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Direito Civil - Apostila LFG

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Direito Civil
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Personalidade Jurídica
-Conceito: É a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica. Tanto a pessoa física como a jurídica é dotada desta qualidade. 
Pessoa física ou natural: Vale lembrar que Teixeira de Freitas denominava a pessoa física ou natural de “ente de existência visível”. 
*Pergunta de concurso: Em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica? Aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte do Art. 2º do CC, segundo a qual a personalidade da pessoa começa do NASCIMENTO COM VIDA. Por “nascimento com vida” entenda-se o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório vale dizer, ainda que respire por um único instante, o recém-nascido, mesmo falecendo em seguida, adquiriria personalidade jurídica. Entretanto, a segunda parte do Art. 2º, estabelece que o nascituro teria direitos desde a concepção. Afinal, o nascituro também seria uma pessoa? Para se compreender a verdadeira natureza jurídica do nascituro, é indispensável a análise das suas três principais teorias (Teorias explicativas do nascituro): 
Teoria Natalista: Defendida por Vicente Ráo, Silvio Rodrigues, Eduardo Espínola. A personalidade jurídica somente seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não deve tecnicamente ser considerado pessoa, sendo mero titular de uma expectativa de direito. 
Teoria da Personalidade Condicional: Defendida por Serpa Lopes. O nascituro seria considerado pessoa no que tange a certos direitos personalíssimos (Como o direito à vida), mas, direitos e efeitos de cunho econômico ou patrimonial só seriam adquiridos sob a condição de nascer com vida. Ou seja, não seria ainda pessoa se não quando implementada a condição do nascimento, no que se refere a efeitos patrimoniais. Tem força na questão da herança. Crítica: e os alimentos gravídicos?
Teoria Concepcionista: Defendida por Clóvis Beviláqua e Silmara Chinelato. Afirma que o nascituro deve ser considerado pessoa desde a concepção, inclusive para efeitos econômicos ou patrimoniais (o nascimento apenas consolidaria a personalidade existente). Em vários pontos do nosso sistema é nítida a Teoria Concepcionista (alimentos gravídicos), bem como o direito de receber doação (Art. 542 CC), além disso, reforçando a corrente Concepcionista, o STJ admite dano moral ao nascituro (REsp 931556 RS, 399028 SP). Vale acrescentar ainda que o noticiário STJ de 15 de maio de 2011, que, em nosso sentir, tem fluência concepcionista, admitiu que um casal obtivesse indenização pelo seguro DPVAT pela morte de um nascituro de 35 semanas. 
*Pergunta de concurso: Qual das três teorias foi adotada pelo Direito Civil brasileiro? Trata-se de uma matéria ainda acentuadamente polêmica. Em nosso sentir, mesmo com o julgamento da ADI 3510, em que fora questionada a Lei de Biossegurança, a temática ainda comportaria discussão (a despeito de a Ementa do julgado fazer expressa referência à corrente Natalista). Clóvis Beviláqua, por sua vez, em doutrina ainda atual, em sua clássica obra “Comentários ao CC dos Estados Unidos do Brasil”, afirma que a melhor teoria é a Concepcionista, embora o CC aja adotado a Natalista por ser mais prática. 
OBS: A Teoria Concepcionista vem ganhando força, mas, não chegou ao ponto de justificar para a jurisprudência a transmissibilidade de uma herança para a sua mãe. 
Nascituro: Segundo Limongi França, o nascituro é o ente concebido, de vida intrauterina, mas ainda não nascido. 
Concepturo: É aquele que nem concebido ainda foi, também chamado de prole eventual.
Natimorto: Trata-se daquele ente nascido morto, em relação ao qual o enunciado nº1 da primeira jornada de Direito Civil reconhece a tutela de determinados direitos da personalidade, na perspectiva da dignidade humana, a exemplo do resguardo à imagem e à sepultura. 
OBS: Vale lembrar que o CC da Espanha, em seu Art. 30, até a entrada em vigor da recente lei nº 20/11 exigia, para efeito de aquisição de personalidade, forma humana e uma sobrevivência mínima de pelo menos 24 h. Tal posicionamento, no Brasil, já não seria possível à luz do Princípio da dignidade da Pessoa Humana e segundo a doutrina da Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais. 
-Capacidade: 
De Direito: É uma capacidade genérica que qualquer pessoa tem. Quem tem personalidade jurídica tem capacidade de direito. Segundo Horlando Gomes na obra “Introdução ao Direito Civil”, para o Direito Moderno não há como diferenciar personalidade e capacidade de direito. 
De Fato: Nem toda pessoa tem, pois é a capacidade que a pessoa tem de pessoalmente praticar atos na vida civil. 
A falta da Capacidade de fato gera Incapacidade Civil, que pode ser:
Absoluta: Art. 3º CC
Menores de 16 anos (menores impúberes)
Deficientes Mentais ou os enfermos: Mediante procedimento de Interdição, a incapacidade, inclusive a absoluta, pode ser declarada por sentença, valendo registrar que, especialmente nos casos de enfermidade e deficiência mental, o juiz de direito antes de julgar determinará uma perícia médica. Proferida a sentença de Interdição, registrada e publicada, todos os atos a partir deste momento praticados por incapaz, mesmo em momento de lucidez, sem o seu curador, é considerado inválido (Ver Art. 1177 e seguintes do CPC). 
É válido o ato praticado por pessoa portadora de uma causa de incapacidade (doença mental) e que ainda não fora interditada? Embora a Le civil seja omissa, a doutrina (Holando Gomes), com inegável influência do Direito Italiano, tem admitido a invalidação do ato praticado pelo incapaz, mesmo ainda não interditado, se concorrer três requisitos: Incapacidade de entendimento, demonstração do prejuízo ao incapaz e má-fé da outra parte (que pode ser aferida pelas circunstâncias do negócio).
O projeto do novo CCP, para dar mais segurança jurídica à hipóteses, em seu Art. 774, III, estabelece que o juiz na sentença fixe o termo inicial da interdição.
As pessoas que mesmo por causa transitória não puderem exprimir sua vontade: exemplo, o coma, intoxicação fortuita. 
O CC de 1916 considerava absolutamente incapaz também o ausente e o surdo-mudo que não tivesse habilidade para manifestar vontade. Embora o novo Código não seja expresso, o inc. III do Art. 3º abrange o surdo-mudo que não tenha habilidade para manifestação da sua vontade. E, quanto ao ausente, veremos que a ausência pode traduzir não incapacidade, mas presunção de morte. 
Relativa: Art. 4º CC 
Maiores de 16 anos e menores de 18 anos (menores púberes)
Os ébrios habituais (se a embriaguês neutralizar a capacidade de discernimento, a capacidade é absoluta), os viciados em tóxicos e os que por deficiência mental tenham o discernimento reduzido: Se essas circunstâncias forem profundas, a incapacidade é absoluta.
Os excepcionais, sem desenvolvimento mental incompleto: Exemplo disso, Síndrome de Down, e o pródigo.
 Pródigo: sofre de um transtorno de personalidade, em geral, uma compulsão, que gera a sua incapacidade relativa, podendo também ser interditado. Em verdade, a proteção do pródigo inspira-se na Teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo, desenvolvida por Luiz Edson Fachin, segundo a qual as normas civis, na perspectiva da dignidade humana, deve ser resguardar a cada pessoa um mínimo de patrimônio para que tenha vida digna. O curador do pródigo deve assiti-lo em atos de disposição patrimonial. Vale finalmente dizer, que o curador do pródigo deve se manifestar quanto ao regime de bens que o incapaz pretenda adotar em seu casamento. 
O índio é regulado por lei especial em relação à sua capacidade: Ver lei 6.001/73, Art. 8º. 
OBS: A idade avançada por si só não é causa de incapacidade.
Capacidade de Direito + Capacidade de Fato = Capacidade Civil Plena 
OBS: Em Direito Civil, o conceito de capacidade não se confunde com o de “legitimidade”. Uma pessoa pode ser plenamente capaz, mas não ter legitimidade para a prática de um determinado ato, a exemplo de dois irmãos maiores e capazes impedidos de casarem entre si (falta-lheslegitimidade para o ato). 
- Restitutio in Intregrum: Em primeiro sentido, no âmbito da responsabilidade civil, pode significar a restituição integral devida à vitima em caso de dano. Em um segundo sentido, no âmbito da Teoria Geral, observa Clóvis Beviláqua que Restitutio In Integrum seria um benefício ou privilégio conferido ao incapaz no sentido de poder invalidar um ato formalmente perfeito, simplesmente alegando prejuízo. O CC/16 trazia proibição expressa deste benefício (Art. 8ª), já o CC/02 é silente, embora se entenda que a proibição continua. 
OBS: O Art. 119 do CC/02, em verdade, traz situação inversa: a de conflito de interesses entre representante e representado. Se houver esse conflito, o ato será anulável. 
- Quais são os principais efeitos da redução da maioridade civil? 
Um dos principais efeitos da redução da maioridade civil se fez sentir no âmbito do Direito aos alimentos, na medida em que se instalou controvérsia quanto à cessação deste direito com o simples alcance da maioridade civil. Todavia, o STJ pacificou o entendimento no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia (STF REsp 442502/SP; REsp 739004/DF; HC 55606/SP e Súm. 358 STJ.) O entendimento assentado é de que, regra geral, que o pagamento da pensão deve ser feito até a conclusão dos estudos.
 Outro efeito que merece destaque é no âmbito previdenciário, pois, também houve discussão acerca da possibilidade de se cancelar pagamento de auxílio ou pensão previdenciária com o alcance da maioridade civil. Todavia, firmou-se o entendimento no sentido de que eventuais benefícios previdenciários devem ser pagos até o limite etário estipulado na Lei Previdenciária (8.213/91) especial (Nota SAJ nº42/03; Enunciado 03 da 1ª Jornada de Direito Civil). 
- Emancipação: Nos termos do Art. 5ª do CC, a maioridade é atingida aos 18 anos completos, habilitando a pessoa a pratica dos atos da vida civil. Lembra Washington de Barros Monteiro que a maioridade é atingida no primeiro instante do dia do respectivo aniversário. A emancipação, instituto também consagrado em outros Estados do mundo (Alemanha, Suíça, Portugal) permite a antecipação dos efeitos da capacidade plena, podendo ser: Voluntária (Art. 5º, § único, I, 1ª parte); Judicial (Art. 5º, § único, I, 2ª parte) ou Legal (Art. 5º, § único, II a V). 
Voluntária: A Emancipação voluntária é aquela concedida por ato dos pais, ou por um deles na falta do outro, mediante instrumento público, em caráter irrevogável, independentemente de homologação judicial, desde que o menos tenha pelo menos 16 anos completos. Logicamente, o fato de um dos pais deter a guarda não lhe dá o direito de sozinho emancipar o filho, caso o outro genitor ou representante ainda esteja vivo e seja detentor do poder familiar. O menor a ser emancipado, dada a sua incapacidade, não tem poder para autorizar ou desautorizar os pais. Todavia, é recomendável que participe do ato emancipatório, uma vez que repercutirá em sua própria esfera jurídica. 
OBS: É firme no Direito Brasileiro não apenas na doutrina (Silvio Venosa), mas também, a própria jurisprudência (STF RTJ 62/108; RT 494/92; STJ Resp 122573/PR) O entendimento no sentido de que, na emancipação voluntária, os pais continuam responsáveis pelos ilícitos causados pelos filhos menores, até que alcancem a maioridade civil. 
Judicial: É aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha 16 anos completos. Somente em caso de tutela.
Legal: Deriva da própria lei. Art. 5ª, § único, II a V. Hipóteses:
Casamento: Em regra a capacidade núbil é atingida aos 16 anos. O CC é claro ao dizer que o casamento emancipa. Mesmo que posteriormente a pessoa se separe (existe ainda quem defenda que separação ainda existe) ou divorcie, continua emancipada. Todavia, e se o casamento for invalidado, a emancipação persiste? Respeitável parcela da doutrina, conforme veremos nas aulas de família, corretamente entende que a sentença de invalidade do casamento tem eficácia retroativa para cancelar o registro do matrimônio (Flávio Tartuce, Fernando Simão, Zeno Veloso), caso em que, logicamente, a emancipação queda-se ineficaz (ressalvada a hipótese de reconhecimento da putatividade). O mesmo não ocorre com a União Estável, não comportando interpretação extensiva.
Exercício de Emprego Público Efetivo: Art. 5º, III CC. É quase que impossível, pois nenhum edital de concurso autoriza menores de 18 anos a assumir. 
Colação de grau em curso de ensino superior;
Pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego desde que em função deles o menos com 16 anos completos tenham subsistência própria. 
Desde que com 16 anos e com economia própria. Estabelecimento civil
Estabelecimento comercial 
Emprego
- Economia própria: Como se sabe, o novo CC adotou um sistema aberto de normas, permeado de conceitos abertos ou indeterminados e de Cláusulas Gerais. “Economia Própria” é um conceito indeterminado ou vago, a ser preenchido pelo juiz segundo as circunstâncias do caso concreto, à luz do Princípio da Operabilidade (ver na parte final da apostila texto do profº Miguel Reale sobre o tema). O Princípio da Operabilidade aponta no sentido de que as normas jurídicas, na medida do possível, devem conter conceitos abertos para a sua melhor aplicação ao caso concreto. O CC também adota o Princípio da Socialidade (determinar a função social) e o da Eticidade (determina a observância da boa-fé, da ética na relação jurídica). 
*Pergunta de Concurso: O menor emancipado tem direito aos alimentos? À luz do Princípio da Solidariedade Familiar é admissível que o emancipado em caso de necessidade tenha direitos aos alimentos (AC 7001.142.9321/TJRS).
OBS: O menor emancipado, segundo Paulo Sumariva (“A Lei de Falências e a inimputabilidade penal) que exerça atividade empresarial, pode falir, e se cometer crime falimentar, responderá com base no ECA, uma vez que a emancipação não antecipa a imputabilidade penal. 
OBS: LFG observa que embora o menor emancipado não possa ser criminalmente preso por não ter imputabilidade penal, pode sofrer prisão civil, uma vez que é um meio de cumprimento de uma obrigação. 
OBS: A emancipação não autoriza a habilitação para guiar veículo automotor, uma vez que o Art. 140, I, CTB estabelece como um dos requisitos para dirigir que a pessoa seja “penalmente imputável”, ou seja, aos 18 anos. 
- Extinção da Pessoa Física/ Natural: O Art. 6º do CC é claro ao dizer a existência da pessoa natural termina com a morte. Nos dias de hoje, a comunidade científica mundial reconhece que o critério determinante do óbito, inclusive para fins de transplante, é a morte encefálica (Resoluções nº 1480/97 e 1826/07 do Conselho Federal de Medicina). O óbito deve ser declarado por um médico, e, em sua falta, nos termos dos Art. 77 e seguintes da Lei de Registros Públicos por duas testemunhas. 
Hipóteses de morte presumida: O CC admite duas situações de morte presumida: 
Em caso de ausência, quando for aberta sucessão definitiva. 
OBS: A ausência ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicílio, sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens. Trata-se de um mero procedimento regulado nos Arts. 22 e seguintes do CC (ver detalhado texto complementar no material de apoio). 
Haverá morte presumida também, sem decretação de ausência, nos casos previstos no Art. 7º do CC. Chamado procedimento de Justificação. 
- Comoriência: Traduz uma situação de morte simultânea, em que duas ou mais pessoas, na mesma ocasião falecem, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos (Art. 8ª CC). Comoriência é diferente de Premoriência (pré-morte). A presunção da Comoriência (morte simultânea) só deve ser aplicada se o examinador não indicar a sequência cronológica dos óbitos. Resulta na ideia de que as mortes ocorreram simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo, caso em que são abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas, de forma que um comoriente nada herda do outro.Pessoa Jurídica
- Conceito: Como decorrência do fato associativo, a Pessoa Jurídica, em uma primeira noção, pode ser definida como um grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade própria, para atingir fins comuns. É claro que, ao longo da evolução do instituto, tipos peculiares de Pessoa Jurídica surgiriam, escapando desse primeiro “standard”, a exemplo das fundações. Durante muitos anos, a doutrina debateu acerca da própria denominação a ser utilizada: pessoas morais, pessoas fictícias, universalidades, “entes de existência ideal” (Teixeira de Freitas), pessoas místicas, até que se consolidou no nosso sistema a expressão Pessoa Jurídica. 
OBS: O fato de a Receita Federal conferir um CNPJ não significa, segundo a Teoria do Direito Civil, que, tecnicamente, o ente seja uma Pessoa Jurídica, pois existem ficções tributárias. Quem diz o que é PJ é o Direito Civil e não o Tributário. 
- Natureza Jurídica da Pessoa Jurídica: Teorias explicativas:
Corrente Negativista: Negava a existência da Pessoa Jurídica, sua autonomia jurídica. Autores como Ihering, Brinz, Bekker e Duguit. Alguns diziam que PJ não existiam, falavam que era um grupo de PF reunidas, outros diziam, que a PJ não tinham existência, pois era um patrimônio coletivo.
Corrente Afirmativista: Aceitava a categoria da PJ. Como um tipo de Pessoa autônoma. Existiam várias subteorias, como:
Teoria da Ficção: Desenvolvida por Windschud/Savigny. Para essa teoria, a PJ teria uma existência meramente abstrata ou ideal, por ser pura criação da técnica jurídica. O defeito dessa teoria é não reconhecer na PJ uma dimensão social que ela tem. 
Teoria da Realidade Objetiva: Está de posto distante da primeira, dizia ao contrário. De natureza sociológica ou organicista foi defendida por Lacerda de Almeida. Segunda esta teoria, a PJ seria uma simples organismo social vivo, sem intervenção ou dependência da técnica do Direito. Reconhecia a PJ como mero instrumento sociológico. 
Teoria da Realidade Técnica: É a mais equilibrada de todas. Foi defendida por autores como Ferrara e Saleilles. Para essa teoria, mais equilibrada, a PJ, embora dotada de autonomia e dimensão social, seria abstratamente personificada pela técnica do Direito (Art. 45 CC). 
Teoria Lógico-Formal de Kelsen: Um conjunto de normas.
Teoria Institucionalista de Hauriou: Dizia que a PJ seria uma instituição.
*Pergunta de Concurso: Em que momento e de que forma a PJ adquire personalidade? A base da resposta encontra-se no Art. 45 do CC, segundo o qual começa a existência legal das PJ de direito privado com a inscrição do seu ato constitutivo (contrato social ou estatuto) no respectivo registro (em geral, junta comercial ou CRPJ), precedida quando necessário de autorização especial do Poder Executivo.
OBS: Conforme deve ser visto nas aulas de Direito Empresarial, não havendo registro necessário do ato constitutivo, o qual, segundo Caio Mário, tem efeitos Ex Nunc, o ente não tem existência legal, sendo tratado como mera sociedade despersonificada (outrora chamada irregular ou de fato), nos termos dos Arts. 986 e seguintes do CC, caso em que os próprio sócios responderão pessoal a ilimitadamente pelos débitos contraídos. Excepcionalmente, determinados tipos de PJ, para se constituírem, necessitam de uma autorização especial do Poder Executivo, a exemplo dos bancos (BACEN) e das seguradoras (SUSEP), operadoras de plano de saúde (ANS).
*Pergunta de concurso: O que são entes despersonificados? Trata-se de determinadas entidades que, posto tecnicamente que PJ’s não sejam, tem capacidade processual (Art. 12 do CPC), a exemplo do Espólio, da massa falida, da herança jacente do condomínio. 
- Espécies de Pessoa Jurídica de Direito Privado: Art. 44 CC. O desdobramento do Art. 44 do CC, mesmo as Organizações Religiosas e os Partidos Políticos, tendo natureza associativa, for para, alterando-se também o Art. 2031, isentar tais PJ’s, da obrigação legal de se adaptarem (prazo de 1 ano) ao novo CC. O legislador, por sua vez, cuidou de estender o prazo de adaptação ao CC/02 para as outras entidades, como forma de “consolo jurídico”(ver item 8 da apostila 02). As PJ’s anteriores que não tenham se adaptado ao novo CC/02, podem sofrer diversas consequências, dentre as quais: impossibilidade de obtenção de crédito ou financiamento, impossibilidade de participação em licitação, e, principalmente, a responsabilidade pessoal dos seus próprios sócios pelos débitos contraídos, eia que passariam a funcionar irregularmente. Em conclusão, vale acrescentar ainda que a lei 12.441/11 consagrou nova espécie de PJ de direito privado, objeto do direito empresarial, a E.I.R.E.L.I (empresa individual de responsabilidade limitada). 
Sociedades
Associações
Fundações
São tipos de AssociaçõesOrganizações Religiosas
Partidos Políticos
- Fundações de Direito Privado: As Fundações tem natureza jurídica peculiar. Diferentemente das Sociedades e das Associações, não resultam da união de indivíduos, mas sim, da afetação de um patrimônio que se personifica para a realização de finalidade ideal (Art. 62, CC). Não podem ter finalidade lucrativa, tem necessariamente finalidade ideal. Pode obter receita, mas não lucro (distribuição de capital). 
Requisitos para a criação de uma Fundação: 
Destacamento ou a afetação de bens livres do seu instituidor
Instituição por escritura pública ou testamento 
Elaboração do Estatuto da Fundação (ato normativo e organizacional) (Art. 65, CC). Não tem contrato social! Quem pode elaborar o Estatuto é o instituidor, é possível que um terceiro, fiduciariamente (confiança) possa elaborar o Estatuto. Se este terceiro não elaborar, subsidiariamente, o MP pode (exceção). 
Aprovação do Estatuto: Em regra, a aprovação do Estatuto é feita pelo MP. Porém, se foi o próprio MP quem elaborou, a aprovação se dará por um juiz (Art. 1202, CPC). 
Registro da Fundação: Deve ser feito no CRPJ. 
OBS: O MP tem uma precípua função fiscalizatória das Fundações de Direito Privado no Brasil, nos termos no Art. 66, CC. O §1ª do Art. 66, CC já fora devidamente corrigido pelo STF, ao julgar a ADIN 2794, para se reconhecer, pela própria simetria constitucional, que, Fundações situadas no DF e Território devem ser fiscalizadas pelo MPDFT e não pela Procuradoria da República (MPF). Logicamente, em havendo justificativa, o MPF pode atuar em parceria com o MP do estado, na fiscalização, por exemplo, de uma Fundação que haja recebido verba do Governo Federal com suspeita de irregularidade na sua aplicação (ver enunciado 147 da 3ª Jornada de Direito Civil). 
Ver: Arts. 69, que cuida do destino do patrimônio da Fundação que acaba, bem como, os Arts. 67 e 68, que tratam da alteração do Estatuto da Fundação.
- Associações: As Associações são PJ de direito privado formadas pela união de indivíduos com finalidade ideal (Art.53 CC). Também não podem ter finalidade lucrativa, pois suas respectivas receitas são voltadas para o investimento nelas mesmas. O ato normativo e organizacional da Associação é o seu Estatuto, cujos requisitos estão no Art. 54 do CC, são registradas no CRPJ também. O órgão mais importante da Associação é a Assembleia Geral. 
OBS: O Art. 55 do CC permite que, em uma Associação, haja categorias diferentes de associados com vantagens especiais. Dentro de uma mesma categoria não pode haver discriminação. Vale lembrar ainda, nos termos do Art. 61, que, regra geral, dissolvida a Associação, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no Estatuto, ou, sendo este omisso, a outra instituição (pública) municipal, estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes. 
- O CC admite em seu Art. 57 a exclusão de um associado em havendo justa causa (conceito aberto). 
OBS: O Art. 57 do CC que trata da expulsão do associado não pode ser aplicado a condômino, eis que condomínio não é associação. Para condôminos de comportamento antissocial o § único do Art. 1337 prevê multa que pode chegar ao décuplo do valor original, podendo, em tese, em caso de execução resultarna perda do próprio imóvel. O enunciado 508 da 5ª Jornada de Direito Civil, em posição polêmica e ousada admitiu a exclusão do condômino, não com base no Art. 57, mas à luz do Princípio da Função Social e desde que houvesse Ação Judicial para este fim. 
- Sociedade: A sociedade, pessoa jurídica de direito privado, é dotada de personalidade jurídica própria, instituída por meio de contrato social (tem base no Art. 981 do CC), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucro. Possui finalidade lucrativa. 
OBS: O direito anterior, influenciado pela teoria francesa dos atos de comércio, reconhecia dois tipos de sociedade: civis e mercantis. Estas últimas, para perseguir lucro, praticavam atos de comércio. Ao longo do séc. XX, com a especial contribuição da teoria da empresa desenvolvida do direito italiano, as antigas noções de “comerciante e comércio” passaram a ser superadas pelos conceitos de “empresário e empresa” (temas que serão desenvolvidos na grade empresarial). Nesse contexto, o CC/02, em seu Art. 982, acompanhando este processo de mudança, superou as antigas espécies (sociedade civil e mercantil), substituindo-as pelas sociedades simples e empresária. 
OBS: É melhor e mais adequado dizer, dada a própria evolução do conceito de empresa, que as sociedades empresárias correspondem, mas não obrigatoriamente se identificam, às antigas sociedades mercantis; e as sociedades simples às antigas sociedades civis. 
*Pergunta de Concurso: É juridicamente possível a sociedade entre cônjuges? O Art. 977 do CC admite que cônjuges contratem sociedade entre si ou com terceiros, desde que não sejam casados nos regimes de comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Isso por que entende o legislador que esses regimes são mais vulneráveis a fraude. É firme o entendimento no Brasil, inclusive com parecer favorável do DNRC (departamento nacional do registro de comércio – P. nº 125/03), no sentido de que, em respeito ao ato jurídico perfeito, o Art. 977 não se aplica a sociedades anteriores ao novo CC. 
Sociedade Empresária: Art. 982 do CC. Uma sociedade empresária é fruto do desenvolvimento do ideal capitalista. Isso por que ela é marcada sobre tudo pela impessoalidade. No exercício da sua atividade, a figura pessoal dos seus sócios, não tem tanta importância, na medida em que atuam como meros articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima). Além disso, estão sujeiras a registro na junta comercial e se submetem à legislação falimentar. Ex: Uma revendedora de veículos ou banco. Requisitos:
Material: Deve exercer uma atividade tipicamente empresarial (Art. 966).
Formal: Registro na Junta Comercial (R.P.E)
Sociedade Simples: As sociedades simples são marcadas pela pessoalidade. Vale dizer, neste tipo de sociedade a figura pessoa de cada sócio é indispensável para o exercício da sua atividade, por ele pessoalmente prestada, ainda que conte como auxílio de empregados ou colaboradores. Por isso, as sociedades simples (que em geral tem registro no CRPJ), são prestadoras de serviços, a exemplo das sociedades de médicos e de advogados. A empresarialidade, todavia, é um elemento que ao longo do tempo pode recomentar uma recategorização de uma sociedade originariamente simples em sociedade empresária. 
OBS: Vale lembrar ainda, que, por norma legal expressa (Art. 982, § único, CC) a sociedade anônima é sempre empresária e a cooperativa, sociedade simples. Quanto às cooperativas, ainda existe acesa polêmica no que tange ao seu registro: 1ªC: sustenta que, a partir do novo CC, eis que passou a ser sociedade simples, o seu registro deve ser feito no CRPJ (Julieta Lunz e Paulo Rego). 2ªC: (Sergio Campinho En. 69 da IJDC) defende a tese de que o registro deve continuar a ser feito na Junta Comercial. 
- EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada): Como sabemos, o empresário individual deve ser registrado na junta comercial e, no exercício da sua atividade econômica, responderá pessoalmente pelas dívidas contraídas. Em virtude disso milhares de brasileiros preferem constituir sociedades (algumas de mera fachada ou “de etiqueta” – Waldirio Bulgareli), para, com isso, adotarem a forma “ltda”, limitando assim a sua responsabilidade ao capital social. A partir do momento da entrada em vigor da Lei 12.441/11 que criou a EIRELI, o inconveniente de se buscar a necessária criação de sociedade para efeito de limitação de responsabilidade deixou de existir. 
Conceito: A EIRELI, nos termos do Art. 980-A do CC, é uma Pessoa Jurídica Unipessoal, com responsabilidade limitada ao seu capital social (que não poderá ser inferior à 100X ao maior salário mínimo vigente – R$ 62.200,00). 
OBS: O recente enunciado 469 da V JDC corretamente afirma que a EIRELI não é uma sociedade, mas um novo ente jurídico personificado. Tramita no STF a ADIN 4637 que pretende a declaração de inconstitucionalidade deste valor mínimo para a constituição da EIRELI. Autores especialistas na matéria, a exemplo do professor Frederico Pinheiro, admitem a possibilidade de se aplicar o instituto da desconsideração da PJ em face da EIRELI. 
- O §2º do Art. 980-A do CC só permite que a PF constitua uma EIRELI uma única vez. Vele dizer, que uma PF só pode ser uma EIRELI. A despeito da omissão da norma, a instrução normativa nº 117/11 do DNRC proíbe que PJ possa constituir EIRELI. 
OBS: Conforme será visto na grade de empresarial, não havendo prejuízo ao credor preexistente admite-se a “transformação de registro” de uma PJ existente em EIRELI (Art. 980-A, §3º). Não é difícil concluir que, por ser uma “empresa individual”, o registro da EIRELI deve ser feito na Junta Comercial. Finalmente, é de grande interesse a discussão a respeito da “EIRELI simples”. Diversos cartórios de registro de PJ no Brasil tem aceitado o registro da EIRELI simples, constituída para o desempenho de atividade não empresarial, compatível com aquela desempenhada pelas sociedades simples (ex: EIRELI constituída por um médico). A Receita Federal decidiu conferir-lhe CNPJ reforçando a corrente afirmativa, embora a polemica ainda persista a favor: A. Gialluca e contra: Frederico Pinheiro.
*Pergunta de Concurso: PJ pode sofrer dano moral? Doutrinariamente, já houve forte resistência à tese, sob o argumento de que PJ não sofreria dano moral por não ter dimensão psicológica (Wilson Melo da Silva). Aliás, o En. 286 da IV JDC ao afirmar que PJ não é titular de direito da personalidade, aparentemente reforça esta posição doutrinária. Todavia, é pacificado na jurisprudência brasileira a tese segundo a qual a PJ pode sofre dano moral (Súm. 227 STJ). 
Direitos da Personalidade
- Noções Conceituais: Art. 1ª, CC. Constitui categoria fundamental do sistema, dizer respeito a tudo aquilo que é necessário para assegurar a proteção fundamental da pessoa. 
Pessoa (dispõe de personalidade) – Personalidade Jurídica – Direito da Personalidade = Proteção Fundamental (respeito à dignidade da pessoa humana)
Os direitos da personalidade surgiram após a 2º Guerra Mundial, ou seja, enquanto o Direito não se preocupou com a dignidade humana, não se falava em direitos da personalidade. Os direitos da personalidade dizem respeito aos direitos subjetivos extrapatrimoniais (não tem conteúdo econômico) e a situações jurídicas existenciais. As relações jurídicas privadas podem ser: 
Existenciais:
Direitos da Personalidade: O rol sempre será exemplificativos. Tudo aquilo que está ligado à proteção da dignidade humana. 
Patrimoniais:
Direitos Reais
Direitos Obrigacionais
Conclusão: No Brasil os direitos da personalidade estão sustentados em uma Cláusula Geral (dignidade da pessoa humana). Em. 274 da Jornada. O direito civil evolui significativamente da tutela jurídica do “ter”, para a tutela jurídica do “ser”. O CC/02 tem a preocupação de proteger as relações existenciais, ou seja, uma “Despatronização das Relações Privadas”. A dignidade da pessoa humana é preservada sempre. 
OBS: Os entes despersonalizados não podem sofrer danosmorais, mas podem sofre danos materiais, pois só participam de relações jurídicas patrimoniais. 
- Conteúdo jurídico Mínimo da Dignidade Humana: É composto de:
Proteção da integridade física e psíquica (ex: Lei 11.346/06 – garante os direitos a alimentação adequada)
Garantia de Liberdade e Igualdade: STF, ADIN 4277/DF – natureza familiar das uniões homoafetivas, como expressão da dignidade humana. 
Reconhecimento do direito ao mínimo existencial ou “Direito a um patrimônio Mínimo”. Ex: Lei. 8.009/90 – Lei do Bem de Família. Estabelece um padrão médio de vida digna, ou seja, protegem os bens imóveis de valor médio (STJ), esse entendimento de padrão médio cabe somente aos bens móveis. 
- Conceito de Dignidade Humana: É um valor jurídico do ordenamento como um todo. Nas relações públicas a dignidade é vista de uma forma diferente, ou seja, é vista como Direitos e Garantias Fundamentais. Trás uma eficácia positiva (são exigidas condutas para garantir a dignidade) e outra negativa (a dignidade é limite para a atuação dos direitos). Até 1988, a dignidade foi angularizada (público e privado), a partir de 88, houve uma mudança significativa nesta órbita (STF RE 201.819/RJ), onde foi discutida a eficácia horizontal dos direitos fundamentais ou aplicação direta dos direitos fundamentais. 
- Direitos da personalidade e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: Os Direitos e Garantias Fundamentais não são aplicáveis não só no âmbito das relações públicas, também, nas relações privadas. *STF RE 201819/RJ. Assim, houve uma mistura entre os direitos da personalidade e os direitos fundamentais, que antes não se misturavam. Mesmo os Direitos Fundamentais que não correspondem aos direitos da personalidade possuem uma Eficácia Horizontal. 
- Eficácia Horizontal dos Direitos Sociais: Aplicação direta dos direitos sociais nas relações privadas, que também merecem essa incidência. *STJ Súm. 302 ( a relação privada não pode violar direito social à saúde); STJ Súm. 364 (“single”, pessoa sozinha não possui bem de família, mas seu imóvel é protegido pela impenhorabilidade). 
- Direitos da Personalidade Vs. Liberdades Públicas: O exercício do direito da personalidade pode gerar como consequência a imposição de uma obrigação (positiva ou negativa) ao Poder Público. Estas imposições são as Liberdades Públicas. Os Direitos da Personalidade e as liberdades públicas operam em campos diferentes. Os direitos da personalidade se estabelecem em ângulo privado (tudo o que é necessário para uma vida digna), mesmo assim, exigem uma atuação do poder público, sendo positivas ou negativas. Ex: o direito a locomoção (direito da personalidade), porém o Habeas Corpus se apresenta como uma liberdade pública. 
- Momento Aquisitivo: Aqui se fala em início da proteção. A concepção é o momento aquisitivo dos direitos da personalidade. *STJ Resp 399028/SP houve o reconhecimento da legitimidade ativa do nascituro para ajuizar ação de indenização por dano moral. O natimorto tem direitos da personalidade (Em. 1 da Jornada). A lei não permite se registrar o natimorto (prova objetiva). Lei 11.105/05 – Lei de Biossegurança, Art. 5º (ADIN 3510/DF). 
OBS: Os embriões congelados não têm direitos da personalidade, pois eles podem ser descartados.
-Momento Extintivo: É a morte. É o limite dos direitos da personalidade, conclui-se que os direitos da personalidade são vitalícios (se extingue com a morte do titular) e não perpétuos.
Situações polêmicas/controvertidas, relativas ao momento extintivo: 
Sucessão processual. Art. 43 do CPC. Ocorre quando o titular sofre uma lesão à sua personalidade ainda vivo, propõe a ação e falece no curso do procedimento. Não há transmissão de nenhum direito, neste caso os herdeiros irão se habilitar e dar continuidade ao processo. Confirma-se a regra geral de que os direitos da personalidade se extinguem com a morte do titular. Interesse somente no direito processual, não havendo discussão de direito material. 
Transmissão do direito à reparação do dano. Art. 943 do CC. Ocorre quando o titular sofre uma lesão à sua personalidade ainda vivo e falece sem propor a ação. Aqui a questão é meramente de direito material. Neste caso, transmite-se o direito de propor a ação ao espólio do falecido. A transmissão se deu no direito patrimonial e não no direito da personalidade em si. *STJ Resp 324886 (direito da personalidade não se confunde com direito patrimonial decorrente da violação do direito da personalidade). A possibilidade de propositura da ação pelo espólio depende da inexistência da prescrição, esse direito é transmitido com a prescrição em curso. 
Lesados indiretos. Art. 12, § único do CC. Ocorre quando o dano à personalidade de alguém se consuma após o seu óbito. Neste caso, o dano atinge diretamente ao morto; e indiretamente, aos seus familiares vivos. Estarão legitimados como lesados indiretos para a propositura da ação. É o caso de legitimidade autônoma, isso por que os lesados indiretos irão pleitear em nome próprio, direito próprio. No nosso direito encontra-se a proteção aos direitos dos familiares mortos. Rol dos lesados indiretos: 
Descendentes
Ascendentes
Cônjuge sobrevivente (companheiro e parceiro homoafetivo)
Colaterais até o 4º grau
OBS: a doutrina entende que esse rol é exemplificativo e não taxativo. O fundamento dele seria o afeto, e não a biologia. Então poderiam estar a noiva, a namorada, o enteado. O §único do Art. 20, CC exclui a legitimidade dos colaterais quando se tratar de violação ao direito de imagem do falecido. En. 5 da Jornada (se trata de princípio da especialidade). *STJ Resp 86109 e Resp 521697/RJ. 
-Fontes: Jus naturalismo X Positivismo 
Jusnaturalismo: Para a doutrina majoritária a fonte dos direitos da personalidade é divina, pois seriam inatos ao homem. Ex: Tribunal de Nuremberg. 
Positivismo: Pontes de Miranda, Gustavo Tepedino. É uma opção jurídica e cultural do sistema. Sustenta que os direitos da personalidade são produto da evolução do sistema jurídico, no Brasil império, o negro era coisa (onde estavam os direitos da personalidade?). 
- Direitos da Personalidade e Pessoa Jurídica: No sistema não há dignidade da pessoa jurídica, pois não dispõe de direito da personalidade, pois ele está ancorado da dignidade da pessoa humana. Malgrado a pessoa jurídica não disponha de direitos da personalidade, pelo fundamento da dignidade da pessoa humana, merece a proteção que deles decorrem. Assim a PJ terá a proteção patrimonial decorrente dos direitos de personalidade. Art. 52 do CC. *STJ Resp 433954. STJ Súm. 227 “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (no que couber)”. Um. 286 da Jornada.
- Conflitos entre direitos da personalidade e liberdade de comunicação social: Abrange dois diferentes valores: liberdade de imprensa + liberdade de expressão = liberdade de comunicação social. Ponderação de interesses (conflito de direitos). Súm. 221 STJ e Súm. 281. Esse raciocínio serve também para dirimir o conflito entre liberdade de expressão, o Brasil não acolhe o “Hate Speech”. STF HC 82424/RS (neste julgado o STF confirmou que não admitimos o “Hate Speech”). 
- Características: Art. 11, CC
Indisponibilidade: São indisponíveis ao titular. Os direitos da Personalidade são relativamente indisponíveis. Admitem restrição voluntária, nos casos previstos em lei. Podem ser relativizados com base na autonomia da vontade, pois esta se encontra prevista em lei (CC). En. 23 da Jornada. 
Irrenunciáveis
Intransmissíveis
Absolutos: com sentido próprio, não no sentido de não relativos. No sentido de oponíveis Erga Omnes. 
Extrapatrimoniais: o conteúdo dos Direitos da Personalidade, não tem apreciação econômica. Porém, uma vez violados, pode ensejar reparação econômica. 
Impenhoráveis: não podem ser objeto de penhora por que não tem valoração econômica. 
Inatos: Inerentes à condição humana. 
Imprescritíveis: não há prazo extintivo para o seu exercício. Porém, uma vez violados, há prazo extintivo para requerer a indenização correspondente (3 anos – prazo comum para asações reparatórias)
OBS: Direitos Existenciais não possuem prazo para o seu exercício, direitos patrimoniais submetem-se a prazo prescricional. Uma exceção: STJ Resp 816209/RJ (aplicação da Lei 9.140/95, Art. 14) – imprescritibilidade da indenização decorrente de tortura.
Vitalícios: Extinguem-se com o titular, e não perpétuos. Art. 943, CC.
- Limites ao ato de restrição voluntária dos Direitos da Personalidade: En. 4 da Jornada
O ato de disposição não pode ser permanente (desde que limitadamente no tempo). Ex: cessão de imagem tem um prazo de 5 anos renováveis. 
O ato de disposição não pode ser genérico: O titular pode dispor de todos os seus direitos indefinidamente. É sempre episódico, casuístico, de modo que a cessão de um direito não significa a cessão de todos.
O ato não pode violar a dignidade do titular. 
OBS: A intervenção do Estado nos Direitos da Personalidade deve ser mínima. 
A tendência do direito Civil é de intervenção mínima do Estado
- Proteção jurídica: Art. 12, caput do CC. Esquema protetivo dos direitos da personalidade. A técnica de proteção de direitos do CC/16 era insuficiente (lesão = sanção (perdas e danos)). Houve uma ruptura do binômio. Com isso, o Art. 12, implantou uma nova técnica, que não eliminam outros mecanismos de defesa (tutela penal, administrativa, quando envolver o poder público e a autodefesa – 935 CC, prevista em lei – Arts. 1301 e 1303):
E/OUTutela Preventiva: se materializa por meio de Tutela Específica (Art. 461 CPC e 84 do CDC). 
Tutela Compensatória: se materializa por meio de indenização por danos morais (Art. 5ª, V, X, XII da CF e do CC Art. 927). Passou a ter caráter subsidiário. 
- Tutela Específica: O provimento jurisdicional que se mostre adequado para a solução de um caso específico. É a solução adequada para resolver aquele problema, é sempre casuística. O juiz pode adotar qualquer providência para a obtenção do resultado prático equivalente. O juiz pode conceder, ampliar, reduzir, substituir e extinguir a tutela específica de ofício, independentemente de pedido das partes. En. 140 da jornada. Ex: tutela inibitória, sub-rogatória e remoção do ilícito, art. 461 do CC.
Mandado de distanciamento (restrição de direitos ou restrição ao direito de locomoção) *STJ CC 103813/MG e STJ RHC 23654/ AP
Prisão por tutela específica: Admissibilidade excepcional (subsidiariamente) da prisão, por caráter residual de ponderação de interesses. Marinoni e Didier. Não tem prazo. 
- Tutela Compensatória: Há uma correlação entre direitos da personalidade e danos morais, com isso houve uma valorização técnica do conceito de dano moral. O dano moral agora é a efetiva violação da personalidade. Se os direitos da personalidade são exemplificativos, o cabimento de dano moral também. Em última análise o dano moral é a violação da Dignidade da Pessoa Humana, por esses direitos se submetem a um rol exemplificativo. A prova do dano moral hoje é In Re Ipsa, ou seja, o critério de prova de dano moral se tornou objetivo *STJ Resp 506437/SP. 
	Consequência: Súm. 37 do STJ. Ao mesmo tempo em que dano moral (dano moral, dano à imagem e dano estético) é gênero, é espécie (violação do direito à honra). Então se admite a cumulabilidade de dano moral, com dano moral desde que se trate de bem jurídicos distintos. *Súm. 387 do STJ. As Súmulas 385 e 388 estão em conflito.
Problematização da correlação entre danos morais e direitos da personalidade.
Natureza do Dano Moral: compensatória e não reparatória. Não tem natureza punitiva. Mas ao fixar o quantum indenizatório, o juiz deve levar em conta a punição do agente, caráter educativo. 
A fixação do dano moral é de circunstância fática. Não se pode interpor Resp para rediscutir valor do dano moral em razão da vedação da Súm. 7 do STJ. *Resp 816577 (não se aplica a súm. 7, em matéria de fixação de arbitramento de dano moral). Neste caso, afasta-se a súmula 7, para que se possa rediscutir o quantum do dano moral. 
Inadimplemento contratual e o da moral: O inadimplemento contratual, em linha de princípio, gera apenas dano material. Art. 408 CC (cláusula penal). *STJ Resp 202564 (passou a admitir o dano moral contratual).
Natureza do dano moral contratual: Extracontratual, pois decorre da violação de valores jurídicos impostos por lei, e não contratual. Esse valor pode exceder o valor do próprio contrato. Ex: plano de saúde, se recusa a cobertura indevidamente; companhia de água/energia que indevidamente corta o serviço. 
Legitimidade: Pelo seu conteúdo pecuniário, o juiz não pode fixar de ofício, por isso depende de pedido da parte. Na tutela individual, o MP não tem legitimidade para requerer dano moral ordinariamente. Art. 68 CPP (exceção). *STF RE 135328/SP (inconstitucionalidade progressiva, ou norma em vias de inconstitucionalidade), onde não houver Defensoria pública em funcionamento, o MP permanece legitimado. 
- Tutela Jurídica Coletiva dos direitos da personalidade: Art. 1ª da Lei 7.347/85 e o Art. 6ª, VI do CDC reconheceram a possibilidade de dano moral difuso (de todos e de ninguém) ou coletivo (grupo determinável de pessoas), transindividual. Existe agora uma perspectiva coletiva dos direitos da personalidade, do corpo social. Ex: danos morais ao meio ambiente e decorrente de improbidade administrativa são difusos. Dano moral decorrente de a violação de uma convenção coletiva é coletivo. Ocorre por meio de Ação Civil Pública (colegitimados – associações, poder público, MP e a Defensoria pública). 
	Ação Civil Pública: Direitos Difusos, Coletivos, Individuais Homogêneos (tocam a duas ou mais pessoas). O dano moral difuso ou coletivo somente pode ser requerido por meio de Ação Civil Pública. Porém, a Ação Civil Pública, também pode ser usada para requerer dano moral individual, se for homogêneo (liquidação e execução são individuais).
- Direitos da Personalidade e as pessoas públicas: Essas pessoas sofrem uma relativização dos Direitos da Personalidade, mas não uma eliminação. As suas personalidades se tornam públicas por conta de seu oficia ou sua profissão. Esta relativização não pode geram desvio de finalidade. 
- Classificação: Tem como plano de fundo a Dignidade da Pessoa Humana.
Integridade Física 
Integridade Psíquica
Integridade Intelectual
Bem de Família
- Breve Histórico: O referencial mais importante do bem de família é o Homestead Act do Direito Texano (Lei texana de 1839). 
- Conceito: Inicialmente, é importante frisarmos a existência de dois tipos de bem de família, o bem de família voluntário (Art. 1711 do CC) e o bem de família legal (Lei 8.009/90). Assim, para conceituarmos adequadamente o instituto, é preciso saber se estamos nos referindo ao bem de família voluntário ou o bem de família legal. 
Bem de família voluntário: Conceitualmente, o denominado bem de família voluntário é aquele instituído por ato de vontade, mediante registro cartorário (Art. 167, I, 1 da LRP), nos termos dos artigos 1711 e seguintes do CC , e desde que respeitado um limite de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores ao tempo da sua criação. A lei estabelece um limite de valor para a instituição do bem de família voluntário, visando-a, especialmente, evitar fraudes, na medida em que com a instituição deste bem de família, este patrimônio passa a ser protegido por dívidas futuras. Dois efeitos básicos derivam da instituição do bem de família voluntário:
Impenhorabilidade por dívidas futuras, nos termos do Art. 1715 do CC. 
Inalienabilidade do bem, nos termos do Art. 1717 do CC. Para alienar tem que der um procedimento, deve-se ter o consentimento dos interessados e deve ouvir o MP. 
OBS: Inovando, o Art. 1712 do CC, admitiu que, ao instituir o bem de família voluntário, sejam afetadas rendas ou valores mobiliários que sirvam para a mantença da família no imóvel (Art. 1712 do CC). 
	Situação diversa é aquela em que, o casal aluga o imóvel residencial para viver da renda de aluguel gerada por aquele bem de família (especialmente nos termos da lei 8.009). Em tal caso, o STJ já firmouentendimento no sentido da impenhorabilidade da renda gerada. *Resp 439920/SP Ag RG no Resp 975858/SP. 
Ler os artigos: 1720 1721 e 1722. 
Bem de Família Legal: em virtude da pouca aceitação social, a despeito da sua finalidade nobre, o bem de família voluntário não alcançou maior sucesso entre nós (Silvio Rodrigues e Villaça Azevedo) neste contexto, no início da déc. 90 fora aprovada a lei 8.009, que consagrou o denominado “Bem de Família Legal”. Este bem de família, diferentemente do voluntário, dispensa instituição por ato de vontade ou registro cartorário, valei dizer, a proteção conferida por lei é automática, independentemente do próprio valor do imóvel residencial (Art. 1º da Lei 8.009/90 e Resp 1178469/SP). 
OBS: Outra grande vantagem do bem de família legal, é que não deriva dele o efeito da inalienabilidade. 
Dada a sua importância social, o STF editou a Súm. 205 para permitir a aplicação da lei do bem de família legal, a penhoras realizadas antes da sua vigência. 
Em gera, quase vantagem não há não instituição do bem de família voluntário, diante das benéficas regras do bem de família legal. Sucede que, o Art. 5º da Lei 8.009/90, em seu par. Único, traz situação concreta de vantagem na instituição do bem de família voluntário. 
*Pergunta de Concurso: qual é a extensão da proteção conferida pela Lei do Bem de Família legal? Responde-nos o ar. Único do Art. 1ª da lei 8.009/90
Relativizando a norma legal, o STJ tem admitido o desmembramento do imóvel, desde que não prejudique a finalidade residencial, para efeito de penhora (Resp 207693/SC, Resp 515122/RS, Noticiário de 15 de maio de 2007). 
*pergunta de Concurso: Que tipos de bens móveis são protegidos pela lei 8.009/90? O Art. 2º da referida lei trata de forma sucinta do tema, que fica ao sabor da jurisprudência brasileira. Exemplos de bens móveis protegidos: Televisão, freezer, geladeira, computador, ar condicionado, antena parabólica e até mesmo teclado musical (Resp 218882/SP). 
OBS: No que se refere à vaga de garagem, firmou entendimento sumulado, o STJ (enunciado 449), no sentido de que a vaga de garagem que possua matrícula própria no registro de imóveis não é alcançada pela proteção do bem de família. Súm. 449 STJ. 
- Exceções à impenhorabilidade do Bem de Família Legal: O Art. 3ª da lei 8.009/90 consagra situações excepcionais que relativizam a proteção legal para permitir a penhora do imóvel residencial. São aplicáveis até para aqueles que instituíram bem de família voluntário. 
Art. 3º: A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;
O STJ julgando o Resp 644733/SC entendeu a exceção do inc. I do Art. 3º da lei, não beneficia trabalhadores meramente eventuais como: diarista, pedreiro, eletricista ou pintor. Essa exceção deve ser respeitada restritivamente. 
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III -- pelo credor de pensão alimentícia;
O STJ interpretando o inc. III do Art. 3º, reafirmando o posicionamento anterior, entende que a exceção ali referida, compreende alimentos decorrentes de vínculo familiar ou ato ilícito (AG Rg no AG 772614/MS e Resp 1186225/RS). 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
O próprio STF já firmou entendimento (RE 439003) no sentido de que a cobrança de taxa condominial, a despeito de não expressamente referida no inc. IV do Art. 3º, pode resultar na penhora do imóvel. 
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
A interpretação do Art. 3º, Inc. V da lei, nos remete a um interessante panorama na jurisprudência do STJ. Existe posição forte, amparada em diversos julgados, no sentido de que não haverá a proteção do bem de família se a hipoteca foi constituída em benefício do casal ou da entidade familiar, nos termos do referido inc. V. Vale dizer, quem voluntariamente hipoteca o imóvel residencial em benefício da família, não pode depois invocar a proteção legal. Resp 997261/SC, Resp 988915/SP, AG Rg no Ag 1152734/SP. Por outro lado, havendo mera indicação do bem à penhora, não sendo o caso de hipoteca, entende a mesma corte, que o devedor possa a posteriori, invocar a proteção do bem de família. Resp 875687/RS, Resp 981532/RJ. 
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) 
O STF já reconheceu a Repercussão geral ao RE 612360, no sentido da constitucionalidade da penhora do bem de família do fiado, na locação. Finalmente, uma indagação deve ser feita: a par de um instituto denominar-se Bem de Família, o devedor que more só gozaria da proteção legal? Não importa se vive só ou em grupo (nesse sentido Súm. 364 do STJ e Resp 450989/RJ). 
 
Teoria do Fato e do Negócio Jurídico
- Conceito de Fato Jurídico: Em sentido amplo, é todo acontecimento natural ou humano que produz efeitos na órbita do Direito, ou, como afirma Agostinho Alvim, é todo fato relevante para o Direito. Pode ser classificado em:
Fato Jurídico em sentido estrito: É todo acontecimento natural que produz efeitos na órbita do Direito, podendo ser ordinário ou extraordinário. Não deriva da vontade do homem, é um fato da natureza. Não tem plano da validade. 
Ordinário: é comum, corriqueiro. Ex: nascimento de alguém, chuva de verão, a morte natural, o tempo etc. 
Extraordinário: são imprevisíveis. Ex: furacão na costa de SC. 
Ato-Fato: O denominado ato-fato, categoria situada entre o fato jurídico em sentido estrito e o ato jurídico, não regulada pelo CC/02, merece a nossa atenção. Trata-se de um comportamento que, embora derive do homem e produza efeitos jurídicos, é desprovido de vontade consciente na projeção desses efeitos, razão por que situa-se entre o fato da natureza e a ação humana (voluntária). 
Ex: A compra de um doce por uma criança de 2 anos é um ato fato, pois está desprovido de vontade consciência e está previsto por lei. 
Ações humanas: Aqui a doutrina costuma divergir. Podem ser lícitas e ilícitas:
Lícitas: É chamado de Ato jurídico. Vale acrescentar que o CC de 16, segundo Luis Edson Fachin, era unitarista ao utilizar apenas a expressão ato jurídico. Já o CC de 02, dualista, expressamente regula o negócio jurídico e o ato jurídico em sentido estrito. 
Ato jurídico em sentido estrito: Art. 185 do CC. Também chamado de ato não negocial, traduz um simples comportamento humano voluntário e consciente que produz efeitos previamente determinados na lei. Vale dizer, neste tipo de ato, não há autonomia e liberdade negocial para a escolha dos efeitos jurídicos que se pretendam atingir. Estão automaticamente previstos na norma legal.
Ex: os atos materiais ou reais, simples comportamentos humanos concretos, voluntários e conscientes, como a caça, a pesca, a percepção de um fruto ou de coisa abandonada são atos em sentido estrito, pois, o efeito jurídico produzido (aquisição da propriedade) é automaticamente determinado por lei. Na mesma linha, os atos de participação como: a notificação, a intimação e o protesto. 
Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos (ato jurídico em sentido estrito), que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior. (Negócio Jurídico)
Negócio jurídico: É talvez, a mais importante categoria de todo o Direito Civil. O crime está para o penalista, como o negócio jurídico está para o civilista. Trata-se da mais importante espécie de ato jurídico, força matricial das relações socioeconômicas em todo o mundo. Diferentementedo ato em sentido estrito, o negócio jurídico é de estrutura mais complexa. Trata-se de uma declaração de vontade, emitida à luz do Princípio da Autonomia Privada e, nos limites da boa-fé e da função social, pela qual a parte pretende alcançar determinados efeitos escolhidos e juridicamente possíveis. 
Ilícita: Em teoria, a matéria é polêmica. Certos autores, em respeitável entendimento, sufragam a tese de que o ato ilícito seria espécie de ato jurídico (Machado Neto), todavia, entendemos assistir razão aos autores que reconhecem o ato ilícito como categoria autônoma não inserida no conceito de ato jurídico (Zeno Veloso). Aliás, esta parece ter sido a opção do legislador ao tratar o ato ilícito em título separado (Art. 186 e 187 do CC).
Negócio Jurídico
-Teorias que explicam o Negócio Jurídico:
Teoria Voluntarista - Vontade Interna (Willenstheorie): Afirmava que a essência do negócio seria a própria intenção ou a vontade interna do declarante. 
Teoria da Declaração – Vontade Externa (Erklärungstheorie): consistia na própria vontade externa que se declara. 
*Pergunta de Concurso: O que é teoria da pressuposição? Segundo esta teoria, desenvolvida por Windscheid, o negócio jurídico somente deveria ser considerado válido e eficaz se a certeza subjetiva do declarante, ao celebrar o negócio, não se modificasse ao longo da execução.
OBS: O Art. 112 aparentemente indica uma maior influência da correte voluntarista, embora como dito, as teorias se complementem. 
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
- Planos de análise do Negócio Jurídico: 
Plano de Existência: É o plano substantivo (substância, se existe ou não) do negócio. 
Vontade: É a manifestação de vontade. O negócio jurídico não existe sem vontade.
Agente
Objeto
Forma: Todo negócio pressupõe uma forma, é o revestimento exterior da vontade. É o meio pelo qual a vontade se manifesta, é o veículo de manifestação. 
OBS: Lembra Caio Mário da Silva Pereira que o silêncio, em regra é o “nada”, de maneira que não deve servir como forma de concretização de um negócio jurídico. Todavia, excepcionalmente, nos termos do Art. 111 do CC, que segue diretriz do Art. 218 do CC de Portugal, o silêncio poderá traduzir manifestação da vontade. 
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
Plano de Validade: Art. 104. É um plano qualificativo, adjetivo do negócio. Ele já existe. 
Vontade livre + Boa-fé
Agente capaz + legitimado
Objeto lícito + possível + determinado ou determinável
Forma prescrita ou não defesa em lei + forma livre
OBS: À luz do Princípio da Liberdade da Forma, nos termos do Art. 107 do CC, a regra é no sentido que os negócios jurídicos têm forma livre, ressalvadas as situações em que a forma é exigida para efeito de prova do negócio (forma Ad Probationem, Art. 227) ou quando a forma é exigida para a validade de próprio negócio (forma Ad Solemnitatem, Art. 108). 
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública (forma) é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Serão inválidos. 
Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
OBS: Independentemente do valor, não se exige escritura pública para os contratos de promessa de compra e venda imobiliária, bem como dispensam escritura pública contratos garantidos por meio de alienação fiduciária de imóveis, nos termos do Art. 38 da Lei 9.514/97 ou que tenham por objeto aquisição de imóvel sujeito ao SFH, a teor do Art. 61 da Lei 4.380/64. São exceções à regra. 
Plano de Eficácia: 
Condição 
Termo
Modo ou encargo 
- Defeitos do Negócio Jurídico: 
Erro: ou ignorância. Embora a lei não faça distinção, em teoria, fala-se que o Erro é uma falsa representação positiva da realidade ao passo que a ignorância é o completo desconhecimento por parte do declarante. O Erro, disciplinado a partir do Art. 138 do CC, é causa de invalidade (anulabilidade) do negócio jurídico. Para a doutrina clássica, o Erro para invalidar o negócio jurídico deveria observar dois pressupostos, vale dizer, o Erro invalidante deveria ser: essencial (substancial) e escusável (perdoável). Esta visão mais tradicional ainda tem força em nosso direito (ver Resp 744311/MS). Todavia, a doutrina moderna (Enunciado 12 da Jornada) sustenta que, à luz do Princípio da Confiança, o requisito da escusabilidade do erro, por demais abstrato, é dispensável.
OBS: Para alguns autores a cognocibilidade (poder o erro ser conhecido pela outra parte) seria também um pressuposto do próprio erro (José Fernando Simão). Assim não pensamos se a outra parte toma conhecimento do erro ingressamos na ceara do Dolo. 
Espécies de Erro: quanto a Roberto de Ruggiero. Art. 139 do CC
Sobre o objeto: é o que incide nas características do objeto do próprio negócio. 
Sobre o negócio: é aquele que incide na própria natureza do negócio que se realiza. 
Sobre a pessoa: é o que incide sobre as características ou elementos de identificação do outro declarante. É no direito de família a principal aplicação do erro sobre pessoa (Arts. 1556 e 1557 do CC). 
De Direito: o denominado Erro de Direito recebeu consagração no CC de 2002 (Art. 1393), a despeito do silencia da codificação anterior. Em verdade, Clovis Beviláqua não aceitava a Teoria do Erro de Direito, doutrina sustentada por autores como Carvalho Santos e Eduardo Espínola. Caio Mário, por sua vez, também admitia o Erro de Direito desde que não traduzisse recusa intencional à aplicação da lei, e desde que tenha sido a razão determinante do ato. É um erro sobre a ilicitude do ato, trata-se de uma modalidade de erro que, sem traduzir desrespeito intencional ao império da lei, incide sobre o âmbito de atuação permissiva da norma. É basicamente um erro de interpretação. 
*Pergunta de concurso: O que é erro impróprio? O sistema jurídico brasileiro não se importa com essa categoria de erro. Segundo a doutrina de Ana Magalhães (“O erro no negócio jurídico”, Ed. Atlas.), o erro impróprio, derivado do pensamento de Saviny, seria aquele incidente, não na vontade interna, mas apenas na vontade declarada do agente. Seria um “erro obstáculo”, verificado por exemplo quando o agente querendo vender a coisa , equivoca-se e expressa a palavra “locação”. 
Dolo: Na vereda do pensamento de Clóvis Beviláqua, o dolo, causa de invalidade do negócio jurídico (anulabilidade), opera-se quando a outra parte (ou um terceiro) utiliza artifício malicioso para prejudicar a vítima deste defeito. Vale dizer, o dolo, é um erro provocado de má-fé. No direito romano é chamado de Dolus Malus (não confundir com Dolus Bonus). Vale lembrar que, nos termos do Art. 145 do CC, o dolo somente invalida o negócio jurídico quando for principal, uma vez que o dolo meramente acidental (Art. 146) resulta apenas em perdas e danos. 
Dolo Principal: nos termos do Art. 145 do CC, é aquele que ataca a própria causa do negócio (a essência, substância)
*Pergunta de Concurso: O que é Dolo Negativo? É um tipo de dolo que nasce do silêncio. Na perspectiva do princípio da Boa-fé objetiva, traduz uma indevida quebra do dever de informação, um silêncio intencional prejudicial à outra parte do negócio (art. 147 do CC e ler Art. 149). 
*Pergunta de Concurso: O que é Dolo Bilateral? É o dolorecíproco, as partes querem se enganar reciprocamente. Art. 150 do CC. Não é ideal falar em compensação de dolo (Giorgi). 
OBS: As mensagens subliminares traduzem uma prática dolosa repudiada pelo sistema jurídico, não se podendo falar aqui em aceitação social. Lembra-nos Henrique Pinheiro no texto “Mensagem subliminar na Teoria do Negócio Jurídico” que tais mensagens são estímulos enviados de forma dissimulada, abaixo do limite da percepção consciente, aptas a induzir o receptor da informação a realizar comportamento não conscientemente refletido. Em nosso sentir a realização de um negócio em virtude da ilícita indução por meio de uma mensagem subliminar, resultaria em um ato viciado pelo dolo. 
Dolo de Terceiro: Art. 148 do CC. Nos termos do Art. 148, o dolo de terceiro invalidará o negócio jurídico quando a parte beneficiária dele soubesse ou tivesse como saber; em caso contrário, não sabendo nem tendo como saber, o negócio será mantido respondendo apenas o terceiro por perdas e danos pela parte a quem ludibriou. 
Coação: Enquanto o dolo manifesta-se pelo ardio, a coação traduz violência. 
Coação Física – Vis Absoluta: Resulta na inexistência do negócio, pela ausência de vontade. 
Coação Moral – Vis Compulsiva: Somente esta coação é defeito/vício invalidante do negócio, por que aqui, a vontade existe, mesmo que seja viciada. Nos termos do art. 151 do CC, a coação, vício invalidante do negócio jurídico (causa de anulabilidade), consiste em uma violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio que não quer efetuar. 
OBS: o art. 152 é claro ao dizer que a coação deve ser apreciada segunda as circunstâncias do caso concreto, e não, invocando-se a figura abstrata do homem médio. Ver Art. 153 do CC também
Coação de Terceiro: Art. 154 e 155 do CC. O regramento do dolo de terceiro é muito semelhante à coação exercida por terceiro. O negócio somente será invalidado se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber da coação. A diferença está na previsão de solidariedade pelas perdas e danos entre o beneficiário e o terceiro coator (previsão esta não existente no dolo).
Estado de Perigo: É uma aplicação da noção do estado de necessidade do direito civil. Art. 156 do CC. Possui uma conexão com o Princípio da Função Social. O estado de perigo, defeito invalidante do negócio jurídico (causa de anulabilidade), configura-se quando uma parte assume obrigação excessivamente onerosa para salvar-se, ou a pessoa próxima, de grave dano conhecido pela outra parte. Existe aqui o “Dolo de aproveitamento” e quer se aproveitar disso. É o mais emergencial. Ex: cheque caução nos atendimentos emergenciais. 
A jurisprudência já apontava no sentido da ilegalidade deste tipo de cobrança, caracterizadora do vício do ato negocial por estado de perigo (Resp 796739/MT, AC 833355-7/SP, Resp 918392/RN), bem como a própria ANS por meio da Resolução Normativa nº 44 de 2003, nos seus termos, indica poder haver inclusive representação ao próprio MPF. Finalmente, foi aprovada a Lei 12.653/12 que criminaliza na perspectiva da função social, a exigência do cheque caução ou ato congênere como condição para atendimento emergencial. 
Simulação: Na Simulação, celebra-se um negócio jurídico aparentemente normal, mas que, em verdade, não pretende produzir o efeito que juridicamente deveria gerar. Tem por consequência a nulidade absoluta do negócio (Art. 167 do CC), a partir do código novo, após de janeiro de 2003. Pode ser absoluta ou relativa (dissimulação): 
Absoluta: As partes criam um negócio jurídico destinado a não produzir efeito jurídico algum. 
Relativa: As partes celebram um negócio jurídico aparentemente normal destinado a encobrir outro negócio jurídico cujos efeitos são proibidos por lei. Ex: simula uma compra e venda com a concubina, mas na verdade é uma doação. 
OBS: A Simulação relativa também pode se dar por meio de interposta pessoa. Doar o apto para o Fredie e o Fredie para a concubina de Pablo.
Vale acrescentar ainda que, à luz do Princípio da Conservação, na simulação relativa, em sendo possível, poderá o juiz, aproveitar o que se dissimulou (Em. 153 da jornada). 
OBS: O CC de 2002, diferentemente do CC anterior (Art. 103), assenta a ideia de que a Simulação é causa de nulidade absoluta, não havendo mais espaço para a denominada “Simulação Inocente” (En. 152 da jornada).
*Pergunta de Concurso: O CC de 16, em seu Art. 104, proibia que a Simulação fosse alegada pelos próprios simuladores em juízo, em caso de litígio. Esta regra ainda vigora? Ela não vigora mais no sistema do CC de 2002 por que ao tratar a simulação como causa de nulidade absoluta, mudou o tratamento da matéria, na medida em que, como se sabe, a nulidade absoluta pode ser arguida por qualquer pessoa ou até mesmo reconhecida de ofício pelo juiz. É matéria de ordem pública (En. 294 da 4ª jornada). 
*Pergunta de Concurso: O que é Reserva Mental? Lembra Mário Talamanca (Instituições de Direito Romano) que a Reserva Mental (ou reticência) era irrelevante no direito romano. Reserva Mental se configura quando o agente emite a declaração de vontade, celebra o negócio mantendo oculto o íntimo propósito de não cumprir ou desvirtuar aquilo que declarou. O Art. 110 do CC cuida da reserva mental, e, em seus termos, à luz da doutrina do Min. Moreira Alves (Comentários ao anteprojeto da parte geral do CC), uma vez manifestada a reserva e dela tomando conhecimento a outra parte o negócio torna-se inexistente. Todavia, na linha de autores como Carlos Roberto Gonçalves, a reserva manifestada deve resultar não na inexistência, mas na invalidade do negócio (por Simulação ou Dolo).
O que é Contrato de Vaca-Papel? Segundo Marco Pissurno, o contrato de vaca-papel é uma patologia do negócio jurídico. Ocorre quando as partes simulam um contrato aparentemente normal de parceria pecuária para mascarar um empréstimo de dinheiro a juros abusivos. É nulo. O próprio STJ tem reconhecido a invalidade e abusividade deste tipo de contrato simulado (Resp 791581/MS e Resp 441903/SP). 
Prescrição e Decadência
- Prescrição: “Pretensões prescrevem”. A pretensão é o poder jurídico conferido ao credor para, coercitivamente, exigir o cumprimento da prestação violada. A pretensão nasce no primeiro dia do prazo prescricional e queda-se em seu último. O direito de ação é a arma, a pretensão é a pólvora. Art. 189 do CC. 
OBS: O CC de 2002, além de expressamente estabelecer que a prescrição ataca a pretensão, reúne os prazos prescricionais em dois únicos artigo, 205 e 206 (somente estes, os demais são decadenciais). O prazo prescricional extintivo máximo é de 10 anos. Os prazos prescricionais estão previstos em lei, não podem ser convencionais. 
OBS: O que é prescrição intercorrente? Trata-se de matéria a ser desenvolvida nas grades de processo civil, direito tributário e direito do trabalho. Segundo o professor Arruda Alvin, a prescrição intercorrente é aquela que se dá quando a pretensão já foi deduzida em juízo. Tese aceita no Direito Tributário, encontra resistência no processo civil (AgRg no Ag 618909/PE), embora exceções existam, a exemplo do que se dá na ação rescisória e na ação de execução de título extrajudicial. 
- Questões especiais envolvendo prescrição: 
O STJ no Resp 1298576/RJ assentou que o prazo prescricional de indenização por abandono afetivo começa a correr da maioridade do interessado.
Qual o prazo prescricional da pretensão monitória baseada em cheque prescrito? O STJ no Resp 1339874/RS assentou que é de 5 anos o prazo prescricional para a propositura da demanda monitória. 
O prazo prescricional para cobrar o seguro obrigatório DPVAT é de 3 anos (Súm. 405 do STJ). 
O prazo prescricional para cobrar cota de condomínio, segundo o STJ, no Resp 1139030/RJ é de 5 anos. 
- Decadência: Também é chamada de “Caducidade”. Para entendermos o que é o prazo decadencial, é fundamental compreendermos a noção de direito potestativo. Direito potestativo não tem conteúdo prestacional, vale dizer, trata-se de um mero direito de sujeição ou interferência,por meio do qual o seu titular influi, interfere ou sujeita a outra parte, sem que esta pessoa nada possa fazer. 
Existem direitos potestativos sem prazo para o seu exercício (a exemplo do direito de divórcio ou de renúncia), mas sempre que houver prazo para exercício de direito potestativo, este prazo será decadencial. É prazo para exercício de direito potestativo. Vale lembrar ainda, que – diferentemente dos prazos prescricionais, que são legais – os prazos decadenciais podem ser legais (Art. 178 do CC) ou convencionais (pode ser convencionada pelas partes). 
- Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas do prazo prescricional: existem causas que impedem (o início do prazo prescricional), suspendem (paralisa o prazo prescricional que estava em curso) e interrompem o prazo prescricional, conforme os Art. 197 e seguintes do CC. São as mesmas (causas suspensivas e impeditivas). O que as diferencia é o momento em que ocorrem. 
OBS: Apenas por exceção determinadas causam podem incidir em prazo decadencial (Art. 26, §2º do CPC). 
Causas Interruptivas/Suspensivas: 
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal. Enquanto tiver casado, o prazo prescricional estará impedido de começar a correr. Enquanto durar a sociedade conjugal. Também pode ser suspensiva, se ocorrer a sociedade conjugal no meio do curso do prazo. Se findo o casamento, o prazo continua a correr. 
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Causas interruptivas: Art. 202 do CC. Aqui o prazo é zerado e começa a correr do zero novamente. Para evitar abuso por parte dos credores, uma vez que, operada a interrupção, o prazo prescricional recomeça do zero, o Art. 202 deixa claro que esta interrupção só poderá ocorrer uma única vez.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; Medida cautelar. 
III - por protesto cambial; cheque, nota promissória etc. 
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; se o devedor morresse durante o prazo prescricional, poderia levar o título ao inventário. 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Confissão de dívida, por que aqui requer o reconhecimento e não o mero conhecimento.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
OBS: Existem PJ no CN (PL 3293 de 2008) que pretende alterar o Art. 202, para expressamente prever como causa interruptiva a notificação extrajudicial. 
Ver no material de apoio artigo escrito em coautoria com o prof. Arruda Alvim sobre o direito intertemporal (Art. 2028 do CC). 
- Características básicas da Prescrição e da Decadência: 
Os prazos prescricionais, por derivarem da lei, não podem ser alterados pela vontade das partes, assim como os decadenciais legais (Art. 192 do CC). 
A prescrição pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição pela parte interessada. A decadência legal deve ser reconhecida de ofício pelo juiz, e a convencional alegada também pelo seu interessado (Art. 193 e 210 do CC). 
OBS: A alegação da defesa nos tribunais superiores pressupõe o prequestionamento da matéria (Edcl no Resp 1104691/RS). 
*Pergunta de Concurso: O juiz pode reconhecer de ofício a prescrição? A partir da Lei 11.280/06, que conferiu nova redação ao §5º do Art. 219 do CPC, firmou-se a regra de que o juiz poderia, sim, pronunciar de ofício a prescrição. À luz do Princípio da Cooperatividade, e em respeito ao devido processo civil constitucional, para os processos em curso, antes de pronunciar a prescrição, deve o juiz assinar prazo ao autor (credor) e ao réu (devedor). O credor terá a oportunidade de demonstrar que a prescrição não se consumou; e o devedor de renunciar à defesa (Art. 191 do CC e En. 295 da Jornada). Caso o devedor permaneça em silêncio, o juiz pronunciará de ofício a prescrição.
***Questão especial: Ainda existe grande controvérsia no que tange ao prazo de prescrição para se formular pretensão de perdas e danos contra a fazenda pública. Uma Questão de Ordem fora suscitada no Ag Rg no Ag 1364269/PR para se tentar pacificar se o prazo seja de 3 ou 5 anos. As decisões mais recentes (Ag Rg no AResp 14062/RS) têm feito prevalecer o prazo de 5 anos. 
- Teoria da Actio Nata? Dá roupagem moderna a uma noção antiga. Segunda esta doutrina, um prazo prescricional só começa a correr quando o prejudicado tomasse efetivo conhecimento do fato danoso o e suas consequências (Ag Rg no Resp 1189169/SC).
Direito das Obrigações
- Conceito: Trata-se do conjunto de normas e princípios que disciplina a relação jurídica pessoal vinculativa do credor ao devedor. 
OBS: Denomina-se obrigação Propter Rem ou Ob Rem ou In Rem ou mesmo Real aquela obrigação híbrida situada entre o direito das obrigações e o direito das coisas. Trata-se de uma obrigação de natureza mista (real e pessoal), que se vincula a uma coisa, acompanhando-a, independentemente de quem seja o seu titular (Resp 848187/SP e Resp 1275320/PR). Ex: obrigação de pagar taxa condominial. O Resp 1073846/SP aceita como exemplo de obrigação Propter Rem, a par da sua natureza tributária, a obrigação de pagar IPTU e ITR. Resp 1275320/PR (penhora online). 
Não devo confundir a obrigação Propter Rem com a obrigação com eficácia real, eis que esta última nada mais é do que uma obrigação típica que passa a ter eficácia Erga Omnes, em virtude de registro (Art. 8º da Lei do Inquilinato). É a locação averbada na matrícula do imóvel, que passa a ter eficácia Erga Omnes. 
- Estrutura da relação obrigacional: Inicialmente, vale lembrar que a palavra obrigação tem dois sentidos básicos. Em um primeiro sentido traduz a própria relação jurídica obrigacional; mas, em sentido mais estrito, é o próprio dever assumido pelo devedor. 
OBS: Vale lembrar ainda, a diferença entre Schuld (débito) e Haftung (responsabilidade). 
Antes de estudarmos a estrutura, vale lembrar que a relação obrigacional deriva de um fato jurídico denominado “Fonte da Obrigação”. Segundo Gaio, no direito romano, as fontes das obrigações seriam o contrato, o quase contrato, o delito e o quase delito. Modernamente, tal classificação não é mais usada, podendo ser apontados como fontes, os atos negociais (o contrato), os atos não negociais (a vizinhança) e os atos ilícitos. 
Elementos da relação obrigacional: Toda relação obrigacional tem fundamentalmente três elementos: 
Elemento Ideal ou imaterial: É o próprio vínculo abstrato que une o credor ao devedor. 
Elemento Subjetivo: São os sujeitos da relação obrigacional, que devem ser determinados ou ao menos determináveis. Essa indeterminabilidade dos sujeitos da obrigação, ativa ou passiva, é sempre relativa ou temporária. Ex: título ao portador, promessa de recompensa (sujeitos ativos), obrigação propter rem (sujeito passivo). 
OBS: Denomina-se obrigação ambulatória aquela que admite a mudança de sujeitos, a exemplo do título ao portador ou da obrigação Propter Rem. 
Elemento Objetivo: É objeto da relação obrigacional, que é sempre o mesmo: a prestação. A prestação, objeto da obrigação, é a atividade do devedor satisfativa do interesse do credor. Ela pode basicamente: de dar, de fazer e de não fazer. Toda prestação deve ser lícita, possível e determinada (ou ao menos determinável). Em regra, as prestações são dotadas de conteúdo econômico, mas, excepcionalmente, lembram Pontes de Miranda e Paulo Lobo, podem são ter. Ex: dever de enterrar o testador de determinada maneira. À luz da boa-fé objetiva, determinadas prestações

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