Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/44343728 Construindo em alvenaria estrutural / Humberto Ramos Roman, Cristine do Nascimento Mutti, Hércules Nunes de Araújo Article Source: OAI READS 594 3 authors, including: Humberto Roman Federal University of Santa Catarina 10 PUBLICATIONS 11 CITATIONS SEE PROFILE Cristine Mutti Federal University of Santa Catarina 26 PUBLICATIONS 1 CITATION SEE PROFILE Available from: Humberto Roman Retrieved on: 19 August 2016 ÍNDICE I - INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 1 II - A ALVENARIA ESTRUTURAL ................................................................................................................ 3 1. APRESENTANDO A ALVENARIA............................................................................................................ 3 1.1 TIPOS DE ALVENARIA ......................................................................................................................... 3 1.2 PAREDES COMO ELEMENTOS DE ALVENARIA ............................................................................... 4 2. O PRINCÍPIO BÁSICO DA ALVENARIA ESTRUTURAL ....................................................................... 4 2.1 Forma da parede .................................................................................................................................... 5 2.2 Arranjo apropriado das paredes ............................................................................................................ 6 2.3 Uso de alvenaria armada ou protendida ................................................................................................ 7 3. VANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL ..................................................................................... 8 4. MATERIAIS CONSTITUINTES DA ALVENARIA ................................................................................... 9 4.1 UNIDADES DE ALVENARIA ................................................................................................................. 9 4.2 ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO ................................................................................................. 13 4.3 Graute ................................................................................................................................................... 19 5. FATORES IMPORTANTES NA DEFINIÇÃO DO PROJETO ................................................................. 22 6. FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DA ALVENARIA ............................................................... 23 6.1 Resistência do bloco ............................................................................................................................. 23 6.2 Geometria da Unidade ......................................................................................................................... 24 6.3 Resistência da Argamassa .................................................................................................................... 24 6.4 Espessura das juntas ............................................................................................................................. 25 6.5 Qualidade da mão de obra ................................................................................................................... 25 III - OS PROJETOS ......................................................................................................................................... 28 1. COORDENAÇÃO DE PROJETOS ............................................................................................................ 28 2. PROJETO ARQUITETÔNICO .................................................................................................................. 29 2.1 Definição dos condicionantes de projeto .............................................................................................. 30 2.2 Simplificação do projeto ....................................................................................................................... 30 2.3 Simetria ................................................................................................................................................. 31 2.4 Modulação ............................................................................................................................................ 32 2.5 Passagem de Dutos ............................................................................................................................... 35 2.6 Paginação ............................................................................................................................................. 37 3. PROJETO HIDRÁULICO .......................................................................................................................... 39 4. PROJETO ELÉTRICO ............................................................................................................................... 41 5. PROJETO EXECUTIVO ............................................................................................................................ 54 5.1 Planta Baixa ......................................................................................................................................... 55 5.2 Paginações............................................................................................................................................ 55 5.3 Detalhes Construtivos ........................................................................................................................... 55 IV - A EXECUÇÃO .......................................................................................................................................... 57 1. COMUNICAÇÃO PROJETO/OBRA .................................................................................................................... 57 1.1 Padronização ........................................................................................................................................ 57 1.2 Seqüência executiva e interdependência entre atividades .................................................................... 58 1.3 Acessibilidade e espaços adequados para trabalho ............................................................................. 59 2. IMPLANTAÇÃO DE CANTEIRO ............................................................................................................. 59 2.1 Planejamento de layout ........................................................................................................................ 60 2.2 Treinamento de mão de obra ................................................................................................................ 63 2.3 Equipamentos e Ferramentas ............................................................................................................... 66 2.4 Cronograma (planejar a execução) ...................................................................................................... 67 V - NORMAS TÉCNICAS RELEVANTES E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PARA ALVENARIA ESTRUTURAL ................................................................................................................................................. 69 1I - INTRODUÇÃO A Alvenaria Estrutural para prédios de vários pavimentos tornou-se uma opção de construção largamente empregada no mundo, devido a vantagens como flexibilidade de construção, economia, valor estético e velocidade de construção. A grande vantagem que a Alvenaria Estrutural apresenta é a possibilidade desta incorporar facilmente os conceitos de racionalização, produtividade e qualidade, produzindo ainda, construções com bom desempenho tecnológico aliado a baixos custos. A Alvenaria Estrutural nos últimos 30 anos, devido a extensos trabalhos de pesquisa, à imaginação de projetistas e à grande melhoria da qualidade dos materiais, apresentou maiores e mais visíveis avanços do que qualquer outra forma de estrutura usada na construção. Como conseqüência, pode-se afirmar com segurança que a Alvenaria Estrutural é o mais econômico e moderno método de construção. Em países como Inglaterra, Austrália, Alemanha e Estados Unidos, este método construtivo é o mais utilizado e de maior aceitação pelo usuário. No Brasil, a técnica de cálculo e execução com Alvenaria Estrutural é relativamente recente (final dos anos 60) e até hoje pouco conhecida da maioria dos profissionais da Engenharia Civil. No entanto, a abertura de novas fábricas de materiais assim como o surgimento de grupos de pesquisa sobre o tema fazem com que a cada dia, mais e mais construtores utilizem e se interessem pelo sistema. Este livro foi elaborado com o objetivo de fornecer ao projetista informações sobre o sistema construtivo, os procedimentos adequados às etapas de projetos, informações técnicas sobre os materiais, comportamento estrutural dos mesmos e exemplos básicos, um instrumento prático que facilite o projeto em Alvenaria Estrutural. 2 É embasado num dos princípios fundamentais do sistema construtivo em Alvenaria Estrutural. Este princípio considera indispensável a interligação dos vários projetos complementares, para que um não interfira sobre os outros com prejuízo sobre o produto final. A ação da racionalização na fase de execução dos empreendimentos torna-se efetiva quando coerentemente aplicada com um projeto desenvolvido segundo os mesmos princípios. Por este motivo, condensou-se num único volume as instruções para elaborar o projeto arquitetônico, os projetos hidráulicos e elétricos. Espera-se que o mesmo represente um acréscimo técnico para o usuário. 3 II - A ALVENARIA ESTRUTURAL 1. APRESENTANDO A ALVENARIA 1.1 TIPOS DE ALVENARIA Dependendo da utilização e da forma como é feita, a alvenaria pode apresentar-se das seguintes formas: Alvenaria não armada: neste tipo de alvenaria, os reforços de aço (barras, fios e telas) ocorrem apenas por necessidades construtivas. Alvenaria armada: a alvenaria é reforçada devido à exigências estruturais. São utilizadas armaduras passivas de fios, barras e telas de aço. Alvenaria protendida: alvenaria reforçada por uma armadura ativa (pré-tensionada) que submete a alvenaria a esforços de compressão. Alvenaria resistente: são as alvenarias construídas para resistirem a cargas outras além do próprio peso. Alvenaria estrutural: diferencia-se da alvenaria resistente por ser dimensionada segundo métodos de cálculo racionais e de confiabilidade determinável enquanto a alvenaria resistente é dimensionada empiricamente. 1.2 PAREDES COMO ELEMENTOS DE ALVENARIA As paredes são os elementos estruturais da alvenaria. São definidos como elemento laminar vertical apoiado de modo contínuo em toda a sua base, com comprimento maior que 5 vezes a espessura. De acordo com a função estrutural que exercem, as paredes são definidas como: 4 Paredes de vedação: são aquelas que resistem apenas ao próprio peso e têm função de separação de ambientes internos ou de fechamento externo. Não têm nenhuma responsabilidade estrutural. Paredes estruturais: têm a função de resistir todas as cargas verticais, de peso próprio e acidentais aplicadas sobre elas. Paredes de contraventamento: são as paredes estruturais projetadas para suportarem também às cargas horizontais, originadas especialmente pela ação dos ventos, paralelas ao seu plano. Paredes enrijecedoras: têm a função de enrijecerem as paredes estruturais contra a flambagem. Pilares de Alvenaria: são os elementos isolados que resistem a cargas de compressão e com largura menor que 4 vezes a espessura. 2. O PRINCÍPIO BÁSICO DA ALVENARIA ESTRUTURAL Alvenaria Estrutural é o processo construtivo em que se utiliza as paredes da habitação para resistir às cargas, em substituição aos pilares e vigas utilizados nos sistemas de concreto armado, aço ou madeira. O desenvolvimento de projetos em alvenaria estrutural exige do projetista procedimentos diferentes dos tomados quando do cálculo de outros tipos de estruturas. Por serem sistemas diferentes, com filosofias distintas, o projetista e o construtor não devem conceber soluções com base em conhecimentos e procedimentos aplicáveis ao concreto armado. Deve pensar alvenaria estrutural. A base de projetos em alvenaria estrutural se assenta nos seguintes princípios: 5 alvenaria pode suportar grandes tensões de compressão, mas pequenas tensões de tração; todo momento fletor, que sem pré-compressão causa tração, deve ser evitado. Logo, aumentando a compressão, diminui-se a possibilidade de aparecimento de esforços de tração na alvenaria. Deve-se, portanto explorar a resistência à compressão do bloco estrutural para compensar a fraca resistência à tração. Para tal, é importanteo conhecimento por todos os projetistas (arquitetônico, hidráulico, elétrico, estrutural) das maneiras de potencializar as vantagens da alvenaria estrutural, obtendo maior qualidade e economia das edificações construídas usando este processo. As formas de se otimizar o projeto, conferindo estabilidade estrutural ao prédio, com menor custo de materiais e mão-de-obra podem ser divididas em quatro grupos: 2.1 Forma da parede Pode-se utilizar paredes com diferentes formas, aumentando-se a inércia das mesmas, em caso de necessidade. As formas mais usadas são: (a) fin walls (b) paredes diafragma (c) paredes duplas (d) paredes mais grossas (e) paredes com colunas 6 (a) (e)(d)(c) (b) Figura 2.1 - Formas possíveis de paredes estruturais 2.2 Arranjo apropriado das paredes Um bom projeto arquitetônico deve prever uma distribuição tal das paredes de forma que cada parede atue como elemento enrijecedor e estabilizador de outra. Não é difícil desenvolver um projeto arquitetônico capaz de atender tanto às exigências estruturais quanto às funcionais a que se destina o prédio. Pode-se obter grande economia e estabilidade explorando-se adequadamente os elementos essenciais da edificação. Assim, por exemplo, lajes e pisos podem ser usados para: aplicar cargas verticais às paredes; amarrar a estrutura; distribuir as cargas horizontais. As escadas, poços de elevadores e de condução de eletrodutos são importantes para a obtenção de rigidez lateral. 7 Figura 2.2 - Arranjos de paredes que conferem maior estabilidade à estrutura 2.3 Uso de alvenaria armada ou protendida Quando, por alguma razão, mostrar-se necessário, pode-se utilizar alvenaria armada ou protendida. Estas técnicas são geralmente simples, práticas, econômicas e mais rápidas do que o concreto armado e protendido. Podem ser usadas para reforçar pontos localizados de uma obra em concreto armado ou como princípio estrutural de todo o projeto. Favorecem o desenvolvimento de formas arquitetônicas mais arrojadas (Figura 2.3). A Alvenaria armada é excelente solução também, quando necessidades funcionais requeiram grandes espaços abertos no térreo, tais como área de recepção e restaurante de hotel, estacionamentos, grandes lojas, etc. Normalmente consiste de pilares de alvenaria, concreto ou aço, suportando uma laje de concreto. Acima desta laje, a estrutura pode ser de paredes de alvenaria estrutural, armada ou não. 8 (a) (b) Figura 2.3 – (a) armadura passiva; (b) armadura protendida 3. VANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL A alvenaria estrutural, após passar por adequada etapa de implantação, apresenta várias vantagens em relação aos processos construtivos tradicionais. Para a execução dos projetos, o sistema permite detalhamentos estéticos bastante atraentes, com variadas formas, texturas e cores, oferecendo boas possibilidades arquitetônicas e estruturais. Devido à coordenação modular apresentada, todos os projetos são mais fáceis de detalhar. Possibilita a elaboração de um projeto executivo de fácil compreensão pela mão de obra. Projetos realizados em alvenaria estrutural são aplicáveis a uma grande variedade de usos funcionais. Quanto ao custo, normalmente, é mais econômica do que prédios estruturados, o que ocorre não só por se executar estrutura e alvenaria numa só etapa, mas também devido à economia no uso de madeiras para formas, redução no uso de concreto e ferragem, menores espessuras de revestimentos, maior rapidez na execução. Além disto, a simplificação nas instalações, onde são evitados rasgos nas paredes, ocasiona menor desperdício de material do que o verificado em obras convencionais. 9 Em relação à mão de obra, verifica-se boa receptividade ao treinamento, com aprendizagem rápida, o que possibilita menor número de equipes ou sub-contratados para o trabalho, e redução significativa na mão de obra de carpintaria e ferragens, além do que, extrema facilidade de supervisão da obra. Como inconveniente, fica a limitada possibilidade de remoção de paredes, havendo a necessidade de definir, já no projeto quais as que podem ser removidas. Também como desvantagem, verifica-se, em alguns casos, o aumento de custo para projetos mais arrojados (com detalhes específicos e grandes vãos). 4. MATERIAIS CONSTITUINTES DA ALVENARIA 4.1 UNIDADES DE ALVENARIA Produto industrializado de dimensões e peso que o fazem manuseável, de formato paralelepipedal e adequado para compor uma alvenaria. É bastante comum associar-se a expressão alvenaria estrutural à alvenaria executada com blocos de concreto. Na verdade, a técnica não se restringe apenas a construções com este tipo de material. De uma forma sintetizada, as unidades de alvenaria poderiam ser assim classificadas: Blocos; cerâmicos, concreto e sílico calcário - Tijolos: maciços (cerâmicos, concreto e sílico calcário), furados (cerâmico). Os tijolos diferenciam-se dos blocos pelas dimensões. São denominados tijolos as unidades com dimensões máximas de 250X120X55 mm. Unidades com dimensões superiores são denominadas blocos. Normalmente os blocos possuem dimensões nominais múltiplas de 5cm. As dimensões mais comumente empregadas são 10x20X40, 15X20X40 e 20x20X40 (espessura, altura e comprimento respectivamente em cm). Devido a multiplicidade de funções, os blocos apresentam diferentes designs. 10Para utilização em alvenaria estrutural as unidades devem apresentar as seguintes qualidades: resistência à compressão, baixa absorção de água, durabilidade e estabilidade dimensional. As unidades de alvenaria classificam-se em: unidades cerâmicas, sílico-calcários e unidades de concreto. Unidades Cerâmicas Bloco cerâmico, segundo a NBR 7171/83, é definido como sendo um componente de alvenaria que possui furos prismáticos e/ou cilíndricos perpendiculares às faces que os contém. Define também, que blocos portantes são unidades vazadas com furos na vertical, perpendiculares à face de assentamento e são classificados, de acordo com sua resistência à compressão. A qualidade das unidades de cerâmica está intimamente relacionada à qualidade das argilas empregadas na fabricação e também ao processo de produção. Pode-se obter unidades de baixíssima resistência (0,1MPa) até de alta resistência (70MPa). Devido a isto, torna-se imprescindível a realização de ensaios de caracterização das unidades Unidades de Sílico-calcário Os tijolos e blocos sílico-calcário são unidades de alvenaria compostas por uma mistura homogênea e adequadamente proporcionada de cal e areia quartzosa moldadas por prensagem e curadas por vapor de pressão. As principais características das unidades sílico-calcários são a sua boa resistência, durabilidade e grande uniformidade dimensional. A resistência à compressão varia internacionalmente entre 14 e 60MPa. No Brasil, as unidades fabricadas apresentam resistências de 6 a 20MPa. Unidades de Concreto 11 O tipo de unidade mais comum são os blocos. Estes podem ser produzidos em diferentes geometrias e com resistências à compressão variáveis, de acordo com a proporção das matérias primas que o constituem. Atualmente existem no mercado várias fábricas de blocos de concreto, as quais utilizam tecnologia avançada para controle da qualidade do bloco, levando-se em conta, desde exigências estruturais, até a estética do produto (para utilização à vista, por exemplo). O concreto deve ser constituído de cimento Portland, agregados e água. Os cimentos devem ser normalizados e os agregados podem ser areia, pedrisco, argila expandida ou outros tipos, desde que satisfaçam às especificações próprias de cada um destes materiais. A dimensão máxima característica do agregado deve ser menor que 1/4 da menor espessura da parede do bloco. Os blocos devem ser fabricados e curados por processos que assegurem a obtenção de um concreto suficientemente homogêneo e compacto e devem ser manipulados com as devidas precauções para não terem as suas qualidades prejudicadas. As tolerâncias permitidas nas dimensões dos blocos devem ser de 3mm, estas dimensões devem ser verificadas com precisão de 0,5mm. Os blocos devem ter aspecto homogêneo, compacto e arestas vivas. Não devem apresentar trincas, fraturas ou outros defeitos que possam prejudicar o seu assentamento ou afetar a resistência e durabilidade da construção. Os blocos destinados a receber revestimento devem ter superfície suficientemente áspera para garantir uma boa aderência, não sendo permitida qualquer pintura que oculte defeitos eventualmente existentes no bloco. Os blocos-padrão encontrados apresentam resistência à compressão de 6 a 15 MPa, podendo apresentar, em casso especiais, resistência de até 20 MPa. São fabricados vários tipos de blocos, com diferentes funções, os quais seguem as modulações de 15 cm ou de 20 cm, conforme a malha modular definida no projeto. Abaixo são apresentados alguns tipos de blocos mais comuns: 12 13 Figura 2.4 – Tipos de Blocos mais comuns Algumas indústrias cerâmicas estão ingressando no mercado da alvenaria estrutural, fabricando alguns dos modelos de blocos apresentados acima, e pesquisando novos formatos. 4.2 ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO A argamassa é o elemento de ligação das unidades de alvenaria em uma estrutura única, sendo normalmente constituída de cimento, areia e cal. É importante ressaltar, que embora as argamassas de assentamento sejam compostas, na essência, pelos mesmos elementos constituintes do concreto, estas tem funções e empregos bastante distintos. Assim, não é correto utilizar procedimentos iguais aos de produção de concreto para produzir argamassas de qualidade. Enquanto para o concreto o objetivo final é obter a maior resistência à compressão com menor custo, para as argamassas o importante é que sejam aptas a transferir as tensões de maneira uniforme entre os blocos, compensando as irregularidades e as variações dimensionais dos mesmos. Além disto, deve unir solidariamente as unidades de alvenaria e ajudá-las a resistir os esforços laterais. Para tanto, as propriedades mais importantes para a argamassa são: trabalhabilidade; retentividade de água; tempo de endurecimento; liga; durabilidade; 14 resistência à compressão. 4.2.1 Trabalhabilidade A trabalhabilidade é medida indiretamente pelo teste de fluidez (consistência), que é definida como a porcentagem do aumento de diâmetro da base de um tronco de cone, depois de submeter-se a impactos sucessivos em uma mesa vibratória padrão. A argamassa de boa trabalhabilidade deve se espalhar facilmente sobre o bloco e aderir nas superfícies verticais. A consistência deve ser tal que o bloco possa ser prontamente alinhado mas seu peso e o peso das fiadas subsequentes não provoquem posterior escorrimento da argamassa. Testes com pedreiros experientes, mostraram que uma argamassa de boa trabalhabilidade tem fluidez entre 115 e 150 %. Entretanto, a medição de fluidez nem sempre é indicativa de umaboa trabalhabilidade. Misturas ásperas e sem coesão, mesmo com fluidez nesta faixa, produzirão argamassas inadequadas para uso em alvenaria. Argamassa de boa trabalhabilidade deve se espalhar facilmente sobre o bloco e aderir nas superfícies verticais. A consistência deve ser tal que o bloco possa ser prontamente alinhado mas seu peso e o peso das fiadas subsequentes não provoquem posterior escorrimento da argamassa. A trabalhabilidade depende da combinação de vários fatores destacando-se a qualidade do agregado, a quantidade de água usada, a consistência, a capacidade de retenção de água da argamassa, o tempo decorrido da preparação, a adesão, a fluidez e a massa. Em condições normais o tempo entre a mistura e o uso da argamassa não deve exceder 2 horas e meia. 4.2.2 Retentividade de Água Retentividade é a capacidade da argamassa de reter água contra a sucção do bloco. Se o bloco for muito poroso e retirar muito rapidamente a água da argamassa, não haverá líquido suficiente para a completa hidratação do cimento. Isto resulta em uma fraca ligação 15 entre o tijolo e a argamassa. Além disso, o endurecimento muito rápido da argamassa pela perda de água, impede o assentamento correto da fiada seguinte. A má retentividade de água pode ser resultante de uma má granulometria do agregado, agregados muito grandes, mistura insuficiente ou escolha errada do tipo de cimento. O uso de material pozolânico ou a adição de mais água e mais tempo de mistura podem aumentar a retentividade. 4.2.3 Tempo de Endurecimento O endurecimento é função da hidratação, ou seja, da reação química entre o cimento e a água. Se o endurecimento for muito rápido, causará problemas no assentamento dos blocos e no acabamento das juntas. Se for muito lento, causará atraso na construção pela espera que se fará necessária para a continuação do trabalho. Temperaturas muito altas tendem a acelerar o endurecimento. Inversamente, clima muito frio retarda o endurecimento. Uma mistura mais homogênea espalha melhor o cimento facilitando o contato com a água, e conseqüentemente acelera o processo de endurecimento. 4.2.4 Aderência A resistência de aderência é a capacidade que a interface bloco-argamassa possui de absorver tensões tangenciais (cisalhamento) e normais (tração) a ela, sem romper-se. A aderência entre a argamassa e o bloco é uma combinação do grau de contato entre ambos e da adesão da pasta de cimento à superfície do tijolo. A aderência, portanto, não é uma propriedade intrínseca da argamassa, mas depende também das características das unidades. 16 Os fatores que influenciam o grau de contato e a adesão são a trabalhabilidade da argamassa, a retentividade, a taxa de absorção inicial do bloco, a mão-de-obra, a quantidade de cimento na mistura, a textura da superfície do bloco, o conteúdo de umidade do bloco, temperatura e umidade relativa. 4.2.5 Resistência à Compressão A resistência à compressão depende do tipo e da quantidade de cimento usado na mistura. É importante notar que uma grande resistência à compressão da argamassa não é necessariamente sinônimo de uma melhor solução estrutural. A argamassa deve ser resistente o suficiente para suportar os esforços a que a parede será submetida. No entanto, não deve exceder a resistência dos blocos da parede, de maneira a que as fissuras que venham a ocorrer devido à expansões térmicas ou outros movimentos da parede ocorram na junta. Uma argamassa mais forte não implica necessariamente numa parede mais forte. Não há uma relação direta entre as duas resistências. Para cada resistência de bloco existe uma resistência ótima da argamassa. Um aumento desta resistência não aumentará a resistência da parede. 4.2.6 Materiais Constituintes da Argamassa a) Cimento São utilizados cimentos Portland Comum (CP). Outros tipos como o pozolânico (Poz) e o Alto-Forno (AF) também podem ser utilizados. O cimento proporciona resistência à argamassa e melhora a aderência. Adicionalmente, colabora na melhora da trabalhabilidade e retentividade. Por outro lado, o excesso de cimento (quando maior que 1/3 do volume total) aumenta exageradamente a contração da argamassa prejudicando a durabilidade da aderência. 17 Os cimentos com maior superfície específica têm potencial para tornar as argamassas mais trabalháveis e com maior retenção de água. Os cimentos de endurecimento mais lento podem produzir argamassas mais resilientes (com maior capacidade de absorver pequenas deformações). b) Cal Se entende como cal, a cal hidratada com uma percentagem de componentes ativos (CaO e MgO) superior a 88%. Podem também ser utilizadas cales extintas em obra capazes de produzir argamassas de melhor qualidade final. A cal confere à argamassa plasticidade, coesão, retentividade e extensão da aderência, sendo o componente fundamental para assegurar a durabilidade da aderência. c) Areia A areia, atuando como agregado inerte na mistura, reduz a proporção dos aglomerantes permitindo aumentar seu rendimento e diminuindo os efeitos nocivos do excesso de cimento. As areias grossas aumentam a resistência à compressão da argamassa, enquanto que as areias finas reduzem esta resistência mas aumentam a aderência, sendo portanto preferíveis. As normas Britânica (BS – 1200) e Norte Americana (ASTM C-144) recomendam as granulometrias apresentadas na tabela 4.1 para as areias destinadas às argamassas de assentamento. 18 Tabela 4.1 - Granulometrias Recomendadas para as Areias de Argamassa Peneira - Abertura Percentagem (em peso) que passa nas peneiras nominal (em mm) BS - 1200 ASTM C-144 4,8 100 100 2,4 90- 100 95 - 100 1,2 70 - 100 70 - 100 0,6 40 - 80 40 - 75 0,3 5 - 40 10 - 35 0,15 0 - 10 2 - 15 d) Água A água além de permitir o endurecimento da argamassa pela hidratação do cimento, é a responsável pela trabalhabilidade da argamassa A quantidade de água deve permitir um bom assentamento mas não pode causar a segregação dos constituintes. 4.2.7 Tipos de Argamassa Os tipos de argamassa utilizados no assentamento de unidades são misturas a base de cal, cimento, cimentos com aditivos, cimentos de alvenaria, cal e cimento (mistas). A argamassa à base de cal não é recomendada para alvenaria estrutural. Outros tipos de argamassas têm sido desenvolvidas por empresas especializadas, são as chamadas argamassas mistas, estas são mais adequadas para uso em alvenaria estrutural. São constituídas de cimento, cal e areia. Apresentam, quando adequadamente dosadas, as vantagens das argamassas de cal e de cimento. O tipo de argamassa a ser usado depende principalmente da função que a parede vai exercer, das condições de exposição da parede e do tipo de bloco que será utilizado. Nem sempre uma argamassa mais resistente é a mais indicada. 19 A seleção de um tipo particular de argamassa para um determinado projeto deve ser função do balanço das necessidades da alvenaria que será construída e das propriedades dos vários tipos de misturas disponíveis. Nesta seleção dois pontos fundamentais devem ser considerados: não existe um único tipo de argamassa que seja o melhor para todos os tipos de aplicações disponíveis; não deve ser utilizada uma argamassa com resistência à compressão maior que a necessária para atender as exigências estruturais do projeto. Neste caso, o bom senso é muito importante. Seria anti-econômica e pouco prática uma mudança contínua do tipo de argamassa para as várias partes de uma mesma obra. A tabela abaixo mostra os traços recomendados pela norma britânica. Tabela 4.2 - Traços de Argamassa - Norma Britânica Designação Tipo de Argamassa (proporção por volume) Resistência à Comp. aos 28 dias (MPa) cimento cal areia laboratório obra (i) 1 0 a 1/4 3 16,0 11 (ii) 1 1/2 4 a 4,5 6,5 4,5 (iii) 1 1 5 a 6 3,6 2,5 (iv) 1 2 8 a 9 1,5 1,0 4.3 Graute O graute é usado para preencher os vazios dos blocos quando se deseja aumentar a resistência à compressão da alvenaria sem aumentar a resistência do bloco. O graute é composto dos mesmos materiais usados para produzir concreto convencional. As diferenças estão no tamanho do agregado graúdo (mais fino, 100% passando na peneira 12,5 mm) e na relação água/cimento. 20 Para preencher todos os vazios, e considerando ainda que o bloco normalmente tem grande absorção de água, o graute deve apresentar elevada trabalhabilidade. O Slump Test deve mostrar um abatimento entre 20 e 28 cm. A relação água/cimento deve estar entre 0,8 e 1,1 dependendo do módulo de finura da areia. A fixação do Slump nesta faixa dependerá da taxa de absorção inicial das unidades e da dimensão dos furos dos blocos. 4.3.1 Materiais Constituintes do graute Para o graute devem ser usados exclusivamente cimentos do tipo CP e MRS. Em certos casos pode ser adicionada cal na mistura para diminuir a rigidez da mesma (até 1/10 do volume de cimento). São recomendadas areias com módulo de finura entre 2,3 e 3,1 pois estas requerem menos cimentos e o graute, além de alcançar maior resistência à compressão, apresenta menor retração no endurecimento. Tabela 4.3 - Granulometria Recomendada para Areias: Porcentagem Retida Acumulada Abertura da peneira (mm) Tipo 1 Tipo 2 9,5 0 0 4,8 0 - 5 0 2,4 0 - 20 0 - 5 1,2 15 - 50 0 - 30 0,6 40 - 75 25 - 60 0,3 70 - 90 65 - 90 0,15 90 - 98 85 - 98 0,075 95 - 100 95 - 100 O agregado graúdo, quando utilizado, deve ter a granulometria indicada na tabela 4.4. Tabela 4.4 - Granulometria Recomendada do Agregado Graúdo para o Graute. Abertura da peneira (mm) % retida acumulada 21 12,5 0 9,5 0 - 15 4,8 70 - 90 2,4 90 - 100 1,2 95 - 100 4.3.2 Dosagem, Mistura e Lançamento Para os blocos disponíveis no mercado podem ser usados graute com agregado graúdo. Alternativamente pode ser utilizado também graute sem agregado graúdo. As proporções mais usuais são indicadas na tabela 4.5. Em caso da necessidade de uso de blocos mais resistentes (acima de 10 MPa) com graute, recomenda-se o desenvolvimento de uma dosagem para estabelecer o traço adequado. Tabela 4.5 - Proporções Recomendadas para a Dosagem do Graute Materiais Constituintes cimento areia brita 0 sem agregado graúdo 1 3 a 4 --- com agregado graúdo 1 2 a 3 1 a 2 A dosagem dos materiais componentes deve ser feito de tal forma que as quantidades especificadas possam ser controladas e mantidas com precisão de +/- 5%. A mistura dos materiais constituintes deve efetuar-se mecanicamente por um tempo não menor que 5 minutos de forma a se obter total homogeneidade. O transporte e lançamento do graute pode ser por bombeamento ou manualmente. Recomenda-se, sempre que possível, grautear de fiada em fiada, ou pelo menos em 2 vezes, 22 uma até meio pé-direito e outra ao se atingir a última fiada. Este procedimento diminuirá a possibilidade de ocorrência de vazios nos alvéolos dos blocos. O graute deve ser adensado, Podem ser utilizados vibradores de agulha de pequeno diâmetro ou compactação manual. Muitas vezes, a própria pressão hidráulica gerada pela coluna líquida da mistura é suficiente. Em alguns casos pode ser necessário vibrá-lo (vibradores de agulha de pequeno diâmetro) ou compactá-lo manualmente (barras de aço do mesmo tipo utilizado como armadurana parede). A cura não é efetuada. 5. FATORES IMPORTANTES NA DEFINIÇÃO DO PROJETO O construtor que optar pela Alvenaria Estrutural deve preparar o projeto para este sistema desde o início a fim de otimizar vantagens do mesmo. Procedimentos comuns na construção tradicional, principalmente a desvinculação dos projetos complementares, devem ser evitados. Assim, no anteprojeto, devem ser definidas quais serão as paredes estruturais e de vedação e os tipos de blocos a serem usados para estas paredes. Esta escolha é importante para a modulação do projeto. Com a modulação serão utilizados blocos e meio-blocos, sem necessidade de ajustes na obra com quebras dos mesmos para adequação das dimensões. Nesta etapa deve também ser definido o tipo de laje a ser usado (moldada in loco ou pré- moldada). Após terminado o anteprojeto, são feitos os projetos complementares (hidráulico, elétrico, etc.). É importante que os responsáveis pelos projetos tenham em mãos o anteprojeto com todas as informações relevantes e sejam coordenados por um único responsável pelo projeto global. Desta forma, serão evitadas interferências de um projeto sobre o outro, tais como passagem de eletrodutos por paredes estruturais, cortes e rasgos desnecessários, etc. 23 Dispondo-se de todos os projetos complementares, deve-se preparar os projetos executivos, com detalhamentos de elevações (internas e fachadas), portas, janelas, junção de paredes, blocos especiais, etc. Do projeto devem constar também os tipos de blocos a serem utilizados, detalhes técnicos dos mesmos tais como resistência à compressão, tipo de argamassa e graute (se necessário), etc. 6. FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DA ALVENARIA Vários cuidados devem ser tomados em obra para que a alvenaria tenha o desempenho e a resistência estabelecidos no projeto. Assim, a resistência de elementos de alvenaria (paredes e pilares) depende de uma série de fatores que podem ser divididos em dois grupos. O primeiro, relacionado com a resistência básica da alvenaria, inclui as características físicas e mecânicas dos materiais empregados e a técnica construtiva utilizada na construção. Neste grupo destacam-se: resistência do bloco; geometria da unidade; resistência da argamassa; deformação característica do bloco e da argamassa; espessura da junta; taxa de sucção inicial do bloco; retentividade de água da argamassa; qualidade da mão de obra; condições de cura. O segundo grupo de fatores decorrem da concepção do elemento de alvenaria, como por exemplo, taxa de esbeltez, excentricidade do carregamento, etc. 6.1 Resistência do bloco 24 A resistência à compressão do bloco é o mais importante fator na resistência à compressão da alvenaria. A resistência à compressão do bloco é função da matéria-prima empregada, do processo de fabricação, da forma e do tamanho. O aumento na resistência à compressão das unidades implica no aumento da resistência da alvenaria. Entretanto esta relação não é linear. A resistência da parede é sempre menor que a resistência da unidade. Considerando como “fator de eficiência” à razão resistência da alvenaria/resistência da unidade, observa-se que: o fator eficiência diminui com o aumento da resistência das unidades; o fator eficiência é maior para blocos do que para tijolos. O fator de eficiência das alvenarias de blocos de concreto varia de 45 % a 90 %. Já para as de blocos cerâmicos obtém-se fator de eficiência entre 25 % e 50 %. Para tijolos cerâmicos maciços a eficiência fica em torno de 20 %. 6.2 Geometria da Unidade Quanto maior a altura do bloco em relação à espessura da junta, maior a resistência da parede. O bloco deve ainda ter as dimensões o mais homogêneas possível e suas superfícies devem ser planas e sem fissuras. Com isto evita-se juntas de concentração de tensões que podem ocasionar a ruptura da parede. 6.3 Resistência da Argamassa A influência da resistência à compressão da argamassa aumenta com o aumento da qualidade do bloco e conseqüente aumento das tensões admissíveis. As propriedades mecânicas do material de assentamento são muito importantes para a resistência à 25 compressão da alvenaria, uma vez que o mecanismo de ruptura da parede está diretamente ligado à interação entre junta e unidade. 6.4 Espessura das juntas Pode-se melhorar a resistência de uma alvenaria diminuindo-se as espessuras das juntas e a relação espessura da junta/altura da unidade. Diversas pesquisas indicam que a espessura ótima para as juntas de alvenaria é de 1 cm. Valores menores, que teoricamente levariam a alvenarias mais resistentes, não são recomendáveis pois a junta não conseguiria absorver as imperfeições que ocorrem nas unidades. 6.5 Qualidade da mão de obra A mão de obra tem grande influência na qualidade da alvenaria. A falta de treinamento e motivação pode trazer prejuízos ao desenvolvimento dos serviços. Os problemas mais comuns nas construções de alvenaria, relacionados com a mão-de-obra são: 6.5.1 Preenchimento das juntas As juntas horizontais devem ser completamente preenchidas. Juntas incompletas podem reduzir a resistência da alvenaria em até 33%. O não preenchimento das juntas verticais tem pouco efeito na resistência à compressão, mas afeta a resistência à flexão e ao cisalhamento da parede. 6.5.2 Espessura da junta A espessura das juntas deve ser controlada. Quando a mão de obra é despreparada, é comum a construção com juntas mais grossas que o desejável, pois estas facilitam o processo de assentamento das unidades e aumentam a produtividade. 6.5.3 Exposição a condições climáticas adversas logo após o assentamento 26Perda excessiva de umidade por evaporação em clima quente pode impedir a hidratação completa do cimento, ocasionando redução na resistência da argamassa. 6.5.4 Proporcionamento da argamassa O traço da argamassa a ser empregado deve manter-se sempre igual ao longo da obra conforme especificação do projeto. É importante que a argamassa tenha resistência, trabalhabilidade e retenção de água adequadas. São procedimentos bastante comuns em obra a adição de mais cal e/ou água para melhorar a trabalhabilidade e a perda de água decorrente da evaporação. Estes procedimentos, embora não tenham uma influência muito significativa na resistência final, são indesejáveis. 6.5.5 Perturbação das unidades após o assentamento A perturbação das unidades após o assentamento pode alterar as condições de aderência entre as unidades e a argamassa. Pode também produzir fissuras na argamassa, alterando assim a resistência final da alvenaria. Este fato é comum e ocorre quando o pedreiro tenta corrigir eventuais erros de prumo, através de batidas nas unidades, tentando recolocá-las na posição correta. 6.5.6 Ritmo da construção Quando se constrói em um ritmo exagerado, pode-se estar assentando um número excessivo de fiadas sobre uma argamassa que ainda não tenha adquirido uma resistência adequada à compressão gerando deformações. Esta não é necessariamente uniforme, e prejudica o prumo e o alinhamento da parede. 6.5.7 Desvio do prumo ou alinhamento da parede 27 Paredes fora de prumo, com reentrâncias ou não alinhadas com as paredes dos pavimentos inferior ou superior, produzirão cargas excêntricas com conseqüente redução na resistência. Um defeito de 12 a 20 mm implicará num enfraquecimento da parede entre 13 e 15%. III - OS PROJETOS 28 1. COORDENAÇÃO DE PROJETOS A coordenação dos projetos eleva a qualidade do projeto global e, conseqüentemente, melhora a qualidade da construção. Muitas medidas de racionalização e praticamente todas as medidas de controle da qualidade dependem de uma clara especificação na sua fase de concepção. Não é possível controlar uma atividade ou produto, se suas características não se encontram perfeitamente definidas. Da mesma forma, a execução somente poderá ser planejada de forma eficiente se o projeto apresentar todas as informações necessárias para o planejamento. O processo construtivo em Alvenaria Estrutural deve ser concebido, sempre que possível, a partir da coordenação dos projetos. Os principais objetivos da coordenação são: promover a integração entre os participantes do projeto, garantindo a comunicação e a troca de informações entre os integrantes e as diversas etapas do empreendimento; controlar as etapas de desenvolvimento do projeto, de forma que este seja executado conforme as especificações e requisitos previamente definidos (custos, prazos, especificações técnicas); coordenar o processo de forma a solucionar as interferências entre as partes do projeto elaboradas pelos distintos projetistas; garantir a coerência entre o produto projetado e o modo de produção, com especial atenção para a tecnologia do processo construtivo utilizado. Para atingir os objetivos acima os principais aspectos a serem observados na coordenação dos projetos são: definição clara dos objetivos e parâmetros a serem repassados aos diversos profissionais como requisitos do projeto; definição clara de todas as partes que constituem os projetos, bem como o seu conteúdo; definição e padronização da forma de apresentação das informações (padronização da representação gráfica); 29 criação de uma sistemática de avaliação e retroalimentação dos problemas enfrentados durante a execução dos projetos, de forma a aumentar continuamente a tecnologia da empresa através da experiência; integração intensa entre projeto e obra, inclusive durante a execução do empreendimento, de forma a dar suporte a possíveis alterações a serem realizadas; definir antecipadamente a quem caberá o detalhamento executivo de cada projeto complementar. A implantação de um sistema de coordenação de projetos aumenta a confiabilidade do processo e diminui as incertezas em todas as atividades, principalmente na execução. Por esta razão, recomenda-se que o projetista busque a integração dos diversos projetos. 2. PROJETO ARQUITETÔNICO Como mencionado anteriormente, o projetista de alvenaria estrutural deve pensar alvenaria estrutural, devido às particularidades de seus procedimentos. O projeto arquitetônico é restringido pelos condicionantes ligados a todos os demais projetos. Por outro lado, ele é o projeto que estabelece o partido geral do edifício, e assim condiciona o desenvolvimento de todos os demais. Por este motivo, o sucesso do empreendimento dependerá da cuidadosa elaboração do projeto arquitetônico que influenciará todos os outros projetos. Caso o partido arquitetônico não seja adequado, será muito difícil compensá-lo através de medidas tomadas nos projetos complementares ou em intervenções na obra. Algumas restrições estruturais são impostas ao projeto arquitetônico, e devem ser levadas em conta na criação do mesmo. Entre as restrições devem ser destacadas: o número de pavimentos possíveis de serem alcançados com os materiais disponíveis no mercado; o arranjo espacial das paredes e a necessidade de amarração entre os elementos; 30 as limitações quanto à existência de transição para estruturas em pilotis no térreo ou subsolos; a impossibilidade de remoção de paredes. FUNDAMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO Verificar condicionantesdo projeto. Objetivar máxima simetria. Utilizar modulação. Compatibilizar os projetos arquitetônicos com o estrutural e os de instalações. Prever as paredes que podem funcionar como vedação, utilizando-as para passagem de tubulações. Apresentar os detalhes construtivos de forma clara e objetiva. Usar escalas diferentes para planta e detalhes. Quadro 2.1 - Fundamentos do projeto arquitetônico 2.1 Definição dos condicionantes de projeto Os principais fatores condicionantes do projeto são: arranjo arquitetônico, coordenação dimensional, otimização do funcionamento estrutural da alvenaria, racionalização do projeto e da produção. Devem ainda ser levados em conta os requisitos dos usuários, os custos (incluindo aqueles de utilização e de tempo de execução), os requisitos de desempenho e os aspectos de segurança e confiabilidade. O problema da impossibilidade de remoção de paredes, que limita a flexibilidade funcional dos ambientes, pode também ser satisfatoriamente resolvido, se algumas poucas e determinadas paredes forem previamente classificadas como possíveis de serem eliminadas. 2.2 Simplificação do projeto 31 A simplificação do projeto é uma das principais formas de melhorar a construtibilidade. Para se obter um projeto simplificado, é recomendável seguir os passos abaixo: utilizar o menor número de componentes possível; concentrar trabalhos com um único tipo de material ou função; utilizar materiais facilmente encontrados no mercado, com tamanho e configuração padrões; utilizar materiais e componentes simples, fáceis de serem conectados, empregando o mínimo de serviço especializado possível; concentrar atenção nas juntas entre componentes e entre elementos construtivos; reunir em um só elemento vários componentes ou funções; priorizar prumo, nível e esquadro (evitar projetar ângulos, inclinações e superfícies curvas); usar grandes componentes, para que cubram grandes áreas, volumes, metragens lineares, não esquecendo, entretanto, de limitar seu tamanho para não dificultar o manuseio. 2.3 Simetria O projetista deve procurar um equilíbrio, na distribuição das paredes resistentes por toda a área da planta, Caso contrário, os carregamentos podem concentrar-se em uma determinada região do edifício levando a necessidade de utilização de materiais com resistências diferentes para as paredes do mesmo pavimento ou do grauteamento de determinadas paredes, o que não é recomendável em relação ao custo e à construtibilidade. O projetista deve buscar distribuir igualmente as paredes estruturais em ambas as direções para garantir a estabilidade do edifício em relação às cargas horizontais. Também devido às cargas horizontais, é importante a criação de plantas o mais simétricas possíveis para diminuir o surgimento de tensões devido à torção. 32 2.4 Modulação Coordenação modular é a técnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um reticulado especial modular de referência. A modulação é a base do sistema de coordenação dimensional utilizado nos edifícios em alvenaria estrutural. O arquiteto, desde a elaboração dos primeiros traços, deverá trabalhar sobre uma malha modular, cujas medidas são baseadas no tipo de componente utilizado na alvenaria. A coordenação modular pode representar acréscimos de produtividade de cerca de 10%. Consegue-se evitar cortes e outros trabalhos de ajuste no canteiro que representariam perda de tempo, material e mão de obra. Além disso, os projetos arquitetônicos estruturais e de instalações devem ser compatibilizados, bem como deve se ter um adequado controle da execução com controle das juntas. A facilidade com que se implanta a coordenação modular nos edifícios em alvenaria estrutural é um dos principais motivos que tornam o processo favorável à implantação de medidas de racionalização. Estas facilidades, são obtidas devido a própria forma de execução, que simplifica a padronização dos serviços, a coordenação das atividades, o treinamento e qualificação da mão de obra entre outras. A coordenação modular só pode ser alcançada se os blocos forem padronizados e se os projetos arquitetônicos, estruturais e de instalações forem compatibilizados. Além disto durante a execução na obra devem ser tomadas medidas para garantir juntas com tolerâncias adequadas a modulação adotada. A modulação deve ocorrer tanto na vertical quanto na horizontal. Ela é obtida através do traçado de um reticulado de referência, a partir de um módulo básico escolhido (dimensões do bloco mais espessura de juntas, sendo que usualmente os módulos são de 15cm ou 20cm). As alturas e larguras das paredes devem ser considerados múltiplos do módulo básico. A posição dos blocos no reticulado é tal que duas faces suas sempre tangenciam as linhas tracejadas. Segundo a experiência de vários projetos e projetistas, a 33 modulação ideal é aquela em que o módulo é igual a espessura da parede, não sendo necessária a criação de blocos especiais para ajustes nas amarrações. A coordenação modular deve ser compatibilizada com os vãos de portas e janelas, tendo em vista as dimensões externas de marcos e forras e a necessidade de juntas entre estes e a alvenaria. Conforme o tipo de janela (madeira, ferro ou alumínio), a fixação deve ser estudada e estabelecidas as folgas necessárias, para consideração na coordenação modular. Na prática, entretanto, diversos parâmetros construtivos nos obrigam a acomodar algumas dimensões. As lajes, por exemplo, têm sua espessura determinada pelo seu dimensionamento econômico que raramente coincide com o módulo. Nessas condições a preocupação de modulação vertical se restringirá à medida de piso a teto, tomando-se o cuidado de utilizar uma espessura constante de laje em todo o pavimento a fim de se obter um único nível de respaldo na última fiada e um único nível de saída para a primeira fiada do andar superior. Em muitos projetos são utilizados mais de uma espessura de parede. Assim, deve-se ter o cuidado de dispor o layout em planta de tal maneira que os comprimentos individuais de cada painel de parede fiquem modulados entre as paredesortogonais que as limitam. 34 banheiro copa/cozinha quarto hall sala quarto bloco 34 cm bloco 39 cm Figura 2.5 - Exemplo de Modulação Além das peças-padrões descritas, existem inúmeros modelos para aplicações mais específicas, tais como: bloco canaleta estrutural, meia canaleta estrutural, bloco hidráulico estrutural, bloco especial estrutural de canto 45 o , etc. (a) (b) (c) Figura 2.6 – Blocos especiais: (a) hidráulico; (b) Canaleta; (c) Meia-Canaleta 35 2.5 Passagem de Dutos Na execução das instalações do edifício deve-se evitar o rasgo de paredes estruturais para o embutimento das instalações. Rasgos de paredes significam retrabalho, desperdício, maior consumo de material e mão de obra e principalmente insegurança sob o ponto de vista estrutural pela redução da secção resistente. Para evitar este problema pode-se utilizar as seguintes alternativas: a utilização de paredes não estruturais para o embutimento das tubulações; aberturas de passagens tipo shafts para a passagem das tubulações; a passagem por blocos especiais (blocos hidráulicos); o emprego das tubulações aparentes. A melhor alternativa tanto sob o ponto de vista construtivo quanto da segurança estrutural é o uso de shafts. Deve-se prestar atenção quanto à localização e dimensão dos mesmos. O projetista arquitetônico deve procurar agrupar ao máximo as instalações, ou seja, projetar banheiros e cozinhas o mais próximos possível. Com isto economizará espaço na arquitetura e reduzirá a quantidade de shafts. Os shaft podem ter os mais variados tamanhos. Isto depende do número de instalações que o projetista conseguir agrupar. Como regra, sugere-se os tamanhos mínimos mostrados nos exemplos abaixo. 36 variável conforme box vazio na laje para passagem de dutos placa de fechamento mínimo meio-bloco Figura 2.7 - Detalhe de shaft de alvenaria com blocos (19x19x39 cm) vazio na laje para passagem de dutos placa de fechamento bloco de vedação (14x19x39 cm) mínimo 25 cm mínimo 19 cm (meio-bloco) Figura 2.8 - Detalhe de shaft de alvenaria com blocos (19x19x39cm) parede estrutural Variável vazio na laje parede de vedação Figura 2.9 - Exemplos de shafts 37 2.6 Paginação É o detalhamento das paredes, uma a uma, onde são representadas janelas (com vergas e contra-vergas), instalações, etc. Nas elevações deverão ser mostradas além de aberturas, vergas, contra-vergas, etc., também os eletrodutos, caixas de passagem, interruptores, bem como as tubulações hidráulicas. Essas paginações devem ser providas pelo projetista arquitetônico para a elaboração dos projetos hidráulico e elétrico. Tanto a primeira fiada como as elevações das paredes devem ser desenhadas em escalas não inferiores a 1:50. Para facilitar a leitura em obra é recomendável que estes desenhos sejam feitos em escala 1:25. Detalhes de fixação de tubulações aparentes poderão ser apresentados em cortes com escala apropriada. QDL verga interruptores tomadas Figura 2.10 - Exemplo de Paginação 38 Resumindo-se o que foi visto nesta secção, têm-se o seguinte roteiro para projeto arquitetônico: (a) Conhecer condicionantes do projeto; (b) Fazer reticulado; (c) Fazer partido sobre a malha, procurando o máximo de simetria possível entre as paredes estruturais; (d) Compatibilizar vãos e portas com dimensões externas dos marcos e com o tipo de abertura a ser usada (madeira, ferro ou alumínio); (e) Dispor os shafts e considerar espaços para passagens de tubulações, estudando as paredes que podem ser utilizadas somente como vedação; (f) Desenhar a primeira e segunda fiadas; (g) Fazer as paginações, principalmente das paredes mais
Compartilhar