como se a função zoam in (aproximação) ou zoom out (distanciamento) fossem
acionadas constantemente para capturar em uma área qualquer figura de interesse.
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAL
~ .
2'
6
META DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
+
CONHECER O FENÔMENO SOCIAL
Meta das ciências sociais
ENFOQUE QUANTITATIVO ENFOQUE QUALITATIVO
Ponto de partida Quadro 1.2Há uma realidade a conhecer. Há uma realidade a descobrir.
Premissas A realidade do fenômeno social pode ser
conhecida com a mente.
A realidade do fenômeno social é a mente.
A realidade é construída pelo(s) indivíduo(s)
que dá (dão) significados ao fenômeno social.
Dados Uso de medição e quantíficação. Uso da linguagem natural.
Finalidade Busca relatar o que acontece. Fatos que
dêem informação específica da realidade
que podemos explicar e prever.
Busca entender o contexto e/ou o ponto
de vista do ator social.
Além dessas premissas, são levadas em conta outras considerações na pesquisa quantitativa.
Grinnell (1997) e Creswell (1997) apontam que não descartam a realidade subjetiva nem as
experiências individuais. Assim:
1. Existem duas realidades: "a primeira consiste em crenças, pressupostos e expenencias
subjetivas das pessoas. Essas chegam a variar: de muito vagas ou gerais (intuições) até
crenças bem organizadas e desenvolvidas logicamente por meio de teorias formais. A
"segunda realidade" é objetiva e independente das crenças que tenhamos em relação a ela
(a auto-estima, uma lei, mensagens televisivas, a Aids etc. acontecem, ou seja, constituem
realidades em forma independente de nosso pensamento sobre elas).
2. Essa "realidade objetiva" (ou realidades) pode ser conhecida. Sob essa premissa, torna-se
possível conhecer uma realidade externa e independente do indivíduo.
3. É preciso conhecer e obter a maior quantidade de informação sobte a "realidade objetiva". A
realidade do fenômeno existe e é certo que conhecemos os eventos à nossa volta por meio de
suas manifestações. Para entender nossa realidade, o porquê das coisas, é preciso registrar e
analisar tais eventos (Lesser, 1935). Portanto, para esseenfoque, o indivíduo existe e possui um
valor para os pesquisadores, mas de forma alguma está perto de demonstrar quão bem se ajusta
à realidade objetiva. Documentar essa coincidência é o objetivo central de muitos estudos
quantitativos (que os efeitos que consideramos apresentar uma doença sejam verdadeiros,
que captamos a relação "real" entre as motivações de um indivíduo e sua conduta, que o
material que se supõe ter uma determinada resistência realmente a tenha etc.).
5 Becker (1993) diz: "a 'realidade' é o pomo mais esrressante das ciências sociais. As diferenças entre os dois enfoques
tem um tom eminentemente ideológico. O grande filósofo alemão Karl Popper (1965) nos faz entender que a origem
das visões conflitivas, sobre o que é ou deve ser o estudo do fenômeno social, encontram-se nas premissas de diferentes
definições sobre o que é a realidade. O realismo desde Aristóteles estabelece que o mundo chega a ser conhecido pela
mente. Kant introduz a idéia de que o mundo pode ser conhecido porque a realidade se assemelha às formas que a
mente tem. Já Hegel vai rumo a um idealismo puro e propõe que: 'O mundo é minha mente'. Esse último é certamente
confuso,e assim o considera Popper, advertindo que o grande perigo dessa posição é que ela permite o dogmarismo
(como provou, por exemplo, o materialismo dialérico). O avanço no conhecimento, diz Popper, necessita de conceitos
que possamos refutar ou provar. Essa característica delimita o que é ou não ciência.n
METODOLOGIA DE PESQUISA•
4. Quando as investigações estabelecem que a "realidade objetiva" é diferente de nossas
crenças, essas devem ser modificadas ou adaptadas em torno da realidade.
Para esse enfoque, a forma confiável para conhecer a realidade é por meio da cole-
ta e análise de dados, de acordo com certas regras lógicas. Se essas regras são seguidas
cuidadosamente e os dados gerados possuem os padrões de validade e confiabilidade (Capítulo
10), as conclusões obtidas serão válidas, ou seja, a possibilidade de serem contestadas ou
replicadas com a finalidade de construir conhecimento.
Em geral, nos estudos quantitativos uma ou várias hipóteses são estabelecidas (su-
posições sobre uma realidade), um plano é desenvolvido para submetê-Ias à prova, os
conceitos incluídos nas hipóteses (variáveis) são medidos e se transformam as medições
em valores numéricos (dados quantificáveis), para serem analisados posteriormente com
técnicas estatísticas e estender os resultados a um universo mais amplo, ou para consolidar
as crenças (formuladas de modo lógico em uma teoria ou em um esquema teóricoj.?
Tais estudos levam a essência em seu título: quantificar e dar evidência a uma teoria que
se tem para explicar algo; a teoria se mantém até que seja refutada ou que se encontre uma
explicação melhor. Um estudo se baseia em outro. Os estudos quantitativos se associam
aos experimentos, as pesquisas a questões fechadas ou aos estudos em que se empregam
instrumentos de medição padronizados. Além disso, na interpretação aos estudos existe uma
humildade que deixa tudo sem conclusão e convida a seguir pesquisando para melhorar
o conhecimento, colocando à disposição de outros pesquisadores todos os métodos e os
procedimentos.
Por sua vez, o enfoque qualitativo, às vezes citado como investigação naturalista,
fenomenológica, interpretativa ou etnográfica, é uma espécie de "guarda-chuva", no qual
se inclui uma variedade de técnicas de estudos não-quantitativos (Grinnell, 1997).
Dentro da variedade de enfoques qualitativos existe um denominador comum que po-
deríamos situar no conceito de padrão cultural (Colby, 1996), que parte da premissa que
toda cultura ou sistema social tem um modo único para entender coisas e eventos. Essa
cosmovisão afeta a conduta humana. O estudo dos modelos culturais - que são pontos de
referência para o ator social e que são construídos pelo inconsciente, aquilo que é trans-
mitido pelos outros e pela experiência pessoal - são entidades flexíveis e maleáveis que se
transformam no objeto de estudo do qualitativo.
Em termos gerais, os estudos qualitativos envolvem a coleta de dados utilizando
técnicas que não pretendem medir nem associar as medições a números, tais como obser-
vação não-estruturada, entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupo,
avaliação de experiências pessoais, inspeção de histórias de vida, análise semântica e de
discursos cotidianos, interação com grupos ou comunidades e introspecção.
M. A. Rothery e R. Grinnell (Grinnell, 1997) e Creswell (1997) descrevem essas
pesquisas como estudos:
• Que são conduzidos basicamente em ambientes naturais, em que os participantes se
comportam como de costume em sua vida cotidiana.
6 Os pesquisadores que se guiaram por esse enfoque mewdológico pretendiam expandir o ripo de escudos sociais,
além do que se consideravam abordagens meramente especulativas.
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO IN
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5
• Nos quais as variáveis não se definem com o propósito de serem manipuladas nem con-
troladas experimentalmente (portanto, mudanças são observadas em diferentes variáveis e
suas relações).
• Em que as questões de pesquisa nem sempre foram conceituadas ou definidas por completo,
ou seja, na forma como serão medidas ou avaliadas (ainda que às vezes isso seja possível).
• Em que a coleta de dados é influenciada fortemente pelas experiências e as prioridades
dos participantes da pesquisa, mais do que pela aplicação de um instrumento de medição
padronizado, estruturado e predeterminado.
• Em que os significados são extraídos dos dados e apresentados a outros, e não precisam
ser reduzidos a números nem necessariamente analisados estatisticamente (ainda que a
contagem, a análise do conteúdo e o tratamento da informação utilizem expressões nu-
méricas para serem analisadas depois).
Patton (1980, 1990) define os dados qualificativos como descrições detalhadas de situa-
ções, eventos, pessoas, interações, condutas observadas e suas manifestações.
Um estudo qualitativo busca compreender seu fenômeno de estudo em seu ambiente usual
(como as pessoas vivem, se comportam e atuam; o que pensam; quais são suas atitudes erc.).
Neuman (1994) sintetiza as principais atividades do pesquisador qualitativo com os
seguintes comentários:
• Ele observa eventos ordinários e atividades cotidianas tais como ocorrem em seus ambientes
naturais, além de qualquer acontecimento incomum.
• Está diretamente envolvido com as pessoas que são estudadas e com suas experiências
pessoaIs.
• Adquire um ponto de vista "interno" (de dentro do fenômeno), ainda que mantenha uma
perspectiva analítica ou uma distância específica como observador externo.
• Utiliza diversas técnicas de pesquisa e habilidades sociais de maneira flexível, de acordo
com as necessidades da situação.
• Produz dados em forma de notas extensas, esquemas, mapas ou "quadros humanos" para
gerar descrições bastante detalhadas.
• Segue uma perspectiva holística (os fenômenos são concebidos como um "todo" e não
como partes) e individual.
• Entende os membros estudados e desenvolve empatia em relação a eles; não apenas registra
fatos objetivos e "frios".
• Mantém uma perspectiva dupla: analisa os aspectos explícitos, conscientes e manifestos,
bem como aqueles implícitos, inconscientes e subjacentes. Nesse sentido, a realidade
subjetiva em si mesma é objeto de estudo.
• Observa os processos sem alterar ou impor um ponto de vista externo, e sim tais como são
percebidos pelos atores do sistema social.
• É capaz de lidar com paradoxos, incertezas, dilemas éticos e ambigüidade.
Os estudos qualitativos não pretendem generalizar de maneira intrínseca os resultados
para populações mais amplas, nem necessariamente obter amostras representativas (sob a lei
da probabilidade); não pretendem nem mesmo que seus estudos sejam replicados. Assim, se
fundamentam mais em um processo indutivo (exploram e descrevem, e logo geram perspectivas
teóricas). Vão do particular para o geral.
Durante várias décadas considerou-se que os enfoques quantitativo e qualitativo são
perspectivas opostas, inconciliáveis e que não devem se misturar. Os críticos do enfoque
quantitativo acusam-no de ser "impessoal, frio, limitado, fechado e rígido". Por
sua vez, os críticos do enfoque qualitativo o consideram "vago, subjetivo, inválido,
meramente especulativo, sem possibilidade de réplica e sem dados sólidos que apóiem
as conclusões".
A base da separação entre os dois enfoques centra-se na idéia de que um estudo com
um enfoque pode neutralizar o outro. Trata-se de uma noção que tem impossibilitado a
reunião dos enfoques quantitativo e qualitativo. Superar uma conceituação, em nosso ver
"fundamentalista", chega a conceber a união dos dois enfoques, que Denzin (1978) chama
de "triangulação".
Se revisarmos os estudos científicos realizados nos últimos anos (buscando nas publicações
produzidas em distintas disciplinas e campos), observaremos uma tendência crescente nesse
sentido: a fusão, o casamento quanti-quali. Isso sedeve talvez ao fato de termos percebido
que, mais que beneficiar, as lutas ideológicas e as posições dogmáticas impediram o avanço
do conhecimento, por isso, é preciso buscar a convergência ou a triangulação.
A triangulação é complementar no sentido de sobrepor enfoques e em uma mesma
pesquisa mesclar diferentes facetas do fenômeno de estudo. Tal união ou integração agrega
profundidade a um estudo e, ainda que cheguem a surgir contradições entre os resultados de
ambos os enfoques, agrega-se uma perspectiva mais completa do que estamos investigando.
Diante da oportunidade de fundir ambos os enfoques, Grinnell (1997) considera
uma série de questionamentos: os paradigmas intuitivo e dedutivo devem estar vinculados
a enfoques específicos? Por exemplo, se empregamos um esquema indutivo, baseados em
uma postura qualitativa para um estudo, isso significa que também devamos utilizar
procedimentos de coleta de dados usualmente associados às investigações qualitativas?
Por sua vez, um estudo baseado em um esquema dedutivo e guiado por uma teoria
que seja produto da pesquisa quantitativa sempre terá que se vincular a procedimentos
de coleta de dados e esquemas ligados a tal tipo de investigação, como os experimentos
e as pesquisas? As respostas não são simples. Os "puristas" exigem a separação entre os
enfoques quantitativo e qualitativo, como se um velho inimigo do positivismo tivesse
atacado de novo, alegando que aquilo que chamamos de objetividade não existe. De seu
lado, os "situacionistas" asseguram que cada enfoque é apropriado para situações específicas;
os "pragmáticos" integram ambos os enfoques, sobretudo quando é apropriado em situações
concretas. Este livro adere à última posição.
Acreditamos que é preciso dar mais ênfase aos pontos positivos que às limitações
de cada enfoque, em todo caso, uma situação de pesquisa particular nos dirá se devemos
utilizar um enfoque ou outro, ou ambos.
É preciso esclarecer, contudo, que o enfoque selecionado (quantitativo, qualita-
tivo ou algum tipo de mistura entre ambos) não tem necessariamente relação direta
com os métodos de coleta de dados. Por exemplo, um experimento clássico (definido
como quantitativo) pode utilizar métodos de coleta de dados tanto qualitativos como
quantitativos (aplicar como prova testes e questionário fechado, estruturado, e entrevistas
abertas). Ou uma pesquisa qualitativa (um estudo que procure entender os sentimentos
de doentes terminais de Aids) pode coletar dados por meio de entrevistas abertas e aplicar
uma prova estruturada do sentido da vida.
Nossa sugestão aos estudantes seria que conhecessem a fundo ambos os métodos,
refletissem sobre suas vantagens e limitações, para assim decidir qual enfoque ou mescla
será mais útil para cada caso.
o PROCESSODE PESQUISA EOS ENFOQUES QUANTITATIVO EQUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAl.
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5
Para que o leitor iniciante tenha uma idéia da diferença entre ambos os enfoques, utili-
zaremos um exemplo muito simples e cotidiano relativo à atração física, explicado de forma a
facilitar o entendimento, ainda que para alguns professores isso possa parecer simples demais.
No exemplo não são consideradas, portanto, as implicações paradigmáticas que se en-
contram por trás de cada enfoque, mas é enfatizado que, em termos práticos, ambos os estudos
contribuem para o conhecimento de um fenômeno.
Um exemplo
para ajudar a
compreender
os enfoques
quantitativo e
qualitativo da
pesquisa.
Suponhamos que um estudante esteja interessado em saber quais fatores influem
para que uma pessoa seja definida e percebida como "conquistadora" (que cativa
indivíduos do sexo oposto e faz que se sintam atraídos por ele e se apaixonem).
Então, decide realizar um estudo (sua idéia para pesquisar) em sua escola.
Sob o enfoque quanricativo-dedutivo, o aluno estabeleceria seu problema de
estudo definindo seu objetivo e uma questão de pesquisa (o que quer fazer e o
que quer saber).
Por exemplo, o objetivo poderia ser "conhecer os fatores que determinam
o fato de uma pessoa ser vista como atraente e conquistadora"; e a questão de
pesquisa, quais fatores determinam o fato de uma pessoa ser vista como atraente e "conquistadora"?
Posteriormente, revisaria estudos sobre a atração física nas relações heterossexuais, os elementos
que interferem no inicio da convivência amorosa, a percepção dos jovens em torno de tais relações,
as diferenças por sexo de acordo com os atributos dos outros que os atraem etc.
Delimitaria seu problema de pesquisa; selecionaria uma teoria que explique sarisfatoriamente
- com base em estudos prévios - a atração física e a paixão nas relações entre jovens; e, se possível,
estabeleceria uma ou várias hipóteses (por exemplo: "os rapazes ou garotas que conseguem mais
conquistas amorosas são aqueles que têm maior prestígio social na escola, que são mais seguros de si
mesmos e mais extrovertidos").
Depois, poderia entrevistar colegas de sua escola e os interrogaria sobre o grau em que o pres-
ágio social, a segurança em si mesmo e a extroversão influem na conquista de pessoas de outro sexo.
Inclusive, chegaria a utilizar questionários já estabelecidos, bem projerados e confiáveis. Talvez
entrevistasse somente uma amostra de alunos. Também seria possível perguntar às pessoas que têm
fama de conquistadoras sobre o que pensam a respeito.
E analisaria os dados e informações provenientes das entrevistas para chegar a conclusões sobre
suas hipóteses. Talvez também realizasse experiências ao escolher pessoas com o perfil "conquistador",
dirigindo-as para a conquista de outras colegas.
Seu interesse seria, ao menos, generalizar os resultados do que ocorre em sua comunidade estudantil.
O pesquisador procura testar suas crenças e conseguir demonstrar que o prestígio, a segurança em si
mesmo e a extroversão são fatores relacionados com a conquista, tentaria outras explicações; talvez
agregando outros fatores como dimensões da atração física, a maneira de se vestir etc.
No processo, vai deduzindo da teoria o que encontra em seu estudo. Desse modo, se a teoria
selecionada for inadequada, seus resultados serão fracos.
Sob o enfoque qualirativo-indutivo, o estudante, mais que definir o problema de pesquisa,
sentaria na cantina da escola para observar as pessoas que têm fama de conquistadoras, levando em
conta suas características, a maneira como se comportam, seus atributos e a forma de se relacionar
com os demais (em especial, com pessoas do sexo oposto). Daí, poderia obter algum esquema que
explicasse as razões pelas quais essas pessoas conquistam outras.
Depois entrevistaria com questões abertas algumas dessas pessoas e também aquelas que foram
conquistadas por elas. Disso chegaria a conclusões e contrastaria seus achados com outros estudos.
ão seria indispensável obter uma amostra representativa nem generalizar seus resultados.
Seu procedimento seria indutivo: de cada caso de conquistador estudado se obteria, talvez, o
perfil procurado.
O pesquisador também poderia mesclar ambos os enfoques e proceder simultaneamente das
duas maneiras (encarregar um grupo de amigos de realizar o primeiro estudo, baseado na teoria
produto de investigações anteriores; e encarregar outro grupo de iniciar a pesquisa observando os
conquistadores na cantina [enfoque misto quantitativo-qualitativoj).
METODOLOGIA DE PESQUISA•
Os métodos
quantitativos têm
sido mais utilizados
pelos pesquisadores
das chamadas
"ciências exatas".
J
o PROCESSO DE PESQUISA
Desde a primeira edição deste livro, insistimos na premissa de conceber a pesquisa como
um processo constituído por diversas etapas, passos ou fases, organizados de uma maneira
lógica, seqüencial e dinâmica. Isso não quer dizer que não seja possível retomar a uma
etapa anterior ou visualizar as etapas subseqüentes.
Em termos gerais, esse processo se aplica tanto ao enfoque quantitativo quanto ao qua-
litativo, portanto, com suasdiferenças, que serão analisadas em cada etapa dentro do livro.
Por enquanto, comentaremos que, no caso da maioria dos estudos quantitativos,
o processo se aplica de forma seqüencial: começa com uma idéia que vai sendo refinada
e, uma vez delimitada, os objetivos e questões da pesquisa são estabelecidos, a literatura é
revisada e um marco ou perspectiva teórica é construído. Depois, os objetivos e questões,
cujas tentativas de respostas são traduzi das em hipóteses, são analisados; um plano para testar
as hipóteses (projeto de pesquisa) é elaborado ou selecionado, e uma amostra é determinada.
Por último, os dados são coletados utilizando um ou mais instrumentos de medição, os quais
são estudados (a maioria das vezes pela análise estatística) e os resultados relatados.
Cabe apontar que, na coleta de dados, poderia haver o envolvimento de um instrumento
de natureza qualitativa como a aplicação de uma entrevista aberta.
Por sua vez, nas pesquisas qualitativas, o processo não é aplicado necessariamente
de maneira seqüencial (ainda que possa ser aplicado dessa forma). Na maior parte desses
estudos, a seqüência seria como mostra a Figura 1.1.
A diferenciação do problema (objetivos do estudo, as questões de pesquisa e a justificativa)
e as hipóteses conseqüentes surgem em qualquer parte do processo em um estudo qualitativo:
desde que a idéia foi desenvolvida até, inclusive, a elaboração do relatório de pesquisa.
E, do mesmo modo que na pesquisa quantitativa, tal definição é suscetível a
mudanças, como se menciona ao longo do livro.
O trabalho de campo significa sensibilizar-se com o ambiente ou lugar, identificar
informantes que tragam dados adicionais, entrar e concentrar-se na situação de pesquisa,
além de verificar a viabilidade do estudo.
Aqui as técnicas de coleta de dados, do mesmo modo que
na pesquisa quantitativa, podem ser múltiplas (entrevistas,
provas, questionários abertos, sessões de grupos, análise de
episódios, biografias, casos, gravações em áudio ou vídeo,
registros, revisão de arquivos, observação etc.).
Na fase da coleta de informações devemos levar um
caderno de notas ou diário pessoal - ou outras tecnologias,
como um laptop -, para registrarmos os fatos, as interpreta-
ções, as crenças e reflexões sobre o trabalho de campo e a
obtenção dos dados. Portanto, são anexados documentos e
discussões da equipe de trabalho.
Quais vantagens tem cada um dos enfoques
quantitativo e qualitativo?
Como insistimos anteriormente, ambos os enfoques são
proveitosos. A investigação quantitativa nos oferece a
a
e
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGaAI.
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6
possibilidade de generalizar os resultados de
maneira mais ampla, concede-nos controle
sobre os fenômenos e um ponto de vista de
contagem emagnitude em relação a eles.Assim,
oferece uma grande possibilidade de réplica e
um enfoque sobre pontos específicos de tais
fenômenos, além de facilitar a comparação en-
tre estudos similares.
Por sua vez, a pesquisa qualitativa dá
profundidade aos dados, a dispersão, a riqueza
interpretativa, a contextualização do ambiente, os
detalhes e asexperiências únicas. Também oferece
um ponto de vista "recente, natural e holístico"
dos fenômenos, assim como flexibilidade.
Por isso, a mistura dos dois modelos po-
tencializa o desenvolvimento do conhecimento,
aconstrução de teorias earesolução deproblemas.
Ambos são empíricos, porque coletam dados do
fenômeno que estudam. Tanto um como outro
requer seriedade, profissionalisrno e dedicação.
Empregam procedimentos distintos e possíveis
de utilizar com acerto.
Desse modo, os métodos quantitativos
têm sido mais usados por ciências como a física,
a química e a biologia. Portanto, são mais ade-
quados para as ciências chamadas "exatas".
Os qualitativos têm sido empregados em disciplinas humanísticas como a antropologia, a
etnografia e a psicologia social. Não obstante, ambos os tipos de estudo são úteis para todos
os campos, como demonstraremos ao longo da presente obra. Por exemplo, um engenheiro
civil pode realizar um estudo para construir um grande edifício. Ele empregaria estudos
quantitativos e cálculos matemáticos para erguer a edificação, e analisaria dados estatísticos
sobre resistência de materiais e sobre estruturas similares construídas em subsolos iguais sob
as mesmas condições. Porém, também poderia enriquecer o estudo realizando entrevistas com
engenheiros muito experientes.
Um estudioso dos impactos de uma desvalorização na economia de um país complemen taria
suas análises quantitativas com sessões de discussões profundas com especialistas e realizaria
uma análise histórica (tanto quantitativa como qualitativa) dos fatos.
Um analista da opinião pública, ao investigar os fatores que mais incidem na votação
para uma próxima eleição, utilizaria grupos de enfoque com discussão aberta (qualitativos),
além de pesquisas por amostragem (quantitativos).
Um médico que indagasse sobre quais elementos devem ser levados em conta no momento
de tratar os pacientes com doenças em fase terminal, e conseguir que enfrentem essa situação crítica
da melhor maneira, revisaria a teoria disponível, consultaria pesquisas quantitativas e qualitativas
a esse respeito para conduzir uma série de observações estruturadas na relação médico-paciente em
casos terminais (realizando amostras de atos de comunicação e quantificando-os), e entrevistaria
I Desenvolvimento de uma idéia, tema ou área a investigar I,
I Seleção do ambiente ou lugar de estudo
T
I Escolha de participantes ou indivíduos do estudo
T
Inspeção do ambiente ou lugar de estudo
Trabalho de campo
Seleção de um projeto de pesquisa (ou estratégia a ser
desenvolvida no ambiente ou lugar e para coletar os
dados necessários)
Seleção ou elaboração de um instrumento para
coletar os dados (ou vários instrumentos)
Coleta de dados (obter as informações pertinentes) e
registro dos acontecimentos do ambiente ou lugar
T
Preparação dos dados para análise
T
Análise dos dados
t
Elaboração do relatório de pesquisa
I
Esquema do
processo de
pesquisa
Figura 1.1
I
I
Modelo de duas etapas: dentro
de uma mesma pesquisa,
aplica-se primeiro um enfoque
e depois o outro, de forma
quase independente, e a cada
etapa seguem-se as técnicas
correspondentes a cada enfoque.
METODOLOGIA DE PESQUISA•
Exemplos de estudos
de autores com
enfoque integrado
Quadro 1.3
pacientes e médicos por meio de técnicas qualitativas, organizaria grupos de pacientes para
que conversassem abertamente sobre tal relação e o tratamento que desejam. Ao terminar seria
possível estabelecer suas conclusões e chegar a questões de pesquisa, hipóteses ou novas áreas de
estudo. É sempre melhor ter o melhor dos dois mundos.
-COMO SAO UTILIZADOS OS DOIS ENFOQUES
EM UMA MESMA PESQUISA OU ESTUDO?
Antes de responder à pergunta, cabe mencionar que os autores vêm trabalhando com os
dois enfoques. O Quadro 1.3 mostra exemplos disso.
Nau (1995) e Grinnell (1997) desenvolveram modalidades diferentes em que é
possível mesclar os dois enfoques:
o modelo de duas etapas
Aqui, em primeiro lugar se aplica um enfoque e em seguida o outro, de maneira relativamente
independente, dentro do mesmo estudo. Um precede o outro e os resultados são apresentados
de maneira independente ou em um relatório apenas.
Em cada etapa os métodos inerentes de cada enfoque são respeitados.
Por exemplo, o caso de um estudo na área de direito tributário realizado por
Acero (2001) para avaliar a "cultura tributária no México". Primeiramente,
o pesquisador realizou um estudo quantitativo, no qual analisou estatísticas
referentes ao pagamento de impostos e à evasão tributária.
Partiu-se da idéia de que as cifras disponíveis nessa matéria seriam
um indicador confiável do nível de cultura tributária entre os cidadãos.
Ao mesmo tempo, revisououtros estudos anteriores sobre o conhecimento
FASE QUALITATIVA FASE QUANTITATIVA
Hernández Sampieri, Roberto:
"EI sentido de vida de los afectados
por um siniestro" (2002)
Entrevistas abrangentes e não-estruturadas
com feridos e mutilados de
explosões de bombas.
Aplicação de uma escala de
sentido de vida estruturada
(Prueba en Celaya de Carmen
Núfíez, 2000)
Fernández Collado, Carlos:
UAutoinversión en el
trabajo" (1982)
Em um estudo-piloto são codificadas as
expressões e frases dos funcionários
e empregados, quando se referem às
suas experiências de trabalho.
Resultado de entrevistas,
foi a matéria-prima para construir
um questionário aplicado a 800
indivíduos com a finalidade de
estabelecer o grau de
envolvimento com seus trabalhos.
Baptista Lucio, Pilar:
"Percepciones dei director de
empresa en México" (1986).
Entrevistas abrangentes e não-estruturadas
com diretores de empresas de médio
porte para estabelecer suas percepções
em relação ao ambiente político e
empresarial.
Com base na pesquisa
qualitativa, foram estabelecidos
o tipo e a treqüência de condutas
de comunicação que buscavam
conhecer o meio ambiente para
tomar decisões bem informadas.
os
é
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAL
S;
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5
questão tributária por parte dos contribuintes, atitudes em relação a essa, problemas
arrecadação e áreas que lhe permitiram deduzir o nível de desenvolvimento da cultura
ibutária mexicana.
Uma vez concluído seu estudo quantitativo, o entrevistado r passou a realizar entre-
. tas com informantes-chave sobre a cultura tributária (realizou entrevistas dirigidas entre
magistrados, funcionários governamentais, especialistas em direito triburário, assessores sobre
o assunto e contribuintes), mas com questões gerais e abertas como: qual é a cultura tributária?
uais elementos a integram? Existe uma cultura tributária no país? As entrevistas seguiram
método qualitativo básico (observação e registro das respostas, assim como o contexto em
ue foram realizadas; interpretação; busca de resultados etc.). Os resultados foram relatados e
conclusões foram obtidas.
Em primeiro lugar, o estudo foi abordado quantitativamente e, a seguir, qualitati-
nrnente; em seu relatório final, ambas as fases do processo de pesquisa foram incluídas.
modelo de enfoque dominante
_·este modelo, o estudo se desenvolve da perspectiva de um dos dois enfoques, o qual prevalece,
a pesquisa mantém um componente do outro enfoque.
Por exemplo, um estudo sociológico para conhecer as seqüelas do terrível ato de violência
ual contra jovens de ambos os sexos, realizado em uma cidade da Colômbia, Valledupar.
A pesquisa poderia ser enfocada qualitativamente, utilizando três ferramentas: a)
entrevistas com vítimas de violência sexual; b) sessões de grupo com discussão aberta sobre o
ema, também com jovens que sofreram uma agressão desse tipo; c) revisão
e registros nos julgamentos.
O pesquisador se aprofunda nas experiências das vítimas, seus traumas,
o impacto na sua percepção de mundo e da vida cotidiana, enfim, em outros
temas que pudessem surgir. Seu estudo começa sem questões de pesquisa,
muito menos com hipóteses. Apenas são estabelecidos tópicos gerais a
ser tratados nas entrevistas e nas sessões, assim como pontos a revisar nos
documentos jurídicos. Ou, se preferir, um método completamente aberto com uma questão
geral em entrevistas ou sessões relacionadas com o significado geral da experiência, como
gatilho para respostas e comentários.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, mas à qual poderia ser agregado um componente
quantitativo: administrar um teste padronizado para medir a ansiedade dos jovens após o
difícil evento.
Outro caso seria o de um experimento para avaliar o nível em que um novo método de
ensino de computação favorece a aprendizagem e a auto-estima das crianças entre 10 e 12
anos em Valência, Venezuela, estabelecendo hipóteses que afirmem que o método aumentará
essas duas variáveis. É um estudo quantitativo, ao qual poderia ser agregado um componente
qualitativo: sessões com as crianças para elaborar mapas cognitivos daquilo que aprenderam
e registrar suas experiências.
A vantagem desse modelo, segundo Grinnell (1997), consiste em apresentar um enfoque
que de modo algum é considerado incoerente e que enriquece tanto a coleta de dados como sua
análise. A desvantagem que os "fundamentalisras", de uma ou outra corrente, encontrariam é
que seu enfoque estaria sendo subutilizado.
Modelo de enfoque dominante:
é realizado da perspectiva de
um dos dois enfoques, o qual
prevalece, e o estudo conserva
componentes do outro enfoque.
•Modelo misto: constituí o maior
nível de integração entre os enfoques
qualitativo e quantitativo, no qual
ambos se combinam durante rodo
o processo de pesquisa.
METODOLOGIA DE PESQUISA•
o modelo misto
Esse modelo representa o mais alto grau de integração ou combinação entre os enfoques
qualitativo e qualitativo.
Ambos se combinam durante todo o processo de pesquisa, ou pelo menos, na maioria de
suas etapas. Esse modelo exige um domínio completo dos dois enfoques e uma mentalidade
aberta. Agrega complexidade ao projeto de estudo, mas contempla todas as vantagens de cada
um dos enfoques.
A pesquisa oscila entre os esquemas de pensamento indutivo e dedutivo, além de
exigir um enorme dinamismo por parte do pesquisador durante o processo. Chega a um
ponto de vinculação entre o qualitativo e o quantitativo que parece inaceitável para os
"puristas" .
Um exemplo seria o estudo mercadológico realizado pelos autores
para uma cadeia de centros comerciais no México e outros localizados na
América Central (Comunicometría, S. C; 2000). A pesquisa tinha como
objetivo geral conhecer aquilo que os clientes regulares achavam de cada
centro comercial, se a localização era funcional, se os agradava e satisfazia as
suas expectativas. Além disso, os diretores tinham um interesse em relação
à necessidade de efetuar mudanças na decoração, ou mudança das lojas, ou se era preciso sanar
alguma debilidade.
Essa idéia de pesquisa se transformou em uma série de objetivos de pesquisa de
mercados e em questões que orientariam a pesquisa. Alguns exemplos dos objetivos
foram: a) conhecer e analisar as percepções e condutas que têm os clientes que freqüentam
regularmente os centros comerciais, em relação à funcionalidade do local, seus atributos
e características; b) considerar as sugestões de mudanças nos centros comerciais propostos
pelos clientes para aumentar suas idas ao local e seu tempo de permanência; c) realizar uma
análise dos pontos fortes e fracos de cada centro comercial da óptica dos clientes e, d) obter
informações que ajudem a definir a estratégia de mudança para cada centro comercial.
Esses não foram todos os objetivos, ainda que sirvam para ilustrar o exemplo.
Os pesquisadores não estabeleceram hipóteses e iniciaram com um estudo que visava
descobrir as opiniões dos clientes.
O estudo compreendeu duas vertentes: uma tipicamente quantitativa eoutra qualitativa.
Foram realizadas oito pesquisas, uma para cada centro comercial. O quantitativo consistiu em
uma pesquisa realizada com uma amostra representativa dos clientes que freqüentava o centro
comercial. O tamanho da amostra foi obtido da estatística referente ao registro de freqüência
(contagem) dentro de uma semana típica (não em épocas de grande movimento como o
Natal), chegando ao número de 420 pessoas (60 pessoas a cada dia da semana). Aplicou-se
um questionário com questões fechadas e algumas abertas. Ao mesmo tempo, foram iniciadas
sessões de grupo em profundidade (com uma lista de tópicos que abordavam a forma como
definiam o centro comercial, o que lhes agradava ou não, a avaliação da variedade de lojas, o
tempo de permanência, as mudanças que deveriam ser efetuadas na localização, a avaliação
dos serviçosque eram oferecidos e outras dimensões). Cada sessão foi realizada com um
grupo de oito indivíduos de diferentes segmentos entre 18 e 60 anos (agrupados por idade
e foram incluídos grupos de homens, mulheres, e grupos mistos, em um total de dez sessões
por centro). Todas as sessões foram gravadas em vídeo, posteriormente transcritas e duas
equipes de pesquisa independentes analisaram os dados (uma a partir dos vídeos e a outra a
partir das transcrições).
a
o PROCESSODE PESQUISA EOS ENFOQUES QUANTITATIVO EQUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAl.
Ss
5
Foi utilizada uma técnica qualitativa para analisar os dados, além do fato de o condutor
das sessões e um observador que estava por trás da câmara de Gesell (com vidro polarizado)
terem tomado nota dos acontecimentos que se apresentaram durante as sessões, assim como
toda a interpretação que é própria no enfoque qualitativo.
Depois, realizou-se a análise estatística com os dados da pesquisa e aplicou-se uma análise
interprerativa dos dados resultantes das sessões.
Ao finalizar o estudo do primeiro centro comercial, surgirão novas questões de pesquisa.
Uma delas foi: os centros comerciais devem buscar ser, além de lugares de compra, espaços de
diversão?
Isso porque o primeiro estudo trouxe informações suficientes para pensar que os centros
comerciais, pelo menos nos países estudados, se converteram no que eram as grandes praças
públicas, e as pessoas vão tanto para comprar como para se divertir. Nesse sentido, cada vez
encontraremos espaços maiores de diversão nesses centros.
Assim, o estudo para o segundo centro comercial refinou o questionário da pesquisa e
a lista de tópicos das sessões. O resultado foi um estudo enriquecido pelos dois enfoques, os
quais conviveram dentro do mesmo processo de pesquisa.
Ao longo deste texto será mencionado outro exemplo mercadológico que combina ambos
os enfoques.
• Nos úlrimos anos surgiu uma controvérsia en tre dois enfoq ues para a pesquisa: o quantitativo
e o qualitativo.
Os defensores de cada um argumentam que o seu é o mais apropriado e produtivo para a
pesqUIsa.
O enfoque quantitativo se fundamenta em um esquema dedutivo e lógico, busca formular
questões de pesquisa e hipóteses para posteriormenre testá-ias, confia na medição pa-
dronizada e numérica, utiliza a análise estatística, é reducionista e pretende generalizar
os resultados de seus estudos mediante amostras representativas. Além disso, parte da
concepção de que existem duas realidades: aquela em torno do pesquisador e aquela
constituída pelas crenças dele; portanto, fixa como objetivo provar que as crenças do pes-
quisador estão próximas da realidade do ambiente.
Os experimentos e as pesquisas baseados em questionários estruturados são exemplos de
pesquisa centrada nesse enfoque.
O enfoque qualitativo, por sua vez, é baseado em um esquema indutivo, é expansivo
e em geral não busca criar questões de pesquisa anteriormente nem provar hipóteses
preconcebidas, e sim deixar que essas surjam durante o desenvolvimento do estudo. É
individual, não mede numericamente os fenômenos estudados nem tampouco tem como
finalidade generalizar os resultados de sua pesquisa; não realiza análise estatística; seu
método de análise é interpretativo, contexrual e etnográfico. Assim, preocupa-se em captar
~ eriências na linguagem dos próprios indivíduos e estuda ambientes naturais.
• •. --
RESUMO
•
•
•
•
METODOLOGIA DE PESQUISA•
••
RJ""
CONCEITOS
BÁSICOS
Exercício
••
Ir
• As entrevistas abertas e a observação não-estruturada são exemplos associados ao enfoque
qualitativo.
Esses dois enfoques são formas que se demonstraram muito úteis para o desenvolvimento
do conhecimento científico e nenhum é intrinsecamente melhor que o outro.
Ambos podem ser mesclados e incluídos no mesmo estudo, o que, longe de empobrecer
a investigação, a enriquece; são visões complemenrares.
Tanto o enfoque de pesquisa qualitativo como o quantitativo, com suas diferenças, têm
espaço no processo de pesquisa científica.
É possível seguir, pelo menos, três modelos para mesclá-Ios: 1. o modelo de duas
etapas, 2. o modelo de enfoque dominante e 3. o modelo misto.
No modelo de duas etapas primeiro é aplicado um enfoque e em seguida o outro,
de maneira independente, em um mesmo estudo; no modelo de enfoque dominante,
uma das modalidades prevalece sobre a outra e um componente do segundo enfoque
é incluído; no modelo misto ambos os enfoques estão interligados durante todo o
processo de pesquisa .
•
•
•
•
•
Esquema dedutivo
Esquema indutivo
Modelo de duas etapas
Modelo de enfoque dominante
Coleta de dados
Enfoque ou modelo multimodal
Enfoque qualitativo
Enfoque quantitativo
Modelo misto
Processo de pesquisa
Triangulação
(Após ter lido
todo o Iivro) 1. Desenvolva uma proposta de pesquisa para cada modelo (duas
etapas, enfoque dominante e misto) que em um único escudo
mescle os enfoques quantitativo e qualitativo .
CRESWELL,]. W. Qualitative inquiry and research designe Choosing harmony among traditions, Califórnia:
Sage Publications, 1997.
DE ZIN, N. K. The research act: a theoretical introduction to sociological methods. 2. ed. Nova York:
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SCHWARTZ, H.; ]ACOBS, O. Sociología cualitatiua: método para Ia reconstrucción de Ia realidad. México:
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••"..
OS PESQUISADORES
OPINAM
o PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO INTEGRAL
~
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6
Os estudantes ouvem tanto sobre como é difícil e enfadonha a pesquisa, que chegam nessa
etapa da escolaridade com a mente cheia de preconceitos e agem sob pressão, medo e, aliás,
ódio em relação a ela,
Antes que se ocupem das tarefas rotineiras da elaboração de um projeto, é necessário fazê-los
refletir sobre sua atitude diante de tal empreitada, para que valorizem a pesquisa em sua justa dimensão,
já que não se trata de Ievá-los a crer que todos os problemas serão resolvidos como em um passe de
mágica, ou que apenas nos países de primeiro mundo existe a capacidade para realizar tal feito,
A pesquisa representa mais uma das fontes de conhecimento pelas quais, se decidirmos
ampliar suas fronteiras, será indispensável realizá-Ia com responsabilidade ética,
Ainda que a pesquisa quantitativa esteja consolidada como o método predominante no
horizonte científico internacional, nos últimos cinco anos a pesquisa qualitativa teve maior
aceitação; entretanto, começa-se a superar o desgastado debate de oposição entre ambos os tipos,
Outro avanço na pesquisa é representado pela internet; no passado, a revisão da literatura
tornava-se longa e tediosa, agora ocorre o contrário, já que o pesquisador pode dedicar-se mais
à análise da informação em vez de escrever dados em centenas de cartões,
Ainda restam, contudo, pesquisadores e docentes que preferem adotar posições radicais,
Eles se comportam como uma criança que descobriu o martelo e agora martela tudo o que
encontra em seu caminho, sem a possibilidade de perguntar a si mesmo se o que precisa é um
serro te ou uma chave de fenda,
CARLOS G, ALO zo BLANQUETO
Professor-pesquisadortitular da Faculdade de Educação
Universídad Autónoma de Yucatdn
Mérida, México
Faculdade de Odontologia
Universidad Autónoma de Nayarit
Nayarit, México
Os estudantes que se iniciam na pesquisa começam elaborando um problema em um contexto
geral, em seguida localizam a situação no contexto nacional e regional para, por último,
projetá-Ia em âmbito local, ou seja, onde se encontram academicamente localizados (campo,
laboratório,sala de aula etc.).
Na Universidad de Oriente, na Venezuela, a pesquisa adquiriu relevância nos últimos
anos por duas razões: o crescimento do quadro de professores e a diversificação de cursos de
Engenharia, área na qual, em geral, as pesquisas são quantitativas-positivas, com resultados
muito satisfarórios.
Da mesma forma, no estudo de fenômenos sociais e em ciências da saúde, o enfoque
qualitativo, visto como uma teoria da pesquisa, apresenta grandes avanços. É uma ferramenta
metodológica utilizada com freqüência nos estudos de doutorado de Filosofia, Epistemologia,
Educação e Lingüística, entre outras disciplinas, As contribuições de tais estudos se caracterizam
por sua riqueza de descrição e análise.
Os enfoques qualitativo e quantitativo, vistos como teorias filosóficas, são completamente
diferentes; no entanto, como técnicas para o desenvolvimento de uma pesquisa, podem ser
mesclados, sobretudo em relação à análise e à discussão de resultados,
MARrANELLIS SALAZARDE GÓMEZ
Professora titular
Faculdade de Humanidades
Universidad de Oriente
Anzodtegui, Venezuela
provêm de
que podem ser =r.:»:
~
Textos, recursos
audiovisuais, teorias,
descobertas, conversas,
crenças, intuições,
Internet
Fontes
A idéia: nasce um
projeto de pesquisa
PROCESSO DE PESQUISA
Primeiro passo
CONCEBER A IDÉIA A SER INVESTIGADA
Síntese
o capítulo expõe a forma como se iniciam as pesquisas mediante idéias. Assim, falamos das
fontes que inspiram as idéias de pesquisa e a maneira de desenvolvê-Ias, para formulação de
projetos.
O capítulo, como toda a obra, assume também uma postura que defende a validade de
misturar os enfoques quantitativo e qualitativo na pesquisa, tal como foi explicado ao longo
do primeiro capítulo.
Capítulo
Ob1etivos de
aprendixélgém
Ao finalizar o estudo deste
capítulo, você deverá ser
capaz de:
• Produzir idéias com potencial
investigativo a partir de uma
perspectiva científica.
• Conhecer as fontes que
podem inspirar pesquisas
científicas, de um enfoque
quantitativo, qualitativo ou
misto.
METODOLOGIA DE PESQUISA•
Como surgem as idéias de pesquisa?
COMO TÊM ORIGEM AS PESQUISAS?
•Idéias de pesquisa: representam a
primeira aproximação da "realidade"
que se pretende pesquisar, ou os
fenômenos, eventos e ambientes a
serem estudados.
As pesquisas se originam nas idéias, sem importar que tipo de paradigma
fundamenta nosso estudo nem o enfoque que seguiremos. Para iniciar
uma pesquisa sempre é necessária uma idéia; ainda não se conhece um
substituto para uma boa idéia. As idéias constituem a primeira aproximação
da "realidade" que se pretende pesquisar (em um enfoque quantitativo), ou
os fenômenos, eventos e ambientes a serem estudados (em um enfoque
qualitativo).
Fontes de idéias para uma pesquisa
Existe uma grande variedade defontes que podem produzir idéias depesquisa, entre as quais se
encontram experiências individuais, materiais escritos (livros, revistas, jornais, periódicos
e reses), materiais audiovisuais (a Internet em sua ampla gama de possibilidades como
páginas da Web, fóruns de discussão, entre outros), teorias, descobertas provenientes de
outras pesquisas, conversas pessoais, observações de fatos, crenças e até mesmo intuições e
pressentimentos. No entanto, as fontes que dão origem às idéias não se relacionam com a
sua qualidade. O fato de um estudante ler um artigo científico e extrair dele uma idéia de
pesquisa não necessariamente significa que essa será melhor que a de outro estudante que
a obtenha enquanto assiste a um filme ou a uma partida de futebol da Copa Libertadores.
Essas fontes também chegam a produzir idéias de modo separado ou conjuntamente. Por
exemplo, ao sintonizar um noticiário e observar casos de violência ou terrorismo, é possível,
a partir disso, desenvolver uma idéia para realizar uma pesquisa. Depois, pode-se discutir a
idéia com alguns amigos e refiná-Ia um pouco mais ou modificá-Ia; posteriormente busca-
se informação a esse respeito em revistas e jornais, até consultar artigos científicos so-
bre violência, terrorismo, pânico coletivo, multidões, psicologia das massas, sociologia da
violência etc,
O mesmo poderia acontecer para o caso de sexo, pagamento de impostos, crise
econômica de uma nação, relações familiares, amizade,
anúncios publicitários em rádio, as doenças sexualmente
transmissíveis, guerra bacteriológica, desenvolvimento
urbano e outros temas.
Existem várias
fontes geradoras
de idéias de
pesquisa, por
exemplo, as
notícias.
Uma idéia pode surgir em locais onde os grupos se encontram
(restaurantes, hospitais, bancos, indústrias, universidades e
demais formas de associação) ou ao observar as campanhas
eleitorais (alguém poderia questionar se toda publicidade
serve para alguma coisa, tantos letreiros, cartazes e muros
pintados têm algum efeito sobre os eleitores?). Desse modo,
é possível criar idéias ao ler uma revista de variedade (por
exemplo, ao terminar um artigo sobre a política externa
norte-americana, alguém poderia conceber uma pesquisa
sobre as relações atuais entre os Estados Unidos e a América
Latina), ao estudar em casa, ao ver a televisão ou ir ao cinema
Agnaldo
A IDÉIA: NASCE UM PROJETO DE PESQUISA
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(o filme romântico da moda sugeriria uma idéia para pesquisar algum
aspecto das relações heterossexuais), ao conversar com outras pessoas, ao
recordar alguma experiência. Por exemplo, um médico que, ao ler notícias
sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV), quer saber se existe ou
não diferenças no tempo que a Aids demora em se desenvolver nas pessoas
que foram infectadas pelo HN por transfusão sangüínea em relação àquelas
que se contagiaram pela via sexual. Ao navegar pela Internet, alguém pode
ter idéias de pesquisa, talvez por algum fato da atualidade (por exemplo, um aluno que leia,
na imprensa, notícias sobre o terrorismo em alguma parte do mundo e comece um estudo
sobre como seus concidadãos vêem tal fenômeno nos tempos atuais).
Fontes geradoras de idéias de
pesquisa: situações das quais surjam
idéias de pesquisa, como materiais
escritos e audiovisuais, teorias,
conversas, crenças etc,
Imprecisão das idéias iniciais
As idéias iniciais em sua maioria são vagase requerem análise cuidadosapara que se venham a se
transformar em projetos mais precisos e estruturados. Como mencionam Labovitz e Hagedorn
(1976), quando uma pessoa desenvolve uma idéia de pesquisa, deve familiarizar-se com o
campo de conhecimento em que se inscreve a idéia. Por exemplo, uma jovem, ao refletir sobre
o noivado, pode se perguntar: quais aspectos influem para que um homem e uma mulher
tenham uma relação cordial e satisfatória para ambos? - e decidir realizar uma pesquisa que
estude os fatores que interferem na evolução do noivado. Contudo, até esse momento sua
idéia é vaga e deve especificar diversas questões, tais como se pretende incluir em seu estudo
todos os fatores que chegam a influir no noivado ou somente alguns deles, se vai se concentrar
em pessoas de certa idade ou de várias idades, se a pesquisa terá um enfoque psicológico ou
sociológico. Para que continue desenvolvendo sua pesquisa, é necessário introduzir-se na área
de conhecimento em questão. O pesquisador deverá conversar com outros pesquisadores
da área sobre as relações interpessoais (por exemplo, psicólogos clínicos, psicoterapeutas,
comunicólogos, psicólogos sociais, humanistas), procurar ler alguns artigos e livros sobre o
noivado, conversar com diversos casais, assistir a alguns filmes educativos sobre o tema, pesquisar
sites na Internet com informações úteis para sua idéia e realizar outras atividades similares
para se familiarizar com seu objeto de estudo. Uma vez aprofundado o tema, o pesquisador
estará em condições de definir sua idéia de pesquisa.
Necessidade de conhecer os antecedentes: Revisão Bibliográfica
Para aprofundar-se no tema, é necessárioconhecer estudos, pesquisas e trabalhos anteriores.
Conhecer o que já foi feito a respeito do tema:
• Não pesquisar algum tema que já tenha sido estudado muito a fondo. Isso implica que
uma boa pesquisa deve ser inovadora, o que pode ser alcançado tratando um tema não
estudado, aproíundando um tema pouco conhecido ou dando um enfoque diferente ou
inovador a um problema, mesmo que esse já tenha sido examinado repetidamente (por
exemplo, a família é um tema muito estudado; no entanto, se alguém analisá-Ia de um
ponto de vista diferente, digamos, a maneira como se apresenta nas telenovelas brasileiras
do começo do século XXI, isso daria à investigação um enfoque novo).
Estruturar mais formalmente a idéia de pesquisa. Por exemplo, uma
pessoa, ao assistir a um programa de televisão no qual se incluem cenas
com alto conteúdo sexual explícito ou implícito, talvez se interesse por
•
Temas de pesquisa: questão ou
assunto que se pretende estudar.
Agnaldo
Agnaldo
Sem dúvida, no enfoque qualitativo da pesquisa, a finalidade não é sempre contar
com uma idéia bem estruturada de pesquisa; mas mesmo assim, é conveniente consultar
fontes prévias para obter outras referências, mesmo que, por fim, iniciemos nosso estudo
partindo de bases próprias e sem estabelecer alguma idéia preconcebida.
• Delimitar o tema apartir do qual a idéia depesquisa seráabordada. De fato, mesmo que
os fenômenos do comportamento humano sejam os mesmos, é possível analisá-I os de
diversas formas, segundo a disciplina na qual se enquadre a pesquisa. Por exemplo,
se as organizações são estudadas basicamente do ponto de vista da comunicação, o
interesse estará centrado em aspectos como as redes e os fluxos de comunicação nas
organizações, os meios de comunicação, os tipos de mensagens que são transmitidos,
a sobrecarga de informação, a distorção e a omissão da informação. Se são estudados
de uma perspectiva sociológica, a pesquisa se ocuparia de aspectos como a estrutura
hierárquica das organizações, os perfis socioeconômicos de seus membros, a migração
dos trabalhadores de áreas rurais para as zonas urbanas e seu ingresso nos centros
industriais, as profissões e outros aspectos. Caso seja adotada uma perspectiva funda-
mentalmente psicológica, outros aspectos serão analisados, como os processos de
liderança, a personalidade dos membros da organização, a motivação no trabalho. E
se fosse utilizado um enfoque eminentemente mercadológico das organizações, seriam
pesquisadas questões como os processos de compra e venda, a evolução dos mercados,
as relações entre empresas que competem dentro de um mesmo mercado.
METODOLOGIA DE PESQUISA•
Ao iniciar uma
pesquisa, a idéia
pode ser estruturada
do geral (a televisão)
para oparticular
(programas com
alto conteúdo
erótico e seus efeitos
na conduta dos
adolescentes).
realizar uma pesquisa voltada a esse tipo de programa.
No entanto, sua idéia é confusa, o pesquisador não sabe
como abordar o tema que não se encontra estruturado;
portanto, o pesquisador consultará diversas fontes biblio-
gráficas a esse respeito, consultará alguém que conheça o
tema e analisará mais programas desse tipo; e depois de
se aprofundar no campo de estudo correspondente, será
capaz de expor com maior clareza e formalidade o que
deseja pesquisar. Vamos supor que decida concentrar-
se no estudo dos efeitos que tais programas têm sobre
a conduta sexual dos adolescentes; ou enfocar o tema
de outro ponto de vista, por exemplo, pesquisar se há
ou não uma quantidade considerável de programas com
alto conteúdo erótico na televisão brasileira atual, em
quais canais e em quais horários são transmitidos, quais
situações mostram esse tipo de conteúdo, e de que for-
ma são feitas. E assim sua idéia terá maior precisão e
maior medida.
A maioria das pesquisas, apesar de enquadradas em uma perspectiva em particular,
não pode evitar, em maior ou menor grau, temas que se relacionem com outros campos ou
disciplinas (por exemplo, as teorias de agressão social desenvolvidas pelos psicólogos têm sido
utilizadas pelos comunicólogos para investigar os efeitos que a violência na televisão produz
na conduta das crianças que são expostas a ela). Portanto, quando se comenta o enfoque
selecionado, fala-se de perspectiva principal ou [undamental, e não de perspectiva única. A
seleção de uma ou outra perspectiva tem implicações importantes no desenvolvimento de
um estudo. Também é comum que se realizem pesquisas interdisciplinares que abordem
um tema utilizando várias perspectivas ou pontos de vista.
Agnaldo
A IDÉIA: NASCE UM PROJETO DE PESQ
~
=I'c:
6•....
Se uma pessoa quer saber como se desenvolve um município, ela deverá empregar
uma perspectiva urbanística, no qual analisará aspectos como vias de comunicação, solo e
subsolo, problemática econômica da comunidade, disponibilidade de terrenos, aspectos legais
etc, Mas não pode se esquecer de outros aspectos, E independentemente do enfoque adotado
- quer adotemos um qualitativo, quantitativo ou misto - precisaremos
escolher uma perspectiva principal para abordar o estudo, ou pelo menos
estabelecer quais perspectivas o conduzirão. Assim, estamos falando de
perspectiva (disciplina da qual a pesquisa é orientada de forma central) e
enfoque (paradigma: quantitativo, qualitativo ou misto) do estudo.
Estruturação da idéia de pesquisa:
consiste em esboçar com maior
clareza e formalidade o que se
deseja investigar.
esquisa prévia dos temas
É evidente que, quanto melhor se conhece o tema, mais eficiente e rápido será o processo de
refinar a idéia. Portanto, existem temas que têm sido mais pesquisados que outros e, por
conseqüência, seu campo de conhecimento se encontra mais bem estruturado. Esses casos
exigem projetos mais específicos. Poderíamos dizer que existem:
• Temas já pesquisados, estruturados e formalizados, sobre os quais é possível encontrar
documentos escritos e outros materiais que relatem os resultados de pesquisas ou
análises anteriores.
• Temas já investigados, porém menos estruturados e formalizados, sobre os quais se tem
pesquisado, mas existem poucos documentos escritos e outros materiais que relatem
essa pesquisa; o conhecimento pode estar disperso ou ser inacessível. Nesse caso, seria
necessário buscar as pesquisas não publicadas e recorrer a meios informais, como
especialistas no tema, professores, amigos etc. A Internet constitui uma ferramenta
valiosa nesse sentido.
• Temas pouco pesquisados epouco estruturados, os quais exigem um esforço para encontrar
o que já foi pesquisado, ainda que o material seja escasso.
• Temas não pesquisados.
A pesquisa qualitativa às vezes prefere esses últimos, ou até mesmo apresenta uma
nova visão a temas já estudados. Por vezes, é melhor não contar com essa estrutura.
Critérios para gerar idéias
Danhke (1986) menciona diversos critérios que os pesquisadores famosos sugeriram para
gerar idéias de pesquisa produtivas, entre os quais se destacam:
• As boas idéias intrigam, animam e excitam opesquisador de maneira particular. Ao escolher
um tema para pesquisar, e mais concretamente uma idéia, é importante que essa idéia
seja atraente. Não existe nada mais tedioso que trabalhar em algo que não nos interesse.
Na medida em que a idéia estimula e motiva O pesquisador, ele se compenetrará mais
no estudo e terá maior disposição para superar os obstáculos que se apresentam.
• As boas idéias de pesquisa "não são necessariamente novas, mas sim inovadoras". Em muitas
ocasiões é preciso atualizar ou adaptar os projetos derivados de pesquisas efetuadas em
contextos diferentes, ou por novos caminhos.
Agnaldo
Agnaldo
Agnaldo
METODOLOGIA DE PESQUISA•
• As boas idéias de pesquisa podem servir para elaborar teorias e solução de problemas. Uma
boa idéia pode conduzir a uma pesquisa que ajude a formular, integrar ou testar uma teoria
ou a iniciar outros estudos que, juntos com

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