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Vestibulares – PRISE – ENEM - Concursos 
 
A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof. Ulisses Vasconcelos 
 
 
Cid. Nova I, WE 9A, nº121, Coqueiro. 
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CAPÍTULO 1 
A DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA 
 
 Os conceitos de Moral e Ética, embora 
sejam diferentes, são com freqüência usados 
como sinônimos. Moral vem do latim mos ou 
moris, que significa “maneira de se comportar 
regulada pelo uso”; daí relacionarmos o termo 
“moral” com “costume”, e de moralis, morale, 
adjetivo referente ao que é “relativo aos 
costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o 
mesmo significado de “caráter”, “costume”. O 
sentido que os antigos gregos atribuíam ao 
homem de bons costumes era o mesmo do homem 
de boa índole, de bom caráter. Por isso, os termos 
Moral e Ética se confundem, mas guardam entre 
si certas diferenças. 
 Os costumes, porque são anteriores ao 
nosso nascimento e formam o tecido da sociedade 
em que vivemos, são considerados 
inquestionáveis e quase sagrados (as religiões 
tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados 
pelos deuses, na origem dos tempos). Ora, a 
palavra costume se diz, em grego, ethos – donde, 
ética – e, em latim, moris – donde, moral. Em 
outras palavras, ética e moral referem-se ao 
conjunto de costumes tradicionais de uma 30 
sociedade e que, como tais, são considerados 
valores e obrigações para a conduta de seus 
membros. 
 A língua grega possui uma outra palavra 
que precisa ser escrita em português com as 
mesmas letras que a palavra que significa 
costume: ethos. Em grego, existem duas vogais 
para pronunciar e grafar nossa vogal e: uma vogal 
breve, chamada epsilon, e uma vogal longa, 
chamada eta. Ethos, escrita com a vogal longa, 
significa costume; porém, escrita com a vogal 
breve, significa caráter, índole natural, 
temperamento, conjunto das disposições físicas e 
psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido, 
ethos se refere às características pessoais de cada 
um que determina quais virtudes e quais vícios 
cada um é capaz de praticar. Referem-se, 
 
 
 
 
portanto, ao senso moral e à consciência ética 
individuais. 
 Moral é o conjunto das regras ou normas 
de conduta admitidas por uma sociedade ou por 
um grupo de homens em determinada época. 
Assim, o homem moral é aquele que age bem ou 
mal na medida em que acata ou transgride as 
regras do grupo. 
 A Moral, ao mesmo tempo que é o 60 
conjunto de regras que determina como deve ser o 
comportamento dos indivíduos do grupo, é 
também a livre e consciente aceitação das normas. 
Isso significa que o ato só é propriamente moral 
se passar pelo crivo da aceitação pessoal da 
norma. A exterioridade da moral contrapõe-se à 
necessidade da interioridade, da adesão mais 
íntima. 
 Portanto, o homem, ao mesmo tempo que 
é herdeiro, é criador de cultura, e só terá vida 
autenticamente moral se, diante da moral 
constituída, for capaz de propor a moral 
constituinte; aquela que é feita dolorosamente por 
meio das experiências vividas. Mesmo quando 
queremos manter as antigas normas, há situações 
críticas enfrentadas devido à especificidade de 
cada acontecimento. Por isso a cisão também 
pode ocorrer a partir do enredo de cada drama 
pessoal: a singularidade do ato moral nos coloca 
em situações originais em que só o indivíduo livre 
e responsável é capaz de decidir. 
 Ética ou filosofia moral, é a disciplina 
filosófica que se ocupa com a reflexão a respeito 
das noções e princípios que fundamentam a vida 
moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas 
direções, dependendo da concepção de homem 
que se toma como ponto de partida. 
 Assim, à pergunta “o que é o bem e o 
mal”, respondemos diferentemente, caso o 
fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na 90 
vontade de Deus ou em nenhuma ordem exterior à 
própria consciência humana. Podemos perguntar 
ainda: Há uma hierarquia de valores ? Se houver, 
o bem supremo é a felicidade? É o prazer ? É a 
atividade ? É o dever ? 
 Por outro lado, é possível questionar: Os 
valores são essências ? Têm conteúdo 
determinado, universal, válido em todos os 
 
 
 
 
 Vestibulares – PRISE – ENEM - Concursos 
 
A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof. Ulisses Vasconcelos 
 
 
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tempos e lugares ? Ou, ao contrário, são relativos? 
Ou, ainda, haveria possibilidade de superação das 
duas posições contraditórias do universalismo e 
do relativismo ? As respostas a essas e outras 
questões nos darão as diversas concepções de vida 
moral elaboradas pelos filósofos através dos 
tempos. 
 PARA FIXAR 
 MORAL: conjunto dos costumes e juízos 
morais de um indivíduo ou de uma sociedade que 
possui caráter normativo (regras do 
comportamento das pessoas no grupo). Conjunto 
de regras que visa orientar a ação humana, 
submetendo-a ao dever, tendo em vista o bem e o 
mal. Conjunto de normas livre e conscientemente 
aceitas que visam organizar as relações dos 
indivíduos na sociedade. 
 ÉTICA: parte da filosofia que se ocupa com a 
reflexão a respeito das noções e dos princípios 
que fundamentam a vida moral. A ética é uma 
disciplina teórica sobre a prática humana, que é o 
costume ou o comportamento humano. No 
entanto, as reflexões éticas não se restringem 
apenas à busca de conhecimento teórico sobre 
valores humanos, cuja origem e desenvolvimento 
levantam questões de caráter sociológico, 
antropológico, biológico, religioso etc. A ética é 
uma filosofia prática, ou seja, uma reflexão sobre 
a práxis (ação prática) em todos os setores da vida 
humana. 30 
 VALOR: algo possui valor quando não permite 
que permaneçamos indiferentes (a não-indiferença 
é a essência do valor). Frequentemente emitimos 
juízos de valor quando os fatos (juízos de fatos – 
a existência efetiva – que dizem como são as 
coisas, como são e por que são) nos provoca um 
sentimento de atração ou de repulsa (juízos de 
valor – avaliações sobre coisas, pessoas, situações 
que são proferidos na moral, nas artes, na política, 
na religião etc.). Juízos de valor avaliam coisas, 
pessoas, ações, experiências, acontecimentos, 
sentimentos, estados de espírito, intenções e 
decisões como bons ou maus, desejáveis ou 
indesejáveis. Os juízos éticos de valor são 
normativos, isto é, enunciam normas que 
determinam o dever ser de nossos sentimentos, 
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos 
que enunciam obrigações, dever, e avaliam 
intenções e ações segundo o critério do correto e 
do incorreto. Os juízos éticos de valor nos dizem 
o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos 
éticos normativos nos dizem que sentimentos, 
intenções, atos e comportamentos devemos ter ou 
fazer para alcançarmos o bem e a felicidade. 
Enunciam também que atos, sentimentos, 
intenções e comportamentos são condenáveis ou 
incorretos do ponto de vista moral. 
 SENSO OU CONSCIÊNCIA MORAL: 
referem-se a valores éticos (justiça, honradez, 
espírito de sacrifício, integridade, generosidade) e 60 
as decisões que conduzem a ações com 
conseqüências para nós e para os outros. Os 
sentimentos e as ações, nascidos de uma opção 
entre o bem e o mal se referem a algo mais 
profundo e subentendido: nosso desejo de afastar 
a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, 
seja por ficarmos contentes conoscomesmo, seja 
para recebermos a aprovação dos outros. 
 ATO MORAL E ATO IMORAL: o ato moral 
é constituído de dois aspectos: o normativo e o 
fatual. O normativo são as normas ou regras de 
ação e os imperativos que enunciam o dever ser. 
O fatual são os atos humanos enquanto se 
realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do 
normativo regras como: “Cumpra a sua obrigação 
de estudar”; “Não minta”; “Não roube”; “Não 
mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da 
norma na experiência vivida. Os dois pólos são 
distintos, mas inseparáveis. A norma só tem 
sentido se orientada para a prática, e o fatual só 
adquire contorno moral quando se refere à norma. 
O ato efetivo será moral ou imoral, conforme 
esteja de acordo ou não com a norma 
estabelecida. Por exemplo, diante da norma “Não 
minta”, o ato de mentir será considerado imoral. 
O ato só pode ser moral ou imoral se o indivíduo 
introjetou a norma e a tornou sua, livre e 
conscientemente. 
 ATO AMORAL: considera-se amoral o ato 
realizado à margem de qualquer consideração a 90 
respeito das normas. Trata-se da redução ao 
fatual, negando o normativo. O homem “sem 
princípios” quer pautar sua conduta a partir de 
situações do presente e ao sabor das decisões 
momentâneas, sem nenhuma referência a valores. 
É a negação da moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Vestibulares – PRISE – ENEM - Concursos 
 
A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof. Ulisses Vasconcelos 
 
 
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 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR 
 
SENSO MORAL E CONSCIÊNCIA MORAL 
 
 Por Marilena Chaui * 
 
 Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos 
nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo 
que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo 
crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos 
piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça 
(especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome 
e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela 
solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos 
sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral. 
 Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável 
ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, 
covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos 
vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e 
agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem 
nosso senso moral. 
 Em muitas ocasiões, ficamos contente e emocionados 
diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam 
honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo 
quando tudo isso lhe custa sacrifício. Sentimos que há grandeza e 
dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos 
imitá-la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso 
senso moral. 
 Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da 
violência: chacina de seres humanos e animais, linchamentos, 30 
assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com 
freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi 
injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado 
permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos 
mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para 
seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de 
outros. Todos esses sentimentos também manifestam nossos senso 
moral. 
 Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas 
por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim, 
por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está 
viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a 
conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no 
sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz ? Não seria 
preferível deixá-la morrer ? Podemos desligar os aparelhos ? Ou 
não temos o direito de fazê-lo ? Que fazer ? Qual a ação correta ? 
 Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu 
corpo e seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez. 
Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, e tão jovem e 
despreparado quanto ela e que ambos não terão como 
responsabilizar-se plenamente pela gestação, pelo parto e pela 
criação de um filho. Ambos são desorientados. Não sabem se 
poderão contar como o auxílio de suas famílias (se as tiverem). 
 Se ela for apenas estudante, terá que deixar a escola para 
trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da 
criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha, 
sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade onde os 
padrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. 
Receia não contar com os amigos. Ao mesmo tempo, porém, 
deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de 60 
miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer 
um aborto ? Deve fazê-lo ? 
 Um pai de família desempregado, com vários filhos 
pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas 
que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que 
beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar 
os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, 
mesmo sabendo o que será exigido dele ? Ou deve recusá-lo e ver 
os filhos com fome e a mulher morrendo ? 
 Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta 
muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se 
perdidamente e é também correspondido. Ama duas mulheres e 
ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará 
traindo a ambos e a si mesmo ? Deve magoar uma delas e a si 
mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra ? O amor exige 
uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo ? Que sentirão as 
duas mulheres, se ele lhes contar o que se passa ? Ou deverá 
mentir para ambas ? Que fazer ? Se, enquanto está atormentado 
pela indecisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora 
com a outra e, conhecendo uma delas, deverá contar a ela o que 
viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar ? 
 Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e 
esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono 
da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo 
fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da 
criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se 
tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá 
prejuízo ? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de 
receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada 
novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao 90 
homicídio ? Que fazer ? 
 Situações como essas – mais dramáticas ou menos 
dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas 
quanto a decisão a tomar não manifestam nosso senso moral, mas 
põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que 
decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para 
os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as 
conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas 
opções. 
 Todos os exemplos mencionados indicam que o senso 
moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, 
honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a 
sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, 
culpa, remorso, contentamento), que conduzem a ações com 
consequências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos 
valores variem, podemos notar queestão referidos a um valor mais 
profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os 
sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o 
mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais 
profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o 
sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes 
conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros. 
 O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, 
sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal 
e ao desejo de felicidade. Dizem respeito as relações que 
mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte 
de nossa vida intersubjetiva, isto é, de nossas relações com outros 
sujeitos morais. © 
 
 120 
* MARILENA CHAUI. Professora na Universidade de São Paulo (USP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Juízo de fato e Juízo de valor 
 
 Se dissermos, “Está chovendo”, estaremos 
enunciando um acontecimento constatado por nós 
e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, 
falarmos, “A chuva é boa para as plantas” ou “A 
chuva é bela”, estaremos interpretando e 
avaliando o acontecimento; nesse caso, 
proferimos um juízo de valor. 
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as 
coisas são, como são e por que são. Em nossa 
vida cotidiana, mas também na metafísica e nas 
ciências, os juízos de fato estão presentes. 
Diferentemente deles, os juízos de valor, são 
avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são 
proferidos na moral, nas artes, na política, na 
religião. 
 Juízo de valor avaliam coisas, pessoas, 
ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, 
estados de espírito, intenções e decisões como 
bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. 
 Os juízos éticos de valor são também 
normativos, isto é, enunciam normas que 
determinam o dever ser de nossos sentimentos, 
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos 
que enunciam obrigações e avaliam intenções e 
ações segundo o critério do correto e do incorreto. 
 Os juízos éticos de valor nos dizem o que 
são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos 30 
normativos nos dizem que sentimentos, 
intenções, atos e comportamentos devemos ter ou 
fazer para alcançarmos o bem e a felicidade. 
Enunciam também que atos, sentimentos, 
intenções e comportamentos são condenáveis ou 
incorretos do ponto de vista moral. 
 Como se pode observar, senso moral e 
consciência moral são inseparáveis da vida 
cultural, uma vez que esta define para seus 
membros os valores positivos e negativos que 
devem respeitar ou detestar. 
 Qual a origem da diferença entre os dois 
tipos de juízos ? A diferença entre a Natureza e a 
Cultura. A primeira, como vimos, é constituída 
por estruturas e processos necessários que existem 
em si e por si mesmos, independentemente de 
nós: a chuva é um fenômeno meteorológico, cujas 
causas e efeitos necessários podemos constatar e 
explicar. 
 Por sua vez, a Cultura nasce da maneira 
como os seres humanos interpretam-se a si 
mesmos e as suas relações com a Natureza, 
acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, 
alterando-a através do trabalho e da técnica, 
dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para 
as plantas pressupõe a relação cultural dos 
humanos com a Natureza, através da agricultura. 
Considerar a chuva bela pressupõe uma relação 
valorativa dos humanos com a Natureza, 
percebida como objeto de contemplação. 60 
 Frequentemente, não notamos a origem 
cultural dos valores éticos, do senso moral e da 
consciência moral, porque somos educados 
(cultivados) para eles e neles, como se fossem 
naturais ou fáticos, existentes em si e por si 
mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões 
morais através do tempo e sua continuidade de 
geração a geração, as sociedades tendem a 
naturalizá-los. A naturalização da existência 
moral esconde, portanto, o mais importante da 
ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural. 
 
Os valores 
 
 Mas o que são valores ? Embora a 
preocupação com os valores seja tão antiga como 
a humanidade, só no século XIX surge uma 
disciplina específica, a teoria dos valores ou 
Axiologia (do grego axios, “valor”). A Axiologia 
não se ocupa dos seres, mas das relações que se 
estabelecem entre os seres e o sujeito que os 
aprecia. 
 Diante dos seres (sejam eles coisas inertes, 
ou seres vivos, ou idéias etc.) somos mobilizados 
pela afetividade, somos afetados de alguma forma 
por eles, porque nos atraem ou provocam nossas 
repulsa. Portanto, algo possui valor quando não 
permite que permaneçamos indiferentes. É nesse 
sentido que García Morente diz: “Os valores não 
são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é 90 
ser. Quando dizemos de algo que vale, não 
dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é 
indiferente. A não-indiferença constitui esta 
variedade ontológica que contrapõe o valor ao 
ser. A não-indiferença é a essência do valer”1. 
 Os valores são, num primeiro momento, 
herdados por nós. 
 O mundo cultural é um sistema de 
significados já estabelecidos por outros, de tal 
modo que aprendemos desde cedo como nos 
comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, 
como, quando e quanto falar em determinadas 
circunstâncias; como andar, correr, brincar; como 
cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão 
de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme 
 
 
 
 
 Vestibulares – PRISE – ENEM - Concursos 
 
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atendemos ou transgredimos os padrões, os 
comportamentos são avaliados bons ou maus. 
 A partir da valoração, as pessoas nos 
recriminam por não termos seguido as formas da 
boa educação ao não ter cedido lugar à pessoa 
mais velha; ou nos elogiam por sabermos escolher 
as cores mais bonitas para a decoração de um 
ambiente; ou nos admoestam por termos faltado 
com a verdade. Nós próprios nos alegramos ou 
nos arrependemos ou até sentimos remorsos 
dependendo da ação praticada. Isso quer dizer que 
o resultado de nossos atos está sujeito à sanção, 
ou seja, ao elogio ou à reprimenda, à recompensa 
ou à punição, nas mais diversas intensidades, 
desde “aquele” olhar da mãe, a crítica de um 
amigo, a indignação ou até a coerção física (isto é, 
a repressão pelo uso da força). 
 
1 García Morente, M. Fundamentos de filosofia; lições preliminares.p.296. 
 
____________________________________________________________ 
 
 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR 
 
A boa e velha ética 
 
 Por Paulo Ghiraldelli Jr.* 
 
 Durante os dias do julgamento dos acusados da morte de 
Isabela Nardoni, um grupo de pessoas atacou fisicamente o 30 
advogado do casal Nardoni, então responsabilizados pelo 
assassinato da garota. O grupo pôs de lado o “direito de defesa”, 
pertencente aos nossos costumes e vigente em nossa legislação. 
Tudo ocorreu como se quisessem que o advogado abandonasse o 
caso. Ora, se o advogado abandonasse os Nardoni, mediantepressão popular, com este defensor deveria ser entendido ? 
 Caso o advogado largasse os Nardoni, eticamente ele 
teria cometido uma falta grave. Tomada como um todo, nossa 
sociedade espera que um advogado acredite na inocência (ou parte 
dela) do seu cliente e vá até o fim na defesa. Em termos mais 
gerais, nossa idéia básica é que o advogado, mais do que qualquer 
outro cidadão, leve a sério o preceito “todos são inocentes até que 
se prove o contrário”, vigente como valor, regra e lei em nossa 
sociedade. Caso tivesse desistido, moralmente ele também ficaria 
em dívida, ao menos consigo mesmo, pois agiria segundo uma 
qualidade moral pouco louvável entre nós, a covardia. 
 Esse assunto nos conduz à seguinte pergunta: qual a 
diferença entre ética e moral ? 
 Ética diz respeito a costumes, hábitos e valores 
relativamente coletivos, assumidos por indivíduos de um grupo 
social, uma sociedade ou uma nação. No caso, pode-se comentar o 
seguinte: os indivíduos que queriam que nenhum advogado 
defendesse os Nardoni se mostraram hostis ao nosso costume 
social e jogaram pela janela valores caros ao Ocidente. Eles 
estavam em dissonância com o ethos de nossa nação, 
especialmente porque queriam que o próprio advogado também 
atravessasse o comportamento ético. 
 Moral diz respeito a hábitos, costumes e valores 
assumidos por indivíduos de um grupo social, uma sociedade ou 
uma nação; todavia, o comportamento desenvolvido por tal 60 
assunção está diretamente relacionado à psique de cada um e, 
também, à sua personalidade e até mesmo ao que chamaríamos de 
suas idiossincrasias (do grego Tidios, “próprio de si” + Sun-
krasis, “mistura”), termo grego que diz respeito à capacidade de 
cada indivíduo de enxergar o universo de uma maneira própria. 
Moral tem a ver com o que o indivíduo faz ou deixa de fazer 
quanto a situações que a sociedade determina como particulares; 
abarca relações de um indivíduo consigo mesmo e com as pessoas 
mais queridas, mais próximas. Caso o advogado dos Nardoni 
tivesse cedido aos agressores e desistido do caso, talvez estes 
mesmos viessem a dizer que ele agiu como um “homem de moral 
fraca”. Ele seria, então, caracterizado como alguém que não 
honrou o nosso mores. 
 Ética e moral não são a mesma coisa. Aliás, suas origens 
etimológicas assim dizem: ética vem do grego ethos e moral 
origina-se do latim mores. Delimitam, respectivamente, 
comportamentos sociais universais e comportamentos sociais 
particulares. Em sociedades ocidentais modernas e liberais, em que 
há um recorte claro e razoavelmente bem definido da esfera 
pública e da esfera particular, a ética cai no primeiro campo e 
moral no segundo. 
 Com isso, não se quer dizer que, em uma sociedade 
moderna, ocidental e liberal como a nossa, que faz recortes 
razoavelmente delimitados entre o que é a esfera pública e o que é 
a esfera privada, o que é do âmbito moral não possa vir a público, 
ou seja, não possa ser exposto a um público. Em várias situações 
notáveis, isto é, em casos polêmicos, o que ocorre é exatamente 
essa transposição do que é privado para o âmbito público. Não 
raro, é justamente nessa hora que percebemos a diferença entre um 
caso e outro, entre situação moral e situação ética. 90 
 O caso de Ronaldinho com os travestis foi um episódio 
moral, não propriamente ético. Que Ronaldinho tenha preferência 
sexual rotineira ou não por travestis é algo da sua psique. É um 
gosto dele, uma idiossincrasia sua, digamos assim. Nesse sentido, 
em nossa sociedade, é algo do âmbito moral. Em nossa sociedade 
– ocidental, moderna e liberal – o gosto sexual tende a ser tomado 
como algo da personalidade de cada um e, portanto, deve pertencer 
ao campo privado. Dessa forma, a moral que, enfim, encontra-se 
na particularidade, adentra uma esfera afinada com a 
particularidade, a esfera da privacidade. O gosto por travestis do 
Ronaldinho diz respeito a ele e tão-somente a ele. Por isso mesmo, 
ele foi para um motel, para o divertimento privado. Quando o caso 
chegou à imprensa, ainda assim ele permaneceu um caso moral. © 
 
 
* Paulo Ghiraldelli Jr.: é filósofo, escritor e professor da UFRRJ. 
 
____________________________________________________________ 
 
 AGORA É COM VOCÊ ! 
Exercícios Propostos 
 
1) Quais os significados dos termos Moral e Ética ? 
2) Estabeleça a diferença fundamental entre os conceitos de 
Moral e Ética. 
3) Por que Ética é filosofia prática ? 
4) Estabeleça a diferença entre ato moral, imoral e amoral. 
5) O que é senso moral e consciência moral ? 
6) Estabeleça a diferença entre juízo de fato e juízo de valor. 
7) O que são valores éticos morais ? Cite exemplos. 120 
 
 
 
 
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8) Leia o texto de Paulo Ghiraldelli Jr e responda: qual a 
diferença entre Ética e Moral levando em consideração as 
esferas pública e privada de nossa sociedade ? 
 
CAPÍTULO 2 
 
A MORAL EM QUESTÃO 
 
 
Ética e Metaética 
 
 Por Paulo Ghiraldelli Jr. 
 
 A investigação da ética remonta aos 
primórdios da atividade filosófica. Sócrates se 
caracterizou por fazer perguntas ético-morais. 
Todavia, foi Platão quem inventou a discussão 
ética, o que denominamos hoje de metaética. 
Enquanto campo de estudo e investigação, a ética 
se responsabiliza pela discussão das normas e 
regras de conduta e, portanto, tem como objeto as 
morais vigentes. A metaética, por sua vez, é um 
discurso de segunda ordem que se põe 
filosoficamente para validar ou não preceitos 
ético-morais vigentes. A metaética diz respeito a 
fundamentos e/ou justificativas da moral. 
 Em termos acadêmicos atuais, as posições 
metaéticas formam três grandes guarda-chuvas: o 
naturalismo, o relativismo e o emotivismo. No 
âmbito propriamente ético, a tendência é dividir a 30 
normatividade a partir de éticas do dever e éticas 
consequencialistas. A ética judaico-cristã e a 
Kantiana são do primeiro tipo, o utilitarismo é do 
segundo tipo. 
 
 
Naturalismo 
 
 A noção de “natureza humana” já 
desfrutou de muito mais prestígio do que hoje 
possui entre os filósofos. Todavia, no âmbito do 
senso comum, ainda é utilizada como um porto 
seguro. Uma boa parte das pessoas se tranqüiliza 
quando, diante do relato de uma situação vivida 
por outros ou por si mesma, a avaliação moral 
recebida vem junto à frase “ah, isso é normal, é 
próprio da natureza”. O que é um fato que pode 
ser classificado como “da natureza humana” 
serve, então, de fundamento ético para o 
comportamento moral – por mais esquisito que 
este possa parecer em um primeiro momento. 
 A ideia básica nesse caso está lá no século 
XVII, especialmente na distinção entre fato e 
valor estabelecida por David Hume (1711-
1776). 
 
“A parede da sala é branca” é uma frase factual, 
enquanto que “A parede da sala é horrível” é uma 
frase valorativa. Sendo um fato da natureza 
humana pode, então, ser tido como normal e 60 
indicado como o que deve ser aceito – afinal, 
quem estaria autorizado a mudar a natureza 
humana ? 
 
 
 
David Hume. Filósofo e historiador escocês (1711-1776), considerado 
fundador da escola cética, o chamado Empirismo. 
 
 Um exemplo. Recentemente houve estupro 
de garotas (inclusive com mortes) e a explicação 
dada ao ocorrido foi que elas estavam usando a 
“pulseira do sexo”. 
 A pulseira marcauma atividade de 
paquera – nela está escrito “beijo”, “abraço” etc. 
A garota que a usa estaria, em princípio, 
permitindo uma brincadeira junto aos colegas ou 
pretendentes; se eles arrancam a pulseira estão 
aptos a realizar o que está gravado no objeto. 
Nada além de uma brincadeira pré-adolescente, 
como era o “correio elegante”, o bilhete que 
meninos e meninas trocavam em festas escolares 
há alguns anos passados e que, talvez, ainda 
troquem hoje em dia. 
 Nos Estados em que ocorreu o caso, as 
autoridades se preocuparam antes em proibir o 
uso da “pulseira do sexo” que condenar veemente 
o estupro e nele ficar. Assim, mais uma vez, a 
mulher foi punida duplamente. Nessa situação, 
ocorreu a conhecida posição que imputa culpa à 90 
vítima. No limite, as mulheres que usam um 
adorno, no caso a “pulseira do sexo”, são 
responsabilizadas pelos ataques que vierem a 
sofrer de malfeitores. Elas não deveriam estar 
usando aquilo, pois, como concluíram as 
autoridades de modo completamente irracional, a 
 
 
 
 
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pulseira seria o chamariz para o ataque. Em suma, 
as autoridades que assim pensaram não disseram, 
mas, certamente, estavam com a seguinte diretriz 
na cabeça: “É um fato da natureza humana que o 
homem se sinta excitado por mulheres que 
colocam a pulseira chamando para o sexo”. 
Alguns endossariam até mais: “É um fato da 
natureza humana que homens que são chamados 
para o sexo, uma vez rejeitados, ataquem”. 
 Assim, a valoração moral da situação que 
terminou em estupro e, em alguns casos, em 
morte, é tomada de modo bem menos negativo 
que a princípio poderia parecer. Há um crime e, é 
certo, trata-se de um crime que as autoridades 
adoram chamar de “hediondo”, mas que, no caso, 
cai sob as graças da avaliação moral, pois, afinal, 
a atitude dos criminosos não fugiu do que pode 
ser derivado de um “fato da natureza humana”. 
 Esta posição metaética é base para a 
fundamentação de avaliações morais. O filósofo 
George Moore (1873-1958) fez a melhor crítica 
dessa posição. Essa crítica apareceu como uma 
denúncia ao qual ele chamou de “falácia 
naturalista”. 
 Ele não contestou a existência de uma 
“natureza humana”. Ele foi mais decisivo, pois 
questionou a legitimidade da derivação do “dever 
ser” a partir do “ser”. O que se pode tomar como 
algo que deveria ocorrer (ou não) não é algo que 
legitimamente se aponte a partir do que se mostra 30 
como o que é. Um fato não está autorizado a gerar 
um dever. Um fato dito “da natureza humana” não 
está logicamente autorizado a dizer “o homem 
deveria ou poderia agir de um modo ou de outro”. 
Norma e valor não podem ser obtidos do fato. A 
linha entre norma (ou valor) e fato não traz a 
implicação legítima, traz uma relação que conduz 
a uma falácia (falso raciocínio). Não é difícil ver, 
no caso da “pulseira do sexo”, a falácia em que as 
autoridades dos lugares que proibiram o uso do 
objeto caíram. 
 
Relativismo 
 
 A posição relativista, em uma formulação 
simplificada, diz que todos os enunciados que 
afirmam o certo e o errado não estão sob o crivo 
que deriva de uma autoridade universal e 
absoluta. É claro que uma posição como esta 
precisa ser discutida, pois ela não é o que se pode 
pensar dela inicialmente, uma posição de 
autorrefutação. 
 Pode-se afirmar legitimamente que há 
posições melhores e piores em moral, que somos 
capazes de decidir sob quais não viveríamos de 
modo algum e sob quais poderíamos, ainda que 
descontentes, optar por continuar vivendo. Na 
maioria das vezes, temos argumentação suficiente 
para dizer isso e convencer outros de nossa 
razoabilidade, mesmo que não tenhamos nada de 60 
universal e menos ainda de absoluto para invocar 
em favor de nossa opção. 
 O filósofo britânico Bertrand Russel 
(1872-1970) criticou os pragmatistas americanos 
de sua época, em especial William James e John 
Dewey, acusando-os de relativistas. Ele entendia 
os relativistas de uma maneira um pouco injusta, 
como os que podiam dar guarida a toda e qualquer 
ação ou enunciado. 
 Nas discussões filosóficas sobre o 
relativismo, ele cai na berlinda, em geral, diante 
de Hitler. O genocídio dos judeus é a pedra de 
toque. Há para o relativista um modo de condenar 
o nazismo pelo Holocausto ? Ou o relativista é 
obrigado a confessar que entre a posição dos que 
estiveram no Tribunal de Nuremberg (ocorrido 
após a Segunda Guerra Mundial), acusando os 
nazistas ali julgados, e os próprios nazistas, não 
poderia haver diferença? Segundo alguns 
ultradireitistas, ainda hoje, os promotores de 
Nuremberg não tinham nenhum elemento nas 
mãos além daquele devolvido pelos nazistas a 
cada acusação, a saber, que eles estavam ali sendo 
julgados única e exclusivamente por terem 
perdido a guerra – não eram nem mais e nem 
menos criminosos que qualquer outro participante 
do conflito. 
 A posição relativista é boa quando tem de 
justificar o que parece a uma cultura apenas 
idiossincracia de outra, e que, na verdade, tem lá 90 
seu valor perante um bom contingente de pessoas 
cultas. O relativismo tem menos sorte quando é 
cobrado diante de ter de avaliar genocidas. 
 O relativismo se complica mais, também, 
quando se coloca como base para as avaliações 
ético-morais a respeito de atitudes de grupos que 
colocam seus semelhantes, os mais desprotegidos, 
em situação de sofrer dor ou mesmo de morte. 
Acontecimentos recentes nas tribos brasileiras 
lembram bem isso. Há tribos que enterram vivas 
crianças com algum defeito físico ou mental. Não 
são tão diminutos os grupos de antropólogos ou 
indigenistas que, utilizando o argumento da 
importância do respeito à cultura dos povos, 
defendem tal prática. 
 
 
 
 
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 Mas o relativista sério sabe que o 
relativismo não se presta à legitimação de toda e 
qualquer prática. O relativismo implica em dizer 
que valores, práticas e enunciados não podem ser 
colocados, em princípio, fora do contexto da 
discussão racional por conta de qualquer lei 
“escrita nas estrelas”. Ou seja, tudo merece 
discussão. Até a barbárie merece ser discutida. No 
caso de barbáries horríveis – o Holocausto é a 
pedra de toque aqui –, nós não deixamos de 
discuti-la. Aliás, no Tribunal de Nuremberg foi 
dado aos nazistas o direito de defesa. Em 
determinado momento do julgamento, eles 
chegaram a levar vantagem diante da opinião 
pública. Só quando os filmes que eles próprios 
fizeram da morte de judeus chegaram a ser 
encontrados e exibidos durante o período de 
julgamento, para todos que formavam ali o júri, é 
que o promotor efetivamente ganhou força no 
caso. Muitos que viram as cenas não precisaram 
evocar nenhum princípio universal para ter 
argumentos contra eles. Aliás, depois da Segunda 
Guerra Mundial se elaborou uma nova Carta de 
defesa dos Direitos do Homem exatamente para 
se ter um parâmetro para uma futura 
jurisprudência, o que foi tomado pordecisão 
histórica e, portanto, sem qualquer legitimidade 
outra que não a do desejo dos que a elaboraram de 
não ver a barbárie repetida sem que se pudesse 
dizer: “Isso nós não queremos”. 30 
 
 
 
 
Tribunal de Nuremberg. Ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, em 
Nuremberg, na Alemanha, julgou os nazistas que cometeram crimes 
durante a guerra, desde irregularidades contra o direito internacional até 
assassinatos em massa. De 1945 a 1949, 199 pessoas foram julgadas, sendo 
que, desse total, 21 eram líderes nazistas. Um dos réus mais famosos foi o 
braço direito de Adolf Hitler, Hermann Goering, que foi condenado à 
morte. No entanto, antes de a pena ser aplicada, ele cometeu suicídio na 
prisão. 
 
 
Emotivismo 
 
 O filósofo britânico Alfred J. Ayer, da 
linha dos positivistas lógicos, foi um dos 
principais defensores do emotivismo. Ele afirmou 
que todo e qualquer enunciado ético é sem 
sentido, não possui nenhum literalidade – é 
alguma coisa que expressa emoção e não fatos. 
Expressões de emoção, mesmo que sejam 
sentenças, foram tomadas por Ayer como 
equivalentes a grunhidos ou sorrisos e, por isso 
mesmo, não poderiam receber os adjetivos “falso” 
ou “verdadeiro”. Não estando no campo do que é 
literal, não pertenceriam ao âmbito do que pode 
ser verificado. 
 Ora, sendo assim, mesmo que se coloque 60 
um enunciado do tipo “a tortura é algo errado” em 
um documento solene como, por exemplo, a 
citada Carta da Defesa dos Direitos do Homem, 
há de se ter em mente que se trata de um 
enunciado não verificável. “A tortura é algo 
errado” equivale a um grito de emoção, algo 
como um “buuu” ou “iahhhaa”. 
 Os filósofos norte-americano e britânicos 
que, entre toda a comunidade filosófica, são os 
mais familiarizados com essa doutrina, a 
denominaram de teoria ética do Boo/Hooray, 
lembrando que se alguém está dizendo algo a 
respeito de sentimentos está, efetivamente, 
grunhindo de modo a incentivar ou reprovar algo, 
com o único objetivo de mobilizar ou 
desmobilizar ações e conversas. 
 Poder-se-ia aqui, no caso, também chamar 
Hitler ? Sim, claro ! Mas novamente há saídas. 
Dizer “buuu” para alguém pode não ser pouca 
coisa. Um grito de reprovação é um grito de 
reprovação e, uma vez no ar, identifica seu 
emissor. Ora, seu emissor pode, por si próprio, ter 
status moral suficiente para que outros digam 
“ele é uma pessoa razoável, não está aplaudindo 
tal enunciado e, então, vou considerar o que ele 
tem a argumentar sobre isso”. Podemos conversar 
horas, nesse caso, sem encontrarmos leis “escritas 
nas estrelas” para justificar o “buuu”, mas, na 
discussão, pode-se encontrar uma série de bons 
argumentos, sentimentais ou pragmáticos, que 90 
indicam muito bem que não é razoável e nada 
bom ficar do lado do vaiado. Por exemplo, talvez 
possamos mesmo convencer um nazista, que não 
seja o próprio Hitler, que a democracia é melhor 
para a família dele e de seus filhos que o regime 
de força que ele adotou. 
 
 
 
 
 
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Ética do Dever 
 
 Um religioso guiado pelos Mandamentos 
é, antes de tudo, uma pessoa que segue um código 
ético-moral por dever. O nome já diz tudo: não se 
trata de sugestões para a vida e, sim, de ordens – 
mandamentos. O deus judaico-cristão não pede, 
ele manda. Ele pode mandar “por justiça”, como 
no Velho Testamento, ou por amor, como no 
Novo, mas que ele manda, ele manda. 
 Sua autoridade para mandar vem, no 
Velho Testamento, dele próprio – ele falou o que 
era o correto para o povo judeu e, enfim, depois, 
por meio deste, para o homem em geral. No Novo 
Testamento, Deus se transformou em pai e, então, 
reordenou alguns princípios, repostos pelo 
discurso de Jesus. Nesse, ele falou o que era o 
correto para os judeus e sua autoridade passou a 
vir da ideia de que “o amor é a única lei”. Nos 
dois casos, o código moral a ser seguido é, antes 
de tudo, um conjunto normativo que seguimos 
porque devemos seguir. 
 Com os modernos, em especial com o 
filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), 
uma norma deveria ganhar valor moral caso 
pudesse ser identificada como um imperativo – o 
chamado “imperativo categórico”, assim posto: 
“Atue somente de acordo com aquela máxima 
que pode ser tomada como que deveria ser 
uma lei universal, ao mesmo tempo que se está 30 
agindo”. Essa lei depende de um “fato da razão”: 
a liberdade. O homem não está preso a agir assim, 
ele age porque sua condição é a de ser livre. Ele 
se determina (autodetermina) a agir assim, 
segundo o imperativo, para poder agir 
moralmente, e isso não por sentimento (interesse 
ou inclinação) e, sim, por entender que a regra do 
imperativo categórico, uma vez não seguida, 
resultaria em uma contradição que gritaria ao seu 
ouvido racional. Que mundo pouco confortável 
(racionalmente) não seria aquele no qual o que 
não pode ser tomado como lei universal fosse a 
regra seguida por todos e aceita como correta ? 
 O exemplo aqui é do próprio Kant: mentir 
por amor à humanidade não é um ato moral, pois 
a mentira como lei universal inviabilizaria nossa 
sociedade e a própria humanidade. Caso todos 
pudessem mentir e, ainda assim, ter respaldo 
moral para a mentira, isso institucionalizaria uma 
sociedade que, no limite, já não teria parâmetro 
para separar – moralmente, o que não é pouco – o 
que é o testemunho falso e o que é o verdadeiro. 
 
 
 
Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante 
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática. 
 
 
Ética Consequencialista 60 
 
 Diferentemente da ética do dever, John 
Stuart Mill (1806-1873) advogou uma ética das 
conseqüências a partir de seu projeto denominado 
de utilitarismo. Sua idéia básica foi a de tornar 
indistintos felicidade e prazer, aceitando para tal 
um cálculo a respeito do prazer. O que causa dor e 
o que causa prazer foram postos em uma régua de 
máximos em pólos opostos, e o que é bom e, 
portanto, um valor ético-moral, é o que não traz 
dor alguma. Dessa forma, inicia-se no ponto não 
zero, positivo, do prazer. O mal é exatamente o 
que se inicia em sentido contrário. Uma régua 
desse tipo pode avaliar cada enunciado e cada ato, 
em suas conseqüências, como útil ou não para o 
homem. 
 Indagados se isso não traria uma 
arbitrariedade muito grande no campo das 
decisões éticas, os utilitaristas responderam que 
essa régua não deveria ser posta em uso sem que 
se considerasse a humanidade, o coletivo. 
Todavia, ainda assim, a pergunta retornaria, pois 
os conflitos ético-morais aparecem não só entre 
indivíduos, mas, como já mostrei aqui, também a 
respeito de culturas – o que é o coletivo para o 
indivíduo. 
 Apesar dessa objeção, o utilitarismo tem 
uma vantagem sobre os dois outros sistemas. Ele 
é menos rígido e, por isso mesmo, permite o que é 
essencial à Filosofia, ou seja, a discussão racional 90 
e não apenas a decisão racional. 
 
 
 
 
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 Por exemplo, no caso dos índios que 
enterram crianças, um utilitarista iria fazer o que 
realmente foi feito por alguns estudiosos: saber se 
a dor criada por aquela situação seria 
exclusivamente da criança ou de outros também. 
O que se descobriu é que alguns irmãos e mesmo 
algumas mães preferiam fugir a enterrar seus 
filhos, pois a dor que sentiam era insuportável, 
mesmo diante do costume arraigado em séculos. 
Nesse caso, a régua moral utilitária diz que a 
própria tribo tenta sobreviver também por meio 
dos que não concordam com o costume, e estes 
fogem e sobrevivem, e não deixam de se 
considerar daquela tribo por terem optado pelo 
exílio nas mais duras condições da floresta. Dessa 
observação, a discussão racional reaparece 
exatamente porque as conseqüências não foram 
pré-julgadas, elas são repostas na mesa de 
conservação para os que estão observando o 
quadro.  
 
 
 
 
J.S.Mill (1806-173). Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores 
liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a 
teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. 
 
 Referência: 
 30 
GHIRALDELLI JR., Paulo. A boa e velha ética. O conceito 
e suas derivações aplicados aos mais recentes casos 
noticiados pela mídia. Conhecimento Prático Filosofia. p. 
54-60. São Paulo: escala educacional, 2010. 
(Adaptado por Ulisses Vasconcelos) 
 
________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
CONCEPÇÕES ÉTICAS 
 
 
ÉTICA CLÁSSICA 
Segundo Sócrates, Platão e Aristóteles 
 
 
 
PLATÃO E ARISTÓTELES conviveram por 20 anos na Academia 
 
 O pensamento de Sócrates (470-399 a.C.) 
marca o nascimento da filosofia clássica e, foi, 
posteriormente desenvolvido por Platão e 
Aristóteles. Sócrates não estava mais preocupado 
com a origem do cosmo (como as pessoas no 60 
tempo da mitologia) nem com o elemento que 
seria a essência de tudo (como os pré-socráticos). 
Para ele, o fundamental era a reflexão sobre a vida 
da pólis (cidade-estado), os costumes e 
comportamentos. Juntos, esses fatores formam o 
que os gregos chamavam de ethos (estilo de vida). 
Sócrates é, então, o inventor da ética, pois foi o 
primeiro filósofo a questionar as ações humanas e 
os valores subjacentes a elas. 
 Na mesma época de Sócrates, existiam os 
sofistas (mestres de retórica e oratória) que 
rejeitavam a tradição mítica ao considerar que os 
princípios morais resultam de convenções 
humanas. Embora na mesma linha de oposição 
aos fundamentos religiosos, Sócrates se contrapõe 
aos sofistas acreditando que aqueles princípios 
não se originam nas convenções, mas na natureza 
 
 
 
 
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humana, ou seja, é natural do homem guiado pela 
razão. 
 A concepção filosófica de Sócrates pode 
ser caracterizada como um método de análise 
conceitual. Isso pode ser ilustrado pela célebre 
questão socrática “O que é ...?”, através da qual se 
busca a definição de uma determinada coisa, 
geralmente uma virtude ou qualidade moral. 
 Inúmeros são os diálogos de Platão (427-
347 a.C.) em que são descritas as discussões 
socráticas a respeito das virtudes e da natureza do 
bem. Resulta daí a convicção de que a virtude se 
identifica com o conhecimento (com a sabedoria) 
e o vício com a ignorância. Para Sócrates, o 
homem só é mau porque ignora (desconhece) o 
bem. Portanto, a virtude pode ser aprendida. 
 No diálogo Ménon, cujo tema é o 
ensinamento da virtude, encontramos uma célebre 
passagem a esse respeito (70a-72b): 
 
Ménon: Você pode me dizer, Sócrates, se a 
virtude é algo que pode ser ensinado ou que só 
adquirimos pela prática ? Ou não é nem o 
ensinamento nem a prática que tornam o homem 
virtuoso, mas algum tipo de aptidão natural ou 
algo assim ? 
 
Sócrates: (...) Você deve considerar-me 
especialmente privilegiado para saber se a 
virtude pode ser ensinada ou como pode ser 30 
adquirida. O fato é que estou longe de saber se 
ela pode ser ensinada, pois sequer tenho idéia do 
que seja a virtude (...). E como poderia saber se 
uma coisa tem uma determinada propriedade se 
sequer sei o que ela é (...). Diga-me você próprio 
o que é a virtude. 
 
 Este diálogo se desenrola quando Ménon 
oferece várias definições de virtude, recusadas 
entretanto por Sócrates, dizendo ele que mesmo as 
virtudes sejam muitas e de vários tipos, terão pelo 
menos algo em comum que faz de todas elas 
virtudes. 
 O método socrático envolve um 
questionamento do senso comum, das crenças e 
opiniões que temos, consideradas vagas, 
imprecisas, derivadas de nossa experiência, e 
portanto parciais e incompletas. Nesse sentido a 
reflexão filosófica vai mostrar que, com 
freqüência, não sabemos aquilo que pensamos 
saber. Temos talvez um entendimento prático, 
intuitivo, imediato, que contudo se revela 
inadequado no momento em que deve ser tornado 
explícito. O método socrático revela a fragilidade 
desse entendimento e aponta para a necessidade e 
a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da 
reflexão. Ou seja, partindo de um entendimento já 
existente, ir além dele em busca de algo mais 
perfeito, mais completo: um conceito. 
 Os sofistas, segundo Sócrates, não 60 
ensinavam o caminho (o método) para o 
conhecimento, para a verdade única que resultaria 
desse conhecimento, mas para a obtenção de uma 
“verdade consensual” (convenção), resultado da 
persuasão da oratória. 
 Sócrates descobriu o problema do conceito 
buscando definições corretas para valores morais, 
como amizade e coragem; Platão considerou o 
conceito como o conhecimento de uma ideia 
eterna e inata por parte da mente humana; 
Aristóteles reduziu-o ao conhecimento da 
essência. 
 Na célebre passagem de A República, em 
que Platão descreve o mito da caverna, reaparece 
a ideia de Sócrates de que a virtude se identifica 
com a sabedoria: o sábio é o único capaz de se 
soltar das amarras que o obrigam a ver apenas 
sombras e, dirigindo-se para fora, contempla o 
sol, que representa a ideia do Bem. 
 Portanto, “alcançar o bem” se relaciona 
com a capacidade de “compreender bem”. Só o 
filósofo atinge o nível mais alto de sabedoria, só a 
ele cabe a virtude maior da justiça e portanto lhe é 
reservada a função de governar. Outras virtudes 
menores, mas também importantes para a cidade, 
caberão aos soldados defensores da pólis e aos 
trabalhadores comuns, artesãos e comerciantes. 
 Herdeiro do pensamento de Platão, 
Aristóteles (384-322 a.C.) aprofunda a discussão 
a respeito das questões éticas. Mas, para ele, o 90 
homem busca a felicidade, que consiste não nos 
prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e 
contemplativa cuja realização coincide com o 
desenvolvimento da racionalidade. 
 O que há de comum no pensamento dos 
filósofos gregos é a concepção de que a virtude 
resulta do trabalho reflexivo, da sabedoria, do 
controle racional dos desejos e paixões. 
 Além disso, o sujeito moral não pode ser 
compreendido ainda, como nos tempos atuais, na 
sua completa individualidade. Os homens gregos 
são antes de tudo cidadãos, membros integrantes 
de uma comunidade, de modo que a ética se acha 
intrinsecamente ligada à política. 
 
 
 
 
 
 
 
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Sócrates: conhecimento e felicidade 
 
 Por Ulisses da Silva Vasconcelos e Ricardo Eugênio Lima* 
 
 
 “Conhece-te a ti mesmo” estava escrito no 
pórtico do templo do deus Apolo. Esse enigma serviu 
como máxima para a vida de Sócrates. O pensador 
grego julgava que a felicidade não poderia estar ligada 
a coisas exteriores, mas residia no próprio homem que, 
guiado pela razão, viveria virtuosamente, e desse 
modo seria feliz. Assim, a felicidade seria a harmonia 
interior ou ordem espiritual. Sendo interior, ninguém 
ou nenhuma situação poderiam removê-la, tal como 
explica Platão, discípulo de Sócrates, no Fédon: “(...) e 
os mais felizes são aqueles cujas almas vão para os 
lugares mais agradáveis, os que sempre exerceram 
essa virtude social e civil que se chama temperança e 
justiça, que se formaram pelo costume e pelo exercício 
(...)”. 
 Em outro texto, Apologia de Sócrates, Platão, 
ao escrever um diálogo em que critica a sociedade 
ateniense pela condenação de seu mestre, o apresenta 
como personagem. No diálogo, Sócrates pede àqueles 
que o julgavam: “Quando os meus filhinhos ficarem 
adultos, puni-os, ó cidadãos, atormentai-os do mesmo 
modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer 
que eles cuidam mais das riquezas ou de outras 
coisas do que da virtude”. 
 Como pai, Sócrates também desejava a 30 
felicidade aos seus filhos e sabia que eles só poderiam 
encontrá-la dentro de si mesmos. Porém, qual caminho 
seguir ? A resposta para essa questão se encontra em 
outro texto platônico, Críton, no qual Sócrates, como 
personagem do diálogo, fala a seu amigo Críton, 
quando este tenta convencê-lo a fugir: “Temos, pois, 
de examinar se devemos proceder como queres ou 
não. Quanto a mim, não é de agora, sempre fui deste 
feitio: não cedo a nenhuma outra de minhas razões, 
senão à que minhas reflexões demonstram ser a 
melhor”. 
 Você pode não concordar com a concepção 
socrática da felicidade, mas de qualquer modo, ao 
discordar, é preciso pensar e encontrar argumentos 
para construir a própria compreensão do que seja a 
felicidade e suas implicações, vivendo 
conscientemente e não passando pela vida sem saber o 
caminho percorrido. © 
 
*ULISSES VASCONCELOS. Graduado em Filosofia (Licenciatura e 
Bacharelado) e mestrando em Filosofia pela UFPA; 
 RICARDO LIMA. Pedagogo, professor da Rede Estadual de Ensino do 
Ceará e aluno do 2º período de Filosofia da UERN. 
 
_______________________________________________ 
 
 
 AGORA É COM VOCÊ ! 
 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 60 
 
 
1) Destaca-se no texto “Sócrates: conhecimento e 
felicidade” o conceito de racionalidade introduzido por 
Sócrates e difundido por Platão na cultura ocidental. Para 
Sócrates, o homem guiado pela razão é aquele que: 
a) valoriza os instintos humanos e reflete sobre eles 
racionalmente; 
b) valoriza a interioridade da razão que domina e imputa 
ordens às forças externas – e controla tudo o que lhe é 
contrário, principalmente os instintos; 
c) deixa perder a lucidez racional em oposição aos desejos; 
d) julga o valor da vida, separando o conhecimento sobre a 
aparência e o conhecimento sobre a essência, dando 
preferência ao primeiro; 
e) julga ser verdade a vida dos sentidos, e não a vida 
contemplativa por meio da interiorização. 
 
2) Se, como entende Nietzsche (severo crítico da 
racionalidade socrática), Sócrates foi conivente como o 
veredicto de sua morte, e, como relata Platão na Apologia, 
ele não quis tentar uma fuga enquanto esperava a cicuta, 
então caminhou conscientemente à sua morte “para 
começar um novo dia”; uma outra fase da vida: a da 
liberdade da alma para encontro com a verdade. Com isto, 
surgiu na Grécia Antiga, ao assassinar o tipo trágico, o 
novo tipo de homem: o socrático – sistematizado e 
difundido na obra de Platão. 
(COSTA, Victor. Sócrates: o problema para Nietzsche. Ciência  Vida 
FILOSOFIA. n. 47. São Paulo: escala, 2010.p.46) 90 
 
Para o filósofo Nietzsche, o exemplo da vida de Sócrates 
mostra: 
a) o fim da tragédia grega pelo domínio da razão sobre os 
instintos; 
b) o início da tragédia grega pelo domínio dos instintos 
sobre a razão; 
c) “tornou-se o novo ideal, nunca antes contemplado, da 
nobre juventude grega: e o típico jovem heleno, Platão, foi o 
primeiro a lançar-se, com toda a ardente devoção de sua 
alma arrebatada, aos pés dessa imagem”. 
d) a prática da Filosofia socrático-platônica de valorar a 
vida. 
e) as alternativas a e c estão corretas. 
 
3) Qual é o tema (central) conceitual correspondente ao 
socratismo e à moral ? 
a) a ética. 
b) o conhecimento sensitivo. 
c) a virtude. 
d) a alma. 
e) a justiça . 
 
4) Segundo Nietzsche, tal como a eticidade socrática, a 
moral cristã nega o mundo sensorial, para, a partir de um 
mundo inteligível, poder afirmar a felicidade da alma 
humana. Esta felicidade, ou melhor, essa ética é orientada 
por uma dimensão teleológica (do grego telos = fim). A 
 
 
 
 
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finalidade da alma, para a noção socrático-platônica, é 
libertar-se da matéria (do conhecimento através dos 
sentidos), e para a noção da moral cristã é libertar-se do 
pecado (da fruição dos instintos). Em ambas as noções não 
há afirmação de um tipo de homem que comporte a batalha 
entre princípios racionais e desejante. Há contudo, repulsa 
aos desejos humanos em favor da racionalidade, em favor 
da lógica de negação do mundo sensorial; em última 
instância: da negação da vida. 
(COSTA, Victor. Sócrates: o problema para Nietzsche. Ciência  Vida 
FILOSOFIA. n. 47. São Paulo: escala, 2010.p.49) 
 
Em que ponto você concorda ou discorda da posição de 
Nietzsche ? Faça um breve comentário. 
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5) Sobre a racionalidade moral de Sócrates, assinale a única 
alternativa incorreta: 
a) os princípios morais resultam do consenso entre os 
homens, e não da natureza humana. 
b) a tranqüilidade interior do homem honesto é superior à 30 
morte. 
c) a finalidade da vida é a felicidade, que está na capacidade 
do homem de estabelecer para si mesmo, por meio do saber, 
suas próprias leis e regras de conduta. 
d) a sabedoria só pode ser resultado da percepção que temos 
da própria ignorância. 
e) é a dimensão biológico-cultural o maior obstáculo no 
caminho da perfeita realização espiritual. 
 
________________________________________ 
 
 
ARISTÓTELES: A ÉTICA DA FELICIDADE 
 
 
 
ARISTÓTELES (384-322 a.C.). Filósofo grego, discípulo de Platão, e 
autor de uma grande obra intitulada Ética a Nicômaco 
 
 Aristóteles dedicou boa parte de sua obraao estudo de como o ser humano pode ser feliz 
vivendo em sociedade. Assim como Platão, 
esboçou um projeto político para solucionar esse 
problema, que conheceremos a seguir: 
 “O homem”, afirma Aristóteles em A 
Política, “é naturalmente um animal político”. 
Político deve ser entendido como “participante da 
pólis”: uma das condições essenciais do ser 
humano é o fato de viver agregado a outros 
homens. Em outras palavras, para esse filósofo 60 
um indivíduo vivendo sozinho é inconcebível: um 
homem absolutamente solitário ou auto-suficiente 
deixaria de ser homem – seria um “deus” ou uma 
“fera” – ou simplesmente não sobreviveria. 
 Além disso, a pólis era para Aristóteles a 
melhor organização social possível, desde que 
fosse regida por critérios justos, que visassem ao 
bem comum. No mais, as Ciências práticas (a 
ética e a política) tinham a finalidade de buscar o 
aperfeiçoamento do seu agente, isto é, do homem. 
A aplicação dessas ciências, segundo Aristóteles, 
leva o desenvolvimento do ser humano na direção 
de uma existência melhor. 
 Aristóteles definia a ética como a ciência 
que trata do caráter e da conduta dos indivíduos, e 
a política como os estudos que regem a existência 
dos homens vivendo numa comunidade auto-
suficiente, no caso, a pólis. A doutrina aristotélica 
afirma que as duas são inseparáveis. Assim, a 
perfeição da personalidade individual (que se 
mostra através da honestidade, da honra, do 
respeito ao próximo, em suma, da virtude) é a 
finalidade almejada pela vida comunitária e pelas 
leis – e estas seriam os meios pelos quais se 
obtém aquele fim. 
 Para Aristóteles, de fato, a felicidade não 
era apenas um estado emocional e passivo, mas 
sim uma atividade: o homem feliz era aquele que 
praticava incessantemente a virtude, sempre 
aperfeiçoando seu caráter. Esse seria o campo 90 
específico da ética. No entanto, a conduta justa do 
indivíduo só teria sentido dentro da vida em 
sociedade. 
 A política seria tão importante: para que o 
indivíduo possa ser virtuoso (ético e, portanto, 
feliz), é necessário haver uma organização 
política favorável para essa finalidade seja 
atingida. Qual é ela ? Para Aristóteles, é a pólis 
governada democraticamente, na qual todos os 
cidadãos se conheçam pessoalmente e façam parte 
de uma grande assembléia que governa a cidade, 
determinando seus destinos e redigindo leis que 
 
 
 
 
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garantam uma existência digna para seus 
habitantes. 
 Ser feliz é possível, mas dá bastante 
trabalho, segundo Aristóteles, que definiu 
felicidade como uma “certa atividade da alma 
realizada em conformidade com a virtude”. Em 
sua obra, Ética a Nicômaco, o filósofo garante 
que a eudaimonia (a palavra que designa 
felicidade, em grego) depende de nós mesmos e 
precisa ser buscada sempre; o meio para atingi-la 
seria a virtude que o homem possui naturalmente. 
 Para Aristóteles, o homem busca a 
felicidade (o sumo bem), que consiste não nos 
prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e 
contemplativa, cuja plena realização coincide com 
o desenvolvimento da racionalidade. Para ser 
feliz, portanto, o homem deve viver de acordo 
com a sua essência, isto é, de acordo com a sua 
razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando 
os seus atos para uma conduta ética, a razão o 
conduzirá à prática da virtude. 
 
(...) o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há 
de melhor e de aprazível para ela. (...) para o homem a vida 
conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a 
razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se 
conclui que essa vida é também a mais feliz. (ARISTÓTELES. 
Ética a Nicômaco) 
 
 Para Aristóteles, a virtude representa o 30 
meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o 
excesso e a falta de um atributo qualquer. 
 
(...) a virtude deve ter a qualidade de visar ao meio-termo. 
Falo da virtude moral, pois é ela que se relaciona com as 
paixões e ações, e nestas existe excesso, carência e um 
meio-termo. (...) A virtude é, então, uma disposição de 
caráter relacionada com a escolha de ações e paixões, e 
consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a 
nós, que é determinada por um princípio racional próprio 
do homem dotado de sabedoria prática. (ARISTÓTELES. Ética 
a Nicômaco) 
 
 Por exemplo, a virtude da prudência é o 
meio-termo entre a precipitação e a negligência; a 
virtude da coragem é o meio-termo entre a 
covardia e a valentia insana; a perseverança é o 
meio-termo termo entre a fraqueza de vontade e a 
vontade obsessiva. 
 Uma vida autenticamente moral não se 
resume a um ato moral, mas é a repetição e 
continuidade do agir moral. Aristóteles afirmava 
que “uma andorinha, só, não faz verão” para 
dizer que o agir virtuoso não é ocasional e 
fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado 
no desejo de continuidade e na capacidade de 
perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida 
moral se condensa na vida virtuosa. 
 Para Aristóteles, as necessidades fazem 
com que o homem sempre adapte uma virtude a 60 
sua respectiva ação. Esse processo era chamado 
de variação entre ato e potência, ou seja, o homem 
é em ato algo no tempo presente, mas tem 
potencialidade para ser outro homem distinto. E 
assim por diante, até a morte. 
 A busca pela felicidade, na visão de 
Aristóteles, seria uma eterna corrida, com vários 
obstáculos a serem superados, riscos a serem 
enfrentados e árduo trabalho, porém, sem 
garantias de que no final o objetivo máximo fosse 
alcançado. 
 Para o filósofo grego, a felicidade é uma 
satisfação das necessidades e das aspirações 
mundanas e, ao atingi-la, outras necessidades 
surgirão para o homem; então, ele sempre estará 
nessa constante busca. 
 Os filósofos, em toda a tradição da 
Filosofia Ocidental, aproximam a felicidade da 
sabedoria, afirmando sua ligação com a reflexão e 
a dependência da razão, da virtude, da moderação, 
em última análise, o elo íntimo da felicidade com 
a própria Filosofia. É o caso do filósofo grego 
Epicuro (341-270 a.C.), para quem o prazer 
contínuo seria a chave para uma vida feliz. Sua 
filosofia tinha uma finalidade prática, ajudando 
seus seguidores a encontrar o caminho para a 
felicidade através do prazer, que poderia ser 
traduzido não por uma indulgência sensual, mas 
pelo processo de moderação, leitura e 
introspecção da vida – o prazer do sábio, que tem 90 
controle de si mesmo. Desta maneira, os temores 
seriam eliminados e os homens encontrariam o 
sossego necessário para uma vida alegre e 
aprazível. 
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 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR 
 
VIRTUDE: 
A EXCELÊNCIA EM PROL DA 
FELICIDADE 
 
A cada momento que utilizamos o melhor de nós, em justa 
medida, ficamos mais próximo do ápice do bem-estar 
 
 Por Rita Foelker*A virtude é um dos temas da Ética a Nicômaco – 
principal tratado de ética escrito por Aristóteles (384 – 322 a.C.) e 
supostamente dirigido a seu filho –, de onde foram extraídos os 
fragmentos abaixo. 
 A palavra “virtude”, em um sentido ético, pode ser 
entendida como uma qualidade moral ou intelectual positiva do ser 
humano, que o leva a agir visando ao bem. Tal virtude em 
Aristóteles (areté) costuma ser traduzida como excelência moral e 
assim ele a define: 
 
“A excelência moral, então, é uma disposição da alma relacionada 
com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente 
num meio-termo (relativo a nós) determinado pela razão (a razão 
graças à qual um homem dotado de discernimento/prudência o 
determinaria). Trata-se de um estado intermediário, porque nas 
várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é 
conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a 
excelência moral encontra e prefere o meio-termo (mesotés). 30 
Logo, a respeito do que ela é, ou seja, a definição que expressa a 
sua essência, a excelência moral é um meio-termo, mas com 
referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo”. 
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco) 
 
 Duas formas de virtude estão presentes na Ética a 
Nicômaco: a virtude intelectual e a virtude moral. 
 A virtude intelectual (dianóia) é representada 
principalmente pela sabedoria e pela prudência (phrónesis), 
adquiridas pela instrução e que trazem calma e tranqüilidade ao 
homem. A virtude moral é uma disposição de espírito ou hábito de 
escolher em todas as situações a justa medida que convém à nossa 
natureza. As pessoas que têm essa virtude desenvolvem a 
moderação e o bom-senso (sophrosýne). 
 A felicidade é o fim último da virtude, não como 
objetivo do indivíduo, mas da polis, razão pela qual se pode dizer 
que, para Aristóteles, a ética está subordinada à política. Segundo 
David Ross (filósofo americano contemporâneo), “a virtude do 
Estado está conforme a virtude de seus cidadãos”. Não se trata, 
portanto, de um objetivo religioso nem divino, relacionado à 
vontade dos deuses, mas de construir uma vida social feliz e 
harmoniosa. 
 
A plenitude do ser humano 
 
 A busca da ética é a busca do fim do próprio homem 
(Ética Teleológica). E este fim (télos), não se refere apenas a uma 
“finalidade” – como se costuma traduzir em português –, mas 
também a uma espécie de “plenitude”, o que reforça a idéia de que 
a excelência moral e a conduta ética constituem a realização do 60 
grande e verdadeiro propósito de nossas vidas, nosso ponto 
máximo, nossa plenitude enquanto seres. 
 O tratamento que Aristóteles confere ao tema da virtude 
moral nos permite perceber duas idéias em destaque: 1) as virtudes 
se transmitem pelo exemplo e 2) as virtudes são disposições de 
espírito que se concretizam em ações. 
 Diferentemente de Platão (427-347 a. C.), que considera 
a virtude como inata, ou seja, como uma qualidade que o indivíduo 
já traz consigo ao nascer, Aristóteles entende que ela somente pode 
ser adquirida como pode ser adquirida como um hábito (ethos). 
 
“(...) quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito, razão 
pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da 
palavra ‘hábito’. É evidente, portanto, que nenhuma das várias 
formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois 
nada que existe por natureza pode ser alterado por hábito”. 
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco) 
 
 O saber da virtude não é um saber discursivo, conceitual. 
É um saber prático: 
 
“As coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemo-las 
fazendo-as – por exemplo, os homens se tornam construtores 
construindo, e se tornam citaristas tocando cítara; da mesma 
forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados 
agindo moderamente, e corajosos agindo corajosamente” 
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco) 
 
 Disso se pode deduzir que tal peculiaridade da virtude 
moral, certamente, reflete-se no modo de “ensiná-la”, que não 90 
consiste em falar ou escrever sobre a excelência moral, mas em 
agir eticamente e, assim, influenciar o educando. A convivência 
com um agente virtuoso constitui o melhor meio de aprendizado. 
 Considerando-se que, para Aristóteles, a virtude não é 
um bem do sujeito, ninguém nasce bom ou ruim. A virtude se 
relaciona diretamente a uma práxis (ação prática), e aquele que 
deixa de praticá-la também deixa de ser virtuoso. © 
 
 
* RITA FOELKER. É escritora e aluna da graduação em filosofia da 
Universidade São Judas Tadeu, SP. 
 
_____________________________________________________ 
 
 PARA FIXAR 
 VIRTUDE: Virtude vem da palavra latina vir, que 
designa o homem, o varão. Virtus é “poder”, 
“potência” (ou possibilidade de passar ao ato). 
Virilidade está ligada à ideia de força, de poder. 
Virtuoso é aquele capaz de exercer uma atividade em 
nível de excelência (virtude se refere a idéia de força, 
de capacidade). Em moral, a virtude do homem é a 
força com a qual ele se aplica ao dever e o realiza. A 
virtude é a permanente disposição para querer o bem, 
o que supõe a coragem de assumir os valores 
escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a 
ação. Uma vida autenticamente moral não se resume a 
um ato moral, mas é a repetição e continuidade do agir 
moral. Aristóteles afirmava que “uma andorinha, só, 
não faz verão” para dizer que o agir virtuoso não é 120 
ocasional e fortuito, mas deve se tornar um hábito, 
fundado no desejo de continuidade e na capacidade de 
perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida moral se 
condensa na vida virtuosa. 
 
 
 
 
 
 
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ÉTICA MODERNA 
Segundo Kant 
 
 
 
Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante 
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática (1788), que exporá a 
moralidade a partir da função prática da razão. 
 
 
KANT: A ÉTICA DO DEVER MORAL 
 
 Analisando os princípios da consciência 
moral, Immanuel Kant (1724-1804) em suas obras 
intituladas Fundamentação da Metafísica dos 
Costumes (1785) e Crítica da Razão Prática 
(1788), concluiu que a vontade humana é 
verdadeiramente moral quando regida por 
imperativos categóricos. O imperativo categórico 
é assim chamado por ser incondicionado, 
absoluto, voltado para a realização da ação tendo 
em vista o dever. Por razão prática, Kant entende 
a razão na função de ditar à vontade a lei moral. 
 Kant fundamentou a moral na autonomia 
da razão humana. Dessa forma ele recusou todas 
as éticas anteriores, fundamentadas em normas e 
valores de origens diversas (éticas heterônomas, 
ou seja, vindas de fora do sujeito, imposta por 
outras fontes que não a razão). Assim, para 
impedir que os indivíduos se deixem levar pelos 30 
seus desejos, paixões ou motivos particulares, é a 
razão que deve indicar quais são os deveres e 
normas a serem seguidos de uma forma universal. 
 Kant rejeita a concepção ética que norteia 
a ação moral a partir de condicionantes como a 
felicidade ou o interesse. Por exemplo, não faz 
sentido agir bem com o objetivo de ser feliz ou 
evitar a dor ou punição. A felicidade para Kant é 
um bem , mesmo que não seja considerada o 
 
Summum bonum (bem supremo) como 
efetivamente o é para Aristóteles. 
 
 A LEI MORAL NÃO PODE TER SUA 
ORIGEM NA EXPERIÊNCIA – PRAZER, 
UTILIDADE, FELICIDADE ETC. –, MAS É 
CONDIÇÃO A PRIORI DA VONTADE.

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