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74 Introdução à Lingüística Sugestõesde leitura Perspectiva,HJELMSLEV,Louis. Prolegômenosa umateoriada linguagem.São Paulo: 1973. O capítuloXIIItratadateoriahjelmslevianadosigno. JAKOBSON,Roman.Lingüísticaecomunicação.SãoPaulo:Cultrix, 1969. O capítulointitulado"À procurada essênciada linguagem"discuteexaustivamentea questãodamotivaçãodosignolingüístico. SAUSSURE,Ferdinandde.Cursodelingüísticageral.SãoPaulo:Cultrixl Edusp,1969. Os capítulosI e2 daprimeiraparteapresentamateoriasaussureanadosignolingüístico; o capítulo4 dasegundaparteexpõeateoriadovalor;ocapítulo6 discuteaquestãodo queéabsolutamentearbitrárioedoqueérelativamentearbitrário. SCHAFF,Adam.Introduçãoà semântica. Nas páginas158-193,discute-sea questãodo signoe expõe-sea classificaçãoquefoi apresentadanestecapítulo. YAGUELO,Marina.Aliceaupaysdulangage.Paris:Seuil, 1981. É umlivrodeintroduçãoàLingüísticabastanteinteressantepelaquantidadedeexemplos comqueopera.Dele seretirarammuitassugestões,principalmentesobrepassagens daobradeCarroll,paraaredaçãodestecapítulo. A língua como objeto da Lingüística AntonioVicentePil't/'(~/fJrtl' Entreasmuitasvariaçõesdotemadequecontraaforçanãoháargumentos,cn ,"nlramosestaconhecidafábuladeLaFontaine,traduzidapelopoetaFerreiraGullar(La hllllaine,1999:12-14): o LoboeoCordeiro Na águalimpadeumregato, matavaa sedeumCordeiro, quando,saindodo mato, veioumLobo carniceiro. Tinhaabarrigavazia, nãocomerao diainteiro. - Comotuousassujar aáguaqueestoubebendo? - rosnouo Lobo,a antegozar o almoço.- Fica sabendo quecarovaismepagar! - Senhor- falouo Cordeiro- encareçoaVossaAlteza quemedesculpeis,masacho quevosenganais:bebendo, quasedezbraçasabaixo devós,nestacorrenteza. nãopossosujur-vosaáguu. Não importa,Guardomágou deti,queanopassado, medestratuste,fingido! Maseu nemtinhanascido. Pois entãofoi teuirmão. Não t,'nhoimul0,Exe,'!enl'ia, ('hegadeargumcntaç:10, lislou pndcndoapal'il'IK'ia! Nl10voslalljlo,'is,d<,,,'ulpatl N:lo loi h'o imulo'!1-<11o I<,Upai 76 Introdução à Lingüística ousenãofoi teuavô- disseoLobo carniceiro. E aoCordeirodevorou. Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece. Essafábula,comoad'A lebreea tartaruga,Osdoisamigoseo ursoe muitasou- trasvêmsendocontadashábastantetempo.Contadaspormuitospoetase prosadores,as fábulasnãopossuemumsó autor.A d'A cigarra e asformigas,porexemplo,temuma versãodo séculov a.c., deEsopo,e outra,do séculoXVII,deLa Fontaine.Algumasve- zes,aspersonagenspodemmudar.Numaversãoindianadotemadequeo maislentopo- devencerumacorrida,quemperdeacorridaéGaruda,o pássaromágicodeVishnu. Narradashá muitotempoe em muitoslugares,muitasforamas línguasdessas narrativas.Na Índiaantiga,foramcontadasemsânscrito,Esopoascontouemgrego,Fe- dro, emlatim,e La Fontaine,emfrancês.Assim, alémdeinteressarasdemaisciências humanasporseusaspectoshistóricoseculturais,porseusaspectoslingüísticosasfábulas podeminteressaro lingüista. A versãooriginald'O loboe ()cordeiro,deLa Fontaine,éesta: Le Loup etL'Agneau Laraisondu plusforl eSlloujoursIameilleure: Nous I'allonsmonlrerloutill'heure. Un Agneausedésallérail Dans lecourantd'uneondepure. Un Loup survientàjeun qui cherchailavenlure, Et queIa faimenceslieuxatlirai\. Qui terendsi hardidetroublermonbreuvage? Dil cetanimalpleinderage: Tu seraschâliédetatémérité. - Sire, répondI'Agneau,quevolreMajesté Ne semetlepasencolere; Mais plulôtqu'elleconsidere Queje mevasdésaltérant Danslecourant, Plusdevingl pasau-dessousd'Elle, EI queparconséquent,enaucunefaçon, Je nepuistroublersaboisson. - Tu Iatroubles,reprilceltebêtecruelle, Etje saisquedemoitumédisI'anpassé. - CommentI'aurais-jefaitsije n'élaispasné? Reprit I'Agneau,je tetleencoremamere. - Si cen'esttoi,c'esl donctonfrere. - Je n'enai poin\.- C'esl doncquelqu'undesliens: Car vousnem'épargnezguere, Vous,vosbergers,etvoschiens. On meI'a dit: il fautqueje mevenge. Là-dessus,aufonddosforêts Le Loup I'emporte,etpuis le mange, Sans.mlreformedeproces. A língua como objeto da lingüística 77 Uma leitura atentado textoem francêsmostraqueessa língua apresentavárills Sl' IIIl'lIlIlIIças com o português: vause vÓs,vose vossos,aneano;rai.wJ/1e razc7o;for/c./il/' 1(';IOllfJ e lobo. Se essacomparaçãoentreo francêse o português for levada mais adiante, al1l1li ~lIl1doas duas línguas sistematicamentee considerandoseusmomentoshistóricos,é pOS- ~1Vl'1verificar que ambas tiveram como origem comum o latim, o que explica as SCI1Il' Ihlll1çaslexicais e gramaticais entreelas. EssemododefazerLingüística,comparandoas Ill1guasna busca desemelhançaseverificandoa históriadecadaumadelasà procuradl' IIlIgcns comuns,foi o métododominantedaLingüísticadoséculoXIX,o chamadoIIIl(tO do histórico-comparativo. Um dos teóricosmaisimportantesdessaépocaé,semdúvida,FerdinanddeSalls ~lIIl',que, além de contribuir para os avançosda Lingüística histórica e comparativaCOIII IIlIportantestrabalhosnessecampodepesquisa,definiu,noiníciodoséculoXX, um novo ohll'todeestudosparaaLingüística.EmseuCursodelingüísticageral,aotratardessa qlll'stão da detiniçãode um objeto de estudos,eleafirma: Outrasciênciastrabalhamcomobjetosdadospreviamentee quesepodemconsiderar,em seguida.Ik váriospontosdevista;em nossocampo,nadade semelhanteocorre.Alguémpronunciaa palavfll11/1 umobservadorsuperficialserátentadoa vernelaumobjetolingüísticoconcreto;umexamemaisatl'lI to,porém,nos levaráaencontrarno caso,umaapósoutra,trêsou quatrocoisasperfeitamentedifcrl'lI tes,conformeamaneirapelaqualconsideramosapalavra:comosom,comoexpressãodumaidéia,1'0 mo correspondenteao Latim nudumetc. Bem longede dizer queo objetoprecedeo pontode vista, diríamosqueéopontodevistaquecriao objeto;aliás,nadanosdizdeantemãoqueumadessas11111 neirasdeconsideraro falo emquestãosejaanteriorousuperioràsoutras. (Saussure,I%t): I ~) Quando Saussure comenta que a palavra nu corresponde ao latim nudlllll, l'stn .lIlIIlisando a língua em suas mudançashistóricas,já que, a partir de uma semelhança10 IIIl'a entrenudum e nu e da informação histórica da antecedênciado latim, ele establ'll'l'l' 11lI1arelação entreelas. No entanto,quando analisa a palavranu como som ou como a l'X pl'l:ss;íode uma idéia, o ponto de vista histórico deixa de ser pertinente.Como som, tOI nlllll-se pertinentes informações fonéticas, e, como expressão de uma idéia, tornall1'l' pI'tlinentes informações semânticas.Assim, dependendodo enfoque com o qual Sl' \1'11111 11111dado lingüístico, temos um objeto de estudodiferente. O Cursode lill~üísticageral teve sua primeira edição em 1916,três anos dcpols dll lIIorte de Saussure,em 1913.Ao contrário do que se poderia imaginar, tratal1do-sl'dl' 1111111das obras mais importantes da Lingüística, o volume não foi escrito por SallSSlll'l' I'l'IIta.se de uma edição elaboradaa partir de anotaçõesde aula de seus alunos, Sallsslll'l' IIllIIistrou três cursos na Universidade de Genebra. O primeiro datade 1907,o segllndo, dI' IlJOHe o terceiro,de 1910.Os editoresdoCursodelill~iiís(icll~l'/YIIforamCh, Bally, '\ Sl'chehaye e A. Riedlinger. Emboranãohajamençãoao termo dicotomias no textodo Curso, é assilll <llIl'SI' l'OI,1I1II1IIchamaros quatroparesdeconceitos,que fazemlimasfntesedas propostasdI' ~IIlISSllll'paraacriaçãodeumnovoobjetoteóricoparaaLingilfstica.A palnvl'ltdlmlo lIIill lk'riva do grl'W1di('//O(oll1;a,lJue querdizcr "divis:iol'lIl parll:s iguais", Nlto SI' dl'w p1'nSlU',nOl'lISOdl' UIIIII dkollllllia presl'l1tenotl'xto sallSSllll'UI10,qm' SI' Imta dI' ull/.o<1111' r dlvldidol'lII dOIS,dl'W'Sl' pl'nsurdI' olllro modo, I JI1I1Idkolollllal'lII SUIISSIIIl'dll n's 78 Introdução6 lingülstico A IInguacomaobjotoda lingüística 79 SincroniaversusDiacronia (Saussure,1969:94-116) A partirdisso,pode-sechegara duasconclusões.A primeiradiz respeitoti(il'tl'r IIIIIHIÇãodeumpontodevistacomo qualseestabeleceumobjetodeestudos.EstudaSl'11língua,sóqueo queseobservanelasãoassuasmudanças.A mudançaé,então,o Ohjl'lO Il'I)rico. A segundaconclusãodiz respeitoaosresultadosdessaLingüísticaComparatival' Illslórica.Aindacomo exemplodo latime desuas"línguas-filhas",deve-seconsidl'l"IlI queo latim,porsuavez,temassuas"irmãs".Tambémpelométodocomparativo,pode,sl' wrilicar semelhançasentreo latim,o gregoe o sânscrito,porexemplo.Aindacoma pa IlIvra pai, temosestesdados: peitoaumpardeconceitosquedevemserdefinidosumemrelaçãoaooutro,demodo queumsófazsentidoemrelaçãoaooutro. Há quatrodicotomiasemSaussure:sincroniaversusdiacronia(1969:94-116), línguaversusfala (p.26-28),significanteversus.significado(p.79-93)eparadigmaver- sussintagma(p.142-147).Vamosestudarumadecadavez. ComoerafeitaaLingüísticanaépocadeSaussure?NãosedevepensarqueSaus- surefoi o "inventor"daLingüística.Ele definiuumobjetodeestudosparaa Lingüística. Elajá existiaantesdele,sóquedesenvolvidadeoutropontodevista.Portanto,responder comoerafeitaa LingüísticanaépocadeSaussureé investigaro queeleestudouemsua formaçãoeo quefezcomessaformaçãocomolingüista. Duranteo séculoXIX,a Lingüísticaestudou,basicamente,a mudançalingüística. À semelhançadaBiologiadaépoca,apontoderecorreraumanomenclaturaprópriades- saciência,a Lingüísticaestudavae classificavaaslínguasemgruposdefamílias,tratan- do-asemtermosdegrausdeparentesco. A LingüísticafeitanessaépocacostumaserchamadadeLingüísticaComparativa e Histórica(Robins, 1979:132-160).Chama-secomparativaporquesuametodologiade trabalhoestábaseadanacomparaçãoentrefenômenoslingüísticosquese realizamem línguasdistintas.ObservandoaspalavrasemalgumaslínguasmodernasfaladasnaEuro- pa,percebe-se,porexemplo,umasemelhançasistemáticaentrepalavrasdoportuguês,do espanhol,do francêsedo italiano. Na fábuladeLa Fontaine,o Cordeiroargumentacomo Loboquenãofoielequem o ofendera;tambémnãoforaseuirmão,já queelenãotemirmãos.Em suaréplica,o Lo- bodiz: "Nãofoi teuirmão?Foi o teupaiousenãofoi teuavô."Os nomesdadosaosgraus deparentescosãobonsexemplosparamostrar,emnívellexical,assemelhançasentrelín- guasdistintas: Comparando-sesistematicamenteosdadosdessaslínguas,pode-sechegar ao ín do-europeu,a "língua-mãe"do latime de suas"irmãs".Quaissão,porém,os regislros hlslóricosdeumalínguacomoo indo-europeu.?A escritaapareceutardiamente,demodo qlle muitaslínguasnãodeixaramregistrosemdocumentosescritos.O trabalhodo lin ~lIista,então,torna-seumtrabalhodereconstruçãodeumalínguaapartirdosvestfgios qUl'eladeixanaslínguasquedelaseoriginaram.Ouseja,reconstrói-sea"mãe"apartir dl' suas"filhas"edas"filhas"desuasfilhas.Foiassimcomo indo-europeu,umaIíngulI que.semdeixarregistroshistóricos,foi reconstruídapelométodohistórico-comparativo, ()s lingüistasdoséculoXIXbuscavam,comparandoaslínguas,organizá-Iasemgruposl' rl'l'onstruiraslínguasdequeosgruposseoriginavam. Foi nesseambientede pesquisasqueSaussureestudou.Seutrabalhoacadênllco wrsava,basicamente,sobrea Lingüísticaindo-européia.SeusestudosMémoireSI/I'/t. H'.I'lhlleprimitifdesvoyelledansleslangueindo-européeneseL'emploidugénitifa/J,\'O/I/ ,'" ,I'llllscritsãotrabalhosfeitosdentrodessaáreadepesquisa.Emsuaépoca,SaUSSlll'l'foi 11111pesquisadorbrilhante.A MémoirefoiconsideradaporAntoineMeilletcomo "o nuus 1!l'lolivro degramáticacomparadaquejá foiescrito"(Bouquet,1997:62).Deve-sl'Il'llI hrarqueseuautortinhaapenas24anosquandoo escreveu. A essalingüística,quetrabalhacommudançasqueocorremnaslínguasatravésdo h'lIIpO,Saussurechamoulingüísticadiacrônica(1969:96).A essepontodevista,eleoplk ullla lingüísticasincrônica,Diacronia,do gregodia "através"e chrónos"tempo",qUl'1 dill'r "atravésdotempo",e sincronia,dogregoSYIl"juntamente"echrónos"tempo",slg mtka "ao mesmotempo". Fazendoumadistinçãoentredoispontosdevistadiferentesdeolharparao nws 1110fenÔmeno,Saussuredefineumnovoobjetodeestudosparaa Lingüística.Conlraria IlIl'nte aoestudodamudançalingüística,o pontodevistasincrônicovê a língua como UIIl "sll'ma em queumelementosedelinepelosdemaiselementos.No estudosinn(lnÍl'o, umdeterminadoestadodeumalínguaé isoladodesuasmudançasalravésdo Il'mpo l' pllssaaserestudadocomoumsistemadeelementoslingiiísticos.Esseselemenlossnol'S ludndosnnomaisemsuasmudançashistóricas,masnasrelaçõesqUl'elescontral'm,110 IlIl'SInOIl'mpo,unscomosoutros,VamoseXl'mplilicar. () Lohodaflíllllla"tinhaaharrigavazia,nnocoml'raodiainll'iro"Emsl'Ul'Sllldo sohll'os mOlll'masdo portllltUl'S,Vllltl'l I\l'hdi (ll)!)(I:I<I»IInllllllllo vl'lho "l'OIlII"" lUIS Um exame mais minucioso de outras propriedades lexicais e gramaticais dessas línguas leva à conclusão de que há muitas semelhançasentre elas e de que essas seme- lhanças são sistemáticas.Por isso, há um "grau de parentesco"entreelas. Comparando as semelhanças e as diferenças entre essas línguas, pode-se chegar a uma língua anterior, com basenaqual essas'diferenteslínguas seoriginam. Essalínguaanteriorécomosefos- sea"língua-mãe"daquelas"línguas-filhas".Assim,pelotrabalhocomparativo,épossí- velreconstruiro percursohistóricodessaslínguas,ouseja,épossíveldeterminarcomo umalínguamudaatravésdotempo,transformando-seemoutraslínguas,NoI'Xl'lIIploda- do,o lalimé a"língua-mãe"doportuguês,doespanhol,do francêsl' do 1IIIIIIInoque,en- Ill' outruslínguasromiinicas,s1l0suas"línguas-filhas", latim grego sânscrito pater patér pitar português espanhol francês italiano pai padre pere padre 80 Introduçãoà lingüística doispontosdevista,diacrônicoesincrônico.Diacronicamente,overbo"comer"vemdo latimedere,cujoradicaléed-.Comonopresentedoindicativosuasformasseconfun- diamcomo verboesse,nolatimvulgardapenínsulaIbéricao verboederepassouase realizaracompanhadodoprefixocum-,quedesignacompanhia.Assim,cumederepas- souacumederee,apartirdessarealização,a"comer"emlínguaportuguesa.Dopontode vistadiacrônico,ocom-decomernãoéumradical,masumprefixo. Sincronicamente,àmedidaquesedeveisolaroportuguêsdeseuprocessodemu- dançashistóricas,essainformaçãoarespeitodaorigemlatinadessapalavradeixadeser pertinente,já quenopontodevistasincrônico,oselementoslingüísticossãoestudados dentrodeummesmorecortetemporal.Considerandoessecom-umelementolingüístico, quesedefineemrelaçãoaosdemaiselementoslingüísticosqueformamalínguaportu- guesa,eledefine-secomoumradical,já que"comer"sedefineemrelaçãoaosdemais contextosmorfológicosemqueelefuncionacomoumradical,comoem"comilança", "comilão","comida",eemrelaçãoaosradicaisdosdemaisverbosdamesmalíngua,co- moem"beber","pitar"e"cair". Saussure(1969:103-104)lançamãodeumametáforaparafazera relaçãoentre sincroniaediacronia.A línguacomporta-secomootroncodeumaárvoreemcrescimen- to,demodoqueumcortetransversalemseulenhorevelaumarelaçãosincrônicaentreos elementosqueocompõemeumcortelongitudinalrevelaumdesenvolvimentodiacrôni- codessesestadossincrônicos. A partirdadicotomiasincroniaversusdiacronia,Saussuredeterminaumadistin- çãoentrefatossincrônicosefatosdiacrônicos(1969:107-111).Osfatossincrônicos,co- mosãodenaturezasistemática,sãogeraismasnãotêmcaráterimperativo.Issoquerdi- zerqueosfatossincrônicosestabelecemprincípiosderegularidade.Emportuguês,por exemplo,todoverbopossuimorfemasdemodoetempoedenúmeroepessoa,assimco- motodosossubstantivospossuemmorfemasdegêneroenúmero.Issoéumaregularida- desistemáticadosverbosedossubstantivosdessalíngua.O verbocomer,porexemplo, conjugadonaprimeirapessoadopluraldopretéritomais-que-perfeitodoindicativo,tem aforma"comêramos",emqueocom-éo radical,o-eévogaltemáticadesegundaconju- gação,o -raéo morfemadetempopretéritomais-que-perfeitodomodoindicativoeo - moséomorfemadeI~pessoadonúmeroplural.O substantivolobos,porexemplo,tem comoradicallob-,o-ocomomorfemadegêneromasculinoeo -scomomorfemadenú- meroplural. Trata-sedeumfatogeral,masnãoimperativo,oquequerdizerqueessaregulari- dadepodesermodificadaemumamudançadelíngua.Ossubstantivosdolatim,apartir dosquaisseoriginouboapartedossubstantivosdoportuguês,possuememsuamorfolo- giamarcasdegênero,númeroecaso.Emlatim,loboélupus,demodoquelupustemgê- neromasculino,númerosingularecasonominativo,oquesignificaquelupuséaformaempregadaparaexpressarosujeitodaoraçãoemqueessapalavraocorre.Paraafunção deobjetodireto,porexemplo,emprega-sea formalupum.Ao passarparao português, portanto,ossubstantivoslatinosconservaramasmarcasmorfológicasdegêneroenúme- ro,masnãoconservaramasdecaso.Assim,namudançadolatimparaoportuguês,essa regularidadedossubstantivoslatinosémodificadaparaumaoutraregularidadedossubs- tantivosdoportuguês.A regularidadesincrônicaé,portanto,geral,masni10I' imperaliva, já quepodesermodificadanadiacronia. A IInguacornoobjl!ltodo Lingülstka 81 Os falosdiacrônicossão imperativos,já quese impõemà língua.Conlinuando 10mo exemplodossubstantivosem lalime emportuguês,constata-sea perdadanUII'l'1I IlIolfológil:adel:aso.Essefatode línguaé umfatodemudançalingüísticaqueserercll'a 1111111lIIarcamorfológicaqueestápresenteemumalíngua,masnãoestámaispresentc1'111 \IIllradomesmomodo.Comoaslínguastambémtêmumcarátersistemático,essefaloSI' II'lIlizaemtodoo sistema,por issoeleé imperativo.Nenhumsubstantivodo porluglll's h'llIcasoe todosossubstantivoslatinoso têm,pois,quandosedáa mudança,elarl'aliza 'o"l'm lodoo sistema,recobrindotudoo queéclassificadocomosubstantivonessasdUlls lill~uas.Assim,o fatodiacrônicoé imperativo. NãosedevepensarqueSaussureacrescentouumpontodevistasincrônicoa01111'11 pontodevistajá existente,odiacrônico.Saussure,aodefiniralínguacomosistemaI' ao 1"'lIsara sincroniacomoo estudodeumsistemanumdadomomentodotempo.abrcl'a 1IIIIIhoparaa redefiniçãotambémdoconceitodediacronia,quevaiserentendidaCOIIIOa ',ul'cssãodediferentessistemasao longodo tempo.Imaginemos,porexemplo,quc.1'111 '1II1aséculo,hajaumestadode língua.Faz-seumestudosincrônicodoportuguêsdo SI' 1'1110XIII,dodoséculoXIVetc.A diacroniaé,então,a sucessãodessassincronias, A definiçãodeumpontodevistasincrôniconãoestárestritasomenteà proposla d,' umametodologiadetrabalhoemLingüística.A partirdela,define-seumnovoOhjl'IO dt,l'studosqueéa línguacomoumsistema.Os alcancesdessadefinição,porém,sãolIIais 111'111compreendidosnadicotomialínguaversusfala. UnguaversusFala ("Iaussure,1969:26-28) No itemanterior,háumadefiniçãoimportantequefoi comentadamuilo rapidll 11I,~nle.Trata-sedadefiniçãoda línguacomosistema.Ela é importanteporqueé a pllllll dl'laqueSaussuredefineumnovoobjetodeestudoparaaLingüística.Ela foi cOlIIl'nladll .lImariamenteporqueo que interessava,então,eradiscutirasorientaçõessincr(HIIl'aI' dlill'l'Ônicadoestudoda língua.As dicotomiassaussureanas,emborapossamserCSllldll dasumadecadavez,só fazemsentidoquandorelacionadasumascomasoulras. Na fábuladeLa Fontaine,háumdiálogoentreo Loboeo Cordeiro.É juslaml'lIlt' I,,-IaargumenlaçãodoCordeiroe pelasréplicaseacusaçõesdo Loboquesedemollstrno II'IIUIdequecontraaforçanãoháargumentos.Na fábula,aargumentaçãoé inúlil porqll" , onlraa forçanãoháargumentose nãoporqueo Lobo nãoentendaos argumelllostio ( ',u'tleiro.Suasréplicasmostramqueeleentendeo queo Cordeirodiz,já que,paral'mlll d,'ll'sadoCordeiro,o Loboencontraumaacusaçãodiferente.Assim,o queasduaspt'rso 1lIll.:l'nscompartilham,aodialogar,é a mesmalíngua,emboracadaumadelastenhaUllla I.dudifl'renle. Senadicolomiasillcmllill verSlI,\'dillcmllillseestabelecemduasnHIIII'irasdtOl'slll dllr a HlIgua.nadicolomialíll~lIlI v"rslIs/alaháa deliniçãodo conceitotil' 1f1l~1I1I.1'11111 lIlsSllrt..líll~1I1IopÜe-sea.fei/a.porquea1í1l~1/(1écolclivaea.fCi/aé parlil'ular.portanto,11 IIIIJ.(I/III' UIIIdadosOl'ialc a.fÚIIIéUIIIdadoindividual.Alémdisso.a líll~lIaI' sisll'llIlIll'lI , Ilflllll I' assisll'mfilil'a,Pl~ssoasquI'ralallla mcsma/íll~I/(/l'Onst'gul'ml'Ollulllil'1IISI'p\ll '1"1"alll'SIII das dil"'!'l'nll's/ei/II.\'.hú o uso da 1111'S111a /f1l~I/(/, 82 Inll'oduç(IOó llngülslica Na fábula,quandoo Lobo acusao Cordeirocomafala "COlIJOlu ousassujara águaqueestoubebendo?"eo Cordeirorespondecomafala "Senhor(...)encareçoaVos- saAltezaquemedesculpeis,masachoquevosenganais:bebendo,quasedezbraçasabai- xo devós,nestacorrenteza,nãopossosujar-vosaágua",nota-sequeambosusamames- maUngua,já queasduasfalascompartilhamdomesmovocabulárioedasmesmasregras gramaticais:háo usode palavrascomuns,como ,fujar,bebendo,água;nasorações,o complementoécolocadodepoisdo verbo,comonafala doLobo "tuousas(verbo)+su- jar a águaqueestoubebendo(complemento)"e nafala do Cordeiro"nãopossosujar (verbo)+ vosa água(complemento)";háo usodasmesmasvogaise dasmesmascon- soantesemambasasfalas.Enfim,o Loboeo Cordeirofalamamesmalínguaporqueam- bosdominamo mesmosistemadeelementoslingüísticos,ouseja,palavras,ordemdaco- locaçãodaspalavrasnafrase,vogais,consoantes,entreoutraspropriedades.Asfalas são diferentes,maso sistemalingüísticousadoparaformá-Iaséo mesmo. ParaSaussure,o objetodeestudosdaLingüísticaé a língua(Saussure,1969:28), e nãoafala, demodoqueumalínguaédefinidacomoumsistemadeelementos.Paraen- tenderessadefinição,deve-sedefiniro queé umsistemae o quesãoos elementosque formamumsistemalingüístico. Pode-sedefinirumsistemacomoumconjuntoorganizadoemqueumelementose definepelosoutros.Um conjuntoé umatotalidadedeelementosquaisquer.Seelesestão organizados,issoquerdizerqueumelementoestáemfunçãodosoutros,demodoquea suafunçãosedefineemrelaçãoaosdemaiselementosdoconjunto. Em todasas fábulas,os animaisrepresentamfunçõessociaishumanas,porissoé comum,emdecorrênciadoperíodohistóricoaqueasfábulassereferem,haverumacorte emqueháumreieseussúditos.O rei,geralmente,éumleãoeseussúditospodemvariar deboisa hienase chacais.Umacorteé umconjuntoorganizadoemqueseuselementos estãodefinidosunsemrelaçãoaosoutros.O quefazdo reiserumreié o fatodeelenão serumdeseussúditos,o quefazo bobodacorteserumbobodacorteéelenãosero rei, e assimpordiante,natotalidadedoconjunto. Esseconjuntoorganizadoemqueumelementosedefinepelosdemaisé umsiste- ma,ou seja,umaestrutura.Pode-sedefinirumalínguadessepontode vistae foi essa contribuiçãoteóricadeSaussurequedefiniuumobjetodeestudosdentrodaLingüística. Sea línguapodeserestudadacomoumsistema,eladeveserdefinidanosmesmos termosqueumsistema.Portanto,umalínguadeveserdefinidacomoumconjuntoorga- nizadoemqueumelementosedefineemrelaçãoaosdemaiselementos.Deve-se,emse- guida,definiresseselementosquepertencemaesseconjuntodalíngua. Dentrodoslimitesdestetexto,vamosdefiniresseselementoscomoossignoslin- güísticos.A línguaé, portanto,umconjuntodesignosemqueumsignosedefinepelos demaissignosdoconjunto.Deve-se,emseguida,definiroqueé umsignolingüístico. A essaalturadotexto,repete-seo mesmoqueocorreuquandodadefiniçãodelíngua comosistemanoitemsincroniaversusdiacronia.A definiçãodesignoseráestudadacommais atençãonadicotorniasignificanteversussignificado,demodoqueelaserátratada,agora,su- mariamente.No entanto,semela,nãoépossívelcompreenderadefiniçãosistemáticadelín- ,1://(/,justamenteporqueécomadefiniçãodesignoquesedefinemoselementoslingiiísticos. Umsignolingüístico,comojá seviunocapítulosobrealeoriudossignos,éuma relaçãoentreumconceitoe umaimagemacústica(Saussure,II)()I):XI!I11,"conceilol{ A línguacomoobjolodo lingüislico 83 IIIIIUid~ia,umpensamentoqueserveparainterpretaro mundo.UmaimagemacúslkaL' 11 IlIlpressãopsíquicade umaseqüênciaarticuladade sons(vogais,consoantese semivo VIIIS).A palavralobo,porexemplo,é umsigno,poisnelao conceitode"mamíferocllrni VOI'O,dafamíliacanidae,quehabitagrandesregiõesdaEuropa,Ásia eAméricado Nor h'" esl;1associadoà seqüênciade vogaise consoantesque formaa imagemaClístka /Iolm/. Ao conceito,Saussurechamousignificadoe à imagemacústica,significantl' ( I%9:H I). O significadoeo significantesãoasduasfacesdosignolingüístico. Nãosedeveconfundirsignocompalavra.A palavra"comer",porexemplo,l'UIII \Igno,já queéformadapelaimagemacústicaIkomerlrelacionadacomoconceitode"in ~'I'rlralimentossólidos".Noentanto,essapalavraéformadaporsignosmenores,ouSl'.IU, oslIIorfemas.Háem"comer"trêsmorfemas:o radicalcom-;omorfema-e,quesignilku qlll'o verbopertenceàsegundaconjugação;eomorfema-r,queindicaqueo verhol'slf\ 110mlinitivo.Ummorfematambéméumsigno,já quepossuiumsignificadoeumsigni IIcunle.Nomorfema-r,porexemplo,osignificadoéoconceitodeinfinitivoeosignih ,,lIIte éa imagemacústicadaconsoante11'/.Atenção,a imagemacústica11'1sóé um111m h'maquandoaelaestáassociadoumsignificado,o11'1napalavra"rato",porexemplo,1'111 purtedoradicalrat-sócomoumaconsoante,semternenhumsignificadoisoladamente. A língua,paraSaussure(1969:23-24),éumsistemadesignos,emqueumsigno 'I' definepelosdemaissignosdoconjunto.Por isso,eledesenvolveuo conceitodevaIo,., Istoé, o sentidodeumaunidade,queé definidapor suasrelaçõescomoutrasdamesllJu IIlIlureza(Saussure,1969:130-141).Em"comer",o radicalsó temo seuvalorlingUístil'O ('111relaçãoaosdemaisradicaisdalínguaportuguesa,comoo beb-debeber,o viv-deVI Vl'retc.;o morfema-e,queindicaasegundaconjugação,sótemessevaloremrelaçãoaos lIIorfemas-a deprimeiraconjugaçãoe -i deterceiraconjugação.Em "'oba",poreXl'1II pio,hátambémummorfema-a, sóqueé ummorfemacujosignificadoé o degêneroIl' mmino,porquesedefinecomofemininoemrelaçãoaomorfema-o, degêneromascuh 110.Além do mais,o que define um morfemacomo radicalé a sua relaçãol'Omos IlIorfemasdesinenciaise vice-versa. Saussuredissequena línguasóhádiferenças.Portanto,nãosóossignossedl'll 111'111unsemrelaçãoaosoutros,mastambémoselementosquecompõemossignilkantl's. Isloé,ossons,bemcomoossignificados.Assim,o valordoIII sóédadoemrazãodl'SUII ('posiçãocomo11'/.O primeirosótemumvalordentrodosistema,porqueservepara011111 signoscomolata e rata.Os significadosde ira, ódio, rancore raivaganhamseuvlllol dl'ntrodosistemaporqueunsseopõemaosoutros,cadaumtemumadiferençaSellJÜnlll'a ('mrelaçãoaosoutros. Pode-seutilizara metáforadaredeparadescreveressepontodevistasistenu11lco. ( ) sistemalingüísticopodeserentendidocomoumarede,emquecadanóeSlárelacionudo 1'0111osdemaisnósqueformamarede,assimcomoossignosqueformamumsistemalin ..,Olsticoeslãorelacionadosentresi. Concehendoa líll,l:m/comoumsistemade sigilos, "lIussure(1969:23-24)defineumnovoobjetodeestudosparaaLingUística.É dl'SSl'lIIodo qUI'umpontode vistadelerminaumobjelodeestudos:quandoseohservua I{II!-I//IIdo ponlodl' vistasistemático,o quesereconhecenelaé umaeslrulura.Esseconjuntod('1'1'111 l',)(,SqUl'usunidudl'sIingUístkasmuntêmenlrl'si constiluiulllu./il/'lllll.Por isso,Suussun' dll qUl'a Irnguul'1'01'll\Ul'ní10suhslflnl'ÍlI.Essel'on';Unlodl'difl'l'l'nçllsl'slalwll'l'('os l'OIl \'l'llos I' os SOIlS1111nlllSSIl11111011'11do 1!l'lIslIllIl'nloI' no pluno f()lIil'o IIIdl'll'l'lIIinlHlo qlll' o 84 Introduçãoà lIngülstlca aparelhofonadorpodeproduzir.Paraexplicarmelhoresseconceito,SUlIssureusauma metáfora,adojogodexadrez.O quedefineoqueéumarainha,nãoéseuformatonemo materialdequeapeçaéfeita,masseuvalornojogo,ouseja,suaoposiçãoemrelaçãoàs demaispeças:osmovimentosqueelapodefazereasoutrasnãopodem.Nãoimportao materialdequeapeçaéfeito,nemseuformato.Nolimite,pode-seatéjogarxadrezdeme- mória,semaspeças.O quetemrelevânciaéo valordaspeças.Nalíngua,issotambém ocorre.Oqueimportaéovalordasunidades,ouseja,suadiferençaemrelaçãoàsdemais. Nadicotomialínguaversusfala,Saussureseparaosfatosdelínguadosfatosde fala:osfatosdelínguadizemrespeitoàestruturadosistemalingüísticoeosfatosdefala dizemrespeitoaousodessesistema.NosdiálogosdoLobocomoCordeirooqueinteres- sa,paraoestudodalíngua,éosistemalingüísticousadopelasduaspersonagens.Naacu- saçãodoLobo"Comotuousassujaraáguaqueestoubebendo?"enadefesadoCordeiro "Senhor(...)encareçoaVossaAltezaquemedesculpeis,masachoquevosenganais:be- bendo,quasedezbraçasabaixodevós,nestacorrenteza,nãopossosujar-vosaágua",o fatodeasduaspersonagensusaremoradicalbeb-,napalavrabebendo,éumfatodelín- gua,enquantoéfatodefalaoradicalocorreremumaacusaçãonajaladoLoboeemuma defesanafaladoCordeiro. DeacordocomSaussure(1969:27),adicotomialínguaversusfalaépertinenteà medidaqueos fatosdelínguapodemserestudadosseparadamentedosfatosdefala. Contudo,senessaoposiçãoentrelínguaefala aponta-separaadiferençaentreumfato delínguaeumfatodefala (idem:26-27),Saussurenãodeixadeconsiderar,também,as interferênciasentreosdoistiposdefatos.Paraele,umamudançanosistemapodeadvir defatosdefala (idem:26-27),comoasmudançasdeproduçãodossonsqueocorremna fala e alteramo sistemafônico.Sósãopertinentesparao estudodosistemadalíngua quandointerferemdiretamentenasrelaçõesinternasentreseuselementossistematizados. O aparecimentonosistemalingüísticodoportuguêsdossonspalataisIlhleInhle o resultadodaaçãodeumasemivogallil sobreasconsoantes111eIn/.Quandoessascon- soanteseramseguidasdeumasemivogallil, elaspalatalizavam-senafalae,aospoucos, essapalatalizaçãopassoua fazerpartedosistemadalíngua:filiu>.filho;mulier-. mu- lher;vinia>vinha.Essessonspalataisintegraramosistemadalíngua,quandoadquiri- ramumvalordiferencial,passandoa distinguirsignosdiferentes:malaversusmalha; manaversusmanha. Emcertasregiõesdopaís,algumaspalavrascomIlhl perderama palatalização. Pronuncia-semuléemlugardemulher.Nem,porisso,osomIlhldesapareceudosistema doportuguês,nemmesmonessasregiões.Esseéumfatodefalaquenãoafetouosiste- ma.À medidaqueo sistemaéestudadoemsuasrelaçõesinternas,umavezocorridaa mudançaoriundadafala,elapassadasocorrênciasparticularesdafalaaosdomíniosge- raisdalíngua,eénosistemaqueelapassa,sincronicamente,aserconsiderada. Dirigindonovamenteaatençãoaoselementoslingüísticosqueformamo sistema lingüístico,retoma-seaoestudodosigno(Saussure,1969:79-93),queserámaisbem examinadonadicotomiasignificanteversussignificado(Saussure,1969:81),pormeioda qualeleédefinido. A linguacamaobjetodo lIngülstlccl 8!) SignificanteversusSignificado (SlIussure,1969:79-93) Se noestudodadicotomiasincroniaversusdiacroniao conceitode línguafoi l'S IIIdadorapidamente,parasermaisbemdesenvolvidonoestudodadicotomiaI(II~II(/1'1" \/1.\'.Iit/a,noestudodessaúltimadicotomiao conceitoestudadosumariamentefoi o 1'011 ll'llo designo.Vamosestudá-Iocommaisatenção. Emprincípio,adefiniçãodesignolingüísticoparecesimples.Saussuredclilll' ~i!1 110l'Omoarelaçãoentreumaimagemacústica,queelechamousignifica11le,eumconCl'1 10,quedenominousignificado(1969:81).Comessadefiniçãodesigno,eleestabelecI'os I'!ementosqueformamo sistemadalíngua,demodoqueadefiniçãodelínguapassaaSI'I II di' umsistemadesignos(idem:23-24). A definiçãodesigno,porém,trazimplicaçõesno quediz respeitoaoestalulodll IIlIguagemeaseupapelentreos fatoshumanos.Há umaconcepçãodelínguaque,emho 1I1sejaconsensualentremuitosfalantes,estácompletamenteerrada.Pensa-se,comuml'lI h',queseviveemummundorepletodecoisase quenosreferimosaelascompalavras, -\ssim,háprimeiroascoisasdo mundoe depoisaparecemaspalavrasparanos referir IIIIISaelas.Nessaconcepção,háumarelaçãodiretaentrepalavrasecoisas,demodolJUl' IllInguaéentendidacomoumanomenclatura. Na traduçãodeFerreiraGullar,a fábuladeLa Fontainecomeçacomumadescri 11)0:"Na águalimpadeumregato,matavaasedeumCordeiro,quando,saindodo mato, 1'1'10umLobo carniceiro".Na história,portanto,háumregato,ondeo Cordeiromala11 'l'de,e um mato,de ondesai o Lobo. Entendendoa línguacomoumanomenclatura, qlllllldolemos"mato"e "regato",o quesedevepensaré quehácoisasno mundo,entrl' l'lasmatose regatos,equea línguaserveparanosreferirmosaelas,comoaconteceqU1I1I do lemosa fábula.Assim,háumregato,queéumacoisa,eapalavra"regato",quI'Sl'rVl' pllradesignaressacoisa,por isso,comoumanomenclatura,a línguaé entendidaCOIIIO IIllIa relaçãoentrepalavrasecoisas. Com a definiçãodesigno,Saussuredemonstraquearelaçãonãoé esta,ellln'11" lavrasCcoisas,massimentreumaimagemacústicae umconceito,ouseja,entreumsiV IIllIcanlee umsignificado(1969:80).Issoimplicaquea línguanãoé umanomendallllll, IIIIISumprincípiodaclassificação(1969:17).Vamosexaminarissomelhor. SI' existeummundorepletodecoisasecabeà línguaapenasnomeá-Ias,elaal'lIhll porreduzir-sea umreflexodascoisas.Dessepontodevista,a línguanãotemumdom! 1110próprio,pois,comoumreflexodascoisasdo mundo,éentendidaapenascomol'Ok ll)()denomes. No pontodevistadeSaussureissonãoacontece.Antesdetudo,aoalirmarqlll' 11 1l'llI,ãoéentreumsigll(/icanteeumsignificado(1969:80-81),arelaçãoentreascoislls do IlIlIndoc aspalavrasdeixadeserconsideradanadefiniçãodeumalíngua.O millidoI'.IIIIScoisaspassamparaumdomínioqueestáforadosestudoslingUísticosea lrngllll~II 111111limaespeeilieidadeprópria.Um sigllificalltee umsignificado(1969:XI) fOl'lllllmUIII ~I~IIO,qUI',porSUIIvez,é delinidodentrodeumsistema(1969:2J.24),ouSl'jll,umSI~IIO VIIIIIIIIvalorlia rcla,ÜocomOlltroSsignos.Esseconceitodesignotrazasigllifil'lu,'oOfllI"l dl'llIrodll Ifllgllll I' dl' suaeslrutllra.O qUI'significasãoos sigilos1'111suasrl'!:u;ol'sIIII~ 10111os olllros I' luio 1I1'l'IIIÇilo1'1111'1'IIS IIIII/lvl'IIsI' IIScoislIs dOllllllldo, 86 Introduçãoó Lingüistico Seossignossignificamdentrodeumsistemalingüístico,essesistemacompreen- deumavisãodemundo,ouseja,umprincípiodeclassificaçãoque,projetando-sesobre ascoisasdomundo,classifica-asdeacordocomsuaestruturainterna.Umconceito,ou seja,umsignificado,éumaidéiaquemodelaumdeterminadomododecompreenderas coisas.Esseconceitodeve,necessariamente,estarrelacionadoaummeiodeexpressá-Io. É preciso,então,relacionaroconceitoaumaimagemacústica,ouseja,aumsignificante. Essamaneiradeveromundovariadelínguaparalíngua,já quecadaumadelasédefini- daporumsistemaprópriodesignos.Alémdomais,seépelalinguagemquesevêemos fatoshumanos,sedefinemessesfatos,elespodemsermodificadospormeiodela.Isso nãoquerdizerquesepodemodificaromundofísicopormeiodalinguagem,masqueca- beaessalinguagemdarumsentidoparaasinterpretaçõesdessemundo.É essemundode sentido,formadopelalinguagem,quepodesermodificadoporela. Dessemodo,pode-seafirmarqueéapartirdeumalínguaquesevêemascoisas domundoenãoocontrário.Enquantonaconcepçãodalínguacomoumanomenclatura sãoascoisasdomundoquedeterminamas"coisas"dalíngua,naconcepçãodalíngua comoumprincípiodeclassificaçãoéalínguaquedeterminaascoisasdomundo.Assim, osignonãouneumapalavraeumacoisa,masumsignificanteeumsignificado(Saussu- re,1969:80). Essadiferençadeprincípiosdecategorizaçãodarealidade,evidentemente,nãoim- pedeatraduçãodeumalínguaemoutra,maséjustamenteporsuacausaquesediscutem, entreosprofissionaisdatradução,osgrausdetradutibilidadeentrediferenteslínguas. Emumadesuasacusações,dizoLoboaoCordeirodafábula:"Poisentãofoi teu irmão".Emfrancês,dizoLobo:"Si cen'esttoi,c'estdonctonfrére".Nocasodoportu- guêsedofrancês,háumacorrespondênciadesentidoentreossignosirmãoefrére,no entanto,essacorrespondênciadeixadeexistirseessaslínguassãocomparadascomo húngaroouomalaio.O húngarofazadiferençaentreossexosdosirmãos,comooportu- guêseofrancês,mastambémfazumadiferençaentreaordemdosnascimentos,demodo quebátyasignifica"irmãomaisvelho";Ôccs,"irmãomaisnovo";néne,"irmãmaisve- lha"ehúg,"irmãmaisnova".O malaionãofaznemadiferençadesexonemadeidade: sudaràsignificaqualquerirmão,maisvelhooumaisnovo,homemoumulher. Issoquerdizerqueoportuguês,o francês,ohúngaroeomalaiosãolínguascom princípiosdeclassificaçãodiferentes.Casoa fábulafossetraduzidaparao malaio,não haveriaproblemasnaescolhadapalavra,emboraelanãoexpressasselodosossignifica- dosdapalavrafrancesa.Nocasodohúngaro,porém,qualescolher,111;/\'11ou/it'("s'! A IInguo corno obj810dol.ingülslico 01 Saussureafirmaqueo signoé arbitrário,já quenãohá umarclaç.l0de causaI' l'Idto quemOlivea relaçãoqueuneumsignificadoe umsignificante.No signoC'IJ/lU'/', porexemplo,nadahánaimagemacústicaformadapelaseqüênciadevogaiseconsoantes /kolller/,o sigllificante,quelevea umarelaçãodiretacomo conceito"comer",o signili I mio.Arbitráriosignifica,portanto,nãomotivado.O significantenãoé motivadopl'lo ~Ignilicado.No entanto,Saussureafirmaquehásignosabsolutamentearbitráriosesignos rl'l:llivamentearbitrários.A motivaçãorelativaéaqueseestabeleceentreumsignol' ou II'OSsignosdo mesmosistema(1969:152-155).Saussuredádoisexemplosdessamoliva ,'/10relativadosigno(1969:152-153).Diz elequeo signovintenãoémotivado.enquanto t!1':'I'lIoveo é.Dezenoveé relativamentemotivadopelossignosdezenovee porUIIIprin llpio denumeraçãodecimalprópriodo português.Dezenovesignifica"dez maisnow", Ik modoqueo signodezenoveémotivadopordoissignos,dezenove,quejá fazempartI' dosislemalingüísticodoportuguês.Com vintenãosedáamesmacoisa,já quenãocxis lI' o signodezedez.A mesmacoisaacontececomalgunsdossignosquedesignamasplan IIISapartirdeseusfrutos.Macieiraebananeira,quederivamdemaçãebananamaiso ~lIlixo-eira,sãomotivados,maseucaliptoefreixonãoo são,poisaquelessãorclaliva IIIl~ntemotivadospor'maçãe bananaepeloprocessomorfológicoque,emportugucs, lurmabananeira,cerejeiraetc.,apartirdebanana,cerejaetc. Quandosefalaemsignolingüístico,pensa-senarelaçãodoconceitocomullla IlIIagcmacústica.Há,porém,outrasformasdeexpressãoalémdalingüística.Umdesl' nho,porexemplo,éumsigno,sóquenãoélingüístico,masvisual.SeosignificadofOI dl'linidocomoumconceitoeosignificantecomoummeiodeexpressãoqueveiculaeSSl' l'llllceito,adefiniçãodesignotorna-semaisabrangente,já que,alémdosignificantel'n Il'ndidocomoimagemacústica,elarecobreoutrasformaspossíveisderealizarumsigni lI('anle.Pode-se,então,afirmarqueossignoslingüísticossãoapenasumtipoparticulal dI'signo,própriodalíngua,dentrodeumconjuntomaiordetiposdesignos. Ao estudodosignodeummodogeral,Saussure(1969:23-24)chamouSCllliolo Via,Mostrouque,emsuaépoca,essaciênciageraldossignosaindanãoexistia,IlllISpn' Ilsariasercriada.Semdúvida,muitossemiólogos,emespecialRolandBarthes,l'uida 111111deestabelecerasbasesdessaciêncianodecorrerdoséculoxx.ParaSaussurc(1()h() ',1),aLingüísticaseriaaciênciadossignosverbais,que,porsuavez,fariapartedaSI' nllologia,aciênciadossignosemgeral. Háaindaumaúltimaobservaçãoarespeitodosignolingüístico.Saussure(1(1). K.\)chamaaatençãoparao caráterlineardosignificantedessetipodesigno.O sigll(/i IIIII/t'dalínguaéumaimagemacústica,que,quandoserealizanafala,formaumasuhs !anciasonora.Sendodaordemdosom,suarealizaçãoacontecenotempo,tomandoafOI 11111deumaduração.Contrariamenteaossignificantesvisuais,qucscrealizamnoespa,'o, o~sigll(ficalltessonoros,comoos significanteslingüísticosou musicais.realizalll-sl'no h'll1PO,demodoquedoissonssóserealizamemumasuccssão. Essapropriedadelineardossignosda línguaé imporlanleparadescreVl'1'as Ida Inesqueelesestabcleccmentresi.A questãodadistribuiçãodossignose de suasrl'la (1)I'S,à medidaque tambémdefineumestadosincrônicode Ifngua,é exalllinadaplII "aussure.Elas sãoIraladasno estudoda dicotomiapu/'{/dig/l/uIIS.sill/ug/l/u(SIIIISSUI'\', 1(1)'142 147). húngarofrancês portuguêsmalaio irmãomaisvelho bátya frére irmão sudarà irmãomaisnovo occs irmãmaisvelha néne soeur irmã irmãmaisnova húg 88 Introdução à lingüística Paradigma versusSintagma (Saussure,1969:142-147) ParaSaussure,asrelaçõesentreoselementoslingüísticospodemserestabelecidas emdoisdomíniosdistintos.Vamosdefiniressesdomínios. Na fábuladeLa Fontaine,umapartedaargumentaçãodosdoisanimaisdiz respei- toaosgrausdeparentesco: - Não importa.Guardomágoa deti, queanopassado, medestratasle,tingido! - Mas eunemtinhanascido. - Poisentãofoi leuirmão. - Não tenhoirmão,Excelência. - Chegadeargumentação. Estouperdendoapaciência! - Não voszangueis,desculpai! - Não foi leuirmão?Foi o teupai ou senãofoi teuavô- TantoosargumentosdedefesadoCordeiroquantoosdeacusaçãodoLoboestão baseadosnaseleçãodosgrausdeparentesco.Observandoasorações"foi teuirmão","foi teupai"e "foi teuavô",épossívelverificarqueasrelaçõesentreoselementoslingüísti- cosdependem,basicamente,deumaseleçãodeles,quenocasodoexemplosãoirmão- pai- avô,edeumacombinaçãoentreeles,quenocasoéaseqüênciafoi teu- .Des- semodo,pode-seafirmarquea linguagemtemdoiseixos,umeixodeseleçãoeumeixo decombinação,quepodemserrepresentadosassim: .eixodeseleção foi foi irmão eixodecombinaçãoteu teu pai avôfoi teu Emvirtudedocaráterlineardossignijicantes,háaimpossibilidadedequeossig- noslingüísticosocorramsimultaneamentenacadeiadafala.Assim,enunciadosumapós o outro,elesformamumalinhamentoqueosdistribuiemrelaçõesdecombinaçãoentre, nomínimo,doiselementos.Há,portanto,relaçõesdecombinaçãoentreossignos.A es- sasrelações,Saussurechamadesintagmáticas(1969:142),dogregosyntagma,quequer dizer"coisapostaemordem". Alémdasrelaçõessintagmáticas,baseadasnacombinação,hátambémrelaçõesbaseadasnaseleçãodoselementosquesãocombinados(Saussure,1969:143).Apresen- tandoalgoemcomum,umsignopodeserassociadoaoutrossignospor,pelomenos,três modos:pormeiodeseusignijicado,comseusantônimosesinÔnimos:pormciodeseu signijicante,comimagensacústicassemelhantes;epormciodi'Olltro~'i~nos,L'mpro- cessosmorfológicoscomuns. A língua como objoto da lingüística 89 Saussure,a partirdo signoensinamento(1969:145-147),exemplificacadaUIII dl'ssestrêsmodosde associação.Por meiodo signijicado,associa-seensilla/lll'/lto11 /IfI/'l'mlizaMem,educaçãoetc.Por meiodeseusignificante,associa-seensinal11l'lIloa 1'11" 1IIt'IIIo,lenloetc.E, pormeiodeoutrossignos,emprocessosmorfológicoscomuns,l'II.\'i 1/(/11/1'1110associa-seaensinar,ensinemosetc.,portero mesmoradical,eassocia-seadi',\' II~I/ra/llenlo,armamentoetc., por ter o mesmosufixo. A essasrelaçõesenlrl' os l'll'mentosdosistemalingüísticoSaussurechamarelaçõesassoeiativas(1969:145),('on tlldo,parase referiràs relaçõesassociativasentreos signos,a Lingüísticaconsagrouo 1\'1'1110relaçõesparadigmáticas,dogregoparadéigma,quesignificamodelo,exemplo, Assim,estabelece-seadicotomiaparadigmaversussintagma(Saussure,1969:I,I} 117),naqualsedefinem,respectivamente,asrelaçõesdeseleçãoeasrelaçõesdecomhinll ,,&10entreoselementoslingüísticos. Saussuredefiniu,em sentidoamplo,asrelaçõesparadigmáticase sintagmáticll~. Pllratornaroperacionaisosconceitosdesintagmaedeparadigma,aLingüísticaposlcriOl I1Saussurevaiprecisá-Ios.O paradigmanãoéqualquerassociaçãodesignospcloSOIl1l' 1'I'Iossentidos,masumasériedeelementoslingüísticossuscetíveisdefigurarno mcsmo pontodoenunciado,seo sentidofor outro.Assim,noenunciadofoi teuavô,no lugardi' 1"11,poderiamfigurar,seo sentidodo enunciadofosseoutro,os termosseu,1111'11,110,\',\'0, li, /1111etc.Esseselementosconstituemumparadigma,doqualo falanteselecionaumtL'r. 1110parafigurarnoenunciado.Por outrolado,no sintagmanãosecombinam4uaisqlll'r I h'mcntosaleatoriamente.A combinaçãonosintagmaobedeceaumpadrãodefinido1)L'lo .!'Iema.Assim,porexemplo,podem-secombinarumartigoe umnomee, nessecaso,o ,11ligo devesempreprecedero nome.Em português,é possívela combinaçãoo imll/o, IIIIISnãoa combinaçãoirmãoo. Por essarazão,nãosedeveconfundirparadiMlI1al'onl 111/.1:1111e ,\'inlagmacomfala.Tantoumquantooutropertencemaosistema,aqueleporI" hll!l'lcceros elementosquepodemfigurarnumdadopontodacadeiafaladae CStl'pOI ohl'dcceraumpadrãorígidodecombinação. A diferençaentreasrelaçõessintagmáticaseasparadigmáticasnãoé a 1111"11111 qlll'cxisteentrelínguaefala (Saussure,1969:26-28).Aquelas,porrelacionarnomfnllllO dOIselementoslingüísticos,sãoumtipoderelaçãoemqueoselementosrelacionadosSI' IlIl'onlramempresençaumdooutro,já asrelaçõesparadigmáticas,porquedizcm1'L'~I!l'1 10I1sL'lcçãoentreelementos,sãoumtipoderelaçãoemqueo elementoselecionadol'X 1 IUIosdemaiselementosdarelação.Assim,asrelaçõesparadigmáticasentreosell'lIIl'n 1m IIngÜísticos ocorrem em ausência, ao contrário das sintagmáticas,que OCOlTl'm1!l'11I PII'Sl'IIça dos elementosrelacionados (Saussure, 1969:143).Já línMlla sedistingue dl'./illlI I'0rqlle a definição de líllM1tacoincide com a de sistema de signos e a deflllll refL'rl'.Sl' li 1I,lIlIal,';)Odesse sistema em um ato individual de fonação (Saussure, 1969:27),ASSIII!. 1.11110as relações paradigmálicas quanto as sintagmáticasestão no domínio da IIII~II/I, I' lI,hI da./fllll, porquedizemrespeitoàsrelaçõesentreoselementosqueformamo slsll'nlll oI,I/III~//{/,Comoa./flllléurnarealizaçãodosistemalingÜístico,elarealizaasn'laçlw,d(' I IIIIIIIIIIIIÇ;\Odetcrminadaspor essesistema. () segundocquívoeo diz respeitoao estatutodos ekmentos rl'lal'ionados, SI' "V'II I III1 l'ollhllldido com palavra, as rclaçiics paradigmáticasSL'diio l'nll'l' IISplllllvrus dI' 1111111 IIIIVII/Il' IIS l'l'IIII,'(kSsinlagmÍltil'as SI\OIIS 1'l'IIIÇÜL'Ssinllitil'as dl'ssa Ifll~-Hln,('ollllldo, ("'11 101lluslÍo1'lIln' signo I' palavru nno dl'Vl' Sl'r feilll, Elllhorll UIIIII plllnvl'lISI'JIIUIII 'ljJlIO 11111 90 Introduçãoà lingülstico signonãoé,necessariamente,umapalavra.Osmorfemas,queformamaspalavras,tam- bémsãosignos. Paraosverbosregularesdoportuguês,MattosoCâmara(1986:65-71)determina umaseqüênciaparaacombinaçãodeseuselementosmorfológicos,quepodeserformu- ladaassim:[radical]+[vogaltemática]+[morfemademodoetempo]+[morfemadenú- meroe pessoa].Emamaremos,porexemplo,o radicaléamo,avogaltemáticaé -a,o morfemademodoetempoé-reeomorfemadenúmeroepessoaé-mos.Emnívelmor- fológico,a combinação[radical]+ [vogaltemática]+[morfemademodoe tempo]+ [morfemadenúmeroepessoa]descreveumsintagma,eosradicaiseseusafixosquepo- demserselecionados,comoamo,como,beb-;em-a,-e,-i; etc.,sãoosparadigmasque podemocuparessaposiçãonosintagma. Tantonafrase,emnívelsintático,quantonapalavra,emnívelmorfológico,podem serdeterminadasrelaçõessintagmáticaseparadigmáticas.Emumarepresentaçãográfica, costuma-secolocarosintagmacomoumeixohorizontaleoparadigmacomoumeixo vertical.Assim,nafraseJoãoamaTeresaenapalavraamaremos,háumeixohorizontal sobreoqualsedispõemoselementoslingüísticoscombinadosemumsintagma,eháei- xosverticais,paracadaposiçãodosintagma,sobreo qualsedispõemoselementoslin- güísticosquepodem,pormeioderelaçõesparadigmáticas,ocuparessaposição. Esquematicamente,pode-serepresentarosexemplosassim: Esseexemplomostraquetantoasrelaçõesparadigmáticasquantoassintagmáti- casocorrememtodososníveisdalíngua:o dossons,o dosmorfemas,odaspalavras. Alémdisso,éprecisonotarqueoselementoslingüísticossócontraemessasrelaçõesden- trodonívela quepertencem:sonsrelacionam-separadigmáticae sintagmaticamente comsons;morfemascommorfemas;palavrascompalavras.Porexemplo,nolugarini- cialdapalavramalapoderiamtigurarossonsI, b, I;k,d etc.Esscssonsconstituemum paradigma.Poroutrolado,háregrasmuitoestritasdecomhinlll;Üodossons:porexcm- pio,n:loscpodccomhinarcmportuguêscmposiçfio(m<.vodli(,1Ios"IIIS/...h,ri.A mcs. IlIa('oisaO(,OITl'nonfwl tiosIlIorll'lI1aSl' tiaspalavras. A IInguocomoobjetoda lingüísllccJ 91 EmboraSaussuredefinaasrelaçõesparadigmáticasesintagmáticasbasicamcnll'l'lIl l!'l'moslingüísticos:elaspodemserdeterminadasemoutrossistemasdesignos.011scja,a dl('otomiaparadigmaversussintagmavaleparaoutrassemiologiasalémdaLingilfslica. EmseusElementosdesemiologia,Barthesdiscuteessaaplicaçãodosdoiseixostil' l'l'laçocsemoutrossistemasdesignosalémdalíngua(1992:61-91).Entreeles,Barthcsl'O IlIl'nlaarefeiçãoeo vestuário(1992:67).Paraarefeição,o eixosintagmáticodescreveaSl' qlll'lIciaemqueospratossãoservidos,comoaseqüênciaantepasto+pratosfrios+pralos qlll'ntcs+sobremesa.Os tiposdeantepastos,pratosfrios,pratosquentesesobremcsasqUt' potlcmocuparoslugaresdaseqüênciasintagmáticasãodescritospeloeixoparadigmálil'O, I'lirao vestuário,o eixosintagmáticodescrevea combinaçãodasdiversaspeçasdc rollpa IIsadasporumapessoa(calça,camisa,meiaetc.).Os diversostiposdecalças,camisaele., dl'ntl'cosquaissepodeselecionarum,pertencemaoeixoparadigmático. NossotextonãoterminacomSaussure.Suaspropostasforamcomentadasc til' 'l'nvolvidasporoutroslingüistas.Dentreessesdesenvolvimentos,vamosexporapenasos lonccitosdeduplaarticulaçãodalinguagemedenorma,desenvolvidos,respectivamcnll', porAndréMartineteEugenioCoseriu. Martinete a dupla articulaçãoda linguagem (Mal'tinet,1978:1O-17) MartinetestánamesmatradiçãodepesquisasqueSaussure,poisamboscomparii Ihllllldaconcepçãosistemáticade língua.De suaspropostas,vamostratardaduplaani llllaçfiodalinguagem(Martinet,1978:10-12),já quenelaé discutidaanaturezadosdl' IlIl'nloslingüísticos. Martinetafirmaquealinguageméduplamentearticulada.O quequerdizerisso? '\llIcsdetudo,deve-seentendero queéarticulação.Em latim,apalavraarticulussignill 1.1"parte,subdivisão,membro".Portanto,quandosedizquealínguaéarticuladao qlll' ,I' qucr dizeréqueasunidadeslingüísticassãosuscetíveisdeserdivididas,segmcnladlls, Il'('ortadasemunidadesmenores.ParaMartinet,todoenunciadoda línguaarticulasl'1'111 dOIsplanos.No primeiro,articulam-seasunidadesdotadasdesentido.A menortll'SS/lS1IIIltladcséomorfema(chamadomonemapelolingüistafrancês).A fraseOs lohos{/Iulll \'11/11podesersegmentadanosseguintesmorfemas:o,artigodefinido;os,morfemadl' phl 1111,loh-radicalquesignifica"grandemamíferocarnívorodafamíliadoscanídeos";o, IIlo/fL'mademasculino;os,morfemadeplural;ando,radicalquesignifica"darpassos,l'a IIlIlIhal''';-a, morfemaqueindicaqueo verbopertenceàprimeiraconjugação;-I'a,mo/"fL' 11111IIlodo-temporalqueindicao pretéritoimperfeitodo indicativo;-m,morfemalIlíllll'l'O l"'ssoalque indicaa 3! pessoado plural.Essaé a primeiraarticulaçãoda IinglHIgl'lI1. ~~dll,asunidadessãodotadasdematériafônicae desentido,ou seja,sfiocompostasdc' Wllrlkadoc designificante.Portanto,nesseplano,o enunciadopodcscr rccortadol'm IIllIdatlcsmcnorcsdotadasdesentido,ouseja,morfemas,palavras,sintagmas(comhilla L()('SdL'palavras).CadaumadcssasunidadespodesersubstituídaporoutranoL'ixopaf'll dl~m(\tiL'o011podccomhinar-sccomolltrasnoeixosintagmático. Cadll morrcm/lpodc,porSCIItllrno,artÍl'ular-sl',dividir,sL:,L'/IIIInidlldL's/l1l'110n'S dl"pmvidasdI'sl'lItido.EssasI1l1idlldl~Ssiloos fOIll'I1I11S.() morfL'IIHl/II/Jpodc'artkllllll SI' 1111\1(lIIl'I\IIISII/,/o/l'/h/ ESSlIl' 11S(~t/.llIlllllallklllac;I\Odalill~IIII~L'111.Nl'SSl'plllllO as 11111 paradigma , João ama Teresa Raimundo odeia Maria sintagma Joaquim admira Lili assiste I J. PintoFernandes cigarro chocolate paradigma i beb e ria s sintagma part I i I sse I is 92 Introduçãoà lingüística dadestêmapenasvalordistintivo.Assim, quandosesubstituio /lI do morfemalob- por /bl seproduzumoutroradical,bob-,queaparecenapalavrabobo. A duplaarticulaçãodalinguagemé umfatordeeconomialingüística.Compoucas dezenasdefonemas,cujaspossibilidadesdecombinaçãoestãolongedesertodasexplora- dasemcadalíngua,formam-semilharesdeunidadesdeprimeiraarticulação.Comalguns milharesdeunidadesdeprimeiraarticulaçãoforma-seumnúmeroilimitadodeenunciados. Seoshomensproduzissemumsomdiferenteparaexpressarcadaumadesuasexperiências ou paradesignarcadaelementodarealidadeteriamumasobrecarganamemóriae, além disso,o aparelhofonadornãoseriacapazdeemitiraquantidadedesonsdiferentesnecessá- riosparaissonemoouvidoseriacapazdeapreendertodasessasproduçõesfônicas. Coseriue a noçãode norma (Coseriu,1987:13-85) Coseriureformuloua dicotomiasaussureanalíngua versusfala. De acordocom Saussure,a línguaé umsistemadesignoseafÓla é arealizaçãodessesistema,demodo quea línguatemumanaturezasocialeafala, umanaturezaindividual.No entanto,quan- do seprestaatençãonafala, é possíveldeterminarformasderealizaçãoquenãosãode naturezaindividual,mastambémnãosãorealizadasportodosos falantesdeumamesma língua.Os diferentessotaques,o usodevocabuláriosprópriosdealgunsgrupossociais,a presençaounãodeconcordânciasverbaisenominaisetc.caracterizammodosderealiza- çãolingüísticaquenãosãoprópriosnemdeumsó indivíduonemdetodosos falantesde umalíngua,mascaracterizamvarianteslingüísticasdeumamesmalíngua.Comoadico- tomialínguaversusfala definesejaumdomíniosocialcomuma todosos falantes,seja domíniosindividuaisespecíficos,nãoháummododeutilizá-Iaparaumestudodasva- rianteslingüísticas,quenãopertencemnemaessedomíniosocialcomumdetodososfa- lantesdeumamesmalínguanemsãoprópriasdeumsófalante. Paradescreveressasvariantes,Coseriupropõequeadicotomialínguaversusfala sejaredefinidaparasistemaversusnormaversusfÓla,demodoqueasvarianteslingüísti- cassejamdescritasnosdomíniosdanorma.Na tríadepropostaporCoseriu,afala conti- nuada ordemdo individual,maso conceitode línguaé modificado.Ele afirmaque"a língua,nosentidoamplodotermo,nãoé apenassistemafuncional,mastambémrealiza- çãonormal"(1987:54).O sistemafuncionalcoincidecomo conceitode línguadeSaus- sure,noentanto,o queCoseriuchamalínguaéo sistemaarticuladocomsuasnormas,ou seja,comsuasvarianteslingüísticas.Assim,o conceitodelíngua,paraCoseriu,abrange o sistema,queédodomíniodetodososfalantesdeumamesmalíngua,easnormas,que, comovariantesdessesistema,sãododomíniodegrupossociais,regionaisetc. Vamosexemplificarcomo sotaque.A consoanteIrl tem,emportuguêsdoBrasil, pelomenostrêsvariantesquandoocorreemfinaldesílaba.O Irl de"porta",porexemplo, podeserpronunciadocomoospaulistas,comoospaulistanosoucomoos cariocas.As- sim,enquantoo Irl é umaconsoantequepertenceao sistemada línguaportuguesa,as suasvariantesestãonosdomíniosdetrêsnormasregionaisdiferentes:apaulista,apaulis- tanae acarioca. Coseriudeterminaquatrotiposdevarianteslingljfsticas~IISdiUlflPll'IIS,qlll' dizem respeitoàsvarianlesregionaisdo liSOda Ifngllll:asdiastr()1icllS,qlll'111111"1'111"111flsvarilll1 A linguacomoobjotoda lingüística 93 h'sde usodediferentesgrupossociaisde falantes:asdiafásicas,quedizemrespeilo/lS varianlesemsitm1çõesdeusoformalou informaldodiscurso;e asdiaerônieas,quel'OIl 1"I'l'IIell1àsdiferençaslingüísticasque,emumdeterminadogrupo,aparecememdecorren 1111dafaixaetáriadosfalantes.As variantesdiatópicassãogeográficas,asvariantesdill '1'OlIicassãohistóricase asvariantesdiastráticasediafásicas,sociais. Com o conceitodenorma,os estudoslingüísticosfundamumaSociolingUístka. qlll'ohservacomatençãoasrelaçõesentrea línguaeosfatoressociais,geográficose his IlIricosquedeterminamsuarealização. Bibliografia 1I,\lfI III'S. R. EIemel/to.\"de.\"emiologia.SãoPaulo:Cultrix, 1992. I""UNS,R. H. PequeI/ahistóriadalil/güística.Rio deJaneiro:Ao Livro Técnico, 1979. 1111111)111'1',S. II/troductiol/à Ia lecturedeSau.uure.Paris:Payot& Rivages,1997. , \M,\I~A,J. M. ProblemasdelingüÚticadescritiva.12'.ed.,Petrópolis:Vozes,1986. , \IHINI'.,F.Subordil/açÜoe coordel/açÜo.SãoPaulo:Ática, 1988. , '''II~IU,E. Teoriada linguageme lil/güísticageral.2'.ed.,Rio deJaneiro:Presença,1987. 11'IIIIN,J. L. Lil/guageme ideologia.SãoPaulo:Ática, 1988. "" I MSII:V,L. PmleWJmel/o.\"a IIIllll teoriadalil/guagem.SãoPaulo:Perspectiva,1975. j 1111li, V. MO/lemasdoportuguê,L8'.ed.,SãoPaulo:Ática, 1996. I \ IIIN'Ii\INEFábulas.4'. ed.,Rio deJaneiro:Revan,1999. 1111'1s, I:. FUl/damel/to.\"delil/güÚticaCO/llemporâl/ea.SãoPaulo:Cultrix, 1993. I ,li IINFI",A. Elemel/to.\"delil/güísticageral.8'.ed.,SãoPaulo:MartinsFontes,1978. \IISSIIIII'.,F. de.Cur.WJdelil/güísticageral.SãoPaulo:Cultrix, 1969. (>ugestõesde leitura Evidentemente,aprimeirasugestãoéo Cursodelingüísticageral.Háumatraduç/lo do('/lr'\"oemportuguês,publicadapelaeditoraCultrix.Ao longodonossotexto,marl'IIIIIOS I1 pÜginasemque,nessaedição,estãoexpostososconceitosquebuscamosdiscutir, Recomendamostambémaleituradaobradeautordequenãotratamosneslel'lIpl 11110,Louis Hjelmslev.Ele discutee repensaos conceitossaussureanos.A leilurud,' IlfI'hllslevnãoé fácil,mas,sefor feitacomatenção,podeoferecersubsídiosimpOrlUllh's 1"1111qualquerestudantequequeiradedicar-seaosestudosdalinguagem,dentrodoohj,'lo h'III'll'OdelinidoporSaussure.Suasobrastraduzidasparao portuguêssãoO'\"pmlc'M(11I1I' ""1 11tllllalC'oriada linguageme EnsaiosIil1giiístico'\",ambasdaeditoraPerspectiva, Paraumestudodasrelaçõesentrelínguae discurso,recomendamoso livro I,;" 1/1/'1./1'11/I' idl'olo!?ia,deJoséLuiz Fiorin,daeditoraÁtica.Nele,o autor,alémdedisl'Uln I ll'hlÇIIL'Scntrelinguageme ideologianosdomíniosdadimensãodiscursivada lin~lIu 11\'111fUI umaamílisedoqueésistemáticoedoqueédiscursivonosdomíniosdaIIII~IIII, (Joslarfamosde recomendar,ainda,o Dicio"ário dl' Iitl!?ü{,I'lim,organizado1'01 It1111I)uhoisl'la/li.daediloraCultrix.eoDicionárioetlddopédicoda'\"dh,1'ia,\"dali" 1J/l1I~('II/,dt.TzvetanTodoroveOswaldDucrot,daeditoraPcrspectiva.Qualqlll'"dt"lvídll. ,.111d,' Il'nninolo~iu.sl'jadeeampodapcsquisalingUística,podeSl'rrl:solvidu,l'llI 1'11111', . 1I1I11I111I1l'Ollsultaa l~ssasduas obms,
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