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Psicologia Hospitalar

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Prévia do material em texto

Psicologia 
Hospitalar
Teoria e Prática 
2ª edição revista e ampliada
Valdemar Augusto Angerami – Camon
(organizador)
Fernanda Alves Rodrigues Trucharte
Rosa Berger Knijnik 
Ricardo Werner Sebastiani
Austrália • Brasil • Japão • Coreia • México • Cingapura • Espanha • Reino Unido • Estados Unidos
 
Sumário
 
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XI
1 O Psicólogo no Hospital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
 Valdemar Augusto Angerami – Camon
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
A Despersonalização do Paciente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Psicoterapia e Psicologia Hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
O Setting Terapêutico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
A Realidade Institucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
A Psicologia Hospitalar – Objetivos e Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2 De Como o Saber Também é Amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
 Valdemar Augusto Angerami – Camon
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Doces Reminiscências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Outros Tempos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3 Atendimento Psicológico no Centro de Terapia Intensiva . . . . . . . . . 21
 Ricardo Werner Sebastiani
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Desmistificando o CTI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Objetivos Gerais do Acompanhamento Psicológico no CTI . . . . . . . . . . . . 24
Fatores Pessoais Decorrentes da Intervenção Cirúrgica como Possíveis 
Geradores de Complicações na Evolução do Pós-Operatório . . . . . . . 27
Psicologia Hospitalar
X
Atendimento ao Paciente em Pós-Operatório Imediato . . . . . . . . . . . . . . . 28
Reação à Cirurgia: Letargia e Apatia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Agressividade nos Pacientes Cirúrgicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Depressões no Paciente Pós-Cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Depressões no Hospital Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Reações de Perda no Paciente Pós-Cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Atendimento Psicológico ao Paciente Não Cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Fatores Ambientais como Causadores ou Agravantes do Quadro 
Psico-Orgânico do Paciente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Fatores Orgânicos como Reflexos Decorrentes do Período de Internação . 42
O Paciente Ansioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
O Paciente Agressivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
O Paciente com Agressividade Latente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Pacientes Suicidas no CTI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
O Paciente com Alterações do Pensamento e Senso-Percepção: 
Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Distúrbios Psicopatológicos e de Comportamento no CTI . . . . . . . . . . . . . 55
O Paciente em Coma no CTI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Roteiro Complementar de Estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4 Estudos Psicológicos do Puerpério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
 Fernanda Alves Rodrigues Trucharte e Rosa Berger Knijnik
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Fundamentação Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Casos Ilustrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5 Pacientes Terminais: Um Breve Esboço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
 Valdemar Augusto Angerami – Camon
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
A Problemática Social do Paciente Terminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Alguns Dados Relacionados com a Vivência do Paciente Terminal . . . . . . 99
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
0 Psicólogo 
no Hospital
 
Valdemar Augusto Angerami – Camon
Introdução
A intenção deste trabalho é levantar alguns pontos de reflexão sobre o significado da Psicologia no Hospital e a atuação do psicólogo nesse contexto. A evidência que me 
ocorre inicialmente é que, apesar dos inúmeros trabalhos e artigos que hoje norteiam a 
prática do psicólogo no hospital, ainda assim é notório o fato de que apenas tartamudeamos 
as primeiras palavras nesse contexto. A própria dinâmica da existência parece encontrar 
no contexto hospitalar um novo parâmetro de sua ocorrência, dando-lhe uma dimensão 
na qual questões que envolvem a doença, a morte e a própria perspectiva existencial apre-
sentam um enfeixamento inerentemente peculiar.
A Psicologia, ao ser inserida no hospital, reviu seus próprios postulados adquirindo con-
ceitos e questionamentos que fizeram dela um novo escoramento na busca da compreensão 
da existência humana. Assim, por exemplo, não mais é possível pensar-se em um curso 
de graduação em psicologia no qual questões como morte, saúde pública, hospitalização e 
outras temáticas, que em princípio eram pertinentes apenas à Psicologia Hospitalar, não 
tenham prioridade ou não sejam exigidas como necessárias para a formação do psicólogo. 
O atual quadro da formação do psicólogo difere do que colocamos em texto anterior1 de 
1984, quando afirmamos que a atuação do psicólogo no contexto hospitalar, ao menos no Brasil, é 
uma das temáticas mais revestidas de polêmicas quando se evocam discussões sobre o papel da Psicologia 
 1 - Angerami, V.A. Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. São Paulo: Traço, 1984.
1
Psicologia Hospitalar
2
na realidade institucional. A formação acadêmica do psicólogo é falha em relação aos subsídios teóricos que 
possam embasá-lo na prática institucional. Essa formação acadêmica, sedimentada em outros modelos de 
atuação, não provê o instrumental teórico necessário para uma atuação nessa realidade. E praticamente 
prevendo uma mudança nesse quadro, o mesmo texto coloca que apenas recentemente a 
práticainstitucional mereceu preocupação dos responsáveis pelos programas acadêmicos 
em Psicologia.2 É dentro dessa perspectiva que se abre ao psicólogo no contexto hospitalar 
que iremos tecer nossas reflexões na busca de um melhor dimensionamento dessa prática. 
É na fé inquebrantável que o psicólogo adquire cada vez com mais nitidez um espaço no 
hospital a partir de sua compreensão da condição humana. Iremos caminhar por trilhas 
e caminhos que nos conduzirão a novos horizontes profissionais.
A Despersonalização do Paciente
Ao ser hospitalizado, o paciente sofre um processo de total despersonalização. Deixa de ter 
o seu próprio nome e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma de-
terminada patologia. O estigma de doente – paciente até mesmo no sentido de sua própria 
passividade perante os novos fatos e perspectivas existenciais – irá fazer com que exista a 
necessidade premente de uma total reformulação até mesmo de seus valores e conceitos de 
homem, mundo e relação interpessoal em suas formas conhecidas. Deixa de ter significado 
próprio para significar a partir de diagnósticos realizados sobre sua patologia. Berscheid e 
Walster3 destacam que fundamentalmente quando dizemos que sabemos qual a atitude de uma pessoa, 
queremos dizer que temos alguns dados, a partir do comportamento passado da pessoa, que nos permitem pre-
dizer seu comportamento em determinadas situações.4 Tal afirmação, utilizada para embasar muitos 
princípios teóricos em psicologia, perde sua força e autenticidade ao ser confrontada com o 
comportamento de uma determinada pessoa em uma situação de hospitalização. Embora sem 
querer negar que o passado de uma determinada pessoa irá influir não apenas em sua conduta 
como até mesmo em sua recuperação física, ainda assim não cometemos erro ao afirmar que 
a situação de hospitalização será algo único como vivência, não havendo a possibilidade de 
previsão anterior à sua própria ocorrência. Goffman5 coloca que o estigma é um sinal, um 
signo utilizado pela sociedade para discriminar os indivíduos portadores de determinadas 
 2 - Berscheid, E.; Walster, E.H. Atração Interpessoal. São Paulo: Blücher, 1973.
 3 - Ibid. Op. cit.
 4 - Idem, Op. cit..
 5 - Goffman, E. Estigma. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
O Psicólogo no Hospital
3
características. E o simples fato de se tornar “hospitalizada” faz com que a pessoa adquira os 
signos que irão enquadrá-la numa nova performance existencial, sendo que até mesmo seus 
vínculos interpessoais passarão a existir a partir desse novo signo. Seu espaço vital não é mais 
algo que dependa de seu processo de escolha. Seus hábitos anteriores terão de se transformar 
diante da realidade da hospitalização e da doença. Se essa doença for algo que a envolva apenas 
temporariamente, haverá a possibilidade de uma nova reestruturação existencial quando do 
restabelecimento orgânico, fato que, ao contrário das doenças crônicas, implica necessariamente 
uma total reestruturação vital. Sebastiani6 explica que “a pessoa deixa de ser o José ou Ana 
etc. e passa a ser o ‘21A’ ou o ‘politraumatizado de leito 4’, ou ainda ‘a fratura de bacia de 6o 
andar’”.7 E, tentando aprofundar ainda mais tais colocações, afirma que “essa característica, 
que felizmente notamos em grande parte das rotinas hospitalares, tem contribuído muito para 
ausentar a pessoa de seu processo de tratamento, exacerbando o papel de ‘paciente’”.8
A despersonalização do paciente deriva ainda da fragmentação ocorrida a partir dos 
diagnósticos cada vez mais específicos que, além de não abordarem a pessoa em sua am-
plitude existencial, fazem com que apenas um determinado sintoma exista naquela vida. 
Apesar disso, assistimos cada vez mais ao surgimento de novas especialidades que reduzem 
o espaço vital de uma determinada pessoa a um mero determinismo das implicações de 
certos diagnósticos, que trazem em seu bojo signos, estigmas e preconceitos. Tal carga de 
abordagem e confrontos teórico-práticos faz da pessoa portadora de determinadas pato-
logias alguém que, além da própria patologia, necessitará de cuidados complementares 
para livrar-se de tais estigmas e signos. A especialização clínica, na maioria das vezes, ao 
aprofundar e segmentar o diagnóstico, deixa de levar em conta até mesmo as implicações 
dessa patologia em outros órgãos e membros desse doente, que, embora possam não apre-
sentar sinais evidentes de deterioração e comprometimento orgânico, estarão sujeitos a um 
sem-número de alterações.
A situação de hospitalização passa a ser determinante de muitas situações que serão 
consideradas invasivas e abusivas na medida em que não se respeitam os limites e imposições 
dessa pessoa hospitalizada. E, embora esteja vivendo um total processo de despersonali-
zação, ainda assim algumas práticas são consideradas ainda mais agressivas pela maneira 
como são conduzidas no âmbito hospitalar. Assim, será visto como invasivo o fato de a 
 6 - Sebastiani, W.R. Atendimento Psicológico e Ortopedia. Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto 
Hospitalar, Angerami, V.A. (org.). São Paulo: Traço, 1984.
 7 - Ibid. Op. cit.
 8 - Ibid. Op. cit.
Psicologia Hospitalar
4
enfermeira acordar o paciente para aplicar injeção, ou a atendente que interrompe uma 
determinada atividade para servir-lhe as refeições. Tudo passa a ser invasivo. Tudo passa 
a ser algo abusivo diante de sua necessidade de aceitação desse processo. E até mesmo a 
presença do psicólogo, que, se não se efetivar cercada de alguns cuidados e respeito à própria 
deliberação do doente, implica ser mais um dos estímulos aversivos e invasivos existentes 
no contexto hospitalar, e, em vez de propiciar alívio ao momento da hospitalização, estará 
contribuindo também para o aumento de vetores que tornam o processo de hospitalização 
extremamente penoso e difícil de ser vivido. O hospital, o processo de hospitalização e o 
tratamento inerente que visa ao restabelecimento, salvo aqueles casos de doenças crônicas 
e degenerativas, não fazem parte dos projetos existenciais da maioria das pessoas. Nesse 
sentido, toda e qualquer invasão no espaço vital é algo aversivo que, além do caráter abu-
sivo, apresenta ainda componentes de dor e desalento. E até mesmo evidencia que muitos 
processos de hospitalização têm o reequilíbrio orgânico prejudicado por causa do processo 
de despersonalização do doente, que, ao sentir sua desqualificação existencial, pode conco-
mitantemente, muitas vezes, abandonar seu processo interior de cura orgânica e até mesmo 
emocional. Ao trabalhar no sentido de estancar os processos de despersonalização no âmbito 
hospitalar, o psicólogo estará ajudando na humanização do hospital, pois seguramente esse 
processo é um dos maiores aniquiladores da dignidade existencial da pessoa hospitaliza-
da. Um trabalho de reflexão que envolva toda a equipe de saúde é uma das necessidades 
mais prementes para fazer com que o hospital perca seu caráter meramente curativo para 
transformar-se em uma instituição que trabalhe não apenas com a reabilitação orgânica, 
mas também com o restabelecimento da dignidade humana.
Psicoterapia e Psicologia Hospitalar
A Psicologia Hospitalar, assim como a Psicoterapia, tem seu instrumental teórico de atua-
ção calcado na área clínica.9 Apesar dessa convergência, haverá pontos de divergência que 
mostram os limites de atuação do psicólogo no contexto hospitalar, bem como questões 
que tornam totalmente inadequada a intenção de muitos profissionais da área de tentarem 
 9 - Existem muitos profissionais da área que defendem que a Psicologia Hospitalar, mesmo tendo como referencial 
os princípios da área clínica, seja considerada uma nova ramificação da Psicologia. Assim, além da clássica 
divisão em Clínica, Educacional e Organizacional, haveria também uma quarta ramificação: a Psicologia 
Hospitalar. E embora seja uma questão que envolva bastante celeuma quandode seu aprofundamento, evi-
dencia-se também a necessidade de uma nova ótica sobre a Psicologia Hospitalar, seja pelo seu crescimento, 
seja ainda pela sua diversidade teórica.
O Psicólogo no Hospital
5
definir a atuação no contexto hospitalar como sendo prática psicoterápica, ainda que rea-
lizada no contexto institucional. A seguir descrevemos alguns desses pontos.
Objetivos da Psicoterapia
A Psicoterapia, independentemente de sua orientação teórica, tem como principais obje-
tivos levar o paciente ao autoconhecimento, ao autocrescimento e à cura de determinados sintomas. O 
enfeixamento desses objetivos, ou ainda de algum deles isoladamente, desde que leve esse 
paciente a um processo pleno de libertação existencial, é, por assim dizer, o ideal que norteia 
o processo psicoterápico. A Psicoterapia, ademais, tem como característica principal o fato 
de ser um processo no qual a procura e a determinação de seu início se dá pela mobilização 
do paciente. Assim, um paciente, ao ser encaminhado para um processo psicoterápico, 
muitas vezes demora um período bastante longo entre esse encaminhamento e a procura 
propriamente dita desse processo. Chessick10 adverte que a psicoterapia falha quando não 
existe uma afinidade precisa entre aquilo que busca o paciente em sua psicoterapia e aquilo 
que o psicoterapeuta tem condições de oferecer-lhe. Até mesmo a falta de definições precisas 
dos objetivos do processo poderá determinar implicações que seguramente emperrarão o 
processo, além de arrastá-lo ao longo de um período de maneira indevida.
Ao decidir pela psicoterapia, o paciente já realizou um processo inicial e introspectivo 
da necessidade desse tratamento e suas implicações em sua vida. Isso tudo evidentemente 
além da inserção de suas necessidades aos objetivos da psicoterapia.
O Setting Terapêutico
Ao procurar pela psicoterapia, o paciente será então enquadrado no chamado setting tera-
pêutico. Assim as normas e diretrizes do processo serão colocadas de maneiras bastante 
claras e precisas pelo psicoterapeuta, formalizando-se assim as nuances sobre as quais se 
norteará esse processo. Detalhes como horário de duração de cada sessão, eventuais re-
posições de sessões, prazo de aviso para eventuais faltas etc. são esboçados e o processo se 
desenvolve então em perfeita consonância com esses preceitos. E até mesmo alguma eventual 
resistência inicial do paciente em procurar pela psicoterapia, bem como outras implicações, 
serão resolvidas em um processo cujo contrato é estabelecido em acordo com as duas par-
tes envolvidas. Embora seja notório o número de casos encaminhados à psicoterapia que, 
 10 - Chessick, D.R. Why Psychotherapists Fail. Nova York: Science House, 1971.
Psicologia Hospitalar
6
por alguma forma de resistência, demoram muito para procurar por tal processo, ainda 
assim é conveniente estabelecer que, pelo fato de o paciente estar totalmente fragilizado e 
necessitando desse tipo de tratamento, a busca por tal processo se dará única e tão somente 
quando esse paciente romper com determinadas amarras emocionais. Ainda que surjam 
outras dificuldades e resistências ao longo do processo, a resistência inicial ao tratamento 
é transposta pelo simples fato de o paciente procurar pela psicoterapia.
A psicoterapia ainda tem outra característica bastante peculiar de ser um processo 
em que o psicoterapeuta tem no paciente alguém que caminha sob sua responsabilidade, 
mas que de forma simples tem nesse vínculo seu objetivo em si. Assim, um psicoterapeuta 
não precisará prestar conta de seu paciente a nenhuma entidade, salvo naturalmente aqueles 
casos nos quais o atendimento é vinculado a algum processo de supervisão. O processo em 
si é conduzido pelo psicoterapeuta com anuência do paciente e, no caso de algum impe-
dimento, a relação se resolve apenas e tão somente pelas partes envolvidas nesse processo. 
O setting terapêutico impõe ainda uma privacidade ao relacionamento que torna toda e 
qualquer interferência externa ao processo plausível de ser analisada e enquadrada nos 
parâmetros desse relacionamento.
Chessick11 salienta que o psicoterapeuta descende diretamente do confessor religioso 
ou então do médico de família, aquele profissional que, além de cuidar dos males do 
organismo, escutava as angústias e dificuldades do paciente. O psicoterapeuta em sua 
linhagem apresenta também resquícios do curandeiro das antigas formações tribais, 
encarregado de trazer bem-estar e alívio aos membros dessa comunidade. A proteção 
sentida pelo paciente nos limites do setting terapêutico mostra ainda que essa origem não 
é apenas perpetuada, mas apresenta requinte de evolução no resguardo dos aspectos en-
volvidos nesse processo. E até mesmo um “quê” de samaritanismo presente no processo 
psicoterápico é também resíduo dessas marcas que o psicoterapeuta traz de sua origem e 
desenvolvimento. A emoção presente na atividade psicoterápica é outro fator que faz com 
que nenhuma outra forma de relacionamento possa ser comparada com sua performance. 
E nesse sentido temos também a colocação de muitos especialistas de que a psicoterapia 
é o sustentáculo do homem contemporâneo dentre outras tantas formas buscadas para 
alívio e crescimento emocional.
Ainda no chamado setting terapêutico vamos encontrar a peculiaridade de que a maioria 
dos processos jamais tem suas sessões interrompidas, seja por solicitações externas, seja 
 11 - Ibid. Op. cit.
O Psicólogo no Hospital
7
ainda por outras variáveis decorrentes, muitas vezes, do próprio processo em si. Assim, 
é praticamente impossível, por exemplo, que um psicoterapeuta interrompa uma sessão 
estancando o choro de angústia do paciente para simplesmente atender uma ligação tele-
fônica. Ou ainda que uma sessão seja igualmente interrompida para que o psicoterapeuta 
possa recepcionar algum amigo que eventualmente vá visitá-lo. O setting terapêutico assim 
resguarda a sessão para que todo o material catalisado naqueles momentos seja apreen-
dido e elaborado de maneira plena e absoluta. Tais características fazem, inclusive, com 
que seja muito difícil avaliar-se um processo psicoterápico que não seja fundamentado 
nesses moldes.
A Realidade Institucional
Uma das primeiras dificuldades surgidas quando se pensa na atividade do psicólogo na 
realidade hospitalar é sua inserção na realidade institucional. Já afirmamos que:12 
a formação do psicólogo é falha em relação aos subsídios teóricos que possam embasá-lo na prática 
institucional. Essa formação acadêmica, sedimentada em outros modelos de atuação, não o provê com o 
instrumental teórico necessário para uma atuação nessa realidade. Torna-se então abismático o hiato que 
separa o esboço teórico de sua formação profissional e sua atuação prática. Apenas recentemente a prática 
institucional mereceu preocupação dos responsáveis pelos programas acadêmicos em Psicologia.
Ainda que hoje em dia seja notório o número de cursos de graduação em Psicologia 
que têm dedicado grande espaço para o contexto institucional em seus programas de 
formação, estamos distantes daquilo que seria o ideal em termos de sedimentação teóri-
co-prática. E na medida em que o hospital surge como uma realidade institucional com 
características bastante peculiares, embora reproduzindo as condições de outras realidades 
institucionais, apresenta sinais que evidenciam tratar-se de amplitude sequer imaginável 
em uma análise que não tenha um real comprometimento com sua verdadeira dimensão.13 
 12 - Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. Op. cit. 
 13 - Escrevemos um trabalho intitulado “Elementos Institucionais Básicos para a Implantação do Serviço de Psicologia 
no Hospital” (in A Psicologia no Hospital. São Paulo: Traço, 1988) e surpreendentemente percebemos, a partir de 
sua adoção em vários cursos e seminários realizados sobre realidade institucional, nãoapenas a precariedade de 
publicações a respeito como principalmente a maneira como esse trabalho tornou-se um verdadeiro paradigma 
a tantos que procuravam pela implantação de um Serviço de Psicologia no Hospital Geral.
Psicologia Hospitalar
8
Também é inegável que, a partir do surgimento das reflexões realizadas principalmente 
pelos profissionais da Argentina sobre a realidade institucional, esse aspecto ganhou uma 
corporeidade bastante precisa e importante na esfera contemporânea da Psicologia. Assim, 
o termo “análise institucional” deixou de ser uma mera citação abstrata de alguns textos 
para tornar-se realidade, ao menos de discussão teórica, para um sem-número de acadê-
micos que, a partir de então, passaram a interessar-se pela temática. 
E apesar do psicólogo ainda estar iniciando uma prática institucional nos parâmetros da 
eficácia e respeito às condições institucionais que delimitam sua situação nesse contexto, a busca 
de determinantes nessa prática o levou de encontro a convergências bastante significativas na 
estruturação teórica dessas atividades.14
É fato que a realidade hospitalar apresenta celeumas e condições que exigirão do psi-
cólogo algo além da discussão meramente teórico-acadêmica. Valores éticos e ideológicos 
surgirão ao longo do caminho e exigirão performances sequer imaginadas antes de sua 
ocorrência. Como ilustração dessa afirmação cito o grande número de crianças que pade-
cem nos hospitais de São Paulo de insuficiência hepática causada por inanição. Deparar 
com crianças que padecem vitimadas pela fome em plena cidade de São Paulo é algo que 
nenhum acadêmico imagina quando idealiza efetivamente uma atividade no hospital. 
Ou então, que dizer dos casos de crianças atacadas por ratazanas enquanto dormem, em 
uma evidência da precariedade e da falta de condições mínimas de dignidades existencial 
e habitacional em que a falta de saneamento básico é tão abismante que conceituá-lo de 
absurdo nada mais é do que aproximar-se da verdadeira realidade dessa população?
O psicólogo, no contexto hospitalar, depara-se de forma aviltante com um dos direitos básicos 
que estão sendo negados à maioria da população, a saúde. A saúde, em princípio um direito de 
todos, passou a ser um privilégio de poucos em detrimento de muitos. A precariedade da saúde da 
população é, sem dúvida alguma, um agravante que irá provocar posicionamentos contraditórios, 
e, na quase totalidade das vezes, irá exigir do psicólogo uma revisão de seus valores acadêmicos, 
pessoais e até mesmo sociopolíticos.15 
 14 - Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. Op. cit.Op. cit.
 15 - Ibid. Op. cit.
O Psicólogo no Hospital
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O contexto hospitalar dista de forma significativa daquela idealização feita nas lides 
acadêmicas. Assiste-se, nesse contexto, à condição desumana a que a população, já bas-
tante cansada de sofrer todas as formas possíveis de injustiças sociais, tem de se submeter 
em busca do recebimento de um tratamento adequado. Cenas ocorrem fruto das mais 
lamentáveis situações a que um ser humano pode submeter-se. E o que é mais agravante: 
tudo passa a ser considerado normal. Os doentes são obrigados a aceitar como normais 
todas as formas de agressão com as quais se deparam em busca de saúde.
Tudo é visto como normal; passa a ser normal ficar seis horas em uma fila de espera em 
busca de atendimento médico, e muitas vezes após vários retornos à instituição hospitalar, 
derivados de encaminhamentos feitos pelos especialistas, por sua vez decorrentes de exames 
realizados especulativamente. Também passa a ser normal o fato de ser atendido um nú-
mero imenso de pacientes em um período de tempo absurdamente curto. Tudo passa a ser 
normal. E os profissionais que atuam na área de saúde assistem desolados e conformados 
a esse estado de coisas. Tornam-se praticamente utópicas outras formas de atendimento 
que não essas que impiedosamente são impostas à população.
O psicólogo está inserido nesse contexto da saúde de forma tão emaranhada quanto 
outros profissionais atuantes na área da saúde e, muitas vezes, sem uma real consciência 
dessa realidade.
Contradições inúmeras sucedem em todos os níveis no contexto hospitalar. E se por 
um lado os hospitais apresentam essas enormes filas de pacientes que, padecendo em 
corredores, minguam por algum tipo precário de atendimento, por outro encontraremos 
algumas instituições nesse mesmo contexto que apresentam alta especialização resultante 
do enorme processo do conhecimento na área das ciências humanas.
Descobriremos, nessa realidade, profissionais altamente especializados. Sempre muito 
bem informados das técnicas existentes, estão constantemente aprimorando-as em cursos 
e congressos nos centros mais desenvolvidos da Europa e Estados Unidos. É possível, por 
exemplo, a utilização do método Sahling de análise do metabolismo do feto, bem como o 
acompanhamento eletrônico do eletrocardiograma fetal. Os avanços na área da Obstetrícia 
permitem ainda a previsão do sexo do feto ou uma possível malformação congênita. No 
entanto, em termos de realidade, temos, segundo relatórios sobre estudos realizados em 
várias regiões brasileiras, dados alarmantes informando que 95% dos partos são realizados 
em casa e sem o menor acompanhamento pré-natal. E o número de pessoas que recebem 
algum tipo de assistência é quase nulo. Esse contexto contraditório e incongruente recebe 
o psicólogo, que tem sobre si outras contradições que o envolvem diretamente desde as 
lides de sua formação acadêmica. E o psicólogo percebe no contexto hospitalar que os ensinamentos 
Psicologia Hospitalar
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e leituras teóricas de sua prática acadêmica não serão, por maiores que sejam as horas de estudo e reflexão 
teórica sobre a temática, suficientes para embasar sua atuação. E aprende que terá de aprender apreendendo, 
como os pacientes, sua dor, angústia e realidade. E o paciente, de modo peculiar, ensina ao psicólogo sobre 
a doença e sobre como lidar com a própria dor diante do sofrimento.16
A Psicologia Hospitalar – Objetivos e Parâmetros
A Psicologia Hospitalar tem como objetivo principal a minimização do sofrimento provocado pela 
hospitalização. Se outros objetivos forem alcançados a partir da atuação do psicólogo com o 
paciente hospitalizado – inerente aos objetivos da própria psicoterapia antes citados –, trata-se 
de simples acréscimo ao processo em si. O psicólogo precisa ter muito claro que sua atuação no 
contexto hospitalar não é psicoterápica dentro dos moldes do chamado setting terapêutico. Como 
minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, também é necessário abranger 
não apenas a hospitalização em si – em termos específicos da patologia que eventualmente 
tenha originado a hospitalização –, mas principalmente as sequelas e decorrências emocio-
nais dessa hospitalização. Tomemos como exemplo, arbitrariamente, uma criança de 3 anos 
de idade que nunca tenha vivido longe do seio familiar. Em dado momento, simplesmente 
coloquemos essa criança em uma escola maternal durante apenas um período do dia. Essa 
criança, em que pese a escola ser um ambiente em princípio agradável e repleto de outras 
crianças, se desarvorará e entrará em um processo de pânico e desestruturação emocional ao 
se perceber longe da proteção familiar. E tantos casos ocorrem nesse enquadre que a maioria 
das escolas possui o chamado período de adaptação, no qual algum dos representantes desse 
núcleo familiar se faz presente na escola para acudir essa criança nos momentos agudos de 
dificuldade. E isso tudo em um ambiente agradável de escola onde muitas vezes a criança 
irá se deparar com estimulações e recreações sequer imagináveis sem seu universo simbólico. 
O que dizer então de uma criança que em um determinado momento se vê hospitalizada17 
sem a presença dos familiares e em um ambiente na maioria das vezes hostil?! Certamenteela entrará em um nível de sofrimento emocional e muitas vezes até físico em decorrência 
dessa hospitalização. Sofrimento físico que transcende até mesmo a patologia inicial e que 
se origina no processo de hospitalização.
 16 - Ibid. Op. cit.
 17 - Embora seja alentador o fato de que hoje muitos hospitais pediátricos adotem a presença da mãe ou de algum 
outro familiar durante o processo de hospitalização da criança, ainda assim a grande maioria dos hospitais 
não apresenta sequer uma maior flexibilização até mesmo quanto ao horário de visitas.
O Psicólogo no Hospital
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A minimização do sofrimento provocado pela hospitalização implicará um leque 
bastante amplo de opções de atuação, cujas variáveis deverão ser consideradas para que o 
atendimento seja coroado de êxito. Uma mulher mastectomizada, em outro exemplo, terá 
no processo de extirpação do tumor, na maioria das vezes, a extração dos seios com todas 
as implicações que tal ato incide. O processo de hospitalização deve ser entendido não 
apenas como um mero processo de institucionalização hospitalar, mas, e principalmente, 
como um conjunto de fatos que decorrem desse processo e suas implicações na vida do 
paciente. Não podemos, assim, em um simples determinismo, aceitar que o problema da 
mulher mastectomizada se inicia e se encerra com a hospitalização. Evidentemente que 
muitos casos abordados pelo psicólogo no hospital exigirão, após o processo de hospitali-
zação, encaminhamentos específicos para processos de psicoterapia tal a complexidade e 
o emaranhado de sequelas e comprometimento emocional. 
Embora muitas vezes seja bastante tênue a separação que delimita tais aspectos, ainda 
assim é muito importante o clareamento desse posicionamento para que o processo em si 
não se perca em mera e vã digressão teórica.
A Psicologia Hospitalar, por outra parte, contrariamente ao processo psicoterápico, não 
possui setting terapêutico tão definido e tão preciso. Nos casos de atendimentos realizados 
em enfermarias, o atendimento do psicólogo, muitas vezes, é interrompido pelo pessoal de 
base do hospital, seja para aplicação de injeções, prescrição medicamentosa em determi-
nado horário, seja ainda para processo de limpeza e assepsia hospitalar. O atendimento, 
dessa forma, terá de ser efetuado levando-se em conta todas essas variáveis, além de outros 
aspectos mais delicados que citaremos a seguir.
Descrevemos no trecho inerente ao setting terapêutico a mobilização do paciente rumo 
ao processo psicoterápico: a importância de uma reflexão e de uma posterior constatação da 
necessidade de se submeter a esse processo. No hospital, ao contrário do paciente que procura 
pela Psicoterapia após romper eventuais barreiras emocionais, a pessoa hospitalizada será 
abordada pelo psicólogo em seu próprio leito. E, em muitos casos, esse paciente sequer tem claro 
qual o papel do psicólogo naquele momento de sua hospitalização e até mesmo de vida.18
 18 - Nesse sentido, é muito importante que o psicólogo seja inserido na equipe de profissionais de saúde que atuem 
em um determinado contexto hospitalar. Tal inserção determinará que sua abordagem seja fruto de enca-
minhamento realizado por intermédio de outros profissionais com esse paciente com a anuência dele para 
que, acima de qualquer outro preceito, seu arbítrio de querer ou não essa abordagem seja respeitado. Esse 
é um aspecto importante a ser observado, pois determina muitas vezes até mesmo o êxito da abordagem do 
psicólogo. Ainda que o paciente necessite de maneira premente da intervenção psicológica, seu arbítrio deve 
ser considerado para que a condição humana seja respeitada em um de seus preceitos fundamentais.
Psicologia Hospitalar
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Dessa forma, é muito importante que o psicólogo entenda os limites de sua atuação para 
não se tornar ele também mais um dos elementos abusivamente invasivos que agridem o 
processo de hospitalização e que permeiam largamente a instituição hospitalar. Ainda que 
o paciente em seu processo de hospitalização esteja muito necessitado da intervenção – 
e seguramente muitos dos pacientes encaminhados ao processo de psicoterapia também 
estão necessitados de tratamento, mas preservam a si o direito de rejeitar tal encaminha-
mento –, a opção do paciente de receber ou não esse tipo de intervenção deve ser soberana 
e deliberar a prática do psicólogo. Balizar a sua necessidade de intervir em determinado 
paciente, a própria necessidade desse paciente em receber tal intervenção, é delimitação 
imprescindível para que essa atuação caminhe dentro dos princípios que incidem no real 
respeito à condição humana.
De outra parte, é também muito importante observar-se o fato de que, ao atuar em uma 
instituição, o psicólogo, ao contrário da prática isolada de consultório, tem que ter bastante 
claros os limites institucionais de sua atuação. Na instituição o atendimento deverá ser nor-
teado a partir dos princípios institucionais.19 Esse aspecto é, por assim dizer, um dos deter-
minantes que mais contribuem para que muitos trabalhos não sejam coroados de êxito na 
instituição hospitalar. Ribeiro20 pontua que o doente internado é, em síntese, o doente sobre 
o qual a ciência médica exacerba o seu positivismo, e pode afirmar a transposição da linha 
demarcatória da normalidade. Sua patologia reconhecida e classificada precisa ser tratada. 
Ao contrário do paciente do consultório que mantém seu direito de opção em aceitar ou não 
o tratamento e desobedecer à prescrição, o doente acamado perde tudo. Sua vontade é apla-
cada; seus desejos, coibidos; sua intimidade, invadida; seu trabalho, proscrito; seu mundo de 
relações, rompido. Ele deixa de ser sujeito. É apenas um objeto da prática médico-hospitalar, 
suspensa sua individualidade, transformado em mais um caso a ser contabilizado.21
Esse aspecto inerente à institucionalização do paciente enfeixa um dimensionamento 
de abrangência de intervenção do psicólogo rumo à humanização do hospital em seus 
aspectos mais profundos e verdadeiros. A Psicologia Hospitalar não pode igualmente per-
der o parâmetro do significado de adoecer em nossa sociedade, eminentemente marcado 
 19 - No caso de divergência dos princípios e preceitos da instituição onde o psicólogo desenvolve sua atuação, po-
derá haver um trabalho de direcionamento de transformação desses princípios. A transformação da realidade 
institucional, muitas vezes, pode ser determinante de uma reformulação rumo à própria humanização da 
instituição. O que não pode ocorrer é, diante da discordância, negar-se os princípios institucionais e tentar a 
efetivação de um trabalho sem levar em conta tais especificidades.
 20 - Ribeiro, H.P. O Hospital: História e Crise. São Paulo: Cortez, 1983.
 21 - Ibid. Op. cit.
O Psicólogo no Hospital
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pelo aspecto pragmático de produção mercantilista. Ou nas palavras de Pitta,22 o adoecer 
nesta sociedade é, consequentemente, deixar de produzir e, portanto, de ser; é vergonhoso; logo, deve ser 
ocultado e excluído, até porque dificulta que outros, familiares e amigos, também produzam. O hospital 
perfaz este papel, recuperando quando possível e devolvendo sempre, com ou sem culpa, o doente à sua 
situação anterior. Se um acidente de percurso acontece, administra o evento desmoralizador, deixando que 
o mito da continuidade da produção transcorra silenciosa e discretamente A intervenção do psicólogo 
nesse sentido não pode prescindir de tais questionamentos com o risco de tornar-se algo 
desprovido da profundidade necessária para abraçar a verdadeira essência do sofrimento 
do paciente hospitalizado. E a própria direção contemporânea de desospitalização do pa-
ciente tem no psicólogo um de seus grandes aliados na medida em que poderá depender 
desse profissional uma avaliação mais precisa sobre as condições emocionais desse paciente. 
Não se pode, no entanto, perder o parâmetro de que a psicologia deve se aliar aoutras 
forças transformadoras para não se incorrer em meramente ilusionistas. Ou nas palavrasOu nas palavras 
de Ribeiro:23 há, no entanto, vários fatores que favorecem a desospitalização, além daqueles apontados 
séculos antes. O intervencionismo e a onipotência da medicina são olhados com maiores reservas. Cada vez 
mais é contestada por doentes, familiares, instituições seguradoras e pelo Estado a abusiva utilização dos 
recursos tecnológicos hospitalares. Novos conhecimentos nas áreas da fisioterapia, propedêutica e terapêutica 
vêm permitindo diagnósticos e tratamentos que tornam prescindível a intervenção ou a encurtam.
A Psicologia Hospitalar não pode se colocar dentro do hospital como força isolada solitária 
sem contar com outros determinantes para atingir seus preceitos básicos. A humanização 
do hospital necessariamente passa por transformações da instituição hospitalar como um 
todo e evidentemente pela própria transformação social. O psicólogo, assim, não pode ser 
um profissional que despreze tais variáveis com o risco de tornar-se alijado do processo 
de transformação social.
Ou ainda, o que é pior, ficar restrito a teorizações que isolam e atomizam o paciente 
de conceituações e conflitos sociais mais amplos. O hospital, assim como toda e qualquer 
instituição, reproduz as contradições sociais, e toda e qualquer intervenção institucional 
não pode prescindir de tais princípios.
O psicólogo reveste-se de um instrumental muito poderoso no processo de humaniza-
ção do hospital na medida em que traz em seu bojo de atuação a condição de análise das 
relações interpessoais. A própria contribuição da psicologia para clarear determinadas 
 22 - Pitta, A. Hospital, Dor e Morte como Ofício. São Paulo: Hucitec, 1990.
 23 - O Hospital: História e Crise. Op. cit.Op. cit.

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