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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
Curso: Letras Disciplina: Bases da Cultura Ocidental 
Conteudista: André Alonso 
 
 
AULA 13 
O teatro antigo 
 
META 
Apresentar uma visão geral do teatro e ler duas peças. 
 
OBJETIVOS 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. descrever as principais características do teatro antigo; 
2. identificar a temática explorada no teatro antigo; 
3. listar os principais autores do teatro antigo. 
 
 
PRÉ-REQUISITOS: Antes de começar esta aula, você deverá ter lido os seguintes textos, que 
estão na plataforma: 
 
1. Os Grandes Festivais (Maria Helena da Rocha Pereira) 
2. Édipo Rei (Sófocles) 
3. Lisístrata (Aristófanes) 
 
 
 
 2 
INTRODUÇÃO 
 
Nas últimas aulas anteriores, vimos um panorama geral sobre a lírica. Estudamos algumas de 
suas características. Lemos alguns excertos de poetas seletos. Foi um percurso que durou três 
aulas e que nos permitiu ter uma introdução sobre a lírica. Longe de esgotá-la, como dissemos, 
nosso trabalho serviu como uma degustação e um convite a um real aprofundamento, que você 
deverá fazer com um trabalho pessoal sistemático. 
 
Na aula de hoje, estudaremos o teatro antigo. Exatamente como fizemos com a lírica, nosso 
trabalho com o teatro servirá como uma introdução. É impossível, dada a quantidade e a 
complexidade de elementos a serem explorados, fazer, em uma ou duas aulas, um trabalho que 
permita conhecer em profundidade o teatro antigo. Teremos, no entanto, a ocasião de fazer 
algumas descobertas interessantes e, esperemos, despertar o desejo de um aprofundamento 
ulterior. 
 
Começaremos com o estudo dos festivais na Grécia antiga, pois eles eram a ocasião em que as 
apresentações teatrais se davam. Um segundo momento será dedicado à estrutura física do 
teatro e a seus apetrechos. Em seguida, veremos um breve panorama dos principais autores e 
obras teatrais. Por fim, estudaremos algumas características da tragédia e da comédia. 
 
 
1. OS FESTIVAIS RELIGIOSOS 
 
Você deve estar se perguntando: por que vamos falar de festivais religiosos para estudar o 
teatro antigo? A resposta é bem simples: o teatro, na Grécia antiga, está inserido em um 
conjunto de manifestações religiosas: 
 
“Os gregos honravam seus deuses de várias maneiras. Uma delas consistia em lhes 
consagrar oferendas – oferendas perecíveis, que podiam ir de um simples bolo ao 
sacrifício de dezenas de bois, ou oferendas duráveis, que variavam de uma pobre 
 
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estátua em terracota à construção de suntuosos templos de mármore. Uma outra era 
oferecer-lhes espetáculos de cantos, de músicas ou de danças. Uma terceira, enfim, 
era organizar concursos nos quais artistas e atletas rivalizavam em diversas provas, 
conforme regras previamente definidas. A organização de tais manifestações e a 
participação nelas como concorrente ou espectador eram consideradas como 
elementos essenciais do helenismo”. (MORETTI, 2001, p. 27) 
 
No decorrer da época arcaica, as competições esportivas e artísticas tornam-se regulares e 
podem ser agrupadas em três categorias: 
 
Figu
ra 
13.1 
– As 
dife
rent
es 
com
peti
ções 
e o 
espa
ço físico em que se realizavam 
(autor: André Alonso) 
 
Esses festivais ou jogos, nos quais havia concursos esportivos (provas de hipismo e de ginástica, 
estas últimas abrangendo atletismo e lutas) e musicais, podiam ser pan-helênicos (abrangendo 
toda a Grécia) ou locais, isto é, específicos de uma cidade. Os festivais pan-helênicos eram em 
número de quatro: 
 
Figu
ra 
13.2 
– Os 
jogo
s ou 
festi
vais 
 
 4 
pan-helênicos 
(autor: André Alonso) 
 
A Figura 13.2 permite-nos ver que havia quatro jogos ou festivais pan-helênicos: os olímpicos, 
os píticos, os nemeus e os ístmicos. Os dois primeiros ocorriam a cada quatro anos, os dois 
últimos, a cada dois. Os jogos olímpicos, que teriam se iniciado no ano de 776 a. C., 
compreendiam apenas provas esportivas (hipismo e ginásticas), os demais, que começaram por 
volta do ano 580 a. C., provas esportivas e musicais. Os nossos Jogos Olímpicos modernos, que 
são uma renovação dos jogos olímpicos gregos, tiveram sua primeira edição em 1896. 
 
As peças teatrais gregas que temos conservadas são fruto de festivais locais, atenienses. Em 
Atenas havia inúmeras festas religiosas, em algumas das quais ocorriam concursos dramáticos: 
 
Fig
ura 
13.3 
– 
Alg
uns 
festi
vais 
atenienses 
(autor: André Alonso) 
 
Como podemos ver, os festivais dramáticos atenienses estão intimamente associados ao deus 
Dioniso. Ele é o deus da videira, do vinho, do delírio místico e do teatro, celebrado em 
animadas procissões que seriam a origem da comédia. É também um deus de origem rural e, 
por conseguinte, popular. Está associado à fertilidade, o que é corroborado pelas falofórias 
(procissões em que se levava um grande falo em honra ao deus) que havia, por exemplo, nas 
Dionísias Rurais. Ele aparece, em certas, representações, acompanhado de sátiros e mênades: 
 
 
 5 
Figura 13.4: Dioniso (centro) acompanhado de uma mênade (esquerda) e de um sátiro – vaso do 
séc. V a. C. 
Fonte: 
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Krater_Dionysos_Walters_Art_Museum_48.74.
jpg (autor: Ad Meskens) 
 
 
Verbete 
Sátiros e Mênades – Os sátiros são seres míticos que estão ligados ao culto de Dioniso e que são 
representados como um misto de homem e cavalo ou de homem e bode, tendo orelhas e cauda 
longa. Nas iconografia, aparecem geralmente com o membro sexual em ereção e, por vezes, em 
proporção exagerada. 
As mênades são mulheres míticas que serviam a Dioniso. A forma grega μαινάδες está ligada 
ao verbo μαίνομαι (maínomai – estar possuído por um delírio divino; estar louco) e ao 
substantivo μανία (manía – delírio profético ou divino; loucura). É deste último que derivam as 
nossas palavras “mania” e“maníaco”. As mênades eram, portanto, assim chamadas por estarem 
tomadas de um delírio divino que as impulsionava a um comportamento exagerado e a uma 
agitação incontrolável, expressão de uma sexualidade cheia de furor. 
Os sátiros e as mênades representam, assim, o exagero, inclusive sexual, tanto masculino como 
feminino, resultante da influência dionisíaca. 
 
 
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Fim do verbete 
 
Figura 13.5 – Sátiro bebendo vinho – vaso do séc. V a. C. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kylix_(drinking_cup)_with_a_Satyr_-
_Getty_Villa_Collection.jpg (autor: Flickr upload bot) 
 
Figura 13.6 – Mênade vestida com pele de pantera, segurando uma outra pantera e um tirso 
(bastão ornado com hera) e tendo uma cobra enrolada na cabeça – vaso do séc. V a. C. 
 
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Fonte: 
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Mainade_Staatliche_Antikensammlungen_2645.jpg 
(autor: Bibi Saint-Pol) 
 
Atividade 1 - Atende ao Objetivo 1. 
Como você poderia relacionar teatro e religião? 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 15 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
RESPOSTA COMENTADA 
 
Mostre que o teatro, na Grécia antiga, se desenvolve no âmbito de festivais religiosos. Mencione 
que esses festivais eram anuais, que havia vários deles e que, dependendo do festival, além de 
competições esportivas, havia modalidades musicais e, também, dramáticas. Não se esqueça de 
falar que essas competições eram uma forma de culto aos deuses. Ressalte o papel do deus 
Dioniso e de seu culto nas origens do teatro. 
FIM DA RESPOSTA COMENTADA 
 
2. A ESTRUTURA FÍSICA E MATERIAL DO TEATRO 
 
2.1. O NOME TEATRO 
A aquisição de certos conceitos-chave relativos à estrutura física e materialdo teatro será de 
grande valia para uma melhor compreensão do gênero dramático. Comecemos por tentar 
entender o significado da palavra “teatro” para os gregos. Nosso termo “teatro” vem do grego 
θέατρον (théatron), que está ligado ao verbo θεάομαι (theáomai), que significa “observar”, e ao 
substantivo θέα (théa), que significa “observação”. Θέατρον (théatron) quer, portanto, dizer 
“lugar de observação”, “observatório”. E é exatamente o conceito primeiro que os gregos 
tinham de teatro: um lugar qualquer aonde se ia para observar algo. Primitivamente, o théatron 
não era um prédio ou uma estrutura mais elaborada. Poderia ser um lugar simples, já existente 
na cidade, uma praça, por exemplo, na qual o povo se reunia para assistir a um espetáculo. E já 
que mencionamos este último termo, você sabe de onde vem a palavra “espetáculo”? Ela é de 
 
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origem latina, de “spectaculum”, que está ligado ao verbo “specto”, que significa “observar”. O 
termo “spectaculum”, em latim, quer dizer “aquilo que você observa, que você vê” e o lugar ao 
qual você vai para observar é o théatron, o observatório. Uma outra palavra muito importante 
para nosso dia a dia está ligado a “spectaculum”: o espelho. Em latim, “speculum” (espelho) 
vem do verbo “specio”, “ver”. “Specio” e “specto” estão, obviamente, ligados. Espelho, por 
conseguinte, é o objeto que você usa para se ver. Temos ainda um adjetivo, de uso mais poético, 
que deriva dessa família de palavras latinas: especioso, que significa “de bela aparência” e, 
portanto, “belo”, ou “de aparência enganadora”, ou seja, “enganador, ilusório”. 
 
Deixando de lado nossa pequena digressão, voltemos ao teatro, que nada mais é do que um 
observatório. Auditório é o lugar aonde você vai para ouvir (do verbo latino “audio”, ouvir). 
Observatório é o lugar aonde você vai para observar. E o que exatamente se observava no 
teatro? O espetáculo, ou seja, aquilo que é objeto de observação. Ora, toda essa nossa análise 
aponta para o fato de que o teatro privilegiava a visão. O motivo é simples: ao contrário dos 
outros gêneros poéticos que já vimos, nos quais imperava o som e, portanto, a audição, no 
gênero dramático importa a imagem e, por conseguinte, a visão. O fato de o teatro depender da 
visão explica muito de seu sucesso, já que, de nossos cinco sentidos, a visão é aquele que melhor 
nos permite conhecer e que nos dá muito prazer. Modernamente, observamos um fato que 
ilustra bastante isso. O rádio era um meio de comunicação de massa. Com o advento da 
televisão, que traz a imagem e que apela, portanto, para nossa visão, esta tornou-se o meio de 
comunicação de massa por excelência. E, deixando de lado o aspecto religioso e mítico que 
permeava e sustentava o teatro, este era, para os gregos aquilo que a TV é para nós: um meio de 
comunicação e de diversão em massa. 
 
Se a visão era e é algo fundamental no teatro, fica evidente que, por mais que seja interessante a 
leitura de uma peça teatral, a verdadeira experiência consiste em vê-la, em assistir a sua 
encenação. Ler uma peça de teatro é algo incompleto, mas, por vezes, é tudo o que se pode 
fazer. O teatro não foi feito para ser lido, foi feito para ser visto. Não há surpresa se ele é tido 
como um gênero literário (isto é, para ser lido), pois o mesmo ocorreu com a poesia, que em 
suas origens era endereçada a um auditório, era feita para ser ouvida, pois era recitada ou 
 
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cantada. E a peça teatral, na verdade, era um poema que devia ser acompanhado de música, 
dança e imagens. Era um poema não apenas para ser ouvido, mas também para ser visto. 
 
O teatro, falando de modo bem direto, é um observatório. Os espectadores (do mesmo verbo 
“specto”, observar), isto é, os observadores, lá estão para ver um espetáculo, que é a peça 
teatral, composta de poesia, música, dança e imagens. Todo esse conjunto não era algo estático, 
mas tinha movimento, tinha ação. E como os gregos chamavam a ação? O termo que usavam 
para esse conceito era δράμμα (drámma), que deu o nosso “drama”. Por isso se diz que o teatro 
pertence ao gênero dramático. O teatro é drama, isto é, “ação”; teatro é poesia em movimento, 
em ação. 
 
2.2. A ESTRUTURA FÍSICA 
A importância dos espetáculos teatrais era tão grande que deu origem ao teatro como prédio 
físico. O espetáculo teatral não era apenas divertimento, era um meio de circulação da cultura 
tradicional, dos mitos, e também fazia parte de um culto religioso, como vimos. Era um evento 
coletivo, público, de todos os cidadãos. Era necessário, portanto, um lugar que permitisse que 
os espectadores fruíssem adequadamente da encenação. O teatro foi, então, construído em 
forma de um semicírculo de frente para o palco. Para que os que estivessem atrás pudessem ver 
a ação, a construção subia pouco a pouco, utilizando-se de degraus que formavam uma 
arquibancada. Veja as figuras seguintes: 
 
 
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Figura 13.7 – Teatro de Dodona 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dodona_theater.jpg (autor: Bibi Saint-Pol) 
 
 
Figura 13.8 – Teatro de Epidauro 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Epidauros.jpg (autor: O.Mustafin) 
 
 
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Repare, nas imagens, como as arquibancadas vão subindo e têm forma semicircular. No nível 
do chão, há um semicírculo, do qual partem os degraus que formam as arquibancadas. Esse 
semicírculo é a chamada orquestra, lugar que era reservado para o coro. Este não apenas 
cantava, mas dançava. Ao lado do semicírculo, à esquerda da imagem, há as ruínas do que era o 
palco, ou melhor, o proscênio. Ele ficava a uma altura de cerca de três a cinco degraus do chão, 
estando quase que no mesmo nível da orquestra, onde o coro cantava e dançava. O proscênio 
era o palco. O nome vem do fato de que ele ficava diante (pro) da skené (σκηνή). Skené 
significa, em grego, barraca ou tenda. Ela, como elemento físico do teatro, era uma espécie de 
tenda que servia de bastidores ou coxias, onde os atores trocavam de roupa e por onde 
entravam e saíam do palco. Estar na skené era estar fora de cena, pois o que se chama 
modernamente de cena era o proscênio. Assim, entrar na skené significava sair de cena e sair da 
skené, entrar em cena. A skené servia, também, como um meio físico de se colocar um cenário 
ou decoração relativa à peça. Veja, na imagem seguinte, as ruínas do proscênio do teatro de 
Dioniso, em Atenas. Da skené não há mais nada. 
 
Figura 13.9 – Detalhes do proscênio do teatro de Dioniso, em Atenas 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theatre_of_Dionysus_04.JPG (autor: 
Sailko) 
 
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A imagem seguinte nos permite ver, de um modo bem esquemático, a estrutura de um teatro 
típico da Grécia antiga. Repare que o proscênio ocupa o lugar do palco (proscênio, aliás, é 
sinônimo, em português, de palco) e que a skené equivale à parte que está atrás das cortinas em 
nossos teatros, ou seja, às coxias. O teatro, théatron, onde o público ficava e de onde via a ação 
corresponde às arquibancadas: 
 
Figura 13.10 – Esquema de um teatro grego visto de cima 
DIAGRAMADOR: refaça o desenho com uma resolução melhor e substitua as 
palavras escritas do modo seguinte: PROSCENION > PROSCÊNIO; SCENE > SKENÉ; 
ORCHESTRA > ORQUESTRA; PARODOS > PÁRODO; acrescente a palavra 
THÉATRON, com uma linha reta e fina, substituindo a grossa e irregular. 
 
O caráter religioso dos festivais teatrais fica bem evidenciado pela presença de um altar 
na orquestra, como podemos ver na imagem seguinte, que retrata o teatro de Dioniso, 
em Atenas. 
 
 13 
 
 
Figura 13.11 – Altar na orquestra do teatro de Dioniso, em Atenas 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theatre_of_Dionysos.JPG (autor: 
Madmedea) 
 
2.3.MÁSCARAS E FIGURINO 
Máscara, em grego, diz-se πρόσωπον (prósopon), composto de πρός (prós), “diante de”, 
e ὤψ (óps), olho. Significa, portanto, “aquilo que está diante dos olhos (de outro)”, ou 
seja, o rosto, a face e, no teatro, o rosto artificial, a máscara. A palavra viria também a 
designar “pessoa”. O termo latino para máscara é “persona”, que, ao contrário do grego, 
não tem o sentido de rosto ou face, mas que significa também “pessoa”. 
 
Os atores usavam roupas características, o que hoje chamaríamos de figurino, e 
máscaras. Por vezes usavam revestimento para criar uma barriga ou nádegas maiores. 
Podiam ter também um pênis pendurado na cintura, com função cômica, feito 
normalmente de couro e geralmente avantajado,. Esses elementos permitiam a 
caracterização e, portanto, a melhor identificação dos personagens. Era fundamental que 
o público, parte do qual estava muitas vezes distante do proscênio, pudesse identificar 
facilmente os personagens. As máscaras permitiam, também, criar efeitos semelhantes à 
 
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nossa moderna maquiagem, com cores, presença ou ausência de cabelo (para simular a 
calvície), de barba, traços indicando velhice ou juventude etc. Podia cobrir apenas o 
rosto ou também o crânio e era amarrada com fios ou correias na parte posterior da 
cabeça. 
 
As máscaras permitiam que entrassem em cena personagens femininos. No teatro grego, 
os atores são sempre homens e os personagens femininos eram por eles representados. 
O uso de máscaras viabilizava tecnicamente a presença de “mulheres” na cena. Havia, 
ainda, outra função importante: a pluralidade de personagens. No teatro grego clássico, 
havia somente três atores para toda a peça (fora o coro, que ficava na orquestra e podia 
contar com cerca de uma ou duas dezenas de componentes). Os três atores tinham de se 
revesar nos diversos papéis que havia em cada peça. Assim, frequentemente um mesmo 
ator tinha mais de um papel e as máscaras tornavam isso possível. Vejamos, na 
sequência, algumas imagens de máscaras e de estatuetas representando atores. Não se 
trata de máscaras propriamente, mas representações, por vezes miniaturas, feitas em 
materiais como terracota, por exemplo. 
 
Figura 13.12 – Representação de máscara de Dioniso, em terracota – séc. II a. C. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dionysos_mask_Louvre_Myr347.jpg 
(autor: Jastrow) 
 
 
 15 
Figura 13.13 – Representação, em bronze, de máscara trágica – séc. IV a. C. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:7303_-
_Piraeus_Arch._Museum,_Athens_-_Tragic_mask_-
_Photo_by_Giovanni_Dall%27Orto,_Nov_14_2009.jpg (autor: G.dallorto) 
 
 
Figura 13.14 – Ator no papel de um escravo – figura em terracota do séc. IV a. C. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Actor_slave_Louvre_CA265.jpg (autor: 
Jastrow) 
 
 
 
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Figura 13.15 – Ator desempenhando o papel de mulher – figura em terracota do séc. IV 
a. C. 
Fonte: 
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Actor_as_old_woman_Louvre_CA94.jpg 
(autor: Jastrow) 
 
Podemos encontrar, em vasos gregos, representações de máscaras, de atores e de cenas 
de peças teatrais. Na Figura 13.16, podemos ver, à esquerda, o palco, com a escadinha 
que a ele conduz, e os atores com máscaras e com um forro nas nádegas, para aumentá-
las. Repare que o ator que está no palco, à esquerda, tem um pênis postiço pendendo por 
entre suas pernas, um pouco para trás: 
 
 
 17 
Figura 13.16 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C. 
Fonte: © Trustees of the British Museum 
 
 
Na Figura 13.17, vemos o ator da direita com uma máscara de velho, um forro na 
barriga, para aumentá-la, e um pênis postiço pendendo por entre suas pernas. Ele 
equilibra em sua cabeça um cesto e Dioniso, jovem, tenta, à esquerda, impedir que o 
mesmo caia. 
 
 18 
Figura 13.17 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C. 
Fonte: © Trustees of the British Museum 
 
Na Figura 13.18, um homem sobe uma escada para visitar uma hetera (veja no 
dicionário!) e oferecer-lhe quatro frutos. Ele está acompanhado de um escravo (à 
direita), que carrega um balde e uma tocha. Ambos os atores usam máscaras, têm forro 
na barriga e um pênis postiço pendente: 
 
 
 19 
Figura 13.18 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C. 
Fonte: © Trustees of the British Museum 
 
 
Atividade 2 - Atende ao Objetivo 1. 
 
1. Explique o conceito de teatro partindo de sua etimologia. 
 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 12 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
2. Imagine que você tivesse de explicar a estrutura física do teatro antigo para alguém. 
Desenhe o esquema padrão de um teatro grego clássico e redija um pequeno texto 
falando dos recursos materiais do teatro. 
 
 
 20 
DIAGRAMADOR: DEIXAR UM ESPAÇO EM BRANCO EQUIVALENTE A UMAS 12 LINHAS 
(PARA QUE O ALUNO POSSA DESENHAR O ESQUEMA PEDIDO) E DEIXAR 20 LINHAS 
PARA RESPOSTA ABAIXO DESSE ESPAÇO. 
 
 
RESPOSTA COMENTADA 
 
1. Explore o fato de que teatro vem do grego théatron, que significa “lugar de observação” ou 
“observatório”. Você pode aproveitar uma outra etimologia de origem latina: espetáculo. 
Procure ressaltar que o teatro pertence ao gênero da poesia. Esta tem, na Antiguidade, um 
elemento musical que lhe é intrínseco. O teatro acrescenta, ainda, um novo elemento ao núcleo 
poético que o caracteriza: o visual (figurino, máscaras, cenário, ações dos personagens). Faça 
uma oposição entre o caráter visual do teatro como gênero poético e a predominância do 
auditivo nos outros gêneros que estudamos previamente (épica, lírica). 
 
2. Compare seu desenho com o esquema que apresentamos e veja se você conseguiu assimilá-lo 
corretamente. Em seu texto, não deixe de destacar a estrutura semicircular do teatro, 
comentando que ele engloba uma parte da orquestra. Explique o que é orquestra (lugar no qual 
o coro permanecia durante o espetáculo cantando e dançando). Fale do proscênio e da skené. 
Comente sobre a existência de um altar na orquestra, mostrando como o teatro está ligado, em 
sua origem, à religião. Você pode insistir no fato de que, no teatro antigo, já havia praticamente 
todos os elementos que hoje encontramos em nossos teatros: o lugar do público (que é o teatro 
propriamente dito, isto é, o lugar de observação), o palco (=proscênio), as coxias (=skené), o 
figurino, o cenário, maquinário para efeitos especiais (mekhané), máscaras (o que poderia 
equivaler a nossa maquiagem). Fale da função das máscaras, ressaltando que elas permitiam ao 
público identificar os personagens, já que os atores eram apenas três e cada ator podia exercer 
mais de um papel. Não esqueça de acrescentar que os atores eram sempre homens e que o 
figurino e as máscaras permitiam a composição de personagens femininos. 
FIM DA RESPOSTA COMENTADA 
 
 
 21 
 
3. AUTORES E OBRAS 
 
Vejamos um pouco sobre os autores e as peças de teatro. Nos vários séculos que 
abarcaram a produção teatral da Antiguidade, que evolui e muda pouco a pouco, 
inúmeros foram os dramaturgos e ainda mais numerosas as peças de teatro por eles 
compostas. No entanto, a maior parte dessa enorme produção teatral se perdeu ou 
chegou até nós sob a forma de fragmentos. Algumas obras, no entanto, se conservaram e 
imortalizaram o nome de seus autores. Na Grécia, três tragediógrafos e dois 
comediógrafos tiveram algumas de suas obras conservadas através dos séculos. São eles: 
Ésquilo, Sófocles, Eurípides (tragediógrafos), Aristófanes e Menandro (comediógrafos). 
Em Roma, dois comediógrafos, Plauto e Terêncio, e um tragediógrafo, Sêneca, são os 
mais conhecidos. 
 
Para que tenhamos uma visão panorâmica da produção desses dramaturgos, podemoselencar os títulos de suas peças que chegaram até nossos dias: 
 
I. Ésquilo (séc. VI e V a. C. - Grécia) 
 
1. Persas 
2. Sete contra Tebas 
3. Suplicantes 
Oresteia, uma trilogia (a única que chegou 
a nós) composta de: 
4. Agamêmnon 
5. Coéforas 
6. Eumênides 
7. Prometeu acorrentado 
 
II. Sófocles (séc. V a. C. - Grécia) 
 
1. Ájax 
2. Antígona 
3. Traquínias 
4. Édipo rei 
5. Electra 
6. Filoctetes 
 
 22 
7. Édipo em Colona 
 
III. Eurípides (séc. V a. C. - Grécia) 
 
1. Alceste 
2. Medeia 
3. Heráclidas 
4. Hipólito 
5. Andrômaca 
6. Hécuba 
7. Suplicantes 
8. Electra 
9. Troianas 
10. Héracles furioso 
11. Ifigênia em Táuris 
12. Íon 
13. Helena 
14. Fenícias 
15.Orestes 
16. Bacantes 
17. Ifigênia em Áulis 
18. Ciclope (drama satírico) 
 
IV. Aristófanes (séc. V e IV a. C. - Grécia) 
 
1. Acarnenses 
2. Cavaleiros 
3. Nuvens 
4. Vespas 
5. Paz 
6. Pássaros 
7. Lisístrata 
8. Tesmoforiantes (=mulheres que 
celebram o festival das Tesmofórias) 
9. Rãs 
10. Mulheres na assembleia 
11. Pluto (= o deus da riqueza) 
 
V. Menandro (séc. IV e III a. C. - Grécia) 
 
1. O rabugento (única integralmente 
conservada) 
Conservadas pela metade ou quase 
completas: 
2. O escudo 
3. Arbitragem 
4. A moça de Samos 
5. Os siciônios 
6. A moça de cabelos cortados 
 
VI. Plauto (Roma – séc. III e II a. C.) 
 
1. Anfitrião 
2. A comédia da marmita 
 
 23 
3. Os Menecmenos 
4. O soldado fanfarrão 
5. Os cativos 
6. A comédia do cestinho 
7. A amarra 
8. A comédia dos asnos 
9. Cásina 
10. Truculento 
11. Impostor 
12. Epídico 
13. Estico 
14. O homem com três moedas 
15. As Báquides 
16. O gorgulho 
17. O comerciante 
18. A comédia do fantasma 
19. O pequeno cartaginês 
20. O persa 
 
VII. Terêncio (Roma – séc. II a. C.) 
 
1. A jovem de Andros 
2. O eunuco 
3. A sogra 
4. O punidor de si mesmo 
5. Fórmio 
6. Os irmãos 
 
VIII. Sêneca (Roma – séc. I a. C.) 
 
1. Medeia 
2. Édipo 
3. Agamêmnon 
4. Fedro 
5. Tieste 
6. Hércules furioso 
7. As troianas 
8. As fenícias 
9. Hércules no Eta 
 
 
 
 
Atividade 3 - Atende ao Objetivo 3. 
 
1. Enumere os principais dramaturgos gregos e romanos da Antiguidade. 
 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 5 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
 24 
 
RESPOSTA COMENTADA 
 
a) Entre os gregos temos: 
(1) tragediógrafos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides 
(2) comediógrafos – Aristófanes e Menandro 
 
b) Entre os romanos temos: 
(1) tragediógrafo – Sêneca 
(2) comediógrafos – Plauto e Terêncio 
FIM DA RESPOSTA COMENTADA 
 
 
4. GÊNERO DRAMÁTICO: TRAGÉDIA E COMÉDIA 
 
Temos falado dos diversos gêneros literários. O teatro pertence, por assim dizer, ao 
gênero dramático. Essa classificação deve ser bem entendida. Em primeiríssimo lugar, 
teatro, na Antiguidade, é do domínio da poesia. Não tem qualquer relação com a prosa. 
Mais claramente: teatro é poesia. Uma segunda observação importante: quando 
enquadramos teatro entre os gêneros literários, isso não é sem dificuldades. Já 
comentamos como a poesia grega do período arcaico não era uma literatura no sentido 
próprio, mas uma oralitura. Não era feita para ser lida, mas para ser recitada ou cantada. 
O mesmo se dá com o texto teatral: ele não era composto para ser lido, mas para ser 
representado. 
 
Quando falamos de gênero dramático, nós o fazemos pelo fato de as produções do teatro 
serem dramas. Mas o que exatamente é um drama? Nossa palavra “drama” vem do 
grego, como mencionamos no início desta aula, e δράμμα (drámma) que dizer 
 
 25 
simplesmente “ação”. Se o teatro é ação, isso ocorre porque os atores, ao encenarem, 
imitam de modo direto o agir dos indivíduos encarnados nas personagens. Para existir 
efetivamente o teatro, não basta um texto, são necessários outros elementos: atores (em 
número de três, na forma que ficou consagrada no séc. V, em Atenas), um coro, que 
funciona como um contraponto aos atores e participa ativamente da ação, um figurino, 
com o uso de máscaras, um espaço físico (palco – proscênio – e orquestra) com um 
cenário específico, música e dança. Já na Antiguidade havia efeitos especiais. Para fazer, 
por exemplo, com que um deus aparecesse na cena, os gregos desenvolveram o uso, no 
teatro, da chamada μηχανή (mekhané), transcrita para o latim como “machina”e que 
equivalia a nosso guindaste ou grua. Era, portanto, uma grua usada para fazer com que 
um ator voasse em cena. Você talvez já tenha ouvido falar da expressão latina “deus ex 
machina”. No sentido geral, ela designa algo ou alguém que aparece inesperadamente, 
trazendo uma solução para um problema que se mostrava insolúvel. No teatro, o “deus 
ex machina” era um recurso dramatúrgico utilizado para solucionar, no final da peça, 
uma situação intrincada que tinha se constituído durante a peça e que se mostrava 
insolúvel do ponto de vista prático. Introduzia-se, então, um elemento divino que trazia 
a solução para o problema. Do termo grego μηχανή (mekhané) derivam palavras 
portuguesas como “máquina”, “mecânico”, “mecanismo”. 
 
 
 26 
Figura 13.19 – Representação da mekhané 
 
Ilustrador: refaça a ilustração acima, substituindo “Mechane” por “Mekhané”, 
“Skene” por “Skené”, “Proskenion” por “Proskénion”. 
 
O gênero dramático está, portanto, muito distante de um gênero literário em sentido 
estrito. Ele é um subgênero da poesia e, além da música, comporta toda uma série de 
elementos que lhe são característicos e que acabamos de elencar. Uma parte importante 
desses elementos é ligada ao sentido da visão: atores em ação, cenário, figurino. A 
preeminência do aspecto visual, como vimos, rendeu ao teatro o seu nome (lembre-se: 
teatro é um lugar de observação, de ver a ação que se passa). 
 
Dentro do gênero dramático, podemos ter alguns subgêneros. Os dois mais famosos na 
Antiguidade eram a tragédia e a comédia. Para melhor compreendermos a realidade 
desses dois subgêneros dramáticos, comecemos por analisar o significado dos termos 
tragédia e comédia, ambos de origem grega. 
 
Tragédia, em grego, diz-se τραγῳδία, que é um termo composto de τράγος (trágos) e de 
ᾠδή (oidé, cognato de ἀείδω (aeído), o verbo cantar, que deu “aedo”, em português). 
 
 27 
Este último termo deu, em português, a palavra ode, que significa propriamente 
“canto”. A tragédia e a comédia são, portanto, cantos. Mas o que significa τράγος 
(trágos)? A resposta, que pode nos causar um certo embaraço, é bastante simples: 
τράγος (trágos) quer dizer “bode”. Tragédia, por conseguinte, seria algo como “o canto 
do bode”. Mas como assim? O bode não pode cantar. O sentido da palavra tragédia é 
manifestamente obscuro. Há, entretanto, um fato a ser notado: o bode é um animal que 
está associado ao deus Dioniso e a tragédia, como forma de expressão teatral, está 
inserida no culto a essa divindade. 
 
Algumas hipóteses foram levantadas para explicar o significado do termo tragédia: 
 
a) o “canto do bode” poderia ser o canto realizado por um coro no momento de um 
sacrifício religioso (lembre-se da origem religiosa do teatro) cuja vítima era um bode; 
b) o canto poderia ser executado por um coro fantasiado de bode em cerimônias ou 
procissões consagradas a Dioniso; 
c) o bode aparece mencionado, em uma inscrição do séc. III a. C. (mármore de Paros), 
como o prêmio do concurso teatral em Atenas desde o ano 530 a. C. (cf. DEMONT e 
LEBEAU, 1996, p. 27). 
 
Figura 13.20 – Um sátiro e um bode – vaso do séc. VI a. C. 
 
 28 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Satyr_goat_Met_L.2008.51.jpg(autor: 
Jastrow) 
 
O termo comédia, em grego, é κωμῳδία (comoidía). O segundo elemento é, obviamente, 
o mesmo ᾠδή (oidé) que encontramos em “tragédia”. E quanto à primeira parte da 
palavra? Nela encontramos o radical κωμ- (kom-). Algumas hipóteses foram levantadas 
para tentar explicar o sentido dele: 
 
a) comédia viria de κῶμος (kômos), que era um cortejo ou procissão que percorria as 
ruas, com cantos e danças em honra a Dioniso; 
b) o radical vem do termo κῶμα (kôma), que significa “sono profundo” (deu origem ao 
termo médico “coma”), pois a comédia teria se originado do fato de grupos de 
camponeses irem à cidade, de madrugada, quando todos dormiam, para cantar cânticos 
com críticas e ofensas a figuras importantes da vida pública; 
c) o radical está ligado a κώμη (kóme), que significa “vilarejo”; os a utores de farsas, que 
não eram tolerados na cidade e eram impedidos de nela exercer sua arte, passaram a 
apresentar seus cantos nos vilarejos (κῶμαι – kômai); essa etimologia é mencionada por 
Aristóteles em sua Poética: 
 
“Daí o sustentarem alguns que tais composições se denominam dramas, pelo fato de se 
imitarem agentes [drôntas]. Por isso, também, os Dório para si reclamam a invenção da 
tragédia e da comédia; – a da comédia, pretendem-na os Megarenses (…); dizem eles que, na 
sua linguagem, chamam kômai às aldeias que os Atenienses denominam dêmoi, e que os 
'comediantes' não derivam seu nome de komázein (=fazer uma procissão com cantos e dança), 
mas, sim, de andarem de aldeia em aldeia (kómas), por não serem tolerados na cidade”. 
(1448a 28-38) 
 
Por mais que não haja uma solução para o verdadeiro significado dos termos tragédia e 
comédia, podemos constatar que: 
 
 
 29 
a) a tragédia tem sua origem ligada ao culto de Dioniso, o que mostra com clareza o 
caráter religioso dos festivais de teatro; 
b) a comédia também está ligada, em sua origem, ao culto de Dioniso, tendo suas raízes 
na vida rural (aldeias) e caracterizando-se, também, pela crítica. 
 
Podemos, por fim, reforçar o caráter poético do drama. As peças teatrais são compostas 
em versos de metros variados. O teatro antigo, como dissemos, é poesia, mas poesia 
posta em ação, transformada em algo visual. As falas são recitadas ou cantadas, 
dependendo do trecho. 
 
O teatro teria se originado de apresentações cantadas por coros, o que faz com que ele 
esteja, em sua base, ligado ao gênero lírico. Em um determinado momento, introduziu-
se um ator para dividir o espaço com o coro. Em grego, ἀγωνιστής (agonistés) é o termo 
utilizado para designar um combatente, um competidor ou um ator (pois o ator 
competia nos concursos realizados nos festivais). Depois, passou a participar da ação um 
segundo ator. Por fim, incluiu-se um terceiro, constituindo-se, assim, a forma clássica do 
teatro grego: três atores no proscênio dividindo a ação com o coro, que ficava na 
orquestra. Em grego, primeiro diz-se πρῶτος (prôtos – lembre-se de protozoários, as 
“primeiras” formas de vida da terra), segundo, δεύτερος (deúteros – lembre-se do livro 
do Deuteronômio, na Bíblia, cujo título significa “segunda lei”), terceiro, τρίτος (trítos). 
Assim, o primeiro ator é o προταγονιστής (protagonistés), o segundo, o 
δευτεραγονιστής (deuteragonistés), o terceiro, o τριταγονιστής (tritagonistés). Daqui 
chamamos, em português, o personagem principal de protagonista. Há também as 
formas deuteragonista e tritagonista. E não nos esquecemos do termo antagonista, que é 
o personagem (de ator – agonistés) que se opõe (ἀντί – antí: preposição que significa 
“em frente a” ou “em oposição a”) ao protagonista na trama teatral e, por extensão, em 
todo e qualquer enredo. 
 
 30 
 
4.1. TEMÁTICA 
a) tragédia 
 
Salvo raras exceções, nas quais se abordam temas históricos, a tragédia grega clássica 
tem como fonte de seus temas os grandes mitos. E isso ela tem em comum com a épica. 
Não há, por assim dizer, espaço para inovação temática. Os temas são tradicionais, 
tirados dos principais mitos da cultura helênica. Você, com toda razão, poderia 
perguntar: Mas isso não faz com que as tragédias sejam muito repetitivas, já que tratam 
sempre dos mesmos temas? E a resposta é: não! A arte da tragédia não repousa sobre a 
inovação temática, mas sobre a diversidade de tratamentos dados ao mesmo tema. Um 
mesmo mito era explorado várias vezes por diferentes tragediógrafos. O mito tem um 
núcleo básico, central, que não muda, mas há elementos secundários que podem ser 
modificados e há espaço para criação de novos elementos. E é nesse campo que os 
tragediógrafos podiam exercer suas habilidades e sua criação-inovação. A arte do 
tragediógrafo, sua excelência, consistia na capacidade de dar um tratamento inovador a 
um mito tradicional. A inovação não reside no tema, mas na abordagem que dele se faz. 
 
b) comédia 
 
A comédia tem uma temática variada. E, por vezes, ela se serve da tragédia como 
escada, parodiando tragédias conhecidas do público e, por assim dizer, transformando-
as em algo digno de riso. A comédia pode servir-se de mitos tradicionais, mas de um 
modo bem diverso daquele utilizado regularmente na tragédia. Os tragediógrafos 
exploram o mito em sua profundidade e contradição, um comediógrafo vai parodiá-lo 
para retirar-lhe o caráter sério e trágico e transformá-lo em algo cômico e ridículo. A 
comédia, por vezes, colocava os próprios deuses em situações ridículas e, para nossa 
 
 31 
sensibilidade, humilhantes, mas, para os gregos, não havia nisso nenhuma impiedade, 
ao contrário, isso se fazia no âmbito de um festival religioso. 
 
A tragédia tem uma temática tradicional, mítica. A comédia, ao contrário, tem uma 
temática atual (embora possa eventualmente servir-se do mito tradicional como ponto 
de partida para o ridículo). A tragédia busca seus temas em uma fonte bastante antiga, a 
comédia explora, frequentemente, a atualidade e a novidade. Assim, a comédia inova 
constantemente seu arcabouço temático, ao contrário da tragédia, que explora sempre os 
grandes mitos. Essa diferença é ironicamente vista como uma dificuldade para o 
comediógrafo, que não tem a sua disposição toda uma série de temas prontos. É o que se 
depreende das palavras de Antífanes, um comediógrafo grego do séc. IV a. C., contidas 
em um fragmento conservado de sua comédia Poesia: 
 
“A tragédia é um poema bem-aventurado 
em todos os sentidos, porque, em primeiro lugar, o enredo 
já é conhecido pelos espectadores, 
mesmo antes que alguém fale, de modo que o poeta 
precisa apenas mencioná-lo. Com efeito, basta que eu diga 
'Édipo', eles já sabem todo o resto: seu pai era Laio, 
sua mãe era Jocasta, quem eram suas filhas e filhos, 
o que acontecerá com ele, o que ele fez. Novamente, 
basta que alguém diga 'Alcméon' e já disse imediatamente 
quem eram todos os seus filhos, que ele, enlouquecido, 
matou a mãe, que Adrasto, enfurecido, logo 
chegará e de novo partirá. 
Em seguida, quando eles [=os tragediógrafos] já não têm mais nada que possam dizer 
e se esgotaram completamente em suas peças, 
levantam a mekhané como se fosse um dedo 
e seus espectadores ficam completamente satisfeitos. 
Quanto a nós, não temos nada disso, mas é preciso 
inventar tudo, nomes novos, o que aconteceu previamente, 
a ação em curso, o desfecho da peça, 
o prólogo. Se um Cremes ou um Fídon omitir 
alguma dessas coisas, é vaiado, 
mas Peleu e Teucro podem fazê-lo sem problema.” (frag. 191 Kock) 
 
 
 32 
A comédia tem, via de regra, uma temática atual. Mas como a atualidade poderia ser 
explorada na comédia? Existe uma dupla possibilidade: comédia política ou comédia de 
costumes. A chamada comédia antiga, da qual Aristófanes (séc. V a. C.) é o 
representantecujas obras melhor conhecemos, aborda, geralmente, a situação política 
lato sensu. Aristófanes explora questões políticas, econômicas, sociais e culturais de seu 
tempo, apresentando uma visão bastante crítica em relação aos problemas enfrentados 
pelos atenienses e às soluções apresentadas pelos políticos e homens influentes. Um 
tema muito explorado nas comédias aristofânicas é a guerra do Peloponeso, que 
contrapôs Atenas (cidade de Aristófanes) e Esparta e trouxe resultados nefandos para a 
primeira. As desgraças trazidas pelo conflito modificam substancialmente a vida dos 
atenienses, principalmente dos que vivem na região rural. O comediógrafo manifesta 
constantemente seu desejo de uma paz duradora, que traga consigo prosperidade. 
Portanto, o binômio guerra-paz é recorrente nas comédias aristofânicas. 
 
Atual é também a temática da chamada comédia nova, cujo representante melhor 
conhecido por nós é Menandro (séc. IV e III a. C.). Se a comédia antiga aborda assuntos 
do âmbito social, a comédia nova, ao contrário, concentra-se em temas privados, na 
comédia de costumes, partindo frequentemente do âmbito da vida familiar. Menandro 
explora as relações familiares (pais e filhos, irmãos etc.) ou de vizinhança. Ele exprime, 
em uma certa medida, a atualidade dessas relações, conforme elas eram vivenciadas em 
sua época e lugar. Mas elas, por sua própria natureza, apresentam também um certo 
caráter universal e atemporal. O relacionamento entre pais e filhos, entre familiares e 
entre vizinhos é algo que se vê basicamente em todas as culturas através do tempo e do 
espaço. É, portanto, uma temática muito mais acessível do que a social, que pressupõe 
um conhecimento de detalhes específicos relativos à história, à política e à cultura de um 
determinado tempo e lugar. 
 
 
 33 
Atividade 4 - Atende ao Objetivo 2. 
 
1. Disserte sobre os temas explorados no teatro grego antigo. 
 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 15 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
RESPOSTA COMENTADA 
 
Para facilitar, você pode dividir sua resposta segundo os dois grandes subgêneros 
dramáticos, a tragédia e a comédia. 
Mostre que a temática da tragédia é, normalmente, tirada dos mitos. Comente o fato de 
que sua novidade reside na abordagem que os dramaturgos dão aos mitos, não nos 
temas propriamente. Não deixe de insistir no fato de que os mitos tradicionais têm um 
núcleo fixo, mas que há espaço para criar novos elementos ou modificar elementos 
secundários e que nesse âmbito os tragediógrafos podiam fazer valer seu talento. 
Ao tratar da comédia, você pode apresentar um contraste com a tragédia. Argumente 
que a comédia tem de inventar tudo, mas que a tragédia já tem pronta toda a sua 
temática, nomes etc. É também o momento de opor o caráter arcaico, tradicional e 
perene da temática da tragédia (o mito) e a atualidade e a volatilidade de certas questões 
tratadas na comédia: política, sociedade, cultura. Não deixe de mostrar que a comédia 
pode se ocupar dos costumes e das relações familiares e que aqui ela encontra um 
campo mais perene. 
FIM DA RESPOSTA COMENTADA 
 
 
Atividade final - Atende aos Objetivos 1 e 2. 
 
1. Faça um resumo do enredo das peças que você leu: Édipo Rei e Lisístrata. 
 
 34 
 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 40 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
2. Escreva um pequeno texto transformando o enredo de Édipo Rei, que é uma tragédia, 
em uma comédia. Como você faria alguém rir com a história trágica de Édipo? 
 
DIAGRAMADOR: DEIXAR 20 LINHAS PARA RESPOSTA. 
 
 
RESPOSTA COMENTADA 
 
1. Não há uma resposta padrão. Destaque os principais elementos de cada uma das duas 
tramas, recontando com suas palavras as duas peças. 
 
2. Não há uma resposta padrão. Solte toda a sua criatividade. O objetivo é você 
conseguir transformar um tema triste em algo que faça rir. 
FIM DA RESPOSTA COMENTADA 
 
 
 
 RESUMO 
 
O teatro pertence ao âmbito da poesia. Ele possui, portanto, uma série de elementos 
característicos do gênero poético: métrica, ritmo, música. A palavra teatro vem do grego 
théatron, que significa “lugar de observação”, “observatório”. O teatro, como nos mostra 
sua etimologia, tem um elemento novo que o caracteriza: o visual. O gênero dramático 
apela para a visão, sem deixar de lado a parte auditiva que caracteriza a poesia. O teatro, 
na Grécia antiga, nasce como uma manifestação religiosa. Os gregos possuíam inúmeras 
 
 35 
festas religiosas espalhadas pelo ano. Algumas eram de maior importância e duravam 
alguns dias. Já no período arcaico, há festivais em que competidores disputam prêmios 
em diversas modalidades esportivas e musicais. Essas competições estavam inseridas 
em festivais religiosas em honra a diferentes deuses. Em Atenas, o teatro vai se 
desenvolver no âmbito de festas dedicadas ao deus Dioniso. 
A estrutura física do teatro compreendia o auditório, ou melhor, o observatório, que era 
onde o público ficava (e que era o teatro propriamente dito) e tinha uma forma 
semicircular, envolvendo parcialmente a orquestra, local de forma circular onde o coro 
ficava cantando e dançando. Junto à orquestra, em oposição ao “observatório”, ficava o 
proscênio (palco) e, atrás deste, a skené (bastidores). No meio da orquestra, havia um 
altar, o que mostra como o teatro pertencia ao âmbito das manifestações religiosas. 
No teatro grego, já encontramos quase todos os elementos de nosso teatro moderno: 
figurino, cenário, máscaras (que podem ser assimiladas à maquiagem), efeitos especiais 
(mekhané e outros recursos). As máscaras tinham uma função primordial. No modelo 
clássico do séc. V a. C., havia apenas três atores no palco, além do coro, que ficava na 
orquestra. Os atores tinham, frequentemente, mais de um papel na peça. As máscaras 
serviam para permitir essa variação de papéis e também para auxiliar o público a 
identificar os diferentes personagens. Como os atores eram sempre homens, as máscaras 
e o figurino permitiam que eles representassem papéis femininos. 
Entre os incontáveis dramaturgos da Antiguidade, alguns nomes se imortalizaram. 
Entre os gregos, temos três grandes tragediógrafos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides – e 
dois comediógrafos – Aristófanes e Menandro. Entre os romanos, temos Sêneca, um 
tragediógrafo, e Plauto e Terêncio, comediógrafos. 
A temática abordada no teatro varia segundo os subgêneros. A tragédia explora temas 
tradicionais, tirados dos mitos. O tragediógrafo não tem muito espaço para criar sua 
temática, mas sua arte reside no modo como aborda os diferentes mitos e nos elementos 
secundários ou periféricos que recria ou introduz. A comédia, no séc. V a. C., tem uma 
 
 36 
temática social, política. Ela aborda os temas atualíssimos de Atenas, refletindo o 
momento sócio-político-cultural em todo o seu vigor. Assim, vemos Aristófanes explorar 
o tema da guerra e da paz, pois Atenas estava vivenciando todas as vicissitudes da 
guerra do Peloponeso, que opôs a cidade a Esparta. Nos séculos IV e III, a comédia 
grega, com Menandro, explora assuntos mais privados, pertinentes às relações 
familiares ou de vizinhança. É a comédia nova, que se firma como comédia de costumes, 
tratando de temas que têm uma certa universalidade no tempo e no espaço. 
 
 
 37 
 
 
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA 
 
Em nossa próxima aula, estudaremos o nascimento da Filosofia, explorando elementos como a 
poesia sapiencial ou gnômica, as condições que favoreceram o aparecimento da Filosofia na 
Grécia, o sentido etimológico do termo e suas principais características. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARISTÓTELES. Poética. Tradução, Prefácio, Introdução, Comentário e Apêndices de 
Eudoro de Souza. 5a edição. Lisboa: ImprensaNacional – Casa da Moeda, 1998. 
DEMONT, Paul, LEBEAU, Anne. Introduction au théatre grec antique. Paris: Le Livre 
de Poche, 1996. 
KOCK, Theodorus. Commicorum Atticorum Fragmenta. Volumen II – Novae 
Commoediae Fragmenta – Pars I. Lipsiae (Leipzig): Teubner, 1884. 
MORETTI, Jean-Charles. Théâtre et société dans la Grèce antique. Paris: Le Livre de 
Poche, 200.1 
 
 
	CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
	DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
	Curso: Letras Disciplina: Bases da Cultura Ocidental
	Conteudista: André Alonso
	Apresentar uma visão geral do teatro e ler duas peças.
	Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
	1. descrever as principais características do teatro antigo;
	2. identificar a temática explorada no teatro antigo;
	3. listar os principais autores do teatro antigo.
	Como podemos ver, os festivais dramáticos atenienses estão intimamente associados ao deus Dioniso. Ele é o deus da videira, do vinho, do delírio místico e do teatro, celebrado em animadas procissões que seriam a origem da comédia. É também um deus de origem rural e, por conseguinte, popular. Está associado à fertilidade, o que é corroborado pelas falofórias (procissões em que se levava um grande falo em honra ao deus) que havia, por exemplo, nas Dionísias Rurais. Ele aparece, em certas, representações, acompanhado de sátiros e mênades:
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Krater_Dionysos_Walters_Art_Museum_48.74.jpg (autor: Ad Meskens)
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kylix_(drinking_cup)_with_a_Satyr_-_Getty_Villa_Collection.jpg (autor: Flickr upload bot)
	Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Mainade_Staatliche_Antikensammlungen_2645.jpg (autor: Bibi Saint-Pol)
	Como você poderia relacionar teatro e religião?
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dodona_theater.jpg (autor: Bibi Saint-Pol)
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Epidauros.jpg (autor: O.Mustafin)
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theatre_of_Dionysus_04.JPG (autor: Sailko)
	Figura 13.10 – Esquema de um teatro grego visto de cima
	O caráter religioso dos festivais teatrais fica bem evidenciado pela presença de um altar na orquestra, como podemos ver na imagem seguinte, que retrata o teatro de Dioniso, em Atenas.
	Figura 13.11 – Altar na orquestra do teatro de Dioniso, em Atenas
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theatre_of_Dionysos.JPG (autor: Madmedea)
	2.3. MÁSCARAS E FIGURINO
	Máscara, em grego, diz-se πρόσωπον (prósopon), composto de πρός (prós), “diante de”, e ὤψ (óps), olho. Significa, portanto, “aquilo que está diante dos olhos (de outro)”, ou seja, o rosto, a face e, no teatro, o rosto artificial, a máscara. A palavra viria também a designar “pessoa”. O termo latino para máscara é “persona”, que, ao contrário do grego, não tem o sentido de rosto ou face, mas que significa também “pessoa”.
	Os atores usavam roupas características, o que hoje chamaríamos de figurino, e máscaras. Por vezes usavam revestimento para criar uma barriga ou nádegas maiores. Podiam ter também um pênis pendurado na cintura, com função cômica, feito normalmente de couro e geralmente avantajado,. Esses elementos permitiam a caracterização e, portanto, a melhor identificação dos personagens. Era fundamental que o público, parte do qual estava muitas vezes distante do proscênio, pudesse identificar facilmente os personagens. As máscaras permitiam, também, criar efeitos semelhantes à nossa moderna maquiagem, com cores, presença ou ausência de cabelo (para simular a calvície), de barba, traços indicando velhice ou juventude etc. Podia cobrir apenas o rosto ou também o crânio e era amarrada com fios ou correias na parte posterior da cabeça.
	As máscaras permitiam que entrassem em cena personagens femininos. No teatro grego, os atores são sempre homens e os personagens femininos eram por eles representados. O uso de máscaras viabilizava tecnicamente a presença de “mulheres” na cena. Havia, ainda, outra função importante: a pluralidade de personagens. No teatro grego clássico, havia somente três atores para toda a peça (fora o coro, que ficava na orquestra e podia contar com cerca de uma ou duas dezenas de componentes). Os três atores tinham de se revesar nos diversos papéis que havia em cada peça. Assim, frequentemente um mesmo ator tinha mais de um papel e as máscaras tornavam isso possível. Vejamos, na sequência, algumas imagens de máscaras e de estatuetas representando atores. Não se trata de máscaras propriamente, mas representações, por vezes miniaturas, feitas em materiais como terracota, por exemplo.
	Figura 13.12 – Representação de máscara de Dioniso, em terracota – séc. II a. C.
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dionysos_mask_Louvre_Myr347.jpg (autor: Jastrow)
	Figura 13.13 – Representação, em bronze, de máscara trágica – séc. IV a. C.
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:7303_-_Piraeus_Arch._Museum,_Athens_-_Tragic_mask_-_Photo_by_Giovanni_Dall%27Orto,_Nov_14_2009.jpg (autor: G.dallorto)
	Figura 13.14 – Ator no papel de um escravo – figura em terracota do séc. IV a. C.
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Actor_slave_Louvre_CA265.jpg (autor: Jastrow)
	Figura 13.15 – Ator desempenhando o papel de mulher – figura em terracota do séc. IV a. C.
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Actor_as_old_woman_Louvre_CA94.jpg (autor: Jastrow)
	Podemos encontrar, em vasos gregos, representações de máscaras, de atores e de cenas de peças teatrais. Na Figura 13.16, podemos ver, à esquerda, o palco, com a escadinha que a ele conduz, e os atores com máscaras e com um forro nas nádegas, para aumentá-las. Repare que o ator que está no palco, à esquerda, tem um pênis postiço pendendo por entre suas pernas, um pouco para trás:
	Figura 13.16 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C.
	Fonte: © Trustees of the British Museum
	Na Figura 13.17, vemos o ator da direita com uma máscara de velho, um forro na barriga, para aumentá-la, e um pênis postiço pendendo por entre suas pernas. Ele equilibra em sua cabeça um cesto e Dioniso, jovem, tenta, à esquerda, impedir que o mesmo caia.
	Figura 13.17 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C.
	Fonte: © Trustees of the British Museum
	Na Figura 13.18, um homem sobe uma escada para visitar uma hetera (veja no dicionário!) e oferecer-lhe quatro frutos. Ele está acompanhado de um escravo (à direita), que carrega um balde e uma tocha. Ambos os atores usam máscaras, têm forro na barriga e um pênis postiço pendente:
	Figura 13.18 – Cena de uma comédia – vaso do séc. IV a. C.
	Fonte: © Trustees of the British Museum
	1. Explique o conceito de teatro partindo de sua etimologia.
	2. Imagine que você tivesse de explicar a estrutura física do teatro antigo para alguém. Desenhe o esquema padrão de um teatro grego clássico e redija um pequeno texto falando dos recursos materiais do teatro.
	1. Explore o fato de que teatro vem do grego théatron, que significa “lugar de observação” ou “observatório”. Você pode aproveitar uma outra etimologia de origem latina: espetáculo. Procure ressaltar que o teatro pertence ao gênero da poesia. Esta tem, na Antiguidade, um elemento musical que lhe é intrínseco. O teatro acrescenta, ainda, um novo elemento ao núcleo poético que o caracteriza: o visual (figurino, máscaras, cenário, ações dos personagens). Faça uma oposição entre o caráter visual do teatro como gênero poético e a predominância do auditivo nos outros gêneros que estudamos previamente (épica, lírica).
	2. Compare seu desenho com o esquema que apresentamos e veja se você conseguiu assimilá-lo corretamente. Em seu texto, não deixe de destacar a estrutura semicircular do teatro, comentando que ele engloba uma parte da orquestra. Explique o que é orquestra (lugar no qual o coro permanecia durante o espetáculo cantando e dançando). Fale do proscênio e da skené. Comente sobre a existência de um altar na orquestra,mostrando como o teatro está ligado, em sua origem, à religião. Você pode insistir no fato de que, no teatro antigo, já havia praticamente todos os elementos que hoje encontramos em nossos teatros: o lugar do público (que é o teatro propriamente dito, isto é, o lugar de observação), o palco (=proscênio), as coxias (=skené), o figurino, o cenário, maquinário para efeitos especiais (mekhané), máscaras (o que poderia equivaler a nossa maquiagem). Fale da função das máscaras, ressaltando que elas permitiam ao público identificar os personagens, já que os atores eram apenas três e cada ator podia exercer mais de um papel. Não esqueça de acrescentar que os atores eram sempre homens e que o figurino e as máscaras permitiam a composição de personagens femininos.
	3. AUTORES E OBRAS
	Vejamos um pouco sobre os autores e as peças de teatro. Nos vários séculos que abarcaram a produção teatral da Antiguidade, que evolui e muda pouco a pouco, inúmeros foram os dramaturgos e ainda mais numerosas as peças de teatro por eles compostas. No entanto, a maior parte dessa enorme produção teatral se perdeu ou chegou até nós sob a forma de fragmentos. Algumas obras, no entanto, se conservaram e imortalizaram o nome de seus autores. Na Grécia, três tragediógrafos e dois comediógrafos tiveram algumas de suas obras conservadas através dos séculos. São eles: Ésquilo, Sófocles, Eurípides (tragediógrafos), Aristófanes e Menandro (comediógrafos). Em Roma, dois comediógrafos, Plauto e Terêncio, e um tragediógrafo, Sêneca, são os mais conhecidos.
	Para que tenhamos uma visão panorâmica da produção desses dramaturgos, podemos elencar os títulos de suas peças que chegaram até nossos dias:
	I. Ésquilo (séc. VI e V a. C. - Grécia)
	1. Persas
	2. Sete contra Tebas
	3. Suplicantes
	Oresteia, uma trilogia (a única que chegou a nós) composta de:
	4. Agamêmnon
	5. Coéforas
	6. Eumênides
	7. Prometeu acorrentado
	II. Sófocles (séc. V a. C. - Grécia)
	1. Ájax
	2. Antígona
	3. Traquínias
	4. Édipo rei
	5. Electra
	6. Filoctetes
	7. Édipo em Colona
	III. Eurípides (séc. V a. C. - Grécia)
	1. Alceste
	2. Medeia
	3. Heráclidas
	4. Hipólito
	5. Andrômaca
	6. Hécuba
	7. Suplicantes
	8. Electra
	9. Troianas
	10. Héracles furioso
	11. Ifigênia em Táuris
	12. Íon
	13. Helena
	14. Fenícias
	15.Orestes
	16. Bacantes
	17. Ifigênia em Áulis
	18. Ciclope (drama satírico)
	IV. Aristófanes (séc. V e IV a. C. - Grécia)
	1. Acarnenses
	2. Cavaleiros
	3. Nuvens
	4. Vespas
	5. Paz
	6. Pássaros
	7. Lisístrata
	8. Tesmoforiantes (=mulheres que celebram o festival das Tesmofórias)
	9. Rãs
	10. Mulheres na assembleia
	11. Pluto (= o deus da riqueza)
	V. Menandro (séc. IV e III a. C. - Grécia)
	1. O rabugento (única integralmente conservada)
	Conservadas pela metade ou quase completas:
	2. O escudo
	3. Arbitragem
	4. A moça de Samos
	5. Os siciônios
	6. A moça de cabelos cortados
	VI. Plauto (Roma – séc. III e II a. C.)
	1. Anfitrião
	2. A comédia da marmita
	3. Os Menecmenos
	4. O soldado fanfarrão
	5. Os cativos
	6. A comédia do cestinho
	7. A amarra
	8. A comédia dos asnos
	9. Cásina
	10. Truculento
	11. Impostor
	12. Epídico
	13. Estico
	14. O homem com três moedas
	15. As Báquides
	16. O gorgulho
	17. O comerciante
	18. A comédia do fantasma
	19. O pequeno cartaginês
	20. O persa
	VII. Terêncio (Roma – séc. II a. C.)
	1. A jovem de Andros
	2. O eunuco
	3. A sogra
	4. O punidor de si mesmo
	5. Fórmio
	6. Os irmãos
	VIII. Sêneca (Roma – séc. I a. C.)
	1. Medeia
	2. Édipo
	3. Agamêmnon
	4. Fedro
	5. Tieste
	6. Hércules furioso
	7. As troianas
	8. As fenícias
	9. Hércules no Eta
	1. Enumere os principais dramaturgos gregos e romanos da Antiguidade.
	a) Entre os gregos temos:
	(1) tragediógrafos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides
	(2) comediógrafos – Aristófanes e Menandro
	b) Entre os romanos temos:
	(1) tragediógrafo – Sêneca
	(2) comediógrafos – Plauto e Terêncio
	4. GÊNERO DRAMÁTICO: TRAGÉDIA E COMÉDIA
	Temos falado dos diversos gêneros literários. O teatro pertence, por assim dizer, ao gênero dramático. Essa classificação deve ser bem entendida. Em primeiríssimo lugar, teatro, na Antiguidade, é do domínio da poesia. Não tem qualquer relação com a prosa. Mais claramente: teatro é poesia. Uma segunda observação importante: quando enquadramos teatro entre os gêneros literários, isso não é sem dificuldades. Já comentamos como a poesia grega do período arcaico não era uma literatura no sentido próprio, mas uma oralitura. Não era feita para ser lida, mas para ser recitada ou cantada. O mesmo se dá com o texto teatral: ele não era composto para ser lido, mas para ser representado.
	Quando falamos de gênero dramático, nós o fazemos pelo fato de as produções do teatro serem dramas. Mas o que exatamente é um drama? Nossa palavra “drama” vem do grego, como mencionamos no início desta aula, e δράμμα (drámma) que dizer simplesmente “ação”. Se o teatro é ação, isso ocorre porque os atores, ao encenarem, imitam de modo direto o agir dos indivíduos encarnados nas personagens. Para existir efetivamente o teatro, não basta um texto, são necessários outros elementos: atores (em número de três, na forma que ficou consagrada no séc. V, em Atenas), um coro, que funciona como um contraponto aos atores e participa ativamente da ação, um figurino, com o uso de máscaras, um espaço físico (palco – proscênio – e orquestra) com um cenário específico, música e dança. Já na Antiguidade havia efeitos especiais. Para fazer, por exemplo, com que um deus aparecesse na cena, os gregos desenvolveram o uso, no teatro, da chamada μηχανή (mekhané), transcrita para o latim como “machina”e que equivalia a nosso guindaste ou grua. Era, portanto, uma grua usada para fazer com que um ator voasse em cena. Você talvez já tenha ouvido falar da expressão latina “deus ex machina”. No sentido geral, ela designa algo ou alguém que aparece inesperadamente, trazendo uma solução para um problema que se mostrava insolúvel. No teatro, o “deus ex machina” era um recurso dramatúrgico utilizado para solucionar, no final da peça, uma situação intrincada que tinha se constituído durante a peça e que se mostrava insolúvel do ponto de vista prático. Introduzia-se, então, um elemento divino que trazia a solução para o problema. Do termo grego μηχανή (mekhané) derivam palavras portuguesas como “máquina”, “mecânico”, “mecanismo”.
	Figura 13.19 – Representação da mekhané
	O gênero dramático está, portanto, muito distante de um gênero literário em sentido estrito. Ele é um subgênero da poesia e, além da música, comporta toda uma série de elementos que lhe são característicos e que acabamos de elencar. Uma parte importante desses elementos é ligada ao sentido da visão: atores em ação, cenário, figurino. A preeminência do aspecto visual, como vimos, rendeu ao teatro o seu nome (lembre-se: teatro é um lugar de observação, de ver a ação que se passa).
	Dentro do gênero dramático, podemos ter alguns subgêneros. Os dois mais famosos na Antiguidade eram a tragédia e a comédia. Para melhor compreendermos a realidade desses dois subgêneros dramáticos, comecemos por analisar o significado dos termos tragédia e comédia, ambos de origem grega.
	Tragédia, em grego, diz-se τραγῳδία, que é um termo composto de τράγος (trágos) e de ᾠδή (oidé, cognato de ἀείδω (aeído), o verbo cantar, que deu “aedo”, em português). Este último termo deu, em português, a palavra ode, que significa propriamente “canto”. A tragédia e a comédia são, portanto, cantos. Mas o que significa τράγος (trágos)? A resposta, que pode nos causar um certo embaraço, é bastante simples: τράγος (trágos) quer dizer “bode”. Tragédia, por conseguinte, seria algo como “o canto do bode”. Mas como assim? O bode não pode cantar. O sentido da palavra tragédia é manifestamente obscuro. Há, entretanto, um fato a ser notado: o bode é um animal que está associado ao deus Dioniso e a tragédia, como forma de expressão teatral, está inserida no culto a essa divindade.
	Algumas hipótesesforam levantadas para explicar o significado do termo tragédia:
	a) o “canto do bode” poderia ser o canto realizado por um coro no momento de um sacrifício religioso (lembre-se da origem religiosa do teatro) cuja vítima era um bode;
	b) o canto poderia ser executado por um coro fantasiado de bode em cerimônias ou procissões consagradas a Dioniso;
	c) o bode aparece mencionado, em uma inscrição do séc. III a. C. (mármore de Paros), como o prêmio do concurso teatral em Atenas desde o ano 530 a. C. (cf. DEMONT e LEBEAU, 1996, p. 27).
	Figura 13.20 – Um sátiro e um bode – vaso do séc. VI a. C.
	Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Satyr_goat_Met_L.2008.51.jpg (autor: Jastrow)
	O termo comédia, em grego, é κωμῳδία (comoidía). O segundo elemento é, obviamente, o mesmo ᾠδή (oidé) que encontramos em “tragédia”. E quanto à primeira parte da palavra? Nela encontramos o radical κωμ- (kom-). Algumas hipóteses foram levantadas para tentar explicar o sentido dele:
	a) comédia viria de κῶμος (kômos), que era um cortejo ou procissão que percorria as ruas, com cantos e danças em honra a Dioniso;
	b) o radical vem do termo κῶμα (kôma), que significa “sono profundo” (deu origem ao termo médico “coma”), pois a comédia teria se originado do fato de grupos de camponeses irem à cidade, de madrugada, quando todos dormiam, para cantar cânticos com críticas e ofensas a figuras importantes da vida pública;
	c) o radical está ligado a κώμη (kóme), que significa “vilarejo”; os autores de farsas, que não eram tolerados na cidade e eram impedidos de nela exercer sua arte, passaram a apresentar seus cantos nos vilarejos (κῶμαι – kômai); essa etimologia é mencionada por Aristóteles em sua Poética:
	“Daí o sustentarem alguns que tais composições se denominam dramas, pelo fato de se imitarem agentes [drôntas]. Por isso, também, os Dório para si reclamam a invenção da tragédia e da comédia; – a da comédia, pretendem-na os Megarenses (…); dizem eles que, na sua linguagem, chamam kômai às aldeias que os Atenienses denominam dêmoi, e que os 'comediantes' não derivam seu nome de komázein (=fazer uma procissão com cantos e dança), mas, sim, de andarem de aldeia em aldeia (kómas), por não serem tolerados na cidade”. (1448a 28-38)
	Por mais que não haja uma solução para o verdadeiro significado dos termos tragédia e comédia, podemos constatar que:
	a) a tragédia tem sua origem ligada ao culto de Dioniso, o que mostra com clareza o caráter religioso dos festivais de teatro;
	b) a comédia também está ligada, em sua origem, ao culto de Dioniso, tendo suas raízes na vida rural (aldeias) e caracterizando-se, também, pela crítica.
	Podemos, por fim, reforçar o caráter poético do drama. As peças teatrais são compostas em versos de metros variados. O teatro antigo, como dissemos, é poesia, mas poesia posta em ação, transformada em algo visual. As falas são recitadas ou cantadas, dependendo do trecho.
	O teatro teria se originado de apresentações cantadas por coros, o que faz com que ele esteja, em sua base, ligado ao gênero lírico. Em um determinado momento, introduziu-se um ator para dividir o espaço com o coro. Em grego, ἀγωνιστής (agonistés) é o termo utilizado para designar um combatente, um competidor ou um ator (pois o ator competia nos concursos realizados nos festivais). Depois, passou a participar da ação um segundo ator. Por fim, incluiu-se um terceiro, constituindo-se, assim, a forma clássica do teatro grego: três atores no proscênio dividindo a ação com o coro, que ficava na orquestra. Em grego, primeiro diz-se πρῶτος (prôtos – lembre-se de protozoários, as “primeiras” formas de vida da terra), segundo, δεύτερος (deúteros – lembre-se do livro do Deuteronômio, na Bíblia, cujo título significa “segunda lei”), terceiro, τρίτος (trítos). Assim, o primeiro ator é o προταγονιστής (protagonistés), o segundo, o δευτεραγονιστής (deuteragonistés), o terceiro, o τριταγονιστής (tritagonistés). Daqui chamamos, em português, o personagem principal de protagonista. Há também as formas deuteragonista e tritagonista. E não nos esquecemos do termo antagonista, que é o personagem (de ator – agonistés) que se opõe (ἀντί – antí: preposição que significa “em frente a” ou “em oposição a”) ao protagonista na trama teatral e, por extensão, em todo e qualquer enredo.
	4.1. TEMÁTICA
	a) tragédia
	Salvo raras exceções, nas quais se abordam temas históricos, a tragédia grega clássica tem como fonte de seus temas os grandes mitos. E isso ela tem em comum com a épica. Não há, por assim dizer, espaço para inovação temática. Os temas são tradicionais, tirados dos principais mitos da cultura helênica. Você, com toda razão, poderia perguntar: Mas isso não faz com que as tragédias sejam muito repetitivas, já que tratam sempre dos mesmos temas? E a resposta é: não! A arte da tragédia não repousa sobre a inovação temática, mas sobre a diversidade de tratamentos dados ao mesmo tema. Um mesmo mito era explorado várias vezes por diferentes tragediógrafos. O mito tem um núcleo básico, central, que não muda, mas há elementos secundários que podem ser modificados e há espaço para criação de novos elementos. E é nesse campo que os tragediógrafos podiam exercer suas habilidades e sua criação-inovação. A arte do tragediógrafo, sua excelência, consistia na capacidade de dar um tratamento inovador a um mito tradicional. A inovação não reside no tema, mas na abordagem que dele se faz.
	b) comédia
	A comédia tem uma temática variada. E, por vezes, ela se serve da tragédia como escada, parodiando tragédias conhecidas do público e, por assim dizer, transformando-as em algo digno de riso. A comédia pode servir-se de mitos tradicionais, mas de um modo bem diverso daquele utilizado regularmente na tragédia. Os tragediógrafos exploram o mito em sua profundidade e contradição, um comediógrafo vai parodiá-lo para retirar-lhe o caráter sério e trágico e transformá-lo em algo cômico e ridículo. A comédia, por vezes, colocava os próprios deuses em situações ridículas e, para nossa sensibilidade, humilhantes, mas, para os gregos, não havia nisso nenhuma impiedade, ao contrário, isso se fazia no âmbito de um festival religioso.
	A tragédia tem uma temática tradicional, mítica. A comédia, ao contrário, tem uma temática atual (embora possa eventualmente servir-se do mito tradicional como ponto de partida para o ridículo). A tragédia busca seus temas em uma fonte bastante antiga, a comédia explora, frequentemente, a atualidade e a novidade. Assim, a comédia inova constantemente seu arcabouço temático, ao contrário da tragédia, que explora sempre os grandes mitos. Essa diferença é ironicamente vista como uma dificuldade para o comediógrafo, que não tem a sua disposição toda uma série de temas prontos. É o que se depreende das palavras de Antífanes, um comediógrafo grego do séc. IV a. C., contidas em um fragmento conservado de sua comédia Poesia:
	“A tragédia é um poema bem-aventuradoem todos os sentidos, porque, em primeiro lugar, o enredojá é conhecido pelos espectadores,mesmo antes que alguém fale, de modo que o poetaprecisa apenas mencioná-lo. Com efeito, basta que eu diga'Édipo', eles já sabem todo o resto: seu pai era Laio,sua mãe era Jocasta, quem eram suas filhas e filhos,o que acontecerá com ele, o que ele fez. Novamente,basta que alguém diga 'Alcméon' e já disse imediatamentequem eram todos os seus filhos, que ele, enlouquecido,matou a mãe, que Adrasto, enfurecido, logochegará e de novo partirá.Em seguida, quando eles [=os tragediógrafos] já não têm mais nada que possam dizere se esgotaram completamente em suas peças,levantam a mekhané como se fosse um dedoe seus espectadores ficam completamente satisfeitos.Quanto a nós, não temos nada disso, mas é precisoinventar tudo, nomes novos, o que aconteceu previamente,a ação em curso, o desfecho da peça,o prólogo. Se um Cremes ou um Fídon omitiralguma dessas coisas, é vaiado,mas Peleu e Teucro podem fazê-lo sem problema.” (frag. 191 Kock)
	A comédia tem, via de regra, uma temática atual. Mas como a atualidade poderiaser explorada na comédia? Existe uma dupla possibilidade: comédia política ou comédia de costumes. A chamada comédia antiga, da qual Aristófanes (séc. V a. C.) é o representante cujas obras melhor conhecemos, aborda, geralmente, a situação política lato sensu. Aristófanes explora questões políticas, econômicas, sociais e culturais de seu tempo, apresentando uma visão bastante crítica em relação aos problemas enfrentados pelos atenienses e às soluções apresentadas pelos políticos e homens influentes. Um tema muito explorado nas comédias aristofânicas é a guerra do Peloponeso, que contrapôs Atenas (cidade de Aristófanes) e Esparta e trouxe resultados nefandos para a primeira. As desgraças trazidas pelo conflito modificam substancialmente a vida dos atenienses, principalmente dos que vivem na região rural. O comediógrafo manifesta constantemente seu desejo de uma paz duradora, que traga consigo prosperidade. Portanto, o binômio guerra-paz é recorrente nas comédias aristofânicas.
	Atual é também a temática da chamada comédia nova, cujo representante melhor conhecido por nós é Menandro (séc. IV e III a. C.). Se a comédia antiga aborda assuntos do âmbito social, a comédia nova, ao contrário, concentra-se em temas privados, na comédia de costumes, partindo frequentemente do âmbito da vida familiar. Menandro explora as relações familiares (pais e filhos, irmãos etc.) ou de vizinhança. Ele exprime, em uma certa medida, a atualidade dessas relações, conforme elas eram vivenciadas em sua época e lugar. Mas elas, por sua própria natureza, apresentam também um certo caráter universal e atemporal. O relacionamento entre pais e filhos, entre familiares e entre vizinhos é algo que se vê basicamente em todas as culturas através do tempo e do espaço. É, portanto, uma temática muito mais acessível do que a social, que pressupõe um conhecimento de detalhes específicos relativos à história, à política e à cultura de um determinado tempo e lugar.
	1. Disserte sobre os temas explorados no teatro grego antigo.
	Para facilitar, você pode dividir sua resposta segundo os dois grandes subgêneros dramáticos, a tragédia e a comédia.
	Mostre que a temática da tragédia é, normalmente, tirada dos mitos. Comente o fato de que sua novidade reside na abordagem que os dramaturgos dão aos mitos, não nos temas propriamente. Não deixe de insistir no fato de que os mitos tradicionais têm um núcleo fixo, mas que há espaço para criar novos elementos ou modificar elementos secundários e que nesse âmbito os tragediógrafos podiam fazer valer seu talento.
	Ao tratar da comédia, você pode apresentar um contraste com a tragédia. Argumente que a comédia tem de inventar tudo, mas que a tragédia já tem pronta toda a sua temática, nomes etc. É também o momento de opor o caráter arcaico, tradicional e perene da temática da tragédia (o mito) e a atualidade e a volatilidade de certas questões tratadas na comédia: política, sociedade, cultura. Não deixe de mostrar que a comédia pode se ocupar dos costumes e das relações familiares e que aqui ela encontra um campo mais perene.
	Atividade final - Atende aos Objetivos 1 e 2.
	1. Faça um resumo do enredo das peças que você leu: Édipo Rei e Lisístrata.
	2. Escreva um pequeno texto transformando o enredo de Édipo Rei, que é uma tragédia, em uma comédia. Como você faria alguém rir com a história trágica de Édipo?
	1. Não há uma resposta padrão. Destaque os principais elementos de cada uma das duas tramas, recontando com suas palavras as duas peças.
	2. Não há uma resposta padrão. Solte toda a sua criatividade. O objetivo é você conseguir transformar um tema triste em algo que faça rir.
	O teatro pertence ao âmbito da poesia. Ele possui, portanto, uma série de elementos característicos do gênero poético: métrica, ritmo, música. A palavra teatro vem do grego théatron, que significa “lugar de observação”, “observatório”. O teatro, como nos mostra sua etimologia, tem um elemento novo que o caracteriza: o visual. O gênero dramático apela para a visão, sem deixar de lado a parte auditiva que caracteriza a poesia. O teatro, na Grécia antiga, nasce como uma manifestação religiosa. Os gregos possuíam inúmeras festas religiosas espalhadas pelo ano. Algumas eram de maior importância e duravam alguns dias. Já no período arcaico, há festivais em que competidores disputam prêmios em diversas modalidades esportivas e musicais. Essas competições estavam inseridas em festivais religiosas em honra a diferentes deuses. Em Atenas, o teatro vai se desenvolver no âmbito de festas dedicadas ao deus Dioniso.
	A estrutura física do teatro compreendia o auditório, ou melhor, o observatório, que era onde o público ficava (e que era o teatro propriamente dito) e tinha uma forma semicircular, envolvendo parcialmente a orquestra, local de forma circular onde o coro ficava cantando e dançando. Junto à orquestra, em oposição ao “observatório”, ficava o proscênio (palco) e, atrás deste, a skené (bastidores). No meio da orquestra, havia um altar, o que mostra como o teatro pertencia ao âmbito das manifestações religiosas.
	No teatro grego, já encontramos quase todos os elementos de nosso teatro moderno: figurino, cenário, máscaras (que podem ser assimiladas à maquiagem), efeitos especiais (mekhané e outros recursos). As máscaras tinham uma função primordial. No modelo clássico do séc. V a. C., havia apenas três atores no palco, além do coro, que ficava na orquestra. Os atores tinham, frequentemente, mais de um papel na peça. As máscaras serviam para permitir essa variação de papéis e também para auxiliar o público a identificar os diferentes personagens. Como os atores eram sempre homens, as máscaras e o figurino permitiam que eles representassem papéis femininos.
	Entre os incontáveis dramaturgos da Antiguidade, alguns nomes se imortalizaram. Entre os gregos, temos três grandes tragediógrafos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides – e dois comediógrafos – Aristófanes e Menandro. Entre os romanos, temos Sêneca, um tragediógrafo, e Plauto e Terêncio, comediógrafos.
	A temática abordada no teatro varia segundo os subgêneros. A tragédia explora temas tradicionais, tirados dos mitos. O tragediógrafo não tem muito espaço para criar sua temática, mas sua arte reside no modo como aborda os diferentes mitos e nos elementos secundários ou periféricos que recria ou introduz. A comédia, no séc. V a. C., tem uma temática social, política. Ela aborda os temas atualíssimos de Atenas, refletindo o momento sócio-político-cultural em todo o seu vigor. Assim, vemos Aristófanes explorar o tema da guerra e da paz, pois Atenas estava vivenciando todas as vicissitudes da guerra do Peloponeso, que opôs a cidade a Esparta. Nos séculos IV e III, a comédia grega, com Menandro, explora assuntos mais privados, pertinentes às relações familiares ou de vizinhança. É a comédia nova, que se firma como comédia de costumes, tratando de temas que têm uma certa universalidade no tempo e no espaço.
	ARISTÓTELES. Poética. Tradução, Prefácio, Introdução, Comentário e Apêndices de Eudoro de Souza. 5a edição. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998.
	DEMONT, Paul, LEBEAU, Anne. Introduction au théatre grec antique. Paris: Le Livre de Poche, 1996.
	KOCK, Theodorus. Commicorum Atticorum Fragmenta. Volumen II – Novae Commoediae Fragmenta – Pars I. Lipsiae (Leipzig): Teubner, 1884.
	MORETTI, Jean-Charles. Théâtre et société dans la Grèce antique. Paris: Le Livre de Poche, 200.1

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