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ELETRICIDADE APLICADA 1 – ELETROSTÁTICA E ELETRODINÂMICA PROF. MARCELO MARÇULA “EXPOSIÇÃO DE 1884 Nos Estados Unidos, nada promoveu melhor o futuro da eletricidade como a Exposição Internacional de Eletricidade de 1884. Imagine um mundo iluminado apenas por velas e lampiões de gás onde os meios de transporte mais comuns eram andar a pé, a cavalo ou em uma carruagem. Foi nesse mundo que foi criada uma exposição que destacava Thomas Edison e refletia sua alta capacidade de promover invenções e produtos. Suas exposições eram caracterizadas por espetaculares displays luminosos alimentados por um impressionante gerador “Jumbo” de 100 kW. Os dínamos e lâmpadas de Edward Weston foram apresentados no display da Companhia de Iluminação Elétrica dos Estados Unidos. O famoso conjunto de instrumentos científicos de Weston também foi exibido. Entre outros expositores proeminentes, podemos citar Frank Sprague, Elihu Thompson e a Brush Electric Company de Cleveland. A American Institute of Electrical Engineers (AIEE) sediou sua primeira reunião técnica em 7 e 8 de outubro no Franklyn Institute durante a exposição. A AIEE se juntou ao Institute of Radio Engineers (IRE) em 1964 para formarem o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE)”1 ORIGEM DA ELETRICIDADE A palavra Eletricidade vem do grego eléktron, que significa âmbar. Isso porque os primeiros estudos relacionados à eletricidade foram realizados por Tales de Mileto, na Grécia, por volta de 600 a.C., observando que o âmbar, depois de atritado, tem a capacidade de atrair pequenos objetos. Mas, podemos imaginar que a primeira manifestação de eletricidade presenciada pelos nossos ancestrais foram os raios (descargas elétricas) que ocorriam durante as tempestades. O caminho foi bastante longo desde nossos ancestrais observarem assustados os raios durante as tempestades até os dias de hoje, onde nossa dependência da eletricidade é praticamente total. Vamos estudar os conceitos que nos trouxeram desde os raios até a eletricidade que chega às nossas casas, lojas, fábricas, etc. e que permitem que iluminemos os locais, que nos aqueçamos (ou aqueçamos água) ou que permita que máquinas e equipamentos funcionem. Para começar precisamos compreender as estruturas básicas da matéria, onde se encontram as partículas responsáveis por tudo isso. Vamos então estudar os átomos e seus elementos principais. ESTRUTURA DA MATÉRIA – REVISÃO Toda matéria é composta por partículas elementares chamadas Átomos. Esses átomos são compostos por partículas ainda menores, sendo que as três partículas mais importantes são: Prótons, Nêutrons e Elétrons. 1 Alexander, Charles K. Fundamentos de Circuitos Elétricos. 5 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. Pag. 13. Figura 1 – Estrutura atômica simplificada2 Essas partículas são encontradas em duas “áreas” do átomo. Os prótons e os nêutrons se encontram no núcleo do átomo, enquanto os elétrons se encontram na eletrosfera (em volta desse núcleo). Os elétrons são distribuídos em camadas ao redor do núcleo. Os elétrons possuem massa muito inferior à massa dos prótons e dos nêutrons. O que mantém os elétrons girando ao redor do núcleo é uma força de atração desenvolvida pelas partículas do núcleo3. Como afirmamos, os elétrons são distribuídos em diferentes camadas ao redor do núcleo do átomo4. Todos os átomos buscam a estabilidade, o que significa possuir 8 elétrons na sua camada mais externa (a chamada Camada de Valência). Isso ocorre, por exemplo, com os gases nobres, como o Hélio. Sendo assim, para atingir a estabilidade teremos átomos que: 1. Perderão elétrons – átomos que possuem 1, 2 ou 3 elétrons na camada de valência tendem a perder esses elétrons (necessitam menos energia para que os elétrons deixem essa camada); 2. Compartilharão elétrons – átomos que possuem 4 elétrons na camada de valência podem perder todos os elétrons, ganhar mais quatro elétrons ou ainda compartilhar esses quatro elétrons com outro átomo também com quatro elétrons; 3. Ganharão elétrons – átomos que possuem 5, 6 ou 7 elétrons na camada de valência tendem a ganhar elétrons; Os átomos que compõem os metais tendem a perder elétrons de sua camada mais externa. Se observarmos o átomo do cobre, metal de uso comum em circuitos elétricos, podemos perceber o motivo para isso. O átomo do cobre possui na sua camada mais externa somente um elétron. Se considerarmos a distância desse elétron para o núcleo, percebemos que ele está ligado ao núcleo de uma forma mais fraca do que os elétrons de camadas mais internas. Se ele receber energia externa suficiente, ele abandona o átomo. Essa energia externa pode ser térmica, elétrica, etc. Quando isso ocorre surgem os Elétrons Livres. Quando esses elétrons livres se movimentam ao longo do material, surge uma corrente elétrica, que será alvo de nosso estudo mais adiante. PROPRIEDADES ELÉTRICAS DAS PARTÍCULAS DO ÁTOMO – CARGA ELÉTRICA Como vimos, as partículas do átomo possuem diversas características, entre elas a massa. Outra característica intrínseca às partículas é a chamada Carga Elétrica. Para começarmos a entender o que significa essa característica, é necessário levar em consideração uma situação hipotética. 2 TOFFOLI, Leopoldo. Estruturas Atômicas. Infoescola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/quimica/estruturas- atomicas/>. Acesso em 28/07/2016 3 A massa do elétron é aproximadamente 2.000 vezes menor que a massa que um próton. 4 CURIOSIDADE – A distância entre o núcleo de um átomo e a primeira camada de elétrons é de aproximadamente 60.000 vezes o diâmetro de um elétron! Se trouxermos para uma escala maior, por exemplo, considerando o núcleo do átomo do tamanho de uma bola de futebol, a primeira camada de elétrons estaria aproximadamente a 1.610 km dessa bola!! Imaginemos que fosse possível, retirar facilmente as partículas do átomo e lança-las em direção a um campo magnético (por exemplo, formado pelos polos de um imã). Os elétrons, ao passar pelo campo magnético, seriam desviadas para uma determinada direção. Os prótons, na mesma situação também seriam desviados, mas exatamente na direção contrária dos elétrons. Os nêutrons continuariam a sua trajetória sem qualquer desvio. O que faz com que as partículas sejam desviadas do seu percurso é a interação entre o campo magnético e a propriedade elétrica fundamental da partícula: carga elétrica. Para facilitar, é convenção mencionar a carga elétrica dos prótons como sendo positiva e a carga elétrica dos elétrons negativa. A carga dos nêutrons é neutra (zero). Devemos ter em mente que a carga elétrica é uma grandeza quantizada, ou seja, os elétrons e os prótons possuem o mesmo valor de carga elétrica, sendo que átomos equilibrados eletricamente (sem carga elétrica) possuem a mesma quantidade de elétrons e de prótons. Claro que, um átomo que perdeu cargas negativas fica com excesso de cargas positivas, e vice-versa. O interessante é observarmos que um elétron tem sempre a mesma carga elétrica negativa, não importando o material estudada. A mesma coisa ocorre com os prótons. Sendo assim, considerando o evento da perda de elétrons, um átomo pode perder somente quantidades inteiras de elétrons (ou ele perde um elétron, ou ele perde dois elétrons). Dessa maneira é possível determinar a carga de um elétron sabendo-se a quantidade elétrons que ele perde ou que ele ganha. A unidade de medida para carga elétrica é o Coulomb (C). Sabe-se que a carga (e) dos elementos fundamentais do átomo é e = 1,60 10-19 C Assim podemos deduzir que para termosuma carga de 1 C, seria necessário agrupar 6,24 1018 elementos de carga. Se forem elétrons, teremos 1 C negativo. Se forem prótons, teremos 1 C positivo. Dessa maneira, a carga de um átomo (Q) equivale sempre a um múltiplo inteiro da carga fundamental Onde: n é a quantidade de partículas fundamentais. Lembrando que o valor de Q é positivo quando o átomo perder elétrons e negativo quando o átomo ganhar elétrons. Um aspecto extremamente importante sobre as cargas elétricas é que elas não podem ser criadas e nem destruídas. Elas só podem ser transferidas de um átomo (ou corpo) para outro. Portanto, a soma algébrica das cargas elétricas de um sistema não se altera (Princípio da Conservação de Carga Elétrica). Quando temos partículas eletrizadas e aproximamos umas das outras, podemos observar outro princípio importante: o Princípio da atração e repulsão ou Lei de Du Fay5: Se as cargas das duas partículas tiverem o mesmo sinal, elas se repelem. Se as cargas das duas partículas tiverem sinais opostos, elas se atraem. Se considerarmos um corpo qualquer, formado por átomos, também podemos utilizar o conceito de carga elétrica positiva ou negativa. Isso porque um corpo em estado normal, tem os seus átomos em equilíbrio, ou 5 Considerando que ambos os corpos possuem uma massa muito pequena. seja, mesma quantidade de elétrons e de prótons. Mas, se a superfície desse corpo perder, ou ganhar elétrons, esse equilíbrio deixa de existir e consideramos o corpo como possuindo uma carga elétrica. ELETRIZAÇÃO O processo de um corpo adquirir cargas elétricas é conhecido como Eletrização. A eletrização pode acontecer por três processos distintos: atrito, contato e indução. A eletrização por atrito ocorre quando dois corpos (normalmente isolantes) são atritados um contra o outro. Nesse processo, um dos corpos vai perder elétrons da sua superfície, que migrarão para o outro corpo. Sendo assim, o resultado final desse tipo de eletrização é sempre dois corpos com polaridades diferentes6. Para sabermos qual corpo ficará positivo e qual ficará negativo, devemos observar a chamada Série Triboelétrica (figura ao lado). Ela indica com qual polaridade vai ficar cada objeto atritado, dependendo do material. Quanto mais acima na tabela, maior a tendência de ficar com polaridade positiva e quanto mais abaixo maior a tendência de ficar com polaridade negativa. Vamos imaginar o exemplo de atritar um pano de lã em um bastão de vidro. Como o vidro está mais acima na tabela do que a lã, ele vai ficar com polaridade positiva (vai perder elétrons) e o pano de lã vai ficar com a polaridade negativa (vai ganhar elétrons). Figura 2 – Série Triboelétrica7 A eletrização por contato ocorre entre dois corpos condutores, sendo que um deles deve estar eletrizado previamente. Supondo que um corpo eletrizado negativamente (excesso de elétrons) entre em contato com um corpo neutro (mesma quantidade de elétrons e prótons). Como existe a tendência do equilíbrio, alguns elétrons em excesso do corpo eletrizado passam para o corpo neutro, fazendo com que ele assuma a polaridade negativa também. O resultado da eletrização por contato são dois corpos com a mesma polaridade (polaridade do corpo eletrizado). A eletrização por indução também ocorre entre dois corpos condutores, mas sem existir contato entre eles. Um dos corpos deve estar eletrizado (conhecido como indutor). Vamos imaginar a situação ilustrada na figura abaixo: um corpo indutor positivo e um corpo neutro. Quando o corpo indutor se aproxima do corpo neutro, as cargas negativas do corpo neutro são atraídas para próximo do corpo indutor, enquanto as cargas positivas são repelidas para o outro lado do corpo neutro. Observe que o corpo neutro está ligado à terra8. Como as cargas positivas foram repelidas para outro lado, existe uma tendência de atrair elétrons do aterramento. Se o corpo indutor for afastado nesse momento, as 6 Os corpos atritados devem ser de materiais diferentes. 7 Fonte: http://alunosonline.uol.com.br/quimica/serie-triboeletrica.html (acesso em 22/07/2016). 8 Ligar algo a terra (ou aterrar) é conectar o corpo diretamente ao solo (superfície do planeta). Como o planeta é muito grande, a diferença entre cargas positivas e negativas é praticamente desprezível, portanto consideramos que a sua polaridade é neutra (não importa se ele perde ou ganha cargas elétricas). Por esse motivo, quando conectamos algo à Pele humana seca Couro Vidro Cabelo humano Fibra sintética Lã Chumbo Seda Alumínio Papel Algodão Aço Madeira Âmbar Borracha dura Níquel e Cobre Latão e Prata Ouro e Platina Poliéster Filme de PVC Poliuretano Polietileno (fita adesiva) Polipropileno Vinil Silicone Teflon cargas internas do corpo neutro voltam a se distribuir e as cargas atraídas do aterramento voltam para terra. Mas, se no momento dessa polarização (separação de cargas) o aterramento for cortado, os elétrons atraídos ficam no corpo, que adquire uma polaridade negativa. Sendo assim, a eletrização por indução gera dois corpos com polaridades diferentes9. Figura 3 – Eletrização por Indução FORÇA ELÉTRICA (F) Como vimos anteriormente (Princípio da atração e repulsão), se tivermos duas cargas pontuais, dependendo das suas polaridades pode existir atração ou repulsão entre elas. Dessa maneira, podemos concluir que existe uma força elétrica (F) entre elas, que proporciona esse efeito. Abaixo temos a ilustração desse princípio: (forças de atração) (forças de repulsão) As forças sempre terão mesmo módulo e direção. As forças sempre terão sentido contrário. A Lei de Coulomb (obtida empiricamente) define o módulo da força elétrica gerada pela interação das duas cargas elétricas. Consideremos duas cargas Q1 e Q2, o módulo da força de interação entre elas é: terra, podemos ter elétrons saindo da terra para o corpo ou o contrário, com muita facilidade, mas sem alterar a polaridade da terra (que continua neutra). 9 Nesse tipo de eletrização, ao invés de usarmos aterramento, poderíamos ter usado um corpo eletrizado negativamente em contato com o corpo neutro. O efeito seria o mesmo. + + + + + ++ - - - - + + + + - - - - - CORPO POSITIVO CORPO NEUTRO POLARIZADO E SENDO ELETRIZADO NEGATIVAMENTE - - - - - - - - CORPO ELETRIZADO NEGATIVAMENTE Onde: F = força elétrica gerada pela interação entre as cargas, em Newton (N) Q1 e Q2 = cargas elétricas que estão interagindo, em Coulomb (C) d = distância entre as cargas, em metros (m) K = constante eletrostática (empírica), que vale 9,0 109 N.m²/C² Não podemos esquecer que a Força Elétrica é uma grandeza vetorial, sendo que, o valor do seu módulo é obtido pela relação da Lei de Coulomb e o sentido depende do tipo de interação (atração ou repulsão). CAMPO ELÉTRICO (E) Para compreender melhor o conceito de força elétrica entre duas partículas com carga elétrica podemos admitir que cada carga elétrica crie a sua volta um campo de forças que atua sobre a outra. Esse campo de forças é conhecido como Campo Elétrico. O campo elétrico é uma propriedade das cargas que se estabelece nos pontos do espaço nos quais existe influência da carga elétrica. Ou seja, é uma região criada pela carga elétrica que indica a possibilidade de existir força elétrica. O campo elétrico em um ponto é o vetor com direção e sentido iguais ao da força elétrica, sentida pode uma carga positiva colocada nesse mesmo ponto. O módulodesse vetor pode ser determinado por: A unidade de medida do campo elétrico é Newton/Coulomb. Podemos obter que: , portanto, vetorialmente temos que Dessa expressão podemos observar que, se a carga q for positiva os vetores da Força Elétrica e do Campo Elétrico tem o mesmo sentido, mas se a carga q for negativa os vetores tem sentidos contrários. -Q + q Felétrica Um problema da expressão acima é que o campo elétrico é criado pela carga Q, mas o seu módulo depende do valor da carga q colocada nesse campo elétrico e que sofre a sua influência. Vejamos então: Dessa maneira, podemos definir o módulo do vetor Campo Elétrico, a partir do valor da carga Q que gera esse campo. O vetor campo elétrico tem direção radial. É possível perceber também que esse campo diminui na razão do quadrado da distância da carga geradora10. Linhas concêntricas ao redor da carga representam a área de atuação do campo elétrico. Perpendicularmente a elas temos as Linhas de Força (ou Linhas de Campo), que determinam o tipo de força elétrica entre as cargas. Observe na figura abaixo que as cargas positivas, tem as linhas de força saindo da carga e as cargas negativas têm as linhas de força entrando nelas. Figura 4 – Linhas de Força Essas linhas de campo representam o campo vetorial do campo elétrico, isso porque o vetor do Campo Elétrico sempre é tangente a essas linhas. Quando entrelaçamos os campos elétricos de duas cargas, fazemos com que exista uma interação entre essas linhas de força. Veja a figura abaixo: Figura 5 – Interação entre as Linhas de Força 10 Isso ocorre porque a intensidade do campo elétrico é maior nas regiões onde as linhas de força estão mais próximas umas das outras. No caso de uma carga pontual, próximo à própria carga. +Q -Q Linhas de Força +Q -Q Observe que ao aproximarmos duas cargas (com sinais diferentes), os campos se entrelaçam e as linhas de força interagem. Nesse caso, a carga positiva tem linhas que saem dela e a carga negativa tem linhas de força que entrem nela, sendo assim, podemos dizer que as linhas que saem de uma carga entram na outra, gerando uma interação do tipo força elétrica de atração entre elas. Da mesma maneira se tivéssemos cargas com sinais iguais, essas linhas de força não interagiriam e teríamos uma força elétrica de repulsão entre as cargas. Isso está exemplificado nas figuras abaixo: Figura 6 – Forças de Atração (esquerda) e Repulsão (direita) POTENCIAL ELÉTRICO E ENERGIA POTENCIAL ELÉTRICA Da mesma forma que existia uma relação entre a Força Elétrica e o Campo Elétrico, duas grandezas vetoriais, também existe uma relação entre os conceitos de Potencial Elétrico (V) e Energia Potencial Elétrica (Upe), que são grandezas escalares. O Potencial Elétrico (V) é a região criada por cargas elétricas11 que indica a possibilidade de existir Energia Potencial Elétrica (Upe). Como no caso da energia potencial gravitacional é necessário que exista um referencial. No caso da Energia Potencial Elétrica o referencial é uma distância da carga geradora de Potencial Elétrico, na qual a Energia Potencial Elétrica seja igual a zero. Consideramos essa distância como infinita (). Figura 7 – Potencial Elétrico 11 O potencial elétrico pode ser criado de diversas maneiras, tais como, com reação química, pelo efeito do eletromagnetismo, mas, para efeito de definição vamos considerar somente o potencial elétrico criado por uma carga elétrica. +Q -Q F F FF +Q +Q + Q + q Ponto i Ponto fFe d (Epe=0) d (Upe = 0) O Potencial Elétrico (V) é uma grandeza escalar definida por: A unidade de medida do Potencial Elétrico é o Volt (V). A unidade Volt pode ser compreendida como sendo Joule/Coulomb, ou seja, 1 Volt é o potencial elétrico necessário para exista uma energia potencial elétrica de 1 Joule em uma carga de 1 Coulomb. Novamente temos uma grandeza com referência a uma carga colocada próxima à carga geradora do potencial elétrico (carga Q). Sabe-se que a Energia Potencial Elétrica pode ser definida como: Mas, também podemos defini-la como: Então: Dessa maneira podemos observar que o potencial elétrico gerado pela carga Q diminui diretamente proporcional à distância dessa carga geradora. Além disso, podemos concluir que, se Q for uma carga positiva, o potencial gerado por ela será positivo. Se a carga Q for negativa, o potencial gerado por ela será negativo. Com isso, podemos entender que existem linhas concêntricas de mesmo potencial (equipotenciais) ao redor de uma carga elétrica pontual. Ou seja, se dois pontos estiverem a uma mesma distância da carga, eles possuem o mesmo potencial elétrico. O potencial elétrico diminui na direção do campo elétrico, portanto, se a carga geradora for positiva, o vetor campo elétrico tem o sentido saindo da carga, portanto, quanto mais longe da carga menor o valor do potencial elétrico (na carga temos um potencial positivo, que diminui até zero conforme a distância da carga aumenta). No entanto, se a carga geradora for negativa, o vetor campo elétrico tem sentido entrando na carga, portanto, quanto mais longe da carga maior o potencial elétrico (na carga temos potencial negativo, que aumenta até zero conforme a distância da carga aumenta). IMPORTANTE A partir dessa definição de potencial elétrico podemos trabalhar a expressão do módulo do campo elétrico: Portanto, podemos definir a unidade de medida do campo elétrico como sendo Newton/Coulomb ou Volts/metro. DIFERENÇA DE POTENCIAL (TENSÃO ELÉTRICA) Primeiramente, vamos analisar o Trabalho da Força Elétrica (WFe). O trabalho envolve sempre uma força e um deslocamento, sendo no nosso caso, a força elétrica e o deslocamento da carga. Antes vamos observar algumas expressões gerais relacionadas a trabalho e energia. (trabalho da força resultante é a variação da energia cinética) (energia mecânica no ponto inicial é igual à energia mecânica no ponto final) (energia mecânica é a soma da energia cinética com a energia potencial) Para compreender o que ocorre, vamos considerar a Figura 6, apresentada anteriormente. Consideramos uma carga Q (positiva) que possui um potencial elétrico e uma carga q (também positiva) que está sob o efeito desse potencial. Ambas se encontram no vácuo (nenhuma outra força está presente). A carga q é colocada no ponto i e sofrerá uma força elétrica (Fe) de repulsão, que a moverá até o ponto f. Como o conjunto de cargas se encontra livre do efeito de outras forças, podemos considerar que a força resultante no conjunto é a força elétrica: Temos então que a energia mecânica no ponto i é igual à energia mecânica no ponto f. Assim: Com isso, podemos concluir que: Onde V é a Diferença de Potencial (d.d.p.) entre o ponto i (inicial) e o ponto f (final). A diferença de potencial é conhecida como Tensão Elétrica e a unidade de medida também é o Volt (V). A conclusão mais importante que podemos tirar a partir disso é que se não existir diferença de potencial (tensão elétrica) não existe trabalho da força elétrica e, portanto, não existe movimento das cargas elétricas12. Isso é muito importante, porque o movimento das cargas elétricas é o que chamamos de Corrente Elétrica. INTERESSANTE O conceito de tensão elétrica é bastante conhecido porque ao observarmos nossas casas, encontramos tomadas onde os equipamentos elétricos são conectados. Essas tomadas fornecem uma tensão (127 V ou 220 V), portanto,ao conectarmos os equipamentos ocorrerá uma circulação de cargas elétricas (corrente elétrica) que é o que faz eles funcionarem. Outro detalhe interessante é que o choque elétrico ocorre devido a passagem de cargas elétricas pelo corpo humano, portanto, se não houver diferença de potencial, não haverá movimentação de cargas. Por esse motivo, um pássaro pousado em um fio de alta tensão não leva choque. Todo o fio se encontra sob o mesmo potencial elétrico (não existe diferença de potencial). Devemos sempre ter em mente que uma “diferença” de potencial sempre deverá ser verificada entre dois pontos (ou dois corpos). Em um único ponto temos somente um potencial elétrico. Podemos ter diferenças de potencial nulas quando os dois pontos se encontram no mesmo potencial. Isso ocorre quando: Os dois pontos são neutros, ou seja, não possuem carga elétrica (nem positiva, nem negativa); ou Os dois pontos possuem o mesmo valor de carga elétrica positiva; ou Os dois pontos possuem o mesmo valor de carga elétrica negativa. 12 As cargas positivas se movimentam no sentido em que o potencial diminui (em direção a cargas negativas, por exemplo) e as cargas negativas se movimentam no sentido em que o potencial aumenta (em direção a cargas positivas, por exemplo) IMPORTANTE: Quando afirmamos que os dois pontos devem ter o “mesmo” valor de carga elétrica, eles devem ter exatamente a mesma quantidade de cargas (em Coulombs). Por outro lado, podemos ter diferenças de potencial diferentes de zero quando: Um dos pontos possui carga elétrica (positiva ou negativa) e o outro ponto é neutro (não possui carga elétrica); Os dois pontos possuem o mesmo valor de carga elétrica (em Coulombs), mas um possui carga negativa e o outro positiva; Os dois pontos possuem o mesmo sinal de carga elétrica (ambos positivos ou ambos negativos), mas o valor das cargas elétricas (em Coulombs) é diferente entre eles. UTILIZAÇÃO DA ELETRICIDADE ESTÁTICA A eletricidade estática é utilizada em diversas aplicações do nosso dia-a-dia, como: Precipitadores eletrostáticos – dispositivos para capturar poeira. A poeira é forçada a circular por um local com barras que eletrizam as partículas de poeira negativamente. Em seguida passam por bandejas eletrizadas positivamente que atraem as partículas de poeira. Pintura eletrostática – a tinta recebe eletrização e a superfície a ser pintada também é eletrizada com polaridade contrária. Ocorre a atração das partículas de tinta que aderem mais à superfície a ser pintada. Impressora a laser – o laser eletriza um rolo exatamente nos pontos onde deve ocorrer a impressão. O toner (tinta da impressão) é eletrizado com polaridade contrária. Quando o rolo passa pelo depósito de toner, atrai partículas de tinta nos pontos de impressão. Depois disso o papel é aquecido para que o toner (um pó) derreta a adira ao papel. RIGIDEZ DIELÉTRICA Materiais que apresentam elétrons fortemente ligados ao núcleo, portanto com poucos elétrons livres, tornam difícil a condução de eletricidade por eles. Esses materiais são os Isolantes ou Dielétricos. Se for aplicado sobre esse tipo de material um campo elétrico suficiente alto para que a força elétrica gerada consiga retirar os elétrons dos átomos, ele se torna um material onde a condução de eletricidade é mais fácil: um Condutor. Define-se Rigidez Dielétrica como o maior valor que um campo elétrico aplicado sobre um isolante pode ter, antes que o material se torne um condutor de eletricidade. Obviamente, materiais diferentes apresentam valores de rigidez dielétrica diferentes. O ar, por exemplo, possui um valor de rigidez dielétrica igual a 3 MV/m. Ou seja, para que uma camada de 1 metro de ar se torne um condutor de eletricidade, deve existir uma diferença de potencial de 3 milhões de Volts, entre dois pontos quaisquer. DESCARGAS ELÉTRICAS ATMOSFÉRICAS Antes de entendermos as descargas elétricas atmosféricas que ocorrem no nosso planeta, vamos observar alguns detalhes importantes sobre o nosso planeta Terra. O planeta Terra é um condutor eletrizado com carga negativa, estimada em – 580 kC. Mas, para nós ela é adotada como um referencial padrão, ou seja, potencial igual a zero. Isso pode ser assumido porque a carga da Terra é tão grande que as variações que ocorrem nela são extremamente pequenas e desprezíveis em termos práticos. Sendo assim, todo e qualquer potencial, sempre é medido em relação ao potencial do planeta (que é considerado zero). Agora vamos às descargas atmosféricas. As descargas atmosféricas estão ligadas às nuvens de tempestade, portanto, é importante conhecer o princípio da sua formação. As nuvens de tempestade são nuvens que apresentam uma altura muito grande e são formadas pela evaporação da água em dias quentes. Essas partículas aquecidas tendem a subir até altitudes onde se condensam. O resultado dessa condensação são as nuvens que vemos. Observando o comportamento elétrico das nuvens, podemos de maneira simplificada entender que essas partículas sobem porque estão aquecidas, mas, quando resfriadas, tendem e descer novamente. Nesse seu caminho de descida, as partículas encontram outras que foram aquecidas e que estão subindo. Elas colidem e dessa colisão ocorre a perda ou ganho de elétrons e, portanto, a eletrização das partículas. Como o tempo, as partículas eletrizadas vão se concentrando formando áreas carregadas com cargas positivas e negativas na nuvem. Não se sabe ao certo porque, mas 90% das nuvens carregadas possui uma maior concentração de cargas negativas na parte de baixo da nuvem (entre 3 e 4 km de altura) e de cargas positivas na parte de cima (entre 6 e 7 km de altura). Mas, como ocorrem as descargas? Primeiramente vamos imaginar uma nuvem de tempestade carregada sobre um campo limpo. No solo, abaixo da nuvem, ocorrerá a migração de cargas negativas para a superfície (devido a cargas de polaridades diferentes se atraírem). Conforme o vento desloca a nuvem, a “sombra” de cargas positivas acompanha a nuvem. Agora, vamos imaginar a mesma nuvem, mas em uma cidade, com diferentes edificações, pessoas, animais, dispositivos, etc. O efeito “sombra” também ocorre e as cargas positivas escalam tudo que está abaixo da nuvem, como, pessoas, animais, casas, prédios, etc. Como vimos anteriormente cargas de polaridade diferente criam uma diferença de potencial entre a nuvem e o objeto sob ela. A diferença de potencial entre a parte inferior da nuvem e o solo é de 10 MV a 1 GV! Com valores como esse ocorre a ruptura dielétrica do ar. Não da nuvem para o solo diretamente, mas próximo à nuvem (um campo elétrico de 10 kV/m é suficiente para iniciar o processo). A sequência de eventos (considerando uma descarga da nuvem para o solo) é a seguinte: Quando a ruptura da rigidez dielétrica ocorre, surge uma descarga descendente (da nuvem para o objeto). A ruptura vai ocorrendo aos poucos, “abrindo um caminho” para as cargas. Essa descarga é chamada Descarga Piloto Descendente (figura da direita). É uma descarga composta por cargas negativas tentando chegar ao objeto que possui cargas positivas. Quando a descarga piloto descendente se aproxima do solo existe a indução de uma descarga ascendente (figura da esquerda). Ou seja, as cargas positivas sobem em direção à descarga piloto. Isso ocorre porque a distância diminui e a força de atração entre as cargas aumenta. Quando as duas descargas se juntam (conexão entre descarga que desce da nuvem e a descarga que sobe a partir do objeto) ocorre uma Descarga de Retorno13 (do objeto para a nuvem). Essa descarga cria um caminho entre a nuvem e o objeto. Essecaminho representa uma “rota” onde o ar não é mais um isolante. Houve ruptura da rigidez dielétrica do ar. Com a ruptura dielétrica efetivada pela criação do caminho de retorno, ocorre a descarga principal de grande intensidade. Ela ocorre entre a nuvem e o objeto e é a descarga mais visível. 13 Um detalhe importante é que o trovão ouvido quando ocorre uma descarga atmosférica é o deslocamento de ar ao redor da descarga devido ao aquecimento do ar nessa região. Boa parte da energia gasta por uma descarga atmosférica é gasta com o aquecimento. Agora que conhecemos o que ocorre, vamos observar alguns valores relacionados às descargas atmosféricas14: Duração 70 a 200 s Carga elétrica da nuvem 20 a 50 C (considerando as cargas negativas da nuvem, isso é equivalente a algo entre 1,25 x 1020 e 3,12 x 1020 elétrons a mais, na parte de baixo da nuvem) Potência liberada 1 a 8 bilhões de kW15 (essa potência poderia acender, instantaneamente, entre 10 e 80 bilhões de lâmpadas incandescentes de 100 W) Como é possível perceber, uma descarga elétrica representa cargas elétricas em movimento. Esse movimento de cargas define uma grandeza elétrica extremamente importante: a Corrente Elétrica. Com a corrente elétrica surge um risco bastante importante das descargas atmosféricas, que é o choque elétrico. Podemos definir o Choque Elétrico como sendo a passagem de corrente elétrica pelo corpo humano. Então, para entendermos melhor o que ocorre é necessário compreender essa grandeza fundamental que é a corrente elétrica. ELETRODINÂMICA – CORRENTE ELÉTRICA Vamos imaginar uma situação onde temos uma diferença de potencial devido a encontrarmos em um ponto uma concentração de cargas positivas e em outro ponto uma concentração de cargas negativas. Para facilitar a compreensão, vamos imaginar que esses dois pontos estão ligados por um condutor metálico, que apresenta naturalmente uma grande quantidade de elétrons livres no seu interior. Como existe uma diferença de potencial entre as duas extremidades do condutor, ocorre dentro dele um trabalho sobre os elétrons livres (cargas negativas). Esse trabalho consiste, como dissemos, de uma força elétrica que movimenta as cargas livres. É esse movimento que gera a Corrente Elétrica16. É importante observarmos que nem todas as correntes elétricas acontecem devido a movimentação de elétrons livres. Por exemplo, no interior de uma bateria temos a movimentação de íons (átomos eletrizados) e não somente de elétrons. A partir disso podemos tirar algumas conclusões importantes sobre a corrente elétrica: I. A corrente elétrica sempre é causada pela existência de uma diferença de potencial (tensão elétrica) entre dois pontos; II. A corrente elétrica pode ser definida como sendo a movimentação de cargas elétricas (tanto negativas, quanto positivas, dependendo da situação). 14 DE STÉFANI, Rodrigo Verardino. Metodologia de Projeto de Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas para Edifício Residencial. São Carlos: Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Engenharia Elétrica, 2011. Pág. 15. 15 O conceito de potência será visto mais adiante, mas podemos inicialmente definir potência como a taxa na qual a energia gerada é consumida (no caso da descarga, na forma de aquecimento do ar). 16 Observe que no nosso exemplo, quando os dois pontos atingirem o equilíbrio cessa a corrente elétrica. Agora, se imaginarmos que essa diferença de potencial é gerada por meio de um processo químico, como nas baterias, podemos manter esse fluxo de cargas por um tempo maior, ou seja, a corrente elétrica por um tempo maior. Outro detalhe importante é analisarmos quais os efeitos da circulação da corrente elétrica por um determinado meio. Na verdade, existem três efeitos: I. Efeito térmico – a passagem de corrente elétrica gera aquecimento no meio na qual circula, devido exatamente ao movimento dos íons; II. Efeito magnético – a passagem de corrente elétrica gera um campo magnético em torno do meio no qual ela circula. Isso ocorre devido à interação entre carga elétrica e campo magnético que apresentamos anteriormente; e III. Queda de tensão – um componente qualquer que tenha passando por ele uma corrente elétrica experimentará o surgimento de uma tensão elétrica sobre ele. Resumidamente podemos entender que a corrente foi gerada por uma tensão, mas quando ela circula por algum elemento, ela vai gerar uma tensão nesse elemento. Vamos analisar isso com mais detalhes adiante. Sendo assim, como podemos definir numericamente a intensidade da corrente elétrica? Ela é definida como a variação da quantidade de carga que passa por um determinado ponto em um determinado período de tempo. 𝑖 = 𝑑𝑞 𝑑𝑡 Se considerarmos o valor médio de i, teremos: 𝑖 = ∆𝑞 ∆𝑡 Se considerarmos a corrente i constante, teremos: 𝑖 = 𝑞 𝑡 No contexto dos circuitos elétricos/eletrônicos, considera-se a circulação de cargas negativas (elétrons livres) como sendo a corrente elétrica. Com isso surge um conceito importante: a corrente convencional. Vejamos a ligação abaixo: Figura 8 – Sentido convencional da corrente elétrica Temos uma bateria, que é um dispositivo que possui dois polos. No polo negativo temos excesso de cargas negativas e no polo positivo temos excesso de cargas positivas (esses polos não possuem ligação interna entre eles). Dessa maneira temos uma tensão (d.d.p.) entre os terminais dessa bateria. Utilizamos um condutor para conectar os dois polos da bateria, o que vai gerar um fluxo de elétrons livres do polo negativo para o polo positivo (observando o que ocorre no condutor). Esse é o fluxo de elétrons no condutor. Como dissemos anteriormente, existem diferentes formas de corrente elétrica. Além disso, somente nos condutores metálicos a corrente elétrica é devido exclusivamente à movimentação de cargas negativas (elétrons livres). Sendo assim, convencionou-se que a corrente elétrica deve ser representada como se fosse um movimento de cargas positivas. Dessa maneira a Corrente Convencional representa a corrente elétrica como fluindo do polo positivo para o polo negativo17. Outra característica fundamental da corrente elétrica é que ela é uma grandeza escalar. Mas o que isso significa? Significa que não importa a geometria do condutor, a corrente continuará sendo o fluxo de cargas em um determinado período de tempo. A figura 7 ilustra isso: Figura 9 – Corrente elétrica: uma grandeza escalar Analisando o ponto P da figura 7, temos uma corrente elétrica I1 chegando a esse ponto (para as duas situações). Como essa corrente encontra dois caminhos possíveis, ela se divide em duas componentes (I2 e I3), permitindo observar que: 𝐼1 = 𝐼2 + 𝐼3(𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑎𝑠 𝑑𝑢𝑎𝑠 𝑠𝑖𝑡𝑢𝑎çõ𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑓𝑖𝑔𝑢𝑟𝑎) Apesar da diferença de posição dos condutores, a relação acima se mantém válida. Um detalhe fundamental que devemos observar nesse momento é que o tipo de corrente elétrica que estamos estudando até esse instante é convencionada como sendo uma corrente que circula em um único sentido, portanto podemos considerar que ela tem sempre o mesmo “sinal”. Além disso, se essa corrente elétrica mantiver um valor constante ao longo do tempo, o que para o que estudamos até aqui é verdade, ela recebe o nome de Corrente Contínua18. FONTES DE CORRENTE CONTÍNUA19 Primeiramente é necessário esclarecer um detalhe muito importante. Na verdade, essas fontes não vão fornecer corrente elétrica diretamente. O que toda fonte de energia elétrica fornece éuma tensão elétrica (diferença de potencial, ou força eletromotriz) devido às cargas elétricas criadas internamente. O que acontece é que essa tensão elétrica tem o potencial de gerar uma corrente elétrica, por exemplo, por meio de um condutor metálico, e essa corrente será uma corrente contínua, daí o termo “fonte de corrente contínua”. 17 Realmente era necessário criar uma convenção para o sentido da corrente elétrica. Principalmente se levarmos em consideração que em muitos casos ocorre uma corrente bidirecional (cargas elétricas positivas e negativas circulando, uma em sentido contrário da outra), como por exemplo: nas baterias, no nosso corpo, em lâmpadas fluorescentes, etc. 18 Adiante vamos estudar uma modalidade de corrente elétrica que varia o seu valor com o tempo. É a chamada Corrente Alternada. 19 Importante: acostumou-se a chamar de “fonte” de corrente contínua, mas temos que tem em mente que na realidade o que ocorre é transformação de uma forma de energia em outra forma de energia. Não existe como a energia elétrica ser gerada a partir do “nada”. 1 2 3 P I1 I3 I2 1 2 3 P I1 I3 I2 Esclarecido esse detalhe, podemos classificar as fontes de corrente contínua em duas grandes categorias: as baterias e as células fotovoltaicas. Vamos analisar as duas categorias. As Baterias são fontes de corrente contínua que transformam energia química (reações químicas) em energia elétrica. Uma bateria deve ser entendida como sendo um conjunto de células produtoras de energia elétrica. Essas células são conhecidas como Pilhas. Toda pilha é formada por dois eletrodos metálicos que estão imersos em uma solução condutora (chamada eletrólito), mas que não possuem contato físico entre si. O princípio de funcionamento é o seguinte: um dos eletrodos tem a tendência de perder elétrons (polo negativo da pilha – ânodo), enquanto o outro eletrodo tem a tendência de receber elétrons (polo positivo da pilha – catodo). Com isso temos entre os polos de uma pilha uma diferença de potencial. Se criarmos um “caminho” externo à pilha, interligando esses eletrodos, teremos uma circulação de cargas de um polo para outro, ou seja, corrente elétrica. O eletrólito serve para “recarregar” o polo negativo com elétrons, enquanto eles vão sendo enviados para o polo positivo. Se o eletrólito não consegue mais enviar elétrons para o polo negativo, existe a tendência do equilíbrio entre as cargas, e a diferença de potencial se torna zero, ou seja, a pilha está “descarregada”. Dessa maneira, as pilhas podem ser: Pilhas Primárias – células de energia que não podem ser recarregadas, ou seja, uma vez esgotada a reação química com o eletrólito, cessa a geração de energia elétrica. A maioria das pilhas que utilizamos, por exemplo, no controle remoto da televisão, são pilhas que devem ser substituídas depois de um determinado tempo de uso, porque elas se descarregam. Pilhas Secundárias – células de energia que podem ser recarregadas, ou seja, uma fonte externa pode retirar íons que ficam nos eletrodos, fazendo com que o eletrólito volte a fornecer íons criação de tensão. A baterias dos automóveis ou a bateria dos smartphones são exemplos de pilhas que ao se descarregarem podem ser recarregadas. Os tipos mais comuns desse tipo de pilha são: níquel- cádmio, níquel hidreto metálico (NiMH) (usado nos smartphones, tablets e notebooks atuais) e ácido-chumbo (bateria veicular). Alcalina20 Níquel-Cádmio NiMH Íons de Lítio 20 Fonte: WALLTRONICA. Disponível em: <walltronica.com.br>. Acesso em 28/07/2016. A tabela abaixo apresenta alguns exemplos de materiais utilizados como anodo, catodo e eletrólito em pilhas21: TIPO CATODO ANODO ELETRÓLITO DDP Alcalina C (carbono) MnO2 (dióxido de manganês) KOH (hidróxido de potássio) 1,5 V NiCd (Níquel-Cádmio) NiO (óxido de níquel) Cd (Cádmio) KOH (hidróxido de potássio) 1,2 V NiMH (Níquel Hidreto Metálico) NiO (óxido de níquel) Liga metálica KOH (hidróxido de potássio) 1,2 V Íons de Lítio Li2O (óxido de lítio) / Co (cobalto) C (carbono) Li (lítio) 3,7 V A capacidade que uma bateria possui de manter uma corrente constante durante um certo intervalo de tempo é medida em Ampère-hora (Ah) ou em miliampère-hora (mAh). Com isso podemos estimar a vida útil de uma bateria, se soubermos qual a corrente que vai ser drenada dela (quando em funcionamento). A expressão é a seguinte: 𝑉𝑖𝑑𝑎 Ú𝑡𝑖𝑙 (ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠) = 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑎𝑚𝑝è𝑟𝑒 − ℎ𝑜𝑟𝑎 (𝐴ℎ) 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑟𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎 (𝐴) Já as Células Solares não transformam reações químicas em energia elétrica. Elas transformam a energia luminosa (do sol) em energia elétrica. Essas células são dispositivos semicondutores (de silício) que possuem essa propriedade. Normalmente são montadas em grandes grupos de células para conseguir, por exemplo, recarregar baterias que armazenam essa energia. SIMBOLOGIA Quando desenhamos uma planta de uma edificação, não desenhamos os elementos arquitetônicos como eles são na realidade. Utilizamos uma simbologia para representar paredes, janelas, portas, etc. Em eletricidade ocorre a mesma coisa. Quando desejamos desenhar um circuito elétrico utilizamos uma simbologia para representar os componentes. Para as fontes de tensão (corrente contínua) utilizamos a seguinte simbologia: Figura 10 – Simbologia de fonte de corrente contínua (bateria, pilha, etc.) É importante observarmos que mesmo sem indicar a polaridade da fonte de tensão em corrente contínua, sempre o traço maior vai significar o polo positivo e o traço menor o polo negativo. Até agora já entendemos o conceito da corrente elétrica, um conceito relacionado às descargas atmosféricas, principalmente ao perigo de choques elétricos22 relacionados à essas descargas. Mas, como a corrente elétrica varia de valor? Por que ela pode variar de intensidade em diferentes situações? Isto está relacionado a outro conceito importante: a Resistência Elétrica. 21 Fonte: VILLATE, Jaime E. Documentação para Engenharia e Física. Universidade do Porto, Portugal. Disponível em: <https://def.fe.up.pt/eletricidade/corrente.html>. Acesso em 25 de julho de 2016. Os três últimos tipos são pilhas secundárias (recarregáveis). 22 Choque elétrico é definido como a passagem de corrente elétrica pelo corpo humano. BIBLIOGRAFIA ALEXANDER, Charles K; SADIKU, Matthew, N. O. Fundamentos de Circuitos Elétricos. Porto Alegre: AMGH, 2013. BOYLESTAD, Robert L. Introdução à Análise de Circuitos. 10 ed. Pearson/Prentice-Hall, 2004. DE STÉFANI, Rodrigo Verardino. 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