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CARLOS NELSON. Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo

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ensaio 8e.pesquisa
Preservar não é tombes;
renovar não é pôr tudo abaixo
Texto Cartos Nelson F. dos Santos
Este artigo foi encomendado (e pago ...) para publica-
ção na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional.
Quando ficou pronto, foi vetado pelo editor, sob o pre-
texto de que ofendia os brios da arquitetura nacional.
Procedimento dos mais estranhos, em se tratando de
trabalho assinado, escrito e desenhado no capricho,
após insistentes convites. Não sei, não... deve ter ido
muito direto ao alvo. Paciência. Carrego a honra de ter
sido censurado pela Nova República bem antes de Go-
dard (Rio, 1984).
Toda cidade resulta da agregação de trabalho humano
a um suporte natural. Isto quer dizer que, uma vez fun-
dadas, as cidades vivem se refazendo, jamais estão
prontas. Talvez esse enfrentamento do espaço e do tem-
po através de ações sociais se pudesse chamar com
mais propriedade de história - de história urbana pelo
menos. De todas as formas, estou quase convencido
de duas coisas:
1. A história do homem acaba sendo enquadrada pe-
los espaços que inventou para que neles acontecesse
a sua história. Não há maneira de pensar espaço signi-
ficativo desacompanhado de história que o explique
(quando se trata dos chamados "povos sem história"
substitua-se história por mito ...). Da mesma forma, é im-
possível imaginar história ou mito não referenciados a
espaços reais ou imaginários.
2. Desde que, há uns 10 000 anos, a cidade surge na
história, coroando a revolução do neolítico, passa a ser
o lugar preferencial para realização (e percepção ...) da
própria história.
Há cidades que param. Deixam de se transformar atra-
vés dos diálogos, nem sempre mansos, entre espaço
e tempo. A rigor, não deveriam mais ser chamadas de
cidades. No dizer de Oriol Bohigas, viram museus, ce-
mitérios, cenários de turismo, o que se quiser ... Não me-
recem mais ser consideradas centros urbanos reais. Ele
entende bem do que está falando: além de eminente
arquiteto urbanista, é cidadão de Barcelona. Justo a Es-
panha foi um dos países onde, nas últimas décadas,
houve mais controvérsias sobre o muito que preservar
e o muito que destruir, face a novas imposições da so-
ciedade e de suas atividades econômicas.
Seções inteiras das cidades
não estariam de pé se não
fossem usadas no
cotidiano, "a retalho':
Os conceitos de cidade e mercado são daqueles imbri-
cados desde a origem. Não estou me referindo ao mer-
cado das trocas materiais e da razão prática, caracte-
rístico do capitalismo. Este só tomou de assalto os meios
urbanos e os submeteu às suas lógicas em meados do
século XIX. A partir daí, tudo vira mercadoria negociá-
vel por quem mais possa pagar. Não escapam a terra
e, numa esfera muito mais abstrata, as diversas locali-
zações intra-urbanas, valorizadas de forma diferente no
tempo pelos vários grupos que vivem nas cidades. Meu
mercado aqur é mais amplo. Para começo de história,
sua meta principal é promover, através do estabeleci-
mento de uma cadeia de obrigações de reciprocidade,
o máximo de equilíbrio na estrutura social. Quer redis-
tribuir, não acumular. Em vez da mesquinha óptica da
produtividade, permite as múltiplas ordens da criativi-
dade. Por suposto, sempre foi mais idealizado que rea-
lizado, mas, através da história, com a cidade e na ci-
dade, foi se concretizando através das práticas possí-
veis. Até que, por força dos individualismos da cultura
desagregadora do Ocidente moderno, teve seu papel
apequenado, foi reduzido. Ficou tudo mais fácil de usar
e mais eficiente, é bem verdade. O preço. pago, porém,
foi a esquizofrenia de que, hoje em dia, o mundo intei-
ro parece atacado.
A cultura burguesa praticou o feito inédito: submeteu
as outras que lhe eram contemporâneas. Na maioria dos
casos, destruiu-as por completo. Apropriou-se de tu-
do, simplificando significados complexos. O que inte-
ressava era aplainar caminhos para a existência e ope-
ração de empresas e do Estado nacional... Entidades
totalizadoras que se esforçam por "descomplicar" o que
podem, para melhor controlar ou melhor mandar. As ci-
dades, indispensáveis à difusão e implantação dessas
novas ordens desde o renascimento europeu, foram
suas grandes vítimas.
A cidade/mercado do capitalismo está longe, porém, de
15 existir como um absoluto. Além da principal razão de
~ ser - produtividade de mercadorias e disciplinas -, con-
~ tinua abrigando muitas outras vocações. Técnicos, es-
i> pecialistas e o status quo de um modo geral costumam
.g classificar essa persistência como anacrônica e desvian-
~ te. São desordens frente à ordem que sonham existirá
~ um dia, perfeita e imutável. Não percebem que são os
espaços fora das convenções, as atividades econômi-
cas fora de controle e as relações sociais fora dos mo-
delos aceitos oficialmente que permitem e viabilizam
seus ideais de ordem. Em síntese, só pode haver um
positivo à custa de muitos negativos. Aqui no Brasil en-
tão, país de poucos recursos e inúmeros problemas no
cenário urbano, que deu um salto espetacular em no-
venta anos, só algumas áreas chegam mais perto do
ideal. Fazem-no, entretanto, à custa de outras que es-
poliam. A regra é que nos bairros cêntricos se promo-
va a concentração de benesses urbanísticas para uso
cada vez mais exclusivo dos mais ricos e das ativida-
des mais nobres. O resto, a maioria das pessoas e de
suas ações, vai se distribuindo como pode em espa-
ços tanto mais pobres e desprovidos quanto mais dife-
renciados dos núcleos cheios de privilégios.
Usei a expressão diferenciados em lugar de distantes
porque o contraste se deve a fatores que podem incluir
ou não descontinuidade física. Estar longe das áreas
centrais é condição suficiente mas não necessária ou
única de separação e segregação. Há favelas em mui-
tas cidades brasileiras que, do ponto de vista da locali-
zação, ocupam posições invejáveis. Periferias e subúr-
bios parecem o "habitat natural" para as camadas de
menor renda e para os negócios de menor prestígio. Em
muitos casos, porém, basta virar uma esquina da ave-
nida de maior movimento para encontrar casarões ve-
lhos transformados em cabeças-de-porco, hospedarias,
oficinas ... No quintal de edifícios com ótima aparência
podem existir barracos e construções precárias. Isto sem
falar nos bairros chamados decadentes, que costumam
cercar a área mais central das maiores cidades. Exten-
sões contínuas de casario antigo, ruas, praças ... que o
governo costuma ver como resíduos, como enclaves
que já não servem para nada. Daí, passa a considerá-
Ias como reservas que, assim que for possível, será pre-
ciso pôr abaixo e reconstruir nos padrões desejáveis.
Nas cidades o espaço fala. Cheios e vazios, edificações
e logradouros, público e privado formam UIJI código. As
59
ensaio &:.pesquisa
A excepcionalidade, a
sacralidade mesma do
momento.
A avenida Presidente
Vargas ainda está cheia de
terrenos desocupados.
muitas articulações possíveis dos diversos elementos
em cada sítio constituem uma linguagem peculiar. Da
perspectiva analítica, o fenômeno não é muito fácil de
registrar e entender. Os produtos arquitetônicos e ur-
banísticos por si mesmos permitem poucas precisões,
são ambíguos; talvez excessivamente poéticos. Mas é
aí que reside sua maior força - nessa resistência à frag-
mentação. Os conjuntos urbanos costumam ter gran-
de poder expressivo. São sínteses fortes. Mesmo para
quem conhece pouco uma determinada cidade é fácil
fazer demarcações a partir de balizamentos sumários.
Habituar-se a um território desconhecido implica clas-
sificar lugares: onde há confusão; onde há calma; on-
de se trabalha; onde há segurança; onde vão os ricos;
onde se adquirem bens úteis ou supérfluos ... e assim
por diante.
A síntese espacial urbana tira das relações metafóricas
sua maior eficiência. Os lugares, por serem como são,
dizem de uma só vez uma porção de coisaspara um
monte de gente. Apresentam conformações cumulati-
vas. Estão no presente, mas podem demonstrar como
já foi e como, talvez, será. Assim, não só com-formam.
Também in-formam. Disse, um pouquinho antes, que
na cidade o espaço fala. Fala de quê? De uma organi-
zação econômica, sem dúvida. Esta, por sua vez, se re-
fere a uma estruturação social que se realiza através
de um modo de vida característico. A última expressão
pode, sem favor, ser substituída por cultura. A cultur~
é constituída por esses milhares de obviedades que todo
mundo tem de saber, se deseja sobreviver, se não qui-
ser ser um Kaspar Hauser,*_ incapaz de dizer de onde
veio e a que veio no ambiente em que deveria se senti
à vontade. Pois é, participar de uma cultura é "estar em.
casa" dentro dela. Isto corresponde a dominar uma certa
quantidade de códigos classificatórios que, quanto mais
gerais e abrangentes sejam, mais básicos são. Entre os
conhecimentos básicos que permitem a convivência de
milhares de pessoas e interesses, nos espaços tão re-
duzidos das cidades modernas, está a atribuicão de um
mínimo de significados coincidentes a uma coleção de
60
lugares ordenados segundo convenções que, para os
membros daquele grupo, são referências estruturais.
Muito bem. Se, nos espaços urbanos, as formas físi-
cas falam das formas econômicas e das sociais, não
haverá dificuldades de tradução? Termos irredutíveis,
tempos e objetivos diversos, divergentes até? Há sim.
A melodia não é harmônica, nem cantam todos no mes-
mo diapasão. De um campo para outro existem super-
posições, é verdade, mas são abundantes os desencon-
tros e as autonomias. Creio mesmo que nessas faltas
de precisão contraditórias se estabeleçam os domínios
de um quarto código, indispensável para que nas cida-
des coexistam, com o mínimo de desgaste, os outros
três. As falhas, as brechas, os brancos são o território
dos entendimentos políticos. Nosso modelo urbano J
a polis ocidental dos cidadãos e de suas assembléias
representativas e equalizadoras - exige que existam. Eles
servem para explicar o ininteligível, conciliam a intole-
rância das ópticas exclusivas, tornam a ambigüidage útil.
Mais do que isso: fazem dela um instrumento de acer-
tos. Quando o coro de mil vozes consegue o encontro
da assembléia, tenta se afinar, se ajeita para dar chan-
ce aos timbres mais fracos, respeitando as limitações
e racionalidades da maioria e permitindo os solos na
hora certa. Há outras possibilidades também: criar uma
falsa e fácil disciplina da exclusão; fazer com que qua-
se todos se calem e conceder o privilégio da expres-
são a um grupo que pode tudo. Quando esse excesso
de autoritarismo acontece, é raro que os resultados se-
jam bons para as cidades, não importando abeleza ou
o alcance das vozes. Já diziam os homens da Idade Mé-
dia que o ar urbano era bom porque nele se respirava
liberdade. Percebiam bem duas coisas naqueles tempos:
1. que a meíhõr maneira de viver consistia em reafir-
mar as semelhanças e compreender as diferenças em
conjunto (o que equivalia a trocar experiências); 2. que
a liberdade estava embutida nas ações de todos os dias
e que nelas se revigorava.
Pensar na cidade e no que expressa li partir de suas
formas e lugares é ser morto-lógico. Um entendimento
i6 (um conhecer ...) tão bom como outro qualquer, com a
~ vantagem de ser muitíssimo acessível. Os espaços ur-
~ banos são livros abertos, que a cada instante dizem aos
~ que estão neles não só onde estão, mas quem são e
:§ quem são os outros. Uma jornada comum, que implica
~ deslocamentos, passagens por ambientes dos mais pri-
~ vados aos mais públicos, ida a lugares onde se produz,
se consome, se circula, se descansa, equivale a uma
carga informativa das mais completas. A diversidade
complementar de atividades é a matéria-prima da idéia
de cidade. Faz com que se modelem determinadas ex-
pressões físicas enquanto se estampa, se expõe e é
transformada através delas.
Eis por que, quanto maior a diferenciação de lugares
e de edificações no meio urbano, melhor. Mais do que
isso: tudo o que facilite intercâmbio, mistura e reformu-
lação é bem-vindo. Graças a Deus, começam a ser su-
perados os tempos em que pensadores e executivos
consideravam que o melhor a fazer era separar, organi-
zar e deixar transparente. O lé-com-Ié e o cré-com-cré
das tentativas de zoneamento das cidades brasileiras
ao longo do século XX só produziu empobrecimentos
e rupturas. Com os pretextos da renovação, do progres-
so, da higiene, das razões do mercado, da circulação
ete., foram quebradas continuidades, sob todos os pon-
tos de vista (exceto o do arbítrio de minorias) expressi-
vas e desejáveis. Urbànístas e arquitetos chegam ao fi-
nal de quase noventa anos de "revoluções" goradas bas-
tante desencantados. Já perceberam que foram coni-
ventes. Com as técnicas e ideologias "inovadoras" que
touxeram para cá ajudaram a destruir o irrecuperável.
Entre as muitas novidades urbanísticas de que fomos
apóstolos no início do século está a idéia da preserva-
ção de sítios e monumentos urbanos. De repente, ar-
quitetos e outros intelectuais notáveis (e sonhadores ...)
descobriram que até já tínhamos alguma história e que
ela se exibia, sem proveito, através de edificações des-
prezadas, caindo aos pedaços ou (pensavam ...) conser-
vadas 'por milagre. É tempo de estranhos surtos nacio-
nalistas carregados de internacionalismo, tudo bem en-
caixado no grande sonho do país jovem, empenhado
em realizar seu grande futuro e em fixar alguma identi-
dade que lhe irradiasse um passado pouco ealorizado,
Da descoberta à prática bastou um passo. Os pionei-
ros partiram para a cruzada, bem-sucedida, aliás, co-
mo quase tudo em que se meteram. Era um campo de
idéias articuladas que visavam e lograram uma virada
de cabeças na elite e depois no conjunto da sociedade
brasileira: arte moderna, arquitetura e' urbanismo racio-
nalistas, nova música, nova literatura e... nova interpre-
tação de velharias.
As novidades fizeram boa carreira dos anos 30 para cá.
Hoje já existe alguma consciêracia sobre o assunto.
Quando se pensa em preservar, alguém logo aparece
falando em patrimônios e tombamentos. Também se
consagrou a crença de que cabia ao governo resguar-
dar o que valia a pena. Como? Através de especialistas
que teriam o direito (o poder-saber) de analisar edifí-
cios e pronunciar veredictos. Esses técnicos praticariam
uma espécie de ação sacerdotal. Atribuíam caráter dis-
tintivo a um determinado edifício e logo tratavam de
sacralizá-lo frente aos respectivos contextos profanos.
Como ninguém é seguro o suficiente para inventar ri-
tuais a partir do nada, trataram de seguir o caminho mais
fácil: impuseram as suas mãos sobre o que, por outras
razões, já estava consagrado. Não foi muito difícil de-
clarar dignos de preservação COnventos, mosteiros, igre-
jas, palácios, fortalezas, sedes de fazenda ... De raro em
raro uma pequena construção antiga justificada como
"curiosa": capelinhas. casas rurais, hesitantes exceções
confirmadoras da regra cômoda. Os símbolos do po-
der não eram, por natureza, distintos? Não foram pro-
postos como contrapontos desde o começo? Não ex-
plicitavam quem mandava? Para não comprometer a no-
breza das boas intenções com estes aspectos menos
excelsos, .decidiu-se esfriá-Ios com a antiguidade. Quan-
to mais perto dos séculos XVII ou XVI melhor, porque
assim as relações entre a forma e aqueles outros códi-
gos ficavam mais amenizadas. Não é por outra razão
que, ainda há bem pouco tempo, era difícil provar o va-
lor de edificações do século XIX. No nosso prój)rio sé-
culo, então, só o que já nascesse sob o signo da eter-
nidade, isto é, como expressão definitiva e irrecorrível
da transcendência do poder.j-' '.
essas considerações não entravam dúvidas sobre o ~
que moradores e usuários valorizavam nos espaços que .~
constituíam seu dia-a-dia. Não interessavam os meca-~
nismos criadores 'de significado em sentido amplo, obri- :..
gatoriamente sociais. Também não causava maiores ~
preocupações a escalada crescente de uniformizações 2físicas e funcionais de seções inteiras dos territórios ur- ,f
banos. Os especialistas deviam achar que tamanhas vul-
garidades não estavam no seu alvo nem eram de sua
alçada. Não perceberam, talvez pelas condições do mo-
mento e por estarem absorvidos pelas importantes ta-
refas que praticavam, que aí residiam os mais insidio-
sos fatores: os que levavam as cidades a se descarac-
terizar e geravam decadência.
As cidades brasileiras no século XX cumprem a fun-
ção de diques. Têm de absorver e dar destino às vagas
de migrantes. São escolhidas como as sedes favoritas
das aventuras do capital e dos programas de governo.
São maltratadas à exaustão e o mau exemplo vem de
cima. Sofrem grandes reviravoltas. As provas de desa-
mor, observáveis em todas as partes, não devem es-
pantar ninguém. São fáceis as explicações para quem
não for. hipócrita. A ausência de surpresa não deve, po- ~
rém, implicar desinteresse: a falta de afetividade pelos
lugares e pelo que representam é um caminho reto pa-
ra a pobreza cultural. As pessoas ficam desorientadas
quando não conseguem mais entender a linguagem es-
pacial que vivem no cotidiano e que Ihes diz que, neste
presente particular, há passados respeitáveis e futuros
esperançosos. Ficam perigosamente desorientadas; per-
dem um dos mais importantes parâmetros morais.
A versão mais pragmática da afetividade pelo espaço
- a demanda por condições mínimas de habitabilidade
- aj)arece bem clara em várias cidades do Brasil. Em que
pese a notoriedade presente, o assunto não é novida-
de. Já no início do século XX, no Rio de Janeiro, por
exemplo, havia muitas sociedades de amigos de bair-
ros pobres pressionando o governo por melhorias. No
passado próximo, algumas lutas de favelados e de as-
sociações de vizinhos se fizeram notórias. Mais ainda
porque aconteceram em épocas nada propícias. Tais mo-
vimentos já mereceram vários estudos. Relativa novi-
dade são as organizações de moradores de classe mé-
dia e alta. Estão, junto com as organizações dos de me-
nos recursos, se alastrando por todo o país. Sugerem
a politização geral dos habitantes das cidades a partir
da temática dos respectivos cotidianos. O caminho
pontado se apóia em dois extremos: de um lado há
ma retomada de individualidades - os grupos sociais
se reconhecem através da identificação de um espaço
que Ihes serve de base comum; do outro há uma ten-
dência, bastante embrionária, à conquista coletiva de
direitos universais de cidadania.
Frente a tais mobilizações, aragem renovadora nas can-
sativas articulações políticas que parecem eternas, ca-
bem alguns questionamentos às idéias assentadas. Na
verdade, já não é tão prioritário tombar edifícios monu-
mentais. Ninguém sabe o que fazer com eles e come-
ça a ficar difícil inventar e conservar tantos museus. Mui-
to mais urgente é manter as cidades vivas, oxigenar a
sua água, em vez de trocá-Ia de vez, deixando apenas
os peixes e alguns enfeites fixos no aquário. Os urba-
nistas começam a duvidar de ações revolucionárias que
viram tudo de pernas para o ar, mas que deixam into-
cada a sua capacidade de designar, de decretar sim ou
nãa Começam a entender o que Gaudi queria dizer com
"ser original é voltar às origens".
Do jeito que vem sendo praticada, a preservação é um
estatuto que consegue desagradar a todos: o governo
fica responsável por bens que não pode ou não quer
conservar; os proprietários se irritam contra as proibi-
ções, nos seus termos injustas, de uso pleno de um di-
reito; o público porque, com enorme bom senso, não
consegue entender a manutenção de alguns pardieiros,
enquanto assiste.à demolição inexorável e pouco inte-
ligente de conjuntos inteiros de ambientes significati-
vos. Sem que peçam suas opiniões, acabam com os
meios de transporte convencionais e que ainda servem
bastante, para substituí-Ios por outros "modernos" e
"eficientes" logo superados, incapazes de cumprir o pro-
metido. Ou deixam que sistemas ótimos se deteriorem
a ponto de parecer lógica sua erradicação. É bem o que
aconteceu com as redes de bondes no início dos 60.
O exemplo dos transportes é só uma tentativa de ilus-
tração. Como o bonde, podem sumir a estátua que fun-
cionou durante décadas como referência, as árvores,
a praça inteira. Em seu lugar (nem há mais curiosidade
ou esperanças ...) vem sempre coisa pior ou mais feia.
Assim, vão-se embora o bar favorito, o cinema que ali-
nhavava pessoas e grupos diferentes, a calçada onde
se realizavam as intermediações rituais casa/rua, os edi-
fícios onde se podia trabalhar e morar ao mesmo tem-
po. São substituídos por uma geografia de fantasmas
e nostalgias. A violência é tão explícita que, mesmo con-
tra todas as chances e nos momentos menos propícios,
houve gente que não se conformou. Partiu para a briga
contra as fantasias mentirosas de renovação urbana,
enfrentou as onipotentes razões do mercado e os arbí-
trios políticos, travestidos de argumentos técnicos ir-
respondíveis. Em alguns casos registraram-se ganhos
heróicos, tamanha a desproporção entre os contendo-
res. Talvez por esse filão se possa encontrar novos ar-
gumentos e novas maneiras de preservar.
De preservar ou de renovar. Os americanos dizem ur-
ban renewal means negro removal. Aqui a mesma fra-
se poderia ser usada, desde que se trocasse negro por
pobre. Os planos de "renovação urbana" não deslocam
apenas os condenados pelo "crime" de estarem ocu-
pando lugares tornados bons demais para eles. Carre-
gam junto uma quantidade enorme de hábitos cultu-
rais e de atividades econômicas, julgados tão despre-
zíveis que nem são levados em conta. A conseqüência
são destruições em muitos planos. Nas áreas transfor-
madas, os antigos moradores não encontram mais on-
de ficar. Pior: não têm mais chance de localização equi-
••
Enquanto isso, a Rio
Branco se renovava sem
parar.
Vai-se embora o cinema
que alinhavava pessoas e
grupos diferentes.
valente. O bairro ou setor urbano onde foi realizada a
renovação fica privado de serviços, pequenos negócios,
oferta de trabalhadores, segurança. Tudo isto correspon-
de a uma perda econômica real. Não vejo argumento
de maior peso, capaz de sensibilizar mais os que tomam
decisões. No entanto, nada. Talvez porque só se perce-
be e avalia o que aconteceu depois de totalmente acon-
tecido, quando já não há mais volta.
Espaços centenários ou bicentenários são substituídos
sem parar nas cidades brasileiras. Suportavam bem to-
do tipo de uso. Os novos são inferiores, mesmo no ca-
so excepcional de serem bem desenhados. A razão é
simples: excluem a mistura, especializam, isolam e tor-
nam as variações difíceis. Há situações mais graves,
quando, onde antes havia quarteirões e bairros carre-
gados de vitalidade, são criados apenas vazios e esta-
cionamentos.
As áreas imediatamente periféricas aos centros das ci-
dades grandes foram as maiores vítimas. Teorias de ur-
banismo, pouco testadas, ajudaram a implantar uma po-
lítica de terras arrasadas. Imaginava-se que, abrindo cla-
ros, a pujança e a valorização de núcleos hiperconges-.
tionados iriam se alastrar. Crença ingênua, pois as leis
do crescimento urbano não correspondem à dos vege-
tais no trópico. Apenas surgiram estoques de baldios,
favoráveis a complicadas obras no sistema viário, que
atraíram maior número de veículos para o centro. Os
vazios, provocados através de demolições e alterações
completas dos tecidos urbanos, favoreceriam a expan-
são imobiliária com os conseqüentes acréscimos nas
densidades e as mudanças do uso do solo.
R1
ensaio &.pesquisa
As lógicas que presidem o crescimento das cidades são ~
outras. O Brasil viu uma coleção de fracassos urbanos tf
a partir de expectativas que não se cumpriram. A vio-
lência das intervençõescriou valores concentrados mui-
to altos. A solvabilidade é lenta. O capital especializa-
do não se motivou. Preferiu investir em lugares onde
externalidades já existentes e demanda social efetiva
garantiam lucros mais rápidos. Resultado: centros
cheios de "zonas cinza" e "brancos", perigosos e con-
taminadores, ótimos exportadores de decadência para
tudo o que estiver em volta.
O Rio de Janeiro, desde o início do século, se constitui
em um triste exemplo. Sofreu tantas experiências e pa-
rece que ninguém se dispôs a aprender com elas! A ave-
nida Presidente Vargas, aberta nos anos 30, ainda está
cheia de terrenos desocupados. No mesmo período, ali,
bem juntinho, a Rio Branco se "renovava" sem parar.
Como e por que o contraste e o paradoxo? Antes que
alguém buscasse respostas, foram desenhados e exe-
cutados projetos ameaçadores para os bairros circun-
vizinhos: Lapa, Catumbi, Estácio, Cidade Nova, Man-
gue, Zona Portuária ... Alguns desses IU:;Jaresdeixaram
de existir, foram apagados não só do mapa, mas tam-
bém da vida afetiva, social e econômica de milhares de
cariocas. A justificativa não deixa de ser terrível: não
prestavam mais; compensava eliminá-Ias. Lá havia ri-
quezas arquitetônicas, simbólicas e materiais (parece
que estas pelo menos deviam ser mais comoventes na
nossa cultura ...). Foram declaradas desimportantes. No
seu lugar existem agora hectares e hectares de esta-
cionamentos e arremedos de auto-estradas. Para não
ficar de rodeios, é pouco. É nada, se comparado com
o que havia antes.
Vinte anos de observação profissional das mais notá-
veis cidades brasileiras enchem-me de melancolia. O Rio,
Belo Horizonte, Salvador, São Paulo... só podia ter sido
assim? Deve ser a pergunta que todos os meus com-
patriotas, especialistas ou não, devem fazer, desde que
gostem de cidades. Passados os delírios do desenvol-
vimento, da construção do futuro a qualquer preço, já
podemos fazer o balanço dos preços que pagamos de
verdade. Um dos mais altos foi a alienação e a indife-
rença em relação aos ambientes onde se passa a vida
da maioria. Já somos 70% de brasileiros urbanizados.
Destes, dois terços têm de usar juntos uns poucos cen-
tros e aglomerações (não mais do que cinqüenta). Apos-
to que, em quase todos, houve retrocessos: o espaço
está pior, a habitação mais precária, os transportes mais
deficientes, os serviços mais elitizados ...
fi?
Considero os núcleos, as áreas de maior concentração
e movimento das grandes cidades, os casos mais dra-
máticos. Verticalizados em alguns pontos, cheios de re-
mendos desfiguradores do tecido urbano, transforma-
dos em desnorteantes colchas de retalhos ... e envolvi-
dos por escombros, vazios e bairros antigos cuja deca-
dência é provocada. O pior mesmo são os vazios, ruins
em todos os sentidos. Até porque excitam os governan-
tes, sempre ansiosos por preenchê-Ios com as obras
faraônicas que tanto nos deliciam. Não sou um conser-
vacionista rançoso e reacionário. Isto contraditaria mi-
nhas opiniões sobre o que mantém as cidades vivas,
sobre a mistura, a complementaridade e o mercado de
todos os intercâmbios possíveis. Cidades, com as hu-
mildes necessidades do dia-a-dia, com as negociações
milimétricas que têm de sustentar, podem e devem ser
constituídas por contra pontos e descontinuidades. En-
tendo a excepcionalidade, a sacralidade mesma do mo-
numento. Ele, porém, só cumprirá bem a sua função se
resultar de um diálogo entre os que estão no poder e
a massa dos cidadãos. Tal harmonia já existiu em de-
terminados níveis da representatividade urbana brasi-
leira.
Nos centros coloniais, carregados de religiosidade, igre-
jas de ordens, capelas, oratórios faziam as vezes de mar-
cos que. continuando o casario homogêneo, quebravam-
lhe o ritmo. Preenchiam os vazios, conferiam dramati-
Basta virar a esquina em
avenidas de maior
movimento para encontrar
casarões em uso.
Teorias de urbanismo.
pouco testadas. ajudaram a
implantar uma política de
terras arrasadas.
cidade a espaços. Sobrepunham-se a fundos que se es-
truturavam para e a partir de sua diferença. Explicavam
~e aliviavam as monotonias da igualdade. Perdeu-se tal
ciência. Ela anda ausente das modernas realizações do
'urbanismo brasileiro, cheias de evocações individualis-
tas e desagregadoras. Soluções egoístas, que apostam
no divórcio e que não querem saber de nada de dife-
rente por perto de cada edificação, tornada um mundo
isolado, uma mensagem magnífica por si mesma. Bra-
sília ou a avenida Chile no Rio são assim.
Renovação urbana só é aceitável se feita em ritmo pau
latino. Se respeitar o timing da simbiose espaço/popu
lação/atividades compatíveis. O mesmo poderia dizer
a respeito de preservação. Para falar a verdade, com o
respeito devido às nossas Ouros Pretos e Paratis, prefi-
ro ver as cidades fora do boião de formol, correndo os
riscos que, mais cedo ou mais tarde, teremos de enten-
der como nossos riscos. Conheço alguns casos onde
se realizaram, sem estardalhaço, os melhores sonhos
dos técnicos do Patrimônio Histórico. Como, por exem
pio, em um restinho de rua que sobrou da demolição
do bairro do Catumbi, no Rio, e que chamávamos d
a rua azul. Aí, em duas quadras fronteiriças, havia cor
reres de casas que foram sendo reconstruídas durant
mais de 150 anos. Edifícios térreos que foram ganhan
do acréscimos, águas-furtadas, segundos e terceiros a
dares. Em alguns pontos as fachadas foram modifica
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das: frontões acrescentados, ornamentos art-nouveau,
geometrismos art-déco, perqulados modernos. Não era
incomum que nas partes superiores aparecessem esti-
los ao gosto dos anos 50 e 60. O que era extraordiná-
rio é que os ritmos se preservaram. Onde havia arcos
de portadas de granito embaixo, se fazia uma varanda
com arcos de alvenaria por cima. Onde corriam mol-
duras e platibandas, elas eram repetidas em versões
atualizadas. Os cheios e vazios eram renovados ou re-
produzidos, mantidas as proporções de antes. Sendo
as paredes mais velhas revestidas de azulejos azuis e
brancos, o padrão foi perpetuado através do tempo.
Quem teve menos recursos pintou nessas cores. Quem
pôde mais usou azulejos mesmos, incluindo prosaicos
azulejos de banheiro e cozinha. O resultado é bonito,
comovente. Os moradores conseguiram manter o "es-
pírito" de sua rua, sem deixar nunca de lhe dar contri-
buições. Como o fizeram? Vivendo nela e gostando do
que possuíam. Eram todos descendentes de açorianos,
alguns há cinco ou seis gerações no Brasil. Faziam a
sua festa do Divino durante quarenta dias, todos os
anos. Memória, festa, casa, rua, família, vida armavam
um campo único de significados.
É pena que, em geral, quando se pensa em "preservar"
uma área urbana qualquer, tudo o que se invente logo
implique tirar aquela gente pobre que está lá, encardindo,
incomodando. Ninguém pensa que seções inteiras de
nossas cidades não estariam aí, em pé, se não fossem
usadas por hoteizinhos, oficinas, lojinhas, prostitutas,
bares, depósitos, manufaturas, clubes e associações,
cabeças-de-porco ... Pardieiros sim, mas vivos, funcio-
nando. Se alguém quiser saber a diferença, deixe uma
casa nova em folha vazia, sem uso nenhum por uns cin-
co anos. Virará uma ruína. Temos de agradecer, portanto,
às camadas mais pobres. Há quase duzentos anos são
os maiores guardiães do nosso patrimônio. Já é tempo
li
Corredor Cultural
Projeto de Revitalização de
Quarteirão (autor: arquiteto
Augusto Ivan Freitas
Pinheiro).
1
~ liF
de tentar retribuir-Ihes o favor, dignificando os espaços
em que vivem e trabalham, sem espoliá-los,
As soluções possíveis são muitas. No Brasil quase to-
das são apenas hipóteses. Um bom caminho seria o uso
do estatutoda preservação ambiental. Este instrumento
seria um desafio para os urbanistas que deveriam bus-
car propostas físicas, jurídicas e fiscais que harmoni-
zassem sítios e edificações preexistentes com novas
obras. Usando a preservação ambiental, teriam de le-
var em consideração os laços entre os espaços e as ati-
vidades econômicas e sociais que já suportam, antes
de pensar no que se deseja para o futuro. Teriam, por-
tanto, de observar com cuidado como é a vida onde que-
rem intervir e entrar no seu fluxo. Isto significa enorme
contato com moradores e usuários, esclarecendo-os, le-
vando-os a descobrir e cultivar os valores do lugar, per-
mitindo que participem das decisões.
Uma última observação: todos sabem que nossos pro-
blemas habitacionais são sérios. As tentativas oficiais
de resolver a moradia dos mais pobres e mesmo da clas-
se média levaram a um impasse. As cidades estão cheias
de bairros velhos que constituem um excelente esto-
que, na maioria dos casos em uso. Destruí-Io equivale
a destruir riqueza, prática absurda em um país onde nem
sequer são produzidas casas suficientes para atender
ao acréscimo da demanda. Arquitetos e engenheiros po-
dem encontrar nesse campo terreno fértil para experi-
mentações. Palacetes e mansões podem ser desmem-
brados internamente como edifícios de apartamentos.
Casinhas mínimas podem ser intercomunicadas, segun-
do padrões não convencionais, resultando unidades
maiores. Vilas e avenidas particulares podem ser rea-
bilitadas. Os pátios internos podem ser desimpedidos,
virando praças públicas ou semipúblicas, integradas ao
desenho do bairro, servindo a atividades de trabalho e
de lazer. Naturalmente juristas e financistas terão tam-
bém de contribuir para resolver os problemas de pro-
priedade, de empréstimos, de relações entre senhorios
e inquilinos ... E os governos municipais e estaduais te-
rão de estar muito dispostos. Existem experiências exi-
tosas no estrangeiro que podem servir de exemplo, Aqui
mesmo já foram tentadas algumas.
O gue disse a respeito de habitação também sé aplica
a outros fins. Há usos institucionais que cabem muito
bem em edifícios ou quarteirões recuperados. Secreta-
rias, institutos, universidades ...Ah, se, em lugar dos iso-
lados e inviáveis centros administrativos e cidades uni-
versitárias de que nossas capitais estão cheias, tivés-
semos as unidades soltas, entremeadas com outras
construções em bairros velhos que valesse a pena con-
servar! Desde que haja cuidado em não criar guetos,
é ótimo conjugar muitos usos (trabalho, lazer, residên-
cia) em uma única área. O que é de todo indesejável
é que as soluções urbanísticas sempre gerem conflito,
agridam a paisagem e a arquitetura remanescente de
outras épocas e prejudiquem a população. Que sejam,
em suma, violências, produtos bem ou mal-intenciona-
dos de insensibilidade cultural. •
Nota - Agradeço as idéias e sugestões do arquiteto Augusto lvan de
Freitas Pinheiro. cujo excelente trabalho no Corredor Cultural no Rio
de Janeiro é um exemplo do que deveria ser feito no centro das gran-
des cidades.
Carlos Nelson F. dos Santos formou-se pela Universidade do Brasil. em
1966. É mestre em antropoloqia social e doutor em planejamento ur-
bano.. Atualmente é chefe do Centro de Pesquisas Urbanas do Institu-
to Brasileiro de Administração Municipal e professor.da Universidade
Federal Fluminense.
"Célebre personagem que surge na sociedade alemã do século XIX,
já adulto, sem ter sido devidamente socializado. A procedência desco-
nhecida e a falta de domínio dos códigos de comportamento criam em
torno -dele um clima insuperável de desconfiança e mal-estar.
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