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CULTURA ORGANIZACIONAL E GESTÃO DE PESSOAS: UMA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO E TREINAMENTO NA DIFUSÃO DE VALORES ORGANIZACIONAIS João Malavoti Cançado Carla Regina de Sousa Paulo Ricardo de Mendonça Brandolt Resumo A proposta deste estudo é verificar de que forma a influência dos processos de integração e treinamento auxiliam na difusão dos valores organizacionais. Para entender como funcionam os processos, foi aplicado em diversas empresas de vários segmentos da Cidade de Cachoeiro de Itapemirim/ES, uma pesquisa através de um questionário com dez perguntas fechadas. Observou-se na pesquisa que a gestão de pessoas (RH), ainda é bastante operacional e pouca estratégica, os empresários percebem os profissionais de RH com certa distância, pois o profissional tem um forte lado humanístico e que poucas organizações utilizam programas para incentivar os colaboradores a terem uma carreira profissional mais promissora, ou seja, a médio e a longo prazo, porém o lado humano das organizações é facilmente percebido pelos entrevistados. Também observou-se na pesquisa que através de reuniões as organizações disseminam seus valores respeitando as diferenças entre os diversos grupos na organização. 1. Introdução Considerando que a organização seja um agrupamento de pessoas, os processos de gestão dos colaboradores é fundamental para o desenvolvimento da organização, visto que tais processos recrutam, selecionam e treinam as pessoas. Esta percepção da importância é endossada por Vergara (2000, p.9), quando a autora declara que a gestão de pessoas é um tema de muita relevância. Primeiro, é no interior das empresas que pessoas ficam a maior parte de suas vidas. Segundo, as empresas nada serão se não tiverem pessoas para direcionar seus propósitos, definirem as estruturas e processos, estratégias, esforços para administrar os recursos financeiros e humanos, estabelecer metas e tantas outras decisões. As relações humanas são de suma importância para compreender o mundo dos negócios e nele atuar de forma consistente. Vista a importância do ser humano no contexto organizacional a gestão de pessoas, embora não declare abertamente, tem como um dos propósitos, aprimorar a cultura organizacional, pois por se tratar de um sistema de valores compartilhados pelos membros que variam de uma organização para outra, este sistema se constitui de várias características que deve ser o foco da gestão de pessoas. (ROBBINS, 2004, p.239-240) Nas últimas duas ou três décadas, o lado humano da empresa tornou-se uma das maiores preocupações das organizações. Foram adaptados grandes números de diretrizes, programas e práticas que até então eram totalmente desconhecidos. Por 2 sorte do empregado, seja ele operário, profissional liberal ou executivo, melhorou em muito as condições de trabalho se comparado aos seus antecessores de 1920. Esta idéia é confirmada por McGregor (1999, p.51), quando afirma que a organização adotou, de modo geral e consistente, um conjunto de valores muito mais humanos, esforçou-se, com sucesso, para tratar os seus empregados com mais equidade e maior generosidade. Dessa forma, o presente artigo tem como proposta de pesquisa responder o seguinte problema: qual a influência dos processos de integração e treinamento na disseminação dos valores organizacionais? Para tanto, tem-se como objetivo geral verificar de que forma a gestão de pessoas contribui para o fortalecimento da cultura organizacional. 2. Revisão Literária A partir deste tópico, o presente artigo fará uma abordagem a termos relacionados com a cultura organizacional, a gestão de pessoas na organização e a importância da influência dos processos de integração e treinamento na disseminação dos valores organizacionais, como forma de dar sustentação teórica ao tema proposto. 2.1. A Cultura Organizacional na Organização Ao discorrer sobre cultura, não se deve deixar de falar em sociologia. Afirmar que cada povo tem sua cultura, e que por isso são diferentes, é omitir precisamente o que queremos entender sobre as diferenças. Discursar que as culturas são únicas e irredutíveis é acatar como inevitável a desigualdade e não aceitar o princípio básico de que a humanidade é uma só. Marx a Durkheim presumiam no programa de pesquisa delineado pelos clássicos da sociologia, que todos os fenômenos humanos decorrem e são explicáveis a partir da organização social e da interação entre as pessoas na vida familiar, na divisão do trabalho e na ocupação e defesa do espaço e território. O programa tinha um conjunto de conceito naturalista e materialista que dizia: “É a vida cotidiana, em sociedade, que determina as idéias, valores e representações, e não o contrário, uma ética democrática e progressista (todos os seres humanos são iguais, as diferenças não passam de estágios passageiros ou situações desfavoráveis, a caminho de ser superados pela marcha inevitável do progresso) e uma epistemologia racionalista (todas as manifestações humanas são inteligíveis a partir de um modelo explicativo comum)”. (SCHWARTZMAN, 1997, p.45-46) Em oposição, as teorias culturalistas, em suas diferentes modalidades, tendiam a afirmar o primado do espírito, conduta ou dos valores no esclarecimento dos fenômenos humanos, salientando as diferenças inflexíveis entre valores e modelos culturais e enfatizando o uso da percepção clara e da empatia, por ação inexplicável, para compreender o que de fato ocorre na sociedade. (SCHWARTZMAN, 1997, p.45-46) O conceito e o termo sociedade são pontos constantes de referência, especialmente no que se refere à antropologia social. A cultura é campo específico da antropologia, 3 há sempre o questionamento se cultura e sociedade são palavras sinônimas ou tem significados diferentes. Os sociólogos se mostram no geral pouco interessados a enfrentar o problema, da definição abstrata da sociedade, limitam-se em aspectos mais concretos como sistema social, organização social e outros. A distância do significado correto ao termo sociedade é muito inexata, pois sociedade é um grupo mínimo de uma família, pai – mãe - filho. O sentido e os objetivos das atividades deste tipo de sociedade não têm nada em comum. Mas não impele as dificuldades semelhantes àquelas que já foram postas em evidência em relação à cultura, pois continua a necessidade de tentar uma explicação da diferenciação dos dois conceitos. (BERNARDI, 1997, p.33) Geralmente quando se fala sobre cultura refere-se ao padrão de desenvolvimento refletido no sistema de conhecimento, ideologia, valores e rituais diários de uma sociedade. Também é comum ser empregada para se referir ao grau de refinamento em sistemas de crenças e práticas, como na noção de “ter cultura”. Cultura tem como conceito o significado de diferentes grupos de pessoas com modos de vidas diferentes. Portanto é de relevância considerável para nosso melhor entendimento nas organizações saber lidar com estas diferenças. (MORGAN, 2002, p.137) A vida diária numa sociedade é cheia de crenças, rotinas e rituais peculiares que a identificam como uma vida cultural específica quando comparada com a de sociedades mais tradicionais. Para Morgan (2002, p.139), por exemplo, em comunidades onde as famílias e não as empresas formais são as unidades econômicas e produtivas básicas, o trabalho tem um significado completamente diferente e freqüentemente ocupa uma parcela menor do tempo de uma pessoa. As diferenças entre atividades ocupacionais e outros aspectos da vida social tendem a ser menos claras. Muito utilizada em comportamento organizacional, a palavra cultura, tem o seguinte entendimento segundo os autores Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), onde afirmam que: “É utilizada junto com o conceito de cultura organizacional ou corporativa, em conexão com o crescente interesse na diversidade da força de trabalho e com respeito a amplas diferenças entre pessoas ao redor do mundo. Os especialistas tendem a definir cultura como a forma aprendida e compartilhada de fazer as coisas numa determinada sociedade – o modelo pelo qual as pessoas comem, vestem-se, cumprimentam-se e se tratam, ensinam os filhos, resolvem os problemas diários, e assim por diante. Nós não nascemos com uma cultura, e sim em uma sociedade que nos ensina a sua cultura. Como a cultura é compartilhada por pessoas, ela ajuda a definir os limites entre grupos diferentes”. (SCHERMERHORN, HUN e OSBORN, 1999, p.42-43) Inicialmente para lidar com sucesso com pessoas de diferentes culturas, é preciso compreender e entender a nossa cultura. Não estar consciente deste fato pode atrapalhar o contato com outras culturas muito diferentes da nossa, neste caso precisamos ter sensibilidade. Conhecer bem a cultura ajuda a evitar conflitos que surgem geralmente em ambientes multiculturais, internacionais e outros. O primeiro conflito é paroquialismo – presumir que a nossa cultura representa a forma única e 4 correta de fazer as coisas. A segunda é etnocentrismo – supor que a nossa cultura é superior a todas as outras. É paroquial, por exemplo, um americano de negócios esperar que todos os seus contatos locais onde estiver viajando se expressem na sua língua; é etnocentrismo este mesmo pensar que uma pessoa que come de colher, em vez de garfo e faca, não tem boas maneiras. (SCHERMERRHORN, HUNT e OSBORN, 1999, p.45-46) Para Tavares (apud Prestes, 1998), a cultura dentro da visão antropológica deve ser estudada pela relação cultura/biologia/meio ambiente, evidenciando-a perspectiva dos sistemas abertos, os quais podem ser analisados sob duas visões: diacrônica e sincrônica. Na primeira, a antropologia entende a cultura no decurso do processo histórico com um vínculo hereditário social. A sincrônica destaca-se pelo limite no tempo e espaço determinando situações, vislumbrando as diferenças culturais e subculturais regionais. Em uma análise sintética, a cultura inserida no contexto da antropologia caracteriza-se por diferentes linhas de pensamento. Uma visão evolucionista, surgida em meados do século XIX juntamente à antropologia social, define cultura como um método contextualizado preexistente de novos valores agregados que formam processo contínuo na formação cultural, destacando como principal representante Edward B. Tylor. Segundo Tylor (apud Crozatti, 1998), o sentido etnográfico das culturas e civilizações são todos os elementos que agregam o conhecimento, as crenças a arte, a moral, o direito, os costumes e outros atos adquiridos pelo homem na sua evolução. Na corrente funcionalista, os elementos significativos dos aspectos culturais de uma sociedade são representados através de sistemas que identificam traços culturais na forma de objetos tangíveis, por meio de instrumentos que representam influenciais comportamentais. A linha configuracionista destacou-se pela análise da cultura de uma sociedade por meio de teorias dos sistemas, em que a complexidade de padrões de relacionamento entre indivíduos desse grupo específico forma a base dos diferentes comportamentos analisados, de significados existentes. O difusionismo vem abordar interação de artefatos de valores e crenças representando maior significado da mudança organizacional. Por último o estruturalismo, assim como o configuracionismo, aborda uma visão sistêmica da cultura tendo o conceito de troca entre grupos sociais como forma de integração. A figura abaixo aborda a cultura dentro da antropologia por meio das visões diacrônicas e sincrônicas e suas correntes de pensamento: difusionismo, evolucionismo, funcionalismo, configuracionismo e estruturalismo. (CROZATTI, 1998) 5 Figura1: Visão Antropológica Cultural Fonte: Crozatti (1998) 2.2. A Gestão de Pessoas na Organização Para Carneiro & Boog (1999, p.165-166), a área e a função de Recursos Humanos, como o novo papel nas organizações, há muito tem se falado. Entretanto, poucos são os sinais de mudança. É de suma importância avançar muito mais rapidamente. A “função” RH não é responsável sozinha pelas relações entre organização e seus funcionários, é dever de todos que nela trabalham, para desenvolver um processo extremamente interativo. Portanto não se deve entender o papel de RH como uma responsabilidade limitada a uma pequena área específica da organização. Uma outra maneira de entender é dizer que a área financeira é responsável isoladamente de uma controladoria. A responsabilidade pela saúde financeira da organização é dever de todos, utilizando adequadamente os recursos dessa natureza para viabilizar e alcançar o objetivo comum, projetando externamente uma melhor imagem. Segundo Carneiro & Boog (1999, p.165-166), a visão holística nas organizações, apresentam-se da seguinte forma: “Essa visão holística da organização, em que todos são interativamente responsáveis pelos seus resultados, está totalmente coerente e convergente com as concepções atuais que estão mudando completamente a configuração das relações de trabalho (relação estas vistas de maneira mais ampla) nas organizações - a visão da própria pessoa como um ser holístico, a participação responsável, a democratização das informações, a busca de objetivos comuns, a valorização e o respeito pelo indivíduo e outros. A máxima é inexorável – “não mudou, dançou”. Essa mudança deve começar pelo próprio nome da área: “Recursos” soa como algo que se compra e se utiliza na medida dos seus benefícios até sua exaustão ou obsolescência, para em seguida ser descartado. Definitivamente, não é o caso de pessoas, que são a essência das organizações, não somente a sua finalidade ou muito menos seus meios”. (CARNEIRO & BOOG, 1999, p.166) Diacrônica Difusionismo Cultura Visão Antropológica Sincrônica Evolucionismo Funcionalismo Estruturalismo Configuracionismo 6 O nome “Gestão de Pessoas” vem dar um sentido mais amplo e ao mesmo tempo uma visão humanística da área, e muitas organizações já estão aderindo a essa denominação para, por exemplo, “Patrimônio Humano” e “Talentos Humanos”, o que dá um significado muito mais adequado ao nome da área. Outro ponto importante pode-se dizer também, é a transformação no papel da função de Gestão de Pessoas, que passa por uma transição total, deixando de ser centralizada e centralizadora, passando para descentralizada, e a ter uma função mais orientadora “desempenhando a liderança” na organização no que diz respeito às relações de trabalho. (CARNEIRO & BOOG, 1999, p.166) Segundo Marras (2005, p. 118-119), toda organização, em sua estrutura orgânica, possui uma área específica, cuja incumbência consiste em responsabilizar-se pela administração dos trabalhadores. Esse papel, inicialmente restrito às questões puramente contábeis, embora ainda evidenciado, foi se expandindo ao longo dos tempos, em concordância com as necessidades das empresas e também dos trabalhadores. No Brasil, essa trajetória deixou marcas numa história de gestão que teve início no século XX. Para Albuquerque (1988), essa evolução dividiu o universo histórico da área de pessoal em quatro fases, a saber: A seguir o quadro explicita e resume, na opinião do citado autor, as principais características de cada fase em particular. Quadro1: Evolução da administração de recursos humanos no Brasil – século XX Fase pré-histórica (1900-1930) Fase jurídico-trabalhista (1930-1950) Fase tecnicista (1950-1965) Fase administrativa (1965-....) Ausência de legislação trabalhista. Execução de funções “protocolares”, como registro de pessoal e folha de pagamento. Surgimento do “guarda- livros”. As atividades de pessoal são exercidas por um departamento que comporta, também, outras funções de apoio, como material, contabilidade e expediente. Execução das atividades de pessoal centralizada nas mãos dos proprietários das empresas. Intervenção do Estado como regulador das relações entre empregados e empregador. Criação do Ministério do Trabalho e Departamento Nacional do Trabalho. Criação das bases do sindicalismo brasileiro, vinculado ao Ministério do Trabalho. Elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Surgimento da Seção de Pessoal e cargo de Chefe de Pessoal. Substituição do Chefe de Pessoal pelo Administrador de Pessoal. Surgimento de novos métodos: descrição de cargos, avaliação de desempenho, pesquisa salarial. O Administrador de Pessoal passa a contar com a assistência de um advogado na execução de suas atribuições. O Administrador de Pessoal deve possuir domínio amplo de conhecimentos psicológicos, sociológicos, estatístico, pedagógicos e administrativos. Utilização crescente de técnicas importadas dos EUA e da Europa. Substituição do Administrador de Pessoal pelo “Gerente de Relações Industriais” ou pelo Gerente de Recursos Humanos”. Advento da abordagem sistêmica em Recursos Humanos, integrando os enfoques administrativos, estruturalista e comportamental. Eclosão de novos movimentos sindicais (1978). Tendência à abordagem participativa em Recursos Humanos. Fonte: Albuquerque (apud Marras, 2005, p.119) 7 Na terceira fase, denominada de “Tecnicista” (1950-1965), seguindo a linha de pesquisa de Albuquerque, o perfil do profissional de RH iniciou sua transformação histórica. A partir de então, configurou-se o manager, com uma visão diferente dos perfis anteriores. Surge, assim, o primeiro e verdadeiro administrador de pessoal. Neste momento as organizações passaram a valorizar, nos seus processos seletivos, profissionais com históricos escolares mais amplos para exercer a função de gerir o pessoal e já começaram a aceitar a importância de profissionais com leve visão humanista, como fator primordial para exercer as mencionadas funções. Foi nessa fase que um fato histórico transformou o Brasil e o perfil desse subsistema organizacional. A indústria automobilística, seduzida pelo então presidente da República Juscelino Kubitscheck de Oliveira, instalou-se no estado de São Paulo, na região do ABC paulista, trazendo em seu interior um conjunto de valores culturais até então desconhecidos e, por conseguinte, não praticados pelas nossas organizações. Foi assim que as empresas empregaram à função de Departamento de Pessoal uma série de novas atividades, como subsistemas de RH prestadores de serviços. Essa transformação elevou o status dessa área, que até então não era visualizada, ficando na melhor das hipóteses, na terceira linha hierárquica dos organogramas organizacionais, sendo tão-somente uma seção (DP ou departamento pessoal). A partir da mudança houve uma elevação súbita ao nível gerencial, assumindo uma responsabilidade não mais apenas operacional, mas dai em diante, também tática. (MARRAS, 2005, p. 120) Para Marras (2005, p.132-133), os empresários ainda mantêm certa distância com relação aos profissionais de RH. Essa “distância” está explicada pela típica postura de humanismo, representada pelo profissional. E não haveria de ser diferente: o empresário, embora como foi dito que o seu trabalhador é visto como a possível solução para alcançar metas e objetivos, permanece muito mais arraigado à visão tecnicista disseminada por Taylor e Fayol. Aqueles empresários que embora à frente de suas companhias ainda teimam em visualizar o seu colaborador por uma ótica simplista e míope. Porém, na outra ponta da linha, existem empresários cuja visão ultrapassa as fronteiras e deixam claro em suas declarações que o futuro das organizações está alavancado pelas pessoas, como fez o ex-ministro e hoje empresário Oziris Silva ao afirmar: “A missão é bem complexa. Eu criei agora uma nova empresa de biotecnologia, e estou selecionando o homem de RH. Tenho todas as posições preenchidas, menos a do RH, porque realmente é muito difícil encontrar a pessoa adequada, que possa exercer essa tarefa. Eu insisto sempre que a área de RH é uma das mais importantes, logo depois da de Vendas. Nada acontece de importante na empresa senão depois da venda. Mas mesmo o processo de venda depende do RH”. (MARRAS, 2005, p. 133) Os processos de gestão de pessoas (recursos humanos) têm como principais atributos nas organizações de um modo geral: recrutamento e seleção, remuneração; cargos e salário, benefícios, treinamentos e outros. Para fins deste trabalho, o foco será em Treinamento e Desenvolvimento, que será melhor detalhado no tópico a seguir. 8 2.3. Treinamento e Desenvolvimento na Organização Ensinar pessoas a fazer algo novo existe desde que o mundo é mundo. Na verdade, é um mecanismo muito importante à sobrevivência da espécie. O que essa frase carrega de lugar-comum ela carrega também de verdade; da mãe que ensina seu filho a andar ou a pronunciar o tão esperado “mãn-mãn” (que aos ouvidos mais “preparados” da mãe soará como mamãe) ao professor de Havard que tenta fazer o executivo da multinacional aplicar o último (e certamente o “melhor”) sistema de tomada de decisões estratégicas, todos estão treinando alguém. Treinar vem do latim trahëre, significando trazer/levar a fazer algo. (CARVALHO & BOOG, 1999, p.127) Carvalho (1999, p.127), faz uma análise da concepção tradicional de T&D e introduz uma nova proposição que possa integrar serviços na empresa como vantagem competitiva de nossas organizações, quando afirma que: “O conceito, quer ele seja ou não do conhecimento de quem o utiliza, é simples: usando métodos mais ou menos sistemáticos, levar alguém a ser capaz de fazer algo que ele nunca fez antes, e fazê-lo sem a assistência de quem ensina. Essa conceituação, ainda que simples, contém elementos essenciais que ao longo da história vêm tomando formas diferentes e sendo executados por atores diversos: é preciso saber o que queremos que alguém aprenda, diagnosticar que alguém precisa aprendê-lo, preparar situações que possibilitem o aprendizado, verificar os resultados”. (CARVALHO & BOOG, 1999, p. 127) Uma situação incentivadora da motivação para o trabalho é a possibilidade, por parte do colaborador, de poder visualizar – a médio e longo prazo – uma trajetória ascendente na sua carreira profissional. Especificamente a possibilidade de aderir maiores conhecimentos, desenvolver suas habilidades e delegar suas atitudes. Em outras palavras desenvolver-se profissionalmente para assim poder ascender socialmente. Na década de 1990, foi criada uma lei que incentivava as empresas a investir em treinamento. Nesta época a massa de trabalhadores brasileiros elevava progressivamente o seu potencial de capacidade laboral – em termos quantitativos e qualitativos – aproximando-se dos níveis médios dos seus colegas europeus e americanos. Empresas como a Nestlé, por exemplo, implantaram CTs (Centro de Treinamentos) super modernos - modelos mundiais – para preparar e desenvolver seus trabalhadores, onde teve o cuidado de manter toda característica para deixar os trabalhadores bem à vontade, construindo bibliotecas, salas de aula modernamente equipadas, alojamento cinco-estrelas para os treinandos e locais de lazer de última geração. Contudo, no mesmo ano, o então presidente da República, Fernando Collor de Melo, aboliu a lei fazendo com que a qualificação, a formação e a especialização da mão-de-obra no Brasil sofressem um repentino estancamento. (MARRAS, 2005, p. 172-173) Especificamente nas organizações ocidentais, o termo passou a designar o processo de capacitar pessoas, que consiste em habilitar, tornar a pessoa capaz para compreender e desenvolver uma determinada atividade, diferente de treinamento que tem sido entendido como preparar uma pessoa para desempenhar tarefas especificas, como por exemplo, adestramento para executar as tarefas exigidas por um posto de trabalho, definido por quem projetou/organizou a fábrica, a fazenda, o 9 órgão público, o banco e outros. A idéia casou muito bem com o princípio da divisão do trabalho em pequenos conjuntos de tarefas proposto por Adam Smith (e canonizado por Taylor e Ford), na medida em que o homem é visto como mais uma peça a ser moldada para completar o ciclo de produção (ou melhor, para substituir o que ainda não se conseguiu fazer por meio de uma máquina). Como essa peça é preparada, o processo de treinamento ganha relevância; no início exercido por engenheiros conceptos, mais tarde por operários ou supervisores mais experientes, rapidamente chegamos aos especialistas em treinamento e desenvolvimento. (CARVALHO, 1999, p. 127) Despreparado para desempenhar suas tarefas e responsabilidades, o colaborador é fonte de inúmeros problemas, como: i) acidentes no trabalho; ii) desperdício de matéria-prima e material de consumo; iii) máquinas e equipamentos danificados; iv) conflitos e desentendimentos com colegas e lideranças; v) produtos ou serviços de baixa qualidade; vi) quantidade insuficiente de produção; vii) custos elevados; viii) excessiva dependência do líder; ix) reclamações de clientes; outros. (CARVALHO, 1999, p.127) Para contornar tantas preocupações e danos, as organizações precisam projetar seus sistemas de treinamentos antes dos colaboradores iniciarem o serviço. Esta medida impede que o colaborador comesse suas tarefas despreparado e seja influenciado por colegas não habilitados para ensinar, evitando assim trabalho insatisfatório e baixa motivação da mão-de-obra. Assim, sistemas estruturados de treinamento no ambiente de trabalho, planejados para obter resultados satisfatórios com gestores e instrutores devidamente capacitados para treinar, têm surgido com a mesma rapidez das mudanças econômicas e tecnológicas. A oficialização do treinamento em serviço presumiu-se na hipótese de que as habilidades prementes à execução de tarefas podem ser aprendidas com mais eficiência por meio de métodos formais de treinamento de mão-de-obra. (PINTO, 1999, p. 399-400) Segundo Pinto (1999, p. 400), os sistemas de instrução de trabalho seguem de uma forma geral, o seguinte esquema: I. Análise do trabalho: focaliza a seqüência do trabalho (encadeamento de tarefas), a importância de cada fase operacional, instrumentos e equipamentos necessários para sua execução. Isto é feito por meio de observação metódica acompanhada de entrevistas com executores e respectivas chefias. II. Descrição do trabalho: identifica e descreve as tarefas e responsabilidades de determinado posto de trabalho; deve ser clara e concisa. III. Desenvolvimento de padrões de desempenho do trabalho: explicita o resultado ideal para cada tarefa em relação a determinadas categorias, tais como: quantidade, qualidade, tempo de execução e outros. As três etapas são primordiais na elaboração de um programa de treinamento. Também é importante complementar o esquema analisando o treinamento no que diz respeito aos conhecimentos e habilidades anteriores, dos treinandos qual o grau 10 de motivação para com o ambiente de trabalho a realizar futuras perspectivas de melhoria na organização. (PINTO, 1999, p.400) Todas as organizações modernas dispensam atenção aos seus colaboradores tanto quanto aos seus clientes/usuários. Percebem a importância de mecanismos de criação e manutenção de clima organizacional produtivo e de conseguir a adesão dos colaboradores às suas metas e resultados. As questões de competitividade e subsistência da organização, como produção, custos e qualidade, são reflexos associados ao envolvimento, participação nas decisões e nos resultados, repercutindo diretamente na qualidade de vida no trabalho, no treinamento e desenvolvimento. O empregado hoje precisa ser visto como um colaborador e que seu êxito como profissional tem relação direta com o sucesso da organização. (ZAKIR, 1999, p. 439) Com base na revisão literária, em que a argumentação teórica objetiva condições para elaboração da pesquisa de campo, o tópico a seguir irá apresentar a metodologia que se utilizará para confrontar a teoria pesquisada com a prática, apresentando, dessa forma, a realidade de algumas empresas. 3. Metodologia do Trabalho Num primeiro momento, o presente artigo concentrou-se na pesquisa bibliográfica como pré-requisito para a sustentação teórica do tema proposto. Segundo Gil (1999, p.65), pesquisa bibliográfica é desenvolvida com a seleção dos materiais coletados, constituído principalmente de livros e artigos científicos e outros. Embora em quase todas as pesquisas seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há estudos desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. A pesquisa bibliográfica habilitou-nos a construção de um questionário que fosse capaz de captar a aplicabilidade dos temas propostos no âmbito das organizações, uma vez que este trabalho tenha optado por um estudo de campo. No que diz respeito ao questionário (ver anexo), o mesmo foi desenvolvido com um total de dez perguntas, que com respostas fechadas possibilitou a mensuração das mesmas com a utilização do aplicativo da Microsoft® Excel/2007. Segundo Gil (1999, p.72), os estudos de campo apresentam semelhanças com os levantamentos. Porém o diferença entre os dois aspectos consistem. Primeiro um procura ser representativo de um universo, enquanto o segundo procura mais aprofundamento das questões propostas. O questionário foi aplicado na Cidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES, no período de 10/2009 a 11/2009 para um grupo de empresas dos mais diversos setores, cujos representantes possuem cargos superiores e ou supervisores. Os resultados encontrados na pesquisa realizada são apresentados e comentados a seguir: 11 4. Resultado da Pesquisa A partir deste, o presente artigo apresentará as respostas com resultados mais significantes obtidas na aplicação do questionário junto às empresas. 4.1. A cultura organizacional e a gestão de pessoas (RH) Uma das perguntas feita aos entrevistados teve por objetivo verificar a importância da cultura organizacional e a gestão de pessoas (RH), como influenciador nos processos de integração e treinamento na organização. O gráfico abaixo apresenta os resultados obtidos. Gráfico 1: Cultura organizacional e a gestão de pessoas Fonte: Os autores. Conforme se observa no gráfico 1, a grande maioria dos entrevistados 60% consideram freqüentemente a cultura organizacional e gestão de pessoas como influenciador nos processos de integração. Isto vem confirma o que Carvalho (1999, p.127), diz que “o conceito, quer ele seja ou não do conhecimento de quem o utiliza, é simples: usando métodos mais ou menos sistemáticos, levar alguém a ser capaz de fazer algo que ele nunca fez antes, e fazê-lo sem a assistência de quem ensina. Essa conceituação, ainda que simples, contém elementos essenciais que ao longo da história vêm tomando formas diferentes e sendo executados por atores diversos: é preciso saber o que queremos que alguém aprenda [...]”. 4.2. A importância do ser humano no contexto organizacional Outra pergunta feita aos entrevistados teve por objetivo verificar a importância da disseminação dos valores compartilhados como aliado para fortalecimento da cultura organizacional. 12 Gráfico 2: A importância do ser humano no contexto organizacional Fonte: Os autores. De acordo com o gráfico 2, é possível constatar que 80% das empresas dão maior importância aos valores disseminados através de reuniões e 20% através de palestras. Neste caso observa-se a importância das reuniões para melhor disseminar os valores das empresas. 4.3. O lado humano das empresas nas últimas décadas Esta pergunta do questionário teve por objetivo verificar com que freqüência as organizações se preocupam com o lado humano dos colaboradores. Gráfico 3: O lado humano das empresas nas últimas décadas Fonte: Os autores. Conforme se observa no gráfico 3, 70% dos entrevistados consideram freqüentemente o lado humano das empresas uma grande preocupação e somente 30% consideram parcialmente. Esta idéia é confirmada por McGregor (1999, p.51), quando afirma que a organização adotou, de modo geral e consistente, um conjunto de valores muito mais humanos, esforçou-se, com sucesso, para tratar os seus empregados com mais equidade e maior generosidade. 4.4. Estrutura de funções e planejamento estratégico a longo prazo Outra pergunta do questionário teve por objetivo verificar se as organizações tem planejamento estratégico a longo prazo para estruturar as funções e obter colaboradores bem treinados. 13 Gráfico 5: Estrutura de funções e planejamento estratégico a longo prazo Fonte: Os autores. Conforme se observa no gráfico 5, a grande maioria dos entrevistados, ou seja, 70% consideram que as organizações fazem planejamento estratégico a longo prazo para estruturar suas funções e ter colaboradores bem treinados e apenas 30% consideram parcialmente freqüente. Para Marras (2005, p.172-173), uma situação incentivadora da motivação para o trabalho é a possibilidade, por parte do colaborador, de poder visualizar – a médio e longo prazo – uma trajetória ascendente na sua carreira profissional. Especificamente a possibilidade de aderir maiores conhecimentos, desenvolver suas habilidades e delegar suas atitudes. Em outras palavras desenvolver-se profissionalmente para assim poder ascender socialmente. 4.5. Cultura organizacional e a importância de lidar com grupos diferentes Finalizando o questionário a ultima pergunta teve por objetivo verificar se as organizações se preocupam com as diferença e sabem perceber está diferença como modo de vida. Gráfico 6: Cultura organizacional e a importância de lidar com grupos diferentes Fonte: Os autores. Conforme se observa no gráfico 6, 60% das pessoas entrevistadas consideram que as organizações sempre percebem as diferenças e 40% às vezes percebem. Para Schermerrhorn, Hunt e Osborn (1999, p.45-46), inicialmente para lidar com sucesso com pessoas de diferentes culturas, é preciso compreender e entender a nossa cultura. Não estar consciente deste fato pode atrapalhar o contato com outras 14 culturas muito diferentes da nossa, neste caso precisamos ter sensibilidade. Conhecer bem a cultura ajuda a evitar conflitos que surgem geralmente em ambientes multiculturais, internacionais e outros. 5. Conclusão A Gestão de Pessoas tem como proposta principal influenciar na disseminação dos processos de integração, treinamento e desenvolvimento, valorizando a importância do ser humano no contexto organizacional e o fortalecimento da cultura. Nas ultimas décadas o lado humano tornou-se uma das maiores preocupações nas empresas, com isto a área de Gestão de Pessoas vem trabalhando em conjunto com diversas áreas para verificar quais os tipos de treinamento e desenvolvimento são necessários. Outro ponto importante é a estruturação das funções na organização buscando aprimorar os conhecimentos dos colaboradores, através de planejamentos a médio e a longo prazo. Na pesquisa realizada, percebeu-se que a Gestão de Pessoas ainda é muito operacional, precisando urgentemente se tornar estratégico, para com isso procurar desenvolver programas de incentivos a motivação para o trabalho, que visem à ascensão dos colaboradores na empresa, com programas de gestão de carreiras e ou cargos e salários. Desta forma observou-se, no presente artigo, que muito ainda tem-se a fazer para que os processos de integração e treinamento se tornem instrumentos eficazes de difusão dos valores organizacionais. Este artigo contribuiu para a literatura na área de Administração, pois mostrou que nas empresas entrevistadas na região, existem grandes necessidades de pesquisa para explorar e contribuir com as melhores práticas de administração de pessoas, processos de integração e treinamento na difusão dos valores organizacionais. No entanto, teve como limitação o pouco tempo de exploração dos dados, o que impossibilitou uma análise mais apurada do tema explorado. Sugere-se que, em pesquisas posteriores, sejam estudados temas relacionados à importância do capital intelectual para fortalecimento da cultura organizacional. 6. Referências BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológico. Lisboa: Edições 70, 1997, p. 33. CARNEIRO, C. & BOOG, Gustavo G. Manual de treinamento e desenvolvimento - ABNT. 3ª ed. São Paulo: Makron Books, 1999, p.165-166, Capítulo 9 – T&D e a estratégia de recursos humanos. CARVALHO, Luiz Carlos F. de. & BOOG, Gustavo G. Manual de treinamento e desenvolvimento. - ABNT. 3ª ed. São Paulo: Makron Books, 1999, p.127, Capítulo 7 T&D estratégicos. CROZATTI, Jaime. Modelo de gestão e cultura organizacional - conceitos e interações. Revista contabilidade e finanças, FEA/USP, v.10, n.18, maio/agosto 1998. 15 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999, p.65,72. MARRAS, Jean P. Gestão de pessoas. São Paulo: Futura, 2005, p.118-119, 120, 132-133, 172-173. MCGREGOR, Douglas. 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