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Causas da Fadiga Qual é exatamente o sentido do termo fadiga durante o exercício? As sensações de fadiga são acentuadamente diferentes quando o indivíduo se exercita até a exaustão em eventos que duram de 45 a60 segundos, como uma corrida de 400 metros, do que quando ele realiza um esforço muscular exaustivo prolongado (como numa maratona). Normalmente, utilizamos o termo fadiga para descrever as sensações gerais de cansaço e a con- comitante redução do desempenho muscular. A maioria dos esforços para descrever as causas responsáveis e os locais de fadiga enfoca . os sistemas energéticos (ATP-CR glicólise e oxidação), . o acúmulo de subprodutos metabólicos, o o sistema nervoso e . a falha do mecanismo contrátil das fibras mus- culares. Nenhum desses fatores consegue explicar iso- ladamente todos os aspectos da fadiga. Por exem- plo, apesar da falta de energia disponível poder reduzir a capacidade do músculo de gerar força, os sistemas energéticos não são totalmente respon- sáveis por todas as formas de fadiga. As sensações de cansaço que freqüentemente sentimos no final de um dia de trabalho tem pouco a ver com a disponibilidade de ATP. A fadiga também pode ser resultante da alteração da homeostasia pelo estresse ambiental. Muitas questões sobre a fadiga permanecem sem resposta. METABOLISMO E SISTEMAS ENERGETICOS BASICOS Os Sistemas Energéticos e a Fadiga Os sistemas energéticos representam uma área evidente a ser explorada ao se considerar as pos- síveis causas de fadiga. Quando nos sentimos fati- gados, freqüentemente nos exprimimos dizendo: "Eu não tenho mais energia". No entanto, esse uso do termo energia está distante do seu sentido fisio- lógico. Nesse sentido fisiológico restrito, qual é o papel da energia na fadiga durante o exercício? Depleção de creatina fosfato Lembre-se de que a creatina fosfato é utilizada sob condições anaeróbias na ressintese de ATP à medida que é utilizada e, por conseguinte, na manutenção de suas reservas orgânicas. Estudos de biópsias de músculos da coxa revelaram que, durante contrações máximas repetidas, a fadiga coincide com a depleção de creatina fosfato. Embora a ATP seja diretamente responsável pela energia utilizada durante tais atividades, ela é depletada menos rapidamente do que a creatina fosfato durante o esforço muscular porque outros sistemas continuam a produzir ATP. No entanto, quando ocorre depleção da creatina fosfato, a capacidade do organismo de repor rapidamente a ATP despendida é seriamente diminuída. O uso da ATP continua, mas o sistema ATP-CP é menos capaz de repô-lo. Assim, a concentração de AIP também cai. Na exaustão pode ocorrer a depleção tanto de ATP quanto da creatina fosfato. Para retardar a fadiga, o atleta deve controlar a taxa de esforço mediante um ritmo adequado para assegurar que a creatina fosfato e a AIP não sejam depletadas prematuramente. Se o ritmo inicial for muito rápido, a ATP e a creatina fosfato disponíveis diminuirão rapidamente, levando à fadiga precoce e à incapacidade de manutenção do ritmo nos está- gios finais do evento. O treinamento e a experiência permitem que o atleta julgue o ritmo ideal que per- mite o uso mais eficiente de AIP e da creatina fosfa- to durante todo o evento. 145 FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCICIO Depleção de Glicogênio As concentrações musculares de ATP tambérn são mantidos pela degradação aeróbia e anaeróbia do glicogênio muscular. Em eventos com duração superior a alguns segundos, o glicogênio muscular torna-se a principal fonte de energia para a síntese de ATP. Infelizmente, as reservas de glicogênio são lirnitadas e são rapida- mente depletadas. Como r1o uso da creatina fosfato, a taxa de depleção do glicogênio muscular é controlada pela intensidade da atividade. O aumento da taxa de trabalho resulta numa diminuição desproporcional do glicogênio muscular. Durante a corrida de curta distância, por exem- plo, o giicogênio muscular pode ser utilizado de 35 a 40 vezes mais rapidamente do que durante a caminhada. O glicogênio muscular pode ser um fator limitante mesmo durante o esforço leve. O músculo depende de um suprimento constante de glicogênio para satisfazer as altas demandas energéticas do exercício. O glicogênio muscular é utilizado mais rapida- mente clurante os primeiros minutos do exercício do que nos estágios finais, como mostra a Figura 4.79.5 A ilustração mostra a alteração do conteúdo de glicogênio muscular no músculo gastrocnêmio do indivíduo durante o teste. Embora o teste tenha sido uma corrida num ritmo constante, a taxa de glicogênio rnuscular rnetabolizado do mírsculo gas- trocnêmio foi maior durante os 90 minutos iniciais. O indivíduo descreveu seu cansaÇo percebido (quão difícil parecia ser o seu esforço) em vários mornentos do teste. Ele somente se sentiu mode- radamente estressado no início da corrida, quando suas reservas de glicogênio ainda estavam elevadas, apesar de ele estar usando o glicogênio numa taxa elevada. Ele somente percebeu uma fadiga severa quando a concentração de glicogênio muscular se encontrava próximo da depleção. Portanto, a sen- sação de fadiga no exercício prolongado coincide com a diminuição do glicogênio muscular. Os mara- tonistas comumente descrevem o início súbito da fadiga que eles apresentam entre o 29a e o 35a km (18 a 22 milhas) como "bater contra a parede". Peio menos parte dessa sensação pode ser atribuída à depleção do glicogênio muscular. Músculo Gastrccnêmic 175 75 50 25 (r^ "e9 ,$Ê 150 125 100 012 Terapo de exercício {h} EsÍorço percebido Exaustivs lntênso Moderado Leve Tempo de exercício {h} Figuro 4.19 Declínio do glicogênio musculor no músculo gostrocnêmio lpoinel superiorl duronte umo corrido de três horos sobre esteiro rolonte o 70% do VO2móx. A clossificoçõo subjetivo do esforço pelo indivíduo foi registrodo no poinel inferior. Observe que o esÍorço foi clossificodo como moderodo duronte oproximodomente 'l ,5 h de corrido, emboro o glicogênio estivesse diminuindo de formo constonte. Somente quondo ele se tornou muito boixo (menos de 50 mmol/kg) é que o toxo de esforço oumentou. 146 METABOLISMO E SISTEMAS ENERGÉTICOS BASICOS Depleção cle Glicogênio em Diferentes Tipos de Fibras Musculares As fibras musculares são recrutadas e sofrem depleção de suas reservas energéticas em padrões selecionados. As fibras individuais mais freqiientemente recrutadas durante o exercício podem aPresentar depleção de glicogênio. Isso reduz a quantidade de fibras capazes de produzir a força muscuiar necessária Para o exercício. Essa depleção de glicogênio é ilustrada na Figura 4.20, a qual apre- senta uma fotomicrografia de fibras musculares coletadas de um corre- dor após uma corrida de 30 km (18,6 milhas). A Figura 4.20n foi cora- cla para cliferenciar as fibras de contração lenta (CL) das fibras de con- tração rápida (CR). Urna cias fibras CR é indicada por um círculo' A Figura 4.208 mostra utrla seguncla amostra do mesmo mírsculo, cora- da para mostrar o glicogênio. Quanto mais vermelha (escura) for a co- loráção, maior a quantidade de glicogênio presente. Antes da corrida, todas as fibras encontravam-se cheias de glicogênio e coravant de ver- rnelho (não-mostrado). Na Figura 4.201r (após a corrida), as fibras CL mais claras encontram-se quase que totalmente deple- tadas de glicogênio. Isso sugere que as fibras CL são utilizaclas mais intensamente durante o exercício de endurattcc que exige o desenvolvimento de uma força apenas moderada, como a corrida de 30 km. O padrão da depleção de glicogênio das fibras CL e CR deper-rde da intensidade do exercício.r7 Lembre-se de que as fibras CL são as primeiras fibras recrutadas durarrte o exercício leve. A medicla que as necessi- dades de tensão rnuscular autnentam, são adicionadas fibras CR., à força de trabalho. No exercício que seaproxima da intensi- dade máxima, as fibras CR6 são adi- cionadas ao grtlpo de fibras recrutaclas. Figuro 4.20 Coloroçõo histoquímico poro identificoçõo do (o) tipo de fibros e (b) glicogênio musculor opós umo corrido de 30 km, No Figuro 4.20a, um círculo morco umo fibro de conirocõo rópido (CR). Observe que olgumos fibros CR oindo contêm glicogênio, como pode ser verificodo por suo coloroçõo mois escuro (Figuro 4.20b), enquonto o moiorio dos fibros de controcõo lento {CL) nõo opresento glicogênio. 147 - =-: n r! FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIC A Figtrra 1.21 ilustra a quantidacTe de glicogênio total utilizada pelas fibras CL, CR,, e CR,, clo múscu- lo vasto lateral durante o ciclismo em rrárias por- centagens do VO,máx típico do indivídr-ro. Durante o exercício de intensidacle relativamente baixa (40% a 60% do VO,rnáx), as fibras CL são as mais ativas e as fibras CR" e CR6 são relativamente inativas. Em intensidades de esforço maiores (75a/, a 90'i, do VOrrnáx), as fibras CR são recrutadas mais freqüen- temente e sofrem depleção de glicogênio numa taxa maior do que as fibras CL. Isso não significa que as fibras CL são menos utilizadas do que as fibras CR durante as contrações máxirnas. E simplesrnente o reflexo da maior dependência das fibras CR pelo glicogêrrio. Todos os tipos de fibra são recrutados durante as açÕes rnusculares muito intensas. Quando as reservas de glicogênio das fibras CL são clepletadas, parece que as fibras CR são iuca- pazes de gerar teusão suficiente on não ocorre Lrm recrutantento adequado para colnpensar a perda de tensão rnuscular. Por essa razão, teorizou-se que as sensações da fadiga muscnlar e de peso durante o exercício pode refletir alguma incapacidade das fibras musculares em responder às demandas do exercício. +CL r- CRu _*_ CRo 50 60 70 80 x do úOrrnáx Figuro 4.21 Utilizocõo do glicogênio nos fibros CL, CR. e CR5 duronte ó0 minutos de ciclismo o 4O%, óO%,75% e 90% do VO2môx. Observe que, à medido que o intensidode do exercício oumento, o quontidode relotivo de glicogênio utilizodo nos fibros CL tende o diminuil enquonto o demondo dos fibros CR oumento. r48 Depleção de Glicogêrtío effi Difererutes Grupos Musculares Além c1a depleção de glicogênio seletiva das fibras CL ou CR, o exercício pode impor demandas incomurnente intensas sobre grupos rnusculares selecionados. Nurn estlldo, os indivídtros correram sobre esteira rolante posicionacla em aclive, declive e em posição horizontal durante duas horas a 70% do VOrmáx. A Figura 4.22 compara a depleção de glicogênio resultante em três múrsculos do membro inferior: r Vasto lateral (extensor do joelho) o Castrocnêmio (extensor do tornozelo) . SóIeo (tambérn extensor do tornozelo) Vasto lateral óleo Figuro 4.22 Utilizocõo do glicogênio musculor nos músculos vosto loterol, gostrocnêmio e sóleo, duronte 2 horos de corrido sobre esieiro rolonte em oclive, declive e posiçõo horizontol o 70% do VO2móx. Observe que o moior uso de glicogênio ocorreu no gostrocnêmio duronte o corrido em oclive e em declive. S l t" *70 § ;60 ,o _^ CD 5U ã+o n30 r§ N *20 Srn fi&ffi IIFffiÉ+ ffii,.s*,,, ffiffi ffiffi ffiffi s% ffiêT ffiffi ri'+ f,.,.,H. -.L- 675 .:d a xç o50 § ,§ ,Ç 'ê. zc (4) o E t, 9040 Os resultados mostram que se você correr montanha acima, monta- nha abaixo ou na horizontal, o músculo gastrocnêmio utiliza mais glicogênio do que o mírsculo vasto laterai ou o sóleo. Isso sugere que os músculos extensores do tornozelo apresentam maior probabiiidade de sofrer depleção de glicogênio durante a corrida de clistância do que os múrsculos cla coxa, isolando o local de fadiga aos tnúsculos cla perna. Depleção de Glicogênio e a Glicose Sangüínea O glicogênio muscular isoladamente não consegue fornecer car- boidratos suficientes para o exercício com várias horas de duração. A glicose liberada pelo sangue aos músculos contribui com bastante energia dtrrante o exercício de ertdurnuce. O fígado metaboliza o sett glicogênio armazenaclo para fornecer um suprimento constante de gli- cose sangriínea. Nos estágios iniciais do exercício, a produção de ener- gia requer uma quantidade relativamente pequena de glicose sangiiínea, mas, nos estágios finais de Llm evento de ettdrrrnttce, a con- tribuição da glicose sangüínea pode ser maior. Para manter o ritmo com a captação da glicose pelos músculos, o fígado deve degradar cada vez rnais glicogênio à rnedida qlle a duração do exercício aumenta. As reservas de glicogênio l-repático são lirnitadas e ele não pode pro- duzir glicose tão rapidamente a partir de outros substratos. Conseqüentemente, a concentração da glicose sangüínea pode cair quando a captação muscuiar ultrapassa a produção de glicose pelo fígado. Incapazes de obter glicose suficiente clo sangue, os músculos dependem mais intensatnente de suas reservas de glicogênio, acelerando a depleção e levando a uma exattstão mais precoce. Efeitos sobre o Desempenho Não é surpreendente que os desempenhos de ertdttrnrrce rnelhorem quando o suprimento de glicogênio rnuscttlar é elevado no início da atividade. A irnportância da reserva de glicogênio tnuscular para o desempenho de errdururce será discutida no Capítulo 15. No momen- to, observe que a depleção de glicogênio e a hipoglicemia (baixa con- centração da glicose sangtiínea) limitam o desempeuho em atividades que duram 30 rninutos ou mais. A fadiga em eventos mais curtos resul- ta mais provavehnente do acÍrmulo de subprodutos metabóiicos, como o lactato c o H*, no interior dos múrsculos. Subprodutos Metabólicos e a Fadiga Lembre-se de que o ácido láctico é um subproduto da glicóiise anaeróbia. Embora a maioria das pessoas acredite que ele seja respon- sável pela fadiga e pela exaustão etl todos os tipos de exercício, o ácido láctico acumula-se na fibra muscular somente durante o esforço muscu- lar relativamente breve e de alta intensidade. Os maratouistas, por exem- plo, podem apresentar concentrações de ácido láctico próximos da con- centração de repouso no final da corrida, apesar da sua exatistão. Como foi observado na seção anterior, a fadiga desses atletas é causada pelo suprimento inadequado de energia, e não pelo excesso de ácido láctico. Corridas, ciclismo e nado de curta duração (sprirrts) acarretam grandes acúmulos de ácido láctico. No entanto, a presellça de ácido láctico não deve ser acusada como sendo responsárrel pela sensação de fadiga em si. Quando não eliminado, o ácido láctico se dissocia, trans- formando-se em lactato e causando um acúmulo de íons hidrogênio. Esse acírrnulo de H" produz acidificação muscular, resuitando numa conclição conl-recida como rtcido-se. METABOLISMO E SISTEMAS ENERGETICOS BASICOS 149 FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCICIO Atividades de curta duração e alta intensidade, como a corrida e o nado de curta duração (sprint), dependem muito da glicólise anaeróbia e pro- duzern grandes quantidades de lactato e de H* nos músculos. Felizmente, as células e os líquidos corporais possuem tampões, como o bicarbonato (HCO3), o qual minimiza a influência desequili- bradora do H*. Sem esses tampões, o H* reduziria o pH em aproximadamente 1,5, rnatando as célu- las. Por causa da capacidade de tamponamento do organismo, a concentração de H* permanece baixa mesmo durante o exercício mais intenso, permitindo que o pH muscular caia de um valor de repouso de7,7 para não menos do que 6,6 a 6,4 na exaustão. Alterações do pH dessa magnitude, no entanto, afetam de forma adversa a produção de energia e a contração muscular. Um pH intracelular inferior a 6,9 inibe a ação da fosfofruto quinase, uma importante enzima glicolítica, diminuindo a velociclade da glicólise e da produção de ATP. Num pH de 6,4, a influência do H* cessa a degradação do glicogênio, provocando uma rápi- da diminuição deATP e, em última instância, a exaustão. Além disso, o H. pode deslocar o cálcio do interior da fibra, interferindo no acoplamento das pontes cruzadas entre a actina e a miosina e reduzindo a força contrátil do músculo. A maioria dos pesquisadores concorda que o baixo pH mus- cular é o principal limitador do desempenho e é a principal causa de fadiga durante o exercício de explosão (sprint) máximo com duração superior a 20-30 segundos. Como mostra a Figura 4.23, o restabelecimento do pH muscular pré-exercício após um evento explosivo exaustivo requer cerca de 30 a 35 minu- tos de recuperação. Mesmo quando o pH norrnal é restaurado, as concentrações séricas e muscular de lactato podem permanecer muito elevados. No entanto, a experiência revela que um atleta pode continuar a se exercitar com uma intensidade rela- tivamente elevada mesmo com um pH inferior a 7,0 e uma concentração de lactato sangüíneo supe- rior a 6 ou 7 mmol/l, quatro a cinco vezes supe- rior ao valor de repouso. Atualmente, alguns técnicos e fisiologistas esportivos estão tentando utilizar as mensurações do lactato sérico para controlar a intensidade e o vo- lume do treinamento necessários para produzir um estímulo ideal de treinamento. Essas mensurações fornecem um índice da intensidade do treinamento, mas elas podern não estar relacionadas aos proces- sos anaeróbios ou ao estado de acidose dos múscu- los. Quando o lactato e o H- são geraclos nos mús- culos, ambos difunclem-se para fora das células. Em seguida, eles são diluídos nos líquidos corporais e 150 6,5 \r* Sprint 05101520253035 Recuperaçãa {rnin} Figuro 4.23 Alteroções do pH musculor duronte o exercício de sprint e o recuperocõo. Observe o quedo drástico do pH musculor duronie o sprinl e o retorno groduol oo nível normol opós o esforço. Observe que forom necessôrios oproximodomente 30 minutos poro o pH retornor oo seu nível pré-exercício. são transportados a outras áreas do organismo para serem metabolizados. Conseqüentemente, os va- Iores do lactato sérico dependem das taxas de pro- dução, de difusão e de oxidação. Vários fatores podem influenciar esses processos e, por essa razão, os valores do lactato são de valor discutível na pres- crição do treinamento. Fadiga Neuromuscular Até aqui, consideramos apenas os fatores ir-rtra- musculares que podem ser responsáveis pela fadiga. Evidências também sugerem que, sob determinadas circunstâncias, a fadiga pode ser resultante de uma incapacidade de ativação das fibras musculares, uma função clo sistema nervoso. Como foi observa- do no Capítulo 2, o impulso nervoso é transmitido através da junção neuromuscular para ativar a membrana da fibra e fazer com qlle o retículo sar- coplasmático da fibra libere cálcio. O cálcio, por sua vez, liga-se à troponina para iniciar a contração muscular. Examinemos dois mecanismos neurais prováveis que podem interromper esse processo e contribuir para a fadiga. 7,1 7,0 6,9 L ã 6,8 tJ> - b,/ .LÉ 6,6 << Transmissão Neural A fadiga pode ocorrer na junção neuromuscular, impedindo a transmissão do impulso nervoso à membrana da fibra muscular. Estudos realizados no início do século estabeleceram claramente essa falha de transmissão do impulso nervoso no mús- culo fatigado. Essa falha pode envolver um ou mais dos seguintes processos: . A liberaÇão ou a síntese de acetilcolina, neuro- transmissor que retransmite o impulso ner- voso do nervo motor à membrana muscular, podem estar reduzidas. o A colinesterase, enzima que degrada a acetil- colina após ela ter retransmitido o impulso, pode tornar-se hiperativa, impedindo que haja uma concentração suficiente de acetilcolina para iniciar um potencial de ação. . A colinesterase pode tornar-se hipoativa (inibida), permitindo que ocorra um acúmulo excessivo de acetilcolina e paralisando a fibra. . A membrana da fibra muscular pode desen- volver um limiar mais elevado. . Algumas substâncias podem competir com a acetilcolina pelos receptores localizados sobre a membrana muscular sem ativação da mem- brana. o O potássio pode deixar o espaço intracelular do músculo em contração, diminuindo o potencial de membrana à metade do seu valor de repouso. Embora a maioria dessas causas de bloqueio neu- romuscular tenha sido associada a doenças neuro- musculares (como a miastenia grave), elas também podem causar algumas formas de fadiga neuromus- cular. Algumas evidências sugerem que a fadiga também pode ser devida à retenção de cálcio no interior do retículo sarcoplasmático, o que reduziria a quantidade de cálcio disponível para a contração muscular. Na realidade, a depleção de creatina fos- fato e o aumento de lactato poderiam simplesmente aumentar a taxa de acúmulo de cálcio no retículo sarcoplasmático. No entanto, essas teorias sobre a fadiga permanecem sendo especulativas. O Sistema Nervoso Central O sistema nervoso central (SNO também pode ser um local de fadiga, embora existam evidências favoráveis e contrárias a essa teoria. Estudos iniciais revelaram que, quando os músculos de um indiví duo parecem próximos da exaustão, o estímulo ver- METABOLISMO E SISTEMAS ENERGETICOS BASICOS bal, o grito, ou mesmo a estimulação elétrica direta do músculo podem aumentar a força da contração muscular. Esses estudos sugerem que os limites do desempenho no exercício exaustivo podem, numa grande extensão, ser psicológicos. Os mecanismos exatos responsáveis por essa fadiga do SNC não são totalmente entendidos. Tâmbém é difícil de se deter- minar se essa forma de fadiga é limitada ao SNC ou está relacionada à transmissão nervosa periférica. O recrutamento do músculo depende, em parte, do controle consciente. O trauma psicológico do exercício exaustivo pode consciente ou subcons- cientemente inibir a disposição do atleta de tolerar uma dor maior. O SNC pode diminuir o ritmo do exercício a um nível tolerável para proteger o atleta. De fato, de modo geral, os pesquisados concordam que o desconforto percebido na fadiga precede o iní- cio de uma limitação fisiológica dos músculos. A menos que eles estejam altamente motivados, a maioria dos indivíduos interrompe o exercício antes que seus músculos apresentem uma exaustão fisio- lógica. Para atingir o desempenho máximo, os atle- tas treinam para aprender o ritmo adequado e a tole- rância à fadiga. l'.-, A fadiga pode ser resultante da depleção de . . creatina fosfato ou de glicogênio. Ambas as , I : situações reduzem a p.ódrção deATP. . .',' O ácido láctico foi freqüentemente acusado , como responsável pela fadiga, mas, na reali- ' ,-t dade, é o H* gerado pelo ácido láctico que ',..". leva à fadiga. O acúmulo de H* reduz o pH -. ,- muscular, o qual compromete os processos ' . celulares que produzem energia e a contração .,. : muscular. ..-:,. A falha da transmissão neural pode ser a .',.-=. causa de alguma fadiga. Muitos mecanismos .-.-- podem. levar a.essa falha e todos eles devem .::= ::., ser mais Pesquisados. ,. -r O SNC também pode causar Íadíga, talvez .,-:t. - como um mecanismo de proteção. A fadiga :r--. percebida geralmente precede a fadiga fisú- .-- :. lógica e os atletas que se sentem exaustos nor- ': ==' malmente podem ser estimulados psicologi- . . -. camente para continuar. l5t
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