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O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO GARANTIA DO CIDADÃO OU DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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O REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO: GARANTIA DO CIDADÃO OU DA 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? 
 
Catiéli Dorneles
1
 
Karine Arnemann
2
 
Aldemir Berwig
3
 
Eixo temático de referência
4
 
 
RESUMO 
 
Este artigo tem como objetivo compreender se o regime jurídico administrativo pode ser 
considerado um regime de garantia do cidadão ou da administração pública. Busca 
compreender quais são as implicações deste nos direitos fundamentais e nos atos da 
administração pública, demonstrando que o direito administrativo, assim como todo o direito 
público, deve ser considerado a partir da perspectiva de subordinação aos interesses da 
cidadania, conforme disposto na Constituição da República. Da mesma forma aborda o 
regime jurídico-administrativo como o conjunto de princípios e regras que compõe o direito 
administrativo, outorgando prerrogativas e impondo restrições à administração pública. 
Conclui que a administração pública se justifica para cuidar dos interesses da coletividade, 
sendo que para que esta não se desvie de sua única finalidade, há o regime jurídico-
administrativo. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Administração pública; Cidadania; Direitos humanos; Direitos 
fundamentais; Garantias. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo tem como objetivo fazer uma reflexão sobre as implicações do 
regime jurídico administrativo nos direitos fundamentais e nos atos da administração pública 
para evidenciar a importância desse regime na concretização das atividades administrativas e 
na garantia dos direitos dos cidadãos. 
Podemos, todavia, afirmar que o direto administrativo surge para regular o conflito 
entre o Estado e o cidadão, sendo um instrumento de proteção à igualdade e integridade do 
cidadão, submissão do Estado à lei e garantia dos direitos individuais? É este o objetivo 
principal desta abordagem: verificar se o regime jurídico administrativo é um regime de 
garantia do cidadão ou da administração pública. 
A administração pública somente se justifica para cuidar dos interesses da 
coletividade; para que esta não se desvie dessa principal finalidade há o regime jurídico 
 
1
 Acadêmica do 8º semestre do curso de Graduação em Direito da Unijuí. E-mail: katidorneles16@hotmail.com 
2
 Acadêmica do 8º semestre do curso de Graduação em Direito da Unijuí. E-mail: karinearnemann@hotmail.com 
3
 Doutorando e Mestre em Educação nas Ciências (Unijuí); Especialista em Direito Tributário (Unisul); 
Graduado em Direito (Unijuí) e Administração (Unijuí); Professor do Departamento de Ciências Jurídicas e 
Sociais da Unijuí. E-mail: berwig@unijui.edu.br.
 
4
 Eixo temático de referência: Fundamentos e Concretização dos Direitos Humanos. 
 
 
administrativo, um conjunto de princípios que faz com que a administração pública cuide dos 
interesses da coletividade. 
Assim, o regime jurídico administrativo, norteia a atividade desempenhada pelo 
Estado, o qual tem como dever zelar pela coisa pública. O regime jurídico-administrativo, 
constituído de regras e de princípios, apresenta como princípios basilares o da supremacia do 
interesse público sobre o privado e o da indisponibilidade desse interesse público, segundo 
compreensão de Bandeira de Mello (2009, p. 55), os mais relevantes. O regime jurídico 
administrativo, a partir desta concepção, pode ser compreendido a partir de duas palavras, 
prerrogativas e sujeições, as quais estabelecem, por um lado, o poder necessário, por outro, o 
dever de atender aos interesses comuns da cidadania. A partir dessa compreensão inicial é que 
vamos desenvolver uma abordagem que indique se o regime jurídico-administrativo pode ser 
considerado uma garantia aos direitos do administrado ou da administração. 
 
2 O REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO 
 
É através da Constituição ou da lei que se faz a escolha de qual regime a administração 
pública irá se submeter, o qual poderá ser o regime jurídico de direito privado ou o regime 
jurídico de direito público. Em decorrência do princípio da legalidade, a administração 
pública, não pode, por ato próprio, optar por um regime jurídico não previsto em lei. 
Os regimes jurídicos da atividade administrativa compreendem normas de direito 
público e de privado. O regime jurídico-administrativo se desenvolve a partir de dois 
conceitos, dois pensamentos opostos. O primeiro deles tem como premissa o princípio da 
legalidade, a proteção aos direitos individuais e coletivos frente ao Estado, de modo que 
representa uma sujeição do Estado à lei, o que ocasiona a ideia de sujeição estatal. Em 
oposição, à necessidade de satisfação do interesse público, da coletividade, a outra faceta do 
regime jurídico confere prerrogativas à administração. 
Essa compreensão explica o entendimento de Maria Sylvia Di Pietro sobre a 
bipolaridade do direito administrativo: 
Liberdade do indivíduo e a autoridade da administração; restrições e prerrogativas. 
Para assegurar se a liberdade sujeita-se a Administração Pública à observância da 
lei; é aplicação, ao direito público do princípio da legalidade. Para assegurar-se a 
autoridade da Administração Pública, necessária à consecução de seus fins, são-lhe 
outorgados prerrogativas e privilégios que lhe permitem assegurar supremacia do 
interesse público sobre o particular. (DI PIETRO, 2014, p. 62, grifos da autora). 
 
Uma das considerações mais importantes acerca do regime jurídico-administrativo é a 
correlação estabelecida entre um conjunto de regras e princípios que constituem, entre si, um 
 
 
sistema lógico que torna a administração pública responsável pela concretização da atividade 
administrativa desempenhada por seus agentes, os quais devem zelar o bem público. 
Quando falamos em princípios, estamos falando na premissa primeira de um sistema, 
uma espécie de alicerce, a base para todo o direito administrativo. Os princípios, portanto, são 
fundamentais na delimitação dos contornos do direito administrativo e podem ser 
compreendidos como “as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas 
as estruturações subsequentes. Princípios, neste sentido, são os alicerces da ciência” 
(CRETELLA JÚNIOR, 2005, p. 222). 
Em outras palavras, os fundamentos básicos do sistema administrativo são os dois 
princípios, acima nominados, a supremacia do interesse público sobre o particular e a 
indisponibilidade do interesse público pela administração (Bandeira de Mello, 2009, p. 55). 
São esses princípios basilares que nos demonstram a necessidade e adequação de que o direito 
administrativo conduza a administração pública à concretização do interesse público, interesse 
este que guarda grande intimidade dom os princípios fundamentais da República, como 
adequadamente demonstrado por Berwig (2016). 
Mas se compreendemos a fundamentalidade dos dois princípios citados, qual a razão 
de os termos nesta conta? Façamos, portanto, um ajuste fino para não compreender de forma 
equivocada esta acepção. Isso é necessário justamente porque o conceito jurídico de interesse 
público é um conceito indeterminado. Falar em interesse público, portanto, implica em 
primeiro afirmarmos o conceito para depois cobrar seu respeito no âmbito da administração 
pública e do direito. 
Assim, temos que respeitar a ideia de que a administração pública, ao seguir as normas 
do ordenamento jurídico, submete-se em maior grau ao respeito das normas constitucionais e 
de sua regulamentação. Neste sentido, é adequado aceitar que 
Uma visão social do direito administrativo implica a compreensão da relação entre 
os princípios constitucionais e o papel da administração pública e a importância de 
sua atuação. É necessário analisar e compreender os princípiosfundamentais da 
República (Título I – artigos 1° a 4°) e os direitos e garantias fundamentais do 
cidadão (Título II – artigos 5° a 17) como normas de respeito obrigatório pelo 
Poder Público e, especificamente, pela administração. A importância desta 
abordagem consiste na compreensão do binômio prerrogativas-sujeições 
atribuídos à administração pública e correspondem, de certa forma, ao dever de 
agir e ao poder necessário para concretizar os comandos constitucionais. É 
importante, sobretudo, salientar que nesta compreensão transparece que o poder 
conferido ao Estado-administração é conferido visando à satisfação das condições 
de cidadania e para a concretização do bem-estar social, afinal foi a opção do 
legislador constituinte, de modo que as normas constitucionais vão limitar a 
atuação administrativa. (BERWIG, 2016, p. 19, grifos do autor) 
 
 
 
É a compreensão acima que adotamos para compreender o regime jurídico-
administrativo e sua observação pela administração pública. 
Dessa compreensão decorre que o princípio da supremacia do interesse público sobre 
o particular estabelece o dever do Estado-administração na persecução dos interesses de 
cidadania, de modo que dele decorre a posição de superioridade da administração, 
prevalecendo o interesse por ela perseguido sobre o interesse do particular. Essa relação 
jurídica de desigualdade normalmente é mencionada como sendo uma relação de verticalidade 
entre o Estado-administração e o particular, já que visa concretizar o bem maior da 
coletividade, de modo que o administrado fique submetido as determinações do Estado. Desse 
princípio decorrem verdadeiras prerrogativas. 
O princípio da supremacia do interesse público fundamenta a existência das 
prerrogativas ou dos poderes especiais da administração pública, dos quais decorre a 
denominada verticalidade nas relações da administração-particular. Toda atuação 
administrativa em que exista imperatividade, em que sejam impostas, 
unilateralmente, obrigações para o administrado, ou em que seja restringido ou 
condicionado o exercício de atividades ou de direitos particulares é respaldada pelo 
princípio da supremacia do interesse público. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 
10) 
 
Já o princípio da indisponibilidade do interesse público, significa que o administrador 
não pode abrir mão do interesse público, pois ele exerce função pública, é apenas gestor do 
interesse da sociedade. Do exercício da função pública decorre que o administrador age em 
nome da coletividade e por essa razão, não pode dispor de um direito que não é seu. 
Ao mesmo que tem poderes especiais, exorbitantes do direito comum, a 
administração sofre restrições em sua atuação que não existem para os particulares. 
Essas limitações decorrem do fato de que a administração não é proprietária da coisa 
pública, não é proprietária do patrimônio público, não é titular do interesse público, 
mas sim o povo. A administração somente poderá atuar quando houver lei que 
autorize ou determine sua atuação e nos limites estipulados por essa lei. 
(ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 11) 
 
Fica evidente, portanto, que a administração pública apenas reúne condições para 
manter relações jurídicas em regime de desigualdade com outras pessoas justamente porque 
encarregada legalmente de atender o interesse público. Por outro lado, as prerrogativas 
decorrem do regime jurídico-administrativo que, a partir desses dois princípios, está envolto 
em uma série de outros princípios destes decorrentes, e que lhe dão justamente a característica 
de organicidade necessária a um sistema. 
Vale salientar que os princípios que completam esse sistema de direito administrativo 
são constitucionais, e estão expressa ou implicitamente estabelecidos na Constituição da 
República (CR). O artigo 37, caput, da CR, apresenta cinco princípios expressos da 
 
 
administração pública: a legalidade, a moralidade, a impessoalidade, a publicidade e a 
eficiência. 
Cabe ao princípio da legalidade, explicitar a subordinação da atuação administrativa à 
lei, de modo que a administração pública age quando por ela autorizada. É necessária a 
previsão legal para haver a atuação administrativa, ou seja, a administração somente poderá 
agir mediante autorização por lei, exigindo-se, assim, a adequação de toda e qualquer conduta 
administrativa ao ordenamento jurídico. Assim, nada mais adequado do que esperar que a 
administração pública, seguindo o princípio da legalidade, concretize a cidadania e os direitos 
fundamentais. 
Em segundo lugar, temos o princípio da impessoalidade como a proibição de que a 
administração desenvolva ações que privilegiem ou discriminem os cidadãos. Significa que se 
espera do Estado-administração ações que sejam, ao menos, distributivas, para que, olhando 
pelo viés dos direitos fundamentais, alcance o necessário a uma vida digna aos que estão à 
margem das condições dignas de viver. Basicamente, na concepção que estamos trabalhando 
neste texto, significa que o Estado deve concretizar as políticas sociais estabelecidas na CR e 
que garantem a concretização de um Estado de bem-estar social. 
O princípio da moralidade nos indica que é de se esperar que o administrador público, 
não dispondo do interesse público, deve agir com honestidade, lealdade e boa-fé. Portanto, 
nada mais é, do que tratar as instituições públicas com lealdade. 
O princípio da publicidade consiste na transparência da atividade administrativa e 
decorre também da indisponibilidade acima mencionada. O gestor deve dar transparência a 
seus atos, já que é vedado que o gestor se manifeste através de atos obscuros, de modo que a 
regra é o dever de dar publicidade aos atos, garantia de controle dos atos da administração. 
Finalmente, temos o princípio da eficiência, acrescido ao artigo 37 da CR pela 
Emenda Constitucional 19/1998 e que, antes mesmo de ser expressamente prevista, consiste 
em um dever da administração pública pelo simples fato de existirem os princípios basilares 
demonstrados por Bandeira de Mello (2009). O dever de eficiência é um dever implícito da 
Constituição da República e não poderia haver qualquer possibilidade de se aceitar 
ineficiência no serviço público. Se o interesse público é o interesse do cidadão e da sociedade 
e considerarmos o agente público como o servidor que age em nome do público, 
evidentemente que deveria bastar o espírito da Constituição, a supremacia do interesse 
público, para que o gestor agisse adequada e honestamente atendendo à cidadania. 
 
 
 
3 IMPLICAÇÕES DO REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO NOS ATOS DA 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Os atos da administração pública são aqueles que exteriorizam as atividades 
administrativas dos entes e órgãos estatais. Podem ser, como afirmado anteriormente, regidos 
pelo regime de direito público ou de direito privado. Na realidade, os atos da administração 
compreendem o conjunto de atos expedidos pelo Estado no exercício da função 
administrativa, e regidos tanto pelo direito público como pelo privado. Os atos da 
administração compreendem, portanto, todos os seus atos na gestão administrativa, revestidas 
ou não de juridicidade, os quais têm na administração pública a sua fonte. (BANDEIRA DE 
MELLO, 2009). 
A categoria “atos da administração”, portanto, ao compreender todos os atos 
praticados no exercício da função administrativa, mesmo que indiretamente, sempre sofrem 
influxos do regime de direito público, ainda que sob a forma de sujeição. Nesta categoria, 
embora haja divergência entre os doutrinadores, situamos os atos administrativos 
propriamente ditos, os atos regidos pelo direito privado (embora parcialmente), os atos 
materiais e os atos políticos ou de governo.Esclarecido, portanto, que o regime jurídico-administrativo alcança, mesmo que 
parcialmente a totalidade dos atos da administração, é necessário esclarecer como se dá sua 
incidência nos atos de direito privado. Isso ocorre porque o regime jurídico-administrativo 
estabelece o binômio citado no início deste artigo que se constitui de prerrogativas e 
sujeições. As prerrogativas estão presentes apenas nos atos administrativos em que a 
administração pública se encontra na condição de autoridade, portanto, nos atos regidos pelo 
direito público. 
Por outro lado, quando se trata de atos regidos pelo direito privado, embora a 
administração não tenha superioridade, já que a lei deve tratar a todos com igualdade neste 
caso, esta igualdade não é total em razão, principalmente, porque o administrador não tem 
disponibilidade do interesse público. Vale lembrar que o tratamento que a lei dá à 
administração nestes casos, é de uma legalidade em sentido estrito. Desta forma, a 
administração se encontra apenas em aparente igualdade frente aos particulares que com ela 
se relacionam justamente em razão de que recai sobre ela as sujeições estabelecidas pelo 
sistema jurídico administrativo. Assim, mesmo nas relações jurídicas de direito privado, a 
administração deve observar as peculiaridades estabelecidas pela lei, como é o caso das 
 
 
licitações, dos concursos públicos, em especial, aos princípios da legalidade, da 
impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência, entre outros. 
 
4 IMPLICAÇÕES DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO NOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
 
Partimos a análise dos direitos fundamentais de uma compreensão do alcance das 
normas constitucionais. O ser humano nasce com direitos e garantias previstos 
constitucionalmente, de modo que não podem ser suprimidos, é condição de cidadania. 
Temos, portanto, a convicção de que não basta o Estado assegurar formalmente um rol de 
direitos em uma Constituição, é necessário concretizá-los. Mas sobretudo, analisamos a 
perspectiva de atuação da administração pública a partir da influência do regime jurídico 
administrativo, o qual, como desdobramento das prerrogativas e sujeições, estabelece o dever-
poder como competência de agir da administração pública (BANDEIRA DE MELLO, 2009). 
Se o entendermos da forma proposta por Bandeira de Mello (2009), haveremos de 
compreender que a administração tem o dever de cumprir e concretizar as finalidades para as 
quais foi constituída, as quais estão previstas no ordenamento jurídico como competências, 
isto é, sujeições ou deveres. Por outro lado, para o cumprimento destas finalidades, quando 
houver obstáculos que as possam dificultar, existe o poder previsto em lei sob a forma de 
prerrogativas. 
Analisando as finalidades estabelecidas para a administração do Estado, verificamos 
que as competências estabelecidas decorrem do desdobramento dos princípios fundamentais 
da República estabelecidos na Constituição, como expresso por Berwig (2016). A 
administração pública recebe do regime jurídico-administrativo o dever e o poder para 
concretizar suas competências e com isso gerar a concretização dos direitos fundamentais do 
cidadão, seja respeitando a integridade humana, seja fornecendo prestações materiais 
necessárias à concretização da dignidade da vida humana. 
Logo, a administração pública como parte integrante da estrutura do Estado, 
caracterizado como de bem-estar social, é o órgão responsável pela concretização material dos 
direitos estabelecidos. O direito administrativo, como conjunto formal de regras e princípios, 
possibilita que a administração pública se organize administrativamente para a execução das 
atividades materiais estabelecidas em nível constitucional. 
Assim, os direitos fundamentais, consistem em um conjunto de normas jurídicas, 
designadas pela Constituição da República a assegurar a dignidade humana em suas diversas 
 
 
manifestações. Os direitos fundamentais, definidos como conjunto de direitos e garantias do 
ser humano, dependem ora do respeito, ora da materialização pela administração, já que de 
nada adianta garantir se não são asseguradas as condições mínimas necessárias a sua 
concretização. 
Pode-se afirmar, portanto, que existe uma íntima relação entre os direitos 
fundamentais e o regime jurídico administrativo em virtude da simples constatação de que a 
disciplina jurídica da administração pública está na Constituição e nela encontra seu 
fundamento. O regime jurídico administrativo ao estabelecer o dever-poder de agir e atribuir 
prerrogativas e sujeições à administração, encontra sua origem nos direitos fundamentais, já 
que ambas as facetas asseguradas pela lei, de um lado possibilitam sua atuação, de outro, a 
limitam. 
Nesta perspectiva, o direito administrativo, assim como todo o direito público, deve 
ser considerado a partir da perspectiva de subordinação aos interesses da cidadania, conforme 
disposto na Constituição da República. A subordinação aos interesses da cidadania indica 
simplesmente que o regime jurídico-administrativo visa à cidadania e, como afirma Bandeira 
de Mello (2009), deve ser compreendido como um limite à atuação estatal. É um regime que 
se preocupa com a proteção do cidadão frente ao Estado-administrador, buscando estabelecer 
a segurança necessária para garantir os direitos fundamentais. Essa perspectiva decorre 
principalmente porque no quadro constitucional estabelecido após a promulgação da 
Constituição em 1988, houve a preocupação com a proteção do cidadão contra as ações do 
Estado, ao se colocar como fundamento de ação o princípio da legalidade. 
A cidadania, portanto, deve ser entendida como meio concreto de realização da 
soberania popular, cujo exercício compreende uma variedade de direitos que se opõem à ação 
dos poderes públicos que tragam prejuízo para a sociedade. Dessa forma, seu conceito amplo 
impede que se restrinja a cidadania apenas ao exercício dos direitos políticos relacionados ao 
voto. Envolve também a relação jurídica entre o cidadão e o Estado, onde se delimitam 
direitos e deveres recíprocos e, sobretudo, a participação nas decisões da sociedade. 
O direito administrativo é constituído para regular as relações entre o Estado e o 
cidadão, embora tenha como pressuposto a desigualdade nas relações jurídicas estabelecidas 
entre a administração pública e o cidadão. Esse desequilíbrio entre as partes, entretanto, tem 
uma explicação lógica já explicada anteriormente, que é a salvaguarda do interesse público. 
O Direito Administrativo, de base constitucional, surge como instrumento de 
proteção à igualdade e integridade do cidadão, submissão do Estado à lei e garantia 
de direitos individuais. Submete o Estado à legalidade, ao mesmo tempo que 
estabelece prerrogativas públicas que garantem a supremacia do poder público sobre 
 
 
o administrado, visando possibilitar a concretização do interesse público. (RIGOLI; 
BERWIG, 2016, p. 99) 
 
O princípio da legalidade, limita a atuação do poder público, de forma que o mesmo 
somente pode atuar quando autorizado ou permitido por lei, sendo uma garantia para a 
concretização da cidadania. Como abordado acima, a relação jurídica entre o Estado e o 
cidadão apresenta desigualdade, a qual decorre das prerrogativas estabelecidas. Todavia, o 
regime jurídico administrativo apresenta também sujeições, e somente pode ser compreendido 
na dimensão que contrapõe as duas faces do binômio. 
Neste contexto, o primeiro princípio fundamental do direito administrativo é aquele 
que proclama a superioridade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre 
o do particular, como condição, até mesmo, da sobrevivência e asseguramento desse último.A Constituição da República estabelece que a República Federativa do Brasil é 
Estado Democrático de Direito e tem por função proteger e ao mesmo tempo 
controlar a ação das pessoas que convivem em sociedade. A atuação administrativa 
do Estado é regida pelo Direito Administrativo onde o cidadão de uma forma ou 
outra deverá ter seus interesses concretizados pelos atos da Administração Pública. 
(RIGOLI; BERWIG, 2016, p. 100) 
 
O direito administrativo, como o conjunto de normas que de maneira ampla organiza a 
sociedade, submete a administração pública à cidadania, de modo que essa última seja 
concretizada a partir da capacidade de organização, participação e intervenção social do povo. 
Ainda, a Constituição da República situa a cidadania entre os princípios fundamentais da 
República, assegurando aos cidadãos uma sociedade livre, justa e igualitária. (RIGOLI; 
BERWIG, 2016). É justamente atendendo a essa percepção constitucional que a organização 
estatal prevista no espírito da Constituição depende de um arranjo legal para dar poderes e 
limitar a atuação do Estado-administração, visando em primeiro lugar, a concretização dos 
direitos de cidadania estabelecidos na própria Constituição da República. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A partir da exposição acima, verificamos que a atuação da administração pública tem 
por finalidade a realização do interesse público, ou seja, prevalecem os interesses da 
sociedade, dos quais nunca pode dispor. É a própria incidência da aplicação do regime 
jurídico-administrativo, decorrência do qual o administrador não goza de livre disposição dos 
bens que administra, pois o titular desses bens é o povo. Por outro lado, o mesmo regime 
jurídico estabelece uma relação de desigualdade, já que outorga prerrogativas à administração 
na relação com os particulares. 
 
 
Diante disso, chegamos ao objetivo central do presente estudo: o regime jurídico 
administrativo é um regime de garantia do cidadão ou da administração pública? 
Verificamos inicialmente que os dois princípios basilares do direito administrativo 
determinam o cuidado com o interesse público. Relacionamos, posteriormente, o interesse 
público, por ser considerado conceito jurídico indeterminado, aos princípios fundamentais da 
República. Neste viés, argumentamos que se a administração pública, no exercício de suas 
funções, não pudesse usar, por exemplo, de certas prerrogativas, que exemplificamos aqui 
com a imperatividade, a exigibilidade e a presunção de legalidade, seria quase impossível que 
tivesse a oportunidade de unilateralmente garantir a concretização do interesse público. 
Dessa forma, podemos concluir que o regime jurídico-administrativo estabelece uma 
certa desigualdade nas relações entre a administração pública frente a particulares, a qual é 
necessária para que tenha condições de impor seus deveres e concretizar os mandamentos 
legais. O regime jurídico-administrativo como o conjunto de normas jurídicas – princípios e 
regras – que regem a atuação da administração pública, viabilizam o exercício de suas 
atividades, funções e relações jurídicas concretizando, entre outras coisas, a materialidade dos 
direitos fundamentais. 
Se o princípio da legalidade estabelece que a administração está pautada ao 
cumprimento dos mandamentos legais estando previsto no ordenamento constitucional uma 
série de princípios fundamentais e, sendo os princípios, como afirma Bandeira de Mello 
(2009), mais importantes que as regras, está explícito que cidadania e direitos humanos devem 
ser o fio condutor da adequada atuação da administração pública. A administração pública, 
portanto, se justifica para cuidar dos interesses da coletividade, interesses que individualmente 
seriam de muito difícil concretização. Para que não se desvie dessa finalidade há o regime 
jurídico-administrativo como conjunto de princípios e regras que estabelecem o dever-poder 
para que a administração pública concretize os interesses da coletividade. 
É perfeitamente possível aceitar a tese de que, como abordado anteriormente, temos 
um binômio entre prerrogativas e sujeições que derivam dos princípios basilares da 
supremacia do interesse público sobre o privado e da indisponibilidade do interesse público, 
pela administração pública, respectivamente. Neste viés, tanto as prerrogativas quanto as 
sujeições são necessárias para que o administrador público concretize o interesse público. Em 
teoria, as prerrogativas dão o poder para que a administração resolva os conflitos entre o 
interesse público e o privado; as sujeições, impedem que a administração abuse das 
prerrogativas outorgadas por lei. Assim, se tornam visíveis as implicações do regime jurídico 
administrativo na concretização dos direitos de cidadania. 
 
 
Conclui-se, portanto, que o regime jurídico-administrativo é um regime de garantia ao 
cidadão, pois assim como a administração pública ele existe para assegurar direitos 
fundamentais a todos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 23 
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método. 
 
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2009. 
 
BERWIG, Aldemir. Cidadania e Direitos Humanos como fundamento do Direito 
Administrativo. In: ZEIFERT, Anna Paula Bagetti; NIELSSON, Joice Graciele; WERMUTH, 
Maiquel Ângelo Dezordi (orgs.). Debatendo o Direito. Bento Gonçalves, RS: Associação 
Refletindo o Direito, 2016. p. 13-25. 
 
CRETELLA JUNIOR, José. Primeiras lições de direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2005. 
 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 
 
RIGOLI, Bruna; BERWIG, Aldemir. Direito Administrativo: possibilidade ou obstáculo à 
concretização da cidadania. In: ZEIFERT, Anna Paula Bagetti; NIELSSON, Joice Graciele; 
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi (orgs.). Debatendo o Direito. Bento Gonçalves, RS: 
Associação Refletindo o Direito, 2016. p.98-112.

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