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Dosagem de Tacrolimus 1. Introdução O tacrolimus (Prograf), tambémchamado de FK506, é um antibiótico macrolídeo com propriedades imunossupressoras. É utilizado para suprimir a rejeição a transplantes de órgãos, podendo, entretanto, causar neurotoxicidade e nefrotoxicidade. Esta droga possui índice terapêutico estreito e grande variabilidade interpaciente e intrapaciente na sua farmacocinética, além de pouca correlação entre a dose administrada e as concentrações sangüíneas. Desta forma, a monitorização do tacrolimus no sangue total é fundamental para obtenção de imunossupressão ótima com mínima toxicidade (1). 2. Farmacocinética O tacrolimus apresenta farmacocinética similar à ciclosporina, sendo, entretanto, mais hidrossolúvel e menos dependente da absorção de sais biliares, o que resulta em melhor biodisponibilidade (5% a 60%). Sua absorção é afetada pela ingestão concomitante de alimentos, particularmente, com refeições gordurosas que reduzem as taxas de absorção (2,3). O tacrolimus se liga a um grupo de proteínas denominado proteínas de ligação do FK506 (FKBP). A formação de um complexo pentamérico maior, composto pela FKBP, tacrolimus, calcimodulina e calcineurinas A e B resulta na inibição da atividade da calcineurina e conseqüente redução da produção de interleucina 2 (4). Menos de 5% da droga é depurada por via renal, sendo seu metabolismo predominantemente hepático. Existe ainda contribuição do intestino delgado no metabolismo do tacrolimus. A variabilidade individual na atividade das enzimas CYP3A, expressas nos enterócitos, contribuem para as diferenças entre indivíduos. Pacientes pediátricos apresentam metabolismo mais rápido, requerendo doses mais altas (2,5). O quadro 1 resume as interferências de drogas nas concentrações do tacrolimus (5). Quadro 1 (5) Drogas que inibem o sistema microssomal hepático (P450) com aumento das concentrações de tacrolimus: • Antibióticos macrolídeos. • Esteróides: anticoncepcional oral, danazol, metilprednisona, metiltestosterona. • Nicardipina • Midazolam • Antifúngicos azólicos: fluconazol, cetoconazol, clotrimazol. Drogas que induzem o sistema microssomal hepático (P450) com diminuição das concentrações de tacrolimus: • Fenobarbital • Fenitoína • Carbamazepina • Rifampicina 3. Utilidade clínica O tacrolimus é cerca de dez vezes mais potente que a ciclosporina e tem sido utilizado como alternativa a essa. A maioria dos regimes de imunossupressão no transplante hepático incluem tacrolimus, mas seu papel exato na terapia primária de manutenção nos demais transplantes ainda não está claro (3,6). Grandes estudos multicêntricos nos EUA e Europa, em transplantes renais e hepáticos mostraram que imunossupressão baseada em tacrolimus apresenta menor incidência de rejeição aguda que a terapia padrão com ciclosporina. No transplante renal, o tacrolimus é freqüentemente utilizado como terapia de resgate para tratamento de rejeição aguda refratária (6). Estudo multicêntrico randomizado em transplantados renais, com 287 pacientes usando tacrolimus e 273 usando ciclosporina formulação neoral mostrou redução significativa da rejeição aguda (19,6% vs 37,3%) no grupo do tacrolimus. A incidência de rejeição corticóide-resistente foi também menor com o tacrolimus (9,4% vs 21%) (7). 4. Toxicidade Os principais efeitos colaterais do tacrolimus incluem hiperglicemia, efeitos neurotóxicos e nefrotóxicos. O tacrolimus e a ciclosporina são igualmente nefrotóxicos. Pacientes em uso de tacrolimus têm maior incidência de diabetes e neurotoxicidade, mas com menor incidência de hipertensão, hiperlipidemia, hirsutismo e hipertrofia de gengiva (4,6). Desta forma, além da dosagem do imunossupressor, devem também ser monitorizados a creatinina, a função hepática e a glicose destes pacientes (2). 5. Monitorização Amostra, hora da coleta e freqüência Concentração pré-dose (C0), no período de vale (nível sérico mínimo antes da administração www.hermespardini.com.br 1 seguinte), geralmente tem boa correlação com exposição total à droga (5). O sangue total com EDTA deve ser preferido, pois o uso de heparina pode formar crioprecipitados com gradientes de concentração diferentes na amostra. A freqüência das coletas varia nos diversos protocolos clínicos, sendo o quadro 2 uma orientação. No período pós- transplante imediato, que é caracterizado por função instável do enxerto, extrema variabilidade na farmacocinética e aumento dos riscos de infecção e rejeição, está indicada a monitorização diária. Diversas situações clínicas, tais como, comorbidades, infecção, rejeição, disfunção do enxerto e novos medicamentos podem determinar mudanças na freqüência da monitorização (2). Quadro 2 (2) Durante o período per-transplante: coleta a cada 24 a 48 horas. Primeiros 3 a 6 meses após o transplante até a estabilização: coleta duas a três vezes por semana, com a freqüência decrescendo gradualmente. Pacientes estáveis, 6 meses após o transplante: mensal. Níveis terapêuticos O nível terapêutico desejado varia nos diversos protocolos, dependendo do estado clínico do paciente, tipo de transplante, tempo após o transplante, terapia imunossupressora concomitante, além da metodologia empregada. Quando a função do órgão se estabiliza, a dose é freqüentemente reduzida para atingir o estado de equilíbrio em níveis mais baixos. Utilizando o método MEIA (Abbott), os valores de referência mais utilizados estão entre de 5 e 20 mcg/L (7,8). O risco de rejeição com uma concentraçãode tacrolimus de 5 mcg/L parece ser duas vezes maior do que uma concentração de 10 mcg/L (5). Importantes diferenças entre os ensaios Todos os três imunoensaios atualmente comercializados (MEIA, EMIT e PROCTRAC II) apresentam reações cruzadas com metabólitos do tacrolimus. Foram identificados nove metabólitos diferentes do tacrolimus que elevam os seus níveis, principalmente, nos pacientes com insuficiência hepática (5). Cerca de 79% dos laboratórios participantes do Teste de Proeficiência Internacional utilizam MEIA, enquanto nos EUA, 98% utilizam este método (5). O Instituto Hermes Pardini realiza a dosagem de tacrolimus com o método MEIA. Os resultados de estudos com o MEIA mostram coeficientes de variação inferiores a 15%, entretanto, em concentrações inferiores a 9 mcg/L a imprecisão pode ser maior (8). O ensaio PROTRAC II pode apresentar resultados até 30% mais baixos do que os do MEIA, com uma diferença média de – 16% (1,9). Outro fato importante a ser considerado é que as concentrações de tacrolimus aumentam quando decrescem os valores de hematócrito. Desta forma, em pacientes com hematócrito menor que 25% os imunoensaios podem apresentar diferenças significativas, embora ainda não esteja definida a variação linear entre o hematócrito e a concentração do tacrolimus (5,8). Tendo em vista as diferenças entre metodologias, procedimentos de extração e reconhecimento de metabólitos, os resultados de diferentes ensaios não são intercambiáveis, devendo os laboratórios alertar ao clínico sobre qual ensaio está sendo utilizado (1,9). Por fim, ressaltamos que a dosagem dos imunossupressoresrequer um diálogo freqüente entre clínicos e laboratórios para correta interpretação dos resultados (5). O Instituto Hermes Pardini disponibiliza a dosagem do Tacrolimus: Condições: sangue total (EDTA) Conservação: até 7 dias entre 2º e 8º C. Método: MEIA - Imunoensaio Enzimático de Micropartículas (Abbott) Valor de referência: 5,0 a 20,0 mcg/L 5. Bibliografia 1. McFarlane GD, Scheller DG, Ersfeld DL, et al. Analytical validation of the Proc-Trac II ELISA for the determination of Tacrolimus (FK506) in Whole Blood. Clin Chem. 1999:45: 1449-58. 2. Nichols JH, Ratner LE. Immunoppressant Drug Monitoring. In: Warner A, Annesley T. Guidelines for therapeutic drug monitoring services. 1999: 43-49. 3. U.S. Multicenter FK506 Liver Study Group. A comparison of Tacrolimus (FK506) and Cyclosporine for Immunosuppression in liver transplantion. N Engl J Med. 1999: 331:1110-15. 4. Pascual M, Theiruvath T, Kawai T, et al. Strategies to improve long-term outcomes after renal trnasplantation. N Engl J Med. 2002; 346: 580-90. 5. Holt DW, Armstrong VW, Griesmacher A, et al. International Federation of Clinical Chemistry/International Association of Therapeutic Drug Monitoring of Clinical Toxicology Working Group on Immunosuppressive Drug Monitoring. Ther Drug Monit. 2002; 24: 59-67. 6. Denton MD, Magee CC, Sayegh MH. Immunossupressive strategies in transplantation. Lancet. 1999; 353: 1083-91. 7. Margreiter R. Efficacy and safety of tacrolimus compared with ciclosporin microemulsion in renal transplantation: a randomised multicentre study. Lancet. 2002; 359: 741-6. www.hermespardini.com.br 2 8. Taylor PJ, Morris RG, et al. Tacrolimus Measurement by Microparticle Enzyme Immunoassay II. Ther Drug Monit. 2003; 25: 259-60. 9. Zhimin C, Linder MW, Jevans AW, et al. Comparison of Tacrolimus Concentrations Measured by the Imx Tacrolimus II vs PRO-TRAC II FK506 ELISA Assays. Clin Chem. 1999: 45: 1868-70. www.hermespardini.com.br 3 Níveis terapêuticos Importantes diferenças entre os ensaios
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