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JURISDIÇÃO+CONSTITUCIONAL

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AULA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
A tutela do processo efetiva-se pelo reconhecimento do princípio da 
supremacia da Constituição sobre as normas processuais. Ela efetua-se pelo 
império das previsões constitucionais, que têm como suporte as garantias. 
Com essas reflexões, apresenta algumas premissas: 
 
a) A Constituição pressupõe a existência de um processo, como garantia da 
pessoa humana; 
b) A lei, no desenvolvimento normativo hierárquico desses preceitos, deve 
instituir esse processo; 
c) A lei não pode conceber formas que tornem ilusória a concepção de 
processo, consagrada na Constituição; 
d) A lei instituidora de uma forma de processo não pode privar o indivíduo de 
razoável oportunidade de fazer valer seu direito, sob pena de ser acoimada de 
inconstitucional; 
e) Nessas condições, devem estar em jogo os meios de impugnação que a 
ordem jurídica local institui, para fazer efetivo o controle de constitucionalidade 
das leis. 
 
Com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, formulada pela 
Assembleia das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948, cujos textos 
dizem: 
“8º. Toda pessoa tem um recurso perante os tribunais nacionais competentes, 
que a ampara contra atos que violam seus direitos fundamentais, reconhecidos 
pela Constituição ou pela Lei.” 
“10º. Toda pessoa tem direito, em condições de plena igualdade, a ser ouvida 
publicamente e com justiça, perante tribunal independente e imparcial, para 
determinação de seus direitos e obrigações ou para que se examine qualquer 
acusação que pese contra ela em matéria penal.” 
 
Algumas regras são básicas para a compreensão de pontos essenciais à tutela 
constitucional do processo: a correta citação (audiatur altera pars), sendo que a 
falta de citação, nos casos concretos, gera nulidade; inconstitucionalidade por 
falta do respeito aos prazos; inconstitucionalidade por sonegação do direito de 
audiência ou de ser ouvido; inconstitucionalidade pela privação de provas, para 
correção de erros de procedimento; inconstitucionalidade por supressão ou 
privação de recurso; inconstitucionalidade por privação de revisão judicial; 
inconstitucionalidade por falta de idoneidade do juiz, pelo que é garantia 
fundamental a existência de tribunal imparcial, que não viole a garantia do due 
process of law. 
 
O constitucional efetiva-se através desses pressupostos, bem como da 
consagração dos procedimentos que garantem direitos das partes, outorgando 
oportunidade razoável para defender-se e fazer valer suas provas. Em todas 
essas circunstâncias deve-se assegurar a efetiva participação das partes, em 
todas as fases de atuação no processo. Os princípios do devido processo legal, 
da defesa em juízo e do acesso à justiça foram elevados à categoria de 
disposições internacionais. 
 
O direito ao juiz competente, o direito ao juiz natural e a imparcialidade do 
julgador são garantias de caráter constitucional e judicial. São elas de 
significado genérico, que atingem a todo tipo de processo. 
 
Na instrumentalização dos pressupostos inerentes ao dualismo Constituição e 
Processo, destacam-se os direitos de ação e os direitos de defesa. Para a 
efetivação dos mesmos, reconhece-se a igualdade processual das partes e as 
formalidades essenciais do procedimento (notificações, publicidade, oralidade, 
oportunidade probatória e saneamento processual). 
 
No exame científico da relação entre Constituição e Processo, que tem gerado 
expressões como Processo Constitucional ou Direito Processual 
Constitucional, destaca-se a Teoria Geral do Processo, pela sua importância na 
formulação teórica do assunto. Admite-se que o direito processual tem 
linhagem constitucional, circunstância que dá maior significação à proteção 
efetiva dos direitos processuais, em todas as instâncias. As apreciações sobre 
as instituições essenciais do direito processual civil levam à compreensão de 
sua importância, para a concretização dos direitos fundamentais. 
 
O direito de ação consolida-se na compreensão de que todas as pessoas têm 
de obter a tutela efetiva dos juízes e tribunais, na concretização e exercício de 
seus direitos e interesses legítimos. A ação, considerada como direito público 
constitucional, é aceita pela doutrina. O direito constitucional de defesa decorre 
do princípio do contraditório. 
 
O modelo constitucional do processo civil assenta-se no entendimento de que 
as normas e os princípios constitucionais resguardam o exercício da função 
jurisdicional. No paradigma constitucional do procedimento jurisdicional, 
assume papel de relevo o juiz (juiz natural e juiz preconstituído por lei). 
 
O Processo Constitucional que se concretiza no modelo constitucional do 
processo, demanda a definição de parte, vista sob a perspectiva da legitimatio 
ad causam ativa, à legitimatio ad causam passiva e à capacidade de ser parte. 
 
A publicidade não é apenas política, mas, também, técnico-jurídica. Contribui 
para assegurar a confiança da opinião pública na administração da justiça. 
Com a publicidade o ato jurisdicional pode ser julgado socialmente, expondo-se 
às críticas das partes e de seus representantes, evitando o juízo arbitrário. 
 
A ação processual é uma garantia básica, em qualquer de suas modalidades, 
como ocorre com o Processo Constitucional. Garante-se não somente o direito 
de peticionar e de ser ouvido, mas o direito ao processo. O devido processo 
ou o processo justo, o direito de defesa e a assistência legal, o processo como 
manifestação de igualdade e equilíbrio, são aspectos essenciais do 
desenvolvimento desse tema. 
 
O Processo Constitucional aponta diversos instrumentos de proteção, sendo 
que são relacionados, dentre outros, alguns de uso mais comum: habeas 
corpus, mandado de segurança, “writ of injunction”, habeas data, ação ou 
recurso deinconstitucionalidade, ação direta de declaração de 
inconstitucionalidade, amparo, “writ of error”, “writ of certiorari”, “writ of 
prohibition”, “quo warranto”, etc. 
 
O procedimento constitucional demanda certos pressupostos essenciais: o 
direito à celeridade dos processos, a razoável duração dos pleitos; obrigações 
emergentes do princípio de celeridade; formas de controle constitucional 
(preventivo, repressivo direto, repressivo indireto e ocasional): recurso de 
inconstitucionalidade; ação de inconstitucionalidade; exceção de 
inconstitucionalidade e incidente de inconstitucionalidade. 
 
O âmbito de vigência dos enunciados constitucionais tem sido examinado pelo 
Tribunal Constitucional espanhol, com algumas orientações: a noção de que a 
Constiuição goza de eficácia imediata, pelo que é geradora dos mesmos 
direitos subjetivos; a eficácia imediata, em certa medida, é retroativa; a eficácia 
imediata, sem necessidade de mediação legislativa, nem reinterpretação de 
princípios gerais do ordenamento privado. 
Ressalta Jorge Miranda a abertura para novos direitos, desde que a 
Constiuição portuguesa reconhece que os direitos fundamentais não são 
apenas os que as normas formalmente constitucionais enunciam; são ou 
podem ser também os provenientes de outras fontes, em uma perspectiva mais 
ampla da Constituição material. É nesse sentido que, referindo-se ao art. 16º, 
nº 1, fala de cláusula aberta ou de não tipicidade de direitos fundamentais. 
 
No Processo Constitucional, como instrumento básico de efetivação dos 
direitos fundamentais e processuais, convém assinalar certos pressupostos 
básicos: 
O Processo Constitucional pode ser assim esquematizado: 
a) O direito de ação e o direito de defesa judicial são assegurados aos 
indivíduos, de modo completo, por toda uma série de normas constitucionais 
que configuram o que se denomina de due process of law, processo que deve 
ser justo e leal. 
b) Reconhece-se a todos a garantia constitucional do direito de agir em juízo. 
Todos podem recorrer em juízo para proteger ou tutelar os próprios direitos einteresses legítimos. 
c) Consagra-se a garantia do direito inviolável à defesa, em qualquer órgão ou 
grau de procedimento. A defesa é um direito inviolável de cada cidadão. 
d) As partes são iguais perante o juiz. 
e) Ninguém pode ser privado do juiz natural designado por lei. Consagra-se a 
naturalidade e não a extraordinariedade do juiz. Não podem ser instituídos 
juízes extraordinários ou juízes especiais, a não ser seções especializadas 
para certas matérias. 
f) Garante-se a legalidade da pena e da medida de segurança. Pesa sobre a 
sentença de provimento sobre a liberdade pessoal o controle da legitimidade, 
mediante recurso. Ninguém pode ser punido senão por força de uma lei que 
tenha entrado em vigor, após o cometimento do delito. Ninguém pode ser 
submetido a medidas de segurança, salvo nos casos previstos em lei. 
Todas as medidas jurisdicionais devem ter motivação. 
g) A tutela jurisdicional do direito e do interesse legítimo contra atos da 
admiminstração pública é essencial. Contra os atos da administração pública é 
sempre admitida a tutela jurisdicional dos direitos e dos interesses legítimos, 
perante os órgãos de jurisdição ordinária ou administrativa. 
 
AS DECISÕES NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS 
E SEUS EFEITOS 
 
O sistema misto de controle de constitucionalidade, que vem se delineando no 
Brasil principalmente a partir Constituição de 1988, tomou novos contornos 
relativamente às técnicas de decisão adotadas pelo Supremo Tribunal Federal, 
com o advento da Lei 9.868, de 10.11.1999, a qual dispõe sobre o processo de 
julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de 
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. 
 
A declaração de nulidade total ocorre nos casos em que a totalidade da lei 
ou do ato normativo é invalidado pelo Tribunal e está relacionada a defeitos 
formais, tais como a inobservância de dispositivos legais no processo 
legislativo, a exemplo de vício de iniciativa, o que já se verifica no Brasil desde 
a Constituição de 1967/69, oportunidade em que o STF declarou a 
inconstitucionalidade de emendas às Constituição estaduais relativas a 
matérias que somente poderiam ser disciplinadas mediante iniciativa do 
Executivo, gerando a declaração de nulidade total como expressão de unidade 
técnico-legislativa. 
 
A declaração de nulidade parcial advém da aceitação da teoria da 
divisibilidade da lei, pela qual o Supremo deve declarar a inconstitucionalidade 
somente da parte da norma viciada, sempre que puderem subsistirem de forma 
autônoma, quer seja, quando estiverem presentes as condições objetivas de 
divisibilidade e de que a norma que vai subsistir corresponde à vontade do 
legislador. 
 
A declaração de nulidade parcial sem redução de texto, já presente no 
sistema brasileiro desde 1949, ocorre nos casos em que o Tribunal se limita a 
considerar inconstitucional apenas determinada hipótese de aplicação da lei, 
sem que isso implique em alteração do seu programa normativo. 
 
Princípios norteadores e limites da Interpretação Constitucional 
A nova interpretação constitucional não procura mais por um único sentido 
válido para todas as situações sobre as quais incidam, porque diante das 
cláusulas constituições de sentido aberto, com conteúdo principiológico e 
extremamente dependente da realidade subjacente, o texto pode demarcar 
apenas uma moldura dentro da qual se desenham diferentes possibilidades 
interpretativas em determinados casos. 
 
Para controlar a abrangência que vem assumindo as técnicas interpretativas, 
ressaltam-se os princípios instrumentais norteadores dessa tarefa, a saber: o 
princípio da supremacia da Constituição, o princípio da presunção de 
constitucionalidade das leis e atos do poder público, o princípio da 
interpretação conforme a Constituição, o princípio da unidade da Constituição, 
o princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade e o princípio da 
efetividade. 
 
Assim, a interpretação conforme a Constituição propicia ao STF priorizar um 
sentido da norma em conformidade com o texto constitucional, aumentando o 
grau de segurança jurídica do ordenamento jurídico e sua respectiva unidade, 
numa visão positiva do ativismo judicial. 
 
ADIN 3168-6/DF 
O art. 10 da Lei 10.259/2001, que trata dos Juizados Especiais Federal, foi 
impugnado pela Ordem dos Advogados do Brasil por meio da ADIN 3168-6/DF, 
de seguinte teor: 
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, 
advogado ou não. 
§ único. Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e 
empresas públicas federais, bem como os indicados na forma do caput, ficam 
autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competência dos 
Juizados Especiais Federais. 
A questão remete à relevância de se prestigiar o princípio do acesso à justiça, 
por essa razão o primeiro acórdão a ser colacionado será o lançado na Ação 
Direta de Inconstitucionalidade nº 3.168-6/DF, requerida pelo Conselho Federal 
da Ordem dos Advogados do Brasil, que se insurgia contra a 
constitucionalidade do art. 10 da Lei 10.259/2001, que faculta às partes a 
designação de representantes para a causa, advogados ou não, no âmbito dos 
juizados especiais federais. 
Duas questões foram essenciais para o deslinde do julgamento publicado no 
Diário Oficial de Justiça de 03 de agosto de 2008, a saber, a técnica de 
interpretação da Constituição utilizada e o peso dos princípios constitucionais 
em aparente conflito. 
A questão amplamente discutida na ADI 3168-6/DF foi a de se o art. 10 da Lei 
10.259/2001 afronta o Princípio da Indispensabilidade do Advogado previsto no 
art. 133 da Constituição Federal, que assim preceitua: 
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo 
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites 
da lei. 
Nos debates da votação no pleno, o Ministro Carlos Britto (p. 398) fez as 
seguintes ponderações quanto aos valores constitucionais que estavam se 
contrapondo: De uma parte, com a dispensabilidade do advogado, se favorece 
mesmo o acesso à jurisdição. O acesso à jurisdição fica desembaraçado. Mas 
como disse o Ministro Eros Grau: por outro lado, em contraposição a esse 
argumento, a garantia constitucional da ampla defesa estará muito mais bem 
efetivada com a presença do advogado. 
A maior preocupação verificada nas discussões foi a de não se institucionalizar 
a figura do rábula, uma vez que na lei dos juizados federais foi facultada a 
presença em juízo sem advogado, quer seja, sozinho ou mediante um 
representante (não necessariamente advogado). O ministro Gilmar Mendes 
frisou que essa opção se deu porque são massas de casos, a exemplo do 
INSS, que coloca um técnico para fazer a representação em juízo. 
O Ministro Gilmar Mendes (p. 411) ressaltou, ainda, que a discussão assume 
viés corporativo, quando, em sua opinião, os Juizados Especiais e, depois, os 
Juizados Especiais Federais, foram as únicas coisas feitas pelo cliente, o mais 
tem sido em interesse de corporações. 
O ministro Joaquim Barbosa, relator da ADI 3.168/DF (p. 387), ora analisada, 
afirmou que aplicou ao caso a técnica da declaração de constitucionalidade sob 
reserva de interpretação, quer seja, declarou a constitucionalidade do referido 
artigo, desde que sejam excluídos de seu âmbito de incidência os feitos de 
competência dos juizados especiais criminais da Justiça Federal e, nas causas 
cíveis, sejam aplicados subsidiariamente os dispositivos da Lei 9.009/99, 
especificamente quanto a possibilidade de comparecer em juízo sem a 
presença de advogado. 
O relator para chegar a tal conclusão, lançou mão de três argumentos. O 
primeiro foi fundamentar que o art. 10 da Lei 10.259/2001 está no bojo das 
normas que tratam de processos cíveis. O segundo foi de que a diferença entre 
os juizados especiaisda Justiça Comum e da Justiça Federal restringe-se à 
competência, portanto não seria razoável interpretar que o legislador teria dado 
tratamento diferenciado a eles. O terceiro argumento foi o da determinação 
expressa no artigo 1º da referida lei da utilização subsidiária dos dispositivos 
constantes na Lei 9.099/1995. 
A questão que ora se levanta, decorrente desse julgamento, é a seguinte: 
vedar o acesso ao Judiciário, obrigando a parte se fazer presente somente por 
meio de advogado, significa aumentar o grau de Democracia em uma 
sociedade? Não seria essa exigência mais um fator de fomentação das 
desigualdades entre as partes? 
São esses questionamentos que parecem importantes de serem tratados e 
refletidos em uma época em que cada vez o cidadão perde mais espaço de 
autonomia privada para as exigências da sociedade moderna, com o intuito de 
ter fortalecidos seus direitos individuais. 
Dúvidas não restam de que a presença do advogado é fator importantíssimo, 
contudo é necessário lembrar que sua indispensabilidade no processo não é 
absoluta, já tendo nesse sentido julgado o STF na ADI 1539[14], bem como 
continua existindo, excepcionalmente, a possibilidade da lei outorgar o jus 
postulandi a qualquer pessoa, a fim de garantir a garantia de direitos 
constitucionais, a exemplo do habeas corpus e da revisão criminal (art. 623 do 
CPP) e recentemente editada a Súmula Vinculante n. 5, a qual admite a 
dispensa do profissional no âmbito dos processos administrativos. 
O indispensável papel que o advogado desempenha na busca da justiça, 
parece que deve ser visto como um direito constitucional, que visa garantir 
principalmente o princípio da ampla defesa, e não como uma limitação da 
cidadania, excludente de outros princípios e garantias. 
No caso analisado, prevaleceu o princípio do acesso à justiça em consonância 
com a moderna teoria de Cappelletti
[15]
, que após estudar a fundo os problemas 
de acesso à justiça, a fim de buscar meios de facilitar a busca do cidadão pela 
solução jurisdicional, afirma que a terceira onda de acesso à justiça é um 
progresso na obtenção de reformas da assistência jurídica e da busca de 
mecanismos para a representação de interesses da sociedade, o que 
proporciona um significativo acesso à justiça. 
Entretanto, a efetivação do acesso vai muito além de encontrar representação 
efetiva para interesses antes não representados ou mal representados. 
Envolve um conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e 
procedimentos, utilizados para processar e prevenir os conflitos da sociedade 
moderna. 
Portanto, a possibilidade de dispensa excepcional da presença de advogado 
para determinados atos pelo cidadão, sem que ocorra conflito com o citado 
princípio constitucional da indispensabilidade do advogado à administração da 
justiça, e a efetividade da Democracia, coloca a presente decisão do STF em 
sintonia com a onda de facilitação dos instrumentos processuais para efetivar o 
acesso à justiça. 
Certamente a decisão do acórdão analisado está em consonância com essa 
nova era do constitucionalismo, se de outra forma tivesse sido o julgamento, os 
Juizados Especiais Federais não teriam a grandeza e importância alcançadas 
para a sociedade. 
 
Julgamento do Mandado de Injunção 712 – Direito de greve dos 
servidores públicos 
 
O art. 37, inciso VII da Constituição do Brasil, que diz respeito ao direito de 
greve do servidor público, remete a matéria à definição por meio de lei 
específica, estando assim provido de eficácia limitada até a edição de ato do 
legislativo, o que tem dado ensejo a diversos ajuizamentos de mandados de 
injunção. 
Esse fato se dá diante da ausência de lei que regulamente o direito de greve no 
setor público e o Supremo Tribunal Federal, por provocação, decidiu, em 25 de 
outubro de 2007, declarar a omissão do Congresso Nacional em legislar acerca 
do exercício do direito de greve pelos servidores públicos e, por maioria, aplicar 
ao setor, no que couber, a lei de greve vigente no setor privado (Lei nº 
7.783/89). 
 
A presente decisão tem grande importância para o cenário da jurisdição 
constitucional, porque o STF ao contrário de somente comunicar a mora ao 
Congresso, decidiu suprir provisoriamente a lacuna legislativa e aplicar à 
hipótese a Lei 7.783/89, que se refere aos trabalhadores celetistas, 
determinando, em suma, que o servidor que desrespeitar a legislação pode ter 
o ponto e o pagamento cortados referente aos dias não trabalhados. Estamos 
diante de um caso de ativismo judicial? 
 
O art. 5º, LXXI, da Constituição, previu expressamente a possibilidade de 
concessão do mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades 
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à 
cidadania. 
 
Da leitura dos votos proferidos no acórdão do Mandado de Injunção em tela, se 
afere a preocupação dos ministros do STF em não protagonizar o papel de 
legislador positivo, função primordialmente destinada ao Congresso Nacional. 
Contudo, também se debatem diante da questão de não apreciar direito 
fundamental ainda não regulamentado por aquele órgão, cuja lacuna torna 
inviável o exercício de determinados direitos pendentes de legislação. 
 
O quadro de greves em setores públicos cruciais no Brasil, deflagrado a partir 
do caos aéreo, sem qualquer controle jurídico e gerando insegurança a toda a 
sociedade, parece ter sido a mola propulsora para que o Tribunal assumisse 
sim uma postura ativista no julgamento. 
 
O Ministro Gilmar sustentou em seu voto que a manutenção de situações como 
essas sem qualquer decisão por parte da Corte Constitucional, gerando 
consequências para o próprio Estado de Direito, deslegitima qualquer 
justificativa para a inércia legislativa. E nessa linha, defendeu a postura 
excepcional de legislador positivo pelo Supremo Tribunal Federal, sob o 
argumento de que, assim como se estabelece o controle judicial sobre a 
atividade do legislador, é possível atuar também nos casos de inatividade ou 
omissão do Legislativo. Nos seguintes termos: Evidentemente, não se outorga 
ao legislador qualquer poder discricionário quanto à edição ou não da lei 
disciplinadora do direito de greve. 
 
O legislador poderá adotar um modelo mais ou menos rígido, mais ou menos 
restritivo do direito de greve no âmbito do serviço público, mas não poderá 
deixar de reconhecer o direito previamente definido na Constituição. Identifica-
se, pois, aqui a necessidade de uma solução obrigatória da perspectiva 
constitucional, uma vez que ao legislador não é dado escolher se concede ou 
não o direito de greve, podendo tão-somente dispor sobre a adequada 
configuração da sua disciplina. 
 
Defendeu o Ministro Gilmar Mendes que, diante da reiterada conduta omissiva 
do Legislativo sob um determinado assunto, referindo-se aqui aos anteriores 
mandados de injunção julgados sobre a matéria de greve, não só é passível, 
como deve ser submetida à apreciação do Judiciário de forma a garantir, 
minimamente, direitos constitucionais reconhecidos, ainda que por meio de 
uma conduta positivo legislativa do Tribunal, aplicando-se a norma ao caso 
concreto. 
 
O Ministro Eros Grau também levantou o paralelo entre verificar se tem sido 
eficaz o Supremo Tribunal Federal emitir decisões solicitando ao Poder 
Legislativo que preencha a mora legislativa, ou se está a se fazer necessário 
emitir decisões que efetivamente supram, ainda que provisoriamente, a já 
referida omissão, caindo novamente na questão de se a Corte tem legitimidade 
para legislar, ainda que de maneira contida, ou se essa situação estaria a ferir 
a separação dos poderes. 
 
Para tanto o ministro Eros Grau trouxe à tona a classificação tradicional da 
divisão das funções estatais, consistentes na legislativa, de produção das 
normasjurídicas, na executiva, de execução das normas, e na jurisdicional, de 
interpretação e aplicação do ordenamento jurídico. Acrescenta o Ministro que 
não há que se falar em agressão à separação dos poderes, porque é a 
Constituição que institui o mandado de injunção e acaba por oportunizar ao 
Judiciário o dever poder de, através desse instrumento, formular 
supletivamente a norma regulamentadora omissa. 
 
Portanto, embora precípua do Legislativo a função normativa, parece 
indiscutível que o Poder Judiciário, no mandado de injunção, produz norma, 
uma vez que formula, por meio da interpretação, a solução com força 
normativa ao caso concreto, tal qual ocorre com a súmula vinculante, que após 
editada, atua como texto normativo a ser novamente interpretado e aplicado. 
 
Importante levantar o sentido do papel do Supremo como guardião da 
Constituição, o qual inclui toda afronta ao texto e a função precípua de 
concretizador dos direitos fundamentais, onde se encaixa o comportamento 
negativo de qualquer dos poderes constituídos, e o Congresso Nacional ao 
deixar de editar normas regulamentadoras para tornar eficaz o texto da lei, 
também está a ferir o exercício pleno de direitos, liberdades e prerrogativas 
assegurados a todos. 
 
Concluindo a questão do mandado de injunção, o Poder Judiciário não define 
norma de decisão, o STF produz a norma regulamentadora provisória, 
definindo as medidas que devem ser tomadas e que faltavam para tornar viável 
no caso o exercício do direito de greve dos servidores públicos, o que pode a 
vir ocorrer em outras situações que vierem a ser levadas à Corte.

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