Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 3: TRIÂNGULOS Este capítulo é de extrema importância para toda a geometria. Ao longo de nosso estudo estaremos utilizando os fatos aqui estudados para aplicação nos demais capítulos. Definição 3.1: Sejam A, B e C três pontos não colineares. Denominamos de triângulo ABC a união dos segmentos AB , AC e BC e o denotaremos por ABC. A B C Os pontos, A, B e C são os vértices do triângulo e os segmentos AB , AC e BC são os seus lados. Os ângulos CAB ˆ , CBA ˆ e BCA ˆ são os ângulos internos e os suplementos de cada ângulo interno, como ˆ , ˆ e ˆ , na figura acima, são os ângulos externos do triângulo. 3.1. CONGRUÊNCIA DE TRIÂNGULOS Usualmente dizemos que duas figuras planas são congruentes se elas coincidem por superposição. Por exemplo, dois quadrados de lados congruentes são figuras congruentes. Dois círculos de mesmo raio são também figuras congruentes. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 32 Exemplo 1: Suponhamos que os triângulos abaixo coincidem por superposição. Quais os pares de vértices que se sobrepõem? B D C A E F Solução: Estas figuras indicam que devemos colocar A sobre D, C sobre F e B sobre E. Os vértices que coincidem na superposição são denominados correspondentes. Portanto, A e D, B e E e C e F são pares de vértices correspondentes. Dizemos também que os lados que unem vértices correspondentes são correspondentes e que os ângulos cujos vértices estão em correspondência, são correspondentes. Assim, os lados AB e ED , AC e DF , BC e EF , são correspondentes e que  e Dˆ , Bˆ e Ê e Cˆ e Fˆ , são pares de ângulos correspondentes. Desta forma, ao dizermos que dois triângulos são congruentes, devemos informar que vértices devem se corresponder, ou seja, que pares de vértices devem se sobrepor para que os triângulos coincidam. Mais precisamente, temos a seguinte definição. Definição 3.2: Dois triângulos são ditos congruentes se for possível estabelecer uma correspondência entre seus vértices de modo que lados e ângulos correspondentes sejam respectivamente congruentes. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 33 Suponhamos que os seguintes pares de vértices correspondentes, A D B E C F, assegurem a congruência entre os triângulos ABC e DEF abaixo. D A E F B C Desta congruência podemos escrever seis igualdades entre as medidas dos elementos correspondentes nos dois triângulos, a saber: Aˆ = Dˆ ; DEAB ; Bˆ = Eˆ ; DFAC ; Cˆ = Fˆ ; EFBC . Observe que em triângulos congruentes, a ângulos congruentes opõem-se lados congruentes e vice-versa. NOTAÇÃO: Para indicar que os dois triângulos acima são congruentes, escrevemos: ABC = DEF. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 34 Veja as posições das letras dos vértices nessa igualdade. Ela nos informa que A está em correspondência com D, B com E e C com F. Da definição acima, para estabelecermos a congruência entre dois triângulos precisamos verificar seis relações: a congruência de três pares de lados e a congruência de três pares de ângulos. Os teoremas a seguir mostram que é possível comprovar a congruência de dois triângulos com um número menor de informações, por exemplo, comprovando apenas a congruência de três pares de elementos, onde, pelo menos, um dos pares seja constituído por lados. São os chamados casos de congruências de triângulos. 3.2. CASOS DE CONGRUÊNCIA DE TRIÂNGULOS O primeiro caso de congruência de triângulos está contido no seguinte postulado: Postulado 11: (1o caso – LAL) Se dois triângulos têm dois lados congruentes e os ângulos formados por eles respectivamente congruentes, então os triângulos são congruentes. D A E F B C AB = DE. Hipótese: BC = EF Tese: ABC = DEF Bˆ = Eˆ Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 35 É fácil ver que se fizermos coincidir o ângulo Bˆ com seu côngruo Eˆ , o lado BA coincidirá com seu côngruo ED e assim o vértice A coincidirá com o vértice D. Analogamente, o lado BC coincidirá com EF e o vértice C coincidirá com o vértice F. Tendo os três vértices coincidentes os triângulos são congruentes. Isto não constitui uma demonstração. Esse argumento é apenas uma tentativa de convencer o leitor sobre a veracidade do postulado. Teorema 3.1: ( 2o caso – ALA ) Se dois triângulos têm um lado congruente compreendido entre dois ângulos respectivamente congruentes, então os triângulos são congruentes. D A P E F B C BC = EF Hipótese: Bˆ = Eˆ Tese: ABC = DEF. Cˆ = Fˆ Prova: Comparando-se as medidas dos segmentos AB e DE , uma e só uma dastrês situações abaixo poderá ocorrer: i) ou AB > DE ii) ou AB < DE iii) ou AB = DE. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 36 Se (i) é verdadeira, isto é, se AB > DE, podemos considerar um ponto P do segmento AB de modo que BP = ED. Pelo Postulado 11, o PBC = DEF. Daí, o BCP ˆ = Fˆ . Mas por hipótese, BCA ˆ = Fˆ . Logo BCP ˆ = BCA ˆ , o que constitui um absurdo, já que a semirreta CP sendo interior ao ângulo BCA ˆ tem-se BCP ˆ < BCA ˆ . A hipótese de que AB < DE é também absurda, e a deixamos como exercício. Do exposto, concluímos que AB = DE e novamente pelo Postulado 11, o ABC = DEF e o teorema fica provado. Definição 3.3: Um ponto C chama-se ponto médio do segmento AB , se 1o) C AB ; 2o) AC = CB. A C B A Exercício 1: Na figura ao lado, AD BC e D é o ponto médio de BC . Demonstrar que yx ˆˆ . x y B D C Solução: Observe que o ADB = ADC (LAL) e assim DCADBA ˆˆ . Finalmente, yx ˆˆ por serem suplementos de ângulos congruentes. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 37 Exercício 2: Na figura abaixo, B . Se ABP ˆ = CBP ˆ , BP PA e BP PC , demonstrar que BA = BC e PA = PC. B P C A Solução: Observe que o BPA = BPC (ALA). Definição 3.4: Chama-se mediana de um triângulo, ao segmento que une um vértice ao ponto médio do lado oposto. A P N Q B M C Se BM = MC, AM é mediana; Se AN = NC, BN é mediana; Se AP = PB, CP é mediana. Demonstraremos no Capítulo 4, que as três medianas de um triângulo interceptam-se num mesmo ponto. Além disso, a distância deste ponto a cada vértice é igual a 2/3 da mediana correspondente, isto é, QA = 3 2 AM, QB = 3 2 BN e QC = 3 2 CP. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 38 Definição 3.5: Sejam ABC um triângulo e D um ponto da reta que contém o lado BC . i) se a semirreta AD é bissetriz do ângulo Â, o segmento AD chama-se a bissetriz interna do triângulo relativa ao lado BC . ii) se AD for perpendicular à reta que contém o lado BC , o segmento AD chama-se altura do triângulo relativa ao lado BC . A Bissetriz interna, se BÂD = DÂC. B D C A Altura B D C A Altura D B C Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 39 Demonstraremos no Capítulo 4, que as três bissetrizes internas de um triângulo interceptam-se num mesmo ponto, o qual é o centro da circunferência inscrita no triângulo. Demonstraremos também que as retas que contêm as três alturas concorrem num mesmo ponto que pode ser interior ou exterior ao triângulo. Definição 3.6: Um triângulo que tem dois lados congruentes é denominado isósceles. O terceiro lado é chamado base do triângulo isósceles. O ângulo formado pelos lados congruentes é denominado ângulo do vértice. Os outros dois ângulos são ditos ângulos da base. A AB = AC; BC é a base do triângulo;  é o ângulo do vértice; Bˆ e Cˆ são os ângulos da base. B C Definição 3.7: Um triângulo cujos lados são congruentes chama-se eqüilátero. A AB = AC = BC B C Evidentemente, todo triângulo eqüilátero é também isósceles. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 40 Definição 3.8: Um triângulo que possui os três lados desiguais chama-se escaleno. Teorema 3.2: Num triângulo isósceles, a bissetriz do ângulo do vértice é também mediana e altura. B BA = BC; Hipótese: CBDDBA ˆˆ . i) AD = DC; Tese: ii) BD AC . A D C Prova: O ABD = CBD(LAL), pois DBCDBA ˆˆ ( por hipótese ) BA = BC ( por hipótese ) BD é lado comum. Portanto, i) AD = DC (lados opostos a ângulos congruentes em triângulos congruentes) e assim BD é mediana. ii) CDBADB ˆˆ e assim Dˆ = 90o. Isso mostra que BD é altura. Corolário 1: Em todo triângulo isósceles, os ângulos da base são congruentes. De fato, na figura anterior, os ângulos da base são ângulos opostos a lados congruentes em triângulos congruentes. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 41 Corolário 2: Todo triângulo eqüilátero possui os três ângulos congruentes. Isto é evidente, em virtude do Corolário 1. Um triângulo cujos ângulos são congruentes é dito eqüiângulo. Do Corolário 2, deduz-se que todo triângulo eqüilátero é também eqüiângulo e do Corolário 1, que todo triângulo eqüiângulo é eqüilátero. Teorema 3.3: (Teorema recíproco do teorema 3.2) Se dois ângulos de um triângulo são congruentes, então o triângulo é isósceles. A A B C C B Prova: As figuras acima são duas cópias do mesmo triângulo: uma da frente e outra do verso. Olhemos agora para os triângulos ABC e ACD. O ângulo Bˆ do 1o triângulo é congruente ao ângulo Cˆ do 2o e o ângulo Cˆ do 1o é congruente ao ângulo Bˆ do 2o. Além do mais, como BC = CB, segue-se que o ABC = ACB (ALA). Portanto, AB = AC (lados opostos a ângulos congruentes em triângulos congruentes), o que prova que o ABC é isósceles. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 42 Teorema 3.4: ( 3o caso – LLL ) Se dois triângulos têm os três lados respectivamente congruentes, então os triângulos são congruentes. D A E F B C P AB = DE Hipótese: AC = DF Tese: ABC = DEF BC = EF Prova: Consideremos a semirreta BC e no semiplano que não contém o ponto A, tracemos, com vértice em B, um ângulo congruente ao ângulo E, tendo a semirreta BC como um de seus lados. Sobre o outro lado deste ângulo marquemos um ponto P de modo que BP = DE e liguemos P a C. Desta forma o PBC = DEF (LAL) e assim PC = DF. Resta provar que o ABC = PBC. Para isso tracemos o segmento AP . Assim os triângulos PAB e PAC são isósceles. Logo, BÂP = APB ˆ e PÂC = CPA ˆ e assim BÂC = CPB ˆ . Por conseguinte, ABC = PBC (LAL). Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 43 Concluímos, pois que: ABC = DEF. Exercício 3: Na figura abaixo, se MK = MQ, ML = MP e KL = PQ, achar o ângulo congruente com o LKM ˆ . P K M L Q Solução: Como o KML = QMP (LLL), PQMLKM ˆˆ pois os mesmos estão opostos aos lados congruentes ML e MP respectivamente. Exercício 4: Se na figura anterior, MK = MQ, QK ˆˆ , MKPM e MQLM , demonstre que PL ˆˆ . Solução: Observe que o KML = QMP (ALA), daí PL ˆˆ . Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 44 Definição 3.9: Chama-se mediatriz de um segmento a reta perpendicular ao mesmo em seu ponto médio. r Mediatriz AM = MB e r AB . A M B Teorema 3.5: Todo ponto da mediatriz de um segmento é eqüidistante dos extremos desse segmento. Hipótese: A reta r é a mediatriz do segmento AB . Tese: PA = PB. r P . A M B Prova: Seja M o ponto médio do segmento AB , isto é, MA = MB. Seja P um ponto qualquer da mediatriz de AB diferente de M. Traçando-se os segmentos PA e PB, concluímos que PMA = PMB (LAL), pois, AMP ˆ = BMP ˆ = 90o e PM é lado comum. Portanto PA = PB. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 45 Teorema 3.6: (Teorema recíproco) Se um ponto é eqüidistante dos extremos de um segmento, então ele pertence a mediatriz do segmento. P A M B Prova: Exercício. 3.3. DESIGUALDADES GEOMÉTRICAS Até o momento, tratamos apenas da congruência de segmentos, de ângulos, e de triângulos. Cuidaremos agora de analisar condições sobre as quais podemos afirmar quando um lado de um triângulo é maior do que ou menor do que outro ou quando um ângulo é maior do que ou menor do que outro. No triângulo ABC abaixo, os ângulos internos  e Bˆ são ditos não adjacentes ao ângulo externo FCA ˆ . E A D B C F Como já sabemos do Capítulo 2, o Cˆ é adjacente ao FCA ˆ . Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 46 Analogamente,os ângulos internos  e Cˆ são não adjacentes ao ângulo externo DBA ˆ e os ângulos Bˆ e Cˆ são não adjacentes ao ângulo EÂB. O próximo teorema faz uma comparação entre um ângulo externo de um triângulo e os ângulos internos não adjacentes ao mesmo. Teorema 3.7: (Teorema do ângulo externo) Todo ângulo externo de um triângulo é maior que cada um dos ângulos internos que não lhes são adjacentes. A E M B C F G Hipótese: FCA ˆ é um ângulo externo do ABC. Tese: i) CBAFCA ˆˆ . ii) FCA ˆ > Â. Prova: Seja M o ponto médio do lado AC . Na semirreta BM marquemos um ponto E tal que BM = ME. Desta forma o AMB = CME (LAL) Consequentemente,  = ECA ˆ . Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 47 Como FCA ˆ = ECA ˆ + FCE ˆ =  + FCE ˆ , segue-se que FCA ˆ > Â. Repita este argumento, em outra figura conveniente, para provar que FCA ˆ > CBA ˆ Corolário 1: Se um triângulo tem um ângulo reto, então os demais ângulos são agudos. A B C Hipótese: Cˆ = 90o; Tese:  < 90o Bˆ < 90o Prova: Se Cˆ = 90o, então o ângulo esterno ˆ = 90o. Pelo teorema anterior,  < ˆ e ˆˆ B , isto é,  < 90o e Bˆ < 90o . Definição 3.10: Um triângulo que possui um ângulo reto é denominado triângulo retângulo. O lado oposto ao ângulo reto é chamado hipotenusa e os outros dois lados são denominados catetos. hipotenusa cateto ⊡ cateto Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 48 Corolário 2: Por um ponto não pertencente a uma reta, passa uma única reta perpendicular a reta dada. P P r r A B Q Hipótese: P r; Tese: Existe uma única reta que passa por P e é perpendicular a reta r. Prova: Existência: Sejam r uma reta e P um ponto fora dela. Com um compasso faça centro em P e trace um arco que intercepta r em dois pontos A e B. Com centros em A e em B e mesma abertura trace dois arcos, no semiplano que não contém P, que se interceptarão em Q. A reta PQ é perpendicular à reta r. (Por quê?) Unicidade: A reta perpendicular a r é única, pois se existissem duas perpendiculares a reta r por P, teríamos então formado com a reta r um triângulo com dois ângulos retos, o que é um absurdo pelo Corolário 1 acima. Usaremos a seguir, o teorema do ângulo externo para provarmos mais um caso (4o caso) de congruência de triângulos. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 49 Teorema 3.8: (4o caso – LAA) Se dois triângulos têm um lado congruente, o ângulo oposto e um ângulo adjacente a este lado respectivamente congruentes, então os triângulos são congruentes. D P A E F B C BC = EF Hipótese:  = Dˆ Tese: ABC = DEF. Bˆ = Eˆ Prova: Comparando-se as medidas dos segmentos AB e DE podemos afirmar que: i) ou AB < DE; ii) ou AB > DE; iii) ou AB = DE. Suponhamos que (i) é verdadeira, isto é, que AB < DE. Seja P um ponto da semirreta BA , tal que BP = ED. Então o PBC = DEF (LAL). Portanto, Pˆ = Dˆ e  = Dˆ (por hipótese) segue-se que AP ˆˆ . Mas isto é um absurdo, pois pelo teorema do ângulo externo, aplicado ao PAC,  > Pˆ , donde se conclui que (i) é falsa. De maneira análoga, pode-se demonstrar que (ii) é falsa. Do exposto, concluímos que AB = DE e pelo Postulado 11, o ABC = DEF. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 50 3.4. CONGRUÊNCIA DE TRIÂNGULOS RETÂNGULOS Evidentemente, os quatro casos de congruência de triângulos que acabamos de estudar aplicam-se a qualquer tipo de triângulo, em particular aos triângulos retângulos. O teorema seguinte constitui um caso de congruência, exclusivo dos triângulos retângulos. Teorema 3.9: (LLA) Se dois triângulos retângulos possuem a hipotenusa e um cateto respectivamente congruentes então os triângulos são congruentes. A B C A’ B' C'D AB = A'B' Hipótese: AC = A'C' Tese: ABC = A'B'C' 'ˆˆ CC Prova: Sobre a semirreta ''CB tomemos um ponto D tal que BC = C'D. Assim o ABC = A'C'D (LAL) Segue-se que, AB = A'D. Por outro lado, A'B' = AB = A'D e assim o triângulo A'B'D é isósceles e desta forma DB ˆ'ˆ . Portanto, o Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 51 A'B'C' = A’C’D’ (LAA). Do exposto, conclui-se que o ABC = A’B’C’. Teorema 3.10: Se dois lados de um triângulo não são congruentes, então os ângulos opostos a estes lados também não são congruentes, e ao maior lado opõe-se o maior ângulo. Prova: É evidente que os ângulos opostos aos lados não congruentes também são não congruentes, pois caso contrário, os lados opostos a esses ângulos seriam congruentes (Teo. 3.3) o que contraria a hipótese. Para provar a segunda parte do teorema, consideremos um triângulo ABC no qual supomos que AB > AC. Vamos mostrar que BC ˆˆ . Seja D um ponto da semirreta AC tal que AD = AB. Então o DDBA ˆˆ . A B C D Como DBCCBADBA ˆˆˆ , segue-se que ,ˆˆ CBADBA isto é, .ˆˆ CBAD Pelo teorema do ângulo externo, .ˆˆ BCAD E assim .ˆˆˆ BCADCBA Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 52 Portanto, .ˆˆ BCACBA Teorema 3.11: (Teorema recíproco) Se dois ângulos de um triângulo não são congruentes, então os lados opostos a estes ângulos também não são congruentes e, ao maior ângulo opõe-se o maior lado. Prova: Se os lados opostos a esses ângulos fossem congruentes o triângulo seria isósceles e os ângulos opostos a esses lados seriam congruentes o que contraria a hipótese. Para provar a segunda parte, consideremos um ABC no qual BC ˆˆ . Devemos provar que AB > AC. A . B C Observemos que há três possibilidades para as medidas de AB e AC : i) ou AB < AC; ii) ou AB = AC; iii) ou AB > AC. Se (i) é verdadeira, pelo teorema anterior BC ˆˆ o que contradiz a hipótese. Se (ii) é válida tem-se BC ˆˆ o que contradiz a hipótese. Portanto, deve ocorrer AB > AC como queríamos. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 53 Exercício 5: Na figura ao lado, D DBA ˆ > CBD ˆ . Demonstrar que AD > BD e que AD > AB. A B C Solução: ACBDDBA ˆˆˆ ADBA ˆˆ AD > BD. Por outro lado, DBA ˆ > CBD ˆ > Dˆ DDBA ˆˆ AD > AB. Exercício 6: Na figura abaixo, AB e CD se interceptam em E, AC ˆˆ e BD ˆˆ . Demonstrar que AB > CD. B D E C A Solução: AC ˆˆ EA > EC ( i ) BD ˆˆ EB > ED ( ii ) Somando-se ( i ) e ( ii ) obtém-se: EA + EB > EC + ED, ou seja, AB > CD. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 54 Teorema 3.12: O segmento de menor comprimento que une um ponto a uma reta que não o contém, é o segmento perpendicular a reta traçado por este ponto. P r Q S Prova: Sejam r uma reta e P um ponto não pertencente a mesma. Seja Q um ponto de r tal que PQ r. Se S é qualquer outro ponto de r então no PQS, o ângulo Sˆ é agudo. Assim QS ˆˆ = 90o. Pelo teorema 3.11, PQ < PS. Definição 3.11: O comprimento do segmento PQ é denominado a distância do ponto P a reta r. O teorema a seguir nos informa que a menor distância entre dois pontos é o comprimento do segmento de reta que os une. Teorema 3.13: Em todo triângulo, a soma dos comprimentos de dois lados quaisquer é maior que o comprimento do terceiro lado. D A B C Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 55 i) BC < BA + AC Tese: ii) BA < AC + CB iii) AC < AB + BC Prova: Seja D um ponto da semirreta BA , com A entre B e D, tal que AD = AC. Como o ACD é isósceles e DDCA ˆˆ . Como DCADCB ˆˆ , então DDCB ˆˆ . Pelo teorema 3.11, aplicado ao BCD, tem-se BD > BC, Ou seja, BA + AD > BC. Isto é, BA + AC > BC o que prova a desigualdade (i). A prova das demais desigualdades é análoga e deixamos como exercício. O teorema acima é a única restrição para que se possa construir um triângulo com os comprimentos dos lados preestabelecidos. Por exemplo, é impossível construir um triângulo de lados 4 cm, 5 cm e 10 cm já que 4 + 5 < 10. Como aplicação desse teorema podemos resolver o seguinte problema. Aplicação: Se A e B são dois pontos não pertencentes a uma reta, determinar um ponto P sobre a mesma, de modo que a soma AP + PB, seja a menor possível. 1o caso: Suponhamos que A e B estejam em semiplanos distintos relativamente à reta dada r. A r P BP' Neste caso, o segmento AB intercepta r num ponto P (Post. 6). Este ponto é a solução do problema. De fato, se P' é qualquer outro ponto da reta r, então pelo Teorema 3.13, Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 56 AP' + P'B > AB = AP + PB. 2o caso: Suponhamos agora que A e B estejam situados em um mesmo semiplano determinado por r. Seja B' o ponto simétrico de B relativamente a reta dada r, isto é, a reta r é mediatriz do segmento 'BB . A B r P' P B' O ponto P, de interseção da reta r com o segmento 'AB , é a solução do problema. De fato, se P' é qualquer outro ponto da reta r, então P'B = P'B'. Conseqüentemente, teremos: AP' + P'B = AP' + P'B'. Por outro lado, pelo Teorema 3.13, AP + PB' = AB’ < AP' + P'B'. Daí, AP + PB < AP' + P'B. O problema que acabamos de resolver aparece na Física, quando se tenta determinar um ponto P, sobre um espelho plano, onde deve ocorrer a reflexão de um raio de luz que vai de um ponto A ao ponto B, refletindo-se no espelho. Situação análoga ocorre quando se tenta determinar um ponto onde uma bola de bilhar deve chocar-se com a lateral da Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 57 mesa, para ir do ponto A, tocar na lateral e atingir uma bola que se encontra no ponto B. B' 3.5. CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS Nas construções geométricas dois instrumentos são de grande utilidade: a régua não numerada e o compasso. O compasso é usado para desenhar circunferências ou partes de circunferências chamadas arcos. Uma circunferência é o conjunto de todos os pontos de um plano que estão a mesma distância de um ponto dado neste plano. A distância comum é chamada raio da circunferência e o ponto dado é seu centro. Os arcos desenhados com o compasso são usados para localizar pontos os quais determinarão retas que serão desenhadas com a régua. A B Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 58 Nesta seção, aprenderemos como usar a régua e o compasso para construir algumas figuras simples. Construção 1: Construir um segmento de reta de comprimento igual a um segmento dado. Solução: Seja AB o segmento de reta dado. A B 1o) Ajuste o raio do compasso para ter comprimento igual a AB, colocando a ponta de metal no ponto A e a ponta de lápis em B. 2o) Desenhe uma reta r e marque sobre ela um ponto C. Com centro em C e raio AB desenhe um arco que intercepta r em D. Assim CD = AB. r C D Construção 2: Construir um ângulo de medida igual a um ângulo dado. E A D Solução: Seja  o ângulo dado. 1o) Desenhe uma semirreta BC que será um dos lados do ângulo a ser construído. G B F C Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 59 2o) Com cento do compasso em A, desenhe um arco que intercepta os lados do ângulo  nos pontos D e E. 3o) Com centro em B e mesmo raio desenhe um arco que intercepta BC em F. 4o) Ajuste agora o raio do compasso para a distância entre os pontos D e E. Com este raio e centro em F desenhe um arco que interceptará o arco anterior no ponto G. 5o) Desenhe a semi-reta BG . Temos AB ˆˆ (Por quê?) Construção 3: Construir um triângulo congruente a um triângulo dado. B A C Solução: Seja ABC o triângulo dado. 1o) Desenhe uma reta r e considere sobre ela um segmento DE de comprimento igual a AC (Construção 1). F r D E 2o) Ajuste o raio do compasso para o comprimento AB. Com centro em D e com este raio trace um arco. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 60 3o) Ajuste agora o raio do compasso para o comprimento BC. Com este raio e centro em E trace outro arco de modo a interceptar o arco anterior no ponto F. 4o) Com a régua trace os segmentos DF e EF . O ABC = DFE (Por quê?). Construção 4: Construir a mediatriz de um segmento. C A B D Solução: Seja AB o segmento dado. 1o) Com A e B como centros, desenhe arcos que tenham o mesmo raio e que se interceptam em dois outros pontos, C e D. 2o) A reta CD é a mediatriz de AB (Por que ?). Construção 5: Construir a bissetriz de um ângulo dado. B D A C Solução: Seja  o ângulo dado. 1o) Com centro em A, desenhe um arco que intercepta os lados do ângulo  nos pontos B e C. Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama61 2o) Com B e C como centros, desenhe dois arcos que tenham o mesmo raio e que se interceptam num ponto D. 3o) A semi-reta AD é a bissetriz do  (Por quê?). Construção 6: Construir um triângulo conhecendo-se dois lados e o ângulo oposto a um deles. Solução: Sejam AB e BC os lados dados e  o ângulo dado. A B B C A 1o) Desenhe uma reta r e considere sobre ela um segmento ''BA de comprimento igual a AB (Construção 1). 2o) Construa um ângulo Â' congruente com o  tendo as semirreta ''BA e DA' como lados (Construção 2). 3o) Com centro do compasso em B' e abertura igual a BC trace um arco que intercepta o lado DA' em C e em C'. Os triângulos A'B'C e A'B'C' são as soluções do problema. C D C' A' B' Cap. 3: Triângulos Prof. Sinvaldo Gama 62 Observe que o raio BC poderá ser tangente ao lado DA' , e neste caso o problema tem apenas uma solução. Observe também que este problema nem sempre tem solução. A arco de raio BC poderá não cortar a semirreta A’D, se BC for suficientemente pequeno. A construção acima nos mostra porque a correspondência LLA não estabelece necessariamente uma congruência entre triângulos.
Compartilhar