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O Papel da Loas na Assistência Social na Opinião dos Autores....

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SIMÕES, Carlos: Curso de direito do serviço social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010
Resenhado por Joseane de Carvalho Sousa*
Uma vez que a inclusão e o desenvolvimento social não são espontaneamente assegurados pelo Estado na atual conjuntura econômica, a intervenção estatal, por meio de políticas públicas, já é considerada, por alguns teóricos neoliberais, como necessária para o funcionamento efetivo de uma sociedade justa. 
O sistema capitalista, posto à prova na crise de 29, por mais que seja relativamente eficiente em sua proposta, produz “amplas massas de famílias em situação de risco e vulnerabilidade social”, acentua “as desigualdades sócias entre os indivíduos e classes sócias” e, em fases de ajustes rigorosos, produz “desemprego generalizado” (p. 298). Logo, ao contrário do esperado e proposto, essa política aprofunda a crise, pois “A racionalidade abstrata da teoria econômica incorpora, até hoje, essa evidente discrepância entre a realidade objetiva do desemprego e do risco e vulnerabilidade social e a hipótese do pleno emprego” (p.298).
Quanto mais liberais as políticas econômicas de uma sociedade, mais legitimadas as instituições que objetivam o lucro e a máxima eficiência produtiva — partindo da tecnologia disponível e do interesse dos agentes econômicos —, que são condicionados por relações objetivas. Marx e Stuart Mill denominam como políticos os critérios de repartição dos bens produzidos, não técnicos, como defendido pelos teóricos do livre mercado. A grande falha do atual sistema, então, é a não harmonização (natural, pois deriva da liberdade do indivíduo) entre o lado que engloba lucro e eficiência com o outro, que deveria englobar a justiça distributiva. Sendo assim, o indivíduo é suprimido pelo livre funcionamento da mão invisível do mercado.
No Brasil, a tentativa de assegurar os três pilares sociais — “máxima eficiência produtiva, ampla liberdade individual e a relativa justiça social (distributiva)” (p. 299) — dá-se através de políticas públicas que obedecem ao scrip do clero de mercado juntamente com as esferas federativas de gestão estatal. 
Uma política pública é produto da ação governamental e se dá por meio de estabelecimento de metas, meios e processos de efetivação. Visto que compreende o planejamento, a racionalização e a participação popular, possui duas espécies: as que regulam atividades econômicas de interesse público (energia, transporte, etc) e as que implementam os direitos sociais e, entre elas, políticas socioassistenciais. 
O primeiro tipo atribui ao governo federal o ofício de planejamento e formulação. Para regular integralmente as fases desse processo, criou-se agências para fiscalizar e regular a postura do mercado pelos setores privados a respeito da “valorização do trabalho humano, justiça social, função social da propriedade” (p.300), etc.
Já o segundo, as públicas, “são instituídas pelos conselhos e executadas diretamente pela administração pública, seus ministérios e secretarias, nos três níveis federativos, instituindo plano e programas, com participação de entidades e organizações sociais, mediante convênios”. Logo, deriva de jogo político e coalizações partidárias no poder, visto o atual “regime presidencialista híbrido de parlamentarista” (p. 301). Daí, então, a tendência à precarização desses serviços. 
As políticas públicas são distributivas (relativamente consensuais; beneficiam número grande de indivíduos), redistributivas (redistribuem recursos financeiros, direito, etc entre parcelas populacionais), regulatórias (não determinadas anteriormente, pois não preveem os efeitos concretos de sua aplicação) e constitutivas ou estruturadoras (regulam as regras do jogo político e, assim, a estrutura que mantém todas as outras políticas). 
Visando a eficiência do trabalho estatal, deveria ser de rigor a continuidade de políticas a longo prazo, com o andamento de planos plurianuais que contasse com a contribuição de vários governos eleitos. Desse modo, acabaria o falso dualismo entre políticas assistencialistas — que objetivam solução de problemas a curto prazo para algumas parcelas da população assistida — e políticas públicas de longo prazo — que objetivam tirar essas parcelas populacionais de situações vulneráveis, de modo que não precisem mais solicitar o auxílio de políticas assistencialistas, posto que autossuficientes. Dito isso: 
O plano nacional e o sistema único de assistência social [...] buscam justamente integrar as políticas assistenciais entre os três níveis federativos e com as demais políticas sociais, para assegurar que a eficácia das ações atinja a plena integração social, inclusive com programas de qualificação profissional. Os programas de renda (suplementação) são: Renda Mínima (nível municipal), Renda Cidadã (estadual) e Bolsa Família (federal). (p. 303)
A eficácia dessas políticas trouxe um novo tipo de interação entre os entes federativos. Agora, o governo federal, com auxílio do estadual e municipal, repassa os recursos diretamente aos inscritos e gere os programas. A cooperação entre as camadas federativas do país é um dos pilares dessa eficácia, além da profissionalização da gestão da postura estatal e da elaboração de mecanismos de monitoramento e feedback das políticas implantadas (CUNHA apud Abrucio, 2008). Soma-se esses pilares a interação entre grupos do poder Executivo, Legislativo e da sociedade civil. 
A implementação dessas políticas que visem a reforma de gastos e investimentos públicos, entretanto, demanda gastos significativos, gerando grande potencial de obstrução por conta dos interesses burocratas da lógica de mercado. Além disso, a sociedade civil não cumpre com o seu papel, ao eximir-se de sua função na construção do bem-estar social, pedindo cada vez mais intervenção estatal para corrigir os erros financiados com dinheiro público (gerido pelo estado), ao tempo que brada por cortes na carga tributária esquizofrênica brasileira. Uma postura, no mínimo, paradoxal. 
II – Conceito de Assistência Social — Direito do Cidadão, Dever do Estado
O direito público subjetivo diz respeito ao de uma faculdade, atribuída a indivíduos, que é exigível judicialmente, pois assegurada por normas jurídicas. A obrigação estatal se dá, como percebe-se no art. 204 e 198 da Constituição Federal, por meio da “dimensão objetiva dos direitos sociais e configura-se na instituição de procedimentos judiciais que tornem eficaz o direito subjetivo” (p. 305). Daí, então, a concepção da assistência social assegurada pelo Estado, por meio do art. 1 da LOAS, que a denomina como direito à cidadania e público subjetivo. 
A LOAS — marco na história da assistência e da justiça social por institucionalizar, na Constituição Federal, a assistência social, agora integrante da estrutura política do Estado — pretende assegurar o oferecimento de necessidades básicas (definidas a partir da participação social) por meio de diversas táticas, como criação de políticas de curto e longo prazo. Essas políticas devem ser organizadas através de ações regionais, de comando único, que englobem as esferas federativas e supra todas as áreas de necessidade social.
Visando o estímulo da relação entre o Estado e a sociedade civil, a LOAS foi amparada num modelo constitucional que se baseia no “princípio da descentralização político-administrativa, na municipalização das ações governamentais [...] e na prevalência das decisões auferidas nos fóruns democrático-participativo” (p. 307). Por isso, a lei, aprovada sob a influência do CFESS, trata-se de uma lei complementar que prevê a criação de conselhos municipais de composição partidária.
Ademais, não se trata apenas de uma simples prática, mas, sim, de um instrumento de intervenção orientado institucionalmente e fundado num conceito teórico que transfigura-se numa ação política.

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