Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Zinco 1. Introdução O Zinco (Zn) é um oligoelemento essencial, amplamente encontrado na natureza, sendo, após o ferro, o segundo oligoelemento mais abundante no corpo humano. É encontrado em mais de cem enzimas, tendo importância nos processos de crescimento, desenvolvimento, imunitário e funcionamento do sistema nervoso central. Apresenta, ainda, participação na biossíntese e manutenção da integridade do tecido conectivo e na fisiologia dos espermatozóides (1,2). 2. Metabolismo Somente 20% a 30% do Zn ingerido é absorvido no trato gastrointestinal. A absorção se dá principalmente no duodeno e jejuno proximal. A ingestão diária de Zn varia de 10 a 15 mg. Alimentos ricos em proteínas como carne, peixe e laticínios são boas fontes de Zn. A metalotioneína regula a absorção intestinal de zinco e cobre, assim, o excesso de um desses pode inibir a absorção do outro. O Zn também pode ser absorvido por via respiratória após inalação de gases . É transportado no plasma ligado principalmente à albumina (60-70%) e alfa-2- macroglobulina (30 a 40%). Um adulto de 70 quilos apresenta 1,4 a 2,3 g de Zn corporal, que se encontra distribuído por todos os tecidos, mas em maior quantidade na musculatura esquelética. É eliminado, principalmente, por excreção fecal. Somente 0,6 mg/dia é excretado na urina de um adulto consumindo 12 mg/dia de Zn. As feridas abertas, queimaduras de terceiro grau, diarréia e colite podem ser importantes vias de perda do Zn (2,4). 3. Usos e Exposição ocupacional A principal aplicação industrial do Zn é na galvanização de aço e outros metais. O metal puro é utilizado na indústria automotiva, de equipamentos eletrônicos, ferramentas, maquinarias e brinquedos. Óxido de zinco é utilizado como pigmento e na vulcanização de borracha. Cloridrato de Zinco é usado em soldas, como preservativos de madeiras, em baterias, no refinamento de óleos e em cimentos dentais. Também utiliza-se o Zn, em associação com vários metais, para fabricação de ligas de metal (latão) (2). 4. Considerações Clínicas 4.1. Deficiência de Zinco Trata-se de uma ocorrência comum e reversível pela reposição do metal. Algumas condições clínicas estão associadas à carência de Zn: prematuridade; crianças em crescimento; estados de má-absorção; diabéticos; síndrome nefrótica; queimaduras; cirrose hepática; infecção pelo HIV; uso de soluções de aminoácidos endovenosos; gestação; uso excessivo de ferro e ácido fólico; doenças inflamatórias crônicas e neoplasias, infecções parasitárias. A acrodermatite enteropática é um quadro decorrente da deficiência de absorção do Zn, que se manifesta com rash na região das fraldas. Se não tratada, evolui com diarréia crônica, retardo do crescimento, diminuição da imunidade, dificuldade de cicatrização e atraso do desenvolvimento testicular. Usualmente estes pacientes apresentam Zn sérico e urinário baixos, mas alguns casos têm Zn sérico normal. Reposição enteral ou parenteral do zinco corrige esse distúrbio. A deficiência de Zn em adolescentes e adultos é caracterizada por diminuição do crescimento, alteração do paladar, atraso puberal, adaptação visual ao escuro prejudicada, escotomas centrais, alopécia, irritabilidade, tremor, ataxia cerebelar e rash bolhoso e pustular em áreas sacrais. O único achado pode ser anemia normocítica discreta. Grávidas apresentam risco elevado de deficiência devido à alta captação de Zn pelo feto. 4.2 Intoxicação pelo Zinco A mais característica manifestação da toxicidade ocupacional pelo Zn é a febre do fumo após a exposição aos gases do óxido de zinco. Várias horas após a exposição, inicia-se cefaléia e gosto metálico, seguido de dores musculares e articulares, além de fadiga. Febre, calafrios, sudorese profusa, tosse e dor torácica ocorrem 8 a 12 horas após a exposição. Sintomas resolvem-se, espontaneamente, em 24 a 48 horas. Contato com cloridrato de zinco pode levar a sérias queimaduras de pele e olhos, além de dermatite eczematosa. Inalação de gases do cloridrato de zinco pode levar à irritação dos seios da face e orofaringe, tosse, hemoptise, dispnéia, edema agudo de pulmão e pneumonite. Na febre do fumo podemos encontrar leucocitose e infiltrado pulmonar em bases. Ressalta-se que os níveis de Zn urinário e sérico podem ser normais ou elevados (2). www.hermespardini.com.br 1 Ingestão de doses usuais das preparações de vitaminas atualmente disponíveis comercialmente, que contêm Zn, não parece levar à toxicidade. Entretanto, ingestão de quantidades superiores a 200 mg/dia de Zn pode levar à quadro de toxicidade acompanhado de erosões gástricas, HDL baixo, imunidade celular comprometida e inibição da absorção do cobre (5). 5. Monitorização 5.1. Zinco sérico e eritrocitário A dosagem do Zn sérico é o melhor bio- indicador disponível, do risco de deficiência de zinco na população. A OMS, UNICEF, e a IZiNCG em conjunto, recomendam a utilização da concentração de zinco no soro para avaliação do status do zinco.(3) O zinco no soro é bom indicador pois reflete o consumo de zinco através da dieta, responde consistentemente à suplementação com zinco, e os dados de referência da literatura estão disponíveis para a maioria dos grupos etários. A dosagem sérica é útil em diversas condições: • avaliação de deficiência nutricional; • no uso de nutrição enteral e parenteral; • em queimados; • pacientes com atraso de cicatrização; avaliação de retardo do crescimento; • no seguimento da reposição de Zn; • no tratamento da Doença de Wilson com Zn; • na confirmação da acrodermatite enteropática; • na avaliação de toxicidade e da febre do fumo. Os cuidados para que se evite contaminação das amostras devem ser rigorosos, usando luvas sem talco e tubos desmineralizados. A presença de hemólise pode acarretar em aumentos espúrios dos níveis séricos. Uma vez que o Zn se liga à albumina, condições que levem a níveis baixos dessa proteína (ex.: síndrome nefrótica, desnutrição, diarréias crônicas) diminuem os níveis séricos do metal (5). Alguns quadros clínicos sistêmicos também podem alterar os valores do Zn sérico: • Diminuído: febre, sepse, inflamações, gravidez, estresse, infarto agudo do miocárdio, uremia , doenças inflamatórias intestinais, uso de corticosteróides, carbamazepina, fenitoína, ácido valpróico e anticoncepcionais orais. • Aumentado: hiperzinquemia familiar, uso de clortalidona e penicilamina. A dosagem do zinco eritrocitário é utilizada com os mesmos fins da sérica, tendo a particularidade de apresentar valores 4 a 10 vezes mais altos que os do soro. Em relação à dosagem de zinco eritrocitário, diversos autores enfatizam as dificuldades inerente à fase analítica do processo (maior chance de contaminação) e ressaltam que os estudos sobre a dosagem de zinco eritrocitário ainda são escassos. Valores definidos como normais de Zn sérico e eritrocitário variam em diversas publicações (4,6,7,8). Adotamos os valores normais descritos por Iyengar e Woittiez: soro = 70 a 120 mcg/dl; eritrocitário = 440 a 860 mcg/dl (8). Deve-se observar que alguns autores descrevem como normais níveis séricos de até 149 mcg/dl e eritrocitários de até 1600 mcg/dl(6,7). 5.2 Zinco urinário Usado para avaliar toxicidade e deficiência de Zn em conjunto com os níveis sérico e eritrocitário. Zinco urinário elevado na presença de zinco sérico baixo pode ocorrer na cirrose hepática, etilismo, neoplasias, hepatite viral, drepanocitose, períodos pós-operatórios, uso de nutrição parenteral total e aumento do catabolismo. Zinco urinário e sérico diminuídos podem ser encontrados na deficiência do metal. Algumas drogas podem elevar o Zn urinário: bumetamida, clortalidona, cisplatina, furosemida, hidroclorotiazida, naproxeno, penicilamina e triantereno (1,3). São considerados valores normais aqueles entre 180 a 850 mcg/l (6). Ejaculação antes da coleta pode levar à valores elevados de zinco urinário. 5.3 Zinco no líquido seminal O Zn é secretado pela próstata e tem a função de proteção da cromatina dos espermatozóides e ação bactericida. Existe uma associação entre níveis baixos de zinco e infertilidade (9, 10). Em estudo realizado com 103 homens de fertilidade comprovada, sem evidências de anormalidades clínicas como varicocele ou infecções, foi encontrado valores médios de zinco no líquido seminal de 275 mg/l (55 a 420 mg/l) versus 184 mg/l (63 a 499 mg/l) encontrado em 107 pacientes inférteis (10). Em uma série de 1178 pacientes referidos para tratamento de fertilidade, a concentração média de zinco seminal foi de 117,6 mg/l (11). Zinco no líquido seminal é usualmente normal ou elevado na hipertrofia prostática benigna e diminuído no adenocarcinoma de próstata. Pacientes com prostatite bacteriana crônica apresentam redução de até 80% na concentração do Zn no líquido seminal, com www.hermespardini.com.br 2 valores médios em torno de 50 mg/l. Considera-se normais aqueles valores de Zn no líquido seminal superiores a 150 mg/l (12). Entretanto, do acima exposto, não podemos, de forma isolada, atribuir ao Zn a capacidade de distinção entre pacientes férteis e inférteis. O Instituto Hermes Pardini realiza • Zinco: soro Método: Absorção Atômica. Valor de referência: 70 a 120 mcg/dl. • Zinco: eritrocitário Método: Absorção Atômica. Valor de referência: 440 a 860 mcg/dl. • Zinco: urina (recente ou de 24h) Método: Absorção Atômica. Valor de referência: 180 a 850 mcg/l. • Zinco: líquido seminal Método: Absorção Atômica. Valor de referência: maior que 150 mg/l. 6. Referências 1. Milne DB. Trace elements. In: Burtis Ca, Aswood ER. Tietz Textbook of Clinical Chemistry. 3ed. 1999: 1037-41. 2. Lewis R. Occupational exposures In: LaDou J. Occupational and environmental. 2ed. 1997:432-3. 3. Recomendations for indicators of population zinc status. Executive summary. Report of WHO/ UNICEF/ IAEA/ IZiNCG Interagency Meeting on Zinc Status Indicators. Food Nutr Bull, 2007 ;28.nº1,nº2. 4. Leavelle DE, Interpretative Data for Diagnostic laboratory tests. Mayo Medical Laboratories Interpretative Handbook. 2001: 683-5. 5. Repercussões clínicas da deficiência de zinco em humanos. Artigo de Revisão. Arq. Med.ABC. 2006;31(1):46-52 6. Tietz NW. Copper. In: Tietz NW. Clinical guide to laboratory tests. 3 th. 1991:650-2. 7. Young DS, Huth EJ. SI Units for Clinical measurement. 1998; 251-2. 8. Iyengar V, Woittiez J. Trace elements in human clinical specimens: evaluation of literature data to identify reference values. Clin Chen. 1988; 34: 474-81. 9. Piva, S. Fase analítica. In: Piva, S. Espermograma. 2001; 51-52. 10. Chia, SE, ONG CN, CHUA LH, et al. Comparison of Zinc Concentratioons in blood and seminal plasma and various sperm parameters between fertile and infertile men. J Androl. 2000; 21: 53-57. 11. Lewis-Jones DI, Aird IA, Biljan MM, et al. Effects of esperm activity on zinc and frutose concentrations in seminal plasma. Hum Reprod. 1996. 11: 2465-7. 12. Partin AW, Rodriguez R. The molecular biology, endocrinology, and physiology of the prostate and seminal vesicles. In: Wash PC, Retik AB, Vaughan ED, et al. Campbell’s Urology. 8 ed. 2002: 1278-9. 13. Henry's Clinical Diagnosis and Management by laboratory methods, 21 st. ed. 2006.14. Preditors of plasma zinc concentrations in children... Am J Clin Nutr 2004; 79:451-6. 14. Biomarkers of Nutritional Exposure and Nutritional Status.2003 Published as part of The Journal of Nutrition Suplement. Assessoria Científica maio / 2008 www.hermespardini.com.br 3
Compartilhar