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CRIMES DE FURTO E ROUBO - anotado

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TÍTULO II 
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 
CAPÍTULO I 
DO FURTO 
 
1. FURTO SIMPLES (155): 
 
1.1. Conceito: 
- “É a subtração da coisa alheia móvel com fim de assenhoreamento definitivo”. 
(Damásio) 
A subtração, núcleo do tipo do crime de furto, pode se verificar em duas 
hipóteses. 
 A primeira delas, mais óbvia, dá-se quando o agente, sem qualquer 
autorização, apodera-se da coisa alheia e a leva embora, causando, 
assim, prejuízo econômico à vítima, que fica despojada do bem que lhe 
pertence. 
 A segunda, basta que o agente tenha recebido o bem em determinado 
local e que não tenha obtido autorização para dali sair com ele, pois, 
nesses casos, o agente, para se locupletar, tem que tirar o objeto dali, e 
é exatamente isso que faz o crime de furto se estabelecer. 
 
ATENÇÃO 
É necessário ressaltar, outrossim, que, como os casos de posse vigiada dão 
origem ao crime de furto, por exclusão, apenas nas hipóteses em que a posse é 
desvigiada — e o agente não restitui o bem — é que se configura o crime de 
apropriação indébita. 
Ex.: o motoboy que recebe um pacote no interior da empresa para entregá-lo em 
determinado endereço e que no trajeto se apossa do bem, comete apropriação 
indébita. A posse é considerada desvigiada porque ele não tirou o bem da 
empresa sem autorização. Ele foi autorizado a deixar o local na posse do pacote. 
O fato de o dono da empresa saber que entregou o bem ao funcionário não torna 
a posse vigiada. 
1.2. Objetividade jurídica: 
Tem por finalidade a proteção da propriedade, posse e detenção legítima de 
coisa móvel. 
- Imediata (posse); 
- mediata (propriedade). 
 
1.3. Posse ilegítima: 
- Ladrão que rouba ladrão? 
“Ladrão que rouba ladrão”: dois ou mais agentes praticam um furto, e algum (ou 
alguns) deles subtrai a coisa furtada. Neste caso, o sujeito passivo continuará 
sendo o proprietário ou o legítimo possuidor da coisa furtada, e não os demais 
envolvidos no crime. O primeiro proprietário sofrerá dois furtos, pois a lei penal 
não protege a posse do ladrão. 
1.4. Elementos do furto: 
As elementares do crime de furto podem ser divididas em quatro partes: 
a) a conduta típica, consistente em um ato de subtração; 
b) o objeto material, que deve ser coisa móvel; 
c) o elemento normativo encontrado na necessidade de que se trate de 
coisa alheia; 
d) o elemento subjetivo do tipo consistente no fim de assenhoreamento 
definitivo do bem. 
a) Coisa alheia móvel: 
Apoderar-se, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel, tirando-a de quem 
a detém (diminui o patrimônio), ou seja, deve haver um valor economicamente 
apreciável. 
- é o objeto material do furto; 
- animal; 
Os animais domésticos ou domesticados, quando tiverem dono, e os 
semoventes (bois, porcos, cabras) podem ser objeto de furto. O furto de gado 
possui denominação própria: abigeato. Semoventes constituem espécie do 
gênero coisa móvel. 
O art. 155, § 6º, do Código Penal, introduzido pela Lei 13.330/2016, define uma 
terceira figura de furto qualificado, “se a subtração for de semovente 
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da 
subtração”. Assim, enquanto o furto simples (tipo básico) tem pena de reclusão 
de 1 a 4 anos e multa, a presente figura qualificada tem pena de reclusão de 2 a 
5 anos. 
- móvel; 
O conceito não usa de base o direito civil, BASTANDO QUE SEJA POSSÍVEL 
APREENDER A COISA OU TRANSPORTAR SEM PERDER SUA IDENTIDADE 
(QUEBRAR). 
- coisa alheia; 
Para que uma coisa seja considerada alheia, é necessário que ela tenha dono. 
- coisa de uso comum (ar ou a água); 
Coisa pública, ar, luz, água do mar e dos rios, a priori, não podem ser objeto de 
furto, porém, quando destacados, aí podem, ex. areia de praia da obra do artista, 
a água encanada que vem do rio, a energia elétrica. 
- res nullius (coisa de ninguém) – Havendo-se coisa de ninguém (coisa que 
nunca teve dono), não pode ser objeto de furto; 
- res derelicta (coisa abandonada); 
a coisa abandonada (foi dispensada, pertenceu a alguém) não podem ser objeto 
material do delito. 
- res desperdicta (coisa perdida) – local público ou aberto; 
Tratando-se de coisa perdida (portanto, alheia), o crime será de apropriação 
indébita alheia (art 168, §único, II CP). 
- energia elétrica (§3º); 
Equipara energia elétrica e outras (genética, mecânica, térmica, e a 
radioatividade) a bem móvel, desde que tenham valor econômico. 
Subtração de sinal de televisão a cabo ??? A energia se consome, termina, se 
esgota, tanto que se todos fizessem o “gato no poste” o sistema entraria em 
colapso, enquanto que o sinal de televisão não, assim, não seria possível criar 
uma interpretação extensiva equiparando o sinal de televisão a energia, pois não 
há subtração de nada, nem diminuição do patrimônio alheio, deste modo, o fato 
é atípico (Cezar Roberto Bitencourt). 
A segunda corrente, entendo como crime, pois o sinal é uma espécie de energia, 
que tem valoração patrimonial, assim, existe crime (STJ, 5ª turma, HC 17.867-
SP), sendo a corrente adota por Guilherme de Souza Nucci. Resolução, art 35 
da Lei nº 8977/95, onde deixa claro que constitui ilícito, a captação indevida. 
Mesmo caso aplica-se ao pulso telefônico. 
OBS: não confundir furto de energia elétrica, praticado mediante ligação 
clandestina (“GATO”), com o crime de estelionato (art 171), que o agente altera 
o medidor de energia elétrica, para acusar resultado menor do que consumido. 
- ser humano; 
Os seres humanos podem ser transportados, porém, não se enquadram no 
conceito de coisa, de modo que não podem ser objeto material de furto, mas 
apenas de crimes específicos como sequestro (art. 148), extorsão mediante 
sequestro (art. 159) e subtração de incapaz (art. 249). 
- próteses. 
Objetos deixados dentro da sepultura (ouro, jóias, aliança, dente de outro) ???? 
Primeiro corrente: art 210 ou art 211, do CP (Violação de sepultura - Art. 210 - 
Violar ou profanar sepultura ou urna funerária: - Pena - reclusão, de um a três 
anos, e multa. - Destruição, subtração ou ocultação de cadáver - Art. 211 - 
Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: - Pena - reclusão, de um a 
três anos, e multa), inexistindo furto, pois os objetos não pertencem a “alguém”. 
Segunda corrente, entende haver furto, por serem direitos pessoais dos hereiros, 
sendo absorvido o delito do art 211. 
 
b) Fim de assenhoreamento definitivo: 
- Vontade de ter a coisa para si ou para terceiro de forma não transitória; 
O elemento subjetivo do furto é o dolo de subtração (“animus furandi”). Contudo, 
é essencial que o agente tenha a intenção de apoderar-se definitivamente da 
coisa (“animus rem sibi habendi”), e não somente usá-la temporariamente. 
- Furto de uso: 
 - Requisito subjetivo (finalidade); 
 - Requisito objetivo (pronta restituição). 
a) a coisa deve ser infungível (logo, não se fala em furto de uso na subtração de 
dinheiro); b) deve existir a prévia intenção, anterior à subtração, de devolução da 
coisa (o agente deve, anteriormente à subtração, ter o interesse em restituir); 
c) a coisa deve ser espontânea e imediatamente restituída após o uso, em sua 
integralidade e em local no qual seja possível seu titular exercer de imediato seu 
poder de disposição (restituição “in loco et integro”), ao seu possuidor originário. 
O STJ, no HC 94125/SP, impõe, ainda, a necessidade de que a devolução se dê 
antes que a vítima perceba a subtração, sob pena de afastamento do furto de 
uso. 
 
ATENÇÃO 
A jurisprudência afasta a possibilidade do reconhecimento do furto de uso 
quando a intenção do agente é utilizar o bem alheio momentaneamente, porém, 
para fim criminoso, pois, caso contrário, poderia haver estímulo a esse tipo de 
conduta. Assim, comete furto em concurso material com o outro crime quem 
subtrai momentaneamente um carro para usá-lo em um sequestro. 
 
1.5. Sujeito ativo: 
- Qualquer pessoa,salvo o proprietário (345 ou 346). 
Qualquer pessoa, exceto o proprietário da coisa, que pratica o delito do art 345, 
exercício arbitrário das próprias razões; ou ainda, no caso do funcionário público, 
este comete peculato furto (art 312, 1º CP). Por fim, condômino, co-herdeiro ou 
sócia, a quem a legitimidade detém, configura furto de coisa comum (art 156). 
1.6. Tipos de subtração: 
- Direta; 
De coisa que estava em poder do proprietário 
- Indireta. 
De coisa que estava na mão de terceiro 
1.7. Elementos Subjetivos: 
- Dolo; 
O elemento subjetivo do furto é o dolo de subtração (“animus furandi”). 
- Fim especial. 
Que o agente tenha a intenção de apoderar-se definitivamente da coisa 
1.8. Absorção: 
- violação de domicílio; 
Quando o agente entra na casa de alguém para furtar, o crime de “violação de 
domicílio” fica absorvido pelo “furto” (princípio da consunção, segundo o qual o 
crime-meio é absorvido pelo crime-fim). 
- furta depois quebra; 
Se o agente, após furtar, destrói o objeto, o crime de “dano” fica absorvido; trata-
se de “post factum” impunível, pois não há novo prejuízo à vítima. 
- furta e depois vende. 
Se o agente, após furtar, vende o objeto a terceiro de boa-fé, tecnicamente 
haveria dois crimes, pois existem duas vítimas diferentes, uma do “furto” e outro 
do crime de “disposição de coisa alheia como própria” (art. 171, § 2°, I) (Damásio 
E. de Jesus); a jurisprudência, por razões de política criminal, vem entendendo 
que o subtipo do “estelionato” fica absorvido, pois com a venda o agente estaria 
apenas fazendo lucro em relação aos objetos subtraídos. 
 
1.9. Consumação – 
Existem 4 (quatro) correntes: 
- contrectatio (contato): se consuma pelo simples contato entre o agente ativo e 
o objeto, dispensando o deslocamento. 
- amotio (ou apreensão): dá-se a consumação quando o agente consegue o 
objeto subtraído, mesmo que num curto espaço de tempo. 
- ablatio (deslocamento): dá-se a consumação quando o agente, depois de 
apoderar-se da coisa, consegue deslocá-la de um lugar a outro. 
- ilatio : só ocorre quando o agente consegue levar o objeto até o lugar onde 
deseja, a lá ser mantido a salvo. 
O STF e STJ se filiam a tese do AMOTIO. 
 
1.10. Furto famélico. 
(saciar a fome): inexiste o delito face o estado de necessidade (art 23 CP). 
 
2. FURTO NOTURNO (155, §1º): 
2.1. Natureza jurídica; 
Esse instituto tem natureza jurídica de causa de aumento de pena e somente se 
aplica ao furto simples. É incabível às formas qualificadas de furto porque estas 
estão previstas em dispositivo posterior (§§ 4º e 5º) e já possuem pena maior em 
abstrato. O argumento principal é que a agravação seria desproporcional no caso 
do furto qualificado, porque o dispositivo prevê acréscimo de 1/3 da pena pelo 
fato de o delito ocorrer durante o repouso noturno. 
Em suma, não se reconhece o aumento: 
a) se o crime é qualificado; 
b) se ocorre em via pública; 
c) se acontece em estabelecimento comercial aberto (bar, boate, restaurante, 
loja de conveniência etc.) ou em casa onde está ocorrendo uma festa. 
2.2. Repouso Noturno: 
- é o período em que, à noite, as pessoas se recolhem para descansar; 
- deve-se analisar as características da região. 
Apesar de o nome do instituto ser “furto noturno”, não basta que o fato ocorra à 
noite (período de ausência de luz solar), exigindo o texto legal que ocorra durante 
o período em que os moradores de determinada região estejam dormindo, 
repousando, devendo a análise ser feita de acordo com as características de 
cada região (rural ou urbana). 
2.3. Requisitos: 
- Que a subtração seja praticada em casa habitada; 
- Que os moradores estejam repousando no momento da subtração. 
Por se tratar de norma que agrava a pena, não se admite analogia para abranger 
furtos cometidos contra pessoas que estão repousando pela manhã ou à tarde. 
O aumento do furto noturno aplica-se a fatos ocorridos em residências (casas 
térreas, apartamentos, quartos de hotel, trailers) ou em seus compartimentos 
externos, como quintais, varandas, garagens, terraços etc. 
Obs. Para boa parte da Doutrina é suficiente que a subtração ocorra durante o 
período de repouso noturno. 
 
3. FURTO PRIVILEGIADO (155, §2º) 
 
3.1. Requisitos: 
- Que o criminoso seja primário; 
A condição de pessoa primária não é definida no Código Penal, que contém ape
nas definição de reincidência em seu art. 63. Assim, a contrário sensu, 
considera-se primária toda e qualquer pessoa que não seja considerada 
reincidente pelo juiz na sentença. Dessa forma, as pessoas que já foram 
condenadas anteriormente, mas já cumpriram pena há mais de cinco anos antes 
de cometer o furto, são consideradas primárias, nos termos do art. 64, I, do 
Código Penal e, nessa condição, têm direito ao benefício. 
- Que a coisa seja de pequeno valor. 
Em primeiro lugar, há de se dizer que foi adotado um critério objetivo no que diz 
respeito ao conceito de coisa de pequeno valor, devendo ser assim considerada 
aquela que não ultrapassa um salário mínimo. 
3.2. Coisa de pequeno valor (3 correntes): 
- Deve-se levar em consideração o patrimônio da vítima; 
- Não há regra rígida para o reconhecimento do pequeno valor da coisa 
subtraída, ficando o privilégio a critério do julgador; 
- adotou-se um critério objetivo, considerando como tal, aquela que não excede 
um salário mínimo, admitindo uma pequena oscilação. 
O bem de valor insignificante (entendimento do STF, um salário mínimo – RT 
657/323). Aplicação do privilegio aos crimes qualificados, o STF e o STJ 
entendem que é incompatível, pois além da gravidade, topograficamente indica 
que o legislador pretendeu aplicá-lo somente ao furto simples. 
 
Obs. A coisa será avaliada pelo seu valor por ocasião da subtração. 
O valor do salário mínimo é aquele vigente à época do crime. Para que se saiba 
o valor do bem subtraído, é necessária avaliação formal, que deverá ser 
ordenada pelo Delegado de Polícia sempre que instaurar inquérito policial para 
apurar crime de furto e cujo auto deve ser anexado ao inquérito. Essa avaliação 
normalmente é feita pelos peritos da própria Polícia Civil. No caso do furto de 
vários objetos, leva-se em conta o valor dos bens em sua somatória. 
 
3.3. Punibilidade: 
O texto legal confere três opções ao juiz que reconhece o privilégio. 
A pena originária de um crime de furto simples é de reclusão, de um a quatro 
anos, e multa, contudo, em se tratando de delito privilegiado o juiz poderá: 
a) substituir a pena de reclusão por detenção; 
b) diminuir a pena privativa de liberdade de um a dois terços; 
c) aplicar somente a pena de multa. 
As hipóteses “a” e “b” podem ser cumuladas porque não são incompatíveis. O 
juiz deve optar por uma delas de acordo com as características de cada caso 
concreto. 
Suponha-se, por exemplo, que o réu furtou coisa de pequeno valor e é primário, 
porém ostenta maus antecedentes. Como vimos anteriormente, os maus 
antecedentes não vedam o privilégio, mas o juiz poderá aplicar, dentre as 
hipóteses legais, o menor benefício ao réu (substituição por detenção, sem 
redução no montante da pena, por exemplo). Da mesma forma, caso se trate de 
furto noturno (art. 155, § 1º) ou acompanhado de alguma agravante genérica 
(crime contra idoso, por exemplo). 
 
ATENÇÃO!!! 
Não se confunde o instituto do privilégio, em que o réu é condenado com uma 
pena menor, com o princípio da insignificância, decorrente do princípio da 
intervenção mínima, segundo o qual não se reconhece a existência de justa 
causa para a ação penal quando a lesão ao bem jurídico tutelado é irrisória, 
ínfima, insignificante. Ex.: o furto de um doce, de uma rosa etc. É o que se chama 
de furto de bagatela. Em tais casos, o fato é considerado atípico. 
 
4. FURTO QUALIFICADO (155, §§4º e 5º): 
As qualificadoras estão previstas nos §§ 4º e 5º do Código Penal. No § 4º 
existem, ao todo, sete qualificadoras,distribuídas em quatro incisos. É 
plenamente comum que o juiz reconheça duas ou mais qualificadoras deste 
parágrafo e, se isso ocorrer, a primeira servirá para qualificar o crime e as demais 
servirão como circunstância judicial para fixação da pena-base acima do mínimo. 
Todas as qualificadoras do § 4º referem-se aos meios de execução do furto, de 
modo que todas são compatíveis com o instituto da tentativa, bastando, para 
tanto, que o agente não consiga concretizar a subtração. 
 
4.1. Figuras típicas: 
A graduação do injusto penal observa sua maior ou menor danosidade, que ora 
é representada, como dissemos, pelo desvalor da ação, ora pelo desvalor do 
resultado. Inegavelmente, a reprovabilidade é maior para quem utiliza meios 
excepcionais para superar obstáculos defensivos do patrimônio alheio, ou se 
organiza para essa finalidade, ou, ainda, trai a confiança que alguém lhe 
depositara, descuidando-se, por isso mesmo, da vigilância de seu patrimônio. 
 
1ª Violência contra obstáculo à subtração (§4º, I): 
- Destruir (desfazer o obstáculo); 
A qualificadora em análise pressupõe, necessariamente, que o obstáculo seja 
danificado, no todo ou em parte, tanto que o art. 171 do Código de Processo 
Penal expressamente exige perícia para constatar os vestígios deixados. É de 
se lembrar, todavia, de que, se os vestígios tiverem desaparecido, a prova 
testemunhal poderá suprir-lhe a falta, nos termos do art. 167 do mesmo Código. 
 
- Romper (abrir brecha); 
Rompimento é a danificação parcial do obstáculo, como no arrombamento do 
trinco de uma porta. Destruição é a danificação completa, como quebrar uma 
porta de vidro, que fica toda estilhaçada no chão. 
 
- A simples remoção de obstáculo não qualifica o crime; 
A mera remoção do obstáculo, sem que ele sofra qualquer dano, não qualifica o 
furto. Ex.: desparafusar janela ou porta, desligar o interruptor do alarme sonoro, 
extrair o dispositivo antifurto de uma roupa dentro da loja sem danificá-lo etc. 
 
- A violência pode ser praticada antes, durante ou após a subtração, mas, nunca 
após a consumação do crime; 
Pouco importa que o agente tenha arrombado a porta para conseguir entrar na 
casa ou que tenha entrado normalmente por uma porta que já estava aberta e 
tenha arrombado a janela para fugir com os bens pelos fundos diante da chegada 
de moradores ao local. Nas duas hipóteses, o arrombamento ocorreu antes da 
consumação do crime e constituiu meio de execução, configurando a figura 
qualificada 
 
- A violência é contra obstáculo e não contra a coisa; 
É muito importante salientar que a doutrina e a jurisprudência só têm aceitado a 
presente qualificadora quando a conduta atinge obstáculo que impede a 
apreensão ou a remoção do bem, e nunca obstáculo que seja parte integrante 
da própria coisa e que, por tal razão, seja juntamente com ele subtraído. Assim, 
aplica-se a qualificadora quando o agente arromba um portão para furtar o carro 
da garagem, mas não se aplica quando o agente arromba a porta do próprio 
carro para leva-lo. 
 
- Natureza dos obstáculos (ativos ou passivos). 
O obstáculo pode ser passivo, como uma corrente que prende uma bicicleta a 
um poste, ou ativo, como uma cerca eletrificada. 
 
2ª Abuso de confiança (155, §2º, II, 1ª figura): 
- Requisitos: 
 - Que o sujeito abuse da confiança nele depositada pelo ofendido; é 
necessário que se demonstre a existência de uma especial (grande) confiança 
da vítima no agente, que pode decorrer de forte amizade ou coleguismo no 
trabalho, parentesco, namoro ou noivado, relações profissionais etc. 
 
 - Que a coisa esteja na esfera de disponibilidade do sujeito ativo em face 
dessa confiança. É nisso que consiste o abuso (de confiança). Assim, o amigo 
que furta bens do interior da casa do outro durante uma visita incide na forma 
qualificada, restando prejudicada a agravante genérica referente a crime 
cometido com abuso de relação de hospitalidade (art. 61, II, f) porque tal aspecto 
está contido na dinâmica da qualificadora 
 
- Qual a diferença entre o abuso de confiança que qualifica o furto e o abuso de 
confiança que constitui elementar do crime de apropriação indébita? 
Não se confunde com a apropriação, que se dá quando o agente detém a posse 
ou a detenção da coisa de forma legítima, e, sem que lhe seja permitido, inverte 
a propriedade da coisa, passando a agir como se dono fosse. A distinção é 
fundamental para que não se confunda o furto (CP, art. 155) com a apropriação 
indébita (CP, art. 168), ou o “peculato-apropriação” (CP, art. 312, “caput”) com o 
“peculato-furto” (CP, art. 312, § 1º). 
 
3ª Fraude (155, §4º, II, 2ª figura): 
- meio enganoso usado pelo agente, capaz de reduzir a vigilância da vítima e 
permitir a subtração do bem; 
 Distração: a fraude é empregada pelo agente para distrair, desviar a 
atenção da vítima, como no famoso exemplo em que duas pessoas entram em 
uma loja onde só existe um vendedor e, enquanto um deles distrai a vítima com 
perguntas e pedidos de mercadorias, o outro esconde objetos sob suas vestes. 
 Aproximação: a fraude visa possibilitar a aproximação do agente dos bens 
que pretende furtar, como no caso em que ele desliga a rede de uma casa e, em 
seguida, se passa por funcionário da empresa telefônica, inclusive com o 
respectivo uniforme falso, e consegue entrar na residência a pretexto de efetuar 
o conserto, ou quando finge ser pessoa responsável pela manutenção em 
máquinas de uma certa empresa para conseguir ter acesso ao local. 
 Afastamento: a finalidade da fraude é afastar a vítima do local onde estão 
seus bens, pois a sua presença inviabilizaria o furto. Ex.: descobrir o nome e o 
local onde uma criança estuda e telefonar para a mãe, passando-se pelo diretor 
da escola, e dizer que ela deve ir a determinado hospital porque o filho se 
acidentou. 
- Qual a diferença entre a fraude que qualifica o furto e a fraude que constitui 
elementar do estelionato? 
No furto, o bem é subtraído (não se podendo esquecer de que o conceito de furto 
abrange os casos de posse vigiada), enquanto, no estelionato, a vítima entrega 
a posse desvigiada do bem por ter sido enganada pelo golpista. 
 
4ª Escalada (155, §4º, II, 3ª figura): 
- é o acesso a um lugar por meio anormal de uso. 
Escalada é a utilização de via anormal para adentrar no local do furto, como pu
lar um muro ou portão, entrar pelo telhado ou pela chaminé, pela sacada de um 
prédio, de paraquedas dentro de um sítio etc. A escavação de túnel, 
evidentemente, é forma anormal de ingresso ao local do crime, configurando a 
qualificadora. Essa conduta, aliás, vem se tornando razoavelmente comum, 
como ocorreu no impressionante furto em agência do Banco Central em 
Fortaleza, entre os dias 5 e 6 de agosto de 2005. 
 
5ª Destreza (155, §4º, II, 4ª figura): 
- habilidade capaz de fazer com que a vítima não perceba a subtração. 
Destreza é a habilidade física ou manual do agente que lhe permite efetuar a 
subtração de algum bem que a vítima traz consigo sem que ela perceba. É o que 
ocorre com os chamados batedores de carteira (punguistas ou pick pockets), 
que, normalmente, atuam em locais de grande movimento como ônibus, metrôs, 
trens, ruas ou avenidas movimentadas, onde, sorrateiramente, colocam a mão 
dentro da bolsa de mulheres e furtam sua carteira, seu telefone celular etc. É 
claro, todavia, que o crime também pode ser cometido contra homens, 
colocando-se a mão no bolso do paletó, ou contra mulheres em outras 
circunstâncias, como no caso do agente que, com extrema habilidade, consegue 
tirar um colar ou uma pulseira sem que a vítima note. 
No caso da “trombada”, se ela só serviu para desviar a atenção da vítima (“furto 
qualificado” pelo arrebatamento ou destreza), se houve agressão ou vias de fato 
contra a vítima (“roubo”). 
 
6ª Chave falsa (155, §4º, III): 
- é todo instrumento, com ou sem forma de chave, destinadoa abrir fechaduras; 
Qualquer instrumento, com ou sem formato de chave, capaz de abrir uma 
fechadura (ou dispositivo análogo) sem arrombá-la. Abrange os instrumentos 
que têm outra finalidade, mas que também podem abrir a fechadura dependendo 
da habilidade do agente, como, clipe de papel, grampo de cabelo, chave de 
fenda, e, principalmente, aqueles que os próprios ladrões confeccionam para 
servir efetivamente como chave falsa e que são chamados de mixas ou gazuas. 
 
- utilização de chave verdadeira obtida por fraude. 
A imitação da verdadeira feita clandestinamente, ou seja, sem o conhecimento 
e autorização da vítima. Assim, se um empregado se apossa da chave 
verdadeira, faz uma cópia clandestina em um chaveiro e, em seguida, põe a 
verdadeira de volta no local onde estava, para, no fim de semana, quando o 
patrão estiver viajando, abrir a porta da casa com a cópia e cometer o furto, 
incide na figura qualificada. 
 
7ª Concurso de pessoas (155, §4º, IV): 
- é cabível ainda que um dos sujeitos seja menor ou que apenas um deles seja 
identificado; 
A qualificadora é cabível ainda que um dos envolvidos seja menor de idade ou 
que apenas um dos envolvidos tenha sido identificado em razão da fuga dos 
demais do local. Assim, para aplicar a qualificadora, não é necessário que o juiz 
condene duas ou mais pessoas na sentença, exigindo-se, contudo, prova de que 
havia outras pessoas envolvidas. 
 
- conflito com o crime do art. 288; 
É admissível o concurso entre os crimes de quadrilha (art 288 do CP) e de furto 
qualificado pelo concurso de pessoas, não se configurando bis in idem. 
Precedentes: O crime de quadrilha se consuma pela simples associação e não 
pelo resultado da participação conjunta das pessoas associadas, de forma que 
num roubo ou num furto praticado por membros de uma quadrilha só respondem 
os que efetivamente participaram do delito. 
 
DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA 
- (Nelson Hungria e Celso Delmanto) São necessárias pelo menos duas pessoas 
executando a subtração. 
Entendem que a qualificadora somente se aplica quando há duas pessoas 
executando diretamente a subtração, pois, somente nesse caso existiria maior 
dificuldade da vítima na defesa de seu patrimônio. 
 
- (Damásio e Heleno Fragoso) atinge todas as pessoas envolvidas na infração 
penal, ainda que não tenham praticado atos executórios e mesmo que um só 
tenha estado no local do delito. 
Interpretam que a qualificadora atinge todas as pessoas envolvidas na infração 
penal, ainda que não tenham praticado atos executórios e mesmo que uma só 
tenha estado no local do crime realizando ato de subtração. 
 
Corrente majoritária: Em primeiro lugar, porque não é verdade que apenas a 
existência de duas ou mais pessoas no local torna mais fácil a subtração. Veja-
se, por exemplo, o caso do empregado doméstico que deixa a janela da casa 
destravada e passa a informação ao executor, informando-lhe, inclusive, os 
locais onde as joias estão escondidas e o horário em que a casa estará vazia. O 
empregado é partícipe porque, embora não esteja no local no momento da 
subtração, é inegável que sua colaboração é essencial para o crime. Não é 
correto diminuir a importância do partícipe. 
 
8ª Furto qualificado de veículo automotor (155, §5º): 
Veículo automotor: Abrange aeronaves, automóveis, caminhões, lanchas, jet-
skis, motocicletas etc. Código de Trânsito Brasileiro, Lei n.9.503, de 23 de 
setembro de 1997, Anexo I (DOU, 24 set. 1997, p. 21229) — conceito de 'veículo 
automotor': 'todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios 
meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, 
ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e 
coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que 
não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)'. 'Art. 96: Os veículos classificam-se 
em: I — quanto à tração: a) automotor; b) elétrico; c) de propulsão humana; d) 
de tração animal; e) reboque ou semirreboque.' Veículo automotor é todo aquele 
que não se enquadra nas alíneas b a e.” (Damásio). 
 
- Requisitos 
 - O objeto material subtraído deve ser veículo automotor; 
Esse parágrafo foi inserido no Código Penal pela Lei n. 9.426/96. A qualificadora 
tem como objeto qualquer veículo automotor — automóvel, motocicleta, van, 
caminhão, trator, ônibus, aeronave, lancha etc. Não incide, contudo, quando se 
trata apenas do transporte de alguma de suas peças. 
 - O veículo deve ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
Para a configuração da qualificadora, é necessário que exista, já no momento da 
subtração, intenção de transportar o veículo para um dos locais que a lei 
menciona; contudo, de acordo com o próprio texto legal, pode-se concluir que a 
qualificadora só se aperfeiçoa se o agente efetivamente transpuser a divisa com 
outro Estado ou a fronteira com outro país. É que o dispositivo diz que a pena 
será maior se o veículo vier a ser transportado para outro Estado ou para o 
exterior. 
- Momento da qualificadora (2 correntes): 
- qualifica-se o delito a partir do momento em que o veículo é conduzido 
na direção de outro país ou estado; 
Nessas circunstâncias, é impossível, em regra, reconhecer a tentativa da figura 
qualificada quando, por exemplo, um indivíduo é preso, no mesmo Estado, 
dirigindo um veículo furtado. 
 - exige que o veículo tenha transposto a fronteira; 
Com efeito, quando o agente pratica a subtração de um veículo automotor, em 
princípio é impossível saber, com segurança, se será transportado para outro 
Estado ou para fora do território nacional. Assim, essa qualificadora somente se 
consuma quando o veículo ingressa efetivamente em outro Estado ou em 
território estrangeiro. 
 
- Contrato exclusivo de transporte. 
A pessoa que é contratada após a consumação do furto para levar o veículo para 
outro Estado ou país é considerada receptadora. Os furtadores que a 
contrataram responderão pelo furto qualificado. 
 
5. FURTO DE COISA COMUM (156): 
Trata-se de modalidade especial do crime de furto, distinguindo-se deste pela 
especial relação existente entre os sujeitos ativo e passivo e pelo objeto da 
subtração, que deve ser comum a ambos os sujeitos. Em outros termos, bem 
jurídico tutelado são a posse legítima e a propriedade de coisa comum, isto é, 
pertencente aos sujeitos ativo e passivo, simultaneamente. 
 
- possui o mesmo núcleo do furto simples. 
A ação típica, a exemplo do artigo anterior, é “subtrair”; apenas o objeto material 
do crime a ser subtraído, em vez de coisa alheia, deve ser coisa comum, de 
quem legitimamente a detém. O conceito de subtração é exatamente o mesmo 
que procuramos externar quando examinamos crime de furto. Logicamente, para 
tipifïcar-se o furto de coisa comum, faz-se necessário que esta se encontre 
legitimamente na detenção de outrem; encontrando-se, contudo, na posse do 
agente, o crime será o de apropriação indébita (art. 168); havendo, porém, 
emprego de violência ou grave ameaça, o crime será o de roubo, a despeito de 
sua natureza comum. 
 
5.1. Sujeito ativo (crime próprio); 
Em relação ao sujeito ativo, contudo, deve-se ressaltar sua natureza de crime 
próprio, que só pode ser cometido por condômino (de bem móvel), coerdeiro e 
sócio. Em relação a este último, diverge a doutrina acerca da possibilidade de 
aplicação do art. 156 ao sócio de sociedade com personalidade jurídica que 
subtrai bem que pertence à empresa 
 
5.2. Sujeito passivo (é quem detêm legitimamente a coisa); 
Sujeito passivo, por óbvio, é o condômino, coerdeiro ou sócio, ou eventualmente, 
terceira pessoa que, legitimamente, detinha o bem. Se a detenção era ilegítima, 
o fato é atípico. A legitimidade da detenção é o elemento normativo do crime. 
 
5.3. Objeto material; 
O objeto material desse crime é somente a coisa comum, de natureza móvel, 
pois, embora otipo penal não mencione expressamente, apenas esta pode ser 
subtraída. 
 
5.4. Ação penal; 
O legislador, considerando que nas hipóteses desse artigo as partes muitas 
vezes são parentes ou amigos próximos, decidiu que a ação penal é pública, 
mas depende de representação. Se forem várias, basta que uma ofereça 
representação para que esteja autorizada a propositura da ação penal pelo 
Ministério Público. 
 
5.5. Causa especial de exclusão de antijuridicidade (§2º): 
- Requisitos: 
 - Que a coisa comum seja fungível; 
Coisa fungível é aquela que pode ser substituída por outra da mesma espécie, 
quantidade e qualidade. 
 - Que o valor não exceda a quota que tem direito o sujeito. 
Para que fique afastado o crime, é necessário que o montante subtraído não 
tenha excedido a quota-parte do agente, pois, nesse caso, não terá causado 
prejuízo econômico ao sócio, coerdeiro ou condômino. Suponha-se que o pai 
tenha morrido e que dois filhos tenham herdado dez mil sacas de café que 
estavam depositadas na propriedade de um deles. 
 
ATENÇÃO!!! 
Tipo subjetivo: 
adequação típica O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, que é seu elemento 
subjetivo geral, e pelo especial fim de agir, que é seu elemento subjetivo 
especial. O dolo é constituído pela vontade consciente de subtrair coisa comum, 
isto é, que seja objeto de comunhão, seja com sócio, condômino ou coerdeiro. 
O elemento subjetivo especial do tipo, por sua vez, é representado pelo fim 
especial de apoderar-se da coisa subtraída, para si ou para outrem. 
É indispensável, por fim, que o agente saiba que se trata de coisa comum. 
Quando, no entanto, o agente, por erro, supuser que a coisa comum é alheia, 
responderá igualmente pelo crime de furto comum. 
Essa interpretação se justifica porque não se poderia, por erro, atribuir-lhe a 
responsabilidade por um crime mais grave que aquele que efetivamente 
cometeu. Contudo, se subtrair coisa própria imaginando que era comum, não 
responderá por crime algum. Estar-se-á diante do que se chama de crime 
putativo, que, evidentemente, crime não é. 
 
DIREFENÇAS 
 
 Furto / roubo: o 1° é crime simples, tem apenas um objeto material, que 
é a coisa, enquanto o 2° é crime complexo, tem 2 objetos materiais, a 
coisa e a pessoa. 
 Furto qualificado (destruição ou rompimento de obstáculo) / roubo: 
no 1° a violência é praticada contra coisa (obstáculo), enquanto no 2° ela 
é praticada contra pessoa. 
 Furto qualificado (fraude) / estelionato: no 1° a fraude é empregada 
para iludir a atenção ou vigilância do ofendido, que nem percebeu que a 
coisa lhe está sendo subtraída; enquanto que no 2°, a fraude antecede o 
apossamento da coisa e é a causa de sua entrega ao agente pela vítima. 
 Furto / estelionato: no 1° o agente subtrai a coisa da vítima, enquanto 
que no 2° ela entrega a coisa mediante fraude. 
 Furto / apropriação indébita: no 1° o agente subtrai a coisa da vítima, 
enquanto que no 2° ele tem a posse da coisa e depois se apropria dela. 
 A pessoa que devolve intencionalmente troco errado para outra, 
prática o crime de “furto”. 
CAPÍTULO II 
DO ROUBO E DA EXTORSÃO 
 
1. ROUBO (157): 
 
1.1. Conceito: 
- é a subtração de coisa alheia móvel, mediante violência, grave ameaça ou 
qualquer meio capaz de anular a capacidade de resistência da vítima. 
Trata-se de crime complexo, tendo como elementares constitutivas a descrição 
de fatos que, isoladamente, constituem crimes distintos; protege, com efeito, 
bens jurídicos diversos: o patrimônio, público ou privado, de um lado, e a 
liberdade individual e a integridade física e a saúde, que são simultaneamente 
atingidos pela ação incriminada 
1.2. Objetividade jurídica: 
- patrimônio e a liberdade individual ou integridade corporal. 
Com efeito, separando-se as condutas, podem-se identificar, com facilidade, 
dois crimes distintos: 
a) Contra o patrimônio, como gênero, são protegidas, como espécie, a 
posse, a propriedade e a detenção, a exemplo do que ocorre com o crime 
de furto; 
b) Contra a pessoa, como gênero, são protegidas a liberdade individual 
(quando praticado mediante grave ameaça) e a integridade física e 
psíquica do ser humano, como espécies. 
 
1.3. Formas típicas simples: 
- roubo próprio (caput); 
No roubo próprio (caput) a violência ou grave ameaça (ou a redução da 
impossibilidade de defesa) são praticadas contra a pessoa para a subtração da 
coisa. Os meios violentos são empregados antes ou durante a execução da 
subtração, pois representam, em outros termos, o modus operandi de realização 
da subtração de coisa alheia móvel, que, aliás, é a única e fundamental diferença 
que apresenta em relação ao crime de furto. 
- roubo impróprio (§1º). 
No roubo impróprio a violência ou grave ameaça são praticadas, logo depois da 
subtração, para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa 
subtraída. Não há roubo impróprio sem a subtração anterior da coisa móvel, 
seguindo-se a grave ameaça ou violência para garantir a detenção da res furtiva. 
Essa modalidade está capitulada no § 1º do art. 157. São exemplos típicos de 
roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do portão com a 
res furtiva, alcançado pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, então, 
já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, 
retornando para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando 
(garantindo a impunidade). 
 
1.4. Furto consumado e após a violência; 
O legislador, ao tipificar o crime de roubo impróprio, tinha em mente tratar o fato 
delituoso desta forma, em razão de, no mesmo contexto fático, ocorrer a soma 
de dois fatores: subtração e violência ou grave ameaça. Firmou-se, dessa forma, 
entendimento de que, se o crime de furto se consumou, por ter o agente 
conseguido deixar o local do crime tranquilamente, a violência ou grave ameaça 
empregadas em contexto fático diverso constitui crime autônomo em concurso 
material com o furto consumado. 
1.5. Distinção entre roubo e furto qualificado pela violência; 
Roubo: se a finalidade do agente ao agredir ou ameaçar a vítima é a de 
concretizar a subtração, responde por roubo próprio porque a violência ou grave 
ameaça foram empregadas antes de perpetrada a subtração; 
Furto qualificado: se sua finalidade ao agredir ou ameaçar a vítima é fugir do 
local sem ser preso, responde por tentativa de furto em concurso material com 
crime de lesão corporal ou ameaça (agravadas porque empregadas a fim de 
garantir a impunidade de outro crime — art. 61, II, b, do Código Penal). 
 
1.6. Sujeito ativo; 
Sujeito ativo, a exemplo do crime de furto, pode ser qualquer pessoa (crime 
comum), menos o proprietário, por faltar-lhe a elementar coisa “alheia”. Se este 
praticar a subtração poderá responder por exercício arbitrário das próprias 
razões, dependendo das circunstâncias e do elemento subjetivo que orientar sua 
conduta, além de incorrer nas sanções correspondentes à violência empregada. 
 
1.7. Sujeito passivo: 
- Regra (titular da posse ou da propriedade); 
Sujeito passivo também pode ser o proprietário, o possuidor e, eventualmente, 
o mero detentor da coisa, ou até mesmo terceiro que sofra a violência 
 
- Exceção (quem sofre a violência). 
Nessa hipótese, haverá dois sujeitos passivos: um em relação ao patrimônio e 
outro em relação à violência, ambos vítimas de roubo, sem, contudo, dividir a 
ação criminosa, que continua única. As duas vítimas — do patrimônio e da 
violência — estão intimamente ligadas pelo objetivo final do agente: subtração e 
apossamento da coisa subtraída. 
 
1.8. Violência no Roubo: 
- Própria (com emprego de força física); 
Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. 
Para caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra 
lesão corporal leve ou simples vias de fato, na medida emque lesão grave ou 
morte qualifica o crime. 
 
- Imprópria (emprego de qualquer outro meio, salvo a grave ameaça); 
Essa violência pode ser produzida pela própria energia corporal do agente, que, 
no entanto, poderá preferir utilizar outros meios, como fogo, água, energia 
elétrica (choque), gases etc. 
 
- Imediata (contra o titular do direito de propriedade ou posse); 
A violência poderá ser imediata, quando empregada diretamente contra o próprio 
ofendido, 
 
 - Mediata (contra um terceiro); 
Mediata, quando utilizada contra terceiro ou coisa a que a vítima esteja 
diretamente vinculada. 
 
- Física; 
Com a utilização de meio apto a lesionar, a causar uma alteração no estado de 
integridade física da pessoa 
- Moral. 
“violência moral”; é a vis compulsiva, que exerce força intimidativa, inibitória, 
anulando ou minando a vontade e o querer do ofendido, procurando, assim, 
inviabilizar eventual resistência da vítima. Na verdade, a ameaça também pode 
perturbar, escravizar ou violentar a vontade da pessoa, como a violência 
material. A violência moral pode materializar-se em gestos, palavras, atos, 
escritos ou qualquer outro meio simbólico. 
 
1.9. Objetos materiais: 
- pessoa humana; 
- coisa alheia móvel. 
Com efeito, o núcleo típico é, igualmente, subtrair, para si ou para outrem, coisa 
alheia móvel. O roubo distingue-se do furto exclusivamente pela violência, real 
ou ficta, utilizada contra a pessoa. No furto qualificado pela destruição ou 
rompimento de obstáculo a violência é praticada contra a coisa; no roubo, é 
contra a pessoa. Enfim, tudo o que dissemos a respeito do crime de furto, com 
exceção do meio usado, aplica-se ao crime de roubo. 
 
1.10. Que crime pratica o sujeito que emprega violência contra pessoa que 
esqueceu a carteira? 
- Inexistência da elementar; 
Se o agente emprega violência contra uma pessoa com a intenção de subtrair a 
carteira que a vítima esqueceu, não há que se falar em roubo por inexistência da 
elementar “coisa alheia móvel”. No entanto, subsistirá o crime contra a pessoa. 
 
- Impropriedade relativa (carteira no outro bolso). 
"Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por 
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime." 
Se havia algum objeto, algum bem, uma carteira, ainda que vazia, em outro bolso 
do passageiro, então a impropriedade do objeto era relativa, configurando então 
a tentativa de furto. 
 
 
1.11. Elementos subjetivos: 
- Dolo; 
O elemento subjetivo do tipo é o ânimo de ter para si coisa móvel pertencente a 
terceiros. 
- Intenção de posse definitiva; 
Essa vontade de subtrair traz consigo a intenção assenhoramento definitivo. 
- §1º finalidade especial. 
Fim especial de apoderar-se da coisa subtraída, para si ou para outrem. 
 
1.12. Consumação: 
A consumação do crime de roubo se perfaz no momento em que o agente se 
torna possuidor da res furtiva, subtraída mediante violência ou grave ameaça, 
independentemente de sua posse mansa e pacífica. Ademais, para a 
configuração do roubo, é irrelevante que a vítima não porte qualquer valor no 
momento da violência ou grave ameaça, visto tratar-se de impropriedade relativa 
e não absoluta do objeto, o que basta para caracterizar o delito em sua 
modalidade. 
- roubo próprio; (consuma-se com a retirada da coisa da esfera de 
disponibilidade da vítima) 
 No roubo próprio, a violência e a grave ameaça constituem meio para o 
agente subjugar a vítima e viabilizar a subtração. São, portanto, emprega
das antes e durante a subtração. 
 O roubo próprio pode ser cometido mediante violência, grave ameaça ou 
qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade de resistência 
(violência imprópria) 
 
- roubo impróprio. (consuma-se com o emprego da violência ou grave ameaça à 
pessoa, após a subtração) 
 No roubo impróprio, o agente queria inicialmente cometer apenas um furto 
e já havia, inclusive, se apoderado do bem visado, contudo, logo após a 
subtração, ele emprega violência ou grave ameaça a fim de garantir sua 
impunidade ou a detenção do referido bem. 
 O roubo impróprio, por sua vez, não admite a fórmula genérica por último 
mencionada, somente podendo ser cometido pelo emprego de violência 
física ou grave ameaça. Alguns autores criticam essa postura do 
legislador e dizem ser possível que o agente, após se apoderar de algum 
bem da vítima, coloque, por exemplo, sonífero em sua bebida. Tal crítica, 
entretanto, não tem efeitos práticos, na medida em que o § 1º do art. 157 
do Código Penal não menciona essa forma de execução e, portanto, não 
é capaz de configurar roubo impróprio. Ademais, não se consegue 
imaginar que alguém que tenha ido cometer um furto traga consigo um 
sonífero, sendo, em nosso entendimento, acertada a opção do legislador. 
 
1.13. Tentativa: 
 
- próprio (admite); 
Quanto ao roubo próprio, é tranquila a admissibilidade da tentativa. 
- impróprio (não admite). 
Em relação a o roubo impróprio há duas correntes: 
1) é inadmissível a tentativa; (majoritária) 
2) é admissível quando, após a subtração, o agente é preso ao empregar a 
violência ou grave ameaça. 
Em termos jurisprudenciais, pode-se ressaltar que os Tribunais Superiores 
firmaram entendimento de que não se admite tentativa de roubo impróprio. 
A propósito: “Roubo impróprio. Consuma-se com o uso da violência imediata, 
visando assegurar a impunidade do crime. Não há que se falar em tentativa. 
Inteligência do § 1º, do art. 157 do Código Penal. Dissídio jurisprudencial. 
Recurso extraordinário conhecido e provido, para condenar-se o réu como 
incurso no art. 157, § 1º, do Código Penal” (STF — Re 102.391/SP — 2ª Turma 
— Rel. Min. Djaci Falcão — DJ 10.08.1984, p. 12.452); “Roubo impróprio. 
Consumação. O crime do art. 157, § 1º, do Código Penal não admite tentativa, 
tendo em vista que o momento consumativo é o emprego da violência” (STJ — 
REsp 46.275/SP — 5ª Turma — Rel. Min. Assis Toledo, DJ 20.03.1995, p. 
6.137); 
 
2. ROUBO CIRCUNSTANCIADO (§2º): 
- prevê a figura do roubo simples agravada por determinadas circunstâncias 
legais especiais ou específicas. 
Embora seja corriqueiro o uso das expressões “roubo qualificado pelo emprego 
de arma” ou “pelo concurso de agentes”, não há dúvida de que essas 
circunstâncias têm natureza jurídica de causas de aumento de pena, a serem 
aplicadas na terceira e última fase da fixação de pena (art. 68 do CP), já que lei 
fez menção a índices de acréscimo. As qualificadoras do roubo, em verdade, 
estão previstas no § 3º, do art. 157 — roubo qualificado pela lesão grave ou 
morte (latrocínio). 
 
2.1. Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma: 
Arma é todo objeto que tem poder vulnerante (potencialidade lesiva), isto é, 
capacidade de matar ou ferir. Como o texto legal não fez qualquer restrição, o 
aumento abrange o emprego de armas próprias ou impróprias. 
 Próprias: são os instrumentos feitos para ataque ou defesa — armas 
propriamente ditas — como as armas de fogo em geral, os punhais, as 
espadas, granadas etc. 
 Improprias: são os instrumentos feitos com outra finalidade qualquer, mas 
que também têm potencialidade lesiva, como navalha, faca de cozinha, 
canivete, foice, machado, martelo etc. 
 
- Não é suficiente que o sujeito porte um revólver; 
A tipificação legal condiciona a ser a violência ou grave ameaça “exercida” com 
o “emprego de arma”, e “empregá-la” significa uso efetivo, concreto, real, isto é, 
a utilização da arma no cometimento da violência. 
 
- É indispensável que a arma apresente idoneidade ofensiva; 
A inidoneidade lesiva da arma (de brinquedo, descarregada ou simplesmente à 
mostra), que pode ser suficiente para caracterizar a ameaça tipificadora do roubo 
(caput), não tem o mesmo efeito para qualificá-lo, a despeito do que pretendia a 
equivocada Súmula 174 do STJ, em boa hora revogada,atendendo a súplica 
unânime da doutrina nacional. Não se admiti a caracterização dessa majorante 
com o uso de arma inapta a produzir disparos, isto é, inidônea para o fim a que 
se destina. 
 
- A razão da circunstância reside na maior probabilidade de dano; 
O fundamento dessa majorante reside exatamente na maior probabilidade de 
dano que o emprego de arma (revólver, faca, punhal etc.) representa e não no 
temor maior sentido pela vítima. Por isso, é necessário que a arma apresente 
idoneidade ofensiva, qualidade inexistente em arma descarregada, defeituosa 
ou mesmo de brinquedo. Enfim, a potencialidade lesiva e o perigo que uma arma 
verdadeira apresenta não existem nos instrumentos antes referidos. 
 
- Arma de brinquedo. 
Como o legislador não se socorreu de nenhuma fórmula genérica, equiparando 
à arma “qualquer objeto capaz de intimidar”, é impossível admitir majoração do 
roubo ameaçado com brinquedo como se fosse com arma. O próprio Superior 
Tribunal de Justiça, por intermédio de suas duas Turmas com jurisdição em 
matéria criminal, capitaneado pelo Ministro Félix Fischer, movimentou-se no 
sentido de revogar a indigitada Súmula 174. Devemos saudar a sensibilidade, 
inteligência e, principalmente, bom-senso de nossos ministros. 
 
2.2. Se há concurso de duas ou mais pessoas (igual ao furto qualificado); 
Aplica-se o aumento ainda que o juiz condene uma só pessoa na sentença, 
desde que haja prova do envolvimento de outra, que não pode ser punida, por 
exemplo, por ser menor de idade, por ter morrido, por ter fugido e não ter sido 
identificada etc. O aumento incide tanto para coautores como para partícipes, 
mas existe divergência na doutrina em torno da hipótese em que uma só pessoa 
prática ato de execução. 
Ex.: um dos agentes aborda a vítima sozinho, enquanto o comparsa fica dentro 
de um carro esperando para auxiliar na fuga. A respeito da controvérsia, ver 
comentários ao art. 155, § 4º, do Código Penal, em que a conclusão majoritária 
é no sentido de admitir o aumento. 
 
2.3. Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece 
tal circunstância: 
- Não importa a natureza do valor; 
Além de a vítima encontrar-se realizando o serviço de transporte de valores, é 
necessário que o agente saiba dessa circunstância, pois o objetivo da lei é tutelar 
exatamente a segurança desse transporte. Assim, o que caracteriza essa 
majorante não é a natureza móvel dos valores, mas o ofício do sujeito passivo, 
isto é, encontrar-se em serviço de transporte de valores. 
 
- Exige-se que o sujeito esteja a serviço de outrem. 
A majorante é estar a vítima “em serviço de transporte de valores”; como 
“serviço” sempre se presta a outrem, e não a si próprio, isso significa que os 
valores transportados por quem se encontra em “serviço” não são próprios, mas 
de terceiro, que é o dono ou proprietário de tais valores. Logo, sendo roubado o 
próprio dono ou proprietário, quando se encontra transportando valores, não 
incide a majorante. 
 
2.4. Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado 
para outro estado ou para o exterior. 
Tal como ocorre com a qualificadora do furto, essa causa de aumento só se 
aperfeiçoa quando o agente cruza a divisa com outro Estado ou a fronteira com 
outro país (a esse respeito ver comentários anterior). O dispositivo abrange o 
roubo de automóveis, tratores, motocicletas, caminhões, aeronaves, 
embarcações etc. 
Quando, porém, essa majorante concorrer com qualquer das demais previstas 
no mesmo parágrafo — que será a regra neste tipo de crime —, perderá, 
praticamente, sua razão de ser, pois acabará funcionando somente como 
circunstância judicial (art. 68, parágrafo único), uma vez que não prevista como 
agravante. Afinal, pontifica Damásio de Jesus (Direito Penal, v. 2, p. 343): “Ora, 
o crime de roubo de veículo automotor, geralmente automóvel, ainda que para 
transporte para outro Estado ou para o exterior, normalmente é cometido com 
emprego de arma e mediante concurso de pessoas (art. 157, § 2º, I e II). Diante 
disso, o novo tipo surtirá pouco efeito prático...”. 
 
2.5. Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade: 
O dispositivo em análise refere-se à restrição de liberdade, que não se confunde 
com privação de liberdade — elementar do crime de sequestro ou cárcere 
privado (Arts. 148 e 159). Esta é mais duradoura, exige que a vítima seja mantida 
em poder do sequestrador por tempo juridicamente relevante. Na restrição da 
liberdade, por outro lado, a vítima é mantida em poder do roubador por poucos 
minutos. 
 
- Sequestro cometido como meio de execução do roubo ou contra ação policial; 
Visto que dificilmente deixa de vir acompanhada de outra majorante prevista no 
mesmo parágrafo —, conclui que a majoração deve ser interpretada da seguinte 
forma: 
a) sequestro cometido como meio de execução do roubo ou contra a ação 
policial: incide o art. 157, § 2º, afastado o concurso de crimes; 
b) sequestro praticado depois da subtração (sem conexão com a 
execução ou com a ação policial): concurso de crimes”. 
- Sequestro praticado após a subtração (concurso de crimes). 
Entende-se que o concurso é material porque os roubadores permanecem com 
a vítima após se apossarem do bem, ou seja, após a consumação do crime de 
roubo, de modo que a privação da liberdade posterior é entendida como nova 
ação. 
 
OBS. 
- As circunstâncias do §2º não são aplicáveis aos fatos descritos no §3º; 
- Trombada 
 
- Concurso de crimes: 
a) Assalta várias pessoas, mais subtrai bens apenas de uma (1 delito); 
b) Assalta uma pessoa, mas os bens pertencem a várias pessoas (1 delito); 
c) Assalta várias pessoas e leva bens de todos, no mesmo contexto fático. 
Ex.: O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito passageiros 
entreguem seus pertences: O agente irá responder por oito roubos majorados 
(art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art. 70). Atenção: não se trata, 
portanto, de crime único! 
 
Ocorre concurso formal quando o agente, mediante uma só ação, pratica crimes 
de roubo contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, eis que 
caracterizada a violação a patrimônios distintos. Precedentes. (...) 
(HC 207.543/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 17/04/2012) 
 
3. Roubo qualificado pelo resultado – Latrocínio (§3º): 
As lesões graves que qualificam o roubo são aquelas descritas no art. 129, §§ 
1º e 2º, do Código Penal. A provocação de lesão leve em decorrência da 
violência empregada fica absorvida pelo crime de roubo, na medida em que o 
texto legal não a menciona como forma qualificada tampouco ressalva a sua 
autonomia, tal como ocorre em outros delitos. 
As qualificadoras — lesão grave ou morte — aplicam-se tanto ao roubo próprio 
quanto ao impróprio. Por outro lado, o reconhecimento da figura qualificada 
afasta a possibilidade de aplicação das causas de aumento do § 2º. Justifica-se 
esse entendimento pelo fato de as penas em abstrato das formas qualificadas já 
serem muito maiores. Além disso, o legislador, ao elencar as causas de aumento 
no § 2º, estaria indicando sua intenção de restringi-las às figuras simples do 
roubo que a antecedem (roubo próprio e impróprio — caput e § 1º). 
 
1.1. Lesão grave em sentido amplo; 
O § 3º do art. 157 dispõe: “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena 
é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além de multa, compreendendo 
tanto lesões graves, como também gravíssimas. 
 
3.2. Lesão pode ser dolosa ou culposa; 
A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre 
produto de culpa. Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das 
sanções cominadas uniu o entendimento doutrinário, que passou a admitir a 
possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador poder decorrer tanto de 
culpa quanto de dolo, direto ou eventual.3.3. Lesão leve; 
A provocação de lesão leve em decorrência da violência empregada fica 
absorvida pelo crime de roubo, na medida em que o texto legal não a menciona 
como forma qualificada tampouco ressalva a sua autonomia, tal como ocorre em 
outros delitos. 
 
ATENÇÃO 
É indiferente que o resultado mais grave seja voluntário ou involuntário, 
justificando-se a agravação da punibilidade desde que esse resultado não seja 
produto de caso fortuito ou força maior, ou seja, desde que decorra, pelo menos 
de culpa; aplica-se, indistintamente, tanto ao roubo próprio quanto ao impróprio. 
Ademais, a violência tanto pode ser praticada contra a vítima da subtração como 
contra terceira pessoa, como acontece normalmente no roubo comum. 
 
3.4. Latrocínio (§3º, 2ª parte); 
É a figura conhecida como latrocínio, que se dá quando o agente provoca a 
morte da vítima durante o roubo. 
- O sujeito mata para subtrair bens da vítima; 
A morte da vítima é a qualificadora máxima deste crime. Tudo o que dissemos 
sobre o roubo qualificado pelas lesões corporais graves aplica-se ao roubo com 
morte. Exatamente como na lesão grave, a morte pode resultar em outra pessoa 
que não a dona da coisa subtraída, havendo, igualmente, dois sujeitos passivos. 
Poderia o legislador ter adotado o nomen juris “latrocínio”; não o fez, 
provavelmente, porque preferiu destacar que, a despeito dessa violência maior 
— lesão grave ou morte —, o latrocínio continua sendo roubo, isto é, um crime, 
na essência, de natureza patrimonial. 
 
- Crime hediondo; 
De acordo com o art. 1º, II, da Lei n. 8.072/90, o latrocínio, consumado ou 
tentado, é crime hediondo. Já o roubo qualificado pela lesão grave não tem essa 
natureza por ausência de menção em referida lei. Por ser crime hediondo, o autor 
do latrocínio não pode obter anistia, graça ou indulto. A progressão para regime 
mais brando só pode ocorrer após o cumprimento de 2/5 da pena, se o 
condenado for primário, e 3/5, se reincidente. Além disso, a obtenção do 
livramento condicional só é admitida se cumpridos 2/3 da pena e apenas se o 
agente não for reincidente específico. 
 
- A morte pode ser dolosa ou culposa; 
Observando-se a sistemática de nosso Código Penal, constata-se que o art. 157, 
§ 3º, pretendeu tipificar um crime preterdoloso, uma vez que a locução utilizada, 
“se resulta”, indica, normalmente, resultado decorrente de culpa, e não meio de 
execução de crime, no caso roubo próprio ou impróprio, sendo portando para o 
legislador, indiferente o dolo em relação ao resultado morte. 
 
- Tentativa de Latrocínio: 
a) morte e subtração consumada; 
Nessa hipótese, é pacífico o entendimento de que há o latrocínio consumado, 
uma vez que os dois delitos-membros do crime complexo foram realizados na 
sua plenitude. 
 
b) morte tentada e subtração consumada; 
O ladrão usa de violência querendo matar a vítima, mas não consegue atingir 
seu intento. Comete tentativa de latrocínio, ainda que a vítima sofra lesão de 
natureza grave. São apresentadas duas soluções: 
a) tentativa de latrocínio (STF); A doutrina é quase unânime em entender 
que na situação em apreço haverá latrocínio tentado. Dessa tese, 
compartilham, dentre outros: Mirabete , Capez , Noronha e Nucci . 
O entendimento predominante dos tribunais também é nesse sentido: 
“Caracteriza tentativa de latrocínio a conduta do agente que ante a reação 
do ofendido, efetua quatro disparos com arma de fogo que usou para 
ameaçá-lo, não conseguindo, por circunstâncias alheias à sua vontade, 
atingi-lo, apesar de subtrair-lhe a carteira” (TACRIM – SP – Ap. – Rel. 
Márcio Bártoli – j. 16.09.1998 – RJTACrim 41/218) . 
 
b) tentativa de homicídio qualificado (pela finalidade) – Damásio de Jesus 
 
c) morte tentada e subtração tentada; 
Tentativa de latrocínio (STF). “Latrocínio – tentativa – caracterização – Vítima 
que foge da cena do crime. Réu que faz vários disparos contra esta, errando o 
alvo. Crime patrimonial que não se consumou por circunstâncias alheias à 
vontade dos agentes. Como a violência característica se traduziu, com clareza e 
nitidez, numa tentativa de homicídio, o crime a reconhecer é o latrocínio tentado” 
(TACRIM – SP – AC 935.981 – Rel. Régio Barbosa – RT 720/480) . 
 
d) morte consumada e subtração tentada: 
- tentativa de latrocínio; 
 - Doutrinariamente é a posição mais correta, eis que se trata de crime 
complexo cuja finalidade é patrimonial, no entanto, a pena ficaria menor que a 
do homicídio qualificado. 
Ora, se um dos elementos objetivos do tipo não se consuma, estaremos diante 
de uma autêntica tentativa. Contraria nosso sistema penal protecionista fazer 
interpretações extensivas em desfavor do réu. Por isso, a aplicação das penas 
da tentativa de latrocínio parece ser a solução mais adequada. 
Nesse caso, a resposta penal não necessariamente será igual à hipótese de 
subtração e morte tentadas. Como o bem jurídico vida – registre-se: bem jurídico 
mais importante tutelado pelo Direito - foi violado com maior intensidade, haja 
vista a consumação da morte, o iter criminis teve um percurso maior, devendo a 
diminuição de pena de que trata o parágrafo único do artigo 14 do codex ser 
considerada no seu grau mínimo, ou seja, a pena deverá ser diminuída de 
apenas 1/3 (um terço). 
 
 
- homicídio qualificado em concurso com tentativa de roubo; 
 - Trata-se de posição isolada na jurisprudência, sem qualquer respaldo 
doutrinário, bem como, elevaria a pena acima do latrocínio consumado. Noronha 
prega que seja aplicada a sanção por homicídio qualificado em concurso formal 
com a tentativa de roubo. Novamente há um desmembramento do crime 
complexo, utilizando de figuras penais não aplicáveis ao caso concreto, 
contrariando os princípios da especialidade e da legalidade estrita. A posição do 
saudoso penalista encontra-se ultrapassada pela doutrina atual. 
 
- homicídio qualificado; 
 - Tenta corrigir a posição anterior em relação a pena, porém, esquece da 
finalidade do agente. 
Outra corrente jurisprudencial tem entendido ser caso de aplicação das penas 
concernentes ao homicídio qualificado (CP, artigo 121, § 2º, V), o que parece ser 
uma decisão menos acertada ainda, já que estaria afrontando o princípio da 
especialidade, desclassificando um delito essencialmente patrimonial para o 
campo dos crimes contra a vida. Nesse caso, se supervaloriza o resultado, em 
detrimento da ação e da vontade do agente 
 
- latrocínio consumado (Súmula 610 do STF - Há crime de latrocínio, quando o 
homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da 
vítima). Esse entendimento vem cristalizado na súmula 610 do Colendo STF: 
“Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize 
o agente a subtração dos bens da vítima”. Diante da aludida súmula, a 
jurisprudência majoritária acaba impondo apenamento do latrocínio consumado. 
Também compartilham desse entendimento: Mirabete , Nucci e Damásio de 
Jesus . 
 
OBS. 
- competência para o julgamento; 
A competência para julgar o crime de latrocínio, a despeito de um dos crimes-
membros ser contra a vida, é do juiz singular. Essa opção político-criminal foi 
feita pelo legislador brasileiro de 1940 e tem sido respeitada pela legislação 
posterior, pela doutrina e jurisprudência brasileiras. 
 
- mais de uma morte (59); 
Apesar de o latrocínio ser um crime complexo, mantém sua unidade estrutural 
inalterada, mesmo com a ocorrência da morte de mais de uma das vítimas. A 
pluralidade de vítimas não configura continuidade delitiva e tampouco qualquer 
outra forma de concurso de crimes, havendo, na verdade, um único latrocínio. A 
própria orientação do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que a 
pluralidade de vítimas não implica a pluralidade de latrocínios (Precedentes do 
STF: HC, Rel. Min. Carlos Velloso, RT, 734:625; HC 75006-l/SP , Rel. Maurício 
Corrêa, j. 27-5-1997).Não se pode ignorar que o crime-fim inicialmente 
pretendido foi o de roubo e não um duplo ou triplo latrocínio, ou melhor, não duas 
ou três mortes. A ocorrência de mais de uma morte não significa a produção de 
mais de um resultado, que, em tese, poderia configurar o concurso formal de 
crimes. Na verdade, a eventual quantidade de mortes produzidas em um único 
roubo representa a maior ou menor gravidade das consequências, cuja 
valoração tem sede na dosimetria penal, por meio das operadoras do art. 59 do 
Código Penal. 
 
- morte de terceiros; 
Haverá latrocínio quem quer que seja a vítima fatal: o dono do bem subtraído, 
uma namorada ou amigo do dono do bem roubado, um segurança ou guarda-
noturno, um empregado do estabelecimento roubado, um policial etc. 
 
- morte do autor do roubo. 
Não haverá latrocínio, por sua vez, quando a própria vítima reage e mata um dos 
assaltantes. A eventual morte de comparsa em virtude de reação da vítima, que 
age em legítima defesa, não constitui ilícito penal algum, sendo paradoxal 
pretender, a partir de uma conduta lícita da vítima, agravar a pena dos autores. 
 
EXCEÇÃO 
Existe, porém, uma exceção, que se mostra presente quando um dos 
assaltantes, durante o roubo, mata o comparsa em razão de alguma desavença 
ligada ao crime. Nesse caso, como a pessoa morta é uma das autoras do roubo, 
não pode ser considerada, concomitantemente, vítima do mesmo crime — roubo 
qualificado pela morte (latrocínio). 
O sobrevivente responde por homicídio em concurso material com roubo. 
Ressalte-se, todavia, que, se o agente efetuou disparo querendo matar a vítima 
e, por erro de pontaria, matou o comparsa, responde por crime de latrocínio, 
porque, na hipótese, houve aberratio ictus, e, em tal caso, o art. 73 do Código 
Penal prevê que o agente deve ser punido como se tivesse matado quem 
pretendia.

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