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APOSENTADORIA HÍBRIDA1 Sumário: 1. Considerações iniciais. 2. Aposentadoria por idade urbana e aposentadoria por idade rural. 3. Aposentadoria por idade computando períodos urbanos e rurais: a inovação da Lei 11.718/08. 4. A última atividade tem que ser rural? 5. E a carência? 6. Posicionamento Jurisprudencial. 7. Do valor da aposentadoria por idade híbrida. 8. Considerações Finais. 9. Referências. 1. Considerações iniciais As leis previdenciárias, assim com a legislação em geral, evoluem com a sociedade. Novas realidades fazem surgir outras normas, superando as antigas. No que se refere à Previdência Social, benefícios antigos dão lugar a novos, mais adequados às necessidades sociais atuais. O Direito deve evoluir junto com a sociedade. Nesse sentido, a legislação previdenciária aplicada à área rural vem evoluindo muito ao longo das últimas duas décadas. O tempo em que somente o homem tinha direitos foi dando lugar a uma época em que há reconhecimento da atividade da mulher trabalhadora rural, que já trabalhava tanto quanto o homem mas não era considerada segurada perante a Previdência Social. Essa transformação era impensada há algum tempo, tendo em vista que o trabalho da mulher, especialmente no campo, era considerado secundário; hoje ele está plenamente incorporado ao ordenamento jurídico. Ademais, a Constituição Federal e a lei conferem direitos iguais aos trabalhadores de ambos os sexos. Outras mudanças foram ocorrendo, levando-se em conta especialmente as grandes transformações pelas quais passou a agricultura brasileira. Hoje a pequena propriedade é considerada fundamental para o desenvolvimento do setor primário, contribuindo, inclusive, para a exportação. No mesmo sentido dessas mudanças, a Lei 11.718/08 passou a deixar claro que deve haver tratamento diferenciado para o agricultor familiar - não somente para aquele que sobrevive da atividade agrícola, mas também para o agricultor que produz excedente. Os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário comunicam que 70% (setenta por cento) dos alimentos são produzidos pela agricultura 1 Originalmente publicado na obra: FOLMANN, Melissa; BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm.. (Org.). Previdência e o Argumento Econômico. 1ed.Curitiba: Juruá, 2012. familiar.2 Houve, portanto, uma grande modificação no conceito do segurado especial, o que possibilitou a inclusão de milhares de pessoas. Junto com isso, a Lei 11718/01, reconhecendo o grande êxodo rural que provocou a migração de milhões de pessoas do campo para as cidades em busca de outras oportunidades, permitiu que o segurado somasse, para fins de aposentadoria por idade, tempo de atividade rural e urbana, a qual vem sendo chamada de aposentadoria híbrida. Acerca da matéria, o INSS vem reconhecendo, administrativamente, que é possível somar períodos urbanos e rurais apenas quando a atividade agrícola é a última, o que significa dizer que somente quem está na atividade rural pode somar períodos urbanos, inadmitindo-se que a última atividade seja urbana. A fim de apreciar com maiores detalhamentos tal temática, passa-se, no item a seguir, a analisar o texto da lei que trouxe essa nova possibilidade de aposentação. 2. Aposentadoria por idade urbana e aposentadoria por idade rural Os requisitos para a concessão do benefício de aposentadoria por idade estão expressos no art. 48 da Lei 8.213/91, que assim dispõe no caput: Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. Nota-se que a lei infraconstitucional não poderia dispor de forma diferente, pois o Constituinte brasileiro optou por definir qual seria a “idade avançada” para o benefício da aposentadoria. Assim determinou a Carta Maior: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. 2 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Agricultura familiar produz 70% de alimentos do País mas ainda sofre na comercialização. Disponível em < http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-07-27/agricultura-familiar-tem-desafio-de-aumentar- vendas-e-se-organizar-melhor-diz-secretario> Acesso em 30. Dez. 2011. Entretanto, a Constituição nada dispôs sobre a carência, deixando este requisito a critério do legislador infraconstitucional definir. Neste sentido, o art. 25, inc. II da Lei estabelece o número mínimo de contribuições exigidas para o referido benefício: Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais. A Lei 8.213/91 trouxe, contudo, uma regra de transição no que concerne à carência das aposentadorias. Dispõe na sua redação atual: Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991, bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural, a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção do benefício: Ano de implementação das condições Meses de contribuição exigidos 1991 60 meses 1992 60 meses 1993 66 meses 1994 72 meses 1995 78 meses 1996 90 meses 1997 96 meses 1998 102 meses 1999 108 meses 2000 114 meses 2001 120 meses 2002 126 meses 2003 132 meses 2004 138 meses 2005 144 meses 2006 150 meses 2007 156 meses 2008 162 meses 2009 168 meses 2010 174 meses 2011 180 meses Assim, quem já estava vinculado à Previdência, quer seja na condição de segurado urbano, quer seja na rural, poderia usufruir da regra de transição quanto à carência exigida. Acerca disso, a Jurisprudência atual é no sentido de que se utiliza como base o ano em que o segurado completou a idade, ainda que apenas venha a concluir o número de contribuições exigidas mais tarde. 3 Para os segurados urbanos, é garantida a aposentadoria por idade, conjugando-se os dispositivos do art. 25, inc. II e do art. 48 da Lei 8.213/91. O primeiro 3 Neste sentido, vide decisão da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO N. 200870530016632, JUIZ FEDERAL JOSÉ ANTONIO SAVARIS, 25/05/2010. trata da carência, prevendo que para este benefício deverá o segurado contar com 180 contribuições mensais (ressalvada a tabela supra transcrita, conforme art. 142 da mesma lei) e a idade de 60 anos se for mulher e 65 anos se for homem. Com relação à aposentadoria devida aos trabalhadores rurais, é importante, antes de se abordá-la, lembrar quem se enquadra nesse gênero. Nos termosdo art. 48, quando se reporta à aposentadoria por idade dos trabalhadores rurais, assim se classifica: Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. § 1o Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11. Desta forma, os dispositivos abordados referem-se ao empregado, ao contribuinte individual (boia-fria, diarista...), ao avulso e ao segurado especial. O enquadramento dos segurados nem sempre é fácil, especialmente no que tange o segurado especial, conforme dissertou-se anteriormente. Enfatiza-se que: Se teoricamente já há diversas controvérsias em torno da abrangência do conceito de segurado especial, não são menores na prática, ou seja, na concessão de benefícios. A verificação da condição de segurado especial se dá, pelo servidor do INSS, por um complexo procedimento. 4 Ressalta-se também o fato de que a lei exige, para que haja direito à idade reduzida, a comprovação da atividade rural, conforme o § 2º do art. 48 da Lei 8.213/91: § 2o Para os efeitos do disposto no § 1o deste artigo, o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9o do art. 11 desta Lei. A análise da prova do efetivo exercício da atividade rural pode ser sintetizada nos seguintes termos: A legislação previdenciária, em sentido amplo, reconhecendo as especificidades do trabalho no campo, da informalidade, do trabalho em família (e por vezes do trabalho individual), admite a possibilidade que a prova se estenda no tempo, alçando não somente o ano ao qual se referem, sendo o bastante o início de prova material. Sabendo, ainda, que nem sempre o trabalhador mantém-se na mesma atividade por toda sua vida laborativa, permite que sejam computados períodos de atividade rural, ainda que interrompidos por outra atividade. E, por fim, no sentido mais uma vez de considerar a realidade do campo, admite que os documentos de um membro do grupo familiar possam ser utilizados pelos demais. 5 4 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Previdência Rural Inclusão Social. 2. Ed. Curitiba: Juruá, 2008. P. 109. 5 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. A Prova da Atividade Rural: algumas observações. IN: BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm; FORTES, Simone Barbisan. Previdência do Trabalhador Rural em Debate. Curitiba: Juruá, 2008. P. 111-133. Retomando-se a análise das normas de transição, observa-se que, com relação aos trabalhadores rurais, outra regra de transição foi prevista na lei previdenciária. Dispõe o art. 143 da Lei 8.213/91: Art. 143. O trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime Geral de Previdência Social, na forma da alínea "a" do inciso I, ou do inciso IV ou VII do art. 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à carência do referido benefício. Ainda, saliente-se que o prazo previsto - de quinze anos - foi prorrogado pela Medida Provisória 312, de 19 de julho de 2006, convertida na Lei 11.368/06. Por fim, a Lei 11.718/08 prorrogou esse prazo novamente até 31 de dezembro de 2010: Art. 3º Na concessão de aposentadoria por idade do empregado rural, em valor equivalente ao salário mínimo, serão contados para efeito de carência: I – até 31 de dezembro de 2010, a atividade comprovada na forma do art. 143 da Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991; No entanto, ainda em 2006 houve uma reanálise da aplicabilidade do disposto no art. 143 ao segurado especial, tendo em vista a regra permanente do art. 39 e do art. 48 da Lei 8.213/91, resultando na publicação do Parecer n. 39, de 31 de março de 2006, da Consultoria Jurídica do Ministério da Previdência Social, nos seguintes termos: a) o segurado especial, após a expiração do prazo previsto no art. 143 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, deverá comprovar o exercício de atividade rural nos moldes do art. 39 da referida lei; b) para o segurado especial coberto pela Previdência Social somente após 24 de julho de 1991, a concessão de aposentadoria por idade no valor de 1 (um) salário mínimo depende da comprovação de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao do requerimento do benefício, pelo período de 180 (cento e oitenta) meses; c) para o segurado especial coberto pela Previdência Social Rural até 24 de julho de 1991, aplica-se o período de carência previsto no art. 142 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Assim, naquele momento entendeu-se que não era mais necessário prorrogar o prazo do art. 143 para o segurado especial, tampouco criar outro dispositivo que garantisse ao segurado especial o direito a buscar o benefício apenas comprovando a atividade rural. Concluiu-se que, em havendo regra permanente, a regra de transição jamais precisou ter existido, pois desde a publicação da Lei 8.213/91 já havia previsão legal suficiente e clara no sentido do critério para os benefícios dos segurados especiais, qual seja a necessidade de comprovar atividade - e não contribuição. A partir da Lei 11.718/08 o empregado rural passou a ter que comprovar emprego, porém o legislador ainda levou em consideração um elemento social importante: a sazonalidade da atividade rural. Previu, portanto, o direito à contagem diferenciada da carência, conforme artigo 3º: Art. 3o Na concessão de aposentadoria por idade do empregado rural, em valor equivalente ao salário mínimo, serão contados para efeito de carência: II – de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 3 (três), limitado a 12 (doze) meses, dentro do respectivo ano civil; e III – de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 2 (dois), limitado a 12 (doze) meses dentro do respectivo ano civil. Diante do que foi registrado nesta pesquisa até o presente momento, compreendeu-se que os trabalhadores urbanos têm direito ao benefício de aposentadoria por idade aos 60 anos, se do sexo feminino, e 65 anos, se do sexo masculino, exigindo- se, para tanto, 180 contribuições mensais, ressalvada a regra de transição do art. 142 da Lei 8.213/91. Por outro lado, verificou-se também que os trabalhadores rurais fazem jus à aposentadoria por idade, com 55 anos, se mulher, e 60 anos, se homem, com a condição de ser comprovada a atividade rural pelo período equivalente à carência, criando-se novas regras para os empregados rurais a partir de junho de 2008. Fundamental agora que, no próximo item, analise-se a inovação chamada aposentadoria híbrida6, em que é possível computar períodos tanto urbanos como rurais para a aposentadoria por idade. 3. Aposentadoria por idade computando períodos urbanos e rurais: a inovação da Lei 11.718/08 Até 2008 havia duas possibilidades de aposentadoria: a primeira com 180 contribuições mensais para os trabalhadores urbanos, aos60 anos para a mulher e 65 anos para o homem; e a segunda com 180 meses de atividade rural para os trabalhadores rurais, aos 55 anos para a mulher e 60 anos para o homem - ou seja, ou todo o período urbano ou todo o tempo rural. A Lei 11.718/08 inseriu o § 3º no art. 48 da Lei 8.213/91 com a seguinte redação: Art. 48. § 3o Os trabalhadores rurais de que trata o § 1o deste artigo que não atendam ao disposto no § 2o deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher. 6 Também chamada de “aposentadoria mista”. Compreende-se que esta norma já deveria ter sido editada há muito tempo, pois se o direito à aposentadoria era admissível com 180 contribuições e com 180 meses de atividade rural também, não havia razão para que não o fosse caso parte do período fosse numa condição e parte fosse noutra. Por isso, acertada a nova norma legal que permite computar períodos nas duas condições, urbana e rural. Logo, o reconhecimento cada vez mais pleno da atividade rural atende ao princípio constitucional da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais. A partir da inclusão do § 3º no art. 48 da Lei 8.213/91, há, portanto, uma aproximação que deve ser reconhecida pela Autarquia e comemorada pelos trabalhadores rurais. No entanto, sobre a aposentadoria híbrida, persiste controvérsia quanto à possibilidade de concessão da aposentadoria por idade, na forma do § 3º do art. 48 da Lei 8.213/91, quando a última atividade é urbana. Esse ponto será abordado a seguir. 4. A última atividade tem que ser rural? A possibilidade de computar períodos urbanos e rurais é admitida pelo INSS desde que a última atividade seja rural. O fundamento para tanto é que o dispositivo legal prevê que os trabalhadores rurais possam usar períodos urbanos e não o inverso. A interpretação se baseia na parte inicial do dispositivo: “Art. 48. § 3o Os trabalhadores rurais de que trata o § 1o deste artigo...”. Entende-se, todavia, que tal entendimento afronta o princípio da isonomia: se aos trabalhadores rurais é permitido computar períodos urbanos, também deve ser permitido aos trabalhadores urbanos somar os de atividade agrícola. Além disso, a lei não exige expressamente que a última atividade seja urbana. Ao analisar a matéria, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região vem se posicionando pela possibilidade de aposentadoria por idade, computando-se períodos rurais e urbanos, mesmo nos casos em que o labor urbano foi o último. Destaca-se o voto proferido na Apelação Cível 0014935-23.2010.404.9999, de relatoria do Desembargador Rogério Favreto, em que se reconhece a possibilidade de concessão da aposentadoria por idade “híbrida”. O fenômeno do êxodo rural está justamente entre os fundamentos usados, que culmina na grande quantidade de situações em que o trabalho urbano é posterior ao trabalho rural. Nesses termos: Ademais, essa possibilidade incluiu parcela de novos segurados com início da sua atividade laborativa no meio rural, complementada pelo ofício urbano, mediante o aumento da idade mínima em cinco (05) anos. Ou seja, a inclusão do novo § 3º do art. 48 da Lei nº 8.213/91, visa reparar situação injusta em que o cidadão não faria jus ao benefício de aposentadoria por idade, por tardiamente passado a trabalhar no meio urbano, quando essas mutações são naturais e decorrentes do processo de êxodo rural. Vê-se que, a partir de uma breve leitura do texto legal, emanam três possibilidades de concessão da aposentadoria por idade: - aposentadoria por idade, mediante preenchimento da carência com tempo de serviço urbano (aposentadoria por idade urbana): tem direito a aposentar-se por idade o segurado que, preenchida a carência, completar 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher; - aposentadoria por idade, mediante preenchimento da carência com tempo de serviço rural (aposentadoria rural por idade): tem direito a aposentar-se por idade o trabalhador rural (empregado, eventual, avulso, individual ou segurado especial) que, preenchida a carência, completar 60 anos, se homem, e 55 anos, se mulher; - aposentadoria por idade, mediante preenchimento da carência com tempo de serviço rural e urbano (aposentadoria híbrida por idade): com o advento da lei nº 11.718/08, passa a ter direito à aposentadoria por idade o trabalhador rural que, para preenchimento da carência, integra períodos de tempo rural com categoria diversa; nesse caso, o requisito etário volta a ser 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher. (grifos no original) Merece destaque, ainda, o seguinte trecho do voto do eminente Relator do julgado acima mencionado, que foi acompanhado pelos demais desembargadores: Este novo dispositivo veio justamente para dar guarida às situações de alternância entre o trabalho rural e urbano, em especial aos trabalhadores que dedicaram significativo tempo da sua vida nas lides do campo e que pela mudança de ofício não poderiam aproveitar tal período para fins de carência. Ademais, essa possibilidade incluiu parcela de novos segurados com início da sua atividade laborativa no meio rural, complementada pelo ofício urbano, mediante o aumento da idade mínima em cinco (05) anos. Ou seja, a inclusão do novo § 3º do art. 48 da Lei nº 8.213/91, visa reparar situação injusta em que o cidadão não faria jus ao benefício de aposentadoria por idade, por tardiamente passado a trabalhar no meio urbano, quando essas mutações são naturais e decorrentes do processo de êxodo rural. Em outras palavras, o Relator conclui que a norma seria praticamente sem efeito se não fosse possível essa interpretação (de que a última atividade pode ser urbana) ou o dispositivo seria de pouca aplicabilidade, vez que a realidade demonstra que a tendência é a atividade rural seguida da atividade urbana. Tal entendimento vem se mantendo, como se observa no acórdão abaixo: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA HÍBRIDA POR IDADE. INTEGRAÇÃO DE PERÍODO DE TRABALHO RURAL AO DE CATEGORIA DIVERSA. ART. 48, §3º DA LEI 8.213/91. CARÊNCIA E REQUISITO ETÁRIO. 1. Os trabalhadores rurais que não atendam ao disposto no art. 48, § 2º, da Lei nº 8.213/01, mas que satisfaçam as demais condições, considerando-se períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício de aposentadoria por idade ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher, conforme o disposto no art. 48, § 3º da Lei nº 8.213/91. 2. Preenchendo a parte autora o requisito etário e a carência exigida, tem direito a concessão da aposentadoria por idade. (TRF4, APELREEX 5044518- 89.2015.404.9999, Sexta Turma, Relatora p/ Acórdão Vânia Hack de Almeida, juntado aos autos em 18/12/2015) O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou sobre a matéria, admitindo que a última atividade seja urbana. Lê-se no seguinte acórdão: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC. NÃO CARACTERIZAÇÃO. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA. ARTIGO 48, §§ 3º E 4º DA LEI 8.213/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.718/2008. OBSERVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A Lei 11.718/2008 introduziu no sistema previdenciário brasileiro uma nova modalidade de aposentadoria por idade denominada aposentadoria por idade híbrida. 2. Neste caso, permite-se ao segurado mesclar o período urbano ao período rural e vice-versa, para implementar a carência mínima necessária e obter o benefício etário híbrido. 3. Não atendendo o segurado rural à regra básica para aposentadoria rural por idade com comprovação de atividade rural, segundo a regra de transição prevista no artigo 142 da Lei 8.213/1991, o § 3º do artigo 48 da Lei 8.213/1991, introduzido pela Lei 11.718/2008, permite que aos 65 anos, se homem e 60 anos, mulher, o segurado preencha o período de carência faltante com períodos de contribuição de outra qualidade de segurado, calculando- se o benefício de acordo com o § 4º do artigo 48. 4. Considerando que a intenção do legislador foi a de permitir aos trabalhadores rurais, que se enquadrem nas categorias de segurado empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial, o aproveitamento do tempo rural mesclado ao tempo urbano, preenchendo inclusive carência, o direito à aposentadoria por idade híbrida deve ser reconhecido. 5. Recurso especial conhecido e não provido. (REsp 1367479/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 10/09/2014) No caso supratranscrito, apreciado pelo STJ, tratou-se dos seguintes períodos: período de atividade rural, de 01-01-1990 a 30-03-1995, e os intervalos de atividade urbana, de 01-04-1995 a 30-04-1995, 01-06-1995 a 31-12-2003, 01-04-2004 a 31-07-2004 e de 01-09-2004 a 31-12-2004. Fato é que deve haver uma razão que justifique a diferenciação imposta pela lei, o que é um problema de valoração. Se não há essa razão, impõe-se o tratamento igual; ou seja, o enunciado geral da igualdade impõe um ônus argumentativo para o tratamento desigual. Não obstante, ainda que haja um argumento, o tratamento desigual não é obrigatório, incidindo aqui a discricionariedade do legislador, que não deve ser substituída pelo Judiciário.7 Na aposentadoria híbrida, desaparece o elemento diferenciador: a idade reduzida. O Decreto 3.048/99 dispõe no art. 51: Art.51.A aposentadoria por idade, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado que completar sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou sessenta, se mulher, reduzidos esses limites para sessenta e cinqüenta e cinco anos de idade para os trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea "a" do inciso I, na alínea "j" do inciso V e nos incisos VI e VII do caput do art. 9º, bem como para os 7 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. de Virgilio Afonso da Silva. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2009. segurados garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no §5º do art. 9º. § 1º Para os efeitos do disposto no caput, o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou, conforme o caso, ao mês em que cumpriu o requisito etário, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 8o do art. 9o. § 2º Os trabalhadores rurais de que trata o caput que não atendam ao disposto no § 1º, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos, se mulher. § 3º Para efeito do § 2o, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado na forma do disposto no inciso II do caput do art. 32, considerando-se como salário-de-contribuição mensal do período como segurado especial o limite mínimo do salário-de-contribuição da previdência social. § 4º Aplica-se o disposto nos §§ 2º e 3º ainda que na oportunidade do requerimento da aposentadoria o segurado não se enquadre como trabalhador rural. Portanto, como se verifica, o § 4º do art. 48 deixa claro que ainda que a última atividade seja urbana, deve ser concedida a aposentadoria, somando-se períodos urbanos e rurais. Após tais considerações, no item a seguir será abordado o requisito “carência” e como se dá o seu preenchimento quando se trata da aposentadoria híbrida. 5. E a carência? Um questionamento frequente quando se fala da aposentadoria híbrida é como superar a exigência legal da carência. Efetivamente, o segurado tem que comprovar 180 contribuições mensais, ou quando atingiu a idade antes de 2011, de acordo com a tabela de transição. E quando se trata de segurado especial, tem que comprovar período de atividade rural equivalente à carência. Entende-se que o § 3º do art. 48 relativiza esta exigência, tanto se a última atividade for urbana, quanto se for rural. Caso a exigência seja de 180 contribuições, em sentido estrito, a norma tem eficácia extremamente limitada, pois se aplicaria apenas aos empregados rurais – caso no qual sequer precisaria existir, pois já se reconheceria o direito uma vez que fossem comprovadas as contribuições mensais. Assim, é de se reconhecer que, implicitamente, passa a se admitir o período de atividade rural como se carência fosse. Isto não deve ser surpresa, pois se a lei permite que se compute 180 meses de atividade rural como se fossem contribuições mensais, por que não admitiria computar parte deste período como se de carência se tratasse, com a diferença de que, neste caso (da aposentadoria híbrida) a idade não é reduzida em cinco anos? Quem pode o mais, pode o menos! O Superior Tribunal de Justiça, no caso antes transcrito, expressamente referiu que se trata de carência, conforme trecho que agora se destaca: 4. Considerando que a intenção do legislador foi a de permitir aos trabalhadores rurais, que se enquadrem nas categorias de segurado empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial, o aproveitamento do tempo rural mesclado ao tempo urbano, preenchendo inclusive carência, o direito à aposentadoria por idade híbrida deve ser reconhecido. 5. Recurso especial conhecido e não provido. (REsp 1367479/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 10/09/2014) Nota-se que o período rural, para fins de aposentadoria por idade, preenche inclusive carência. 6. Posicionamento Jurisprudencial Constatou-se que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região admite a aposentadoria híbrida. O entendimento da Quinta Turma sobre o tema é seguido pela Sexta Turma: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. RESTABELECIMENTO. TEMPO DE SERVIÇO RURAL. COMPROVAÇÃO. CANCELAMENTO ADMINISTRATIVO EM DATA POSTERIOR AO ADVENTO DA LEI Nº 11.718/2008, QUE PASSOU A PREVER A DENOMINADA APOSENTADORIA POR IDADE MISTA OU HÍBRIDA. 1. A Administração, em atenção ao princípio da legalidade, tem o poder-dever de anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais (Súmulas 346 e 473 do STF). 2. Ausente comprovação de irregularidade na concessão do benefício, deve ser anulado o ato administrativo que determinou a sua suspensão. 3. Comprovado o labor rural em regime de economia familiar, mediante a produção de início de prova material, corroborada por prova testemunhal idônea, o segurado faz jus ao cômputo do respectivo tempo de serviço. 4. Tem direito ao restabelecimento de aposentadoria por idade o segurado que comprova que implementava todos os requisitos para a concessão do benefício de aposentadoria híbrida/mista por ocasião do cancelamento administrativo, ocorrido em momento posterior ao advento da Lei nº 11.718/2008, que alterou a redação do art. 48 da Lei nº 8.213/91.(TRF4, APELREEX 5010689- 55.2013.404.7003, Quinta Turma, Relator p/ Acórdão Rogerio Favreto, juntado aos autos em 17/12/2015) DIREITO PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. APOSENTADORIA POR IDADE MISTA. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. 1. A comprovação do exercício de atividade rural deve-se realizar na forma do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91, mediante início de prova material complementado por prova testemunhal idônea. 2. Comprovado o exercício da atividade rural, em regime de economia familiar, no período anterior aos 14 anos, deve ser reconhecido o tempo de serviço respectivo. 3. É reconhecido o direito à aposentadoria por idade mista ou híbrida, conforme o art. 48, § 3º, da Lei 8.213/91, na redação da Lei 11.718/08, se implementadas a idade mínima e carência, considerado o tempo de serviço rural e o urbano. 4. O Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral à questão da constitucionalidade do uso da TR e dos juros da caderneta de poupança para o cálculo da correção monetária e dos ônus de mora nas dívidas da Fazenda Pública, e vem determinando, por meio de sucessivas reclamações, e até que sobrevenha decisão específica, a manutenção da aplicação da Lei 11.960/2009 para este fim, ressalvando apenas os débitos já inscritos em precatório, cuja atualização deverá observar o decidido nas ADIs 4.357 e 4.425 e respectiva modulação de efeitos. 5. A fim de guardar coerência com as recentes decisões, deverão ser adotados, por ora, os critérios de atualização e de juros estabelecidos no 1º-F da Lei 9.494/97, na redação da lei 11.960/2009, sem prejuízo de que se observe, quando da liquidação, o que vier a ser decidido pelo STF com efeitos expansivos. (TRF4, APELREEX 0024685- 10.2014.404.9999, Sexta Turma, Relator Hermes Siedler da Conceição Júnior, D.E. 26/11/2015) Outro não é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 3ª Região: PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. ARTIGO 557, § 1º, DO CPC. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART. 48, §§ 3º E 4º DA LEI Nº. 8.213/1991. IRRELEVÂNCIA DA PREPONDERÂNCIA DE ATIVIDADE URBANA OU RURAL. ART. 194, II, DA CF. INAPLICABILIDADE DO DISPOSTO NO ART. 55, §2º, DA LEI Nº. 8.213/1991 AO INSTITUTO DA APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA OU MISTA. 1. Nos termos do art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei 8.213/1991, incluídos pela Lei nº. 11.718/2008, o(a) segurado(a) terá direito a se aposentar por idade, na forma híbrida, isto é, como trabalhador(a) rural e urbano(a), quando atingir 65 (homens) ou 60 (mulheres) anos, desde que tenha cumprido a carência exigida, devendo ser considerados ambos os períodos (urbano e rural) para efeitos de se apurar o cumprimento da carência. 2. Com o advento da Lei nº. 11.718/2008, surgiu uma discussão sobre se o novo benefício abarcaria, além dos trabalhadores rurais (conforme a literalidade do §3º do art. 48 da Lei nº. 8.213/91), também os trabalhadores urbanos, ou seja, se estes poderiam computar ou mesclar período rural anterior ou posterior a 11/1991 como carência para a obtenção da aposentadoria por idade híbrida. Tal controvérsia apareceu, inclusive, graças à previsão do artigo 51, §4º, do Decreto 3.048/1999, com redação dada pelo Decreto 6.777/2008. Uma corrente doutrinária e jurisprudencial passou a sustentar que a aposentadoria por idade híbrida teria natureza de benefício rural e somente poderia ser concedida ao trabalhador rural que tenha, eventualmente, exercido atividade urbana, mas não ao trabalhador urbano que tenha, eventualmente, exercido alguma atividade rural. Argumentou-se que o §3º do artigo 48 da Lei 8.213/1991 dispõe expressamente que o benefício se destina aos trabalhadores rurais e que não haveria previsão de fonte de recursos para se financiar a ampliação do benefício em favor dos trabalhadores urbanos, de modo que conceder o benefício aos urbanos afrontaria o disposto nos artigos 195, § 5º, da CF/88 e 55, § 2º da Lei 8.213/1991. Quanto ao disposto no artigo 51, § 4º, do Decreto 3.048/1999, argumentou-se tratar-se de uma norma que objetivaria resguardar o direito adquirido daqueles que implementaram as condições enquanto rurais mas deixaram para formular pedido em momento posterior. Essa corrente foi adotada pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) nos julgamentos dos Pedidos de Uniformização n. 2008.50.51.001295-0 (Rel. Juiz Federal Paulo Ernane Moreira Barros) e n. 5001211- 58.2012.4.04.7102 (Rel. Juíza Federal Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo). 3. Ocorre, contudo, que, em outubro de 2014, na ocasião do julgamento do RESP nº. 1407613, o Superior Tribunal de Justiça adotou entendimento diverso, posicionando-se no sentido de que pouco importa se o segurado era rural ou urbano quando do requerimento, podendo somar ou mesclar os tempos para fins de obter o benefício de aposentadoria por idade (híbrida) aos 65 (sessenta e cinco) anos, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. Inclusive, no bojo de julgamento realizado em novembro de 2014 (PEDILEF nº. 50009573320124047214), a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) reviu seu posicionamento anterior para adotar a mais recente diretriz hermenêutica da Segunda Turma do C. STJ, fixada nos autos do Recurso Especial nº. 1407613. 4. Deve ser adotada a mais recente diretriz hermenêutica emanada pelo E. Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual é irrelevante o fato de o(a) segurado(a) estar ou não exercendo atividade rural no momento em que completa a idade ou apresenta o requerimento administrativo, bem como o tipo de trabalho predominante. O que deve definir o regime jurídico da aposentadoria é o trabalho exercido no período de carência: se exclusivamente rural ou urbano, será devida, respectivamente, aposentadoria por idade rural ou urbana; se de natureza mista, o regime será o do artigo 48, parágrafos 3º e 4º, da Lei nº. 8.213/1991, independentemente de a atividade urbana ser a preponderante no período de carência ou a vigente quando do implemento da idade. 5. Na hipótese dos autos, a parte autora comprova o cumprimento da carência exigida para a concessão do benefício de aposentadoria por idade. 6. Compartilha-se da tese de que o disposto no art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei 8.213/1991 materializa a previsão constitucional da uniformidade e equivalência entre os benefícios destinados às populações rurais e urbanas (art. 194, II, da CF), o que torna irrelevante a preponderância de atividade urbana ou rural para definir a aplicabilidade da inovação legal. Reputa-se, pois, que, se a aposentadoria por idade rural exige apenas a comprovação do trabalho rural em determinada quantidade de tempo, sem o recolhimento de contribuições, tal situação deve ser considerada para fins do cômputo da carência necessária à concessão de aposentadoria por idade híbrida, não sendo, portanto, exigível o recolhimento das contribuições correspondentes ao período de atividade campesina. Nesse sentido, já se posicionou o E. STJ, no julgamento do RESP. nº. 1407613. 7. Agravo Legal a que se nega provimento. (TRF 3ª Região, SÉTIMA TURMA, AC 0026831-27.2009.4.03.9999, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL FAUSTO DE SANCTIS, julgado em 30/11/2015, e- DJF3 Judicial 1 DATA:03/12/2015) Da mesma forma, o Tribunal Regional da 1ª Região entende pela possibilidade de utilizar períodos rurais antigos: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. HÍBRIDA OU MISTA. FUNGIBILIDADE. TEMPO RURAL E URBANO. ART. 48 § 3º, LEI 8.213/91. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADA POR PROVA TESTEMUNHAL. REQUISITO ETÁRIO ATINGIDO NO CURSO DA AÇÃO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. 1. Sentença sujeita à remessa oficial, vez que de valor incerto a condenaçãoimposta ao INSS. Remessa oficial, tida por interposta. 2. A atividade urbana exercida pela parte-autora (01.12.1999 a 09.07.2000 e 1º.04.2002 a 22.07.2009), durante o período de carência descaracteriza o labor rurícola, afastando-se a possibilidade de concessão de aposentadoria rural por idade com esteio no art. 48, §1º da Lei 8.213/91. 3. Entretanto, a situação posta nos autos se enquadra exatamente na hipótese descrita no § 3º do art. 48, da Lei de Benefícios: a aposentadoria por idade mista ou híbrida, na qual há a contagem híbrida da carência (não contributiva rural e contributiva urbana), exigindo-se o requisito etário sem o redutor dos cinco anos, isto é, 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher. 4. Na hipótese, a parte-autora, nascida em 04.01.1948, completou 60 anos de idade em 2008, exigindo-se prazo de carência de 162 meses (1994 a 2008) para aposentadoria rural e, para a aposentadoria híbrida, 65 anos e prazo de 180 meses, completados em 04.01.2013. O início razoável de prova material restou comprovado ante a apresentação da certidão de casamento, celebrado em 09.02.1974 (fl. 24); e certidão de nascimento de seu filho, ocorrido em 29.07.1975, ambas o qualificando como agricultor. 5. Produzida prova testemunhal de forma harmônica e consistente (fl. 60 - CD), apta a corroborar o início de prova material colacionado aos autos. 6. O CNIS do requerente (fl. 39) indica vínculos urbanos, no período de 01.12.1999 a 09.07.2000 e 1º.04.2002 a 22.07.2009, que são considerados para deferimento do pleito nessa modalidade híbrida. 7. Preenchidos, portanto, os requisitos do art. 48, §3º, da Lei 8.213/91, deve ser concedido o benefício de aposentadoria rural mista à parte-autora, mantendo-se a sua condição de segurado especial. 8. O termo inicial do benefício será a data em que a parte-autora completou 65 anos, ou seja, 04.01.2013. 9. Correção monetária e juros de mora nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal. 10. Assegurada a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, nos termos do art. 273, do CPC.10. Apelação do INSS desprovida e remessa oficial, tida por interposta, parcialmente provida para reformar a sentença e condenar o INSS a conceder à parte-autora o benefício de aposentadoria rural por idade mista, nos moldes do art. 48 §§ 3º e 4º da Lei 8.213/91. (AC 0030512-58.2014.4.01.9199 / MT, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA, SEGUNDA TURMA, e-DJF1 p.1093 de 01/12/2015) Já no âmbito dos Juizados Especiais Federais, não há o mesmo entendimento, conforme Turma Regional de Uniformização da 4ª Região: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA REGIONAL. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART. 48, §3º, DA LEI 8.213/91. DESNECESSIDADE DE VINCULAÇÃO DO SEGURADO AO TRABALHO RURAL QUANDO DO IMPLEMENTO DO REQUISITO ETÁRIO. EXIGÊNCIA DE TRABALHO RURAL NO PERÍODO DE CARÊNCIA. INCIDENTE PARCIAL PROVIDO. 1. É necessária a evolução do entendimento desta Turma de Uniformização quando se encontra em contrariedade à uniforimação da TNU, a precedentes do STJ e à jurisprudência consolidada do TRF da 4ª Região, desafiando graves e sérios fundamentos. 2. Para fins de concessão de aposentadoria por idade híbrida (Lei 8.213/91, art. 48, §3º), embora não se deva exigir a vinculação do segurado ao trabalho rural quando do implemento do requisito etário, é indispensável uma "nota de contemporaneidade" da atividade rural, sendo possível a soma do tempo de serviço rural com períodos contributivos se a atividade rural for exercida no período de carência (Lei 8.213/91, art. 48, §2º). 3. Retorno dos autos à Turma Recursal de origem para adequação do julgado, observando-se o entendimento ora uniformizado. 4. Incidente parcialmente provido. ( 5001379-08.2012.404.7214, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão José Antonio Savaris, juntado aos autos em 15/04/2015) A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais julgou o direito à aposentadoria híbrida, entendendo que a última atividade pode ser urbana: Aposentadoria mista ou híbrida. Contagem de tempo rural para aposentadoria urbana. Aplicação extensiva do atual do artigo 48, § 3º e 4o. da lei de benefícios. Diretriz fixada pela segunda turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial 1.407.613. Isonomia do trabalhador rural com o urbano. Aposentadoria por idade na forma híbrida permitida também para o urbano quando houver, além da idade, cumprido a carência exigida com consideração dos períodos de trabalho rural. Pedido de uniformização conhecido e provido. (Pedilef 50009573320124047214) Além da decisão já aludida anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça também se posicionou em outros recursos especiais. Foi escolhido o abaixo para demonstrar que o STJ não só admite o cômputo do tempo rural somado com o urbano, como reconhece o direito de o segurado utilizar o período agrícola antigo, antes de 1991: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART. 48, §§ 3º e 4º, DA LEI 8.213/1991. TRABALHO URBANO E RURAL NO PERÍODO DE CARÊNCIA. REQUISITO. LABOR CAMPESINO NO MOMENTO DO IMPLEMENTO DO REQUISITO ETÁRIO OU DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA AFASTADO. CONTRIBUIÇÕES. TRABALHO RURAL. CONTRIBUIÇÕES. DESNECESSIDADE. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART. 48, §§ 3º e 4º, DA LEI 8.213/1991. TRABALHO URBANO E RURAL NO PERÍODO DE CARÊNCIA. REQUISITO. LABOR CAMPESINO NO MOMENTO DO IMPLEMENTO DO REQUISITO ETÁRIO OU DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA AFASTADO. CONTRIBUIÇÕES. TRABALHO RURAL. CONTRIBUIÇÕES. DESNECESSIDADE. 1. O INSS interpôs Recurso Especial aduzindo que a parte ora recorrida não se enquadra na aposentadoria por idade prevista no art. 48, § 3º, da Lei 8.213/1991, pois no momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo era trabalhadora urbana, sendo a citada norma dirigida a trabalhadores rurais. Aduz ainda que o tempo de serviço rural anterior à Lei 8.213/1991 não pode ser computado como carência. 6. Sob o ponto de vista do princípio da dignidade da pessoa humana, a inovação trazida pela Lei 11.718/2008 consubstancia a correção de distorção da cobertura previdenciária: a situação daqueles segurados rurais que, com a crescente absorção da força de trabalho campesina pela cidade, passam a exercer atividade laborais diferentes das lides do campo, especialmente quanto ao tratamento previdenciário. 7. Assim, a denominada aposentadoria por idade híbrida ou mista (art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei 8.213/1991) aponta para um horizonte de equilíbrio entre as evolução das relações sociais e o Direito, o que ampara aqueles que efetivamente trabalharam e repercute, por conseguinte, na redução dos conflitos submetidos ao Poder Judiciário. 8. Essa nova possibilidade de aposentadoria por idade não representa desequilíbrio atuarial, pois, além de exigir idade mínima equivalente à aposentadoria por idade urbana (superior em cinco anos à aposentadoria rural), conta com lapsos de contribuição direta do segurado que a aposentadoria por idade rural não exige. 9. Para o sistema previdenciário, o retorno contributivo é maior na aposentadoria por idade híbrida do que se o mesmo segurado permanecesse exercendo atividade exclusivamente rural, em vez de migrar para o meio urbano, o que representará, por certo, expressão jurídica de amparo das situações de êxodo rural, já que, até então, esse fenômeno culminava em severa restrição de direitos previdenciários aos trabalhadores rurais. 10. Tal constatação é fortalecida pela conclusão de que o disposto no art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei 8.213/1991 materializa a previsão constitucional da uniformidade eequivalência entre os benefícios destinados às populações rurais e urbanas (art. 194, II, da CF), o que torna irrelevante a preponderância de atividade urbana ou rural para definir a aplicabilidade da inovação legal aqui analisada. 11. Assim, seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo, o trabalhador tem direito a se aposentar com as idades citadas no § 3º do art. 48 da Lei 8.213/1991, desde que cumprida a carência com a utilização de labor urbano ou rural. Por outro lado, se a carência foi cumprida exclusivamente como trabalhador urbano, sob esse regime o segurado será aposentado (caput do art. 48), o que vale também para o labor exclusivamente rurícola (§§1º e 2º da Lei 8.213/1991). (REsp 1407613/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe 28/11/2014) Neste Recurso Especial se verificou que o período rural reconhecido foi de 01/01/1982 a 30/06/1992, correspondente a 126 meses. Em relação ao tempo urbano reconhecido administrativamente pelo INSS até a data do requerimento administrativo (fl. 19) - qual seja, de 14/07/1992 a 18/08/1993, 13/10/1993 a 10/05/1995, 14/03/1996 a 09/04/1996 e 01/09/2008 a 28/02/2010 - corresponde a 54 contribuições. Somando-se esse período são totalizados 180 meses. No mesmo sentido, decidiu a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiiça: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA HÍBRIDA POR IDADE. ART. 48, § 3º, DA LEI N. 8213/91. EXEGESE. MESCLA DOS PERÍODOS DE TRABALHO URBANO E RURAL. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE RURAL NO MOMENTO QUE ANTECEDE O REQUERIMENTO. DESNECESSIDADE. CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO RURAL ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI N. 8.213/91 PARA FINS DE CARÊNCIA. POSSIBILIDADE. 1. A Lei 11.718/2008, ao alterar o art. 48 da Lei 8.213/91, conferiu ao segurado o direito à aposentadoria híbrida por idade, possibilitando que, na apuração do tempo de serviço, seja realizada a soma dos lapsos temporais de trabalho rural com o urbano. 2. Para fins do aludido benefício, em que é considerado no cálculo tanto o tempo de serviço urbano quanto o de serviço rural, é irrelevante a natureza do trabalho exercido no momento anterior ao requerimento da aposentadoria. 3. O tempo de serviço rural anterior ao advento da Lei n. 8.213/91 pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que não tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições. 4. O cálculo do benefício ocorrerá na forma do disposto no inciso II do caput do art. 29 da Lei n. 8.213/91, sendo que, nas competências em que foi exercido o labor rurícola sem o recolhimento de contribuições, o valor a integrar o período básico de cálculo - PBC será o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social. 5. A idade mínima para essa modalidade de benefício é a mesma exigida para a aposentadoria do trabalhador urbano, ou seja, 65 anos para o homem e 60 anos para a mulher, portanto, sem a redução de 5 anos a que faria jus o trabalhador exclusivamente rurícola. 6. Recurso especial improvido. (REsp 1476383/PR, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe 08/10/2015) Com base no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais entendeu, recentemente, que: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA HÍBRIDA POR IDADE. ART. 48, § 3º, DA LEI N.º 8.213/91, ALTERADA PELA LEI N.º 11.718/2008. TRABALHO RURAL E URBANO DURANTE O PERÍODO DE CARÊNCIA. DESNECESSIDADE DE EXERCÍCIO DE ATIVIDADE RURAL NO PERÍODO IMEDIATMENTE ANTERIOR À DATA DE ENTRADA DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO (DER). PRECEDENTE DO STJ E DA TNU. PEDILEF CONHECIDO E PROVIDO. 1. Pedido de uniformização de interpretação de lei federal – PEDILEF apresentado contra acórdão de Turma Recursal que negou provimento a recurso inominado, em sede de demanda visando à concessão de aposentadoria híbrida por idade, em razão da parte autora não ter comprovado o exercício de atividade rural em regime de economia familiar no período imediatamente anterior à data de entrada do requerimento administrativo, por ser segurada urbana. 2. O PEDILFE deve ser conhecido, pois há divergência entre a decisão recorrida e o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça – STJ no REsp n.º 1.407.613/RS e esta TNU no PEDILEF n.º 50009573320124047214 (art. 14, § 2º, da Lei n.º 10.259/2001). 3. Confiram-se os excertos daqueles julgados: 3.1. STJ: “PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART. 48, §§ 3º e 4º, DA LEI 8.213/1991. TRABALHO URBANO E RURAL NO PERÍODO DE CARÊNCIA. REQUISITO. LABOR CAMPESINO NO MOMENTO DO IMPLEMENTO DO REQUISITO ETÁRIO OU DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA AFASTADO. CONTRIBUIÇÕES. TRABALHO RURAL. CONTRIBUIÇÕES. DESNECESSIDADE. 1.(...). 2. (...). (…) 11. Assim, seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo, o trabalhador tem direito a se aposentar com as idades citadas no § 3º do art. 48 da Lei 8.213/1991, desde que cumprida a carência com a utilização de labor urbano ou rural. Por outro lado, se a carência foi cumprida exclusivamente como trabalhador urbano, sob esse regime o segurado será aposentado (caput do art. 48), o que vale também para o labor exclusivamente rurícola (§§1º e 2º da Lei 8.213/1991). 12. Na mesma linha do que aqui preceituado: REsp 1.376.479/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Julgado em 4.9.2014, pendente de publicação. 13. (…). (...) 16. Correta a decisão recorrida que concluiu (fl. 162/e-STJ): "somados os 126 meses de reconhecimento de exercício de atividades rurais aos 54 meses de atividades urbanas, chega-se ao total de 180 meses de carência por ocasião do requerimento administrativo, suficientes à concessão do benefício, na forma prevista pelo art. 48, § 3º, da Lei nº 8.213/1991". 17. Recurso Especial não provido.” (STJ, Segunda Turma, REsp n.º 1.407.613/RS, rel. Min. Herman Benjamin, julgamento em 14/10/2014, DJe de 28/11/2014, unânime e sem grifos no original); [...] 5. No caso concreto, o benefício de aposentadoria híbrida por idade foi negado à parte autora apenas em razão do não exercício de atividade rural em regime de economia familiar no período imediatamente anterior à data de entrada do requerimento administrativo (DER), o que vai de encontro à diretriz de interpretação da lei federal estabelecida pelos precedentes mencionados. 6. Inclusive, houve o reconhecimento do exercício de atividades rurais em regime de economia familiar durante o período 01/01/1965 a 19/03/1978 (13 anos, 2 meses e 19 dias), que somado ao período de exercício de atividade urbana reconhecido pela instância ordinária (setenta e nove contribuições) resulta no cumprimento de mais do que os 174 (cento e setenta e quatro) meses de contribuição indispensáveis no caso da parte autora. 7. Assim, ressalvado o entendimento pessoal deste Relator e adotando aquele dos precedentes acima descritos; em decorrência, ainda, da aplicação da Questão de Ordem n.º 38 desta TNU, como já houve instrução suficiente na instância ordinária, e considerando a satisfação de todos os requisitos necessários ao deferimento da prestação, o PEDILEF deve ser provido. 8. Por isso, deve-se conhecer do PEDILEF, dar-lhe provimento, reformar a decisão recorrida e cominar ao INSS a obrigação de conceder aposentadoria híbrida por idade à parte autora, com data de início de benefício (DIB) em 06/09/2011 (DER), bem como a lhe pagar as parcelas atrasadasdevidas desde a DIB até a data de implantação do benefício, acrescidas de correção monetária e juros de mora, que devem respeitar as seguintes diretrizes: a) até junho/2009, regramento previsto para correção monetária e juros de mora no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal para a classe da ação; b) de julho/2009 e até junho/2012, TR - Taxa Referencial (correção monetária) e 0,5% (meio por cento) ao mês de juros de mora (art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, alterada pela Lei n.º 11.960/2009); e c) a partir de julho/2012, TR - Taxa Referencial (correção monetária) e a taxa de juros aplicada às cadernetas de poupança (art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, alterada pela Lei n.º 11.960/2009 e Lei n.º 12.703/2012). Declara-se, desde logo, que eventual coisa julgada material a ser formada em razão da decisão desta TNU não alcançará a renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria aqui deferida, já que tal ponto não foi objeto de discussão no processo. Sem custas e sem honorários (art. 55 da Lei n.º 9.099/95).A Turma, por unanimidade, conheceu do incidente de uniformização e, por maioria, deu-lhe provimento nos termos do voto do(a) Juiz(a) Relator(a). (PEDILEF 50006423220124047108, JUIZ FEDERAL MARCOS ANTÔNIO GARAPA DE CARVALHO, TNU, DOU 26/02/2016 PÁGINAS 173/301.) Por fim, no próximo item, tratar-se-á do valor do benefício quando computados períodos urbanos e rurais. 7. Do valor da aposentadoria por idade híbrida Em sendo reconhecido o direito à aposentadoria por idade híbrida, quer seja a última atividade rural, quer seja urbana, seu valor não está limitado ao salário mínimo. Neste sentido, é clara a disposição da lei: Art. 48. § 4o Para efeito do § 3o deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei, considerando- se como salário-de-contribuição mensal do período como segurado especial o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social. Esclarece Adriane Bramante de Castro Ladenthin que (…) havendo salários de contribuição no período básico de cálculo, o benefício será calculado como as demais aposentadorias por idade. Não havendo salários de contribuição, o valor será fixo, ou seja, de um salário mínimo. 8 Determina, portanto, a lei, que o benefício deve ser calculado da mesma forma que para uma aposentadoria por idade urbana. Note-se, pois, que o legislador não dá margem para uma interpretação assistencialista deste dispositivo, como costuma acontecer quando se trata de benefícios concedidos aos trabalhadores rurais. Por conseguinte, considera-se muito justo que sejam levadas em consideração as contribuições mensais realizadas nos períodos em que exerceu a atividade na condição de segurado urbano. 8. Considerações Finais Sempre que há uma mudança legislativa beneficiando os trabalhadores rurais, verifica-se resistência na sua aplicação. Infelizmente, ainda predomina um entendimento de que deve ser sempre restritiva a interpretação, geralmente com base numa visão assistencialista dos benefícios a que os trabalhadores rurais fazem jus. Encontra-se jurisprudência reconhecendo a aposentadoria híbrida, inclusive quando a última atividade é urbana. Por certo, tais entendimentos não são uniformes, havendo posicionamentos diferentes. Já se avançou no entendimento favorável dos Tribunais Regionais Federais, da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, bem como do Superior Tribunal de Justiça. O nível de divergência reside na possibilidade de usar o período rural anterior a 1991 para essa modalidade de aposentadoria. O STJ posiciona-se favoravelmente nessa questão, porém nos Juizados Especiais Federais ainda há resistência. Deve-se observar ainda que a idade para a aposentadoria híbrida é a de 60 anos para a mulher e 65 anos para o homem, ou seja, não há a redução de idade em cinco anos prevista para os trabalhadores rurais, visto que a totalidade do período de atividade não foi na agricultura. Por fim, há que se atentar para o disposto no § 4° do mesmo artigo, que determina que o benefício será calculado com base na média das contribuições da mesma forma que uma aposentadoria por idade urbana, considerando-se como salário- de-contribuição, nos períodos de atividade rural, o salário mínimo. 8 LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria por idade. 2. Ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 164. A aposentadoria híbrida é, sem dúvida, uma alteração importante na nossa legislação previdenciária. Cabe ao aplicador da lei estar aberto para o que o legislador determinar, otimizando o cumprimento das novas normas em detrimento de buscar reduzir a sua efetividade. Essa é uma das funções do INSS. Esta é também a função do Poder Judiciário. 9. Referências ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. de Virgilio Afonso da Silva. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2009. BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Previdência Rural Inclusão Social. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008. BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. A Prova da Atividade Rural: algumas observações. IN: BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm; FORTES, Simone Barbisan. Previdência do Trabalhador Rural em Debate. Curitiba: Juruá, 2008. FOLMANN, Melissa. Aposentadoria por idade. Teoria e Prática. Curitiba: Juruá, 2012. LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria por idade. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2011. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Agricultura familiar produz 70% de alimentos do País mas ainda sofre na comercialização. Disponível em < http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-07-27/agricultura-familiar-tem-desafio- de-aumentar-vendas-e-se-organizar-melhor-diz-secretario> Acesso em 30. Dez. 2011.
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