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FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER Editor responsável Wilhelm Hofmeister Coordenadora editorial Cristiane Duarte Daltro Santos FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Marcos Macari Diretor-Presidente José Castilho Marques Neto Editor Executivo ,J"7io Hern8ni Bomfim Gutierre Conselho Editorial Acadêmico Antonio Celso Ferreira Cláudio Antonio Rabello Coelho Elizabeth Berv"erth Stucchi Kester Catrara Maria do Rosário Longo Mortatti Maria Encarnação Beltrão Sposito Maria Heloísa Martins Dias Mario Fernando Bolognesi Paulo Josó Brando SantiJli Rollerlo A;1dré Kraenkel Editores i\ssistentes /~nderscjn Nobara Denise :<atchuian Dognini Dida BesséJn.:=: -- Sistema Político Brasileiro: Ulna introdução ORGANIZADORES: LÚCIA A VELAR ANTÔNIO OCTÁVIO CINTRA editora unesp Capítulo 4 Os partidos políticos 1 DAVID FLEISCHER ° Brasil é uma federação com 26 esta- dos e um Distrito Federal, com eleições di- retas em três níveis (federal, estadual e mu- nicipal). Tem eleições de dois em dois anos não totalmente coincidentes, e as eleições municipais são defasadas das eleições gerais. Para compreender o sistema partidário brasileiro atual, temos que buscar suas raízes no período pós-1945. Nestes últi- mos quase 60 anos, o sistema partidário sofreu dois "realinhamentos" forçados pelo regime militar, em 1965-1966 e em 1979- 1980. Com o retorno aos governos civis em 1985, o sistema partidário passou por uma grande expansão até 1993, quando se iniciou um certo "encolhimento". Mas, o sistema fragmentou-se de novo no final dos anos 90, com 18 partidos, elegendo pelo menos um deputado em 1998 e 2002, e 21 em 2006. Diferentemente dos outros regimes mi- litares no Cone Sul (Chile, Uruguai e Argen- tina), os generais-presidentes brasileiros não fecharam o Congresso Nacional nem pres- creveram os partidos políticos; mantiveram as eleições em intervalos regulares, embora com várias restrições autoritárias - num es- forço para vender a imagem de uma "demo- cracia relativa" (FLEISCHER, 1994). Assim, a transição (ou transação) para a democra- cia se processou sem rupturas entre 1974 e 1985. Por essa razão, com a abertura do siste- ma partidário e com a liberdade de organizar novos partidos (ou reorganizá-los), não res- surgiram os partidos tradicionais do período anterior ao golpe militar de 1964 - como re- apareceram a Unión Cívica Radical e o Parti- do ]usticialista na Argentina, os Blancos e Colorados no Uruguai e o Partido Democra- ta Cristão no Chile, com o fim dos seus res- pectivos regimes militares. 1. Primórdios Depois de obter a sua independência de Portugal em 1822, o Brasil se tornou uma monarquia constitucional até 1889. Duran- te esse período, o sistema partidário se con- solidou no Segundo Reinado (1840-1889) como um sistema bipartidário, com um Par- tido Conservador e um Partido Liberal, que se alternaram no poder de modo semelhan- te ao modelo inglês dessa mesma época. Es- ses dois partidos, porém, passaram por várias transformações. Em 1870, o pequeno Parti- do Republicano se organizou e começou a sua pregação contra a 1T1Onarquia (CARVA- LHO,1981). 1. Este trabalho foi apresentado inicialmente num seminário da Konrad Adenauer Stiftung, em 1995. O pre- sente texto é uma versão modificada e atualizada de Fleischer (1997). ~ I 303 . d\i 304 No período da chamada Primeira Repú- blica (1889-1930), os clubes republicanos em cada estado se transformaram em Partidos Republicanos estaduais. Uma vez institucionalizado o poder político civil em 1898, a política nacional passou a ser domi- nada pelos dois partidos maiores: o PRP de São Paulo e o PRM de Minas Gerais. Líde- res políticos desses dois estados revezaram- se na Presidência da República e dominaram os trabalhos no Congresso Nacional - num sistema chamado de "Café com Leite" (M. e. SOUZA, 1974; CASALECCHI, 1987). Esse sistema político se tornou decaden- te no final da década de 1920 (PRADO, 1986) e se mostrou incapaz de se transfor- mar para enfrentar os novos desafios sociais e econômicos da época, sendo derrubado pela Revolução de 1930 liderada pelo ex- governador do Estado do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas. Nos 15 anos seguintes (que marcaram o primeiro governo Vargas), a atividade político-partidária foi restrita ao período de 1933 a 1937, mas o sistema parti- dário ainda se baseou em agrupamentos es- taduais e algumas tentativas de organizar movimentos ideológicos em nível nacional, espelhando a polarização direita-esquerda da Europa nos anos 3 O. 2. Redemocratização e pluripartidarismo, 1945-1965 Esse período foi marcado pelo retorno ao estado de direito, com a Constituição de 1946. No quadro teórico de Sartori (1982), esse sistema iniciou-se com um pluralismo moderado em 1945 e acabou num pluralismo exacerbado após as eleições parlamentares de 1962 (M. e. SOUZA, 1976; NICOLAU, 2004). Finalmente, foram organizados partidos em âmbito nacional, embora apenas três (PSD, UDN e PTB) chegassem a ter uma abrangência realmente nacional. O Brasil continuou a ser uma república presidencialista federativa, com um Legislativo nacional bicamera!, mas com Legislativos estaduais unicamerais. Adotou- se o sistema de represêntação proporcional com lista aberta para a Câmara dos Depu- tados, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, mas sem cláusula de exclusão. Permitiram-se coligações em todos os níveis e candidaturas simultâneas para cargos majoritários e proporcionais. Os mandatos legislativos eram de quatro anos, e os de pre- sidente da República e de metade dos então 22 governadores estaduais eram de cinco anos. Essa não-coincidência dos mandatos se tor- nou problemática para o sistema político e, em parte, provocou a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, depois de apenas sete meses de mandato (FLEISCHER, 1995; SOUSA, 2005). 2.1 Os partidos "grandes" No período de 1945 a 1965, o Brasil chegou a ter treze partidos representados no Congresso Nacional: três grandes (PSD, UDN e PTB), dois médios (PSP e PDC) e oito pequenos - como mostra a Figura 1. O Partido Social Democrático foi organi- zado por Getúlio Vargas em 1945, baseado no seu sistema de dominação unitária implan- tado durante o Estado Novo (1937-1945). Em cada estado o interventor varguista foi encar- regado de organizar o PSD, convocando todos os caciques locais que haviam sido nomeados como prefeitos municipais para fundar a nova agremiação governista. Nessa época, a população brasileira ainda era quase 70% rural e o sistema de coronelis1I1o garantia a fidelidade dos votos (HIPPÓLITO, 1985). Inicialmente, o PSD era dominante no Con- gresso Nacional, mas declinou ao longo do -,--------------------------.------------------....... FIGURA 1. Genealogia dos partidos políticos brasileiros, 1945-1965. Pré 1945 1945 PSD I-+l ~ UON ~ UON EO ~ EO vs VS PTB PTB PPS PCB PCB ~~ PRP ~ PL I-+l PL ~ PR 1-+1 PR ~ POC I-+l PDC I PRO I-+l PRO PP do B PTN Fonte: Marques e Fleischer, 1999: 14 . • Partido Republicano Populista Partido da Representação Popular ~ ~ período, embora se mantivesse como maior partido. Ainda elegeu dois presidentes, o ge- neral Eurico Dutra, em 1945, e Juscelino Kubitschek, em 1955 . Embora Kubitschek não tivesse conseguido eleger seu sucessor em 1960, aspirava voltar à Presidência em 1965. Para arregimentar a população urbana, a máquina varguista, baseada no Ministério do Trabalho e nos sindicatos por este tutelados, fundou o Partido Trabalhista Brasileiro, im- pulsionado pelo alistamento ex o((ício de eleitores. Numericamente modesto 110 iní- cio do período, o PTB cresceu a ponto de rivalizar com o PSD em 1963.Elegeu um presidente (em 1950) e o vice-presidente João Goulart duas vezes (1955 e 1960), que assumiu a Presidência em1961, para o perío- do que se estenderia até 1964. Ao ser ex- tinto pelo regime militar em 1965, o PTB UON UON f-+I UON PSB ~ PSB f-+I PSB PTS f-+I PTB PRP f-+I PRP PRP PL f-+I PL PL PR f-+I PR PR POC f-+I poc POC PRT I-+l PRT H PRT PST f-+I PST H PST PTN 1-+1 PTN H PTN estava prestes a se tornar um "partido de massas", no conceito de Duverger (1980). Era considerado um partido nacionalista, no estilo de "populismo de esquerda" (LAVAREDA, 1991; BENEVIDES, 1989; e D'ARAÚJO, 1996; BODEA, 1992). A União Democrática Nacional, herdei- ra da União Democrática Brasileira, que se insurgiu contra o regime Vargas nas eleições marcadas para janeiro de 1938 (mas que fo- ram canceladas pelo golpe do Estado Novo em novembro de 1937), aglutinou as forças de oposição a Vargas nas áreas rurais e urba- nas. A UDN chegou a ocupar a Presidência da República em dois períodos curtos: 1954- 1955, quando o vice-presidente Café Filho foi empossado após o suicídio de Getúlio Vargas e, entre janeiro e agosto de 1961, na gestão de Jãnio Quadros. Foi superada como 305 o segundo maior partido no Congresso pelo PTB em 1955, no Senado, e em 1963, na Câmara (BENEVIDES, 1981; DULCI, 1986). 2.2 Os partidos médios ° Partido Democrata Cristão foi orga- nizado em 1945, baseado, em parte, na Liga Eleitoral Católica dos anos 30. A sua lideran- ça inicial, porém, coube a int.elecr:u~i~ leigos, muitos deles professores umversltanos. No início da década de 1960, o PDC já contava com outros profissionais liberais, empresm:ios mais modernos e alas operárias, estudantis e universitárias. Atrelou-se a Jânio Quadros no governo do Estado de São Paulo e na P;esi- dência da República. ° PDC elegeu vanos governadores e chegou a ser o quinto maior partido no Congresso em 1963. No .fmal do período, estava dividido em alas dlstmtas, de esquerda, centro e direita, que tomanam ru- mos diferentes após a extinção dos partidos em 1965 (ALEIXO, 1968; VIANNA, 1981; CARDOSO, 1975; COELHO, 2000 e 2003). ° Partido Social Progressista foi um veí- culo político pessoal de Adhemar de Bar- ros, interventor (1939-1941) e governador eleito duas vezes (1947 e 1962) em São Pau- lo. Em 1950, o partido participou de uma coligação que elegeu Getúlio Vargas, e esse apoio lhe rendeu a Presidência da Repúbh- ca durante um curto período após a morte de Getúlio (1954-1955). Adhemar concor- reu à Presidência da República duas vezes, em 1955 e 1960. Freqüentemente, o PSP era usado como uma legenda de conveni- ência em vários estados, especialmente por políticos dissidentes do PSD, que lhes "n~ gava legenda". Era considerado um parti- do "populista de direita" (SAMPAIO, 1982; CARDOSO, 1995; KWAL, 2006). -"-- 306 2.3 Os partidos pequenos Na verdade, a Figura 1 nos mostra mais de oito partidos chamados "pequenos", pois apenas incluímos os oito que chegaram a se fazer representar em 1963 no Congresso Nacional. 2.4 Os ideológicos Partido Comunista Brasileiro - PCB - ° mais "histórico" dos partidos brasileiros, or- ganizado em 1922. Conheceu a legalidade apenas entre 1945 e 1948, mas teve uma atu- ação destacada na clandestinidade até 1964. Em 1947, o PCB já era o quarto maior parti- do no Congresso Nacional e o terceiro no Estado de São Paulo e, assim, assustou o go- verno Dutra (conservador) quando derrotou o PTB na maioria das eleições sindicais. A partir de 1950, passou a eleger alguns dos seus quadros por outras legendas. Em 1958, houve uma cisão dos stalinistas, que funda- ram o PCdoB, de linha chinesa e, mais tarde, albanesa (CHILCOTE, 1982; PACHECO, 1983; SEGATTO, 1995). Partido de Representação Popular - PRP _ Herdeiro do integralismo (AIB) nos anos 30, foi conduzido por seu "líder máximo", Plínio Salgado. De ideologia fascista/ corporativa, o PRP participou de alguns go- vernos estaduais por meio de coligações (TRINDADE,1974). Partido Socialista Brasileiro - PSB - Fun- dado com a fusão da Esquerda Democráti- ca e da Vanguarda Socialista em 1950, fi- cou restrito a um pequeno grupo de inte- lectuais e não conseguiu ocupar o espaço político deixado pela proscrição do PC~, como foi o caso, na época, de alguns parti- dos socialistas na Europa Ocidental (SIL- VA, 1989; MANGABEIRA, 1979). 1 ! I ;. Esquerda Democrática - ED - Pequeno agrupamento de socialistas fabianos que dei- xaram a UDN antes das eleições, em dezem- bro de 1945, quando elegeram dois consti- tuintes (Hermes Lima e Domingos Vellasco). Em 1947, a ED elegeu alguns poucos depu- tados estaduais em Goiás e no Distrito Fede- ral e, em 1950, reuniu-se com a Vanguarda Socialista - VS para fundar o PSB (HECKER, 1998). 2.5 Outros pequenos Partido Republicano - PR - Remanescen- te dos Partidos Republicanos estaduais que dominaram a política na Primeira República (1889-1930), liderado pelo ex-presidente da República (1922-1926) Arthur Bermudes (1870-1955), um forte desafeto da política varguista. Teve alguma expressão em pou- cos estados, como Minas Gerais e Bahia (CERQUEIRA, 1973). Partido Libertador - PL - Surgiu inicial- mente nos anos 20, quando era um partido de oposição no Rio Grande do Sul. Lidera- do pelo Deputado Raul Pilla, o PL empu- nhava a bandeira do parlamentarismo, que foi usada como a saída para evitar a guer- ra civil em agosto/setembro de 1961 (CERQUEIRA, 1973). Partido Trabalhista Nacional - PTN - Organizado em 1947 por Emílio Carlos Kyrillos em São Paulo. Em 1954, deu legen- da para Jãnio Quadros disputar o governo de São Paulo e novamente a Presidência da Re- pública em 1960. Ainda liderou as coligações que elegeram o prefeito de São Paulo em 1957 eogovernadorem 1958 (CARDOSO, 1975; CERQUEIRA, 1973; KWAL, 2006). Partido Social Trabalhista - PST - Orga- nizado como PPB - Partido Proletário do Brasil, em 1946, por dissidentes do PSD no Maranhão liderados por Vitorino Freire. Em 1950, foi transformado em PST. Em 1953, Freire retornou ao PSD e o PST passou ao comando do senador Sylvestre Péricles Goes Monteiro (Alagoas) (CERQUEIRA, 1973). Partido Rural Trabalhista - PRT - Orga- nizado em 1945 como PRD-Partido Repu- blicano Democrático por grupos evangéli- cos. Tornou-se PRT em 1950 e passou a ser uma legenda alternativa para candidatos do PCB, que foi para a clandestinidade em 1948. Em 1954 recebeu a adesão passageira do deputado Hugo Borghi (CERQUElRA, 1973). Movimento Trabalhista Renovador - MTR - Cisão dissidente renovadora lidera- da pelo deputado Fernando Ferrari, que dei- xou o PTB, em 1959, numa tentativa de fun- dar um "trabalhismo" mais puro, na linha ideológica do PTB nos anos 40, articulada por Alberto Pasqualini (BASTOS, 1981; BODEA,1992). 2.6 O fim do pluripartidarismo Como se pode ver na Figura 1, o sistema pluripartidário desse período testemunhou três cisões (facções que se tornaram parti- dos) e duas fusões. Em 1945, a ED saiu da UDN, para depois se fundir com a VS e criar o PSB. Para viabilizar a sua candidatura para o governo de São Paulo em 1950, Adhemar de Barros aglutinou os minúsculos PAN e PPS ao PRP. Em 1958, o pedoB deixou o PCB e, em 19S9, o MTR rachou com o PTB (CERQUEIRA, 1973). São várias as hipóteses sobre o esfacela- mento do sistema partidário de 1945 a 1965 (M. C. SOUZA, 1976; SOARES, 1973 e 2001), em parte refutadas por Lavareda (1991). Uma das causas, sem dúvida, foi a legislação eleitoral (desigualdades regionais, 307 .... , C/) o (J :-e õ "- C/) o 'O t: co "- Vl o 308 lista aberta, coligação sem sublegenda, au- sência de cláusula de exclusão), que permi- tiu a proliferação de legendas fracas,sem consistência, e dificultou a formação de ali- anças coesas e permanentes no Congresso (NICOLAU, 2004). O canto do cisne desses partidos foi o pleito de outubro de 1965, já no segundo ano do governo do general Castelo Branco, que elegeu 11 governadores por via direta. Esse primeiro governo militar havia aprova- do um novo código eleitoral em junho da- quele ano, que visava atenuar algumas das distorções acima mencionadas: proibir coli- gações nos pleitos proporcionais, cláusula de barreira (5%), maioria absoluta (sem segun- do turno popular) para cargos executivos (presidente, governador e prefeito). Essas medidas reduziram, em 1965, o número de candidatos a governador para três ou quatro nesses 11 estados e, em 1966, provavelmen- te o número de partidos no Congresso teria sido reduzido para cinco ou seis. Entretanto, os resultados das eleições de 1965 e os imperativos do regime militar for- çaram uma antecipação do realinha-mento do sistema pluripartidário de então por vias autoritárias. 3. O bipartidarismo, 1966-1979 o gcneral-presidente Castelo Branco mantcve sua promessa de realizar as elei- ções diretas para governador marcadas para 3 de outubro de 1965, embora recebesse pressões da linha dura militar para as tor- nar indiretas. O ex-presidente e entáo se- nador Juscelino Kubitschek já era candida- to presidencial pelo PSD quando foi cassado pelo AI-I, em junho de 1964. Líder popular, JK coordenava uma dis- creta oposição, do seu exílio na Europa, e , comandava à distância, em 1965, as campa- nhas estaduais do seu partido. Os primeiros nomes indicados por JK nos estados de Mi- nas Gerais e Guanabara (ex-Distrito Federal) foram declarados "inelegíveis" pela justiça eleitoral. Mas os candidatos subseqüentes do PSD nesses dois estados importantes vence- ram o pleito com maioria absoluta. Logo em seguida, JK voltou ao Brasil para saborear essa vitória pessoal. A linha dura não aceitou o desaforo e ameaçou der- rubar Castelo Branco, caso as eleições não fossem anuladas. Após intensas negociações, o governo baixou o AI-2, que tornou as fu- turas eleições para governador indiretas e extinguiu os partidos políticos existentes, garantindo, porém, a posse dos eleitos. Foi nesse ponto que o presidente Castelo Bran- co perdeu o controle político e a condução da sua própria sucessão (GASPARI, 2002). 3.1 A transição para o bipartidarismo As novas regras ditavam que, para for- mar uma nova organização particliria "pro- visória", bastava arregimentar 120 depu- tados federais e 20 senadores. Em tese, poderiam ter sido organizados três parti- dos novos, mas na pritica foi difícil até mesmo constituir dois. Adesões governamentais facilitavam a formação da Aliança Renoyadora Nacioml - Arena, mas o novo partido de oposição, J'vlovimcnto Democrático Brasileiro - MDB, teve dificuldade em juntar os 20 senadores e contou com uma pressão discreta do presi- dente Castelo Branco para convencer dois senadores a filiar-se temporariamente ao MDB. Nessa transição do antigo pluri- partidarismo para o bipartidarisl110 "provi- sório" no pleito de 1966, o MDB teve a sua presença na Câmara dos Deputados reduzida de 36010 para 32,5%. Assim, no conceito de Sartori (1982), a Arena pode ser considera- da um partido dominante. 3.2 O bipartidarismo não "resolve" Com o endurecimento da ditadura militar em 1968 (AI-5) e o chamado "milagre econô- mico", em 1970 a Arena aumentou a sua mar- gem na câmara baixa de 67,50f<J para 72,3010. Temendo uma "mexicanização" do sistema partidário brasileiro, vários líderes do MDB pregavam a auto dissolução da sofrida legen- da de oposição (KINZO, 1988). Com o fim do "milagre" e a liberalização das normas que regulamentavam a campanha eleitoral de 1974 feita pelo general-presiden- te Ernesto Geisel, o MDB se fortaleceu mui- to: elegeu 44010 dos deputados federais, 16 das 22 cadeiras para o Senado e maiorias em seis legislativos estaduais - um ressurgimen- to muito forte (GASPARI, 2003). Essa tendência oposicionista do eleitora- do, cada vez mais urbano, se manteve nas eleições municipais de 1976, apesar de algu- mas restrições impostas pelo governo. Não obstante, o governo Geisel optou por desacelerar o ritmo da abertura política, te- mendo maiorias oposicionistas nas duas ca- sas do Congresso resultante da eleição de 1978. Ao mesmo tempo, o t'v1DB elegeria por via direta os governadores nos seis estados onde obteve maioria legislativa em 1974 (FLEISCHER, 1980). Para consertar o rumo das coisas, o presi- dente Geisel outorgou o chamado "Pacote de Abril" em 1977, tornando a eleição indireta para uma das duas vagas no Senado (senador "biônico"), mantendo a eleição indireta para governadores por colégios eleitorais esta- duais manipulados para favorecer a Arena e modificando as normas da eleição para depu- tado com o mesmo objetivo. Em 1978, aAre- na conseguiu se manter no mesmo patamar no Congresso; 55010 na Câmara e 62,7% no Senado (Tabela 1) (FLEISCHER, 1994). Mesmo com esses casuísmos, o último governo militar, do general João Figueiredo (1979-1985), percebeu que, com a situação econômica e social cada vez pior e com a tendência do insatisfeito eleitorado em vo- tar contra o governo (ou seja, em votar no MDB), a "camisa de força" tinha que mudar para permitir maiores espaços para mano- bras e negociação política para o governo no Congresso. Assim, justamente quando o MDB se fortaleceu, quase se tornando um "partido de massa", o governo militar de- cidiu promover um novo realinhamento partidário, de cima para baixo, extinguin- do a Arena e o MDB, para criar um novo pluripartidarismo, agora "moderado", com cinco 0\1 seis partidos. 4. O novo pluripartidarismo, 1980-1997 Esse novo sistema partidário passou por duas fases distintas, e depois pareceu estar entrando numa terceira. Nos últimos cinco anos do regime militar (1980-1985), mante- ve-se um pluripartidarismo moderado, com seis partidos e depois cinco. Com o retorno aos governos civis (Sarney, 1985-1990; Collor, 1990-1992; Itamar, 1992-1994; e F. H. Cardoso, 1995-1998), modificou-se a legislação, o que facilitou a criação e o re- gistro de legendas novas. Como conseqüên- cia, em 1991, mais de quarenta partidos es- tavam registrados no TSE, vinte dos quais re- presentados no Congresso. Com a nova Lei Orgânica dos Partidos Políticos - LOPp, san- cionada em agosto de 1995, anteciparam-se várias fusões entre 1993 e 1996, com um 309 'EM;;;: II1II.. 11111111111111111111 .. 111111 ........................................................ ... Vl 8 TABELA 1. Bancadas partidárias representadas no Congresso Nacional. 1979-2007. ~-?- o a. (/) o "O ·e ro :::>. (/) o 310 Partido CÂMARA Arena/PDS/PPR/PPB MDB/PMDB PP (1980-82) PTB PDT PT PFL PCB/PPS PCdoB PSB PL PDC PSDB PRN PP (1993-95) Outros TOTAL SENADO Arena/PDS/PPR/PPS MDB/PMDB PP (1980-82) PTB PDT PT PFL PSB PSDB Outros TOTAL 1979 1981 231 189 420 42 25 57 212 113 66 05 10 06 08 420 36 20 10 00 00 00 01 67 (fi! Fusão PP + prvlD8 em hwsreiw (Íu # Fusão POC + POS PPR em abril de 1993. 1982 1983 1987 1989 1990 1991 224 168 @ 14 09 05 420 36 27 @ 02 01 00 01 67 235 200 13 23 08 479 46 21 01 01 00 00 69 32 260 18 24 16 118 03 03 01 06 05 487 05 44 01 02 00 15 02 02 72 29 178 19 28 15 91 03 06 06 22 14 5020 13 495 02 31 04 03 00 13 02 10 10 75 32 131 28 38 17 90 03 06 08 13 15 60 31 23 495 03 22 04 05 01 13 02 12 13 75 42 108 38 46 35 84 03 05 11 15 22 38 40 16 503 03 27 08 05 01 15 01 10 11 81 1992 1993 45 98 30 40 36 86 03 05 10 18 19 40 26 47 503 04 26 08 06 01 17 01 09 09 81 69 101 26 36 35 87 03 07 10 14 # 45 16 37 17 503 09 27 04 04 01 17 01 09 09 81 Partido 1994 1995 1997 1999 2001 2002a 2002b 2003c 2006d 2006e 20071 CÂMARA Arena/PDS/PPR/PPB MDB/PMDB PP (1980-82) PTB PDT PT PFL PCB/PPS PCdoB PSB PL PDC PSDB PRN PP (1993-95) Outros TOTAL SENADO Arena/PDS/PPR/PPS MDB/PMDB PP (1980-82) PTB PDT PT PFL PSB PSDB Outros TOTAL 67 96 29 35 36 89 03 06 10 16 48 04 45 19 53 107 31 33 49 89 02 10 15 13 62 01 36 12 79 94 23 23 51 60 83 31 25 59 105 105 02 03 10 07 11 18 10 12 97 00 08 99 00 11 51 92 32 17 58 95 13 10 16 28 91 00 10 503 513 513 513 513 10 27 04 05 01 14 01 11 08 81 06 24 05 06 05 19 01 10 05 81 06 22 04 02 05 24 02 14 02 81 03 27 01 04 07 19 03 16 01 81 04 26 01 04 07 21 03 14 01 81 $ Fusão do PP + PPR --7 PPB em setembro de 1995. 53 87 33 16 58 97 12 10 17 27 95 00 8 513 02 24 04 05 08 18 02 15 03 81 49 74 26 21 91 84 15 12 22 27 71 21 513 01 19 03 05 14 20 04 11 06 81 44 69 45 17 91 76 18 12 29 29 65 18 513 01 20 04 05 14 19 03 11 05 81 50 78 43 20 81 64 15 12 27 37 59 27 513 O 20 4 4 12 16 2 16 7 81 41 89 22 24 83 65 22 13 27 23 66 38 42 91 20 23 82 62 16 13 27 34 63 40 513 513 15 4 11 18 15 81 20 4 11 17 13 7 81 a = em agosto de 2002. b = eleitos em outubro de 2002. c = em 1 defevereiro de 2003. d = em setenlbro de 2006. e = eleitos em outubro de 2006. f = na posse em fevereiro de 2007. 311 --------------------------------... _.~. ---------------------------------- Vl o t) :~ 'O a. Vl o 'O '';::; ti; D. Vl o 312 certo "encolhimento" do sistema, o que promoveu um pluralismo ligeiramente mais moderado nas eleições de 1998 e 2002. 4.1 Pluralismo moderado. 1980-1985 O bipartidarismo foi extinto por lei apro- vada pelo Congresso em dezembro de 1979. Os estrategistas do governo Figueiredo com- preenderam que havia facções mal acomo- dadas tanto dentro do MDB quanto na Are- na (KINZO, 1980). Para sair da "camisa- de-força" do bipartidarismo para um sistema de pluralismo "moderado", visavam uma con- figuração partidária que compreendia: dois partidos "sucessores": da Arena, o PDS - Partido Democrático Social, e do MDB, o PMDB - Partido do Movimen- to Democrático Brasileiro; um novo partido de "centro", o PP - Partido Popular, formado por "modera- dos" do ex-MDB, liderados pelo senador Tancredo Neves (MG), e dissidentes li- berais da Arena, liderados pelo deputa- do Magalhães Pinto (MG), que funcio- naria com um partido às vezes "auxiliar" ao governo no nível federal, mas um forte concorrente direto no pleito de 1982 em muitos estados, e um potencial parceiro coligado em outros. talvez o ressurgimento de um partido "tra- balhista" nos moldes do antigo PTB, o Par- tido Trabalhista Brasileiro pré-1965, lide- rado pelo ex-governador Leonel Brizola e pela ex-deputada Ivetc Vargas; e talvez um partido "obreiro", nos moldes do PSOE espanhol, com base no novo sin- dicalismo emergente nas regiões Sudeste e Sul: o PT - Partido dos Trabalhadores, liderado por Luiz Inácio (Lula) da Silva (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1992). 4.2 Realinhamento inicial Após intensas negociações entre partidos, de dezembro de 1979 a fevereiro de 1980, de fato, esses cinco grupos conseguiram arre- gimentar as bancadas no Congresso Nacional em março de 1980. Em janeiro, o PP havia recrutado uns 90 deputados, deixando o novo PDS sem uma maioria absoluta. Com a morte do então ministro da Justiça Petrônio Portela c a sua substituição por um representante do ex- PSD mineiro, egresso da Arena, o governo con- seguiu reduzir os quadros do PP a 68 deputa- dos e preservar uma precária maioria de 225 para o PDS (FLEISCHER, 1988b). ° antigo MDB foi dividido, ficando o PMDB com apenas metade dos seus deputa- dos. A coexistência das facções Brizola e Ivetc dentro do novo PTB se tornou impossível e o TSE concedeu legenda a esta facção menor em 1980. Assim, Brizola foi obrigado a orga- nizar um novo partido, o PDT - Partido De- mocrático Trabalhista. Para ter uma tribuna no Congresso Nacional, o PT aceitou a filiação de cinco deputados e um senador egressos do MDB (SOARES e VALE, 1985). Como se pode ver, naquela fase, fora do PTB, nenhum outro partido do período an- terior a 1965 foi ressuscitado: nem a UDN, nem o PSD ou o PDC, por exemplo. Os re- manescentes dessa agremiação democrata cristã acharam melhor permanecer no PMDB para não dividir ainda mais a oposição (KINZO, 1980). Em 1979, discutiu-se entre os líderes do "novo sindicalismo" e intelec- tuais de esquerda (incluindo o professor F. H. Cardoso) a possibilidade de organizar um partido da social-democracia, semelhan- te ao SPD alemão; mas, em 1980 os sindi- calistas e uma parte dos intelectuais mais socializantes foram para o PT, e os intelec- tuais restantes permaneceram no PMDB (MARQUES e FLEISCHER, 1999). 4.3 Resultados do pleito de 1982 Por causa dos fortes casuísmos eleitorais adotados pelo governo Figueiredo no final de 1981, na tentativa de garantir a hegemonia do PDS após as eleições de 1982 (voto vincu- lado e proibição de coligações), o PP sentiu- se inviabilizado e, em fevereiro, decidiu dis- solver-se e se reincorporar ao PMDB. Como se pode ver na Tabela 1, esse desdobramento elevou o PMDB ao mesmo patamar de força política do ex-MDB na Câmara (45%) e per- mitiu que superasse a marca do ex-MDB no Senado (40,3% vs. 37,3%). Em junho de 1982, porém, a maioria governista no Con- gresso aprovou uma emenda que, entre ou- tras coisas, permitiu o êxodo de vinte depu- tados do "novo" PMDB para o PTB e para o PDS em nove estados. Mesmo assim, o de- sempenho do PMDB nas eleições de novem- bro de 1982, em grande parte, se deve ao re- forço da fusão PP-PMDB. Entre os novos go- vernadores oposicionistas, foram eleitos Tancredo Neves (PMDB-MG), Franco Montoro (PMDB-SP) e Leonel Brizola (PDT- RJ) (FLEISCHER, 1988b; KINZO, 1996). Nas eleições para o Congresso (Tabela 1), o pluripartidarismo bipolarizado foi confir- mado. ° PDS perdeu a sua maioria absoluta na Câmara (49,10/0) mas manteve a suprema- cia no Senado (66,7%).Para constituir uma maioria absoluta precária na Câmara, o go- verno Figueiredo constituiu uma coligação efêmera (51,8%) entre o seu PDS (235 depu- tados) e o PTB de Ivete Vargas (com 13 depu- tados), viabilizada com distribuição de alguns cargos de segundo e terceiro escalão para os trabalhistas (SOARES, 1988). 4.4 A "Aliança Democrática". 1984-1985 Tendo em vista a sucessão presidencial (a cargo do Colégio Eleitoral, marcada para 15 de janeiro de 1985), promoveu-se uma cisão no PDS, em junho de 1984, em torno da escolha do seu candidato para essa elei- ção indireta. Uma facção "liberal" dentro do PDS, liderada pelo então vice-presidente da república Aureliano Chaves, o senador Mar- co Maciel e o senador e então presidente do PDS José Sarney, preconizava a realização de uma eleição prévia interna no PDS para determinar o seu candidato à Presidência da República. ° grupo majoritário governista preferiu manter o mecanismo tradicional: articulações informais confirmadas numa convenção nacional do partido (LAVAREDA, 1985). ° grupo dissidente, autodenominado "Frente Liberal", selou a "Aliança Democrá- tica" com o PMDB e articulou a chapa Tancredo Neves para presidente e José Sarney para vice; quanto ao PDS, sua con- venção nacional escolheu o ex-governador Paulo Maluf para presidente (derrotando o ministro do Interior, Mário Andreazza) e o deputado Flávio Marcílio para vice. No segundo semestre de 1984, o Brasil foi agitado por uma segunda onda de grandes co- núcios nas maiores cidades em função das cam- panhas de Tancredo e Maluf. No primeiro se- mestre, a grande mobilização se fez em torno da campanha das "Diretas Já", em favor da Emenda do deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT), que marcava eleições diretas para presidente c11115 de novembro de 1984. Apesar de os casuísmos de 1981 (que pro- yocaram a reintegração do PP ao PMDB) te- rem gerado uma maioria escassa para o PDS no Colégio Eleitoral (361 entre 686 - 52,6%), o STF decidiu que a lei da fidelidade partidá- ria não se aplicava fora do Congresso. As- sim, a chapa da "Aliança Democrática" arrebanhou 113 votos dos dissidentes da Frente Liberal e ainda 55 votos dos que 313 '" o u :.e (5 o.. if) o -o € (O o. Vl o 314 FIGURA 2. Genealogia dos partidos políticos brasileiros, 1966-1996. ~1966-i9 PPB ••• PFL PL MDB PT PSTU • O PPB mudou seu nome para PP (Partido Progressisto) em 11 de abril de 2003. Partido Popular. *** Partido Progressista Brasileiro. permaneceram no PDS, e venceu a chapa Maluf-Marcílio por uma margem de 300 votos (FLEISCHER, 1988a). No início de 1985, com a constituição for- mal do Partido da Frente Liberal- PFL, o sis- tema partidário brasileiro diversificou o pluripartidarismo em três pólos: 1'DS, PMOB e PFL. O governo Sarney (que assumiu em 15 de março de 1985, em razão da doença e mor- te de Tancredo Neves) se sustentou com base na coligação PMDB-PFL no Congresso, ten- do o PMDB eleito as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados no mês anterior (CANTANHEDE, 2001; LAVAREDA, 1985; TAROUCO, 2002). 4.5 Pluripartidarismo menos moderado, com um partido dominante, 1985-1988 Finalmente, em maio de 1985, o Con- gresso aprovou a Emenda Constitucional n° 25, que, entre outras coisas, liberou a for- mação de novos partidos políticos. por par- te da "esquerda", saíram da clandestll1ld~ de os dois partidos comunistas até entao enrustidos no PMDB, o PCB e o PCdoB, e S I' do também o PSB. Egressos do PO , a em PFL foram criados o PDC e o PL (Figura 2). Assim, o sistema partidário expandiu-se de 5 para 11 partidos e o PMDB se tornOU "dominante". 1 I I , Após um pequeno tropeço nas eleições municipais em novembro de 1985 (quando o senador Fernando Henrique Cardoso perdeu a prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros do PTB), o Plano Cruzado - plano de estabi- lização heterodoxa implantado em fevereiro de 1986 - empurrou o PMDB para uma es- trondosa vitória nas urnas em novembro da- quele ano. Como o PSD na Constituinte de 1946 e a Arena no período 1975-1979, o P.MDB se tornou hegemônico (54,4%) na Assembléia Nacional Constituinte (ANC) de 1987-1988. O PMDB elegeu 22 dos 23 go- vernadores (FLEISCHER, 1988c). Até que o bloco suprapartidário conser- vador ("Centrão") impusesse a sua maioria em dezembro de 1987, o PMDB havia do- minado os trabalhos da ANC. Descontentes com os rumos do PMDB na ANC, em junho de 1988 a facção social-democrata MUP - Movimento de Unilhde Progressista se tor- nou um novo partido, o PSOB - Partido dG Social Democracia Brasileira, com 10,7% da ANC (MARQUES e FLEISCHER, 1999; ROMA,2002). Outros cinco partidos ainda se habilita- ram para as eleições de novembro de 1988 - PJ, PSC, PTR, PSD e PMB - nos então 4.287 municípios brasileiros (Tabela 2). Essa elei- ção confirmou o declínio do até então hegemônico PMDB, iniciado com a cisão do PSDB, e serviu como prenúncio dos resulta- dos de 1989. Naquele pleito, o PMDB, que detinha as prefeituras de 75 das cem maiores cidades brasileiras, foi reduzido, e passou a controlar apenas 20 (FLEISCHER, 1996). 4.6 Pluralismo exacerbado, 1989-1997 Dos 17 partidos constituídos no final de 1988, o sistema partidário sofreu outra ex- pansão em 1989, quando o TSE habilitou 22 partidos para disputar a eleição direta para presidente da República no final daquele ano (GURGEL e FLEISCHER, 1990). Os dois candidatos de partidos pequenos, cuja retó- rica contra o governo Sarney fora mais con- tundente, Fernando Collor (PRN) e Lula (PT), foram para o segundo turno em de- zembro de 1989 (Tabela 3). Os dois maiores partidos na ANC, par- ceiros na chamada "Aliança Democrática" - o PMDB e o PFL -, ficaram reduzidos à séti- ma e nona posições, respectivamente, na corrida presidencial: Ulysses Guimarães, com 4,74%, e Aureliano Chaves, com 0,89% dos votos válidos (Tabela 3). No segundo turno, realizado em 17 de dezembro, Collor logrou 49,94% dos votos contra os 44,21% obti- dos por Lula. A comparação das votações desses dois candidatos pelo tamanho dos municípios (Tabela 4) mostrG uma relação linear - quanto maior a população do muni- cípio' mais Lula, quanto menor, mais Collor. Essas tendências foram confirmadas nas eleições gerais de 1990, quando 19 pGrtidos alcançaram uma representação mínima no Congresso Nacional (Tabela 1). Dos seus 260 deputados federais e 44 senadores eleitos em 1986, o PMDB conseguiu eleger apenas 108 deputados e 26 senadores em 1990 - embo- ra continuasse sendo o maior partido no Con- gresso. O PFL teve perdas menores; de 118 para 84 deputados e de 16 para 15 senado- res. Assim, a configuraçáo partidária na câ- mara baixa ficou com dois partidos maiores, 38,2o/Íl, seis partidos "médios" - PDS, PSDB, PTB, PDT, PT e PRN -, com 47,4%, e 11 "pequenos", com 14,4%. Voltando à Tabela 2, observamos que, nas eleições municipais de 1992, houve uma maior dispersão dos 4.762 municípios entre os partidos concorrentes, com avanços para 315 --------------------~-~-;--------------------------- (J) o '-' ª o Q. V1 o ""O t tu a. VJ o 316 TABELA 2. Prefeitos eleitos entre 1982 e 2004, por partido. 1982* 1988 1992 1996 2000 2004 Partido nO % PMDB PDS/PPR/PPB PDT 1.377 34,9 1.606 37,5 1.605 33,7 1.288 24,1 1.257 22,6 1.053 18,93 2.533 64,3 446 10,4 363 7,6 624 11,7 618 11,1 550 9,89 22 0,6 192 4,5 377 7,9 435 8,1 288 5,2 302 5,43 PTB 7 0,2 332 7,7 303 6,4 382 7,1 398 7,2 422 7,59 PT 2 0,1 38 0,9 54 1,1 111 2,1 187 3,3 411 7,39 PFL PSDB PL 1.058 24,7 965 20,3 928 17,3 1.028 18,5 786 14,13 18 0,4 317 6,7 910 17,0 990 17,8 870 15,64 PDC PSB PJ/PRN PSC PTR PCB/PPSPSD PMB PST PMN PRP Outros 239 232 37 3 26 8 49 5,6 165 5,4 211 0,9 48 0,1 98 0,6 50 0,2 48 0,0 0,0 35 1,1 122 3,5 221 4,1 4,4 1,0 150 2,8 2,1 ° 0,0 1,1 49 0,9 1,0 0,0 32 0,6 0,7 116 2,2 2,6 9 0,2 30 0,6 30 0,6 36 0,6 Total 3.941 100,0 4.287 100,0 4.762 100,0 5.351 100,0 Fonte: Fleischer (2002), DilUaS do TSE, novembro de 2004. -:;- As capitais elos e as deS1DIlGdas COliiO "áreas de seguranqa nacioiloi" c prefeitos em 1952. Forar:l novembro d2 1985. 234 4,2 380 6,83 133 2,4 175 3,15 3 0,05 33 0,6 25 0,45 166 3,0 304 5,47 111 2,0 16 0,3 14 0,3 31 0,56 18 0,3 37 0,66 83 1,5 216 3,88 5.559 100,0 5.562 100,0 TABELA 3. Resultados do primeiro turno da eleição presidencial: 15 de novembro de 1989. Candidato F. Collor Lula L. Brizola Mário Covas P. Maluf G. Afif Ulysses R. Freire Aureliano R. Caiado A. Camargo Outros Votos válidos Brancos Nulo Votantes Abstenções Eleitorado Fonte: Dados do TSE. PRN PT POT PSOB POS PL PMDB PCB PFL PSD PTB 20.611.030 11.622.321 11.167.665 7.790.381 5.986.585 3.272.520 3.204.996 769.117 600.821 488.893 379.284 1.732.273 67.625.886 1.176.367 3.487.963 72.290.216 9.784.502 82.074.718 o PSDB, PDT, PT, PSC e PTR; e perdas para o PMDB, PFL, PDS, PTB e PL. Em antecipação à adoção de possíveis restrições legais aos pequenos partidos nas eleições de 1994, ocorreram duas fusões partidárias no primeiro semestre de 1993: PDS e PDC formaram o PPR, e PST e PTR formaram o PP (Figura 2). Os resultados das eleições de 1994 con- tribuíram para subseqüentes alterações no 25,11 14,16 13,61 9,49 7,29 3,99 3,91 0,94 0,73 0,60 0,46 2,11 1,43 4,25 11,92 100,00 28,51 16,08 15,45 10,78 8,28 4,53 4,43 1,06 0,83 0,68 0,52 2,40 1,63 4,82 100,00 30,48 17,19 16,51 11,52 8,85 4,84 4,74 1,14 0,89 0,72 0,56 2,56 100,00 sistema partidário brasileiro, que desembo- caram na configuração que durou até o plei- to de 2002. Apesar das fusões preventivas no primei- ro semestre de 1993, as modificações na le- gislação eleitoral efetuadas pela Lei n° 8.713, de 30 de setembro de 1993, não incluíram a proibição de coligações e nem uma cláusula de "exclusão" (de 3% ou 5%) para os plei- tos proporcionais. Legalizaram, porém, as 317 __________________________________________ .... ~.~IUI~LI ...... ILI~ ... ~ .............. IIIIIIlIrrr.·IIII ........................................ IIIIIIIIIIIIIIIIII ........................ . 3,8 TABELA 4. Resultados do segundo turno da eleição presidencial por tamanho do município (x mil): em 17 de dezembro de 1989. '<'-.,;:':< . MunicípioSIHlr tamanho Ix mil) entre 100 e 200; entre 50 e 100 etc. ".\' .... Candidato mais de 200 100 a 200 Collor 39,17 43,96 Lula 54,96 50,18 Brancos 0,9 1,11 Nulos 4,97 4,75 TOTAL % 100,00% 100,00% Votos 23.667.147 6.061.773 N° de Municípios (40) (49) % de Votos 33,68% 8,63% Fonte: Compilado de dados do TSE. contribuições de pessoas jurídicas às campa- nhas eleitorais, através da emissão de um bônus, e obrigaram os partidos a identificar a origem e a quantia de cada contribuição. Entretanto, na truncada reforma consti- tucional realizada no primeiro semestre de 1994, uma das poucas medidas aprovadas foi a redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos. Assim, de 1994 em diante (1998, 2002, 2006 etc.), as eleições para o Congresso, governadores e legislativos estaduais passaram a coincidir com a do pre- sidente da República. Finalmente, a Lei 8.713 colocou duas restrições para os partidos quanto ao lança- mento de candidatos em 1994: todos os candidatos teriam que definir a sua filiação partidária (nova ou troca de partido) antes de 5 de janeiro de 1994; e somente os partidos com mais de 3% de representação na Câmara dos Deputados em agosto de 1993 poderiam lançar can- didatos a presidente e governador. 50 a 100 20 a50 10 a 20 48,13 55,44 59,35 61,92 45,87 38,59 34,97 32,56 1,31 1,66 1,93 1,95 4,69 4,31 3,93 3,57 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 6.854.092 11.506.793 10.568.698 7.651.427 (113) (449) (596) 11371) 16,19% 16,38% 15,04% 10,89% Como se pode ver na Tabela 1, essa se- gunda restrição limitou as candidatllLls pre- sidenciais aos partidos com mais de 15 de- putados federais (nove partidos). Um dos pe- quenos partidos lesados, o PSC, entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade - ADln junto ao STF contra essas duas res- trições, pois cogitava lançar a candidatura do ex-presidente e então senador José Sarney (PMDB-AP) solicitando sua troca de parti- do já fora do prazo (março de 1994). Além disso, naquele momento o senador Sarney est,wa em segundo lugar nas pesquisas de opinião pública, embora distante do primei- ro lugar (Lula, do PT). O STF declarou inconstitucional a segunda restrição aos pe- quenos partidos, mas manteve o prazo para filiações partidárias. Assim, o PSC e outros dois partidos pequenos (Prona e PL) pude- ram lançar candidatos à Presidência, mas o senador Sarney foi impedido de se candidatar pelo PSC, por estar bloqueado dentro do PMDB pelo ex-governador Orestes Quércia. ;,/ ": '< menos de 2' Total Brasil 62,59 60,17 49,94 32,08 34,56 44,23 1,87 1,73 1,41 3,46 3,35 4,42 100,00% 100,00% 100,00% 3.693.667 247.104 70.260.701 (1329) (268) (4575) 5,26% 0,35% 100,00% Três dos partidos "maiores", PFL, PTB e PP (Partido Progressista), decidiram não lançar candidatos à Presidência, e o PFL e o PTB acertaram uma coligação com o PSDB, que lançou o senador (e ex-ministro das Re- lações Exteriores e da Fazenda) Fernando Henrique Cardoso à Presidência. O candi- dato natural do PPR, Paulo Maluf (que foi derrotado em 1985 e 1989), então prefeito de São Paulo (eleito em 1992), decidiu não deixar o seu cargo, e o partido lançou o senador Espcridião Amin (SC). Novamen- te, o PT liderou uma coligação integrada por PSB, PPS, PCdoB, PV e PSTU, lançan- do o ex-deputado Lula, que fora derrotado por Collor no segundo turno de 1989. Ou- tro candidato derrotado em 1989 foi relançado por seu partido, Leonel Brizola do PDT. Finalmente, a convenção nacional do PMDB escolheu o ex-governador Ores- tes Quércia, que venceu uma eleição prévia do partido, derrotando o senador Sarney e o governador Roberto Requião (PR). A evolução das preferências populares ao longo da campanha presidencial de 1994 (en- tre abril e setembro) foi sacudida com a in- trodução da nova moeda (Real), em 10 de julho de 1994, o que acabou invertendo o quadro a favor do ex-ministro da Fazenda e mentor do plano de estabilidade econômica e produzindo uma vertiginosa queda nas in- tenções de voto no candidato do PT. Esse impulso levou o candidato da coli- gação PSDB-PFL-PTB, Cardoso, a ganhar a eleição já no primeiro turno, com 54% dos votos válidos (Tabela 5). Lula ficou com 27%, ou seja, 10% a mais do que recebera no pri- meiro turno de 1989. A grande surpresa foi o candidato do Prona, Enéas Carneiro, ter ficado em terceiro lugar, com 7,4%. Carnei- ro bateu Quércia e Brizola até mesmo nos seus estados-base, São Paulo e Rio de Janei- ro, respectivamente. Na Tabela 1, se compararmos os resulta- dos das eleições legislativas de 1990 com as de 1994, observaremos que o PSDB e o PT conseguiram avanços substanciais na câma- ra baixa, 67,6% e 40%, respectivamente, tendo o PTaumentado de um para cinco senadores. PFL e PSB tiveram ganhos mais modestos, e o PMDB praticamente ficou na mesma. Por sua vez, o PPR - apesar da fusão com o PDC -, assim corno PDT, PTB e PL, sofreram perdas. O PCdoB conseguiu dupli- car a sua bancada federal de 5 para 10 depu- tados; e o PRN, sem seu grande líder (Collor) de 1990, ficou reduzido a um solitário de- putado, que trocou de legenda em 1995. Quanto aos governadores, 18 estados rea- lizaram um segundo turno em novembro de 1994. Em última análise, o PMDB e o PPR melhoraram ligeiramente a sua posi- ção quantitativa em 1994; aquele perdeu São Paulo e Paraná, mas recuperou o Rio Grande do Sul, e este ficou restrito à região 319 Vl o u :-E o n. Vl o u .-2 co n. Vl o 320 TABELA 5. Resultados do primeiro turno da eleição presidencial: 3 de outubro de 1994. Candidato Cardoso Lula Enéas Quércia Brizola Amin Gomes Fortuna Votos válidos Brancos Nulos Votantes Abstenções Eleitorado Partido PSDB PT Prona PMDB PDT PPR PRN PSC n. de votos 34.365.895 17.122.384 4.671.540 2.772.242 2.015.853 1.739.926 387.756 238.209 63.313.805 7.192.255 7.444.197 77.950.257 16.832.153 94.782.410 Fonte: TSE, resultado fim-li em 15 de novembro dc; '1994. %do eleitorado 36,26 18,06 4,93 2,92 2,13 1,84 0,41 0,25 7,59 7,85 17,76 100,00 % dos votos 44,09 21,96 4,99 3,56 2,58 2,23 0,50 0,31 9,23 9,55 100,00 % dos votos' válidos' 54,28 27,04 7,38 4,38 3,18 2,75 0,61 0,38 100,00 Coligação ele Carcioso: PSDB, PFL e PTB; Coligação de Lula: PT, PSB, I"PS, PVe PSTU; Coligação de Quêrcia; PMDB e PSD. amazônica. O PDT e o PFL tiveram um de- sempenho inferior em J 994; os brizolistas perderam Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, conquistados em 1990, fi- cando restri tos a Paraná c 1-.1ato Grosso, e a frente Liberal foi reduzida de nove para dois estados - Bahia e 1-.1aranhão. O PSDB ele- geu os governadores no "triângulo das ber- mudas" - São Paulo, 1-.1inas Gerais e Rio de Janeiro -, a primeira vez que um partido ga- nhou nos três estados mais importantes si- multaneamente. Fernando Henrique Cardoso liderou em todos os estados, menos no Rio Grande do Sul e em Brasília, onde os coattails de Lula foram suficientes para levar o PT ao segundo turno. Se o candidato do Prona, Enéas Carneiro, ti- vesse "puxado a sua legenda", os seus 4,7 milhões de votos para presidente (7,4%) po- deriam ter eleito uns 3S deputados federais, Dois outros fatores tiveram um forte impac- to sobre o clesem penho dos partidos nas elei- ções de 1994; as chamadas "desigualdades regionais" e o voto de legenda. Os dados apresentados na Tabela 6 mos- tram como o sistema de representação pro- porcional brasileiro, com suas desigualdades regionais, beneficiou outros em 1994. Essas desigualdades provêm da imposição de uma "bancada mínima" de oito deputados para os I J; TABELA 6. Eleição para deputado federal em nível nacional por partido, votos recebidos versus cadeiras ganhas: 1994 e 1998. PMDB PSDB PFL PT PPR/PPB PDT PP PTB PL PSB PC do B PSD Prona PMN PPS PSC PRP PRN PV PSTU PST PSL Outros TOTAL 9.287.049 20,3 6.350.941 13,9 5.873.370 12,9 5.859.347 12,8 4.307.878 9,4 3.303,434 7,2 3,169,626 2,379.773 1.603.330 995.298 567.186 414.933 308.031 257.018 255,427 214,792 207.307 184.727 76.383 76.302 2,020* 6,9 5,2 3,5 2,2 1,2 0,9 0,7 0,6 0,6 0,5 0,5 0,4 0,2 0,2 0,0 45.694.172 100,0 Fonte: Nicolau 11998); Dados do TSE. 107 20,9 62 12,1 89 17,3 49 9,6 53 10,1 33 6,6 36 31 13 15 10 03 00 04 02 03 01 01 01 00 00 7,0 6,0 2,5 2,9 2,0 0,6 0,0 0,8 0,4 0,6 0,2 0,2 0,2 0,0 0,0 513 100,0 * PCB, PTRB e PTdoB; # PCB, PTRB, PTdoB, PSDC, PSN e peo. 9.215.430 16,1 9.389.128 16,4 10.862,915 19,0 6,468.001 11,3 6.869.638 12,0 3.098.599 5,4 3,439.219 1.485.965 2.079.285 802,327 432.909 336.020 312.816 630,404 6,0 2,6 3,6 1,4 0,7 0,6 0,5 1,1 366.020 0,6 203.051 0,3 34.135 0,0 211,432 0,3 117.508 0,2 162.544 0,2 140.240 0,2 849,481# 1,5 57.152.387 100,0 : >~ :, >;.:'j ~?~; .Cadeir~~'\ ':<.0/0 83 16,2 99 19,3 105 20,5 59 11,5 60 11,7 25 4,9 31 12 18 07 03 01 02 03 6,0 2,3 3,5 1,3 0,6 0,2 0,4 0,6 02 0,4 00 0,0 00 0,0 01 0,2 00 0,0 01 0,2 01 0,2 00 0,0 513 100,0 ---_________ ~_~~T~~_r.~~~. __ ~ ____ .. _ ... _____________ _ 321 t/) o u :-2 o Cl- t/) o -o t co Cl- t/) o 322 estados menores e uma "bancada máxima" de 70 (São Paulo). Assim, estados como Roraima e Amapá, que, em virtude de sua pequena população, deveriam eleger um deputado, elegeram oito; e o Estado de São Paulo, com 23% da população nacional, de- veria eleger 118 deputados, e não 70. Nesse caso, os partidos relativamente fortes nos estados pequenos (com quociente eleitoral menor) são beneficiados, ao passo que os partidos relativamente fortes em São Paulo (com quociente eleitoral maior) são prejudi- cados. Apesar de o PSDB ter recebido 477.641 votos a mais que o PFL em nível nacional, os "tucanos" elegeram apenas 62 deputados federais versus 89 para o PFL; ou seja, 17 vagas a menos. No entanto, o caso do PT foi pior; por uma diferença de apenas 9.448 votos em relação ao PFL, elegeu 40 deputa- dos a menos que este: 49 versus 891 PMDB, PTB, PSB, PCdoB, PMN e PSC foram ligeiramente beneficiados, ao passo que PDT, PL, PSD, PPS, PRp, PSDB e PT foram prejudicados, sobretudo estes dois úl- timos. Quanto à questão do "voto de legenda", o sistema de representação proporcional com lista aberta usado no Brasil permite que o eleitor vote no nome do candidato para deputado ou na sua legenda (partido). Quan- do a proporção de votos dados à legenda é significante, isso indica que, por alguma razão, os seus eleitores são atraídos a votar no partido e nelO em nomes individuais (8,3% em 1994); no sentido contrário, quando essa proporção é baixa, o partido não atrai o elei- tor, que é estimulado a votar em nomes de candidatos individuais (NICOLAU, 2006). Em 1994, os partidos que receberam as maiores proporções de voto de legenda (aci- ma da média) para deputado federal foram: Prona (81,7%), PT (33%), PRN (28,1%) e PSDB (10,9%). No caso do Prona, a imagem do seu "anti-candidato", Enéas, atraiu o elei- tor alienado. A ideologia e o programa do PT sempre atraíram muito voto de legen- da. No caso do PRN, a imagem do seu ex- presidente (Collor) ainda serviu, embora timidamente. Quanto ao PSDB, a figura do candidato embalado à vitória no primeiro turno pelo Plano Real parece ter sido a mo- tivação principal para os seus eleitores. Es- ses teriam sido os partidos de princípios e não de pessoas em 1994? Pode-se afirmar o contrário para partidos como PFL, PPR, Pp, PL, PSB e PCdoB em 1994? Em parte, sim. O fenômeno do PCdoB é um caso à par- te em termos de voto de legenda. A sua por- centagem de voto de legenda é muito pe- quena em função de uma estratégia política de coligação muito bem acertada a partir de 1994, que permitiu que o PCdoBduplicasse a sua bancada na Câmara Federal, de 5 para 10 deputados. Diferentemente das coligações proporcionais (lista fechada) com sublistas, como na Argentina, e as sublemas no Uru- guai - onde há um segundo "rateio" propor- cional das cadeiras ganhas pela coligação entre os partidos parceiros -, no Brasil, os partidos parceiros entram na coligação como se fossem um "balaio grande" ou um "partidão", e todos os votos recebidos con- tam para a "lista" sem que seja feita uma segunda divisão proporcional entre os par- ceiros de acordo com o número de votos recebidos por cada partido coligado. Por isso, o PCdoB instruiu os seus eleitores a concen- trar os seus votos em um ou dois dos seus candidatos, e não a votar na legenda. Assim, todos os votos de legenda dados ao PT conta- vam para a coligação toda e não exclusiva- mente para o PT, e ajudaram a eleger os qua- tro deputados "a mais" para o PCdoB. Para se ter uma idéia da diversidade de co- ligações organizadas para deputado federal em , , ! J 1994, a Tabela 7 mostra a freqüência das múl- tiplas combinações entre "parceiros". Assim, é possível detectar afinidades entre parcei- ros mais freqüentes. As coligações mais fre- qüentes e consistentes foram lideradas pelo PT-PSB-PCdoB-PPS, e atraíram outros pe- quenos partidos da esquerda (PSTU, PV e PMN) e também o PDT. Raramente, o PT participava de uma coligação com os parti- dos do centro (PP' PSDB, PMDB etc.). Como já abordado, porém, o PCdoB teve uma es- tratégia eleitoral muito eficiente em 1994, e pragmaticamente participou de algumas ali- anças centristas (PMDB, PSDB, PDT etc.), além das lideradas pelo PT. Esse quadro tam- bém prevê muito bem a fusão do PP com o PPR para formar o PPB em 1995, partidos que estavam juntos em 14 coligações, em mais de metade dos estados. A última observação sobre o pleito de 1994 focaliza os votos em branco; 7 milhões para presidente, 14 milhões para governa- dor, 21 milhões para senador e 26 milhões para deputado federal. Embora os parlamen- tares procurassem remediar essa situação com a Lei 8.713, dividindo a cédula eleito- ral em duas, para cargos majoritários e para cargos proporcionais, e obrigando o eleitor a preencher a cédula para deputado federal e estadual primeiro, não adiantou - o desin- teresse por estas eleições continuou alto (33%) em comparação com a eleição presi- dencial (9,20/Íl). 4.7 As eleições de í 996 Esse pleito municipal foi o primeiro teste de urna para o governo Fernando Henrique Cardoso (AMARAL, 1996, FLEISCHER, 2002; NOVAES, 1996a; 1996b). Em. termos gerais (Tabela 2), o PSDB de Cardoso teve o melhor desempenho: de 317 (6,7%) prefei- tos eleitos em 1992, conquistou 910 (17%) em 1996. O PMDB foi o grande perdedor: de 1.605 (33,7%) prefeitos em 1992, caiu para 1.288 (24,1%). Enquanto o PFL se manteve no mesmo nível, o PPB, fortaleci- do pelas fusões com o PDC (211 prefeitos eleitos em 1992) em 1993 e com o PP em 1995, aumentou o seu cacife de 363 (7,6%) para 624 (11,7%) prefeitos. O PDT e o PTB conseguiram pequenos avanços, ao passo que o PT dobrou e o PSB triplicou os seus resul- tados. Apesar de um certo "enxugamento" do sistema partidário no nível federal, observa- do na Tabela 1, a diversificação do quadro partidário em 1996 foi grande - 23 partidos conseguiram eleger pelo menos um prefei- to, e 27 elegeram vereadores. Qualitativamente, no chamado Brasil urbano (as cem maiores cidades), o PSDB cresceu de 13 para 21 cidades, ao passo que o PMDB recuou de 29 para 16. O PFL au- mentou o seu cacife nas capitais, conquis- tando Rio de Janeiro, Salvador e Recife, e o PPB manteve São Paulo e ainda ganhou Florianópolis. O PT caiu de 12 para 9 dessas cidades e manteve Porto Alegre, mas perdeu Belo Horizonte. O PSB obteve um excelente resultado - aumento de 4 para 8 dessas cida- des maiores - tendo conquistado três capi- tais, Belo Horizonte, Natal e Maceió. 5. Período mais recente, 1997-2006 N esse período, o sistema partidário so- freu outro encolhimento em 1995 e um in- tenso realinhamento a partir do início de 1996 (RODRIGUES, 1995). Como se observa na Tabela 1 e na Figu- ra 2, em setembro de 1995 houve outra grande fusão entre o PPR e o PP para for- mar o PPB - Partido Progressista Brasilei- ro. Também o PRN e o PRP deixaram de ter uma representação no Congresso Nacional. 323 Vl Parceiros nas coligações para deputado federal nos 27 estados em Assim, a configuração partidária passou a tos contra, abstenções e ausências - especi-o TABELA 7. contar com 16 entidades. ai mente no PPB e no PMDB, mas também ~e 1994. 'õ Entretanto, em relação à situação dos no PSDB e PFL - que privavam o governo o. C/l Freqüência das combinações de parceiros coligados partidos na abertura da sessão legislativa dos 308 votos para aprovar mudanças COliS-o N°* "O Partidos em 10 de fevereiro de 1995, com a posse titucionais. 'f~ (Cí FHC Coligação Eleitoral dos eleitos em 1994, houve um forte A "volatilidade" eleitoral do sistema par-o.. Vl realinhamento dos deputados federais e, em tidário foi bastante alta entre as eleições de o PSDS 70 PMDB-11 POT-7 PFL-6 PPR-6 PTB-6 PL-6 PCdoB-6 PPS-4 PSD-4 menor grau, dos senadores. Sem levar em 1982 e 1986 e também entre 1986 e 1990, PFL 65 PP-11 PTB-10 PPR-9 PL·8 PSDB-6 PDT-6 PMDB-4 PSC-2 PV-2 conta a fusão que criou o PPB em 14 meses, por conta da queda do PDS, o crescimento e até 8 de abril de 1996 mais de 10% dos de- declínio do PMDB e o aparecimento do PFL PTS 63 PFL-10 PDT-10 PP-8 PL·8 PSDB-6 PPR-5 PMDB-3 PSC·3 PCdoB·2 putados trocaram de partido pelo menos uma (em 1985) e PSDB (em 1988). Entre 1990 e Participaram da base de FHC no Congresso vez (MELO, 2000 e 2004). 1994, esta volatilidade diminuiu bastante e Esse realinhamento foi muito concentra- continuou baixa entre 1994 e 1998, com PMDB 66 PSDB-11 PPR-8 PP-7 PSD-7 POT-S PFL-4 PCdoB-4 PL-4 PTB-3 do na base do governo, sendo o PSDB, o menos variação do desempenho dos parti- PPR 65 PP-14 PFL-9 PMDB-8 PSDB-6 PTB-5 PSD-4 PL-3 PSC-3 PMN-3 partido do presidente, o mais beneficiado - dos (MAINWARING, 2001). Porém, a cresceu de 62 para 85 deputados, seguido volatilidade eleitoral voltou a crescer um PP 69 PPR-14 PFL-11 PTB-8 PMDB-7 PL-5 PSDB-4 POT-4 PSC-3 PMN-3 pelo PFL, que aumentou de 89 para 99 de- pouco entre 1998 e 2002, com o crescimen- PL 48 PFL-8 PTB-8 PSDB-6 PP-5 PMDB-4 PPR-3 PCdoB-2 PSD-2 putados, superando, assim, o PMDB - que to do PT e o declínio do PSDB e PFL. Como perdeu dez deputados - como o maior par- houve menos diferenças no desempenho dos Oposição tido da Casa. Na oposição, as perdas foram partidos entre 2002 e 2006, este indicador PT 66 PCdoB-13 PSB-12 PPS-10 PV-8 PMN-6 PSTU-6 PDT-5 PP-2 PSOB-1 menores: oito deputados no PDT e dois no diminuiu novamente. PSB. PDT 69 PTB-10 PSOB-7 PFL-6 PMN-6 PT-5 PSB-5 PCdoB-5 PPS-4 PV-4 Em princípio, a base parlamentar do go- PSB 60 PCdoB-13 PT-12 PPS-8 PDT-5 PV-5 PSOB-3 PMN-3 PSTU-3 PMOB-2 verno Cardoso deveria ser sólida e confian- 5.1 A eleição da reeleição - 1998 PSTU-4 PMOB-4 te: se com a coligação eleitoral de 1994 - Em 1997, o Congresso aprovou a emen-PT-13 PSB-13 PPS-13 PV-7 PSDB-6 PMN-6 PDT-5 PSDB, PFL e PTB -, teria 225 deputados, ou pedoS 82 da da reeleição, que permitiu aos governa- PPS 70 PCdoB-13 PT-l0 PSB-8 PV-7 PSTU-5 PSOB-4 PDT-4 PMN-4 PMOB-3 43,9%, com a inclusão do PMDB, contaria dores e ao presidente eleitos em 1994 con- com 319 deputados (62,2%) - 11 além do correr a um novo mandato em 1998. Esse PSTU 24 PT-6 PPS-5 PCdoB-4 PV-4 PSB-3 PMN-2 quórum constitucional de 308 e, com o PPB, mesmo mecanismo foi estendido aos prefei- 50 PT-7 PCdoB-7 PPS-7 PSB-5 PSTU-4 PDT-4 PSOB-3 PMN-3 PFL-2 chegaria aos 398 deputados (77,6%). Com tos eleitos em 1996 para concorrer novamen-PV PMOB-2 a oposição sistemática de apenas98 deputa- te em 2000. PMN 45 PT-6 PDT-6 PCdoB-6 PPS-4 PPR-2 PP-3 PSB-3 PV-3 dos - PT, PCdol'" PSB, PPS, PY, PSTU etc. -, Ainda embalado pelos resultados do Pla- Outros partidos pequenos por que, então, o governo enfrentou tanta no Real, o presidente Cardoso foi reeleito dificuldade para aprovar as suas propostas no primeiro turno em outubro de 1998, PSC 25 PPR-3 PP-3 PTB-3 PFL-2 PPS-2 PRP-2 PMN-2 de reformas constitucionais em 1996 e 1997? com 53,06% dos votos válidos (Tabela 8). PSD 32 PMDB-7 PPR-4 PSDB-4 PCdoB-4 PP-2 PTB-2 PSB-2 PL-2 Apesar de Limongi e Figueiredo (1995) Favorecido pelo desempenho do presidente PDT-l mostrarem que, entre 1989 e 1993, os par- e pelos resultados positivos em 1996, o PSDB PRP 19 PMDB-2 PPR-2 PL-2 PPS-2 PSC-2 PRN-2 PSDB-1 PP-l tidos na Câmara dos Deputados tinham um aumentou a sua bancada na Câmara Federal 15 PTB-2 PL-2 PSC-2 PRP-2 PMDB-1 PPR-1 PP-1 PCdoB-1 alto grau de consistência e coesão interna - de 62 para 99 deputados, e de 10 para 16 PRN acima de 70%, em média - em votações no- senadores (Tabela 1). De forma semelhante fonte: Compilação dos dados em Souza (1996). minais, em algumas votações cruciais em ao PFL em 1994, em 1998 o PSDB aprovei- j\jLlmero tO-;:Jl de parc8r::JS nos 27 estados.O tanlanho das coligações variou de 2 a 8 partidos: apenas ~ s" 1996, os cinco partidos que compõem a base tou bem as desigualdades regionais e, com col:gaçocs '! 5 estados, 3 em 8 estados, 4 em 2 estados, e 5 em 2 f~st()dos. Gdfo = coligações "inconSistente . do governo tiveram índices variáveis de vo- 16,4% dos votos nacionais, elegeu 19,3% dos ----- .'.' , 32/1 325 '" o u deputados. No entanto, o PFL ainda elegeu a maior bancada da Câmara (105 deputados) e obteve 19% dos votos. O PMDB encolheu de 107 para 83 deputados; e o PDT, de 33 para 25 - ao passo que o PSB aumentou a sua bancada de 15 para 18 deputados. O PT e o PPB continuaram virtualmente empatados - 59 versus 60 deputados - respectivamente (FLEISCHER,1998). Dos 22 governadores que concorreram à reeleição, 15 venceram. O desempenho da coligação Cardoso também foi evidente nes- sas eleições, com a eleição de 19 dos 27 go- vernadores - PSDB, sete; PFL, seis, e PMDB, seis. O PT conseguiu eleger três. Assim, as bancadas do presidente foram reforçadas no Congresso, mas, mesmo assim, o seu segun- do mandato foi menos tranqüilo que o pri- meiro. O PMDB e o PFL se revezavam nas presidências do Senado e da Câmara entre 1995 e 2001. Finalmente, nos últimos dois anos do seu segundo mandato, o presidente emplacou o presidente da câmara baixa - deputado Aécio Neves (PSDB-MG), eleito em fevereiro de 2001. TABELA 8. Resultados do primeiro turno da eleição presidencial: 4 de outubro de 1998. :'~:~;~tt~ Candidato Partido n. de votos %do % dos votos % dos votos: eleitorado válido; Cardoso PSDB 35.936.918 33,87 43,14 53,06 Lula PT 21.475.348 20,24 25,78 31,71 C. Gomes PPS 7.426.235 7,00 8,91 10,97 Enéas Prona 1.447.076 1,36 1,74 2,14 Outros 1.437.470 1,36 1,73 2,12 TOTAL Votos Válidos 67.723.047 100,00 Brancos 6.688.612 6,31 8,03 Nulos 8.884.426 8,37 10,67 Votantes 83.296.085 100,00 Abstenções 22.798.904* 21,49 Eleitorado 106.094.989* 100,00 Fonte: TSE, resultado final (~ill10 de outubro de 1998, Coli98Ç30 de C"rdoso: PSOB, PFL, PT8, PP8 e PSO; Colignçáo do Lula: PT, POT, PSB, rCdaS e I"CB; Coligação de C. Gomes: PPS, PL e PAN; Outros Candidatos: Tilereza Ruiz IPTI~), Sérgio Bueno IPSC), José Marra de Almeida (PSTU); José Maria EmayeIIPSDCi, Joao de Deus Barbosa de Jesus (PTdoB); Vasco de Azevedo Neto (PSNi, Alfredo Si"kis IPV) e Brig. Ivan Moacir de Frota IPMN). \ Inclui 6,4 rnllhócs de possíveis eleitores fantasmas. Assim, a abstenção poderia ser recluzida para 16,4%. , 5.2 A esquerda cresce - eleições municipais de 2000 Os resultados das eleições municipais de outubro de 2000, de uma certa maneira, fo- ram um prenúncio da reviravolta partidária nas eleições gerais de 2002. Na comparação entre os pleitos de 1996 e 2000 (Tabela 2), a chamada "esquerda" elegeu 790 prefeitos contra 741 em 1996. O PT cresceu de 111 para 187 prefeitos e o PPS de 32, para 166. Enquanto o PMDB, o PSB, o PDT e o PPB sofreram pequenos declínios, o PSDB, o PFL, o PTB e o PL aumentaram suas cotas de pre- feitos. Nas 26 capitais, a esquerda aumen- tou o seu cacife de 8 para 12, inclusive em São Paulo, com a vitória de Marta Suplicy (PT). Este crescimento talvez tenha sido um "prenúncio" dos resultados do pleito de 2002 (FLEISCHER,2002). 5.3 Alternância no poder - Lula 2002 Sem poder concorrer a uma segunda re- eleição em 2002, a coligação do presidente Cardoso desabou. O PTB juntou-se ao PDT para apoiar a candidatura do ex-governador Ciro Gomes (PPS). O PFL ficou muito abor- recido com a "implosão" da pré-candidatu- ra da sua governadora, Roseana Sarney (Maranhão), após a invasão ao escritório do marido dela pela Polícia Federal em lo de março de 2002. Os agentes encontraram R$ 1,34 milhão em papel-moeda sem lastro contábil. Assim, o PFL decidiu retirar-se do ministério Cardoso, tornou-se um partido "independente", não lançou candidato à Pre- sidência e não participou de nenhuma coli- gação presidencial em 2002. O PSDB finalmente escolheu seu candi- dato em maio - o senador José Serra - e, em junho, com muito conflito interno, o PMDB decidiu coligar-se com os tucanos, escolhen- do a deputada Rita Camata (ES) como vice na chapa. Porém, apesar da imposição de co- ligações "verticalizadas" - simetria entre co- ligações para governador e presidente - pelo TSE, várias seções estaduais do PMDB deci- diram apoiar Lula informalmente. A direção nacional do PT decidiu aban- donar o programa aprovado por um congresso do partido em fins de 2001, e elaborou uma plataforma e estratégia de campanha "centrista" para a campanha presidencial de 2002. Além de propostas "centristas", o PT decidiu mover-se para o Centro na composi- ção de sua coligação, fechando uma parceria com o Partido Liberal (PL), que escolheu o senador e empresário José Alencar (PL-MG) como o vice de Lula. A campanha "paz e amor" atraiu o apoio de vários empresários (SAMUELS, 2003b; MENEGUELLO, 2003). Finalmente, o PSB, que participou da co- ligação liderada por Lula em 1989, 1994 e 1998, optou por lançar candidato próprio em 2002 - o governador Anthol1Y Garotinho, do Rio de Janeiro. Garotinho havia sido eleito pelo PDT em 1998, mas em 2001 rompeu com o presidente nacional do partido, Leo- nel Brizola, e mudou-se para o PSB. A candidatura do PSDB não decolou de verdade e Lula venceu o primeiro turno com 46,440/0 dos votos válidos contra 23,20% de Serra. Garotinho, com 17,87%, ultrapassou Ciro Gomes (11,97%) - vota- ção semelhante aos 10,970/lJ obtidos pelo candidato do PPS em 1998 (Tabela 10). No segundo turno, Lula recebeu apoio dos partidos dos outros candidatos (PSB, PPS, PDT e PTB), obtendo a maior votação na história eleitoral brasileira - 62,48% dos votos válidos (Tabela 11). Finalmente, após três derrotas, o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, foi eleito presidente (VAROGA e FORNES, 2003). _.3_2.6 ____________________ n~(nIJ._Jn:l .... II'I ____ ••••.... , ........ ____________________________ . 327 323 <i o o (\j '" :J l'! g; o o o (\j (j) U lfJ co Q 'õ C :J E lfJ (j) 'o .2' (j) ãi lfJ co E lfJ o ü :-e o Q (f) o u °t co Q (f) o u o .c c (j) Q E (j) (f) (j) o UI o "t:I :c ., " ~ UI o ~ * * UI ., "t:I co "t:I 'ü ex> c.o UI :~ 0- ca " c.o N o o o N * " o o N * " o o N o 00 00 M '" r--N LD m M M N o tO m o N o o oo N <D o::;t r- o o o o ~ ~ (Y') o o o o N * " Oo<.Dmo o N o o o N o o o N 00 N '" o "O :e '" "- C') " o 00 '" cri !.ri N N o o o o o o o o " o o o g o o o o o o N LO N LO " N N o o M o co o '" o 00 o o " N o '" " " o... o... m fi ..... 00 o... f-- f-- o... o... o... o o o o o co '" o o o 00 M " '" N -' o... ..:;:t ....... LO oo;:t ro ....... <O o rn 1.0 """ C'\I ...s 1..Õ -<i <ri fi N N o o co Ol LO tO 00 co M Lri M ~ " o o o M " N o o o o o o g o N -.::r o o o o o "d" N Ln m o o r-. o M (Y) .- M " '" M C) o o o o r--- N co o CJ) ["'--. o M N M tO co M o (,000('1')(0 N r- N ~ M LO N r- + N r- r- ui Dl o N LO oi '" M ... '" N LO r- <D N N '" '" Iri '" ~ LO ui '" '" '" ui -' ~ O I- >'! o '" cn N + '" '" LO M M LO ... '" ui N M N r- r- '" o '" o N ~ M N ... O'l "l ~ o '" " ;> CL + Cl] o u U o... + Ul o... CL + fi Ul CL + l- o [L + li:: 11 o ~ o Ui S ::J E g W !fJ @J "" Em 2002, 15 governadores disputaram a reeleição e oito tiveram êxito. Dessa vez, 13 estados realizaram um segundo turno. O PSDB elegeu sete - manteve os governos em São Pau- lo, Goiás, Pará e Ceará e ainda elegeu os go- vernadores de Minas Gerais, Paraíba e Rondônia. O PMD B reelegeu os governado- res de Pernambuco e do Distrito Federal e ain- da elegeu os três governadores da região Sul. O PT reelegeu os governadores do Acre e Mato Grosso do Sul e conquistou o Piauí. A grande surpresa, porém, se deu na elei- ção proporcional para a Câmara Federal, na qual o PT obteve a maior bancada, com 91 deputados - 32 a mais que em 1998. Os par- tidos ligados ao governo Cardoso tiveram as suas bancadas reduzidas - o PSDB, de 99 para 71; o PMDB, de 83 para 74; o PFL, de 105 para 84; e o PPB, de 60 para 49 (Tabela 1). No troca-troca de legendas em janeiro de 2003, esses quatro partidos perderam ainda mais deputados. As bancadas no Senado per- maneceram mais ou menos iguais, exceto as do PSDB e do PPB - que caíram de 16 para 11 e de 4 para 1, respectivamente - e a do PT, que dobrou de 7 para 14 (NICOLAU, 2003). Ao longo do ano 2003, houve bastante "migração" partidária que reforçou o bloco de apoio ao presidente Lula. Antes da posse do novo Congresso em 10 de fevereiro, 37 deputados haviam trocado de legenda e o "bloco Lula" foi de 218 (42,5%) para 252 (49,1 %). Até maio, portanto antes de votar as reformas da previdência e tributária/fiscal, TABELA 10. Resultados do primeiro turno da eleição presidencial: 6 de outubro de 2002. Candidato Lula J.Serra Garotinho C.Gomes J.Maria R.Pimenta Votos válidos Brancos Nulos Votantes Abstenções Eleitorado Partido PT PSDB PSB PPS PSTU PCO n. de votos 39.443.765 19.700.395 15.175.729 10.167.597 402.040 38.608 84.928.134 2.873.203 6.975.128 94.776.465 20.477.648* 115.254.113* Fonte: TSE, resultado final no dia 9 de outubro de 2002. %do eleitorado 34,22 17,09 13,17 8,82 0,35 0,03 2,49 6,05 17,78 100,00 % dos votos 41,62 20,79 16,01 10,73 0,42 0,04 3,03 7,36 100.00 % dos votos válidos 46,44 23,20 17,87 11,97 OA7 0,05 100,00 Coligações: Lula: PT, PL, PCdoB, PMN e PC8; José Serra: PSDB e PMDB; Ciro Gomes: PPS, PDT 8 PTB; Anthony Garotinho: PSB, PGT e PTC; José Maria Almeida (PSTU); Rui Pimenta (peO). *Inclui talvez uns 5 milhões de eleitores fantasmas que não foram depurados do registro eleitorcll. d "w_, ________________________ _ 329 TABELA 11. Resultados do segundo turno da eleição presidencial: 27 de outubro de 2002. Lula PT 52.793.364 45,81 57,59 62,48 J.Serra PSDB 33.370.739 28,95 36,41 37,52 Votos Válidos 84.164.103 100,00 Brancos 1.727.760 1,50 1,88 Nulos 3.772.138 3,27 4,12 Votantes 91.664.001 100,00 Abstenções 23.590.112* 20,47 Eleitorado 115.254.113* 100,00 Fonte: TSE, resultados parciais em 29 de outubro de 2002. Coligações: Lula: PT, PL, PCdoB, PMN, PCB e, ainda, PSB, PPS, PDT, PTB, PSTU, peG e parte do PMDB; José Serra: pSDB e parte do PMDB. o PPB e o PMDB passaram a reforçar a coa- lizão Lula que chegou a 370 (72,1 %) depu- tados - semelhante à coalizão do presidente Cardoso em 1995, Apesar de algumas dissidências no PT e PMDB, em setembro o governo Lula conse- guiu aprovar a PEC da reforma da previdên- cia com 355 votos, inclusive com 62 depu- tados do PSDB e PFL. Estes dois partidos apoiaram esta reforma, por entender que fa- zia parte da agenda do presidente Cardoso. Oito deputados dissidentes do PT foram punidos com 60 dias de suspensão e três fo- ram expulsos do partido (junto com a sena- dora Heloisa Helena) em dezembro. Neste mesmo mês, Leonel Brizola rompeu com o governo Lula e levou "seu" PDT para a opo- sição. No final de 2004, o senador Roberto Freire (PE) levou o PPS para o mesmo cami- nho. Assim, a coalizão Lula sofreu algnma erosão em 2003 e 2004 (MORAIS e SAAD- FILHO, 2003; SAMUELS, 2004b). 5.4 O PT chega aos "grotões" em 2004 Se a eleição municipal de 2000 foi um "prenúncio" da vitória do PT em 2002, muitos acharam que o avanço do PT e seus aliados nas eleições de 2004 poderiam re- forçar as chances para a reeleição de Lula em outubro de 2006. Comparado com as eleições municipais de 2000 (Tabela 9), a esquerda avançou mais ainda no pleito de 2004, de 790 municípios para 1.257, com 29,5% votos a mais, duas vezes maior que o aumento geral (+ 12,53%). O PT por sua vez dobrou o número de pre- feituras conquistadas (187 para 411, com 36,65% votos a mais), e o PPS teve um de- sempenho bem positivo (166 para 304 pre- feituras, com 40,98% votos a mais). Porém, o maior desempenho ficou por conta do PL (com 98,34% de votos a mais, conquistoU 380 prefeituras). O PMDB, PSDB e PFL elegeram menos prefeitos que em 2000, í 1 1 ! t j enquanto o PDT e PTB obtiveram resulta- dos quase iguais aos de 2000. Nas 26 capitais, a esquerda avançou de 12 para 17 cidades, e de 11 para 23 nas mai- ores cidades. Apesar de também aumentar a sua presença no "Brasil urbano" em 2004 o PT sofreu algumas derrotas significativa; - perdeu São Paulo para o PSDB e Porto Ale- gre para o PPS. Entretanto, em razão dos programas so- ciais do governo Lula que alcançaram famíli- as carentes em todo o Brasil, o PT conseguiu eleger muitos prefeitos em cidades pequenas, em comparação com 2000 (Tabela 12). Nas cidades com 10.000 a 50.000 eleitores, o PT mais que dobrou a sua abrangência (de 60 para 134), e mais ainda nos chamados "grotões" (municípios com menos de 10.000 eleitores), de 80 para 219 prefeitos. Soman- do o desempenho dos quatro maiores parti- dos na coligação Lula (PT, PTB, PSB e PL) cresceu de 524 para 826 municípios nos "grotões", e de 343 para 465 da próxima faixa. A Tabela 12 mostra que a penetração do PSDB, PFL, PMDB e PP em cidades meno- res diminuiu consideravelmente. Enquanto o PDT se manteve mais ou menos estável, o TABELA 12. Eleições municipais (2000 versus 2004) - resultados nas cidades grandes e pequenas, para os dez maiores partidos. Partido Prefeituras Votos em 000 Eleitorados' 26 capitais. 96 maiores cidades# 2000'" 2004 2000 "'2004 em 2005 2000 .,. 2004 2000 .,. 2004 PT PTB PSB PL PSDB PFL PPS PDT PMDB PP
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