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2011.1 Prof. Daniel de Souza Machado NOTAS DE AULA ENG 115 –Pontes UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO E ESTRUTURAS Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 2 SUMÁRIO PREFÁCIO ...................................................................................................................................................... 4 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 5 1.1.1 Elementos constituintes das pontes ...................................................................................................... 6 1.1.2 Tipos de pontes ..................................................................................................................................... 7 1.1.3 Seções transversais ............................................................................................................................. 10 2 CARREGAMENTOS .................................................................................................................................... 13 2.1 CARREGAMENTOS E SOLICITAÇÕES NAS PONTES ..................................................................................................... 13 2.1.1 Solicitações provocadas pelo peso próprio da estrutura .................................................................... 13 2.1.2 Solicitações provocadas pelas cargas úteis ......................................................................................... 13 2.1.3 Solicitações produzidas pelos elementos naturais .............................................................................. 13 2.1.4 Esforços produzidos por deformações internas .................................................................................. 14 2.2 CARGAS PERMANENTES ..................................................................................................................................... 16 2.2.1 Peso próprio dos elementos estruturais .............................................................................................. 16 2.2.2 Pavimentação ..................................................................................................................................... 16 2.2.3 Lastro de trilhos .................................................................................................................................. 16 2.3 CARGAS MÓVEIS .............................................................................................................................................. 17 2.3.1 Rodoviária ........................................................................................................................................... 17 2.3.2 Ferroviária ........................................................................................................................................... 20 2.3.3 Aeroviária ............................................................................................................................................ 22 2.3.4 Cargas rodoviárias não usuais ............................................................................................................ 23 2.3.5 Consideração de impacto devido às cargas móveis ............................................................................ 24 2.4 FORÇAS HORIZONTAIS EM PONTES. ..................................................................................................................... 25 2.4.1 Carregamento Longitudinal ................................................................................................................ 25 2.4.1.1 Frenagem e Aceleração ................................................................................................................................. 25 2.4.1.2 Empuxo de Terra ........................................................................................................................................... 26 2.4.1.3 Temperatura.................................................................................................................................................. 28 2.4.1.4 Determinação da rigidez dos apoios ............................................................................................................. 29 2.4.1.5 Retração ........................................................................................................................................................ 32 2.4.1.6 Protensão ...................................................................................................................................................... 32 2.4.2 Carregamento transversal .................................................................................................................. 32 2.4.2.1 Força Centrífuga ............................................................................................................................................ 32 2.4.2.2 Empuxo de água ............................................................................................................................................ 34 2.4.2.3 Pressão do Vento .......................................................................................................................................... 34 3 PILARES .................................................................................................................................................... 36 3.1 EFEITOS DE PRIMEIRA ORDEM ............................................................................................................................. 36 3.2 EFEITOS DE SEGUNDA ORDEM ............................................................................................................................. 37 3.3 DISPENSA DA ANÁLISE DE SEGUNDA ORDEM .......................................................................................................... 38 3.4 MÉTODO DO PILAR‐PADRÃO COM CURVATURA APROXIMADA ................................................................................... 39 4 LINHAS DE INFLUÊNCIA ............................................................................................................................. 40 4.1 VIGAS ISOSTÁTICAS ........................................................................................................................................... 41 4.1.1 LI de reações ....................................................................................................................................... 41 4.1.2 LI de esforços cortantes ...................................................................................................................... 42 4.1.3 LI de momentos fletores ...................................................................................................................... 43 4.2 VIGAS CONTÍNUAS ............................................................................................................................................ 44 4.3 REGRA DOS TRAPÉZIOS (COMPOSTA) .................................................................................................................... 45 5 VIGAS ....................................................................................................................................................... 46 5.1 FLEXÃO .......................................................................................................................................................... 46 5.1.1 Estado limite último ............................................................................................................................ 46 5.1.2 Determinação da área de aço longitudinal .........................................................................................46 Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 3 5.1.3 Largura colaborante ........................................................................................................................... 48 5.1.4 Fadiga ................................................................................................................................................. 49 5.1.4.1 História da falha por fadiga ........................................................................................................................... 49 5.1.4.2 Mecanismos da fadiga ................................................................................................................................... 54 5.1.5 Verificação segundo a NBR 6118 (Estado Limite de Fadiga) ............................................................... 54 5.1.5.1 Verificação da fadiga no concreto ................................................................................................................. 55 5.1.5.2 Verificação da fadiga na armadura ................................................................................................................ 57 5.1.6 Verificação da fissuração .................................................................................................................... 58 5.1.6.1 Estado limite de abertura de fissuras (ELS‐W) ............................................................................................... 60 5.2 ESFORÇO CORTANTE ......................................................................................................................................... 64 5.2.1 Modelo de cálculo I ............................................................................................................................. 64 6 LAJES ........................................................................................................................................................ 66 6.1 SUPERFÍCIES DE INFLUÊNCIA ............................................................................................................................... 67 6.2 TABELAS DE RÜSCH ........................................................................................................................................... 69 6.3 COMPATIBILIZAÇÃO DE MOMENTOS FLETORES ........................................................................................................ 73 7 PONTES CAIXÃO ....................................................................................................................................... 74 7.1 TORÇÃO EM SEÇÕES CAIXÃO ............................................................................................................................... 75 7.1.1 Tubos de paredes finas com seção transversal fechada ..................................................................... 76 7.1.2 Hipóteses de carregamento ................................................................................................................ 79 7.2 DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A NBR 6118 (2003) ............................................................................................. 81 7.2.1 Determinação da seção resistente do caixão (seção cheia) ................................................................ 81 7.2.2 Determinação da seção resistente do caixão (seção vazada) ............................................................. 81 7.2.3 Verificação da compressão diagonal do concreto .............................................................................. 82 7.2.4 Cálculo das armaduras de torção ....................................................................................................... 83 7.2.5 Torção e flexão .................................................................................................................................... 83 7.2.6 Torção e força cortante ....................................................................................................................... 84 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ................................................................................................................... 85 ANEXO A – LINHAS DE INFLUÊNCIA DE MOMENTOS FLETORES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,2:1 (INÉRCIA CONSTANTE) ............................................................................................................................................... 87 ANEXO B – LINHAS DE INFLUÊNCIA ESFORÇOS CORTANTES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,2:1 (INÉRCIA CONSTANTE) ............................................................................................................................................... 92 ANEXO C – LINHAS DE INFLUÊNCIA DE MOMENTOS FLETORES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,25:1 (INÉRCIA CONSTANTE) ............................................................................................................................................... 96 ANEXO D – LINHAS DE INFLUÊNCIA DE ESFORÇOS CORTANTES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,25:1 (INÉRCIA CONSTANTE) ............................................................................................................................................... 99 ANEXO E – DIAGRAMAS DE MOMENTO FLETORES E ESFORÇOS CORTANTES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,2:1 (INÉRCIA CONSTANTE) – CARGAS PERMANENTES ...................................................................................... 103 CARGA DISTRIBUÍDA ............................................................................................................................................. 103 CARGAS CONCENTRADAS ....................................................................................................................................... 104 ANEXO F – DIAGRAMAS DE MOMENTO FLETORES E ESFORÇOS CORTANTES PARA RELAÇÃO DE VÃOS 1:1,25:1 (INÉRCIA CONSTANTE) ‐ CARGAS PERMANENTES ....................................................................................... 106 CARGA DISTRIBUÍDA ............................................................................................................................................. 106 CARGAS CONCENTRADAS ....................................................................................................................................... 107 ANEXO G – TABELAS DE RÜSCH ................................................................................................................. 109 ANEXO H – TABELAS DE ZELLERER PARA VIGAS CONTÍNUAS (1:1,2:1 E 1:1,25:1) ......................................... 113 Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 4 PREFÁCIO Este material apresenta conceitos básicos necessários para a iniciação do aluno ou profissional no projeto de pontes. Baseia-se em bibliografias mais utilizadas para o tema Pontes e principalmente em recomendações das normas brasileiras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e normas internacionais. O material traz apenas a teoria, sendo os exercícios relativos a cada capítulo resolvidos em sala de aula na disciplina de ENG 115 – Pontes da Universidade Federal da Bahia ministrada pelo Professor Daniel Machado. O Professor da disciplina tem mestrado e é doutorando na área de Aerodinâmica de Pontes Estaiadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalha atualmente no projeto estrutural de Obras de Artes Especiais. O presente material encontra-se ainda em revisão (Última revisão:05/01/11) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 5 1 INTRODUÇÃO Pontes são classificadas como Obras de Arte Especiais destinadas a transposição de obstáculos sejam eles rios ou vias. Quando a Ponte transpõe uma via ou obstáculos não constituintes de água é chamado de Viaduto. Em alguns casos como mostra a Figura 1.1, a estrutura pode ser constituída de dois trechos: estrutura principal (ponte) e viadutos de acesso.Figura 1.1 - Estrutura principal e viadutos de acesso (Pfeil, 1987). Chamam-se ainda de pontilhões as pontes de pequenos vãos. Acima de 5 metros, alguns profissionais já a chamam de pontes. Tanto as pontes quanto os pontilhões se subordinam aos mesmos procedimentos de projeto. As pontes podem ser classificadas de acordo com o material estrutural, sendo de concreto armado ou protendido, metálicas ou mistas. Quanto à finalidade podem ser rodoviárias, ferroviárias ou aeroviárias. Quando destinadas ao tráfego de pedestres é chamada de passarelas. Quanto ao sistema estrutural podem ser isostáticas ou hiperestáticas. Conforme o desenvolvimento dos eixos das pontes pode ser de eixo retilíneo ou curvo. É possível ainda classificá-las como retas ou esconsas. Nas primeiras, o cruzamento do curso de água ou vale, pela ponte será normal aos mesmos e, no segundo caso, em ângulos diferentes de 90o . Bueiros diferente das pontes e pontilhões, são obras construídas sob o terrapleno de vias, transversalmente ao eixo da estrada e são destinados a passagem de águas pluviais. Os bueiros podem ter seções variáveis conforme necessidade da passagem. Também é projetado usando os procedimentos utilizados em pontes com algumas alterações dependendo da camada de solo sobre o bueiro. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 6 Figura 1.2 - Bueiros: (a) de manilhas e (b) feito com quadros rígidos de concreto armado. 1.1.1 Elementos constituintes das pontes As pontes podem ser divididas em três partes: superestrutura, mesoestrutura e infraestrutura. A infraestrutura é constituída das fundações. Pela infraestrutura que são transmitidas as cargas ao terreno. Fazem parte da infraestrutura, os blocos, estacas, sapatas, tubulões, etc. assim como qualquer peça de ligação destes elementos. A mesoestrutura é constituída pelos pilares e aparelhos de apoio além dos encontros. Os pilares transmitem as cargas da superestrutura às fundações. Transferem esforço à infraestrutura como vento, frenagem/ aceleração, corrente de água, etc. A superestrutura é composta pelas lajes e vigas, é o elemento de suporte imediato do estrado, que constitui a parte útil da obra. Os encontros ainda podem ser considerados por alguns engenheiros como mesoestrutura e por outros como infraestrutura. Além de receber cargas da superestrutura resistem ao empuxo dos aterros de acesso e evitam a transmissão para os demais elementos da ponte. A Figura 1.3 mostra uma ponte construída utilizando a solução de encontros. Os encontros podem ser dispensados em algumas pontes, nestes casos, o estrado apresenta extremos em balanço e, geralmente, os pilares extremos ficam sujeitos a empuxo dos aterros de acesso (Figura 1.4) (Pfeil, 1987). (a) (b) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 7 Figura 1.3 - Vista geral de uma ponte, mostrando os principais elementos constituintes (Pfeil, 1987). Figura 1.4 - Viaduto sem encontros, com extremo em balanço (Pfeil, 1987). 1.1.2 Tipos de pontes A Figura 1.5 à Figura 1.15 mostram alguns tipos de pontes classificadas quanto a finalidade, material utilizado, tipo estrutural, tipo de carregamento e especiais. Para mais detalhes consultar a bibliografia indicada. Figura 1.5 - Ponte em laje (Pfeil, 1987). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 8 Figura 1.6 - Ponte em viga reta de alma cheia (Pfeil, 1987). Figura 1.7 - Ponte em viga reta de treliça (Pfeil, 1987). Figura 1.8 - Ponte em quadro rígido (Pfeil, 1987). Figura 1.9 – Ponte em abóbada (arco inferior) (Pfeil, 1987). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 9 Figura 1.10 - Ponte em arco superior (Pfeil, 1987). Figura 1.11 - Ponte pênsil (Pfeil, 1987). Figura 1.12 - Pontes levadiças (a) São Petersburgo e (b) Porto Alegre. Figura 1.13 - Pontes para carregamento aeroviário: Aeroporto de Funchal, na ilha de Madeira-Portugal. (a) (b) http://blogs.ua.pt http://3.bp.blogspot.com http://img171.imageshack.us.com http://img171.imageshack.us.com Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 10 Figura 1.14 - (a) Ponte-túnel, liga Dinamarca e Suécia e (b) Ponte-canal na Alemanha sobre o Rio Elba, próxima a Magdeburgo. Figura 1.15 - Pontes rolantes para elevação e transporte de cargas: (a) tipo ponte; (b) tipo pórtico. 1.1.3 Seções transversais A seção transversal de pontes deve ser fixada conforme gabarito que indicam dimensões horizontais e verticais necessárias para a passagem do automóvel ou embarcação sobre/sob a ponte. A largura da seção transversal dependerá, portanto da largura e quantidade de faixas de rolamento projetada para o tráfego, acostamentos e passeios. Para mais detalhes sobre o tema pode-se recorrer ao Manual de projeto de obras-de-arte especiais do DNER (1996). A Figura 1.16 a Figura 1.21 apresentam alguns tipos de seções transversais usuais: (a) (b) http://3.bp.blogspot.com http://www.sinaldetransito.com.br.com (a) (b) http://www.mollyn.com.br http://images04.olx.com.br Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 11 Figura 1.16 - Ponte em vigas retas. Figura 1.17 - Ponte em vigas pré moldadas. Figura 1.18 - Ponte caixão simples. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 12 Figura 1.19 - Ponte caixão duplo. Figura 1.20 - Ponte caixão triplo. Figura 1.21 - Ponte treliçada (seção de uma ponte pênsil). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 13 2 CARREGAMENTOS 2.1 CARREGAMENTOS E SOLICITAÇÕES NAS PONTES Para o dimensionamento das pontes em concreto armado e protendido, devem ser considerados os carregamentos e efeitos diversos que determinam os esforços solicitantes em seus elementos. As solicitações podem ser agrupadas em determinados grupos tais como: 2.1.1 Solicitações provocadas pelo peso próprio da estrutura As estruturas das pontes, como quaisquer outras, têm que suportar, além das cargas externas, o seu peso próprio. A importância relativa do peso próprio, no total de solicitações, depende do material empregado e do vão livre da ponte. 2.1.2 Solicitações provocadas pelas cargas úteis As pontes ou viadutos são feitos coma finalidade de permitir aos veículos a transposição de obstáculos (rios, vales, estradas etc.). Os pesos dos veículos são denominados cargas úteis. O movimento dos veículos e as irregularidades das pistas produzem acréscimos nos pesos atuantes; esses acréscimos são denominados efeitos de impacto vertical. Os veículos fazem atuar nas pontes esforços horizontais longitudinais, devidos à frenagem e aceleração. Nas obras em curva, o deslocamento dos veículos produz esforços horizontais transversais, devidos à força centrífuga. Nas pontes ferroviárias, as folgas entre os trilhos e as abas laterais das rodas produzem um esforço horizontal transversal denominado impacto lateral. 2.1.3 Solicitações produzidas pelos elementos naturais Os elementos naturais em contato com a ponte (ar, água, terra) exercem pressões sobre a estrutura, originando solicitações que devem ser levadas em conta no dimensionamento da obra. Em pontes com pilares de grande altura (por exemplo, 50m a 100m), as solicitações provocadas pelo vento têm grande importância no dimensionamento dos pilares. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 14 Em pontes com pilares em rios sujeitos a grandes enchentes, a pressãoda água gera solicitações consideráveis nos pilares, freqüentemente agravadas pelo impacto de troncos de árvore trazidos por enxurradas. Os empuxos de terra são produzidos pelos aterros de acesso à obra, dando origem a esforços horizontais absorvidos pelos encontros ou pilares da ponte. Os deslocamentos das fundações, provocados por deformação do terreno, podem produzir solicitações nas obras com estrutura estaticamente indeterminada. 2.1.4 Esforços produzidos por deformações internas As deformações internas dos materiais estruturais, produzidos por variações de temperatura, retração ou fluência do concreto, originam solicitações parasitárias por vezes importantes, cuja consideração é exigida na análise de estabilidade das obras. Na moderna conceituação de segurança das estruturas, procura-se definir os parâmetros em jogo por critérios estatísticos. Não foi possível, entretanto, até o momento, aplicar os conceitos estatísticos às solicitações atuantes, pela complexidade das mesmas e pela falta de medidas experimentais em grande número. As solicitações são, então, fixadas arbitrariamente nas normas, com fundamento em valores teóricos e experimentais. As normas brasileiras fornecem os valores das solicitações a adotar no projeto, bem como as cargas móveis de cálculo tanto para pontes rodoviárias quanto para ferroviárias. Além das cargas gerais de cálculo, válidas para todos os elementos da estrutura, as normas fixam ainda cargas especiais para certos elementos da estrutura, como por exemplo: a) Carga horizontal sobre guarda-corpos; b) Carga horizontal sobre guarda-rodas ou barreiras de proteção; c) Carga horizontal sobre pilares de viadutos, sujeitos a choques acidentais de veículos. De acordo com a NBR8681/2003 - AÇÕES E SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS, ações são as causas que provocam o aparecimento de esforços ou deformações nas estruturas. Estas podem ser classificadas em: a) Ações permanentes: diretas e indiretas; b) Ações variáveis: normais e especiais; c) Ações excepcionais. Considerando a norma NBR7187/2003 - PROJETO E EXECUÇÃO DE PONTES DE CONCRETO ARMADO E PROTENDIDO, as ações nas pontes podem ser agrupadas da seguinte forma: Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 15 d) Ações permanentes: Ações cujas intensidades podem ser consideradas como constantes ao longo da vida útil da construção. Também são consideradas permanentes as que crescem no tempo, tendendo a um valor limite constante. As ações permanentes compreendem, entre outras: As cargas provenientes do peso próprio dos elementos estruturais; As cargas provenientes do peso da pavimentação, dos trilhos, dos dormentes, dos lastros, dos revestimentos, das barreiras, dos guarda-rodas, dos guarda-corpos e de dispositivos de sinalização; Os empuxos de terra e de líquidos; As forças de protensão; As deformações impostas, isto é, provocadas por fluência e retração do concreto, por variações de temperatura e por deslocamentos de apoios. b) Ações variáveis: Ações de caráter transitório que compreendem, entre outras: As cargas móveis; As cargas de construção; As cargas de vento; O empuxo de terra provocado por cargas móveis; A pressão da água em movimento; O efeito dinâmico do movimento das águas; As variações de temperatura. d) Ações excepcionais: São aquelas cuja ocorrência se dá em circunstâncias anormais. Compreendem os choques de objetos móveis, as explosões, os fenômenos naturais pouco freqüentes, como ventos ou enchentes catastróficos e sismos, entre outros: Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 16 Choques de objetos móveis; Outras ações excepcionais. 2.2 CARGAS PERMANENTES Ações estas consideradas como constantes ao longo da vida útil da obra. Constituem-se cargas permanentes em pontes: peso próprio dos elementos estruturais, da pavimentação, dos trilhos, dos dormentes, dos lastros, dos revestimentos, das barreiras, dos guarda-corpos, empuxos de terra e de líquidos, forças de protensão, deformações impostas (fluência e retração), variações de temperatura e deslocamentos de apoio (NBR 7187, 1987). 2.2.1 Peso próprio dos elementos estruturais O peso específico a ser tomado para a determinação do peso dos elementos estruturais é de no mínimo 24kN/m³ para o concreto simples e de 25kN/m³ para o concreto armado ou protendido. 2.2.2 Pavimentação Para pavimentação o peso específico mínimo deve ser adotado 24kN/m³, prevendo- se uma carga adicional de 2kN/m² para atender a um eventual recapeamento. O proprietário da obra pode dispensar esta carga de 2kN/m² no caso de obras de grandes vãos. 2.2.3 Lastro de trilhos Para lastros de ferrovias deve ser considerado um peso específico aparente de 18kN/m³. Deve supor que o lastro atinja o nível superior dos dormentes e preencha completamente o espaço limitado pelos guarda-lastros, até o seu bordo superior, mesmo se na seção transversal do projeto não for indicado desta forma. Na ausência de indicações precisas, a carga referente aos dormentes, trilhos e acessórios deve ser considerada, no mínimo, igual a 8kN/m por via. Para valores detalhados pode-se fazer referência a Tabela 2.1. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 17 Tabela 2.1 –Massas específicas (Pfeil, 1980). Materiais Massa específica [kN/m³] Aço estrutural de trilhos 78,5 Dormentes de madeira 12,5 Dormentes de concreto 24,0 Lastro de pedra 17,0 2.3 CARGAS MÓVEIS A norma que orienta o projetista na determinação de cargas móveis para pontes e passarelas de pedestres é a NBR 7188/1984 – CARGA MÓVEL EM PONTE RODOVIÁRIA E PASSARELA DE PEDESTRES. Carga móvel é o sistema de cargas que representa valores característicos de carregamentos provenientes do tráfego e que a estrutura está sujeita em serviço NBR 7188 (1984). Refere-se também à carga móvel de uma ponte como TREM- TIPO. 2.3.1 Rodoviária As cargas podem ser classificadas em classes: a) Classe 45: Representada por um veículo – tipo de 450kN de peso total; b) Classe 30: Representada por um veículo – tipo de 300kN de peso total; c) Classe 12: Representada por um veículo – tipo de 120kN de peso total; A determinação da utilização do trem tipo fica a critério dos órgãos de jurisdição sobre as mesmas. A área ocupada pelo veículo é suposta ocupar uma área retangular de dimensões ( 3 x 6 )m². A Figura 2.1 e a Tabela 2.2 apresentam as dimensões dos Trens-Tipo e Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 18 carregamentos. As cargas distribuídas não devem se sobrepor as cargas do Trem- Tipo. Figura 2.1 - Elevação e planta de um trem tipo típico. Tabela 2.2 – Carregamentos da NBR 7188 (1984). Tabela 2.3 – Características bidimensionais dos Trens-Tipos, dimensões em [m], NBR 7188 (1984). A Figura 2.2 e Tabela 2.3 apresentam as dimensões características dos Trens-Tipos. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 19 Figura 2.2 - Elevação e planta dos Trens-Tipo, dimensões em [m], NBR 7188 (1984). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 20 O veículo deve ser orientado sempre na direção do tráfego e posicionado de forma que provoque a maior solicitação na seção de estudo. Os passeios devem ser carregados em toda sua área pela carga p’. A carga distribuída de intensidade p deve ser aplicada em toda a pista de rolamento, nesta incluídas as faixas de tráfego, acostamentos. Desconta-se apenas a posição onde se localiza o veículo (NBR 7188, 1984). Mais a frente será visto que é permitido avançar com as cargas distribuídasde multidão sobre o Trem-Tipo desde que se faça uma dedução desta carga sobre as cargas do Trem-Tipo. Esta simplificação torna mais fácil os cálculos de solicitações através de linhas de influência de vigas contínuas. Os guarda-rodas devem ser verificados para uma carga aplicada em seu extremo de p = 60kN sem a consideração de coeficientes de impacto. Para mais informações sobre carregamentos em pontes sugere-se ler a NBR 7188/1984. 2.3.2 Ferroviária Para obras rodoviárias as condições de projeto são fixadas pela norma NBR 7189/1985 – CARGAS MÓVEIS PARA PROJETO ESTRUTURAL DE OBRAS FERROVIÁRIAS. Da mesma forma que para obras rodoviárias, nas obras ferroviárias temos os trens- tipo brasileiros (TB) classificados como segue: a) TB-360: para ferrovias sujeitas a transporte de minério de ferro ou outros carregamentos equivalentes; b) TB-270: para ferrovias sujeitas a transporte de carga geral; c) TB-240: para ser adotado somente na verificação de estabilidade e projeto de reforço de obras existentes; d) TB-170: para vias sujeitas exclusivamente ao transporte de passageiros em regiões metropolitanas ou suburbanas. A Figura 2.3 e a Figura 2.4 mostram um esquema de TB para carregamentos móveis para obras ferroviárias e a Tabela 2.4 apresenta estes valores. EXT Comentário do texto Representa o tráfego de veículos de pequeno porte que pode acompanhar a passagem do caminhão e/ou do compressor. Carga uniformemente distribuída, kgf/m2. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 21 Figura 2.3 - Esquema de um trem com representação de cargas de eixo para os respectivos vagões. Figura 2.4 - Características de geometria para definição das cargas dos TBs (NBR 7189, 1985). Tabela 2.4 – Carregamentos da NBR 7188 (1984). TB Q [kN] Q [kN/m] q’ [kN/m] a [cm] b [cm] c [cm] 360 360 120 20 1,00 2,00 2,00 270 270 90 15 1,00 2,00 2,00 240 240 80 15 1,00 2,00 2,00 170 170 25 15 11,00 2,50 5,00 Para o caso em quem temos que analisar projetos em que irão passar três ou mais vias, é necessário que sejam consideradas a pior das duas hipóteses exemplificadas a seguir: a) Duas vias devem ser carregadas com o TB em posição crítica e demais vias devem estar descarregadas; b) Todas as vias devem ser carregadas, no entanto devem-se utilizar fatores de redução, , conforme o número de vias, n, (Tabela 2.5). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 22 Tabela 2.5 – Carregamentos da NBR 7188 (1984). n 3 0,73 4 0,66 51 0,59 Para obras existentes a NBR 7189 (1985) sugere que sejam adotadas as seguintes condições de carregamentos: a) na verificação da estabilidade de obras existentes, quando justificada, a entidade responsável pela via pode optar pela utilização de seu trem- padrão operacional como base para determinação das solicitações na estrutura; b) no projeto de reforço de obras existentes, ainda que oriundo de verificação da estabilidade efetuada conforme deve ser considerado no mínimo um dos trens-tipo definido anteriormente; c) no caso de obra situada em ramal, pátio ou terminal privados, o trem- tipo a ser adotado no projeto estrutural pode ser diferente dos especificados nesta Norma, a critério de seus proprietários, mas nunca inferior ao trem-tipo da via de acesso correspondente; d) no caso de obra situada dentro de área de processo industrial, o trem- tipo a ser adotado deve ser especificado pelos proprietários das indústrias. 2.3.3 Aeroviária Viadutos usados para passagem de aeronaves devem ser dimensionados para cargas pesadas modernas. Um Boeing 747 (Jumbo), por exemplo, tem as seguintes características apresentadas na Tabela 2.6: 1 Nunca tomar n maior que 5. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 23 Tabela 2.6 – Características de um trem tipo de Boeing 747 (Pfeil, 1980). Peso total 3235kN Comprimento 70,5m Largura 59,7m Carga por trem de aterrissagem 755kN Carga por pneu 189kN A Figura 2.5 mostra um trem-tipo de Boeing 747 (a) e uma aeronave sobre uma provável pista de pouso sobre ponte. Neste caso deve-se fazer avaliação especial uma vez que temos cargas adicionais de impacto. Figura 2.5 - (a) Trem-tipo aeroviário para um Boeing 747 (Pfeil, 1980) e (b) Boeing em pouso sobre uma pista sobre ponte. 2.3.4 Cargas rodoviárias não usuais Cargas não usuais como o próprio nome já diz são cargas excepcionais que podem ou não ser consideradas em projeto. Carretas extraordinárias e de grandes comprimentos às vezes são necessárias para se transportar transformadores pesados ou outro tipo de carregamento pesado (Figura 2.6). A Figura 2.6 também apresenta um caminhão especial “fora de estrada” utilizado em obras de mineração e terraplanagem. A passagem de veículo deste porte sobre pontes só deve ser feita após a análise das solicitações na estrutura. (b) (a) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 24 Figura 2.6 - Cargas excepcionais: (a) reboque especial e (b) caminhão “fora de estrada”. 2.3.5 Consideração de impacto devido às cargas móveis O efeito dinâmico devido às cargas móveis pode ser gerado por diversos fatores: imperfeições da pista ou trilho, vibração causada pelo próprio automotor, deslocamento das cargas, inclinação variável da locomotiva, etc. A análise dinâmica para estes casos citados torna-se complexa e deve ser analisada levando-se em conta a teoria da dinâmica das estruturas. A NBR 7187 (2003) permite, portanto que sejam feitas simplificações para considerar um efeito dinâmico na estrutura através de coeficientes de ponderação das cargas móveis: a) Para os elementos de pontes rodoviárias: 1007,04,1 L (2.1) b) Para os elementos de pontes ferroviárias: 2,125,2601600001,0 LL (2.2) Para pontes suspensas ou outras pontes flexíveis sugere-se fazer uma análise dinâmica mais apurada à nível de vibrações causadas pela ação dinâmica de veículos, vento entre outras. Pra obras ferroviárias devem ainda ser considerados os choques laterais causados por irregularidades nos trilhos e rodas ou inclinação lateral da locomotiva. Para este http://www.locamaq.com http://lh4.ggpht.com (b) (a) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 25 caso a NBR 7187 (2003) sugere a aplicação de uma força horizontal móvel de valor 20% da carga do eixo mais pesado. Em pontes em curva em planta, não se deve somar o efeito do choque com a força centrífuga causada pela curva. Em pontes com mais de uma linha considera-se apenas a ação do choque em ma delas. 2.4 FORÇAS HORIZONTAIS EM PONTES. Dentre todas as solicitações e carregamentos que as pontes sofrem, os que provocam esforços horizontais nas mesmas são: Longitudinais: a) frenagem ou aceleração da carga móvel sobre o tabuleiro; b) empuxo de terra e sobrecarga nas cortinas; c) componente longitudinal do vento incidindo na superestrutura; d) variação de temperatura; e) retração; f) protensão. Transversais: a) vento incidindo na superestrutura; b) força centrífuga (pontes em curva horizontal); c) componente Horizontal de empuxo de terra nas cortinas. 2.4.1 Carregamento Longitudinal 2.4.1.1 Frenagem e Aceleração As forças de frenagem ou aceleração sobre as pontes devem ser tomados com uma fração das cargas móveis, consideradas sem impacto (NBR 7187, 2003). Para pontes rodoviárias, devem ser aplicadas no topo da superfície de rolamento e igual ou maior que os seguintes valores: a) 5% das cargas de multidão no tabuleiro (excluindo passeios): UniversidadeFederal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 26 AmkNFA ²/505,0 (2.3) Onde A é a área do tabuleiro onde está disposto o carregamento de multidão. b) 30% do peso do veículo: TTFA 3,0 (2.4) 2.4.1.2 Empuxo de Terra O empuxo de terra deve ser determinado conforme princípios da mecânica dos solos. Algumas simplificações para determinação do carregamento em pontes podem ser feitas de acordo com o que será explicado a seguir. Supões-se que o solo não tenha coesão e que não haja atrito entre o terreno e a estrutura, desde que as solicitações assim determinadas estejam a favor da segurança. O Peso específico do solo úmido deve ser considerado 18kN/m³ e o ângulo de atrito interno, no máximo igual a 30o. Quando a superestrutura funcione como arrimo dos aterros de acesso, a ação do empuxo de terra proveniente desses aterros deve ser levada em conta apenas em uma das extremidades do tabuleiro. Em caso de tabuleiros de pontes esconsos ou em curva deve ser feita também a análise em ambos os acessos. Para pilares implantados em taludes de aterros, deve ser adotada, para o cálculo do empuxo de terra, uma largura fictícia igual a três vezes a largura do pilar, devendo este valor não ser maior que a largura da plataforma do aterro (NBR 7187, 1987). A pressão do solo sobre o elemento estrutural se tivéssemos uma coluna de um líquido seria determinado pela fórmula: hP (2.5) Onde: é a massa específica da água; h é a distância da superfície d’água até a profundidade onde se deseja determinar a pressão hidrostática. Para se levar em conta, no caso de solo, o atrito entre partículas, a rugosidade do muro e a inclinação do terreno em relação a horizontal, introduz-se um coeficiente k: Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 27 khPsolo (2.6) Onde: k é designado coeficiente de empuxo ou de Coulomb. Para o caso de cortinas sujeitas ao empuxo de terra como mostra a Figura 2.7, o coeficiente de Coulomb se torna: 2 452 oa tgk (2.7) Conforme a NBR 7187 (2003) o peso específico do solo úmido deve ser considerado 18kN/m³ e o ângulo de atrito interno, no máximo igual a 30o, neste caso a Equação (2.7) se torna: 3,0 2 30452 o o a tgk (2.8) A Pressão do solo, portanto (Equação (2.6)), torna-se hhPsolo 63,018 (2.9) Calcula-se a pressão ao nível do topo da cortina e ao nível inferior. Nota-se na Figura 2.7 que 1soloP deve ser determinado considerando uma altura equivalente de solo de 50cm que representa uma sobrecarga devido a cargas móveis em aproximação da ponte. O Empuxo devido o solo é determinado pela área do diagrama de pressões incidente na cortina. 221 cortina solosoloh hPPE (2.10) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 28 Figura 2.7 - Esquema de distribuição de pressões sobre uma cortina e a resultante Eh. 2.4.1.3 Temperatura Para o cálculo da dilatação linear devido a temperatura utiliza-se um coeficiente de dilatação térmica de 10-5 e uma variação de temperatura de 15º C (NBR 7187, 2003). dT (2.11) Onde: é a deformação linear (alongamento ou encurtamento); T é a variação de temperatura que ocorre no local da obra; d é a distância do centro elástico da peça linear ao ponto em que se deseja calcular o deslocamento. O deslocamento das vigas causará esforços nos pilares que serão quantificados conforme a rigidez de cada um deles. Figura 2.8 – Distribuição de esforços longitudinais aplicados a estrutura. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 29 2.4.1.4 Determinação da rigidez dos apoios A determinação da distribuição dos esforços em cada um dos pilares da ponte dependerá da rigidez de cada um deles. Quando o sistema estrutural é formado por vigas contínuas, a superestrutura sofre um deslocamento horizontal e o topo dos pilares sofre o mesmo deslocamento por estarem ligados à superestrutura. O esforço aplicado ao topo de cada pilar é igual ao produto do deslocamento pela rigidez do pilar (K). Se todos os pilares sofrem o mesmo deslocamento, o esforço transmitido a cada pilar é proporcional à sua rigidez. O esforço Fi, num pilar genérico, é dado por: F K KF ii (2.12) Onde: F é o carregamento total a ser distribuído conforme rigidez de cada pilar; iK é a rigidez de cada do apoio em que se deseja determinar a parcela de força atuante; K é o somatório das rigidezes dos apoios. Quando cada linha de apoio possuir mais de um pilar, o esforço horizontal transmitido pela superestrutura, que é dividido pelos pilares proporcionalmente à sua rigidez, deve também ser dividido pelo número de pilares que constituem cada apoio. Como mostra a Figura 2.8. A rigidez (K) desse mesmo pilar é o esforço que produz um deslocamento unitário no topo como mostra a Figura 2.9. A rigidez e a flexibilidade de uma estrutura são relacionadas entre si por K = 1/ , conhecida a flexibilidade de uma estrutura, sua rigidez é obtida pelo inverso da flexibilidade. Quando a transmissão dos esforços da superestrutura para os pilares é feita através de aparelhos de apoio de borracha (neoprene), a rigidez dos pilares sofre uma modificação devido à contribuição da flexibilidade do neoprene no deslocamento total do topo do pilar. Seja um pilar engastado na base e livre no topo no qual existe um aparelho de apoio, e sejam L e nh as alturas do pilar e do aparelho de apoio, respectivamente conforme Figura 2.10. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 30 Figura 2.9 – Conceito de flexibilidade e rigidez de uma pilar. Figura 2.10 – Deformação de uma pilar com apoio de neoprene. Se ao topo da placa de neoprene for aplicada uma força horizontal unitária (F = 1), esta provocará na placa um deslocamento horizontal n . Como o aparelho de apoio está ligado ao pilar, a força horizontal também solicita o topo do pilar, deslocando-o de p . Desse modo, o conjunto aparelho de apoio + pilar ( pnK ) sofre um deslocamento horizontal total de n + p , e a rigidez desse conjunto, definida como o inverso da flexibilidade, vale: nppn pnK 11 (2.13) Após algumas deduções chegamos a uma equação direta para determinação da rigidez do conjunto pnK : Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 31 np np pn KK KK K (2.14) Para um pilar engastado-livre: ³ 3 L EIK p (2.15) A rigidez do neoprene será dada após algumas deduções por: n n n h GAK (2.16) Onde: G é o módulo de elasticidade transversal da borracha (neoprene) que vale em torno de 1MPa; nA é a área da seção transversal do neoprene. Quando o pilar é bi-engastado, o procedimento é análogo, podendo a rigidez ser calculada como o inverso da flexibilidade (processo dos esforços) ou obtida diretamente de tabelas. Para o caso particular de pilar bi-engastado de inércia constante sua rigidez vale: ³ 12 L EIK p (2.17) A Figura 2.11 mostra a rigidez de um pilar bi-engastado. Figura 2.11 – Deformação em um pilar bi-engastado. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 32 Sob a ação dos esforços horizontais provocados pela pressão do vento e da água, cada conjunto de pilares, geralmente constituindo um pórtico transversal por apoio, comporta-se como engastado na fundação e elasticamente apoiado na superestrutura, provocando, portanto, reações em seus topos. 2.4.1.5 Retração Para o cálculo da dilatação linear devido a retração utiliza-se um coeficientede dilatação térmica de 10-5 e uma equivalência a uma variação de temperatura de 25º C. 2.4.1.6 Protensão Para o cálculo da dilatação linear devido a protensão utiliza-se um coeficiente de dilatação térmica de 10-5 e uma equivalência a uma variação de temperatura de 70º C. 2.4.2 Carregamento transversal 2.4.2.1 Força Centrífuga Aplicada a pontes rodoviárias em curva, a força centrífuga tem direção perpendicular ao eixo da pista e atua na superfície de rolamento. Determina-se como sendo uma fração C do peso do veículo já incluso o efeito dinâmico das cargas móveis. 25,0;300 Cmr (2.18) R Cmr 75;300 (2.19) Sendo R o raio de curvatura horizontal da ponte. Para pontes ferroviárias, a força centrífuga deve ser aplicada a uma altura de 1,60 metros acima da superfície definida pelo topo dos trilhos (Figura 2.12). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 33 Figura 2.12 – Força centrífuga em ferrovias. O fator C é definido como segue: Para linhas de bitola larga (1,6m no Brasil): 15,0;1200 CmR (2.20) R CmR 180;1200 (2.21) Para linhas de bitola estreita (1,0m no Brasil): 10,0;750 CmR (2.22) R CmR 75;750 (2.23) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 34 2.4.2.2 Empuxo de água Devem-se ter informações sobre níveis máximo e mínimo dos cursos d’água para se determinar o carregamento hidrodinâmico em pilares. Em caso de muros de arrimo deve-se prever sistema de drenagem para evitar a atuação de pressões hidrostáticas. A pressão da corrente de água sobre pilares e elementos das fundações pode ser determinada através da expressão (NBR 7187, 2003): 2²]/[ vkmkNP (2.24) Onde: P é a pressão estática equivalente em [kN/m²]; v é a velocidade da água em [m/s]; k é um coeficiente adimensional, cujo valor varia conforme forma da seção transversal do elemento incidente e ângulo de incidência da corrente d’água. A Figura 2.13 apresenta os coeficientes k para três formas de seção transversal diferentes. Figura 2.13 - Valores de coeficientes k obtidos experimentalmente (NBR 7187, 2003). Para formas diferentes das apresentadas na Figura 2.13 devem ser realizados ensaios experimentais para determinação do coeficiente k. 2.4.2.3 Pressão do Vento A pressão do vento deve ser determinada utilizando a NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações de 1988. Pfeil (1980) sugere para pequenas pontes uma simplificação: a) Para ponte descarregada considerar uma pressão de 1,5kN/m²; Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 35 b) Para ponte carregada considerar uma pressão de 1,0kN/m²; São consideradas as superfícies de incidência do vento como mostra a Figura 2.14 à Figura 2.17: Figura 2.14 – Pressão do vento sobre pontes rodoviárias carregadas. Figura 2.15 – Pressão do vento sobre pontes rodoviárias descarregadas. Figura 2.16 – Pressão do vento sobre pontes ferroviárias carregadas. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 36 Figura 2.17 – Pressão do vento sobre pontes ferroviárias descarregadas. 3 PILARES Apresenta-se aqui um procedimento da NBR 6118/2003 para consideração dos efeitos de segunda ordem e dimensionamento de pilares circulares para pontes. Os passos seguintes consistirão na verificação das dimensões dos pilares quanto à capacidade resistente do concreto de forma que satisfaçam as solicitações da superestrutura transferida ao pilar. Deverão ser ainda determinadas as áreas de aço longitudinais e transversais do pilar. O detalhamento deverá ainda atender as necessidades construtivas. Como visto em aula anterior os pilares estão solicitados a esforços verticais e horizontais. Os esforços serão resumidos em esforço normal e momento fletor na base do pilar para dimensionamento do mesmo a flexão composta obliqua. Far-se-á necessária a utilização de ábacos de dimensionamento de pilar circular devido à complexidade da solução manual. Faremos ao final do capítulo um exemplo de dimensionamento de pilar de concreto armado circular levando-se em conta a combinação última de cargas (Estado Limite Último). 3.1 EFEITOS DE PRIMEIRA ORDEM A Figura 3.1 apresenta diversas formas de representar excentricidades de carga em pilares devido ao efeito de primeira ordem. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 37 Figura 3.1 – Diferentes formas de representar excentricidades de carga em pilares. A NBR 6118 (2003) considera a formulação a seguir para levar em consideração os efeitos de imperfeições locais (construtivas) através de uma excentricidade acidental: hea 03,0015,0 (3.1) h é a altura total da seção na direção a serem considerados os esforços. 3.2 EFEITOS DE SEGUNDA ORDEM O cálculo dos esforços finais no pilar leva em consideração agora a estrutura deformada. Figura 3.2 – Efeito de segunda ordem em um pilar. e1 e2 Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 38 3.3 DISPENSA DA ANÁLISE DE SEGUNDA ORDEM Para elementos isolados estes efeitos de segunda ordem podem ser dispensados quando o índice de esbeltez for menor que o limite estabelecido 1. Os pilares devem ter índice de esbeltez menor ou igual a 200 (λ≤�200). Apenas no caso de postes com força normal menor que 0,10 fcd. Ac, o índice de esbeltez pode ser maior que 200. Para o calculo do índice de esbeltez, temos: i le ; A Ii (3.2) Onde: le é o comprimento equivalente de flambagem do pilar que dependerá das condições de contorno deste; i é o raio de giro da seção transversal do pilar; I e A são a inércia e a área da seção, respectivamente. A Figura 3.3 mostra algumas condições de contorno e a Tabela 3.1 apresenta os comprimentos de flambagem a serem considerados. Figura 3.3 – Comprimento de flambagem de barras para diferentes condições de contorno (www.mspc.eng.br). Tabela 3.1 – Comprimento de flambagem para barras com diferentes condições de contorno. Tipo (a) (b) (c) (d) (e) (f) Le (teórico) 0,5L 0,7L 1,0L 1,0L 2,0L 2,0L Le (prático) 0,65L 0,8L 1,2L 1,0L 2,1L 2,0L Fonte: (www.mspc.eng.br). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 39 O índice de esbeltez limite é dado pela equação: b h e 1 1 5,1225 ; 9035 1 (3.3) Para pilares em balanço, temos: base meio M M b 2,08,0 ; 85,00,1 b (3.4) 3.4 MÉTODO DO PILAR-PADRÃO COM CURVATURA APROXIMADA Empregado apenas no cálculo de pilares com índice de esbeltez menor ou igual a 90, seção constante e armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo. O Momento total máximo, portanto deve ser calculado pela expressão a seguir: 2,1, eNMM dAdbtotd (3.5) r lee 1 10 2 2 (3.6) hhr 005,0 5,0 005,01 (3.7) Onde: e2 é o esforço de segunda ordem e 1/r é o raio de curvatura. A força normal reduzida, , o momento reduzido, , e a taxa , são dados respectivamente por: Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 40 cdAcf Nd (3.8) hAcf M cd d (3.9) cd yd f f Ac As (3.10) A área de aço será distribuída no perímetro da seção do pilar considerando cobrimentos, espessura de estribos e metade do diâmetro da barra utilizado no detalhamento. yd cd f AcfAs (3.11) 4 LINHAS DE INFLUÊNCIA Denomina-se linha de influência de uma solicitação ou esforço Sm num ponto m, uma linha cujas ordenadas fornecem os valores de Sm para diversas posições de uma cargaunitária (Figura 4.1). A figura mostra uma viga contínua contendo dois vãos. As linhas de influência mostram para a seção m as ordenadas que representam os esforços na seção para várias posições de uma carga unitária. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 41 Figura 4.1 – Conceito de linhas de influência de um esforço Sm (Pfeil, 1987). Conforme conceito de linhas de influência, para se determinar o esforço na seção a partir das cargas concentradas e distribuídas aplicadas a estrutura temos a seguinte formulação: b a m ydxqyQyQyQS .222211 ; qAyQS iim (4.1) Em conseqüência do princípio da superposição, para várias cargas distribuídas aplicadas na viga o esforço pode ser determinado pelo somatório do produto das cargas uniformemente distribuídas pelas respectivas áreas de incidência destas cargas. 4.1 VIGAS ISOSTÁTICAS 4.1.1 LI de reações O processo mais simples pra se traçar linhas de influência para certa viga é desenhar os diagramas das solicitações desejadas para diversas posições de uma carga Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 42 unitária sobre a viga. Na Figura 4.2a vemos que para uma carga concentrada Q aplicada no apoio A, a reação em A vale Q (ordenada da LIRA igual a 1 no ponto A); para a carga aplicada em B, a reação em A é nula (ordenada da LIRA nula no ponto B). Para a carga Q aplicada a uma distância x do apoio A, a reação em A vale Q(L-x)/L. Verificamos que a linha de influência é uma reta. Como a reta é definida por dois pontos, podemos traçar a linha de influência de RA na Figura 4.2b. A linha de influência de reação RB é análoga à de RA, representada na Figura 4.2c. (Pfeil, 1987). Figura 4.2 – Linhas de influência de reação de apoio de uma viga simples AB: (a) esquema da viga, com uma carga Q na posição genérica; (b) LI de reação RA; (c) LI de reação RB (Pfeil, 1987). 4.1.2 LI de esforços cortantes Na Figura 4.3 podemos ver a evolução dos esforços cortantes numa seção (m), para diversas posições de uma carga Q, ao longo da viga. Na Figura 4.3a, admitimos a força Q aplicada num ponto genérico à esquerda da seção m, obtendo o diagrama da seção (Figura 4.3b). Na Figura 4.3c, a carga Q foi suposta aplicada numa seção corrente, à direita da seção (m), obtendo-se o diagrama da Figura 4.3c. As Expressões de Vm nos diagramas das Figura 4.3b e Figura 4.3d mostram que o esforço cortante em (m) cairia linearmente com a posição da carga. Por transposição das ordenadas dos diagramas das Figura 4.3b e Figura 4.3d, obtemos a linha de influência desenhada na Figura 4.3e (Pfeil, 1987). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 43 Figura 4.3 – Linha de influência de esforço cortante numa seção (m) de uma viga simplesmente apoiada: (a) esquema de uma viga mostrando a seção (m) e a carga concentrada Q numa posição genérica, à esquerda da seção m (x<a); (b) diagrama dos esforços cortantes V para a posição da carga indicada em (a); (c) esquema da viga para uma posição da carga Q à direita da seção m (x>a); (d) diagrama dos esforços cortantes V para a posição da carga indicada em (c); (e) linha de influência do esforço cortante na seção (m); (f) convenção de sinal para o esforço cortante (g) esforços cortantes à esquerda e à direita do ponto de aplicação da carga Q (Pfeil, 1987). 4.1.3 LI de momentos fletores Na Figura 4.4 estudamos a variação do momento fletor em uma seção (m) da viga AB. Para uma carga Q, situada num ponto corrente à esquerda de m (x<a), obtemos o diagrama de momentos da Figura 4.4b. Observamos que o momento M varia linearmente com a abscissa da carga Q, atingindo um valor máximo Qa(L-a)/L, quando a carga atua na própria seção (m). Assim, a linha de influência à esquerda da seção (m) é uma linha reta, definida pela ordenada zero no ponto A e pela ordenada a(L-a)L no ponto (m). Para a carga atuando à direita da seção (m), chegaremos a conclusões análogas, resultando a Linha de influência representada na Figura 4.4c (Pfeil, 1987). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 44 Figura 4.4 – Linha de influência do momento fletor numa seção (m): (a) esquema da viga AB, mostrando a seção (m) e a carga Q numa posição genérica; (b) diagrama de momento fletor para a posição da carga indicada em (a); (c) linha de influência do momento fletor; (d) convenção de sinal para momentos (momento positivo produz tração na fibra inferior) (Pfeil, 1987). Para sistemas mais complexos, o emprego do processo acima, apresenta inconvenientes práticos, sendo necessário traçar um grande número de diagramas para obter as linhas de influência. 4.2 VIGAS CONTÍNUAS Para a determinação de linhas de influência para estruturas hiperestática como, por exemplo, as vigas contínuas que são utilizadas em pontes em viga reta utilizaremos tabelas alemãs desenvolvidas com o objetivo de agilizar a determinação de solicitações pelo projetista. Em sala de aula utilizaremos também programas computacionais para determinação de LI para diversos tipos de vigas contínuas. No anexo são encontradas as tabelas com ordenadas das linhas de influência para 30 seções igualmente espaçadas para vigas contínuas com relação de vãos (1:1,2:1) e (1:1,25:1), para momentos, cortantes e reações. Encontram-se também estas linhas de influência plotadas com ajuda do programa computacional Ftool 2.12 (Programa Gráfico-Interativo para Ensino de Comportamento de Estruturas). No Ftool 2.12 ainda pode-se traçar linhas de influência para relações quaisquer de vãos de vigas de pontes. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 45 4.3 REGRA DOS TRAPÉZIOS (COMPOSTA) A regra dos trapézios será utilizada aqui com o objetivo de calcular áreas sob as curvas de linhas de influência onde incidem cargas distribuídas conforme já visto em seção anterior. No entanto anteriormente o cálculo das áreas das linhas de influência era mais simples devido terem caráter linear e serem facilmente calculadas a partir de aproximações a figuras conhecidas como triângulos e trapézios. A seguir é deduzida de forma simples a regra do trapézio composta para a função qualquer que será utilizada para calcular áreas de linhas de influência para vigas contínuas que por sua vez possuem formas curvas. Figura 4.5 - Função curva aproximada por trapézios de altura h e bases y. Para simplificar, consideramos que o tamanho desses subintervalos é constante = h. (sendo h a distância entre as seções de análise da ponte) e yn são as ordenadas obtidas nas linhas de influências. Calculando as áreas independentes de cada trapézio e somando-as posteriormente, temos: 222222 22110 hyyhyyhyyA n nyyyyhA 210 222 (4.2) A fórmula dos trapézios utilizada para calcular áreas sobre as curvas de linhas de influência de pontes será dada, portanto pela equação: nRIASINTERMEDIÁLI yyyhA 22 0 (4.3) Onde: Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 46 h é a distância entre as seções de cálculo da linha de influência; 0y é a ordenada da seção inicial em que incide uma carga distribuída; RIASINTERMEDIÁy são as ordenadas das seções intermediárias em que incide uma carga distribuída; ny é a ordenada da última seção em que incide uma carga distribuída. 5 VIGAS 5.1 FLEXÃO 5.1.1 Estado limite último A combinação sugerida pela NBR 8681 (2003) é: n j qjkjkqq m i gikgid FFFF 2 01 1 (5.1) a) Para peso próprio de pontes em geral: q = 1,35; b) Protensão: q = 1,2; c) Veículo: q = 1,5; d) Temperatura: q = 1,2; 1 =0,6; e) Vento: q = 1,4;1 = 0,6; 5.1.2 Determinação da área de aço longitudinal A seguir serão relembradas de forma expedita as formulações necessárias para se determinar a área de aço para vigas retas de pontes. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 47 Para o cálculo de tensões permite fazer substituições do diagrama parábola-retângulo pelo simplesmente retangular. A Figura 5.1ilustra os dois diagramas e as tensões no concreto para diversas formas de seções transversais. Figura 5.1 – Diagramas de tensões e alguns tipos de seções e respectivas tensões para diagrama retangular (Pinheiro, 2003). O dimensionamento no domínio 3 é ideal para projeto, pois ocorre aproveitamento dos dois materiais (concreto e aço) e a ruína é dúctil, pois ocorre com aviso, o aço está em escoamento e ocorrem fissuras aparentes e flechas significativas. A linha neutra varia entre 0,259d e 0,628d. Segue as formulações para se determinar o valor de x e y (para garantia da forma de ruptura) e a área de aço necessária para a viga. compcd ybfRcc 85,0 (5.2) AfRst yd (5.3) RstRcc (5.4) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 48 MdzRM ccRd (5.5) Combinando as equações (5.2) e (5.5), temos: ydybfMd compcd 5,085,0 ; compcd ybf Mdydy 85,0 5,0 ; 0 85,0 5,0 2 compcd ybf Mdydy ; (5.6) Resolvendo a equação de segundo grau e expressando em termos de x (posição da linha neutra), temos que: compcd bf Mdddx 85,0 225,1 2 (5.7) A condição para garantir aviso na ruptura é que 0,259d < x < 0,628d. Para se determinar a área de aço da seção basta combinar as equações (5.3) a (5.5), temos: xdf MAs yd d 4,0 (5.8) 5.1.3 Largura colaborante Para o caso de pontes apoiadas em vigas podemos no dimensionamento levar em consideração uma viga T, para isto deve-se definir qual a largura colaborante da mesa que efetivamente contribui para absorver os esforços de compressão. De acordo com a NBR 6118, a largura colaborante bf será dada pela largura da viga bw acrescida de no máximo 10% da distância “a” entre pontos de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que houver laje colaborante (Figura 5.2). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 49 a) viga simplesmente apoiada ............................................a = 1,00 L b) tramo com momento em uma só extremidade ....................a = 0,75 L c) tramo com momentos nas duas extremidades.....................a = 0,60 L d) tramo em balanço.........................................................a = 2,00 L O calculo de “a” ainda pode ser feito de forma mais precisa se determinando no diagrama o comprimento exato entre momentos nulos. Figura 5.2 – Largura colaborante. 5.1.4 Fadiga 5.1.4.1 História da falha por fadiga O fenômeno da fadiga foi observado pela primeira vez por volta de 1800, quando os eixos de um vagão ferroviário começaram a falhar após um pequeno período em serviço. Apesar de serem feitos de aço dúctil, os mesmos exibiam características de fraturas frágeis e repentinas. Rankine publicou um artigo em 1843, As Causas da Ruptura Inesperada de Munhões de Eixos Ferroviários, no qual dizia que o material havia “cristalizado” e se tornado frágil devido às tensões flutuantes. Os eixos haviam sido projetados com toda a perícia e engenharia disponível na época, as quais se baseavam em experiências decorrentes de estudos com estruturas carregadas estaticamente. Cargas dinâmicas eram, portanto, um fenômeno novo, resultantes da introdução das máquinas movidas a vapor. Esses eixos estavam fixos às rodas e giravam em conjunto com as mesmas. Desse modo, a tensão de flexão em qualquer ponto da superfície do eixo variava ciclicamente entre valores positivos e negativos, como mostra a Figura 5.3a (Abrahão, 2008). Pode se ainda se encontrar carregamentos do tipo alternado (Figura 5.3b) ou aleatório (Figura 5.3c). Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 50 Figura 5.3 – Tensões variantes: (a) alternada, (b) flutuante e (c) aleatória. O engenheiro alemão, August Wöhler (1819-1914), realizou a primeira investigação científica (durante um período de 12 anos) sobre o que estava sendo chamado de falha por fadiga, testando, em laboratório, eixos até a falha sob carregamento alternado. Ele publicou suas descobertas em 1870, as quais identificavam o número de ciclos de tensão variando no tempo como os causadores do colapso e a descoberta da existência de uma tensão limite de resistência à fadiga para aços, isto é, um nível de tensão que toleraria milhões ciclos de uma tensão alternada. O diagrama S-N ou Curva de Wöhler, mostrado na Figura 5.4, tornou-se a forma-padrão Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 51 para caracterizar o comportamento dos materiais submetidos a solicitações alternadas e ainda é utilizado atualmente, apesar de outras medidas sobre a resistência dos materiais, sob cargas dinâmicas, estarem disponíveis. Figura 5.4 – Diagrama Stress-Number of cycles ou Curvas de Wöhler. A tensão que um material pode suportar ciclicamente é muito menor que a suportável em condições estáticas. A fim de aumentar o número de ciclos de tensão possíveis numa certo material, é necessário reduzir-se a tensão nos seus componentes. Cada metal terá um Limite de Fadiga correspondente a uma variação de tensão abaixo da qual suporta um número de ciclos infinito, sem romper. O termo “fadiga” foi aplicado pela primeira vez por Poncelet em 1839. O mecanismo de falha ainda não compreendida e a aparência de uma fratura frágil na superfície de um material dúctil geraram especulações de que o material, de alguma maneira, apresentou “cansaço” e fragilizou-se devido às oscilações da carga aplicada. Wöhler, mais tarde, constatou que cada metade dos eixos quebrados quando submetido a ensaios de tração continuava com a mesma resistência. De qualquer maneira, o termo falha por fadiga permaneceu e ainda é usado para descrever qualquer as falhas provenientes de cargas variantes no tempo. A Figura 5.1 resume o desenvolvimento histórico da fadiga. Tabela 5.1 – Histórico do desenvolvimento da fadiga. Data Pesquisador Pesquisa Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 52 1829 Albert (Alemanha) Falha devido a carregamentos cíclicos foi documentada 1839 Poncelet (França) Introdução do termo fadiga 1849 IEM (França) Rebatida a teoria da “cristalização” por fadiga em metais 1864 Fairbain Primeiros experimentos de carregamentos cíclicos 1871 Wöhler Investigação do comportamento em fadiga de eixos ferroviários, ensaios de flexão rotativa, curvas S-N, conceito de “limite de fadiga” 1886 Bauschinger Observações da mudança do limite elástico devido a carregamentos cíclicos, curvas de histerese em tensão- deformação. 1903 Ewing e Humfrey Estudo microscópico desaprova a teoria da cristalização; toma lugar a deformação em fadiga por escorregamento, similar à deformação monotônica. 1910 Bairstow Conceitos de amolecimento e endurecimento cíclicos. 1929 Haigh Diferença no comportamento cíclico devido a entalhes, conceitos de análise de deformações em entalhes e tensões próprias. 1955 Coffin e Manson (trabalhando independentemente)-ciclagem térmica, fadiga de baixo ciclo, considerações sobre deformação plástica. 1963 Paris e Erdogran Taxa de crescimento de trinca por fadiga descrita usando o fator de intensidade de tensão. Os aços especiais (barras de aço nervuradas de alta resistência) começaram a ser usadas no Brasil, em pontesde concreto armado, a partir de aproximadamente 1960. A seguir apresenta-se uma relação de normas brasileiras relacionadas a fadiga e como tratavam o assunto em cada época (Schäffer, 2002). a) NB-2/1950: nesta norma de pontes só era admitido o uso de barras de aço lisas (sem nervuras), das categorias 37-CA e 50-CA que correspondem às atuais categorias CA-25 e CA-32. Nestes aços, com as tensões com as tensões de serviço usuais, não se manifesta o fenômeno da fadiga. Aços especiais não eram admitidos em pontes. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 53 b) NB-1/1950 (revisão de 1960): nesta norma passou a ser admitido o uso de aços estruturais das categorias CA-T40 e CA-T50 (atuais CA40-B e CA-50B) em obras de concreto armado comuns (edifícios). Esta, no entanto, não é uma norma de pontes. c) NB2-1950 (revisão de 1961): esta norma passou a admitir o uso de aços especiais das categorias CA-T40 e CA-T50 em pontes. Era omissa em relação à fadiga. d) EB-3/1965: esta especificação, no anexo II, modifica dispositivos da NB-1 e da NB-2 e estabelece um limite para a variação da tensão em aços especiais (categorias CA-40, CA-50 e CA-60), de 220MPa (item 16, letra a), na armadura reta de vigas fletidas. Como na época era usual multiplicar previamente as cargas móveis por 1,2, a variação de tensão realmente admitida pela EB-3/1965 era de 220/1,2 igual a aproximadamente 180MPa. e) EB-3/1967: o anexo da EB-3/1967 repete o disposto no anexo II da EB-3/1965, em relação à fadiga da armadura de flexão. f) NBR 6118/1978 (Antiga NB-1): refere-se à fadiga apenas no item 3.1.1.7 onde dispõem: havendo possibilidade de fadiga deverá esta ser considerada no cálculo das peças. g) NBR 7187/1987 (Antiga NB-2): na ausência de resultados de ensaios esta norma fixa, no item 8.1.3.1, a resistência característica à fadiga, skf , para barras de alta aderência (aços especiais), em 150MPa. O item 10.11.1.2 limita a máxima variação da tensão no aço ao valor de skf dividido por um coeficiente de segurança à fadiga igual a 1,5, isto é, ao valor de 150/1,5 = 100MPa. Este resultado está muito abaixo dos valores usuais (aproximadamente 180MPa) o que sugere a existência de um engano da norma nesta questão da fadiga. h) NBR 6118/2003: será exemplifica em item posterior neste trabalho. Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 54 5.1.4.2 Mecanismos da fadiga De forma bem resumida, existem três estágios na falha por fadiga: a) início da trinca (pequena duração caso o material apresente concentrador de tensão); b) propagação da trinca (maior tempo de vida da peça); c) ruptura repentina devido ao crescimento instável da trinca (instantâneo, sem aviso prévio). A Figura 5.5 apresenta fases e aspecto macroscópico da superfície de fratura por fadiga. Geralmente a ruptura é indicada por uma série de anéis em torno da fissura inicial. Figura 5.5 – Fases e aspecto macroscópico da superfície de fratura por fadiga: (a) esquema da série de anéis em torno da fissura inicial e (b) fotografia semelhante. 5.1.5 Verificação segundo a NBR 6118 (Estado Limite de Fadiga) A NBR 6118 (2003) sugere que a verificação para o estado limite de fadiga seja feita pela Combinação Freqüente das Ações. As ações de fadiga de média e baixa intensidade e número de repetições até 2.000.000 de ciclos são consideradas na NR 6118. (a) (b) Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 55 m j qjkjkq m i gikserd FFFF 2 211 1 , (5.9) Para pontes rodoviárias a verificação da fadiga os coeficientes da combinação são apresentados como sendo: a) 1 = 0,5 para verificação das vigas; b) 1 = 0,7 para verificação das transversinas; c) 1 = 0,8 para verificação do tabuleiro. Para pontes ferroviárias: d) 1 = 1,0. A carga kqF 1 é considerada na NBR como carga variável principal que é o caso das cargas móveis. 5.1.5.1 Verificação da fadiga no concreto Nenhuma exigência de verificação do concreto à fadiga era feita pelas normas brasileiras anteriores ao NBR 6118/2003. Esta nova norma, no entanto, exige tal verificação (Schäffer, 2002). O Manual do Concreto da ACI (1991) apresenta as principais características do concreto, à fadiga: a) A resistência à fadiga o concreto como uma fração da resistência estática que pode ser suportada repetitivamente para um dado número de ciclos. A resistência à fadiga é influenciada pela amplitude da variação das tensões e pela excentricidade da carga (gradiente de tensões) entre outras causas (ACI 215R, 1991 item 2.1.1). b) A resistência à fadiga do concreto diminui com o aumento do número de ciclos (assim como no aço). O concreto não apresenta um limite de resistência à fadiga até 10 milhões de ciclos. Isto significa que não existe um limite a tensão abaixo da qual o concreto suporta um número Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes – Prof. Daniel de Souza Machado, MSc 56 infinito de ciclos sem se romper. A resistência do concreto à fadiga diminui com o aumento da amplitude de variação das tensões, podendo-se considerar uma relação linear (diagrama de Goodman) (ACI 215R, 1991, item 2.1.2). c) Gradientes de tensões influenciam a resistência à fadiga do concreto. Para simular a zona comprimida de vigas, corpos de prova foram submetidos a ensaios de duração com forças de compressão excênctricas foi de 15 a 18% mais alta que a resistência à fadiga obtida para tensões uniformemente distribuídas (ACI 125R, 1991, item 2.1.6) Quando a resistência do concreto à fadiga é comparada não com a resistência estática à compressão excêntrica, com a mesma excentricidade do ensaio de duração, verifica-se que a resistência à fadiga do concreto praticamente não varia. Portanto, as resistências do concreto – estática e à fadiga – são afetadas pela excentricidade na mesma proporção (Boletim de Informação n 188, 1988, item 3.14, p.123). Essa verificação para o concreto em compressão é satisfeita se: fadcdcc f ,max, (5.10) Onde: cdfadcd ff 45,0, (5.11) 2 15,05,1 1 c c c (5.12) c é um fator que considera o gradiente de tensões de compressão no concreto; 1c é o menor valor, em módulo, da tensão de compressão a uma distância não maior que 300 mm da face sob a combinação relevante de cargas; Universidade Federal da Bahia – ENG 115 – Pontes 57 1c é o maior valor, em módulo, da tensão de compressão a uma distância não maior que 300 mm da face sob a combinação de carga usada para cálculo de 1c . Figura 5.6 – Definição das tensões para cálculo de fadiga no concreto (NBR 6118, 2003). 5.1.5.2 Verificação da fadiga na armadura Essa verificação é satisfeita se a máxima variação de tensão calculada, S s, para a combinação freqüente de cargas satisfaz: fadsdS f , (5.13) Os valores de min,, fadsdf podem ser tomados para 2x106 ciclos como: a) Barras longitudinais com Ø = 10mm a 16mm: 190MPa; b) Barras longitudinais com Ø = 20mm: 185MPa; c) Barras longitudinais com Ø = 25mm: 175MPa; d) Barras longitudinais com Ø = 32mm: 165MPa; e) Estribos: 85MPa. Para se determinar as tensões na armadura da viga deve-se levar em consideração a teoria usada na resistência dos materiais para vigas compostas. Para este caso deve- se aplicar o Método da Seção Transformada. Em resumo, se for aplicado um momento fletor numa viga composta, permanecendo a lei de Hook, a deformação vai variar linearmente na seção, portanto, se tivermos valores de E diferentes, a tensão será maior para materiais com
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