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1. Por que o Antigo Testamento?
Por que estudar o Antigo Testamento? Há necessidade de se estudar o Antigo quando o Novo já está aí? E se o Novo chegou, existem motivos para se voltar ao Antigo?
Não são poucas as vezes em que as pessoas formulam tais perguntas. As respostas talvez fiquem claras se prestarmos atenção para o que o próprio Jesus considerou ser o Antigo Testamento. Pelo estudo dos evangelhos ficamos sabendo que Jesus realmente tinha o Antigo Testamento em alta consideração ou, mais precisamente, o considerava como Palavra de Deus. Para Ele o Primeiro Testamento, como também chamamos, era Palavra de Deus. O diálogo de Jesus com os dois discípulos na estrada de Emaús, depois da Sua ressurreição, é bastante revelador.
No relato de Lucas (24.13-31) se percebe claramente que aqueles dois discípulos não haviam acolhido plenamente o testemunho das mulheres que afirmavam que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus diz: “Ó néscios e tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram!” (v. 25). E passou a lhes mostrar, fundamentado nas Escrituras do Antigo Testamento, como tudo já estava previsto. E Lucas continua dizendo: “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras” (v. 27). Note a expressão: “.em todas as Escrituras”. Jesus fundamentou o Seu argumento no livro conhecido como “as Escrituras” e bem assim como “Moisés e os profetas”. Esta última expressão é um designativo do Antigo Testamento encontrado com frequência nos manuscritos do mar Morto (ou manuscritos de Cumrã) e também no Novo Testamento.
A parábola de Jesus sobre o rico e Lázaro me parece que fala ainda mais alto com relação a este aspecto. A ênfase desta parábola está no fato de que precisamos dar crédito à Palavra de Deus. O texto diz que o homem rico foi condenado ao tormento eterno do qual não havia escapatória nem alívio. Por outro lado, Lázaro, o mendigo, se encontrava em um lugar de bênçãos eternas. O homem rico suplicou a Abraão para que este enviasse Lázaro à terra para alertar os seus cinco irmãos. Jesus cita a resposta de Abraão: “Eles têm Moisés e os profetas”, ou seja, o Antigo Testamento. Uma vez mais o homem condenado implora que seus irmãos recebam um testemunho espetacular, miraculoso. Abraão responde: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (v. 31).
Observe a força e a pertinência deste argumento de Jesus. O testemunho do Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo supostamente vindo do além. As tradições dos judeus daquele tempo haviam deturpado a mensagem bíblica. Isso fica atestado no fato de que nem a ressurreição de Lázaro ou do próprio Jesus foram suficientes para convencer os oponentes. As palavras de Jesus são claras: a Lei e os Profetas são testemunhos eficazes da salvação.
Em outra ocasião, Jesus fala algo similar. Ele diz: “Porque, se, de fato, cresses em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras? ”(Jo 5.46-47). Nessa passagem, por um lado Jesus está se referindo a Moisés como autor do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) e, por outro, está confirmando que tais escritos falam a respeito Dele e precisam ser cridos. Em outras palavras, duvidar do Antigo Testamento é duvidar das palavras de Jesus. Se cremos em Jesus – e por certo cremos –, então devemos também crer no Antigo Testamento.
Seguidamente, alguns críticos liberais usam a passagem de Mateus 5.17 para afirmar que na sequência Jesus contradiz as Sagradas Escrituras. O versículo em que baseiam seu argumento é este quando Jesus fala: “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (v. 43). Na verdade, o que Jesus está dizendo é: “Ouvistes o que foi dito” (e não “o que está escrito”): “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. O termo dito tem a ver com “tradição”, “cultura”, “costume.” É diferente do esta escrito. A expressão “foi dito” é uma referência que Jesus faz aos anciãos, escribas, fariseus; por outro lado, a expressão “está escrito” tem a ver com Deus e Sua Palavra – o Antigo Testamento. Apenas a primeira parte dessa citação (Lv 19.18) está no Antigo Testamento; o trecho seguinte, não. O que Jesus faz é contradizer o que os fariseus acrescentaram. Jesus critica e condena os acréscimos, as tradições impostas, pois estas não fazem parte da Escritura. O que é Escritura ou Palavra de Deus é o que consta no Antigo Testamento.
O cenário do Antigo Testamento
A narrativa bíblica do Antigo Testamento se desenrola numa área geográfica bastante ampla no assim chamado Antigo Oriente Próximo (AOP). As regiões ocupadas por nações como a Assíria, Síria, Babilônia, Egito e Moabe, por exemplo, são conhecidas, apesar de a extensão do seu território ter sido alterada no transcorrer da história. Além dos territórios, também várias cidades antigas como Jericó, Jerusalém e Damasco podem ser identificadas e continuam a ter importância ainda hoje. O desenvolvimento amplo da história bíblica no seu contexto geográfico serve de cenário para a mensagem central da Escritura Sagrada, que é a salvação da humanidade rebelde na pessoa e na obra do Salvador Jesus Cristo. Embora geografia e história tenham como personagens seres humanos, o protagonista delas não é outro senão o Deus que cria e mantém o universo.
O Crescente Fértil
Da perspectiva geográfica, o Oriente Próximo é o ponto de encontro de três continentes: Ásia, África e Europa. Logo, é o encontro também de três culturas: oriental, africana e ocidental. Ali estava a wsquina do mundo de então. Crises, mudanças e progressos num continente afetavam, direta ou indiretamente, toda a região. É nesta área que a Terra Santa está situada. Crescente Fértil é o nome que se dá àquela faixa de terra verde e fértil em forma de “C”, ou duma Lua Quarto Crescente, que vai da Suméria, junto ao Golfo Pérsico no leste, até o Egito, cobrindo toda a faixa banhada pelo rio Nilo, no oeste.
Mesopotâmia
Ao norte desta região se acha o berço da civilização ocidental. Ali está a
Mesopotâmia, cujo nome significa “[terra”] entre rios”, ou seja, os rios Tigre e o Eufrates. O lado norte da Mesopotâmia era defendido naturalmente por uma cordilheira de montes, chamados Zagros. Na região da Mesopotâmia se desenvolveram várias superpotências, a saber, a Assíria, Síria, Babilônia, Média-Pérsia. A Mesopotâmia foi o lugar originário dos israelitas, pois os patriarcas hebreus viveram na região de Harã, entre o Tigre e o Eufrates. Abraão é chamado de amorreu (Ez 16.3), e, certo tempo depois, Jacó residiu temporariamente entre seus parentes amorreus em Padã-Harã (Gn 28.1-9). Sabemos também que Abraão migrou da cidade de Ur, na Mesopotâmia, para Harã, ao norte, e depois para Canaã, seguindo a revelação e a promessa do Senhor.
	Posteriormente, maior influência tiveram ainda os mesopotâmicos, assírios, babilônios e persas sobre a história dos israelitas quando controlaram a Palestina em determinados momentos de seu governo sobre o Antigo Oriente Próximo. Esse domínio aconteceu quando a Assíria e a Babilônia se tornaram responsáveis pela destruição do reino dividido dos israelitas e pela deportação de milhares deles para a Mesopotâmia. Mais tarde, sob o governo persa, os exilados hebreus tiveram permissão para retornar à sua terra e reconstruir suas cidades e o templo de Jerusalém.
Região siro-palestina
	A costa siro-palestina junto ao mar Mediterrâneo era uma região fértil e bastante cobiçada. Especialmente a Fenícia tinha a vantagem dos portos naturais, algo que não acontecia na parte sul de toda a região, por ser uma costa quase reta na direção norte-sul. Isso propiciou um amplo comércio marítimo centrado na região fenícia, especialmente através dos seus portos: Tiro, Sidom e Biblos. Os fenícios ocupavam a costa norte da Palestina, de Aco a Ugarite, e negociavam por toda a costa mediterrânea durantequase dois milênios (cf. Ez 27).
	
Egito
O Egito ficava no extremo ocidental do Crescente Fértil, a noroeste da Palestina. Atrelado ao Egito está o seu rio, o Nilo. Sem o Nilo, o Egito não poderia existir. Historiadores antigos já diziam que o Egito é um presente do Nilo. Pela importância que tinha para os egípcios, estes consideram o rio como um deus porque toda a vida dependia das correntes contínuas do seu grande leito. O Egito Antigo era dividido em reino do Alto Egito, ao longo da estreita faixa do vale do rio ao sul, e o reino do Baixo Egito, a área do delta ao norte. As cheias previsíveis do rio e as barreiras naturais de montanhas e deserto na fronteiras oriental e ocidental tornaram o Egito uma civilização estática. Sem ser ameaçado, por milênios o Egito desenvolveu uma economia agrícola invejável, uma estrutura governamental estável e uma cultura própria e duradoura.
Palestina
No centro do Crescente Fértil está a Palestina. A região da Palestina recebe
este nome por causa dos filisteus (pelishtim), que se instalaram ao longo da
costa do Mediterrâneo de Jope a Gaza ao redor de 1200 a.C. Antes da chegada dos filisteus, a região se chamava Canaã. Esse termo significava “terra púrpura” e, possivelmente, se originou da tintura produzida por um tipo de molusco encontrado em abundância ao longo da costa. No século V a.C., o historiador grego Heródoto referiu-se à área como “Síria Filisteia”. Mas este nome não aparece no Antigo Testamento, que prefere “terra de Canaã”, em função de seus principais habitantes, os cananeus. No Antigo Testamento ela é chamada “Israel” ou “terra de Israel” (1 Sm 13.19). Já o nome Terra Santa (Zc 2.12) se tornou popular na Idade Média, especialmente em razão das Cruzadas.
 A Palestina se acha rodeada ao norte pela Mesopotâmia; ao sul pelo Egito; a oeste pelo mar Mediterrâneo, que no Antigo Testamento é também chamado de “Grande Mar”; ao leste está a região desértica e inóspita da Arábia. Todas estas regiões, umas mais, outras menos, estão intimamente ligadas ao texto bíblico.
A terra da Palestina se divide claramente em quatro regiões longitudinais, ou seja, na direção norte-sul. São elas: a planície costeira, a cordilheira central, a depressão jordânica e o planalto da Transjordânia (cf. Dt 1.6-8).
Planície costeira
A planície costeira se estende a distâncias de 15 a 20km ao sul da Palestina. É uma faixa fértil de terra porque recebe chuvas frequentes vindas do mar Mediterrâneo. Para o povo de Israel no Antigo Testamento, a planície costeira nunca teve importância maior porque não tinham fácil acesso a ela. Os fenícios a controlavam ao norte; os filisteus, a planície sul; 
Cordilheira central
Esta, sim, era uma região importante para o povo de Israel no Antigo Testamento, quem sabe, a mais importante. Por ser uma região montanhosa e, por isso mesmo, oferecer defesa natural, a maioria das cidades israelitas foi construída ali. O terreno montanhoso forma a espinha dorsal da Palestina, geralmente dividida em três partes principais: Galileia, Samaria e Judá. As elevações atingem até os 1.000m, e o bom índice pluviométrico é próprio para o cultivo de grãos, vinhedos, pomares e olivais.
Começando ao norte, os principais pontos da Galileia incluem o monte Tabor (Jz 4.6,12) e o vale de Jezreel. Na área de Samaria, o grande destaque era a cidade de Siquém, situada entre os montes Ebal e Gerizim. A principal cidade era, claro, Jerusalém, que se situava no cruzamento das rotas comerciais de Judá. Mais tarde, durante a época da monarquia no reino de Judá, a cidade fortificada de Laquis se tornou a segunda cidade mais importante.
Depressão jordânica
O vale do rio Jordão é uma grande depressão geológica que inicia na região da Síria, ao norte as montanhas do Líbano, e se estende para o sul até o golfo de Ácaba e o mar Vermelho. Este vale determina a fronteira oriental da Palestina. O rio Jordão tem suas fontes nas encostas do monte Hermom e é formado por três pequenos ribeiros. O nome “Jordão” vem do hebraico “Yarden”, que tem sua origem no verbo yarad, que significa “descer”. “Jordão”, portanto, é “aquele que desce”. E o rio faz jus a seu nome. O Jordão desce do Hermom a mais ou menos 500m, flui para o pântano de Hulê e rapidamente cai para 300m, desaguando no mar da Galileia. Este lago de água doce fica a cerca de 200m abaixo do mar Mediterrâneo e é cercado por colinas.
Planalto da Transjordânia
A leste da depressão jordânica a terra se eleva abruptamente, formando um planalto que se estende até o deserto arábico. Boa parte da região possui alguns minérios e é adequada à agricultura e ao pastoreio. Quatro grandes uadis, ou ribeiros, deságuam no rio Jordão desde o planalto: Jarmuque, Jaboque, Arnom e Zerede. O planalto pode ser dividido em três platôs principais: Seir, ao sul; Moabe e Gileade, na Transjordânia central; e o planalto de Basã, ao norte.
2. Estudo do Antigo Testamento
Período da Igreja Pós-neotestamentária
A primeira tentativa para uma análise mais ampla e enfocada sobre a introdução a um livro bíblico provavelmente se encontra em Santo Agostinho, na sua obra escrita em latim A Respeito da Doutrina Crista. Esta obra contém valiosa contribuição sobre o assunto da interpretação do texto bíblico. Nos dois primeiros livros, Agostinho exibe e desenvolve as características da correta interpretação bíblica. Importante também a refutação que faz aos donatistas e seus pontos de vista, dentre os quais a exagerada importância que davam à Septuaginta.
Período da Reforma
O término do período medieval testemunhou profundas transformações até mesmo no estudo do Antigo Testamento. A característica fundamental da Reforma é fazer com que a atenção da Igreja da época se volte para as Sagradas Escrituras como fonte única de fé e vida. Essa revolução faz com que a Reforma tenha como mérito também o fato de ter impelido para o primeiro plano a importância do estudo da Escritura a partir das línguas originais. A ênfase no hebraico e no grego fez com que os debates teológicos fossem, por vezes, decididos em análises mais precisas e meticulosas do estudo do texto original. São conhecidas as palavras de Martinho Lutero sobre a importância das línguas bíblicas. Dizia ele: “Não conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as línguas. As línguas [originais] são as bainhas da espada do Espírito. São o cofre no qual se guarda essa preciosidade...”.
Nesta ênfase, não muito distante de Lutero, está Calvino. Ambos estudaram a língua hebraica com grandes professores e sem dúvida muito fizeram para encorajar outros ao seu estudo. Em razão disso, as obras sobre Introdução ao Antigo Testamento, que se originaram nesse período e pouco depois, revelaram profundo interesse na questão do texto. É consenso entre os estudiosos que a Reforma foi responsável por um verdadeiro e sensível progresso no estudo científico do Antigo Testamento.
Confiabilidade do Antigo Testamento
Nos dias de hoje, há fundamentalmente duas escolas ou tendências de pensamento sobre a confiabilidade histórica do Pentateuco ou do Antigo Testamento em geral. A primeira, normalmente denominada conservadora, entende que o Antigo Testamento é resultado da inspiração e da revelação divinas, pressupondo, portanto, a participação sobrenatural de Deus na sua origem. Dessa forma, as narrativas são verdadeiras e possuem precisão histórica e plena confiabilidade. O teólogo conservador recorre também a fontes extrabíblicas e arqueológicas para elucidar o pano de fundo e a história do povo de Deus no Antigo Testamento.
A segunda tendência é que se chama de reconstrucionismo histórico. Os
defensores desta escola assumem uma posição cética frente ao texto bíblico por serem obras de escritores que eles consideram pré-científicos e medievais.
Em geral, para estes os escritos antigos paralelos ao texto bíblico são até mais confiáveis que a narrativa do Antigo Testamento por serem mais antigos e mais próximos dos acontecimentos relatados. Os proponentes desta abordagem empregamgrande gama de metodologias extraídas da crítica histórica e linguística para reconstruir a história de Israel sob a alegação de que os relatos
bíblicos como tais não podem ser interpretados literalmente.
	A questão da confiabilidade histórica das narrativas do Pentateuco e de outras partes do Antigo Testamento depende, pois, dos pressupostos referentes à natureza do texto bíblico. A questão toda não está no texto em si, mas de como o texto pode ser interpretado. Os que defendem a confiabilidade histórica creem na inspiração divina das narrativas bíblicas e defendem a exatidão da história da ação de Deus com o Seu povo do Antigo Testamento. De modo inverso, os que sustentam a posição “reconstrucionista” da história do Antigo Testamento em geral desconsideram a origem e a participação divinas nesse processo. Tais pressupostos explicam sua abordagem crítica do Antigo Testamento como um documento humano apenas e, por isso, falho. Esta visão lhes dá liberdade para reinterpretar e reconstruir a história de Israel a partir de elementos literários, achados arqueológicos e modelos contemporâneos sociopolíticos.
3. A formação do Antigo Testamento
O Antigo Testamento foi escrito em duas línguas. A língua predominante é o hebraico. A outra língua, prima do hebraico e posterior, é o aramaico, que gradualmente assumiu o posto da comunicação como língua viva nos últimos seis séculos antes de Cristo. O hebraico tem muitos elementos paralelos com outras línguas semíticas como o cananítico, ugarítico e o árabe. A língua aramaica era a língua usada no tempo de Jesus, sendo muito parecida com a língua siríaca da Igreja Cristã Pós-neotestamentária.
As línguas semíticas são diferentes das línguas clássicas. Originalmente, o hebraico não possuía vogais. Para facilitar o processo de transmissão escrita, dois sistemas de vogais foram criados, mas apenas um deles foi universalmente aceito e hoje integra o Texto Massorético (TM), o texto das nossas Bíblias em hebraico. A divisão de capítulos foi adicionada a partir da Vulgata no século XIV, e os versículos foram numerados no século XVI.
Os textos mais antigos do Antigo Testamento eram em grego. Fragmentos e livros inteiros eram conhecidos e datam até o século IV. Popularmente, a tradução grega é conhecida como Septuaginta (LXX). Houve,
entretanto, outras versões gregas em datas posteriores. Era necessário traduzir
as Sagradas Escrituras na língua do povo, visto que o hebraico deixara de ser língua viva. O grego era a língua da Diáspora e do comércio no Antigo Oriente Próximo no período final do Antigo Testamento.
	Uma das mais importantes versões do Antigo Testamento para outra língua veio com a tradução para o latim, denominada Vulgata. Foi traduzida por Jerônimo em 405, comissionado pelo papa Dâmaso. No concílio de Trento, em 1546, a Igreja Católica Romana aceitou a Vulgata como sua tradução oficial. Lutero viu erros na Vulgata, o que o levou a traduzir toda a Bíblia a partir das línguas originais hebraico e grego. A primeira Bíblia dos cristãos católicos brasileiros foi uma tradução da Vulgata feita para o português.
	A palavra “cânone” não se encontra na Bíblia, embora sua raiz apareça em 1 Reis 14.15, Jó 40.21 e Isaías 42.3. Originalmente, qāneh significava “junco” ou “talo” de papiro. Pelo fato de juncos serem usados como réguas ou instrumentos para medir linhas retas, “cânone” passou a significar “medida”. O termo “cânone” ou “cânon” foi empregado pela primeira vez como expressão teológica referente às Escrituras por Atanásio, bispo de Alexandria (cerca de 367) em carta pascal às igrejas em que descreve o conteúdo do cânone do Novo Testamento. Canonicidade se diz do livro que tem a “medida” para ser incluído no cânone bíblico, ou seja, na lista oficial dos livros que integram as Escrituras, inspirados pelo Espírito Santo. Há teorias erradas sobre as razões por que um livro integra o Cânone do Antigo Testamento. Algumas delas são: 
a. A antiguidade do livro. Um livro é distinguido devido à sua idade. Entretanto, idade não é documento para canonicidade. Assim que foi escrito, o Pentateuco foi considerado canônico. O mesmo aconteceu com outros livros do Antigo Testamento.
b. A língua hebraica como critério para a canonicidade. O argumento seria que, depois que o aramaico passou a ser língua falada na Palestina, qualquer material escrito em hebraico seria considerado canônico. Mas este pensamento não está correto: alguns livros, como 1 Macabeus, Eclesiástico e Tobite, foram originalmente escritos em hebraico e, entretanto, não são canônicos. Além disso, livros como Daniel e Esdras foram escritos em parte em aramaico e fazem parte do cânone.
c. Concordância com a Torá/Pentateuco (norma e padrão último da verdade). Contudo, alguns livros concordam com a Torá, mas não foram aceitos como canônicos, como, p. ex., 2 Macabeus. 
d. Valor ou conteúdo religioso determina a canonicidade (para alguns, a cristocentricidade do livro). Entretanto, canonicidade nada tem a ver com o propósito de um livro. Ademais, quem determina o valor de um livro? Nem todos os livros canônicos falam diretamente sobre Cristo. Por outro lado, há inúmeros livros com orientação evangélica que não integram o cânone. Um livro que proclama o Evangelho pode conter erros e contradizer livros canônicos.
e. A Igreja ou o povo de Deus (tanto no período do Antigo como do Novo Testamento) é a fonte de canonicidade. Uma variante dessa teoria é que a comunidade inspirada é fonte de canonicidade. Entretanto, se a Igreja concede canonicidade, o resultado é uma autocontradição, visto que na história do cânone a Igreja propôs listas diferentes de livros oficiais. 
Na verdade, a fonte de canonicidade de um livro está em Deus. É Ele quem possui a suprema autoridade e o que provém de Deus é infalível. Canonicidade e autoridade estão atreladas à origem de um determinado livro bíblico. Se um livro vem de Deus, ele é canônico. Outra forma de dizer isso é: se um livro é inspirado, ele é canônico. Como podemos ter certeza se um livro tem sua origem em Deus? Se o autor do livro foi inspirado.
Critérios de canonicidade e divisão
O critério mais importante para nós é o testemunho de Jesus e seus discípulos. Eles identificaram como derivando de escritores inspirados – e por isso como autoritativos – tanto livros individuais do cânone como todo o cânone judaico da sua época. Este cânone era aceito pelos judeus que viviam na Palestina no século I, com exceção dos saduceus, que aceitavam apenas a Torá. As evidências apontam para o cânone de Cristo e Seus discípulos como sendo idêntico ao cânone dos judeus contemporâneos a Jesus. O cânone está dividido em três partes, como segue abaixo.
Lei
A Lei, ou Torá, consiste dos cinco primeiros livros da Bíblia. Ela também é chamada de Pentateuco (da palavra grega para “cinco”, penta). Não há dúvida de que estes livros já eram aceitos e normativos no tempo de Esdras e, quem sabe, já antes, no tempo do rei Josias. 
Profetas
Os profetas ou Nebi’im foram os próximos a receber crédito pelo seu uso. Na Bíblia hebraica eles se dividem em dois grupos, a saber, os profetas anteriores, contendo os livros históricos de Josué a 2 Reis, e os profetas posteriores, compreendendo os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores.
Escritos
A terceira divisão na Bíblia hebraica é chamada de Escritos ou Ketubim. Ela compõe-se de todos os demais livros que não constam nas divisões anteriores, ou seja, a poesia, os rolos para festas e acréscimos históricos. Não se pode determinar quando tais livros foram aceitos. Entretanto, por volta de 185 a.C., Ben Siraque, no Prefácio do seu livro não canônico Eclesiastico, fala em “Lei, os profetas e outros livros”, dando indicação de que o cânone estava fechado.
Divisão tripartite do Antigo Testamento:
Torá 
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Profetas
Anteriores
Josué
Juízes
Samuel
Reis
Posteriores
Isaías
Jeremias
Ezequiel
Livro dos Doze:
Oseias, Naum,
Joel, Habacuque,Amós, Sofonias,
Obadias, Ageu,
Jonas, Zacarias,
Miqueias e Malaquias
Escritos 
Salmos
Jó
Provérbios
Rute
Cântico dos Cânticos
Eclesiastes
Lamentações
Ester
Daniel
Esdras
Neemias
Crônicas
Apócrifos
O termo “apócrifo” significa “escondido”. Aplicado à coleção de livros judaicos datados do período intertestamental, o termo possui duas conotações:
1) livros “escondidos” por sua natureza esotérica;
2) livros “escondidos” por merecimento, ou seja, não eram reconhecidos como canônicos.
Os apócrifos se constituem numa coleção de 14 livros compostos por autores judeus entre 200 e 100 a.C. Foram escritos originalmente em grego, hebraico e aramaico e preservados depois em várias outras línguas. Os apócrifos contêm cinco gêneros literários diferentes, a saber, religioso, didático, histórico, profético e literatura lendária.
A Reforma retomou o debate sobre os apócrifos. Ao traduzir a Bíblia a partir do hebraico, os Reformadores descobriram que os apócrifos não faziam parte do seu cânone. Entenderam que tal coleção de livros não deveria ser considerada equivalente em autoridade bíblica com os que integravam o cânone. Os apócrifos são fonte útil de informação para se entender o período intertestamental. Não há nada teologicamente importante nos apócrifos que não fique duplicado na literatura canônica. Ao contrário, mesmo o sóbrio relato histórico de 1 Macabeus está permeado de inúmeros erros e anacronismos.
A Igreja Católica Romana reagiu aos Reformadores no Concílio de rento
(1545-1564), aceitando os livros como se encontram na Vulgata. Hoje a oleção
geralmente é chamada deuterocanônica e foi consolidada pelo Concílio Vaticano de 1870. Conceitos doutrinários da Igreja Católica Romana como purgatório, mérito por boas obras e prática de oração pelos mortos são extraídos dos livros deuterocanônicos.
Para exemplificar, o livro de Enoque, como outros livros apócrifos que carregam o nome de personagens bíblicos famosos (Abraão, Moisés, Salomão, etc.), tem sido empregado por movimentos esotéricos como referência, entre outras coisas, a episódios ocorridos em Gênesis e que supostamente estariam incompletos. Uma tentativa de explicar a origem dos “Nephilim”, gigantes na terra, estaria na ordem do dia neste livro.

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