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AULAS III E IV CIÊNCIA POLÍTICA TGE CONCEPÇÕES A RESPEITO DO ESTADO 2015.2 Copia

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ALGUMAS CONCEPÇÕES A RESPEITO DO ESTADO: MAQUIAVEL, OS CONTRATUALISTAS (HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU), MONTESQUIEU, MARX, WEBER, DURKHEIM, KELSEN
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Nicolau Maquiavel (1469 – 1527): o pensador do realismo político.
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Considerações iniciais a respeito de Maquiavel...
Considerado como um dos primeiros pensadores a lidar com a temática do realismo político, estigmatizado por muitos como um “autor maldito” pelo fato de ter se transformado em referência para o exercício da tirania por parte de uma série de governantes ao longo das idades moderna e contemporânea ou percebido como um conselheiro que buscou alertar os dominados contra a tirania dos dominantes, Maquiavel, certamente é um dos pensadores políticos mais polêmicos.
Suas obras como analista político foram produzidas durante o período de retiro forçado, em propriedade familiar localizada em São Casciano (próximo a Florença), após ter ocupado, por 14 anos (de 1498 a 1512), a Segunda Chancelaria da República de Florença onde desempenhou importantes missões tanto na Itália, como no exterior, destacando-se por sua diligência na implantação de uma milícia nacional – tal retiro forçado (um exílio interno) foi resultado de uma série de reviravoltas políticas em Florença, desde a expulsão dos Médicis nos últimos anos do século XV, passando pela ascensão e queda de Savonarola (que substituiu os Médicis) e pelo retorno dos Médicis ao comando de Florença em 1512.
Durante o retiro forçado em São Casciano, produziu suas principais obras de análise política: O Príncipe (ao longo dos anos de 1512, 1513), Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (de 1513 a 1519), a Arte da Guerra (de 1519 a 1520) e a História de Florença (de 1520 a 1525).
Apesar de uma série de tentativas de retorno à vida pública após a sua demissão em 1512, Maquiavel tornou-se “persona non grata” para a República de Florença, vindo a falecer em 1527.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (I)
A preocupação fundamental das obras de Maquiavel estava relacionada ao Estado – não ao melhor Estado, não a um Estado imaginado, não a um dever-ser do Estado, mas ao Estado real, voltado para a imposição da ordem social.
Mantendo um “diálogo” permanente com autores da Antiguidade (como Tácito, Políbio, Tucídides, Tito Lívio) e, de certa forma, rejeitando a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino, o ponto de partida e de chegada o pensamento de Maquiavel é a realidade concreta, a verdade efetiva das coisas, vendo e examinando a realidade tal como se apresentava e não como se gostaria que fosse.
 Substituindo o dever ser pelo ser da realidade, o problema central para Maquiavel era descobrir como fazer reinar a ordem, como instaurar um Estado estável, interrompendo o interminável ciclo de estabilidade e caos.
Assim, na busca pela verdade efetiva, em seu “diálogo” com os pensadores da Antiguidade, Maquiavel observa a presença de traços humanos imutáveis - assim, a natureza humana é marcada pela ingratidão, pela simulação, pela covardia diante dos perigos, pela avidez pelo lucro.
O conflito e a anarquia se constituiriam, portanto, em desdobramentos inevitáveis de tais paixões e instintos malévolos – desta forma, o estudo do passado se constituiria em uma fonte privilegiada de ensinamentos.
A história para Maquiavel é cíclica, repetindo-se indefinidamente em períodos de ordem e de caos, uma vez que não haveriam meios de domesticação absoluta da natureza humana – o poder político tem uma origem mundana, nascendo da própria “malignidade” da natureza humana, constituindo-se tal poder como a única possibilidade de enfrentamento do conflito, ainda que tal domesticação seja precária e transitória.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (II) 
Em virtude da desordem resultante da imutabilidade da natureza humana, existiriam, segundo Maquiavel, em todas as sociedades duas forças opostas: o desejo do povo de não ser dominado e o desejo dos poderosos em dominar e oprimir o povo.
Para evitar a anarquia que pode derivar do conflito entre tais forças, deve-se encontrar um mecanismo que sustente uma determinada correlação de forças – para tanto, Maquiavel sugere duas “respostas” à anarquia que deriva da natureza humana, a saber: o Principado e a República.
A escolha de uma destas “respostas” institucionais não resulta de uma simples escolha ou de considerações abstratas e idealistas sobre qual é o melhor regime, mas sim de uma situação concreta. 
Quando a nação se encontra ameaçada pela deterioração, necessita-se de um governo forte (de um príncipe, de um fundador do Estado) para conter as forças desagregadoras e centrífugas – ao contrário, quando a sociedade já atingiu um determinado nível de estabilidade, quando o poder político já cumpriu sua missão “regeneradora” e “educadora”, ela está preparada para República, regime político este em que o povo é virtuoso e as instituições são estáveis refletindo (e atuando sobre) a dinâmica das relações sociais.
De acordo com Maquiavel, a Itália do início do século XVI estava a exigir unificação e regeneração, necessitando, portanto, de um homem virtuoso com capacidade para fundar o Estado, necessitando assim de um príncipe.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (III) 
Um dos dogmas de seu tempo que Maquiavel teria que enfrentar foi a crença na predestinação – tal enfrentamento seria absolutamente necessário, uma vez que, a atividade política, tal como o pensador florentino imaginara, exigia um homem livre de freio “extraterrenos”, um homem que fosse sujeito da história.
Maquiavel recorreu mais uma vez aos clássicos para pensar sobre a condição fundamental da prática política marcada pela presença do homem sujeito da história – a virtù exercendo seu domínio sobre a fortuna.
Para os antigos a fortuna era uma força benigna que possuía todos os bens desejados pelo homem: a honra, a riqueza, a glória, o poder – por ser uma divindade feminina, cabia ser seduzida pelo homem de virilidade e de coragem incontestáveis, o homem portador da virtù.
Com o cristianismo, a imagem da fortuna como uma boa deusa, foi substituída pela imagem de um poder cego, fechado a qualquer influência, distribuindo seus bens indiscriminadamente – a roda da fortuna que giraria indefinidamente sem que seja possível descobrir seu movimento.
Maquiavel, entende que a fortuna é uma deusa boa, uma mulher pronta a entregar-se aos homens bravos, corajosos, portadores da virtù, perseguidores do poder, da honra, da glória, muito diferente da virtude cristã que prega a libertação das tentações terrenas.
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ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!!
Para Maquiavel, o poder que nasce da natureza humana não se manifesta somente através da força bruta, mas também através da sabedoria no uso da força, da utilização virtuosa da força.
O governante não é o mais forte, mas o que demonstra possuir a virtù – especialmente, nos principados novos (mas também nos principados hereditários), o governante virtuoso deve criar instituições que facilitem o domínio, ou seja, boas leis geradoras de boas instituições e boas armas...
Assim, o governante virtuoso é aquele que atua para manter seu domínio – virtudes e vícios se “confundem” o que significa dizer que a virtù exige os vícios e o reenquadramento da força.
O príncipe deve aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos governados, mas deve agir sempre no sentido de manter seu poder.
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O CONTRATUALISMO
ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E AS CONCEPÇÕES DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS PENSADORES CONTRATUALISTAS. 
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UMA PRIMEIRA ABORDAGEM...
Em termos gerais, o CONTRATUALISMO compreende todas as teorias políticas que entendem que a ORIGEM DA SOCIEDADE e o FUNDAMENTO DO PODER se configuram por meio de um CONTRATO, isto é, por meio de um ACORDO TÁCITO ou EXPRESSO firmado entre a maioria dos indivíduos.
 Este acordo firmado entre os indivíduos, tácita ou expressamente, que se encontraria na origem da sociedade ou que se configuraria
como o fundamento do poder, assinalaria o fim do ESTADO DE NATUREZA e o início do ESTADO SOCIAL e POLÍTICO. 
 A idéia do contrato social se constitui como uma “ficção metodológica” empregada por teorias políticas ditas “contratualistas” cujo objetivo é justificar a obediência ao poder. 
 Tais teorias contratualistas têm sua origem nas teorias “pactualistas” da Idade Média que justificam o poder como resultado de um pacto entre o povo e o governante/príncipe.
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AINDA UMA ABORDAGEM INICIAL...
Em um sentido mais restrito, o CONTRATUALISMO pode ser entendido como uma ESCOLA que se destacou no contexto do pensamento político ocidental entre o início do século XVII e o final do século XVIII e que teve como seus maiores expoentes: Althusius (1557-1638), Hobbes (1588-1679), Spinoza (1632-1677), Pufendorf (1632-1694), Locke (1632-1704), Rousseau (1712-1778), Kant (1724-1804).
 Ao tratarmos o CONTRATUALISMO como um ESCOLA, isto não significa dizer que o entenderemos a partir de uma ORIENTAÇÃO POLÍTICA, mas sim a partir de uma mesma estrutura conceitual (de uma mesma SINTAXE) capaz de racionalizar a FORÇA e alicerçar o PODER no CONSENSO. 
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DA PASSAGEM DO ESTADO DE NATUREZA PARA O ESTADO SOCIAL E POLÍTICO.
Três seriam os possíveis níveis de explicação para a passagem do ESTADO DE NATUREZA para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO:
 Tal passagem seria um fato histórico, tratando-se de uma explicação problematizada pela questão antropológica da ORIGEM DO HOMEM CIVILIZADO.
De acordo com um outro nível explicativo, a ORIGEM DO ESTADO DE NATUREZA e a passagem para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO são tratadas como HIPÓTESES LÓGICAS cujo objetivo é destacar a IDÉIA RACIONAL e JURÍDICA DO ESTADO (colocando o fundamento da obrigação política no CONSENSO EXPRESSO ou TÁCITO a ser concedido pelos indivíduos a uma autoridade que os represente e os encarne).
O CONTRATO firmado pelos indivíduos se constituiria em um instrumento de ação política capaz de IMPOR LIMITES AOS DETENTORES DO PODER – tal explicação prescinde completamente do problema antropológico da origem do homem civilizado e do problema filosófico e jurídico do ESTADO RACIONAL. 
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ATENÇÃO PARA O CONCEITO DE DIREITO NATURAL!!! 
O DIREITO NATURAL (jus naturale) consiste em um sistema de normas de conduta intersubjetiva diferente do sistema configurado pelas normas fixadas pelo Estado.
Pela doutrina do JUSNATURALISMO, o direito natural tem validade em si, sendo anterior e superior ao direito positivo – em caso de conflito entre os dois sistemas (o do direito natural e o do direito positivo), é ele, o DIREITO NATURAL, que deve prevalecer.
O JUSNATURALISMO é, portanto, uma doutrina antitética à doutrina do POSITIVISMO JURÍDICO, segundo a qual só há um direito, ou seja, o direito estabelecido pelo ESTADO, cuja validade INDEPENDERIA DE QUALQUER REFERÊNCIA A VALORES ÉTICOS. 
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Os filósofos do contratualismo moderno defendem (diferentemente de Aristóteles) a tese segundo a qual o início da vida social é marcada pela presença de homens iguais por natureza. E em razão do indivíduo e seus interesses que se criou o Estado. Em particular, a propriedade privada.
Novo paradigma se instala na filosofia: o indivíduo como origem da experiência jurídica. 
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HOBBES: DA GUERRA DE TODOS CONTRA TODOS, DO CONTRATO E DO ABSOLUTISMO 
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Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica 
AULA 6
Thomas Hobbes (1588-1679)
Defensor do absolutismo, mas numa vertente racional;
Obras importantes: Do cidadão (1642); Leviatã – ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil (1651);
Para Hobbes, a vida é o bem maior. A justiça e a injustiça resultam de convenções. O homem é por natureza egoísta: homo hominis lupus ( violência generalizada) e bellum omnium contra omnes ( a guerra de todos contra todos).
Assim, sugere um pacto social em que o Soberano coloca-se acima do bem e do mal, acima de todas as instituições, com poder absoluto. Há a servidão no Estado: “todos os homens devem renunciar aos direitos do estado natural”.
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Hobbes menciona que :
“Devemos portanto concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros.”
Para Hobbes, a igualdade humana se revela na condição de medo. A paz é resultante do contrato que nasce do medo de um estado de guerra de todos contra todos. Por isso, o indivíduo transfere todo o seu poder a um homem, o soberano. Interessante que Hobbes inova quando fundamenta o poder absoluto no contrato social através do consenso e não no poder divino - pacto de submissão.
No estado de natureza de Hobbes, “todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros” (Leviatã, Parte I, Cap. XIV, p.82)
Toda a humanidade tem “ uma inclinação geral” que ele caracteriza como “um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que somente cessa com a morte” (Leviatã, Parte I, Cap. XI, p.64)
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DO INDIVÍDUO HOBBESIANO
Segundo Hobbes, o homem é o INDIVÍDUO – todavia, tal indivíduo não é o INDIVÍDUO BURGUÊS, tratando-se de um indivíduo que não almeja tanto os bens materiais, mas a HONRA.
Dentre as causas da violência, de acordo com Hobbes, pode-se destacar a busca da GLÓRIA, quando os homens se batem “...por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome”.
 Assim, a honra é o valor atribuído a alguém em função das aparências externas – o homem hobbesiano não é o HOMO OECONOMICUS, o que significa dizer que para este “homem hobbesiano” é mais importante ter os sinais de honra, inclusive a riqueza (mais como meio, do que como fim)>
Este homem hobbesiano imagina ter poder, imagina ser respeitado ou ofendido pelos semelhantes, imagina o que o outro vai fazer – desta imaginação decorrem perigos já que o homem se põe a fantasiar o que é irreal.
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ASSIM...
 O estado de natureza é portanto uma condição de guerra pois cada um se imagina (com razão ou sem razão) poderoso, perseguido, traído.
 Para que se ponha fim a este conflito, necessário se faz que se implante uma “lei de natureza”, “estabelecida pela razão e pela qual se proíba a um homem de fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir melhor para preservá-la”.
 Além do fundamento jurídico necessário ao fim do conflito, deve o Estado, segundo Hobbes ser dotado da espada, armado para forçar os homens ao respeito – tal Estado tem que ser pleno, absoluto, com capacidade para resolver todas as pendências e para arbitrar qualquer questão, constituindo-se na condição essencial para a existência da sociedade. 
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ESTADO DE NATUREZA EM HOBBES :
“ESTADO DE GUERRA” DE TODOS CONTRA TODOS
“...não haverá como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e esta não ser uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos contra todos” (HOBBES, 2002, p.33).
Para Renato Janine Ribeiro, Hobbes apresenta um absolutismo com um individualismo radical. Nesse sentido, temos que observar que o filósofo é um pensador de transição, ao mesmo tempo que é absolutista, busca fundamento diverso do fundamento teológico. É absolutista inovador.
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LOCKE: DAS ORIGENS DO LIBERALISMO 
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O ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
Podemos dizer que, juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do JUSNATURALISMO ou TEORIA DOS DIREITOS NATURAIS.
Em linhas gerais, o modelo jusnaturalista de Locke é semelhante ao de Hobbes, na medida em que, ambos, partem de um ESTADO DE NATUREZA que, por meio da mediação de um CONTRATO SOCIAL, chegam ao ESTADO CIVIL.
Em oposição à doutrina aristotélica, de acordo com a qual a sociedade PRECEDE ao INDIVÍDUO, Locke afirma que a existência do INDIVÍDUO é anterior à SOCIEDADE e ao ESTADO.
 Tendo como base uma concepção individualista, os homens viviam originariamente num estágio PRÉ-SOCIAL e PRÉ-POLÍTICO no qual gozavam da mais perfeita LIBERDADE e IGUALDADE – esta é a ambiência do ESTADO DE NATUREZA lockeano.
 De acordo com Locke, o ESTADO DE NATUREZA era uma situação real e historicamente determinada, pela qual a maior parte da espécie havia passado, ainda que em épocas diferentes – alguns povos ainda se encontrariam neste ESTADO DE NATUREZA, como por exemplo as tribos norte-americanas.
 Diferentemente do ESTADO DE NATUREZA hobbesiano que se baseava na insegurança e na violência, o ESTADO DE NATUREZA lockeano se constituía em um estado de relativa paz, concórdia e harmonia
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DO ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
No ESTADO DE NATUREZA lockeano, que se apresentava como um estado pacífico, os homens já eram dotados de RAZÃO e desfrutavam da PROPRIEDADE que, numa primeira acepção utilizada por LOCKE, designava simultaneamente a VIDA, a LIBERDADE, e os BENS como DIREITOS NATURAIS DO SER HUMANO.
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A TEORIA DA PROPRIEDADE EM LOCKE:
Em uma segunda acepção utilizada por Locke, a noção de propriedade se apresentava de maneira mais restrita, significando especificamente a posse de BENS MÓVEIS OU IMÓVEIS – tal teoria da propriedade diferia da de Hobbes para quem a propriedade inexistia no estado de natureza, sendo instituída pelo Estado após a formação da sociedade civil, podendo este mesmo Estado suprimir a propriedade dos súditos.
Para Locke, a propriedade já existia no estado de natureza, sendo uma instituição anterior à sociedade e se constitui como um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado – o homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho, sendo, portanto, o trabalho, segundo Locke, o fundamento originário da PROPRIEDADE.
O uso da moeda levou à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens – a concepção lockeana de que o trabalho é que “provoca a diferença de valor em tudo quanto existe”, pode ser considerada, de certa forma, como a precursora da TEORIA DO VALOR-TRABALHO, desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do LIBERALISMO CLÁSSICO.
O limite da propriedade era, inicialmente, fixado pela capacidade de trabalho do ser humano – com o surgimento do dinheiro e do comércio surgiu uma nova forma de aquisição da propriedade através da COMPRA.
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O CONTRATO SOCIAL EM LOCKE:
Apesar de pacífico, o estado de natureza em Locke apresenta alguns inconvenientes, como por exemplo, a violação da propriedade (em uma primeira acepção, vida liberdade e bens) que, na falta da lei positivada, do juiz imparcial e de força coercitiva podia levar ao conflito entre os indivíduos singulares.
Visando a superação destes inconvenientes, os homens se unem e estabelecem LIVREMENTE entre si o CONTRATO SOCIAL que faz a passagem do ESTADO DE NATUREZA para a SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL – esta sociedade política ou civil é formada por corpo político único, dotado de LEGISLAÇÃO, de JUDICATURA e da FORÇA CONCENTRADA DA COMUNIDADE.
Em Locke, o contrato social é um PACTO DE CONSENTIMENTO, a partir do qual os homens concordam, livremente, em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originariamente no estado de natureza – no ESTADO CIVIL, os DIREITOS INALIENÁVEIS do ser humano á VIDA, à LIBERDADE e aos BENS estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força política de um CORPO POLÍTICO UNITÁRIO.
O contrato social em Locke difere fundamentalmente do contrato hobbesiano – em Hobbes, os homens firmam entre si um PACTO DE SUBMISSÃO, através do qual transferem a um único homem ou a uma assembléia a força coercitiva da comunidade, trocando voluntariamente a LIBERDADE pela SEGURANÇA do Estado-Leviatã.
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O DIREITO DE RESISTÊNCIA EM LOCKE:
No que se refere às relações entre governo e sociedade, Locke afirma que, quando o Executivo e o Legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a PROPRIEDADE, o governo deixa de cumprir o fim a que havia sido destinado, tornando-se ilegal e degenerando em TIRANIA – o que define a tirania é o EXERCÍCIO DO PODER PARA ALÉM DO DIREITO, VISANDO O INTERESSE PRÓPRIO E NÃO O BEM PÚBLICO OU COMUM.
A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o GOVERNO em ESTADO DE GUERRA contra a SOCIEDADE e os GOVERNANTES em rebelião contra os GOVERNADOS – nestas condições o povo é investido do legítimo DIREITO DE RESISTÊNCIA à OPRESSÃO e à TIRANIA.
A DOUTRINA DA LEGITIMIDADE DA RESISTÊNCIA AO EXERCÍCIO ILEGAL DO PODER, reconhece ao povo, quando este não tem mais a quem recorrer para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde – tal doutrina remontava ao período das Guerras de Religião na Europa e ao ser resgatada e revalorizada por Locke no Segundo Tratado sobre o governo civil, transformou-se no “motor” das revoluções liberais que eclodiriam posteriormente na Europa e na América.
O Estado de guerra assim imposto ao povo pelo governo, configura a DISSOLUÇÃO DO ESTADO CIVIL e o retorno ao ESTADO DE NATUREZA – a inexistência de um juiz comum faz com que o impasse só pode ser decidido pela força.
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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (I):
A princípio, Rousseau faz uma dura constatação, n’O CONTRATO SOCIAL, a respeito da condição humana: “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles” – para Rousseau, a LIBERDADE não é uma convenção e nem uma prerrogativa legal, mas é uma CONDIÇÃO INTRÍNSECA À NATUREZA HUMANA, sendo a ESCRAVIDÃO é a plena renúncia desta natureza humana, sustentada por convenções e interesses mesquinhos.
No DISCURSO SOBRE A ORIGEM DA DESIGUALDADE, Rousseau descreve a trajetória da condição de liberdade existente no ESTADO DE NATUREZA até o surgimento da PROPRIEDADE, com todos os inconvenientes que daí surgiram.
Na passagem do estado de natureza para a “condição de servidão”, encontra-se um pacto proposto pelos poderosos – tal pacto, segundo Rousseau, deve ter dado origem à sociedade e às leis “que deram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (Discurso sobre a desigualdade)
Ao declarar que ignora o processo de transformação do homem, da liberdade à servidão, Rousseau se refere aos fatos reais, afirmando que tal transformação pode ser construída hipoteticamente e demonstrada por argumentos racionais.
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (II):
O CONTRATO SOCIAL inicia-se a partir do reconhecimento de que o homem encontra-se em toda parte “a ferros” – a partir daí, Rousseau pretende estabelecer as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual, os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, possam ganhar, em troca, a LIBERDADE CIVIL.
No processo de legitimação do PACTO SOCIAL, o fundamental é a condição de IGUALDADE DAS PARTES CONTRATANTES – assim, as cláusulas do contrato, “quando bem compreendidas, reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos e, sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa por tornar onerosa para os demais (Contrato Social)
Neste pacto, ninguém sairia prejudicado porque o corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar a forma de distribuição
da propriedade como uma de suas atribuições possíveis, já que a alienação da propriedade de cada parte contratante foi total e sem reservas – estariam assim dadas as condições para LIBERDADE CIVIL, pois o POVO SOBERANO, sendo ao mesmo tempo parte ativa e passiva (agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis), tem todas as condições para se tornar um SER AUTÔNOMO, agindo por si mesmo
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DA TEMÁTICA DA LIBERDADE NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo, é a conjugação perfeita entre liberdade e obediência, é um ATO DE LIBERDADE – Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis em um clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como parte do poder soberano, o que significa dizer, uma submissão à VONTADE GERAL e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. 
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A VONTADE E A REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU:
A submissão de cada indivíduo à vontade geral é a condição primeira de LEGITIMIDADE da vida pública ou seja, é aquela condição que marca a fundação da VIDA PÚBLICA através de um PACTO LEGÍTIMO, no qual a ALIENAÇÃO de cada um, com todos os seus direitos é total e a condição de todos é a de IGUALDADE.
A legitimação da fundação do corpo político, deve estender-se também para a “máquina política” em funcionamento – para que o corpo político funcione, não basta o ato fundador da associação, sendo necessário que essa VONTADE se realize, daí que os fins da constituição da comunidade precisam ser realizados.
Assim, qualquer forma de governo que se venha a adotar (a monarquia, a aristocracia ou a democracia) terá que se submeter ao PODER SOBERANO DO POVO – mesmo em um regime monárquico, povo pode manter-se como soberano desde que o monarca se caracterize como funcionário do povo.
Impõe-se, assim, antes de mais nada, definir o GOVERNO, o CORPO ADMINISTRATIVO DO ESTADO, como FUNCIONÁRIO DO SOBERANO, como órgão limitado pelo poder do povo (do SOBERANO), como seu funcionário e não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se, neste caso, com o SOBERANO.
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OUTRAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DAS QUESTÕES RELACIONADAS À VONTADE E À REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
 No Contrato Social, Rousseau depois de reafirmar o caráter do governo como um corpo submisso à autoridade soberana do povo e depois de reconhecer sua necessidade, passou a enumerar os riscos de sua instituição e a tendência à degeneração.
 Assim, o governo tenderia sempre a ocupar o lugar do soberano e, ao invés de submeter-se ao povo, tenderia, na verdade, a subjugá-lo – segundo Rousseau, “assim como a vontade particular age sem cessar contra a vontade geral, o governo despende um esforço contínuo contra o soberano”.
 Rousseau não admite a REPRESENTAÇÃO no nível da SOBERANIA (ou seja, uma vontade não se representa) – o exercício da vontade geral através dos representantes significaria uma sobreposição de vontades, já que ninguém pode querer pelo outro e quando isto ocorre, a vontade de quem a delegou não mais existe ou não mais está sendo levada em consideração.
 No nível do governo, Rousseau admite representação – todavia, em relação aos representantes, nunca se deve descuidar, pois sua tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam, devendo, para tanto, serem trocados com uma certa frequência.
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 Charles-Louis de Secondat (Barão de Montesquieu) (1689 – 1755): sociedade e ordenamento político.
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Aspectos gerais do pensamento político de Montesquieu (I)
Ao definir a lei como derivação das relações essenciais que resultam da natureza das coisas, Montesquieu procurar firmar uma ponte entre as ciências do homem e as ciências empíricas, especialmente com a física newtoniana, rompendo assim com uma tradicional subordinação da política à teologia.
Para Montesquieu, seria possível encontrar uniformidades, constâncias na variação dos comportamentos e das formas de organização dos homens, assim como elas existiriam nas relações entre os corpos físicos.
 Ao trazer a política para fora da teologia e da simples crônica, Montesquieu a insere num campo teórico, já que as instituições políticas seriam regidas por leis derivadas das relações políticas – para Montesquieu, as leis que regem as diversas instituições políticas são as relações entre as diversas classes em que se divide a população, as formas de organização econômica , as formas de distribuição do poder...
Todavia, as leis que interessam a Montesquieu são as leis positivas, as leis e as instituições criadas pelos homens para reger as relações entre os homens – Montesquieu tentou explicar as leis e instituições humanas em geral (sua permanência e modificações) a partir das leis da ciência política.
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Aspectos gerais do pensamento político de Montesquieu (II)
Referindo-se ao estado de sociedade dos contratualistas, Montesquieu entende que esta condição (a condição resultante do contrato social) comporta um número significativo de formas de realização que variam conforme a diversidade dos povos – assim, para Montesquieu, o que deve ser investigado é a maneira como funcionam as instituições políticas e não sua existência propriamente dita.
Existiriam, para Montesquieu, duas dimensões do funcionamento político das instituições: a natureza e o princípio de governo – a natureza do governo diz respeito a quem detém o poder: na monarquia um só governa através de leis fixas e instituições, na república governa o povo no todo ou em parte (repúblicas aristocráticas) e no despotismo governa a vontade de um só.
Assim, no que tange à natureza do governo, a classificação proposta por Montesquieu trata das relações entre as instâncias de poder e a forma como o poder se distribui na sociedade.
No se refere ao princípio do governo, Montesquieu afirma que é a paixão que o move, tratando-se da maneira como os governos funcionam, como o poder é exercido – o princípio da monarquia é a honra, o da república é a virtude e o do despotismo é o medo.
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ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!!
Para Montesquieu, só a virtude é uma paixão propriamente política, constituindo-se como o espírito cívico, a supremacia do bem público sobre os interesses particulares – por isso que a virtude é o princípio da república.
 Onde não existem leis fixas e nem poderes intermediários, onde não há poder que contrarie, que se oponha a outro poder, somente a prevalência do interesse público é capaz de moderar o poder impedindo a anarquia e o despotismo que se encontram, por exemplo, permanentemente à espreita dos regimes populares.
Segundo Montesquieu, a república é o regime de um passado em que as cidades reuniam pequenos grupos de homens moderados pela própria natureza das coisas, enquanto que o despotismo seria a ameaça do futuro, já que as monarquias, ao abolirem os privilégios da nobreza, tornavam o poder do executivo um poder absoluto.
Somente a monarquia seria o governo das instituições adequado ao momento de Montesquieu.
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Aspectos gerais do pensamento político de Montesquieu (III)
Montesquieu não pretendia a restauração dos privilégios da nobreza, já que as condições sócio-econômicas de seu tempo, segundo ele, conspiravam contra a permanência do papel político da nobreza.
Montesquieu dirige-se então para a Inglaterra, para estudar as bases constitucionais do modelo de governo inglês, tratando-se, na verdade, de uma análise minuciosa da estrutura bicameral do parlamento britânico e das funções dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário.
Analisando a estrutura do governo britânico, Montesquieu mostra que existe uma imbricação de funções e uma interdependência entre o executivo, o legislativo e o judiciário – segundo Montesquieu, contrariando a possível equivalência dos poderes, afirma
que o judiciário é um “poder nulo”, uma vez que os juízes seriam a “boca” que pronuncia as palavras da lei.
A separação dos poderes, segundo Montesquieu, seria uma forma de assegurar a existência de um poder capaz de se contrapor ao outro – trata-se de uma questão política, de correlação de forças e não uma questão de natureza jurídico-administrativa de mera organização de funções.
Para que haja a moderação é necessário que as instâncias de poder que irão se contrapor encontrem suas forças políticas em bases sociais distintas – a estabilidade de um regime ideal repousaria no fato de que a correlação entre as forças reais da sociedade encontre sua expressão nas instituições políticas. 
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Karl Marx (1818 – 1883): O Estado como instrumento de uma classe dominante.
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O conceito de Estado é de fundamental importância no pensamento marxista pois é considerado como a instituição que, mais do que outras, destina-se a assegurar e manter a dominação e a exploração de classe.
A mais clássica concepção marxista sobre o Estado está expressa na formulação de Marx e Engels no “MANIFESTO COMUNISTA”: “O Executivo do Estado Moderno nada mais é do que um comitê para a administração dos assuntos comuns de toda a burguesia.” 
 Marx nunca desenvolveu uma análise sistemática do Estado, ainda que tenha tratado da temática do Estado em uma obra de 1843 e publicada postumamente (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel), assim como em uma série de textos de cunho histórico: As lutas de classe na França de 1848 a 1850 (1850), O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte (1852) e Guerra Civil na França (1871). 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE ESTADO NO PENSAMENTO DE MARX E ENGELS:
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A PRIMEIRA ABORDAGEM DE MARX A RESPEITO DA TEMÁTICA DO ESTADO
Conforme comentamos anteriormente, o primeiro trabalho de Marx posterior á sua tese de doutorado foi a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.
Este trabalho se insurgia contra a concepção de Estado, desenvolvida por Hegel, em seus Princípios da Filosofia do Direito – nesta obra publicada em 1820, Hegel apresentou o Estado como a materialização do interesse geral da sociedade, pois este se situaria acima dos interesses particulares, sendo, portanto, capaz de superar tanto a divisão entre ele, Estado, e a sociedade civil, como o abismo entre o indivíduo como pessoa privada e o cidadão.
Marx rejeitou a concepção hegeliana de Estado, afirmando que este, na vida real, não representaria o interesse geral, mas sim os interesses da propriedade.
Marx então propõe como remédio para superar a incapacidade do Estado em garantir o interesse geral, a realização da DEMOCRACIA.
Todavia, Marx chegou, pouco tempo depois, à conclusão de que a “emancipação política”, por si somente, não seria capaz de gerar a “emancipação humana” – tal empreendimento exigiria uma reorganização muito mais ampla da sociedade, reorganização esta que teria como principal aspecto a abolição da propriedade privada. 
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ASSIM....
A CONCEPÇÃO DO ESTADO COMO O INSTRUMENTO DE UMA CLASSE DOMINANTE, ASSIM DESIGNADA EM VIRTUDE DA PROPRIEDADE DOS MEIO DE PRODUÇÃO E DO CONTROLE QUE SOBRE ELES EXERCE, PERMANECEU COMO FUNDAMENTAL EM TODA A OBRA DE MARX E ENGELS...
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TODAVIA....
APESAR DA CONCEPÇÃO QUE EXPUSEMOS ANTERIORMENTE, A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO, TAL COMO FORMULADA POR MARX E ENGELS, ATRIBUÍA CONSIDERÁVEL MARGEM DE AUTONOMIA AO ESTADO...
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POR EXEMPLO....
MARX E ENGELS SE DEBRUÇARAM SOBRE OS REGIMES DITATORIAIS, ESPECIALMENTE SOBRE O “REGIME BONAPARTISTA” QUE SE INSTALOU NA FRANÇA DEPOIS DO GOLPE DE ESTADO PERPETRADO POR LUÍS NAPOLEÃO BONAPARTE EM 1853...
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 ATENÇÃO!!!
As formulações desenvolvidas por Marx e Engels sobre as ditaduras, especialmente sobre o bonapartismo, tanto no Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, como na Guerra Civil na França, sugerem que o Estado, em determinadas circunstâncias, não desfruta apenas de uma autonomia relativa – ele pode se tornar independente da sociedade e governá-la de acordo com os interesses e as concepções daqueles que controlam o Estado, controle este que pode ser exercido sem referência a qualquer força da sociedade distinta do Estado. 
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 ATENÇÃO!!! DE NOVO!!!
Dizer que o Estado desfruta de considerável autonomia de ação em relação à sociedade (mais precisamente, em relação aos interesses e aos propósitos das classes dominantes) não significa negar que este Estado esteja a serviço dos interesses dominantes.
 Na articulação entre interesses políticos e econômicos que se desenvolve no mundo real, não se verifica uma fusão – muito contrariamente, as instâncias política e econômica conservam suas identidades, de tal forma que o Estado disponha de margem de manobra suficiente para que possa promover a manutenção e a defesa da ordem social da qual a classe economicamente dominante é a principal beneficiária.
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 ATENÇÃO!!! DE NOVO!!! DE NOVO!!!
A regulação da LUTA DE CLASSES se constitui em importante função do Estado em sua associação com a classe economicamente dominante – e qual seria o objetivo? ASSEGURAR A ESTABILIDADE DA ORDEM SOCIAL.
O domínio de classe sancionado e defendido pelo Estado assume diferentes formas políticas – desde a REPÚBLICA DEMOCRÁTICA até a DITADURA.
 A forma política assumida pelo domínio de classe tem grande importância para o proletariado – entretanto, em um ambiência socioprodutiva marcada pela propriedade e pela apropriação privada da riqueza socialmente produzida, a forma política vigente permanece como domínio de classe, qualquer que seja ela. 
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Max Weber: algumas reflexões acerca do estado moderno (1864-1920)
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O PROCESSO DE RACIONALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS NA CONCEPÇÃO WEBERIANA
Em termos gerais, é possível afirmar que um movimento geral de racionalização foi responsável pelo desenvolvimento institucional (social, político, econômico, cultural) das sociedades ocidentais modernas.
 O autor que melhor tratou da questão relacionada ao processo de racionalização que caracterizou as sociedades ocidentais modernas foi Max Weber (1864 – 1820).
Segundo Weber, o processo de racionalização que marcou de maneira definitiva as sociedades ocidentais derivou da especialização científica e da diferenciação técnica que as caracterizou a partir de um determinado período de seus desenvolvimentos históricos.
Tal racionalização consistiu na organização da vida através de um processo de crescente de divisão, complexificação e de coordenação das mais diferentes atividades, visando maior eficácia e maior rendimento.
Todavia, o conceito de racionalidade em Weber está sujeito a várias análises, ao mesmo tempo em que vários são os sentidos com que tal conceito se apresenta na obra do pensador.
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DENTRE AS DIVERSAS ANÁLISES SOBRE O CONCEITO DE RACIONALIDADE PRESENTE NA TEORIZAÇÃO WEBERIANA, PODEMOS DESTACAR AQUELA DESENVOLVIDA POR JÜRGEN HABERMAS - DE ACORDO COM ESTE PENSADOR, HAVERIA TRÊS MODELOS DE RACIONALIZAÇÃO DESENVOLVIDOS POR WEBER
QUAIS SERIAM ESTES MODELOS?
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RACIONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE: tal racionalização, identificada à modernização da sociedade, trata da “diferenciação” entre o Estado Moderno e a Economia Capitalista, cujas funções se complementam e se estabilizam. 
RACIONALIZAÇÃO CULTURAL: marcada pela previsibilidade, pelo cálculo e pelo controle organizacional e instrumental dos processos empíricos presentes na ciência moderna, na técnica, na arte e na religião autônomas sob a égide de princípios éticos. 
 RACIONALIZAÇÃO DA PERSONALIDADE: diz respeito à conduta racional da vida, um elo de ligação entre a racionalização cultural e a racionalização social – a racionalização da personalidade significa que se faz necessária uma internalização de idéias e de valores.
“MODELOS” DE RACIONALIZAÇÃO PRESENTES NAS TEORIZAÇÕES WEBERIANAS, SEGUNDO HABERMAS:
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A RACIONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE ENVOLVERIA, NA VERDADE, TRÊS ELEMENTOS...
QUAIS SERIAM ESTES ELEMENTOS?
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A configuração empresarial pelo núcleo organizativo da economia capitalista, processo este que se deu por meio de uma contabilidade racional, pela utilização formal e eficiente da mão-de-obra livre (assalariada), pela aplicação de conhecimentos de natureza técnico-científica e por investimentos orientados para o mercado.
A organização do núcleo do Estado Moderno que se deu através da configuração de um sistema tributário contínuo e centralizado, de um comando militar igualmente centralizado, da monopolização do uso da violência e da implantação de uma administração burocrática. 
 A organização da Economia Capitalista e do Estado Moderno e das relações entre tais instâncias que se realizou (e que continua se realizando) pelo princípio normativo baseado no direito formal. 
ELEMENTOS QUE, SEGUNDO HABERMAS, CONSTITUEM O MOVIMENTO DE RACIONALIZAÇÃO “WEBERIANA” DA SOCIEDADE:
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (I)
O estudo realizado por Weber sobre o Estado é todo ele marcado por considerações de natureza política, histórica e econômica.
Assim, é possível afirmar que existe uma determinação recíproca entre o capitalismo moderno racional e as diversas dimensões da estrutura social, a saber:
Uma ética religiosa racionalizada;
 Uma organização administrativa alicerçada em um cálculo racional;
 Um direito racional-formal;
 O Estado Moderno.
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QUAIS SERIAM AS CARACTERÍSTICAS MAIS SIGNIFICATIVAS, SEGUNDO A TEORIA WEBERIANA, QUE UMA COMUNIDADE POLÍTICA DEVE APRESENTAR PARA SE CONFIGURAR COMO UM ESTADO?
SEGUNDO REINHARD BENDIX, QUATRO SERIAM ESTAS CARACTERÍSTICAS DEFINIDAS POR WEBER.
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Administração e ordem jurídica que se modifiquem exclusivamente por meio de normas.
Administração militar cujas funções sejam desempenhadas em consonância rigorosa com direitos e deveres.
Legitimação da aplicação do Poder da comunidade nos limites do território em consonância com a ordem jurídica.
 Monopólio do poder sobre todas as pessoas que se encontrem nos domínios do território da comunidade política (nele nascidas ou não).
CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS À EXISTÊNCIA DE UMA COMUNIDADE POLÍTICA COMO ESTADO MODERNO, SEGUNDO A TEORIA WEBERIANA:
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (II)
Para Weber, o Estado se define como a estrutura ou agrupamento político que avoca para si, de maneira bem-sucedida, o monopólio do constrangimento físico LEGÍTIMO – além desta característica específica, outros traços seriam importantes na definição do Estado:
 A racionalização do Direito com suas consequências:
 a especialização dos poderes judiciário e legislativo;
 a instituição de uma POLÍCIA, encarregada da garantia da segurança dos indivíduos e da manutenção da ordem pública.
 Uma administração racional alicerçada em regulamentos específicos e explícitos, permitindo-lhe a intervenção nos mais diversos domínios (educação, saúde, economia, cultura);
 A constituição de uma força militar permanente.
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (III)
 Segundo Weber, se só existissem estruturas sociais destituídas da violência, o conceito de Estado desapareceria, subsistindo, no sentido próprio da palavra, a "anarquia“ - A violência não é o único instrumento de que se vale o Estado, mas é seu instrumento especifico.
 O Estado é um agrupamento de DOMÍNIO - o verdadeiro domínio, de acordo com Weber, encontra-se somente no Estado Moderno e se realiza na aplicação diária da Administração que se encontra nas mãos do funcionalismo seja militar ou civil.
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O PODER no estudo da POLÍTICA – a tipologia weberiana do PODER nas relações de mando e de obediência
De acordo com Max Weber, as relações de PODER não se baseiam exclusivamente em fundamentos materiais ou no hábito de obediência dos súditos – haveria, sobretudo um específico fundamento de LEGITIMIDADE, em relação ao qual Weber especificou três tipos puros de PODER: 
O PODER LEGAL
O PODER TRADICIONAL
O PODER CARISMÁTICO
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As formas de legitimação do poder em Weber: O Poder legal, o Poder tradicional e o Poder carismático
 O PODER LEGAL: é específico das sociedades modernas/contemporâneas, fundando-se sobre a crença na legitimidade de ordenamentos jurídicos que estabelecem de forma clara a função do detentor do PODER – neste caso, a fonte do PODER é a LEI, EM RELAÇÃO A QUAL TODOS SE SUBMETEM (OU DEVEM SE SUBMETER) INCLUSIVE OS MANDATÁRIOS;
O PODER TRADICIONAL: ele se funda na crença do caráter sacro do PODER existente “desde sempre” – neste caso, a fonte do PODER é a TRADIÇÃO que impõe vínculos aos próprios conteúdos das ordens que o senhor comunica aos súditos;
O PODER CARISMÁTICO: ele se caracteriza pela dedicação afetiva à pessoa do chefe e ao caráter sacro, à força heróica, ao valor exemplar ou ao poder do espírito e da palavra que o distinguem de maneira especial –neste caso a fonte do PODER diz respeito a TUDO O QUE É NOVO, AO QUE NUNCA EXISTIU, NÃO SUPORTANDO, PORTANTO, VÍNCULOS PREDETERMINADOS; o líder, o chefe carismático é o PROFETA, O GRANDE HERÓI GUERREIRO, O GRANDE DEMAGOGO. 
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 A BUROCRACIA
 O domínio racional legal se expressa através da burocracia - entendida como o governo da razão, a burocracia é o meio através do qual se expressa a lei e sob o qual age o Estado Racional Moderno. A burocracia é, portanto, um produto histórico peculiar e inevitável do desenvolvimento da racionalidade formal no Estado Moderno.
 O objetivo da burocracia é levar adiante a gestão do poder - tal gestão, por sua vez, pode ser mais racional, quando mediada pelo tipo de administração burocrática pura, (administração burocrático-monocrático), que ressalta os aspectos da precisão, disciplina, continuidade, calculabilidade, aperfeiçoamento técnico, enfim, de eficácia. 
 
Em termos históricos concretos, essa instrumentalidade do agir racional com relação aos fins diz respeito à função da força política do Estado moderno desenvolvido no Ocidente.
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CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BUROCRACIA (O TIPO IDEAL):
As atribuições dos empregados são fixas e definidas.
Em termos de comando, os poderes são definidos de forma clara e delimitada e na execução cada um tem tarefas definidas. 
Sistema de mando e de subordinação – as autoridades superiores inspecionam as autoridades inferiores, ao passo que estas só podem apelar.
Os empregados são protegidos por estatutos e mediante garantia de remuneração regular em dinheiro.
Nítida separação entre as atividades burocráticas e as atividades pessoais dos empregados.
A administração é baseada em documentos – só tem existência eficaz o assunto registrado por escrito.
O mando é vertical e descendente, sendo a forma hierárquica mais desenvolvida a MONOCRÁTICA.
O recrutamento para o preenchimento de vagas se dá por meio de provas e diplomas.
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A concepção de Estado no pensamento de Émile Durkheim (1858-1917)
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 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS A RESPEITO DA PROBLEMÁTICA DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM
 Segundo Giddens, a teoria de Durkheim sobre política e sobre o Estado se constitui, talvez, no aspecto mais negligenciado de suas contribuições para a teoria social.
 De acordo com Hüsseyn Kubali, que em 1934 publicou a obra intitulada Lições de Sociologia (reunindo aulas até então inéditas proferidas por Durkheim), a problemática do Estado não havia se constituído em objeto de estudo especial em suas obras publicadas anteriormente, nelas encontrando-se algumas evocações de certas questões referentes a ele – ou seja, referentes ao Estado.
 Os autores que se interessaram pela temática política nas obras de Durkheim, destacam nelas a importância do fenômeno político e de seus laços com a sociedade como um todo – além disso, destacam a autonomia do agente social “Estado” e a existência de uma Sociologia Política. 
 O Estado, segundo estes autores, teria se tornado, para Durkheim, um agente moral, desempenhando funções que iriam muito além da questão política per si – tal deslocamento teórico teria obscurecido uma sociologia política
em Durkheim?
 A sociologia política durkheimiana deve ser entendida não a partir de uma reflexão sobre o Poder ou sobre o Estado, mas sobre a função social do Poder ou do Estado e sua relação com a moral social individual.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - I
 Noções como Estado, grupos políticos, agentes (funcionários do Estado) devem ser compreendidas no contexto da “sociedade política” que deve ser entendida não apenas como uma categoria de análise, mas também como um espaço social resultante da divisão do trabalho.
 Existe uma relação recíproca entre os indivíduos e o Estado, destacando-se o papel que o Estado desempenha e/ou deve desempenhar em relação aos indivíduos.
 Os indivíduos, segundo Durkheim, não agem apenas impulsionados por interesses econômicos (conforme pressupunha a filosofia utilitarista da época) – os homens agiriam também com respeito a uma moral.
 Isto significa dizer que é este “indivíduo moral” que possibilita o Estado de agir em nome do interesse da sociedade, sem contudo ser necessariamente determinado pela “opinião pública”.
 O Estado deveria libertar as “personalidades individuais”, resguardando-as contra as antigas corporações (mas também contra as limitações/restrições à emancipação individual impostas por outros grupos como as famílias, as tradições e os grupos religiosos) por meio da criação e/ou da promoção de grupos secundários de representação que serviriam como intermediários entre o nível individual e o nível do Estado.
 A sociologia política durkheimiana relaciona-se ao papel moral e legal que o Estado deveria desempenhar nas modernas sociedades industriais assentadas na solidariedade orgânica.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - II
 Durkheim preocupou-se com a regulação moral das sociedades industriais, com a anomia e com os conflitos de sua época - A saída para estes estaria no Estado, único depositário da força moral capaz de retirar o indivíduo de seu comportamento puramente utilitarista. 
 Em outros termos, também no capitalismo seria possível esperar um comportamento moral - para isso, duas condições seriam necessárias: 
 Primeiro, a atuação das corporações profissionais na produção da “moral profissional”;
Segundo, a atuação do Estado, impedindo que essas corporações agissem como no passado, obrigando seus membros a determinadas práticas sociais, mas também freando o poder do Estado sobre os indivíduos.
Segundo Durkheim, a relação entre a sociedade política (Estado, governo, funcionários etc.) e o indivíduo é central para a manutenção da sociedade. Concordam ainda que essa relação tem por fundamento a autoridade moral ou simplesmente a moral social - dito de outra forma, Durkheim não imaginou a sociedade política atuando de forma paralela aos indivíduos, mas como uma força moral atuando em relação a eles.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - III
 O Estado, para Durkheim, deve proteger e promover o indivíduo, mesmo que tenha que agir contra grupos sociais aos quais ele (indivíduo) se encontra ligado.
 A ação e a função social do Estado têm seus fundamentos na moral (entendendo-se como moral o conjunto de regras e condutas juridicamente estabelecidas – isto é, na verdade, a definição de “fato moral”).
 Assim, a ação e a função social do Estado em defesa dos indivíduos e o funcionamento do sistema político (voto, os atos no Parlamento, nos partidos, nos conselhos...) devem ser compreendidos com base no fundamento moral e legal de cada sociedade.
 De acordo com Durkheim, o papel a ser desempenhado pela Sociologia ficaria próximo daquele desempenhado pelas ciências políticas alemãs que seria o de conferir suporte científico à moral social para que a sociedade se mantivesse íntegra – para as ciências políticas alemãs, o Estado seria o órgão que deveria cumprir o papel integrador na sociedade.
 Todavia, Durkheim entendia que o papel integrador a ser desempenhado pela Sociologia somente poderia ser cumprido caso a legitimidade e a força do Estado estivessem amparadas pela e se mostrassem coerentes com a moral do grupo que representasse.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - IV
 Em termos conceituais, o que caracteriza a sociedade política é ser referência em matéria de autoridade ou manter em si uma parcela de poder.
 O Estado seria assim um grupo especial encarregado de “representar esta autoridade”, configurando-se como um “órgão eminente” – os indivíduos e o Estado têm deveres recíprocos, tratando-se, portanto, o Estado, de um agente dinâmico definido por sua função social e através da relação que mantém com os membros da sociedade.
 Para Durkheim, a relação entre o Estado e o indivíduo é uma relação de igualdade, já que tanto o Estado como o indivíduo são regidos por regras jurídicas com fundamento moral.
 É a combinação dos fatos jurídicos com os fatos morais que delimita a essência do Estado e sua ação – o indivíduo seria, sob certos aspectos, produto do Estado e o fortalecimento jurídico garante tanto o poder do Estado como a liberdade individual.
 Garantir as liberdades individuais significa desatar os laços corporativos e familiares que pulverizam o corpo social em inúmeras unidades, ameaçando assim a coesão de toda a sociedade.
 Isto, todavia, não significa dizer que os laços sociais que os indivíduos decidem, voluntariamente, manter entre si, devam ser quebrados. 
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - V
 O Estado, para Durkheim, vale muito mais como um “reservatório” moral e jurídico destinado a permitir o “florescimento” do indivíduo, do que como instituição detentora do poder.
 Isto significa dizer que o aparato legal e administrativo, o corpo de funcionários necessário à consecução da função de proteção e promoção do indivíduo seriam sempre bem-vindos – a tarefa que cabe ao Estado é ilimitada, não se tratando apenas de realização de um ideal definido mas da liderança moral.
 O Estado seria, assim, um agente social e não uma instituição congelada e distante da realidade social – é um agente dinâmico, evoluindo tal como a moral social e tal como a própria sociedade.
 Na relação do Estado com o indivíduo, Durkheim reafirma a importância da ação dos grupos intermediários (ou seja, do papel a ser desempenhado pela “moral profissional”) – estes grupos intermediários (grupos profissionais) seriam as categorias definidoras das práticas sociais e das identidades sociais, limitando o poder do Estado, impedindo que o fortalecimento em demasia desta instância possa tiranizar o indivíduo.
 A definição de Estado em Durkheim é dinâmica e sua forma de organização superior corresponde a um determinado nível de desenvolvimento moral e social.
 A ação do Estado vai além do escopo da política, tornando-se o resultado de forças sociais em conflito – somente assim ele se torna o órgão direcionador cujo fundamento é a MORAL.
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Direito e Estado em Hans Kelsen (1881-1973)
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - I
 Segundo Kelsen, a teoria tradicional do Direito e do Estado contrapõe o Estado ao Direito, considerando que o Estado é dotado de personalidade jurídica, é sujeito de deveres e direitos, tendo uma existência que independe da ordem jurídica - para tal teoria, o Estado possuiria uma "missão histórica", criando o Direito (a ordem jurídica objetiva), para, depois, submeter-se a este.
 
 Kelsen critica tal teoria, crendo que aquilo que existe como objeto do conhecimento é apenas o Direito, sendo o Estado uma ordem jurídica, uma ordem coerciva da conduta humana.
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - II
 Segundo Kelsen, a distinção entre Estado e Direito se mostra descabida, bem como a idéia de que o Estado cria o Direito para depois submeter-se a este. 
Para ele, os atos do Estado são "atos postos por indivíduos e atribuídos ao Estado como pessoa jurídica", de modo que a criação do Direito pelo Estado é, em verdade, a criação do
Direito por indivíduos cujos atos são atribuídos ao Estado.
 Assim, segundo Kelsen, não é o Estado que se subordina ao Direito por ele criado, mas sim os indivíduos, cuja conduta é regulada pelo Direito - o que existe como objeto do conhecimento, repita-se, é apenas o Direito, sendo o Estado conceituado como ordem jurídica, de modo que todo Estado é um Estado de Direito.
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - III
 Kelsen identifica o Estado com o Direito, na medida em que concebe o Estado como ordem jurídica - o autor refuta, assim, o dualismo entre o Estado considerado como pessoa jurídica e o Estado considerado como ordem jurídica. 
 Em seu positivismo jurídico, ele concebe o Direito, tanto quanto o Estado, como uma ordem coerciva da conduta humana, não atrelada a qualquer valor moral ou de justiça.
 Deste modo, tanto uma ordem jurídica de caráter democrático, como autocrático são, ambas, ordens jurídicas, são, ambas, Estados de Direito, no sentido de que todo Estado é uma ordem jurídica.

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