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Serviço Público Federal Ministério da educação Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário “Professor Antônio Garcia Filho” Graduação em Medicina Sanni Silvino Parente Revisão: Meningites em pediatria Definida como um processo inflamatório das leptomeninges. Pode ser infecciosa ou química, sendo a primeira a mais comum. No Brasil, tem maior taxa de ataque entre 3 e 12 meses de vida, permanecendo alta até os 2 anos. ETIOLOGIA As meningites virais são mais frequentes em maiores de 1 ano, adolescentes e adultos, sendo representadas por: enterovírus, VVZ, herpes vírus, arbovírus, caxumba e do sarampo. As bacterianas, por sua vez, variam de acordo com a faixa etária: 0 –2 meses: bactérias do canal de parto; Streptococo do grupo B, E. coli, Listeria monocytogenes e gram negativos. Eventualmente pode-se ter H. influenzae tipo B. O Streptococo do tipo B pode colonizar o canal de parto e causar infecções graves, sendo recomendado profilaxia com penicilina cristalina intraparto. Predomínio dos germes Gram- até os 14 dias e Gram+ entre 14 dias e 2 meses. 2 – 24 meses: N. meningitidis (meningococo) e S. pneumoniae (pneumococo). OBS: até 1999 - Haemophilus influenzae tipo B (HIB). 2 – 18 anos: N. meningitidis (sorotipos C e B), S. pneumoniae e HIB. PATOGENIA VIRAIS: Entrada do vírus pela via inalatória, pelo TGI ou em contato com mucosas. Disseminação hematogênica com tropismo especifico de acordo com a etiologia. BACTERIANAS: É mais comum que ocorra colonização de rinofaringe e orofaringe e disseminação por via hematogênica. Mas pode ocorrer infecção das meninges por contiguidade (sinusite, otite), direta (mielomeningoceles, fístulas – avaliar malformações se paciente apresentar quadros recorrentes) ou por via de drenagem linfática. Uma reação inflamatória local, com predomínio de polimorfonucleares, é iniciada. Características dos agente modulam a resposta, acentuando-a. Há liberação de mediadores (IL-1b, IL-6, IL-8, TNF alfa) que levam ao aumento da permeabilidade capilar e altera as propriedades da barreira hematoencefálica. Surdez e déficit visual podem ser consequência da resposta inflamatória. Além disso, o complemento é ativado, a fim de conseguir a lise bacteriana. Fatores referentes ao hospedeiro, como polimorfismos do sistema complemento ou déficit da imunidade inata facilita a colonização e bacteremia. Em relação ao meningococo, antígenos meníngeos de superfície estimulam a produção de anticorpos séricos. A meningococcemia está associada a ausência desses anticorpos. O espaço subaracnoide é o local alvo, e ali é desencadeada uma vasculite – na base do crânio, preferencialmente- levando à hipertensão craniana e ao óbito. CLÍNICA VIRAIS: menos grave que as bacterianas. Pródromo: cefaleia, náuseas, vômitos, fotofobia, sinais de irritação meníngea e febre. Manifestações relacionadas ao agente: exantema, paratidite e diarreia. Meningoencefalite = alteração do nível de consciência, prostação, irritabilidade, coma, acometimento de nervos cranianos, paresias, plegias e convulsões. BACTERIANAS: São duas formas de apresentação descritas: Insidiosa: evolução em dias, sinais e sintomas inespecíficos, pode ou não ter febre. Fulminante: sepse e meningite desenvolvem em horas, edema cerebral. Ação de endotoxinas bacterianas. LACTENTES JOVENS (até 3 meses): Manifestações inespecíficas – febre, letargia, distúrbios respiratórios, icterícia, recusa da amamentação, vômitos, diarreia, gemência, choro e depressão dos reflexos arcaicos – convulsões (40%) e abaulamento de fontanelas (30%). LACTENTES MAIORES e PRÉ-ESCOLARES: queixas inespecíficas – febre, dor de cabeça, fotofobia, náuseas, vômitos, confusão mental, letargia e irritabilidade- e específicas – mudança no comportamento, rigidez de nuca, sinais de Brudzinski e Kering, convulsões, abaulamento da fontanela, alterações sensoriais e alterações de pares cranianos. Sinais de hipertensão intracraniana grave – hiperventilação e bradicardia – ou de herniação das amígdalas – descerebração e decorticação – podem estar presentes na demora para iniciar o tratamento. ESCOLARES e ADOLESCENTES: tríade – febre, vômitos e cefaleia – e outros sintomas comuns na história clínica – fotofobia, letargia, irritabilidade e alteração do nível de consciência. Sinais meníngeos: presentes em parte dos casos, a ausência dos achados não exclui o diagnóstico: o Rigidez de nuca; o Kerning; o Laségue; o Brudzinski. FORMAS: Pneumocócica: forma mais insidiosa. Meningite por meningococo: inicialmente mimetiza IVAS – faringite, febre, mialgia, etc – em 7% observa-se um rash cutâneo tipo maculopapular horas antes da sepse. o Meningococemia: febre, hipotensão, mialgia intensa, toxemia acentuada, petéquias púrpuras e sufusões hemorrágicas. Complicações: choque e CIVD. Óbito se deve à hemorragia adrenal, acidose ou insuficiência renal. Meningococemia sem meningite: indica mau prognóstico. Acometimento do SNC, do coração – endocardite, pericardite e miocardite – adrenal e articulações. LABORATÓRIO PUNÇÃO DE LÍQUOR: É mandatória na suspeita de meningite e deve ser realizada antes do início da antibioticoterapia. OBS: Casos fulminantes com hipotensão e falência de órgãos = iniciar o ATM o quanto antes!!!! Apenas os resultados de cultura sofrem alterações, sendo a bioquímica praticamente igual a antes. Testes: Bacterioscopia cm coloração de Gram (o resultado da bacterioscopia é apenas indicativo da etiologia, não deve alterar o esquema de ATM); Dosagem de glicose (comparar com a glicemia capilar); Dosagem de proteínas; Quimiocitologico com diferencial de celularidade; Cultura; Testes específicos para alguns patógenos (aglutinação de látex ou imunoforese). Vale ressaltar que esses testes não determinam o padrão de sensibilidade antibiótica. Proteína C liquórica. CONTRAINDICAÇÕES (Realizar uma TC antes) Hipertensão intracraniana; Papilederma; Sinais neurológicos focais; Comprometimento cardiopulmonar que impeça o posicionamento para coleta; Infecção da pele sobre o local da punção; Alteração de coagulação o Plaquetas < 60.000/mm3; ACHADOS: A celularidade é elevada, com predomínio de polimorfonucleares, elevação da proteinorraquia, redução da concentração de glicose (a hipoglicorraquia tem relação direta com o acometimento auditivo), aspecto turvo e aumento da pressão. Em fases iniciais da doença, é possível um exame liquorico normal com cultura positiva, deve-se, portanto, manter o paciente em observação e realizar nova punção em 12 a 24 horas. Punções traumáticas devem ser corrigidas: para cada 500 hemácias – 1 leucócito. HEMOGRAMA COMPLETO: Leucocitose com desvio à esquerda as custas de polimorfonucleares; plaquetopenia e hemocultura. COAGULOGRAMA: Indicado para pacientes com petéquias ou lesões purpúricas, avaliar tempo alargado de TP e TPA, avaliar níveis de fibrinogênio; dosar fator de VWL e Ddímero. OUTROS: Eletrólitos (Na – secreção inadequada de ADH), gasometria, glicemia, ureia e creatinina para o planejamento da terapia de reposição volêmica. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS: Deve ser hospitalizada, oxigenação adequada (manutenção da hemoglobina >12g/dL),prevenção de hipoglicemia, controle de convulsões e da HIC. A PA deve ser monitorada e controlada devido ao risco de isquemia. HIDRATAÇÃO: não se realiza mais a restrição hídrica no início do tratamento, pois verificou- se que a elevada secreção de vasopressina é um mecanismo compensatório da HIC. CORTICOTERAPIA: Estudos controversos; Dexametasona; 20 a 30m antes da 1° dose de antibioticoterapia; Menores de 2 meses; Atua na inflamação induzida pela terapia específica, prevenindo edema cerebral e HIC. TRATAMENTO ESPECÍFICO NEONATAL: Amipicilina + cefotaxima, 14 a 21 dias. Até confirmação do patógeno. OBS: Cefitriaxona – Evitar no período neonatal pelo risco de hiperbilirrubinemia. Complicações/ Conduta: Coletar LCE após 48 a 72h. US de crânio semanalmente. MAIORES: 2- 3 MESES: ampicilina + aminoglicosídeo. 5- 6 anos : ampicilina + cloranfenicol; > 6 anos: ampicilina. OU Cefalosporina de 3° geração ( ceftriaxona ou cefotaxima) em qualquer idade. Até confirmação do patógeno. DEPOIS DA CONFIRMAÇÃO: Pneumococo Ceftriaxona ou ceefotaxima ou penicilina cristalina 10 – 14 dias Meningococo Penicilina cristalina ou ceftriaxona ou cefotaxima 5 dias HIB Ampicilina ou cloranfenicol ou ceftriaxona 7 dias COMPLICAÇÕES Choque séptico (meningococo) – TTO: volume e drogas vasoativas; HIC c/ ou s/ herniação; Convulsões – se iniciadas após 48h de tto podem decorrer de complicações; -Fenobarbital – casos com crises convulsivas. Trombose; Formação de coleções líquidas no espaço subdural – abscessos e empiema; SIADH; Alterações de pares cranianos; Surdez; Retardo mental; Espasticidades/ pasesias; PROFILAXIA HIB: Rifampiina. Contatos domiciliares = criança não vacinada < 48 meses; imunocromprometida. Creches = criança < 48 meses não vacinada que tenha > 20h de contato ou > 2 casos. MENINGOCOCO: Rifampiina. Todos que tiveram > 20h de contato nos últimos 7/10 dias. VACINAÇÃO: Vacina conjugada contra HIB no 1° ano em 3 doses – Programa Nacional de Humanizações; Vacina antipneumocócica conjugada (VCP) heptavalente – pouca cobertura no Brasil (sorotipos 1 e 5); Vacinas antimeningoócicas contra sorotipos A e C – epidemias; TEXTOS BASE Tratado SBP – VOL 1 Tratado pediatria – Nelson MEDCEL - VOL 3
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