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05/12/13 online.unip.br/Imprimir/ImprimirConteudo online.unip.br/Imprimir/ImprimirConteudo 1/2 Nenhum acontecimento nasce notícia. Notícia é uma construção empreendida por um complexo sistema empresarial e social. Um fato vira notícia quando os jornais fazem referência a ele em seus noticiários. Os eventos acontecem no mundo, e os meios de comunicação de massa os hierarquizam, definindo o que é ou não notícia, o que recebe mais ou menos destaque nos noticiários. Há acontecimentos que em um determinado contexto viram notícias, em outros não. Por exemplo: um caso de bigamia no Brasil poderia facilmente virar assunto de noticiário, o que dificilmente aconteceria em um país em que a prática da bigamia é aceita legal e culturalmente. Existem também critérios de ordem ideológica. Há vários bairros periféricos de grandes cidades que cotidianamente sofrem com falta d´água e isso não desperta atenção dos grandes órgãos de imprensa. Mas aí um dia uma região mais nobre fica sem fornecimento de água... e isso vira notícia. Assim a atividade básica do jornalismo consiste na seleção e classificação de informações. Um jornal começa a ser produzido a partir de um planejamento em que são escolhidos os assuntos que deverão fazer parte da edição, esse momento em que se monta a PAUTA. Nas redações é comum que se realizem reuniões de pauta, quando se decide quais os acontecimentos que deverão receber apuração pelo jornal e poderão virar matérias. Definido isso, os assuntos pautados são distribuídos à equipe de repórteres. Cada repórter, dupla ou grupo de reportagem deve então começar o estágio seguinte do trabalho: a APURAÇÃO. Aí deve sair a campo para pesquisar e investigar o tema, para isso precisa consultar variadas FONTES. Feito este trabalho, o repórter deve então dar corpo à reportagem a partir das informações recolhidas junto às fontes. Depois a matéria passa pelo editor responsável que irá avaliar se está adequado ao perfil do jornal, a qualidade do texto/imagens e se o trabalho de apuração foi bem realizado. Em alguns veículos de comunicação há a função do “checador” que faz a checagem das informações usadas nas matérias antes de serem publicadas. O editor também decide quais as matérias irão fazer parte da edição – isso define em função do espaço/tempo que tem, da qualidade e/ou impacto dos assuntos. Uma pauta que nasce tímida, com previsão de se tornar um pequeno texto, pode no processo de apuração revelar detalhes e desdobramentos interessantes e com isso ganhar mais espaço. Da mesma forma, outra pauta considerada inicialmente de grande destaque pode não obter material muito bom na apuração e assim perder espaço na edição, podendo até mesmo ser cancelada. Então, em termos gerais, o caminho da informação segue o seguinte esquema antes de ser publicada e distribuída como notícia: PAUTA > APURAÇÃO > EDIÇÃO Nesse processo, as notícias são constituídas e várias redes internas das redações e do jornalismo atuam aí. As empresas jornalísticas possuem redes de informação organizadas conforme critérios de importância. Um exemplo é a variante territorial: os grandes jornais raramente chegam à cobertura de assuntos do âmbito de interesse comunitário. Algumas das redes que influenciam no processo de constituição das notícias, segundo Juvenal Zanchetta Jr. (Imprensa escrita e telejornal. São Paulo: Unesp, 2004): - Geopolítica da notícia: quanto mais distante dos centros de decisão, menor a probabilidade do evento se transformar em notícia. - Agências de notícia: grande parte da informação que circula pelos meios jornalísticos no mundo é advinda das grandes agências internacionais. Isso acarreta uma grande padronização dos conteúdos, bem como das versões e pontos de vista. - Rede de informação externa: um repertório de fontes muito conhecidas e acionadas fornece grande parte das informações aos jornais. A burocratização da profissão e o pouco tempo para a apuração faz com que não se busque fontes originais e versões realmente variadas nas coberturas. O oficialismo (uso excessivo de versões oficiais) é ainda um fantasma que ronda o jornalismo dos grandes meios de comunicação – não falamos em oficialismo quando se utiliza apenas versões fornecidas pelos poderes públicos, mas também por empresas e grupos privadas, partidos políticos e outras instituições. Vale notar as opiniões de especialistas que os veículos de comunicação fazem uso. É muito comum que um grupo de alguns poucos comentaristas sejam constantemente acionados para 05/12/13 online.unip.br/Imprimir/ImprimirConteudo online.unip.br/Imprimir/ImprimirConteudo 2/2 comentar os mais variados temas. Com isso, têm-se sempre os mesmos pontos de vista (acompanhe atentamente o noticiário econômico dos grandes jornais e será fácil notar como os especialistas convidados sempre comungam de uma mesma visão sobre a economia), não há de fato a apresentação de abordagens variadas. - Financiamento: a propriedade dos meios de comunicação de massa no Brasil é historicamente concentrada nas mãos de poucos grupos políticos e/ou familiares. As questões econômicas têm um peso considerável na formulação dos noticiários – seja porque os grandes jornais são empresas e respondem aos objetivos administrativos de funcionamento e obtenção de lucro; seja pela forma como angulam os acontecimentos em função dos interesses políticos e econômicos dos grupos que controlam os meios de comunicação de massa. - Opinião pública: a “opinião pública” é uma expressão muito ambígua, de difícil identificação e definição. Mas os jornais normalmente mantêm algum acompanhamento sobre as opiniões dos leitores, principalmente temendo perder credibilidade. Por meio de pesquisas, das correspondências de leitores e da atuação de ombusdman (espécie de ouvidor dos jornais), os meios de comunicação aferem (pelo menos, acreditam nisso) o que o público pensa e isso interfere na montagem de pautas e formas de apuração. - Cultura jornalística: nas redações é comum que existam manuais de condutas internas. Normalmente trabalham com idéias genéricas e interpretações flexíveis. Além disso, há certos padrões de comportamento que são disseminados na “classe” jornalística e que são interiorizados pelos profissionais – que reproduzem essas condutas boa parte das vezes sem refletir sobre elas. Um exemplo que pode ser usado aqui é a busca contínua de muitos repórteres e editores por “denúncias”, que ganham tratamento sensacionalista, configurando o chamado “denuncismo”. Muitos jornalistas infelizmente acreditam que sua missão é denunciar e com isso perdem de vista um trabalho mais apurado de informar. Exercício de Fixação: É possível afirmar que todo acontecimento nasce notícia? A- Sim, porque acontecimento e notícia são sinônimos. B- Sim, porque a notícia existe independentemente da imprensa. C- Sim, porque todos os acontecimentos têm vocação para ser notícia. D- Não, porque nem todo o acontecimento tem o entretenimento como apelo jornalístico. E- Não, porque notícia é uma construção realizada por um complexo sistema empresarial e social. Resposta: E Comentário: Nem todo acontecimento nasce como “notícia”, justamente porque é uma construção elaborada segundo padrões sociais e empresariais.
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