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www.hermespardini.com.br 1 DOSAGEM DE ACETONA 1. Introdução A acetona apresenta dois aspectos médicos importantes. O primeiro decorre do fato de ser a acetona um dos três corpos cetônicos, juntamente com o acetoacetato e o beta-hidroxibutirato, que ocorrem naturalmente no corpo, sendo formada a partir da oxidação de ácidos graxos. O segundo aspecto é a utilização da dosagem de acetona, particularmente na urina, como marcador de exposição biológica à acetona e ao isopropanol (1). 2. Exposição à Acetona (exógena) A acetona (dimetilcetona, 2-propanona ou éter piroacético) é um líquido incolor, com odor característico, volátil, inflamável e miscível com solventes orgânicos. É usada como solvente para gorduras, óleos, ceras, plásticos e borrachas, na produção de óleos, nas indústria química e de tingimento, como removedor de tintas e vernizes, em detergentes, adesivos, na produção de alimentos e em análises laboratoriais (1,2). É rapidamente absorvida pelas vias respiratória e gastrintestinal, sendo detectada no sangue 30 minutos após a inalação e 20 minutos após ingestão, tendo meia-vida sangüínea de 6 horas. A exalação via pulmonar é a principal via de eliminação da acetona e do seu metabólito terminal (CO2), e fração menor da acetona é eliminada inalterada pela via urinária (1). A acetona é menos tóxica do que os demais solventes industriais, não provocando sintomas até concentrações atmosféricas de 2000 ppm. Entretanto, em altas concentrações (> 12.000 ppm) leva à irritação de pele, conjuntivas e do trato respiratório. Em exposição mais intensas, náuseas, vômitos, depressão do SNC (confusão, inconsciência, coma) e falência cardiovascular podem ocorrer (1,3). Toxicidade crônica por exposição à acetona é incomum, podendo estar relacionada a cefaléias, tonteiras, tosse e alterações menstruais. A carcinogênese da acetona não é definida (1,2). 3. Exposição ao Isopropanol O Isopropanol é um álcool usado como solvente e em produtos para cabelo e pele. É rapidamente absorvido pelas vias respiratória e gastrintestinal, com pico sangüíneo em 30 a 60 minutos após a ingestão e meia-vida de 3 a 6,4 horas. Cerca de 84% do isopropanol é metabolizado, sendo a acetona, seu principal metabólito, excretado pelos rins e pulmões. Os efeitos da intoxicação aguda são dor abdominal, vômitos, náuseas, hematêmese, depressão do SNC, hipotensão e hipotermia. Pode-se encontrar acidose metabólica com anion gap normal (1,4,14). 4. Dosagem de Acetona A dosagem de acetona no sangue ou urina, pode ser realizada por cromatografia gasosa. Deve- se, entretanto, lembrar que diversas condições clínicas cursam com elevações da acetona endógena, tais como, jejum prolongado, exercícios extremos, cetoacidose diabética, cetoacidose etílica, acidemias orgânicas, doenças do depósito de glicogênio (5). Nestas condições clínicas, a pesquisa de corpos cetônicos no sangue é suficiente para o manejo clínico, sendo a dosagem da acetona reservada para a investigação de intoxicações acidentais e avaliação de exposição ocupacional à acetona e ao isopropanol. As amostras devem ser imediatamente congeladas, pois a falta de acondicionamento adequado pode levar a aumento das concentrações de acetona devido à dexcarboxilação do acetoacetato (1). 4.1. Níveis plasmáticos de Acetona Na maioria dos pacientes saudáveis, sem exposição ocupacional, encontramos valores de acetona plasmática menores que 0,2 mg/dl, sendo que níveis de até 2 mg/dl não estão associados com efeitos adversos (5,6). Em pacientes com jejum prolongado, os níveis de acetona plasmática podem alcançar 4,65 mg/dl (1). Pacientes obesos também tendem a apresentar valores mais elevados do que indivíduos magros. Em pacientes com cetoacidose diabética valores entre 29 e 42,4 mg/dl são descritos (1). Valores acima de 20 mg/dl estão associados com sintomatologia de toxicidade (5). Os níveis plasmáticos de acetona nos indivíduos com exposição ocupacional podem ser até 56 vezes mais altos do que em não expostos (7). Estudo com 110 homens expostos, em fábricas de fibras de acetato, encontrou ao fim do primeiro dia de trabalho acetona sangüínea de 0,38 mg/dl (8). Acrescenta-se que leucocitose pode ocorrer por 24 horas após a interrupção da exposição à acetona (9). A legislação nacional não estabelece a dosagem da acetona no sangue como indicador biológico de exposição ocupacional à acetona ou ao isopropanol. Nos EUA, o órgão ACGIH (American Conference of Industrial Hygienists) estabelece o índice www.hermespardini.com.br 2 biológico de exposição (BEI) de 5 mg/dl para exposição ao isopropanol (10,11). 4.2. Níveis plasmáticos de Acetona Geralmente, em indivíduos saudáveis, os níveis de acetona urinária são inferiores a 0,3 mg/dl, sendo dependentes do tempo de jejum (5,12). A acetona urinária é o melhor indicador de exposição ocupacional à acetona e ao isopropanol, embora seu valor na intoxicação crônica não esteja definido (8,9,10). Elevações da acetona urinária ocorrem durante a exposição a concentrações atmosféricas de 250 ppm de acetona, decaindo ao normal dentro de 24 a 35 horas após interrupção da exposição (9). Embora a legislação brasileira não estabeleça valores de referência e indicador biológico de exposição à acetona e ao isopropanol, órgãos oficiais de outros países estabelecem a dosagem da acetona, em urina ao final de turno, como indicador de exposição a estes solventes (10,11,13). 5. Referências Bibliográficas 1. United Nations Environment Programme International Labour Organisation. WHO International Programme on Chemical Safety. Acetone. World Health Organization Geneva, 1998. 2. Michel OR. Metanol. In: Michel OR. Toxicologia Ocupacional. 2000.62-63. 3. Young JA. Acetone. Journal of Chemical Education. 2001; 78: 1175. 4. Zaman F, Pervez A, Abreo K. Isopropyl alcohol intoxication: A diagnostic challenge. Am J Kidney Dis. 2002; 40: E12. 5. Tietz NW. Acetone. Clinical Guide to Laboratory Tests. 3th. 4-5. 6. Rosemberg J, Harisson RJ. Biological Monitoring. In: LaDou J. Occupational and Enviromental Medicine. 1997. 640. 7. Wang G, Maranelli G, et al. Blood acetone concentration in “normal people” and in exposed workers 16 h after the end of the workshift. 1994; 65: 285-89. 8. Fugino A, Satoh T, et al. Biological Monitoring of workers exposed to acetone in acetate fibre plants. British Jounral of Industrial Medicine. 1992; 49: 654-7. 9. Toxicology Review of Selected Chemicals. OSHA. www.cdc.gov/niosh/pel88/64-67.html. 2002; 24: 21. 10. Heinrich-Ramm R, et al. Biological Monitoring for exposure to volatile organic compounds. IUPAC Recommendations 2000; 79: 3850436. 11. Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Nr- 7. Quadro 1. In: Segurança e Medicina do Trabalho. 50 ed. 2002. 12. Young DS, Huth E. Chemical Analytes and hematologic measurements. In: Young DS, Huth E.SI Units for Clinical Measurement. 1998. 62. 13. Ghittori S, Alessio A, Maestri L, et al. Monitoraggio biologico. G Ital Med Lav Erg. 2002; 24: 21. 14. Thomas G Rosano. Volatile Alcohols: ethanol, Metanol and isopropanol. In: Shae LM, Kwong TC. The Clinical Toxicology Laboratory. 2001; 186-8. O Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini realiza: Dosagem de Acetona urinária Material: urina ao final de turno. Método: Cromatografia Gasosa. Valores de referência: menor que 0,3 mg/dl. Exposição à acetona: menor que 10 mg/dl (EUA, ACGIH-BEI). Exposição ao isopropanol: menor que 5 mg/dl (EUA, ACGIH-BEI). Dosagem de Acetona plasmática Material: plasma fluoretado. Método: CromatografiaGasosa. Valores de referência: menor que 2,0 mg/dl. Exposição ao isopropanol: menor que 5 mg/dl (EUA, ACGIH-BEI). Nota: A legislação brasileira (NR-7) não estabelece valores de referência ou IBMP para a dosagem de acetona plasmática ou urinária. Assessoria Científica 2004. DOSAGEM DE ACETONA
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