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2 IX CONVENÇÃO DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL 13 a 15 de agosto de 2003 – Gramado – RS ÉTICA – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA JORGE LUIZ ROSA DA SILVA Contador – CRCRS 36.261 Rua São Francisco da Califórnia, 287/204 90550-080 – Porto Alegre – RS (51) 3342-2614 – jrsilva@terra.com.br 3 RESUMO Este trabalho trata da ética, um tema amplamente discutido nos últimos anos em nosso País e de importância relevante. A ética tem como objeto de estudo as atitudes dos seres humanos, suas ações, os costumes adotados, a moral. Alguns temas podem ser destacados como de interesse da ética, como a liberdade, a dignidade humana, a autonomia, a consciência. O relacionamento entre as pessoas, como indivíduos ou grupos, é foco central de atenção da ética e da moral. Poucos assuntos tem sido tão discutidos nas organizações, no mundo inteiro, quanto a ética corporativa. Entre outras coisas o que propiciou este cenário foi certamente os escândalos sobre fraudes contábeis que abalaram a economia americana em 2002, envolvendo a Enron e a WorldCom. A ética vem sendo colocada como requisito imponderável para a sobrevivência das organizações. Em decorrência disto, o governo americano agilizou mudanças em sua legislação, ampliando os poderes da SEC (Securities and Exchange Commission), aumentando a responsabilidade de administração das empresas, e introduzindo a regulamentação da profissão de auditor. A regulamentação das novas normas, bem como a supervisão de seu cumprimento, passa a ser de responsabilidade do Conselho de Supervisão de Assuntos Contábeis das Companhias Abertas (Public Company Acconting Oversight Board – PCAOB). 4 1. COMPORTAMENTO ÉTICO Questões de valores e explicitamente da ética, juntamente com outros temas em observação, debate e crítica referem-se ou não são resumidos como ‘questões do convívio humano’. Em especial, Handel (2001), nas grandes cidades, parece que a vida torna-se cada vez mais difícil. Da forma como a sociedade está organizada, os valores dominantes resultaram em atitudes que identificamos e acabamos por viver, como: desconfiança, defesa de interesses individuais ou de grupos específicos, violência – nas suas mais variadas formas - , ‘stress’ e, em muitos casos, sectarismo, intransigência, inflexibilidade. É importante ressaltar que a preocupação atual com moralidade das instituições, não é fenômeno apenas brasileiro. Outros países passam pelo mesmo processo. O exemplo mais emblemático dos últimos tempos diz respeito às fraudes contábeis ocorridas no ano passado, nos Estados Unidos, envolvendo grandes empresas e auditores independentes. Por quê as pessoas nos mais diferentes países começaram a preocupar-se com valores, com comportamento ético? Que tipo de ‘cultura’ os domina? A impunidade favorece, indiscutivelmente, comportamentos não éticos, praticados por pessoas ou organizações. Com ela se aprende que afinal, não dá nada mesmo... e assim fica estabelecida a confusão entre o que pode e o que não pode, entre fazer o bem e fazer o mal, entre o que é bom e o que é mau, para o ser humano. A impunidade reforça o dano geral, privilegiando interesses individuais ou de grupos. Segundo Vasquez (1989), ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. As situações vividas por nós, seres humanos, no dia a dia, determinam a necessidade de normas para orientar o comportamento. Elas devem ser consideradas apropriadas pelo conjunto da sociedade, caso contrário tem uma grande chance de não serem cumpridas. Em muitas situações da vida cotidiana temos problemas práticos e situações reais que exigem decisões e ações que atingirão uma ou mais pessoas, o que exige normas que sirvam de base, de diretriz. A moral são essas normas gerais que servem para pautar o comportamento humano. Este comportamento pode ser conhecido como prático-moral mesmo que sujeito a variações de uma época para outra ou de uma sociedade para outra. O comportamento prático-moral faz parte das nossas vidas ao longo de milênios. Assim passamos da prática moral para a teoria moral, estudada como dimensão do comportamento humano. Ética, é pois, objeto de reflexão, por parte de interessados no comportamento humano. O surgimento dos primeiros elementos sistematizados sobre o assunto, deu-se com Sócrates, na antiga Grécia, no ano de 399 antes de Cristo. Tratar de ética é tratar da parte essencial da vida humana 5 uma vez que ela é responsável pela compreensão e orientação dos aspectos fundamentais da convivência. Cada grupo humano organizado possui normas de ação que são aceitas pela maioria, para reger as formas de agir de todos os seus participantes (HANDEL, 2001). 2. A ÉTICA E A TÉCNICA Quando se trata de examinar aspectos profissionais é mais fácil considerar aspectos técnicos do que aspectos envolvendo a prática da ética. Possivelmente, os próprios conceitos de técnica e ética possam começar a esclarecer estes questionamentos. Técnica, em uma profissão, refere-se a como fazer, diz respeito a procedimentos específicos, adequados à obtenção do resultado desejado. Cada profissão utiliza um conjunto de técnicas que determinam o modo de agir profissional e que caracterizam a profissão. Já quanto a ética, dois elementos são destacados: primeiramente, o comportamento, as atitudes humanas, o agir; depois, os valores que os embasam e o orientam. Ético vem de ethos que quer dizer caráter. É o que está conforme com os padrões de conduta, com as normas morais ou comportamentais do grupo. Na França, um cargo de nome estranho tem aparecido cada vez (COHEN, 2003) com maior freqüência nas Organizações: o Deontologista. Segundo o dicionário, Deontologia é o ‘estudo dos princípios, fundamentos e sistemas da moral’. Como definimos anteriormente, a moral é um conjunto de regras de conduta consideradas válidas para qualquer tempo ou lugar, grupo ou indivíduo. Portanto, o deontologista aparece como o guardião da ética na organização, instituindo regras para os funcionários e formalizando-as. Mantém-se sempre atento às ações judiciais que os consumidores impetram contra sua entidade, além de defensores de direitos humanos e ambientalistas. Esclarece os acionistas, quando interrogado, preocupados com o futuro moral das corporações nas quais investem seu dinheiro. Cohen (2003), afirma que a maioria dos deontologistas vem da magistratura, mas também podem ser ex-dirigentes ou funcionários aposentados. Trabalham normalmente com o departamento jurídico e/ou a equipe de gestão de riscos e respondendo diretamente à presidência. Essa prática iniciou no sistema financeiro francês, em 1997, quando o Conselho dos Mercados Financeiros (CMF), exigiu a presença de um deontologista em cada empresa do setor. Além da França, a Inglaterra é o único país europeu, onde a existência do deontologista financeiro (compliance officer) é obrigatória. Na prática, como saber o que é ético? 6 Blanchard & Peale apud Handel (2001), apresentam três critérios que auxiliam na determinação se um comportamento é ético ou não. Considerando que a ética fundamenta ações cotidianas, como saber se estamos sendo éticos? Quando dúvidas surgem, como esclarecê-las? Respondendo a questões básicas, pode-se ter idéia da correção ou se nosso comportamento está dentro da ética. I – em primeiro lugar, é preciso responder se o ato, comportamento ou ação é legal, se está de acordo com as normas do direito ou das normas da organização. Estas são normas gerais que promovem igualdade e justiça, que são boas “paratodos”. II – a segunda pergunta a ser respondida, é: é imparcial? Esta ação terá como conseqüência a justiça, ou alguém sairá prejudicado? III – Decisões ou ações que se preocupem com a ética precisam responder a uma outra questão: como me sentirei? Posso me orgulhar disso? Outros podem saber? Este comportamento é aceito como bom? Em resumo, podemos identificar como características (HANDEL, 2001) do comportamento ético: a) estar de acordo com as normas de boa ação; b) ser bom para os outros e para si mesmo, não causar danos a si mesmo ou a outros; c) ser justo, imparcial, não servir para tirar vantagem em prejuízo de outros; d) isto me faz sentir bem, sentir orgulho, sentir o dever cumprido, poder olhar para os outros ‘de cara limpa’, poder ver esta ação mencionada na primeira página dos jornais. 3. A ÉTICA E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL Compete à ética responder, em que consiste o bem? E compete à ética profissional responder, em que consiste o bem, nesta profissão? A ética dando sentido à vida humana, também o dá ao exercício profissional. A ética profissional é importante, segundo Handel (2000), por ter como objetivo o relacionamento do profissional com seus clientes, colegas e sociedade em geral, tendo em vista valores como a dignidade humana, auto-realização e sociabilidade. De maneira geral a ética profissional baseia-se em: a) responsabilidade – responder a seus deveres com respeito a si mesmo, e aos outros, no uso da liberdade; 7 b) igualdade – considerar que as pessoas são iguais em direito e dignidade; c) verdade – agir de acordo com a natureza daquilo que se conhece, sem deturpar pela mentira, injúria, calúnia, hipocrisia); d) justiça – considerando-se direitos e deveres; e) solidariedade – obedecendo ao princípio da interdependência entre os membros de um grupo, realizando intercâmbio de compreensão e apoio. Ainda segundo Handel (2000), o ser humano, para agir com segurança e coerência no seu meio sócio-cultural e no exercício de sua profissão precisa ter, muita clara, uma concepção de vida; primeiramente, entender o que ele é como ser humano. Compreender para quê ele vive, para quê é o profissional que é, o que significa ser um profissional do ponto de vista do social. Além disso e como conseqüência disso, precisa estar consciente da importância do “como agir”, que se traduz na hierarquia de valores, que resume o que definimos como bem. A concepção do que é a vida, a concepção do que seja sua profissão, a concepção sobre quem se é, são básicas para que se possa cumprir com os deveres, defender direitos, compreender com clareza o que é o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável, o elogiável e o reprovável. Considerando-se que o ‘fazer’, que diz respeito à competência, à eficiência no exercício profissional, e o ‘ser/agir’ que se refere à conduta profissional, ao conjunto de atitudes que se deve assumir no desempenho da profissão, é indissociável, pois a ética profissional refere-se tanto a aspectos técnicos quanto comportamentais. A ética profissional diz ao homem como deve ser sua atitude e dentro de que parâmetros ele deve agir. Assim, quando um profissional reflete, examina, julga a necessidade, a importância de assumir determinados comportamentos com relação às outras pessoas, como os aspectos relacionados ao sigilo, ao zelo no exercício da profissão, a eqüidade, aspectos estes que terão conseqüências para um indivíduo ou grupo, atingindo de alguma forma suas vidas, está tratando de aspectos da ética profissional. Com a reforma do Código Civil, a caracterização da ética do profissional da contabilidade passa a merecer especial atenção. O Balanço, pelas novas regras, transformou-se numa peça capaz de enquadrar criminalmente o contador, além do gestor e dos sócios. Por determinação legal, eles passam a responder pelos prejuízos decorrentes de fraudes, que causarem a terceiros, com seus bens pessoais. Com base na nova legislação, uma empresa sem contabilidade não pode prestar contas a seus sócios. Mas qualquer sócio, mesmo tendo apenas uma cota, pode exigir prestação de contas, sob pena de questionar os atos dos administradores, e recorrer à Justiça, acionando inclusive o contabilista responsável. Especialistas da Harvard Business School, nos Estados Unidos, dizem que os contadores devem – e no Brasil vai acontecer a partir do novo Código Civil – assumir muito mais funções que as envolvidas com a elaboração de boletins de resultados de uma 8 organização. Segundo os especialistas da área, o novo Código Civil dá condições ao profissional da contabilidade de superar a inibição de exercer suas funções com firmeza e, de dizer não ao patrão se ele quiser de alguma forma burlar a lei. Esse progresso implica a melhoria da qualidade das informações de negócio, promovendo mais transparência ao se aderirem linguagens contábeis universais, beneficiando os controles internos da organização. Propiciar maior confiança nos negócios é altamente saudável. Empresas mais transparentes atraem mais investimentos, conseqüentemente, tornam-se mais eficientes, crescem mais e geram mais e melhores empregos. 4. A BUSCA PELA ÉTICA Segundo Whitaker (2003), a fonte da ética é a própria realidade humana, o ambiente em que vivemos. Assim, o ambiente de trabalho no qual passamos grande parte do nosso dia, se desenvolve em uma vasta gama de escolhas e de prática de virtudes, que nada mais são do que valores transformados em ação. “De modo muito simples, podemos afirmar que é ético, aquele que podendo escolher livremente, elege o bem e não o mal e age assim de modo constante”. É crescente o número de empresas que vem estabelecendo o seu código de ética, que vem a ser um instrumento de realização da filosofia da empresa, sua visão, missão e valores. Entre as razões para a elaboração de um código de ética, pelas empresas, Whitaker (2003), destaca que este documento tem o poder de: Ø fornecer critérios ou diretrizes para que as pessoas se sintam seguras ao adotarem formas éticas de se conduzir; Ø garantir homogeneidade na forma de encaminhar questões específicas; Ø aumentar a integração entre os funcionários da empresa; Ø favorecer ótimo ambiente de trabalho que desencadeia a boa qualidade da produção, alto rendimento e por via de conseqüência, ampliação dos negócios e maior lucro; Ø criar nos colaboradores maior sensibilidade que lhes permita procurar o bem estar dos clientes e fornecedores e, em conseqüência, sua satisfação; Ø estimular o comprometimento de todos os envolvidos, no documento; Ø proteger interesses públicos e de profissionais que contribuem para a organização; Ø facilitar o desenvolvimento da competitividade saudável entre os concorrentes; Ø consolidar a fidelidade e lealdade do cliente; Ø atrair clientes, fornecedores, colaboradores e parceiros, que se conduzem dentro de elevados padrões éticos; Ø agregar valor e fortalecer a imagem da empresa e, Ø garantir a sobrevivência da empresa. 9 De fato, vários estudos sugerem que o compromisso ético traz, segundo Cohen (2003) resultados financeiros positivos para a empresa. Uma pesquisa com 300 empresas feita pela Universidade Católica DePaul, de Chicago, em 1999, concluiu que as que tinham compromisso ético proporcionavam aos acionistas um retorno duas vezes superior aos das demais. Muitas vezes, esse compromisso ético está vinculado a ações sociais que beneficiem os vários públicos afetados pela empresa. No entanto, o pesquisador Cláudio Pinheiro Machado Filho, da USP, afirma que essa noção deve ser avaliada com muita cautela, por dois motivos: primeiro, pela dificuldade metodológicade qualificar as ações de responsabilidade social. Segundo, porque é difícil estabelecer uma relação de causa e efeito entre postura ética e lucratividade. É indiscutível o movimento de setores da sociedade, em nível mundial, na busca da ética, como podemos ver a seguir: ¨ em 2000 foi criada a Social Accountability Internacional (SAI), para implementar o selo AS 8000, que certifica a conduta ética das empresas em relação aos trabalhadores e o respeito aos direitos humanos, nos moldes das normas ISO 9000 e da ISO 14000. Outra organização, a AccountAbility, com sede no Reino Unido, lançou há dois meses seu certificado de comportamento ético, o AA 1000. ¨ um estudo de 1999, envolvendo 124 empresas de 22 países, produzido pela Conference Board, uma organização não lucrativa que promove estudos sobre gestão, concluiu que 78% dos Conselhos de Administração das companhias americanas estavam disseminando padrões éticos (em 1991, eram 41% e, em 1987 apenas 21%). ¨ no Brasil, o Instituto Ethos tinha apenas 11 sócios em 1998, quando foi fundado. Esse número já ultrapassou a casa dos 750, formado por empresas que respondem por 30% do PIB do país. ¨ criada em 1992, com cerca de 50 empresas a organização americana Business for Social Responsability (Negócios pela Responsabilidade Social), reúne hoje mais de 1400 filiadas, que faturam em conjunto mais de 2 trilhões de dólares por ano. ¨ também fundada em 1992, a Ethics Officer Association (associação que busca orientar o trabalho dos diretores de ética nas empresas), contava apenas com 12 membros. Tem hoje 890 sócios (cerca de 150 se filiaram depois dos escândalos das fraudes contábeis 10 nos Estados Unidos), e a freqüência das reuniões aumentou 50%, segundo seu diretor Ed Petry. As evidências são irrefutáveis. Nota-se claramente que as organizações terão que fazer, a curto prazo, opção pela ética, como solução de continuidade para seus negócios. Segundo pesquisa publicada em agosto/2002, pela CFO Magazine, publicação dirigida a executivos financeiros, nos Estados Unidos, quase um em cada seis diretores financeiros afirma ter sido pressionado a falsificar números da empresa, nos últimos cinco anos. Quase um terço deles afirmou que sua empresa camuflava dívidas para causar boa impressão na Bolsa de Valores, geralmente com truques similares aos utilizados pela Enron. Outro estudo, feito em 1998 pelo Institute of Business Ethics, da Grã-Bretanha, com 178 empresas, concluiu que muitas companhias tinham códigos de ética “para inglês ver”: 30% não possuíam nenhum mecanismo que possibilitasse denúncias de atos antiéticos; 30% não davam cópia do código de conduta a todos os funcionários e só um terço divulgava seus códigos publicamente. Por quê se percebe tanta diferença entre o discurso e a prática quando se trata de ética? Segundo Cohen (2003), uma primeira explicação é que o discurso, por habitar o mundo das idéias, é mais fácil de mudar do que a prática, sujeita a atritos e obstáculos. Outra ótica, mais pessimista, é que o discurso está dissociado da prática. É como vender o ‘paraíso’ – se uma empresa for ética, seus funcionários ficarão contentes em dar seu sangue por ela, os fornecedores se transformarão em parceiros estratégicos, os consumidores darão preferência aos seus produtos e, a comunidade que a abriga será mais compreensiva diante de eventuais deslizes. Na realidade sabemos que não funciona bem assim. “A evolução do discurso é um problema”, afirma a socióloga Rosa Maria Fischer. “Se de um lado propiciou que as empresas acordassem, de outro criou uma cortina de fumaça que dificulta enxergar a prática real da responsabilidade”. Sentindo a crescente pressão da sociedade, grande parte das empresas querem passar uma imagem de praticantes dos preceitos éticos. Segundo Cecília Arruda, coordenadora do Centro de Estudos de Ética nas Organizações, da FGV, “ações de responsabilidade social vêm sendo usadas como esforço de propaganda, e as verbas saem do departamento de marketing”. Normalmente as companhias pedem treinamento ético para a gerência, mas constata-se que o problema está nos mais altos escalões. Muitas empresas tem conflitos éticos, quando seu objetivo de maximizar lucros colide com os objetivos dos funcionários de obter a maior remuneração possível. Recentemente veio a público que muitos CEO’s recolheram remunerações exorbitantes, através de bônus e stock options, a despeito de prejuízos e queda das ações das empresas que dirigiam. Mas tomar decisões éticas, muitas vezes representa um dilema e eles estão presentes em todo o tipo de organização. No 11 Brasil, as pequenas empresas ficam tentadas a seguir o caminho da sonegação fiscal, em decorrência da alta carga de impostos a que estão submetidas. O ´ambiente de sonegação´ torna o procedimento de pagar impostos uma desvantagem competitiva, neste mercado acirrado. 5. A LEI SARBANES-OXLEY Os efeitos da Lei Sarbanes-Oxley serão bastante significativos, não somente nos Estados Unidos, mas também atingirão os mercados em escala global. A legislação determina que as empresas que não são norte-americanas (KPMG, 2003), mas que possuem cotação secundária em uma Bolsa de Valores norte-americana, devem também seguir as novas leis, assim como seus auditores. Atualmente existem mais de 30 empresas brasileiras com registro na Securities and Exchange Commission (SEC), com suas ações cotadas em Bolsa norte-americana, e várias outras planejam seus registros para os próximos anos. Apesar da regulamentação da lei não estar completa e muitas regras ainda não serem claras, mudanças profundas serão necessárias nas práticas da chamada governança corporativa dessas empresas. Dentre essas mudanças, destacam-se as seguintes: · responsabilidade do presidente (CEO) e do diretor-financeiro (CFO) na ´certificação´ das demonstrações financeiras; · transferência para um Comitê de Auditoria, composto de membros não executivos do Conselho de Administração, de muitos poderes e responsabilidades que eram anteriormente dos diretores-executivos; · maior transparência na divulgação das informações financeiras e dos atos da administração. Empresas brasileiras subsidiárias de empresas com registro na SEC são parte do sistema de controle interno da matriz, e, por essa razão, é provável que a matriz exija da administração local também uma certificação quanto aos assuntos que compõem o certificado dos executivos da matriz (CEO) e (CFO). Aquelas empresas de auditoria que operam em território brasileiro e que desejem ver seu parecer de auditoria aceito pela SEC, precisam cadastrar-se no Public Company Acconting Oversight Board – PCAOB e aceitar a revisão de seus trabalhos e as regras de independência estabelecidas por esse Conselho. As referidas regras de independência incluem uma lista de serviços proibidos por estarem fora do escopo de auditoria e, a necessidade de obter aprovação prévia do comitê de auditoria para outros serviços que não fazem parte da auditoria. Os poderes e responsabilidades do comitê de auditoria, são apresentados a seguir: 12 · nomear os auditores externos. · aprovar ou não os serviços a serem contratados dos auditores externos. · Receber relatórios periódicos do auditor externo sobre as políticas contábeis mais significativas; alternativas à utilização de um princípio contábil, e; discussões relevantes com a diretoria. · Resolver disputas entre os auditores externos e a diretoria. · Estabelecer procedimentos a serem informados e o tratamento a ser dado às eventuais denúncias contra a administração (o comitê deve ter a autoridade e os fundosnecessários para contratar advogados e consultores, independentemente da diretoria. O presidente e o diretor-financeiro, em observância às seções 302 e 404, terão que fornecer, por escrito, os seguintes certificados sobre os relatórios que contém demonstrações financeiras afirmando que: a) sujeito às sanções criminais em caso de afirmações conhecidamente falsas, os relatórios arquivados na SEC cumprem com todos os requisitos da lei e as demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a situação financeira e os resultados das operações da empresa. b) sujeito às sanções da SEC em caso de afirmações conhecidamente falsas, o que segue: I – as pessoas que assinam revisaram o relatório com base no melhor de seus conhecimentos. II – o relatório não contém nenhuma afirmação falsa ou omite qualquer fato relevante. III – as demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a situação financeira e os resultados das operações da empresa. IV – as pessoas que assinam: são responsáveis pelo estabelecimento e pela manutenção dos controles internos; estabeleceram controles internos para assegurar que a informação material relativa à empresa e as suas 13 subsidiárias consolidadas foram fornecidas por outras, dentro dessas empresas, às pessoas que assinam, especialmente durante o período em que os relatórios estão sendo preparados; avaliaram a eficácia do sistema de controles internos da empresa, até uma data não superior a 90 dias da data do relatório, e; apresentaram, no seu relatório, suas conclusões acerca da eficácia dos controles na data da sua avaliação. V – as pessoas que assinam divulgaram aos auditores e ao comitê de auditoria: todas as deficiências materiais no desenho e na operação dos controles internos que poderão ter um impacto sobre a capacidade da empresa de captar, processar, totalizar e reportar dados financeiros e identificaram aos auditores, quaisquer falhas materiais nos controles internos, e; qualquer fraude, seja material ou não, que envolva pessoas do nível da administração ou outros funcionários que façam parte, de forma significativa, dos controles internos. VI – as pessoas que assinam indicaram no seu relatório, quaisquer mudanças significativas nos controles internos ou outros fatores que poderão ter um impacto significativo sobre os controles internos subseqüentes à data da sua avaliação, incluindo quaisquer ações corretivas com relação a deficiências significativas ou falhas materiais. Tudo isso visa fundamentalmente trazer mais transparência aos processos envolvendo empresas e auditores independentes, fiscalizados por órgãos reguladores, no interesse do bem comum. Destacam-se, a divulgação imediata de fatos relevantes; maior transparência no que se refere a transações off-balance sheet; divulgação sobre a existência de um código de ética ou explicações sobre a razão da sua não-existência, e; regras adicionais exigidas pela NYSE e pela NASDAQ. Complementarmente, cabe informar os serviços que são proibidos ao auditor externo, responsável pela auditoria das demonstrações financeiras, desde que realizados simultaneamente à própria empresa, como: · contabilidade ou outros serviços relacionados à preparação dos registros contábeis ou das demonstrações financeiras. · Desenho e implementação de sistemas de informação financeira. 14 · Serviços de avaliação ou fairness opinions. · Serviços atuariais. · Terceirização de auditoria interna. · Funções da Gerência ou de Recursos Humanos. · Serviços do tipo prestados pelos Bancos de Investimento (Corporate Finance). · Serviços legais e outros serviços, normalmente prestados por um expert, não relacionados à auditoria, e; · Qualquer outro serviço que o Public Company Acconting Oversight Board – PCAOB, venha a proibir. 15 CONCLUSÃO Tem-se ainda um longo caminho pela frente. Apesar da ética, como citado neste texto, ter sua origem com Sócrates, na Grécia, no ano 399 antes de Cristo, ainda há muito por fazer. Faz-se necessário teorizar menos e praticar mais, criando as condições para uma sociedade mais justa, mais humana, mais calcada em bons valores e comprometida com a verdade. Fala-se em ética, em crise de valores, em necessidade de mudança, de moralização, entre outros assuntos relacionados ao tema. Os cidadãos talvez tenham dificuldades em praticar a ética, procurar ter um comportamento ético, por saber que vão ter que abrir mão de algumas coisas. Isto, naturalmente, também vale para a ética profissional. A ética depende de convicções, depende da introjeção de valores e da vivência de valores aprendidos, escolhidos e exercitados. A ética depende de atitude. O que se verifica neste início de século, é uma mudança em termos de atitude para com um conjunto de situações bem conhecidas por todos nós. As exigências estão aumentando em direção a comportamentos mais confiáveis, mais éticos. O caminho do aperfeiçoamento de nossa vida, mesmo que não tenhamos consciência plena, ocorre com base em algum modelo, em algo que serve de referência, algo que nos orienta. Quanto maior for a clareza a respeito das razões que orientam nossas ações, certamente melhores e mais efetivas serão elas. Melhores e mais significativos serão seus resultados. Somente a consciência seus atos, a compreensão de si mesmo, à sua própria humanidade, levará o ser humano a consolidar-se como um ser ético. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLANCHARD, K. & PEALE, N. O Poder da Administração Ética. Rio de Janeiro: Record, 1989. CRCRS. Normas Brasileiras de Contabilidade e Princípios Fundamentais de Contabilidade. Porto Alegre: 2000. COHEN, D. O Dilema da Ética. URL: www.portalexame.abril.com.br (26/05/03, 11:15h) COHEN, D. Os Guardiões da Ética. Revista Exame, p.16/17. Ano 36, nº 9, maio/2002. CORTINA, A. Ética Mínima – Introducción a la filosofia práctica. Madrid: Tecnos, 1996. GUSMÃO, M. Chame o Contador. Revista Você S.A., p.51/55. São Paulo: Abril, 2003, HANDEL, C.C. Ética e Política. Porto Alegre: Instituto Teotônio Vilela (ITV)/PSDB, 2001. HANDEL, C.C. Ética e o Exercício Profissional. Porto Alegre: Texto Didático. (não publicado), 2000. KPMG. A Lei Sarbanes-Oxley. URL: www.kpmg.com.br (26/05/03, 16:30h) NASH, L. Ética nas Empresas: Boas Intenções à Parte. São Paulo: Makron Books, 1993. VASQUEZ, A. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989. WHITAKER, M. C. Por Quê as Empresas Estão Implantando Códigos de Ética. URL: www.eticaempresarial.com.br, (26/05/03, 17:00h)
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