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RESENHA DOS DELITOS E DAS PENAS- CESARE BECCARIA

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Cesare Beccaria nasceu em 1738, em Milão, na Itália, sendo filho de aristocracia local. Estudou com os Jesuítas e formou-se em Direito pela Universidade de Pavia.
Tendo como uma obra revolucionária, a se dizer que a partir dela ele introduziu o estudo de Direito Penal, dispõe-se então o livro “Dos Delitos e das penas”, publicado em 1764. Escrito este em uma época de agitação cultural, entusiasmo de afirmações filosóficas, de contestação das formas de organização do Estado e de surgimento do pensamento racional, no meio de governos despóticos em que a população era comandada por poderes totalitários da Igreja e da Monarquia. Nesta época, destaca-se o chamado Iluminismo – movimento de ideias de liberdade do século XVIII – que dominava os debates, estudos e publicações filosóficas. Neste período de ideias iluministas, pregação do humanismo e racionalismo filosófico, teorias naturalistas e contratualista surgiam correntes filosóficas a partir dos conflitos entre o espírito e a razão com uma forte contestação social do que estava estabelecido.
O autor teve influência dos pensadores da época, principalmente os franceses que dominavam a Europa como os filósofos Diderot, Rousseau, Voltaire, entre outros. Tais pensadores criticavam o absolutismo que concentrava o poder político nas mãos dos reis e a própria Igreja Católica pela sua interferência política de controle social.
 A partir de fontes e pensamentos iluministas e humanistas, Beccaria registra que a função das leis e da ordem é evitar injustiça e abusos na sociedade, logo, critica a ausência de leis justas que poderiam prevenir a prática de crimes, e também não permissão da ascensão da justiça e da paz social. Para ele, as nações deveriam rever suas leis penais, evitar abusos de poder levando à tirania, construindo um sistema legal justo. Tem-se por intuito combater as condenações sem provas, torturas, prisões desnecessárias, penas de morte e outras barbaridades praticas pelo Estado, sem uma fundamentação legal e justa.
A publicação desta obra, inicialmente de forma anônima, gerou debates exaltados, provocando reformas na região da Lombardia. Devido à influência das ideias de Beccaria, a rainha Maria Tereza, da Áustria, aboliu a tortura, em 1776. No império Russo e na Prússia, também aconteceram reformas nos códigos criminais, adotando propostas do mesmo. É importante ressaltar que o filósofo Voltaire denominou sua obra como “um verdadeiro código de humanidade”
Na sua introdução, Beccaria registra que é preciso criar, elaborar novos códigos, com a humanização do direito penal e a execução das penas, que não poderiam ser praticados de formas arbitrárias, seja pelos governantes monarcas, seja pelos Juízes. Suas ideias confrontam-se com atrocidades praticadas, crueldades das penas e procedimentos criminais. Mas, destaca que o livro tem o objetivo de traçar princípios gerais para o sistema criminal. Como precaução em relação à religião e ao poder de Estado, ele adverte ter escrito o livro.
O autor ressaltar a importância de se analisar os crimes e quais as penas a ele deveriam ser imputadas de forma justa. Sendo assim, ele dá exemplos de temas que pretende abordar no livro:
Mas, qual é a origem das penas, e qual o fundamento do direito de punir? Quais serão as punições aplicáveis aos diferentes crimes? Será a pena de morte verdadeiramente útil, necessária, indispensável para a segurança e a boa ordem da sociedade? Serão justos os tormentos e as torturas? Conduzirão ao fim que as leis se propõe? Quais os melhores meios de prevenir os delitos? Serão as mesmas penas igualmente úteis em todos os tempos? Que influência exercem sobre os costumes?
As perguntas já direcionavam para suas principais preocupações escritas em 42 pequenos capítulos. Beccaria afirma que os cidadãos abririam mão de parte de sua liberdade, diminuiriam seus direitos para viverem de forma harmônica em sociedade. Que isso constitui um verdadeiro contrato social com o estabelecimento de normas que deveriam ser cumpridas, assim as penas viriam para aqueles que descumprissem o ordenamento social proposto entre os atores envolvidos.
Porém, era preciso precaver quanto ao abuso do poder, porque as leis poderiam atender a uma necessidade do Estado, mas poderiam ser utilizadas como ferramentas de usurpação por particulares.
 De relevância preocupação tida com o direito de punir e seus limites, o autor dispõe que o abuso não representará a justiça. Assim, o direito de punir não poderá tirar direitos, além da necessidade de conservar a harmonia social.
Ao atentar estes princípios, são destacadas as consequências: somente as leis podem fixar as penas de cada delito, só o legislador pode elaborar as leis representando a sociedade em um contrato social, o juiz só pode aplicar aquilo que a lei prevê. Advir, por conseguinte, o soberano poderá fazer as leis, porém ele não poderá julgar o desrespeito às leis, sendo necessário um terceiro, magistrado, que decide se houve ou não um delito e qual será a sentença. Sabendo-se que as leis não podem nem devem ser atrozes pois ela se destina a governar homens felizes e livres.
Segundo o autor, os juízes não devem interpretar as leis, mas aplicá-las. O intérprete principal das leis é o soberano. Aquele, tem o papel de procurar encaixar o caso específico na lei geral. O Magistrado não deve ultrapassar este limite, caso ocorra, poderá o processo jurídico tornar-se obscuro, confuso, criando insegurança, arbitrariedade. Expõe que a lei deve ser aplicada, mesmo se tiver equivocada, garantindo previsibilidade e segurança social, devendo também as mesmas serem escritas em linguagem acessível para que toda a sociedade tenha compreensão delas.
Entende-se que quando estas leis forem redigidas de forma clara, os cidadãos poderão compreender seus limites de liberdade, saber das consequências dos seus atos, possibilitando não restringir um número reduzido de homens especialistas na sua interpretação, e também visando maior abrangência das pessoas, por consequência, haverá redução na ocorrência de delitos, tendo assim uma ação preventiva para a criminalização.
As prisões e as formas de julgamentos são preocupações em toda a obra de Beccaria. Na sua época, o magistrado tinha um poder discricionário, fazendo prisões sem critérios legais estabelecidos anteriormente, de acordo com a vontade pessoal do Juiz. Para o autor, somente a lei deve definir os casos em que a pena deve ser aplicada, com definição de características do delito e das penas proporcionais.
As provas devem ser irrefutáveis, perfeitas, com indícios claros, para que o indivíduo possa ser julgado de forma clara. O julgamento seria ainda melhor se for feito por outros cidadãos, aplicando o bom senso, do que por um magistrado que procura culpados. Ou seja, o autor lança luzes sobre a formação coletiva de jurados, seus semelhantes, evitando no julgamento os preconceitos sociais.   
 Entre os abusos consagrados por vários governos, Becaria destacava as acusações secretas, os interrogatórios sugestivos e a tortura. As acusações secretas criavam uma situação de terror, com o surgimento de cidadãos delatores, falsos, que possibilitavam o surgimento de ambientes de desconfiança, com o sigilo servindo de escudo para os tiranos. Daí, seria um pulo para penas secretas. 
Numa linha de humanização das investigações, ele afirmava que os interrogatórios não poderiam utilizar a dor para obter informações, sendo os interrogatórios sugestivos levaria as pessoas acusadas a inventarem histórias para livrar-se do sofrimento. 
Um dos maiores destaques do livro é a condenação à prática de tortura durante o processo para se obter confissões. Ele afirma: “... ou o delito é certo, ou é incerto. Se é certo, só deve ser punido com pena fixada pela lei, e a tortura é inútil, pois não se tem necessidade das confissões do acusado”. Para Beccaria, nenhuma confissão adquirida através da tortura teria validade, pois o acusado teria muitas razões para mentir, confessar algo que não cometeu, para evitar o sofrimento, a dor.
Na tipificaçãodos crimes, Beccaria destaca dois tipos: crimes atrozes ou hediondos (homicídios e suas variáveis) e outros crimes. Os crimes contra a vida das pessoas devem ter processo mais rápido e a punição deve ser mais longa, pois este tipo de crime vai contra as leis naturais, contra a humanização da vida. Os outros crimes como os contra as propriedades não fazem parte das leis naturais, não estando no coração dos homens, afirma Beccaria. Assim, o processo deveria ser mais longo e poderia prescrever, com o condenado podendo recomeçar a sua vida.  
A pena de morte é um dos maiores tópicos do livro. Beccaria condena de forma veemente a prática deste instrumento como forma de punição.  Segundo o autor, a pena de morte não se apoia em nenhum direito.
“É uma guerra declarada a um cidadão pela nação, que julga a destruição desse cidadão necessária ou útil. Se eu provar, porém, que a morte não é útil nem necessária, terei ganho a causa da humanidade”.
 Beccaria afirma que a morte só pode ser considerada necessária por dois motivos: em épocas de confusão em que a nação fica na situação de perder ou recuperar sua liberdade; nas épocas de grandes conflitos, em que as leis são substituídas pela desordem. O outro caso seria “de um cidadão, embora privado de sua liberdade, atentar contra a segurança pública, podendo sua existência produzir uma revolução perigosa no governo estabelecido”
Não há necessidade de se tirar a vida de um ser humano quando há um clima tranquilo de leis, aprovado por uma nação inteira, em um Estado defendido no interior e no exterior, quando a autoridade é exercida por quem de direito, em cujo país as riquezas proporcionem qualidade de vida das pessoas.
Uma das anotações da teoria de Beccaria é que o bem-estar social é alcançado com a certeza da aplicação das leis e não a sua severidade. Assim, o autor defende penas brandas, chamando a atenção dos juízes para permanecerem atentos, vigilantes, prontos para aplica-las. As penas a serem aplicadas devem ser proporcionais à infração cometida, considerando o grau de danos ao bem público como medida dos delitos. O legislador deve fazer a distribuição das penas proporcionais aos delitos, aplicando maiores castigos aos maiores crimes.
 A lei deve ser aplicada a todos, independentemente de classe social, afirma Beccaria, pois a igualdade civil é anterior a todas as características de honras e riquezas. Se a lei não for aplicado a todos elas deixarão de ser legítimas.
 O autor divide os delitos como aqueles contra a sociedade e aos cidadãos que a representam quando atingem a sua honra ou usurpam seus bens.  O que não tiver registrado como lei, todo cidadão poderá fazer. Ou seja, todo cidadão pode fazer tudo o que não proibido por lei. Este é um dogma político que possibilita a subsistência de todas as sociedades.
 Para haver harmonia social, os cidadãos devem ser respeitados por todos os seus semelhantes. Assim, é necessário determinar uma noção de honra para garantir a imagem do cidadão.  Aquele que cometer injúria deverá ser punido severamente.  Assim, evitaria duelos entre aqueles que se sentem ofendidos, com a punição àquele que deu origem à reação daquele ofendido.
Beccaria distingue o roubo com violência daquele que haja prática de violência. O que for praticado sem violência deve ser punido com devolução de bens roubados ou ter uma pena pecuniária. Porém, se o roubo for de uma pessoa pobre, ela deve passar por expiação de trabalhos voluntários junto à sociedade. Mas o roubo cometido com violência deve ser punido com pena corporal e devolução de bem patrimonial.
Faz-se reconhecimento os crimes que perturbam a tranquilidade pública como atos de vandalismo e desordem que prejudicam a tranquilidade e harmonia pública. Embora vivesse no século XVIII, o autor argumenta que é preciso prevenir tais delitos com medidas sociais, com mecanismos que garanta uma segurança jurídica e social, cuidando para que não haja medidas de abusos e arbitrariedade. 
O que hoje é considerado como comportamento social, Beccaria definiu o adultério e a pederastia como delitos difíceis de constatar por envolver questões morais e culturais complexas, sendo difícil para o legislador determinar medidas de punição, além de dificuldades na prevenção por ser a atração física algo natural.
Ponto fundamental em que baseia todo o livro é que a lei deve conceber meios para prevenir os crimes. Beccaria afirma: “É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo”. Acrescenta que toda legislação deve procurar ser simples e clara com toda a nação procurando defende-la e cumpri-la, proporcionando o bem-estar social, evitando os sofrimentos das pessoas.
As leis não devem ser assunto de poucos sábios, mas que tenham “o fim da felicidade pública”.  
Beccaria conclui afirmando que a lei deve defender o cidadão e não praticar qualquer tipo de violência contra a cidadania.

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