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Resenha crítica A construção do objeto e das hipóteses

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Título: “Resenha Crítica: A construção do objeto e das hipóteses: empirismo e 
neutralidade?” 
 Autor: Alexandre Roberto Neme Kulpel (RA 21059614) 
Disciplina: Introdução às Humanidades e Ciências Sociais 
 
Na segunda parte de “A profissão do sociólogo: preliminares epistemológicas”1, 
encontramos uma interessante discussão sobre a construção do “fato”, ou objeto, das 
pesquisas sociológicas na linha de apresentar “as formas de demissão empirista”¹. A discussão 
está dividida em quatro seções, que optamos por seguir também neste trabalho. 
1) As abdicações do empirismo 
As inclinações a primazia do empírico são problematizadas pelos autores através de 
uma reflexão que se opões ao positivismo e são apresentados exemplos que corroboram a 
necessidade de se observar a priori o contexto de produção de dados obtidos de outrem antes 
de utiliza-los em uma nova análise, como o totemismo estudado por Lévi Strauss e o suicídio 
estudado por Durkheim. 
Os autores também destacam o caráter passivo do “real”, para o qual se pode formular 
questões, mas não obter respostas aprioristicamente e também corroboram um afastamento 
do pesquisador do real. Para os autores“[...] o sociólogo que recusa a construção controlada 
e consciente de seu distanciamento ao real e de sua ação sobre o real [...]”¹ corre o risco de 
impor questões ao sujeito de sua pesquisa que não fazem parte da experiência, deixar de fazer 
as que são suscitadas pela experiência e cair na “confusão positivista”¹ de impor ao sujeito 
questões que o próprio cientista se impõe sobre o sujeito: “Portanto, o sociólogo terá de fazer 
uma difícil escolha quando, desencaminhado por uma falsa filosofia de objetividade, vier a 
tentar anular-se como sociólogo”¹. 
Importante também ressaltar que no encadeamento metodológico apresentado pelos 
autores, o sociólogo deve levar em consideração sempre o arcabouço teórico que fundamenta 
sua pesquisa e conflita-lo com o real, sob pena de incorrer na sociologia espontânea, por não 
se afastar do real observado. 
 
2) Hipóteses ou pressupostos 
Aqui os autores evidenciam o alerta relacionado ao uso das pré-noções, ao se ignorar 
todo o arcabouço teórico e metodológico que é ponto de partida de qualquer eventual análise. 
Novamente é reiterada a importância do afastamento, anunciado já por Durkheim, das pré-
noções, de forma a possibilitar a construção mais clara o objetivo da pesquisa e, 
consequentemente, as questões que lhe serão formuladas. 
Ao dizerem que “Para obedecer verdadeiramente ao imperativo que formula Simiand e para 
não dizer à estatística outra coisa senão o que ela diz, deve-se questionar em cada caso o que 
ela diz e pode dizer, em que limites e sob que condições”¹, os autores dão um exemplo de 
problematização do método sociológico, ao declarar a importância de se observar e contestar 
as condições e pressupostos que configuram um objeto ou um dado. 
 
3) A falsa neutralidade das técnicas: objeto construído ou artefato 
Os autores iniciam apontando que as discussões relacionadas à “neutralidade 
axiológica” tendem a servir (com prejuízo) de “[...] substituto à discussão propriamente 
epistemológica sobre a “neutralidade metodológica” das técnicas [...]”¹, o que dificulta o 
processo de afastamento do real já defendido. 
Sobre as técnicas da pesquisa sociológica, os autores evidenciam a importância de estarmos 
atentos a dialética que as mesmas ensejam e aos possíveis vieses que possam produzir, 
natural ou intencionalmente. O fato de que na pesquisa sociológica o pesquisador encontra-
se, ele mesmo, imerso no seu espaço de pesquisa; diferentemente do que ocorre nas 
ciências naturais, por exemplo, onde a distinção entre laboratório e vida pessoal do 
pesquisador são completa e objetivamente claras; evidencia que as relações conscientes e 
inconscientes do pesquisador com o objeto podem ensejar a criação de “artefatos”, formas 
similares ao real, mas que não constituem um objeto de pesquisa de qualidade: “A demissão 
pura e simples diante do dado de uma prática que reduz o elenco de hipóteses a uma série 
de antecipações fragmentárias e passivas leva às manipulações cegas de uma técnica que 
engendra automaticamente artefatos, construções vergonhosas que são a caricatura do fato 
construído metódica e conscientemente, isto é, cientificamente. Ao se recusar a ser o sujeito 
 
1 Bordieu, Pi.; Chamboredon, J.C.; Passeron, J.C. (1999) “A profissão do sociólogo: 
preliminares epistemológicas. Petrópolis: Vozes. Segunda parte: A construção do objeto, p. 
45-72. 
 
 
cientifico de sua sociologia, o sociólogo positivista dedica-se, salvo por milagre do 
inconsciente, a fazer uma sociologia sem objetivo cientifico”¹. 
4) A analogia e a construção das hipóteses 
A construção de hipóteses é condicio sine qua non para o desenvolvimento de 
pesquisas sociológicas, como em qualquer outra área do conhecimento. Deste modo, durante 
todo o processo de construção do objeto deve ocorrer um questionamento sistemático da 
construção per se, garantindo que o objeto seja problematizado de maneira constante na 
análise, evitando a busca de induções automáticas de hipóteses a partir dos fatos. 
Em relação às analogias, que se constituem como uma forma de 
elaboração/visualização das hipóteses, há que se ter cuidado, dado que o método mais 
recorrente na sociologia é a análise comparativa, segundo epistemólogos. 
Também é importante abordar a problematização dos autores sobre o tipo ideal 
weberiano, que possui intima relação com o dito real, uma vez que Weber o define de modo 
relacional com a realidade, um elemento comparativo: “Para escapar aos perigos inerentes a 
tal procedimento, é necessário tratar o tipo ideal, não em si mesmo e por si mesmo – à maneira 
de uma amostra reveladora que bastaria copiar para conhecer a verdade de todo o conjunto - 
mas como um elemento de um grupo de transformações, referindo-o a todos os casos da 
família da qual ele constitui um caso privilegiado”. 
5) Modelo e teoria 
Os modelos, na visão dos autores, dividem-se em modelos miméticos, que são meras 
reproduções dos traços externos do real que modelam, e os modelos analógicos, que se 
distinguiriam por oferecer uma possibilidade de apreender os princípios ocultos das realidades 
que tencionam interpretar. Fica evidente, na construção de Bordieu, Chamboredon e Passeron 
que os modelos não derivam seu valor explicativo de seu grau de formalidade, mas de seu 
método construtivo, idealmente, através (ou acompanhado constantemente) da 
problematização do objeto. 
Também é importante mencionar que a formalização é, na visão dos autores, uma 
objeção ao entendimento das analogias ocultas, haja vista a complexidade do sistema 
simbólico envolvido na formulação de um objeto que, a priori, apreenderia uma parte da 
realidade, que torna o pesquisador mais propenso a incorrer na sociologia espontânea e na 
ideologia ao buscar formular modelos que auxiliem em suas análises. 
Encerramos com a citação de uma passagem iluminadora sobre o papel e utilidade dos 
modelos: “Da mesma forma que o matemático pode encontrar na definição da reta como curva 
de curvatura nula o princípio de uma teoria geral das curvas, sendo que a linha curva é melhor 
generalizador do que a reta, assim também a construção de um modelo permite tratar 
diferentes formas sociais como outras tantas realizações de um mesmo grupo de 
transformações e, por conseguinte, fazer surgir propriedades ocultas que só se revelam 
quando cada uma das realizações é colocada em relação com todas as outras, isto é, por 
referência ao sistema completo das relações pelo qual se exprime o princípio da afinidade 
estrutural das mesmas.”¹

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