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HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO AULA 13 – O DECLÍNIO DO REGIME MILITAR E A TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA AULA 14 – A AMBIÊNCIA CONTEMPORÂNEA DO DIREITO BRASILEIRO PROFA. DRA. MARGARIDA MARIA KNOBBE LEI DA ANISTIA Promulgada pelo último presidente militar, João Batista de Figueiredo em de 28 de agosto de 1979. Em seu Artigo. 1º dispõe que: “Art. 1° - É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares (vetado). § 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política. A lei é clara quando se tratava de não anistiar os acusados de terrorismo: “§ 2º Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal.” MOVIMENTO PELA REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL Comício pelas Diretas Já do Rio de Janeiro reuniu cerca de 1 milhão de pessoas. ABERTURA POLÍTICA O crescimento da oposição nas eleições de 1978 acelera a abertura política. O episódio mais grave é um malsucedido atentado terrorista promovido por militares no centro de convenções do Riocentro, no Rio, em 30 de abril de 1981. A crise econômica se aprofunda e mergulha o Brasil na inflação e na recessão. Crescem os partidos de oposição, fortalecem-se os sindicatos e as entidades de classe. Durante o ano de 1984 , o país assistiu a uma mobilização popular sem precedentes: em todas as cidades e capitais a população manifestou seu repúdio às eleições indiretas e exigiu o voto direto para presidente. A maior manifestação, realizada em São Paulo, reuniu aproximadamente 1,7 milhão de pessoas. O movimento foi conhecido como “Diretas Já”. Desde o final de 1983 se iniciou um movimento para a realização de eleições diretas para Presidente da República no Brasil, que pretendia ampliar a ideia de redemocratização. No ano anterior, os governadores estaduais haviam sido eleitos pelo voto direto. Em 1984 esse movimento se ampliou e envolveu diversos partidos políticos e várias entidades da sociedade civil, apoiando uma Emenda Constitucional que possibilitaria as eleições presidenciais. NOVA REPÚBLICA E AS TRANSFORMAÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS Rejeitada a Emenda Dante de Oliveira, em 25 de abril de 1984, que previa eleição direta para presidente e vice-presidente da República, a eleição do primeiro civil após o período de exceção se deu ainda indiretamente, por meio de um colégio eleitoral, em 15 de janeiro de 1985. Finalmente, em 15 de maio de 1985, a Emenda Constitucional nº 25 alterou dispositivos da Constituição Federal e estabeleceu outras normas constitucionais de caráter transitório, restabelecendo eleições diretas para presidente e vice-presidente da República, em dois turnos, eleições para deputado federal e senador para o Distrito Federal, eleições diretas para prefeito e vice-prefeito das capitais dos estados, dos municípios considerados de interesse da segurança nacional e das estâncias hidrominerais, aboliu a fidelidade partidária e revogou o artigo que previa a adoção do sistema distrital misto. RETOMADA DO PROCESSO DEMOCRÁTICO Em 1986 foram realizadas eleições para os governos dos estados e para o Congresso, que se constituiria como Assembleia Nacional Constituinte. A Assembleia Constituinte iniciou seus trabalhos em 1º de fevereiro de 1987 e depois de um longo período de debates e de elaboração do texto constitucional, a nova Carta foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Apesar de muito criticada por incorporar em seu texto assuntos que não pertenceriam ao âmbito das questões constitucionais, ela refletiu os avanços ocorridos no Brasil, especialmente na extensão dos direitos sociais e políticos a todos os cidadãos e às “minorias”. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 Na Constituição de 1988 – a de maior participação popular –, o Congresso Nacional foi o grande fórum de debates, destacando-se parlamentares pertencentes às duas principais correntes de sistemas de governo: presidencialismo e parlamentarismo, cuja definição partiu do próprio povo em plebiscito realizado em 21 de abril de 1993, vencendo a forma de governo republicano e sistema presidencialista. O Regimento da Assembleia Nacional Constituinte acolheu o pedido do Plenário Nacional Pró-Participação Popular na Constituinte e admitiu a iniciativa de emendas populares. Por essa via, a população obtinha o direito a uma participação mais direta na elaboração constituinte. ALGUNS AVANÇOS CONSTITUCIONAIS Direito de voto para os analfabetos; Voto facultativo para jovens entre 16 e 18 anos; Redução do mandato do presidente de 5 para 4 anos; Eleições em dois turnos (para os cargos de presidente, governadores e prefeitos de cidades com mais de 200 mil habitantes); Os direitos trabalhistas passaram a ser aplicados, além de aos trabalhadores urbanos e rurais, também aos domésticos; Direito a greve; Liberdade sindical; Diminuição da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais; Licença maternidade de 120 dias ; Licença paternidade de 5 dias; Abono de férias; Décimo terceiro salário para os aposentados; Seguro desemprego; Férias remuneradas com acréscimo de 1/3 do salário. DIREITOS INDIVIDUAIS Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade , à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...). SISTEMA DE GOVERNO Lei 8.624/1993 - Dispõe sobre o plebiscito que definirá a forma e o sistema de governo e regulamenta o art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, alterado pela Emenda Constitucional nº 2. OS CARAS-PINTADAS E O IMPEACHMENT A queda do ex- presidente Fernando Collor pelas vias legais não apenas demonstra o aprimoramento das instituições, mas também o amadurecimento da democracia brasileira, e o rompimento com as soluções golpistas. Porém, o processo de impeachment sofrido pelo ex- presidente teve como agente catalisador, além das diversas manifestações populares (panelaço, etc.), o movimento dos caras-pintadas, movimento estudantil realizado no decorrer dos meses de agosto e setembro de 1992, e que contou com a adesão de milhares de jovens em todo o país. O nome "caras-pintadas" referiu-se à principal forma de expressão, símbolo do movimento: as cores verde e amarelo pintadas no rosto. PLEBISCITO O plebiscito, previsto pela Constituição de 1988, realizado em de 21 de abril de 1993, acabou estabelecendo de maneira definitiva a forma e o sistema de governo no Brasil. A Constituição deu poderes ao povo, para que, por intermédio da vontade da maioria, pudesse escolher como forma de governo entre a monarquia parlamentar ou a república; e, como sistema de governo, entre o parlamentarismo ou presidencialismo. Na ocasião, a maior parte do povo brasileiro optou por manter a forma republicanae o sistema presidencialista, consolidando uma tradição cristalizada durante o século anterior. NOVAS CONQUISTAS NEOCONSTITUCIONALISMO A partir de um modelo teórico seguido pela grande maioria dos importantes juristas brasileiros – e que os constitucionalistas chamam de “neoconstitucionalismo” -, todo o sistema normativo deve ser interpretado a partir de uma leitura da Constituição, principalmente no que se refere ao seu epicentro axiológico: a defesa da dignidade humana. Sob esta perspectiva, a Carta Magna de 1988 passa a ostentar uma importância para o ordenamento em proporção jamais vista pelas cartas anteriores, pois passa a ser verdadeiro filtro não apenas normativo, mas também interpretativo. SOB A NOVA CONSTITUIÇÃO • Código de Defesa do Consumidor, • Estatuto da Criança e do Adolescente, • Estatuto do Idoso, • Lei Maria da Penha, • leis ambientais, • alterações nos Códigos de Processos. Após a Constituição de 1988, há a produção de importantes legislações que, ao mesmo tempo em que respondem às novas demandas sociais, estimulam um quadro de avanços, sendo que sprojeta no Brasil a geração dos direitos transindividuais, compreendendo esses direitos coletivos e difusos, que abarcam a proteção do consumidor, do meio ambiente e de outros valores considerados importantes para a vida da sociedade Apesar do papel fundamental dessas leis que, embora consideradas bastante avançadas sob o prisma normativo – inclusive pelo mundo jurídico internacional -, encontram como maior obstáculo, para uma maior efetividade, um quadro social, econômico, político e mental típico de um país cujo legado histórico foi a construção de uma sociedade desigual e com pouca tradição de usufruto de liberdades e de participação política. VIDA PRIVADA E O DIREITO O Código Civil de 2002 adequou as relações privadas aos novos tempos. Uma das mais importantes alterações legislativas nos últimos tempos é a revogação do antigo Código Civil de 1916 pelo Novo Código Civil de 2002, como necessária alteração em razão das transformações históricas vivenciadas nesses 86 anos que os separam. Assim, é importante que se perceba que o novo Código estabelece não apenas uma visão mais atualizada das relações privadas, mas também uma abertura normativa mais flexível que não apenas possui maior sintonia com a Carta de 1988, mas que, concomitantemente, é dotada de instrumentais capazes de reconhecer novas práticas sociais e negociais que surgem no mundo contemporâneo. AINDA FALTA MUITO... Com a letargia do Congresso em regulamentar, VÁRIOS DISPOSITIVOS da CF/1988 que dependiam de Leis Complementares e/ou Ordinárias, muitas garantias e mudanças, legítimas e democráticas, que compõem o texto da Carta Magna, ainda não cumpriram o seu papel. Ex.: Aviso Prévio Proporcional – Foi preciso o STF antecipar sua aplicação para que a Lei, enfim, fosse votada e promulgada, mais de duas décadas depois. Leia mais: http://jus.com.br/artigos/24578/congresso-nacional-quer- regulamentar-117-dispositivos-da-cf-de-1988-ainda-nao-aplicados-por-falta- de-lei#ixzz2jyRxG6CN DESDE O IMPÉRIO... Código Comercial (1850) Teve sua primeira parte revogada em 2002 pelo Código Civil, porém ainda regula o comércio marítimo Brasileiro. Com a proposta de reforma, que está atualmente na Câmara, a ideia é unificar outra vez o direito comercial. A modernização passa pela regulamentação do comércio via internet. Código Penal (1940) Entregue ao Senado no ano passado, a reforma é analisada em uma comissão especial. Propõe a flexibilização do aborto e da eutanásia, permite o consumo controlado de drogas e criminaliza a homofobia, além de endurecer contra crimes financeiros. Código de Processo Penal (1941) Passou por uma minirreforma em 2011, porém há uma modernização mais ampla no Congresso. O novo texto tenta agilizar a tramitação dos processos, diminuindo o número de recursos. O fim da prisão especial para pessoas com curso superior é outro ponto discutido. Código eleitoral (1965) Uma comissão de juristas espera concluir o anteprojeto no primeiro semestre, para que o texto comece a tramitar no Congresso. O grupo tenta unificar os questionamentos judiciais das candidaturas e estuda propostas para limitar gastos de campanha. E MAIS... Código de Processo Civil (1973) Responsável por organizar a tramitação das questões civis, o código já passou pelo Senado e está na Câmara. A modernização procura limitar a quantidade de recursos. O texto estimula a conciliação e propõe a penhora parcial e não integral do salário em caso de dívidas. Código de Defesa do Consumidor (1990) l O texto é analisado em uma comissão no Senado. A reforma está calcada em três pontos: prevenção e criação de regras de conciliação, organização de ações coletivas e regulamentação sobre comércio eletrônico. Direitos adquiridos (1892) Em vigor há quase 121 anos, a lei dos direitos adquiridos por empregados antes da Proclamação da República é a norma ordinária mais antiga do país. Na prática, não tem serventia. Assinado por Floriano Peixoto, o texto assegura a manutenção de benefícios obtidos no Império, independentemente das normas adotadas na jovem República. Ou seja, funcionários que já morreram há muito tempo. Estatuto do Índio (1973) Dispõe sobre as relações do Estado e da sociedade brasileira com os índios. Em linhas gerais, o Estatuto seguiu um princípio estabelecido pelo velho Código Civil brasileiro (de 1916): de que os índios, sendo "relativamente incapazes", deveriam ser tutelados por um órgão indigenista estatal (de 1910 a 1967, o Serviço de Proteção ao Índio - SPI; atualmente, a Fundação Nacional do Índio - Funai) até que eles estivessem “integrados à comunhão nacional”, ou seja, à sociedade brasileira. A CF88 não fala em tutela e rompe esta tradição secular ao reconhecer aos índios o direito de manter a sua própria cultura, abandonando a perspectiva assimilacionista. que entendia os índios como categoria social transitória, a serem incorporados à comunhão nacional. DE VOLTA À AULA 1 Laudêmio (Brasil Colônia) Afastada do poder há mais de um século, parte da família imperial recebe uma taxa sobre a venda de todos os imóveis na região central de Petrópolis. É o laudêmio, que não é lei, mas sim um direito. A benesse remonta ao Brasil Colônia, está presente no código de Ordenações Filipinas (século 17), e ainda engorda os cofres da União nos terrenos de Marinha em todo Brasil. "Ordenações Filipinas, Livro 4: O foreiro, que traz herdade, casa, vinha ou outra possessão aforada para sempre (...) não poderá vender, escaimbar, dar, nem alhear a cousa aforada sem consentimento do senhorio."
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