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Lingua e Liguagens na Comunicação

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LÍNGUA E LINGUAGENS 
NA COMUNICAÇÃO 
 
 
Professor: MENGARDA, Elias José. 
Dr. em Linguística 
 
 
 
 
 
 
 
 
Frederico Wesphalen – RS 
2013
2 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO................................................................................................... 05 
 
1 LÍNGUA PORTUGUESA: ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO .......................... 06 
1.1 Ensino de língua portuguesa................................................................................................07 
1.2 Aquisição da língua materna.............................................................................................. 07 
1.3 Opção política e sala de aula............................................................................................... 07 
1.4 Vamos praticar.................................................................................................................... 09 
 
2 LÍNGUA PORTUGUESA – DESENVOLVER COMPETÊNCIAS.......... 09 
2.1 Níveis linguísticos ................................................................................................................ 11 
2.2 Como se estabelece a norma culta ..................................................................................... 11 
2.3 Constituição da língua e o processo de variação .............................................................. 12 
2.4 Língua - modalidade oral e escrita .....................................................................................13 
2.5 Por que se deve estabelecer uma norma culta ................................................................. 15 
2.6 Em busca de uma definição da norma padrão e norma culta ........................................ 16 
2.7 Vamos praticar ....................................................................................................................19 
 
3 A ESCRITA NUM PAÍS DE CULTURA ORAL .....................................19 
3.1 A gramática e a produção escrita ...................................................................................... 19 
3.2 Atividades e discussão ........................................................................................................ 23 
3.3 Leitura e interpretação de texto ........................................................................................ 27 
3.4 Vamos praticar.................................................................................................................... 29 
 
4 SIGNO LINGUÍSTICO .............................................................................. 32 
4.1 Interpretar é ativar conhecimentos de várias naturezas..................................................34 
4.2 Trabalho com o significante................................................................................................35 
4.3 Significação: sentido, significado e referência...................................................................41 
4.3 Vamos praticar ................................................................................................................... 41 
 
5 TEXTUALIDADE E ESTILO: FUNÇÕES DA LINGUAGEM................ 42 
5.1 Vamos praticar ................................................................................................................... 47 
 
6 TEXTO E TEXTUALIDADE: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO............ 49 
6.1 Denotação e Conotação....................................................................................................... 49 
6.2 Vamos praticar.................................................................................................................... 51 
 
7 LINGUAGEM LITERÁRIA: FIGURAS DE LINGUAGEM .................. 56 
7.1 Leitura e interpretação de texto: O Carteiro e o Poeta....................................................57 
7.2 Vamos praticar.................................................................................................................... 59 
7.3 Leitura e intepretação de texto: O Brasil é um Guepardo...............................................61 
7.4 Leitura e interpretação de texto: O Cururu..................................................................... 63 
3 
 
 
 
7.5 Vamos praticar.....................................................................................................................65 
 
8 PRODUÇÃO DE TEXTO: INTERTEXTUALIDADE ............................... 64 
8.1 Vamos praticar.................................................................................................................... 65 
 
9 TEXTO E TEXTUALIDADE ..................................................................68 
9.1 Fatores de textualidade .......................................................................................................68 
9.2 Estrutura e organização textual..........................................................................................71 
9.3 Coerência textual .................................................................................................................72 
9.4 Coerência, coesão e contexto discursivo...........................................................................73 
9.5 Texto: O Perigoso Vírus ......................................................................................................73 
9.6 Vamos praticar.....................................................................................................................74 
 
10 GÊNEROS TEXTUAIS .......................................................................... 78 
10.1 Gênero textual, tipo textual e domínio discursivo ......................................................... 79 
10.2 Gêneros textuais como sistema de controle social ......................................................... 81 
10.3 Gêneros textuais emergentes ........................................................................................... 81 
10.4 Vamos praticar ................................................................................................................. 89 
 
11 NARRAR, DESCREVER, DISSERTAR, ARGUMENTAR ................90 
11.1 Tipologia textual ............................................................................................................... 90 
11.2 Categorias do gênero narrativo ....................................................................................... 91 
11.3 Elementos do gênero narrativo ....................................................................................... 92 
11.4 Tipos de discurso .............................................................................................................. 94 
11.5 Protagonista e antagonista................................................................................................ 97 
11.6 Vamos praticar.................................................................................................................. 98 
 
12 DESCRIÇÃO LITERÁRIA ............................................................................................... 99 
12.1 Vamos praticar ............................................................................................................... 102 
 
13 GÊNERO CONTO .....................................................................................108 
13.1 Conto: Uma Vela para Dario – Dalton Trevisan ......................................................... 111 
13.2 Vamos praticar ............................................................................................................... 112 
13.3 Análise do conto: A Tentação de Clarice Linspector....................................................115 
13.4 Conto: À Margem do Rio – Dalton Trevisan ............................................................... 117 
13.5Vamos praticar ................................................................................................................117 
 
14 TEXTO DISSERTATIVO/ARGUMENTATIVO ................................118 
14.1 Dissertação objetiva e subjetiva .....................................................................................119 
14.2 Vamos praticar.................................................................................................................120 
14.3 A retórica e os tipos de argumentação ...........................................................................122 
14.4 Vamos praticar................................................................................................................ 124 
 
4 
 
 
 
15 LINGUAGEM JORNALÍSTICA (I) ......................................................... 132 
15.1 Poema tirado de uma notícia de jornal..........................................................................132 
15.2 Vamos praticar ............................................................................................................... 132 
 
 
16 LINGUAGEN JORNALÍSTICA (2)...........................................................133 
16.1 Notícia, reportagem, editorial.........................................................................................133 
16.2 Gênero notícia...................................................................................................................134 
16.3 Gênero crítica...................................................................................................................140 
16.4 Vamos praticar.................................................................................................................140 
16.5 Gênero crônica..................................................................................................................145 
16.6 Vamos praticar.................................................................................................................145 
 
17 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL ...............................................................................152 
17.1 Ofício .................................................................................................................................152 
17.2 Requerimento ...................................................................................................................153 
17.3 Declaração ........................................................................................................................154 
17.4 Ata .....................................................................................................................................155 
17.5 Memorando ......................................................................................................................156 
 
18 EMPREGO DA CRASE ...................................................................... 158 
 
19 EMPREGO DA VÍRGULA...................................................................171 
 
20 ANEXOS..................................................................................................176 
 
21 BIBLIOGRAFIA ................................................................................... 177 
 
 
 
5 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Os estudos acerca da língua e da linguagem nos cursos de Comunicação como 
Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade devem enfatizar não apenas o sistema linguístico, 
mas, sobretudo, a dimensão discursiva. Assim sendo, é objetivo deste caderno didático 
apresentar aos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade subsídios que articulem 
estudos sobre o sistema linguístico e as práticas discursivas da comunicação humana. 
 Todos os capítulos, mesmo aqueles que apresentam um caráter mais teórico, orientam 
tarefas e sugestões para a prática do domínio gramatical e discursivo. A abordagem na 
perspectiva discursiva tem o objetivo de transformar o ensino de Língua Portuguesa e quebrar o 
seu caráter excessivamente normativo, em que muitas vezes se transformou a aula de Português. 
Ou seja, ao enfatizar-se demasiadamente aspectos gramaticais, foram esquecidas outras 
dimensões consideradas fundamentais como as práticas e reflexões a partir de uma perspectiva 
não-referencial da língua como a pragmática e a semântica. 
O graduando do curso de Comunicação Social: Jornalismo, Relações Públicas e 
Publicidade Propaganda tem a necessidade de desenvolver múltiplas habilidades linguísticas tais 
como a proficência leitora, a fluência na expressão oral e a escrita criativa. A prática de 
produção de texto deve ser um exercício constante de aprimoramento não apenas por exigências 
acadêmicas, mas como exercício ativo da cidadania e de afirmação da qualidade do profissional 
que vai inserir-se no mercado de trabalho. 
 
O poeta faz-se aos 10 anos, 1973 
 
 
―...poesia é a beleza e o sentido das coisas e de nós próprios. É uma maneira de olhar o mundo. É uma 
forma de atenção a tudo. Ela pode estar em toda parte: nós, às vezes, é que não estamos atentos a ela, só 
porque passamos por ela, distraídos. E outras vezes estamos atentos e a encontramos [...] mas não a 
sabemos escrever. Encontrá-la já é maravilhoso. E escrevê-la? Que difícil é o caminho da escrita! Tentar 
ir à raiz das coisas. Fugir do repetido, do habitual, do ―já sabido‖. [...] É preciso sentir a alegria de 
escrever‖. 
Fonte: COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análisem didática. 1. ed. São Paulo: 
Moderna, 2000. 
 
 
6 
 
 
 
1 A LÍNGUA PORTUGUESA – ÚLTIMA FLOR LÁCIO INCULTA E BELA 
 
 
 A língua portuguesa falada no Brasil difere da Língua Portuguesa falada em Portugal 
em muitos aspectos, dentre os quais destacam-se diferenças de léxico, do emprego pronominal 
e de pronúncia. 
 
No Brasil, a língua portuguesa também varia de região para região. Sabemos que a 
norma culta é a variedade linguística falada pelas elites, enquanto a norma popular é a variedade 
linguística utilizada pelas classes populares com pouca ou quase nenhuma escolarização. 
 
O que é ensinar Língua Portuguesa num país de contrastes socioculturais, econômicos e 
linguísticos acentuados como o Brasil? Prestemos atenção à preocupação do poeta Carlos 
Drummond de Andrade: 
 
 
AULA DE PORTUGUÊS 
 
 
A linguagem 
Na ponta da língua, 
tão fácil de falar 
e de entender. 
 
A linguagem 
Na superfície estrelada de estrelas, 
Sabe lá o que ela quer dizer? 
 
Professor Carlos Góis, ele é que sabe, 
e vai desmatando 
o amazonas de minha ignorância. 
Figuras de gramática, esquipáticas, 
Atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me. 
 
Já esqueci a língua em que comia, 
Em que pedia para ir lá fora, 
Em que levava e dava pontapé, 
A língua, breve língua entrecortada 
Do namoro com a prima. 
O português são dois; o outro, mistério. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
 
Sabemos que o ensino centrado demasiadamente na gramática como um fim em si 
mesmo criuo a falsa ideia de que aprender de fato a língua portuguesa era (ainda é?) um 
privilégio reservado para poucos. Conclusão: não são poucos os alunos que, de maneira geral, 
7 
 
 
 
passaram a demonstrar uma certa aversão ao ensino da língua portuguesa. Uma prova dessa 
constatação é que muitos alunos terminam o ensino médio apresentando resultados abaixo da 
crítica em produção de texto na prova de redação nos vestibulares e no ENEM. 
 
A fraca performance nas competências, consideradas fundamentais em todas as áreas do 
conhecimento (disciplinas curriculares), tais como a proficiência leitora, a compreensão e a 
interpretação de textos e a escrita contribui para o estado crítico da educação brasileira de modo 
geral. Além disso, deve-se considerar a difusão do preconceito social promovidopela própria 
escola ao desvalorizar os dialetos considerados desprestigiados. 
 
Devemos esclarecer que o preconceito linguístico atribui aos dialetos de menor prestígio 
o rótulo de ―errados‖ e, por conseguinte, quem os utiliza é considerado cidadão de segunda 
classe. Este tipo de equívoco é considerado grave, sobretudo nas séries iniciais, pois, os 
professores ao não considerarem o background cultural e linguístico da criança, acabam por 
promover uma ruptura entre a escola e a realidade do aluno. 
 
 Se do ponto de vista da Linguística não existe o ―certo ou o errado‖, como podemos 
implementar e projetar uma pedagogia criativa da Língua(gem) sem descurar, evidentemente de 
todas as normas que caracterizam um bom texto, ou, enfim, o bom uso da língua? A orientação 
pedagógica mais aceitável é explicar aos alunos que existem ambientes diferenciados (casa, 
trabalho, clube, sala de aula, etc.) e os falantes devem adequar-se linguística e socialmente a 
eles. 
 
Assim sendo, o acadêmico deve qualificar-se para o bom uso da lingua(gem) como meio 
de ascensão social e de exercício profissional. Dominar a norma culta seja na modalidade oral 
ou escrita é um fator importante para todas as pessoas, sobretudo, para os profissionais 
(médicos, advogados, professores, jornalistas, engenheiros, etc.) de todos os níveis que atuam 
com públicos especializados. 
 
 O entendimento do conceito de democracia social pressupõe garantia de acesso aos 
conhecimentos linguísticos necessários para a cidadania, o reconhecimento do acadêmico como 
cidadão e, portanto, a valorização de seus conhecimentos prévios (cultura, linguagem, 
experiências de vida diversas) é fator fundamental para o pleno desenvolvimento do ensino de 
língua portuguesa. 
 
 Cabe à escola e à universidade enfrentar os preconceitos linguísticos, orientando o 
respeito à diferença e libertando-se de mitos, tais como acreditar que existe apenas uma forma 
única de se falar. 
 
 
8 
 
 
 
1.2 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA(GEM) 
 
 
A aquisição da língua materna ocorre de forma implícita ou incidental durante o seu 
processo de desenvolvimento da criança. Os adultos ao interagirem com a criança não têm uma 
preocupação explícita em ensinar a língua materna. Objetivamente não se ensina a criança a 
falar determinada língua; ela a aprende por conta própria, por ter nascido já com pré requisitos 
genéticos e biológicos para tal, além de estar em contato com o seu ambiente social natural. 
 
Portanto, a partir da inserção num determinado ambiente social aprendemos uma 
determinada variedade linguística, isto é, aquela a qual estamos expostos. As crianças que falam 
dialetos desvalorizados (desprestigiados) são tão capazes quanto as que falam dialetos mais 
prestigiados. Os professores das séries iniciais devem estar atentos para a riqueza de expressão 
de seus alunos e ajudar a desbloquear aqueles que têm medo de se expressar. Dar a palavra 
àquele que tem dificuldade de se expressar é ajudá-lo a se libertar de seus medos e inseguranças. 
 
Muitos de nós, adultos, ainda nos sentimos reféns do medo de expressar-se em público, 
do medo de perguntar, do medo de participar dos debates em classse ou fora dela. Fomos 
―educados‖ para o silenciamento em salas disciplinadas de modo autoritário. 
 
Deve-se ter a compreensão de que o bom nível de utilização da língua está ligado às 
práticas de leitura, de escrita intensiva e da prática da expressão oral. O bom domínio da língua 
permite a melhor articulação das idéias, a argumentação coerente e a estruturação de textos com 
coerência e coesão. 
 
 
1.3 TEXTO, IDEOLOGIA E SALA DE AULA 
 
 
 Sabemos que a universidade não é neutra em relação ao sistema social. Do mesmo 
modo, também os textos têm intencionalidades explícitas e implícitas. De acordo com Koch e 
Travaglia (1990, p. 65) o texto assemelha-se a ―um iceberg, ou seja, a dimensão que fica à tona, 
ou o que está explicitada no texto. Existe também uma parte do texto que está submersa, isto é, 
implícita, não dita de modo explícito‖. É preciso ir além do sentido literal da palavras. Compete, 
portanto, ao receptor (destinatário ou enunciatário) ser capaz de atingir os diversos níveis das 
práticas discursivas, se quiser alcançar uma compreensão mais profunda do texto que ouve ou 
lê. 
 
É importante que o professor tenha consciência ―do que faz e porque o faz‖ quando se 
trata de ensino da língua. As questões a seguir são cruciais para todos os que estão 
comprometidos com uma visão de educação que capacite os alunos para uma aprendizagem 
eficiente: 
 
a) Para que ensinamos o que ensinamos? 
 
b) Para que universitários aprendem o que aprendem? 
9 
 
 
 
 O ensino da língua portuguesa deve buscar desenvolver não apenas a habilidade de 
compreensão de discursos e de reflexão, mas incentivar também o acadêmico a produzir, 
debater e difundir idéias. Para tanto, precisa descobrir na leitura, a fonte de confrontação com o 
que pensa e o que outros autores propõem. É preciso aprender a observar a realidade e a 
interpretá-la criticamente. 
 
Como a linguagem verbal possui estrito vínculo com o pensamento, e, por isso, não pode 
ser compreendida sem a sua relação com uma situação concreta de enunciação, as atividades 
propostas pelo professor devem contemplar as diversas situações sociocomunicativas a que o 
acadêmico é (ou será) exposto em sua vida cotidiana, científica, profissional de modo a 
viabilizar-lhe o acesso ao universo de textos que o circundam, inclusive de outras disciplinas. 
 
Disso decorre com particular importância, a abordagem, em sala de aula, dos diferentes 
tipos de gêneros discursivos existentes na sociedade, trazendo para o estudo da língua 
portuguesa a realidade quanto ao seu uso: o seu domínio será finalmente, contextualizado à 
possibilidade de participação social, de acesso à informação e de expressão e defesa de pontos 
de vista, cumprindo assim o papel fundamental da educação. 
 
A seleção de bons textos (literários, jornalísticos, científicos, etc.) para os acadêmicos, 
será decisiva para o alcance de um ensino satisfatório da Língua Portuguesa de modo a 
despertar-lhes a vontade em buscar a aquisição e a produção de conhecimento em nível sempre 
mais avançado. 
 
 
 
1.4 Vamos praticar 
 
 
1) Por que o ensino de Língua Portuguesa centrado na gramática tradicional não 
produziu resultados melhores em relação às competências linguísticas (fala, recepção, leitura e 
escrita)? 
 
2) Descreva como foi sua experiência com a Língua Portuguesa nos tempos de escola? 
 
3) Que tipo de contribuições o estudo da língua portuguesa pode nos proporcionar? 
Comente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
2 LÍNGUA PORTUGUESA: DESENVOLVER COMPETÊNCIAS 
 
 
 O esquema a seguir ilustra uma abordagem que leva em conta o desenvolvimento das 
múltiplas competências linguísticas de que o ser humano é dotado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oral 
Expressiva 
Leitura ESCRITA 
 
Oral 
Receptiva 
PRINCÍPIOS DA LINGUAGEM TOTAL 
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM: 
COMPETÊNCIAS 
ESCUTA FALA LEITURA ESCRITA 
DESENVOLVER A LINGUAGEM NA SUA 
DIMENSÃO INTEGRAL 
11 
 
 
 
2.1 Níveis linguísticos 
 
 
Quando definimos a língua como um conjunto de variedades, entende-se que a língua 
pode ser subdividida em vários níveis, tais como: coloquial, popular, culto ou padrão. A seguir, 
vamos analisar e descrever como a literatura define a norma padrão e a norma culta do 
português escritodo Brasil e os desafios em encontrar uma pedagogia de ensino da língua que 
supere os modelos inspirados no prescritivismo e/ou no normativismo. 
 
Se entendermos a língua como um conjunto de variedades, então, estamos diante de 
opções de uso linguístico que o falante realiza nos diversos contextos sociocomunicativos e 
socioculturais nos quais estiver inserido e que são considerados válidos. 
 
No entanto, pela força da tradição gramatical passa-se a acreditar que a língua é uma 
realidade uniforme, homogênea e que não pode ser violada, conforme canta Lulu Santos em sua 
música ―Assassinaram a Gramática‖. Nesta perspectiva depreende-se que existam falantes que 
falam uma língua considerada correta e outros que a falam de forma incorreta. 
 
Essa concepção que gera ―confusão‖ advém da própria dinâmica da língua em suas 
instâncias oral e escrita que, em termos pedagógicos, nem sempre é compreendida mesmo por 
educadores. Há professores que dizem aos alunos que se deve falar o português da forma mais 
correta possível, mas, eles próprios, traem-se quando interagem em ambientes em que os usos 
formais são exigidos, esquecendo que são portadores de sua variedade. Portanto, estamos diante 
de um fato que é mais político do que pedagógico e que remete a um tipo de modelo de ensino 
que produz e reproduz práticas de ensino excludentes e/ou reducionistas. 
 
Quando afirmamos que a língua é um conjunto de variedades deve-se entender a 
realização dos atos de fala em suas variantes fonéticas, morfológicas, lexicais e/ou sintáticas. As 
realizações linguísticas diversificadas devem-se à procedência geográfica do falante, classe 
social, tempo de escolaridade e o tipo de relação que mantém com a escrita. Nesse sentido, 
pessoas com níveis de escolarização mais ou menos avançados, ou que costumam ler e escrever 
com certa frequência, terão desempenhos tanto em nível de oralidade quanto de escrita 
certamente diferenciados. 
 
Além disso, deve-se considerar a situação da fala, isto é, que circunstâncias envolvem a 
produção dos enunciados nos contextos de comunicação ou situações sociocomunicativas 
demandadas pelos interlocutores. 
 
 
2.2 Como se estabelece a norma culta 
 
Num contexto tão assimétrico do ponto de vista da formação social do povo brasileiro, 
de que forma vai estabelecer-se uma língua considerada padrão ou culta? Por que a 
configuração de uma norma padrão é necessária para uma nação subsistir como estado 
soberano? 
 
12 
 
 
 
Se do ponto de vista político é fundamental estabelecer uma norma padrão como 
requisito de unidade e de comunicabilidade entre os habitantes de uma nação, é possível criar 
uma prática pedagógica democrática do ponto de vista político-pedagógico e sociolinguístico? 
Para tanto, que critérios devemos considerar para que determinada variedade linguística seja 
eleita a modalidade padrão num país continental como o Brasil? E a escola diante desta 
pluralidade de vozes, de sotaques e de dialetos como pode desempenhar o seu papel sem correr 
o risco de adotar práticas de ensino excludentes? 
 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam que o objetivo das aulas de Língua 
Portuguesa é ensinar o português-padrão e que a reflexão sobre a gramática da língua deve 
incidir sobre as estruturas da língua e os mecanismos que definem o seu funcionamento em 
situações reais de interação. 
 
A título de ilustração, se abordarmos o estudo dos verbos observaremos que o paradigma 
tradicional da flexão verbal sofreu alterações, no entanto, continua sendo apresentado na 
maioria dos livros didáticos sem que sejam feitas referências às inovações morfológicas já 
fartamente documentadas pelas pesquisas na área da sociolinguística. Quando o aluno é 
solicitado a estudar os verbos, conforme ensina a gramática normativa, observa que nem tudo o 
que é explicitado subsiste nos seus usos diários. Ele constata que há uma distância considerável 
entre o ―escrito‖ e o que as pessoas praticam no dia a dia em sua ―fala‖. O aluno fica mais 
impactado ainda, diante de construções pronominais em que os pronomes ora aparecem como 
enclíticos, proclíticos ou mesoclíticos produzindo-se ocorrências raras como nos casos que 
seguem: ―Prometer-te-ei uma surpresa‖, ou ―Te prometi uma surpresa‖. 
 
Duas orientações ajudam a resolver as eventuais dificuldades com relação à colocação 
dos pronomes oblíquos átonos (me, nos, te, vos, se, o(s), a(s), lhe(s). Essas formas pronominais 
sempre se juntam a um verbo. Dependendo da situação, podemos encontrá-los em três posições 
diferentes: a) Próclise (antes do verbo): - ―Amanhã te entregarei a encomenda‖. b) Mesóclise 
(intercalado no verbo): - ―Entregar-te-ei a encomenda amanhã‖ e c) Ênclise (depois do verbo) - 
Entrego-te a encomenda, amanhã‖. 
Preste atenção a essas duas orientações: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na norma culta, não é válido iniciar oração com pronome átono. A próclise é 
sempre correta, desde que, antes do verbo, não haja pausa (silêncio, na fala; 
sinal de pontuação, na escrita). 
 
 
13 
 
 
 
Enquanto as pesquisas efetuadas pela Linguística demonstram com farta evidência, a 
variabilidade de usos linguísticos inovadores, as formas tradicionais continuam sendo 
veiculadas nos livros e exigidas pelos professores sem, muitas vezes, haver uma discussão 
crítica das hipóteses possíveis que são produzidas pelos usuários e porque elas não são aceitas 
pela gramática tradicional. 
 
 
2.3 A constituição da língua e o processo de variação 
 
 
A língua pode ser definida como ―um conjunto de variedades‖ (FARACO e TEZZA, 
2004, p. 10). As diversas normas que compõem os usos linguísticos ingressamos no campo da 
linguagem oral e escrita se realizam num contexto de variedades diatópicas (diferenças 
espaciais), diastráticas (diferenças sociais) e diafásicas, (particularidades estilísticas). 
 
Isto demonstra que a língua não é homogênea nem uniforme, conforme se depreende 
pela gramática tradicional. Segundo Azeredo (2008, p. 32), a gramática passa a ser uma 
―imagem construída ao longo de pelo menos vinte séculos, desde que os gregos e depois os 
romanos a conceituaram como a arte do uso correto da língua, segundo a prática dos bons 
autores‖. Passamos então a conceber a gramática como a prescrição de um modelo de língua e, 
de outro, a retórica, como um conjunto de preceitos para tornar a palavra um meio de 
convencimento, de persuasão e de sedução. A partir do século XIX, o estudo da língua passa a 
ter status de ciência com o surgimento da gramática histórico-comparativa. 
 
Ilari (1997) salienta que nos anos sessenta, quando a Linguística estabeleceu-se nas 
universidades brasileiras passou a produzir e a consolidar um volume crescente de pesquisas 
relacionadas à Língua Portuguesa que, progressivamente, foram repercutindo nas metodologias 
e abordagens teóricas relacionadas ao ensino da língua. 
 
 À medida que a Linguística se consolidou nas décadas de setenta e oitenta foram se 
desenvolvendo estudos na vertente sociolinguística a partir de Labov (1972, 1992, 2000), o qual 
estabeleceu como princípio consolidado que numa comunidade de fala são frequentes as formas 
linguísticas em variação. No Brasil, as pesquisas na linha da variação terão em Tarallo (1990, 
2001) um de seus representantes mais influentes. Desse modo, os estudos variacionistas 
passaram a inaugurar uma nova etapa na concepção de língua e de ensino, no Brasil. 
 
 
2.4 Língua: modalidade oral e escrita 
 
Scliar-Cabral (2003) explica que apesar de o sistema alfabético do português do Brasil 
ser o mesmo para todo o território, a conversão para os sons que uma ou mais letras (osgrafemas) representam não é a mesma para todos os indivíduos, isto por que eles não falam do 
mesmo jeito. 
 
Esta noção em compreender a variabilidade que afeta o sistema linguístico é 
fundamental para os educadores, sobretudo, para os que atuam nas séries iniciais. O 
14 
 
 
 
desenvolvimento de práticas de ensino em língua exige que os professores estejam conscientes 
que os falantes praticam as mais diferentes variedades, quer geográficas, quer socioculturais 
além de considerar que o Brasil, em determinadas regiões têm forte presença de descendentes 
italianos e alemães. 
 
Portanto, os educadores devem considerar que não se escreve da mesma forma que se 
fala. Como vemos entramos numa das dualidades mais complexas e dinâmicas do sistema 
linguístico a qual foi descrita por Saussure, considerando que o fenômeno linguístico, apresenta 
perpetuamente duas faces que se correspondem e, das quais, uma não vale, senão, pela outra. 
Trata-se da oposição social/individual, isto é, o que é ―fato da langue está no campo social e o 
que é fato da parole situa-se na esfera do individual‖ (CARVALHO, 1997, p. 61). 
 
Além disso, Saussure (2006) apresenta a langue como uma realidade psíquica formada 
de significados e imagens acústicas. A langue é o conjunto de hábitos linguísticos que permitem 
a uma pessoa compreender a fazer-se compreender. A langue de acordo com Saussure não está 
completa em nenhum indivíduo, existindo de modo completo somente na sociedade. Por outro 
lado, a parole apresenta-se multifacetada e heterogênea. A parole é um ato individual de 
vontade e inteligência, no qual convém distinguir: a) as combinações pelas quais o falante 
realiza o código da langue no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; b) o mecanismo 
psico-físico que lhe permite exteriorizar essas combinações. Em determinado momento 
Saussure declara que ―é a fala (parole) que faz a língua (langue) evoluir: são impressões 
recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos linguísticos‖. 
 
As pesquisas desenvolvidas na área da sociolinguística a partir de Labov (1972, 1993, 
2000) e, no Brasil, com Tarallo (1990, 2001), conseguiram mostrar que a política de ensino da 
língua necessitava de revisão profunda. Inúmeros trabalhos inspirados nesta perspectiva 
vislumbravam que as práticas de ensino da língua precisavam ser reformuladas. 
15 
 
 
 
 
Traços distintivos entre a modalidade oral e a modalidade escrita 
 
Modalidade oral 
 
 
Modalidade escrita 
 
Ocorre num ambiente de interação social, 
onde existe a co-presença dos enunciadores 
 
Não tem o apoio do ambiente da co-presença 
dos enunciadores 
 
Altamente dialógica 
 
Ato solitário 
 
Fragmentária 
 
Não fragmentária 
 
Incompleta 
 
Completa 
 
Pouco elaborada, com a presença de 
marcadores conversacionais (né?, então, daí), 
expressões coloquiais e gírias 
 
Completa 
 
Não planejada 
 
Planejada 
 
Predominância de frases curtas, simples ou 
coordenadas. 
 
Predominância de frases complexas, 
subordinação abundante 
 
Não editável 
 
Editável 
 
Quadro 1 – Traços distintivos entre modalidade oral e escrita 
 
 
2.5 Por que se deve estabelecer uma norma padrão 
 
Uma língua é um sistema abstrato reconhecível nos muitos usos, orais ou escritos, que 
seus falantes fazem dela. Azeredo (2008) assinala que os indivíduos concretizam esse sistema, 
seja como enunciadores, seja como destinatários, nas múltiplas situações de uso. Por isso, o uso 
da língua é, em princípio, um ato individual. Esses atos individuais são normalmente 
acontecimentos intersubjetivos, visto que se realizam na e para a comunicação entre indivíduos 
ou sujeitos, que precisam, para compreender-se, estar de acordo sobre o que significam os sinais 
que estão usando. 
 
Esse ―estar de acordo‖ refere-se à dimensão social e histórica da língua: social porque 
pertence a todos, e histórica porque é transmitida de geração a geração, através do tempo. O fato 
de pertencer a todos exerce sobre o uso uma pressão padronizadora, cujo efeito é a semelhança 
ou mesmo a identidade de uso entre os membros da mesma comunidade. Esse modo coletivo de 
usar a língua constitui uma norma, isto é, um conjunto de realizações fonéticas, morfológicas, 
lexicais e sintáticas produzido e adotado mediante um acordo tácito pelos membros da 
comunidade. 
16 
 
 
 
Para Faraco e Tezza (2004, p. 52) a norma padrão é o ―conjunto de formas consideradas 
como o modo correto, socialmente aceitável, de falar ou escrever. [...] a língua padrão na sua 
origem, é a língua do poder político, econômico e social‖. 
 
A política de se estabelecer uma língua padrão sugere que os cidadãos de um país 
precisam ter uma língua comum para poderem comunicar-se. Também implica uma questão de 
unidade nacional e o fator linguístico tem peso relevante. 
 
Com o surgimento dos estados nacionais após a debacle do feudalismo, observa-se que o 
componente linguístico é tratado como uma questão de segurança de estado. Dante Alighiere ao 
escrever a Divina Comédia o faz escolhendo um dos dialetos florentinos mais influentes da 
Itália, qual seja, o toscano. Deve-se ao genial escritor italiano a proeza de ter criado uma língua 
literária que se tornaria referência e padrão em toda a península. Se política e linguisticamente, 
a Itália era um estado altamente dividido, deve-se à obra de Dante a constituição de sua unidade 
linguística e literária. 
 
Na França foi o francês do norte que se sobrepôs ao provençal e franco-provençal; na 
Espanha, a força de Castela que repeliu os mouros ainda hoje convive com focos de resistência 
(Galiza, Catalunha). Estes exemplos servem para nos reportar ao caso de Portugal e Brasil que 
são considerados países unilíngues. Para o caso das variedades regionais do português europeu, 
Paiva Boleo prefere usar o termo ―fala‖ em vez de dialeto entendendo que as diferenças 
regionais são muito pequenas e não levam de modo algum à incompreensão. 
 
E para o caso do Brasil, podemos dizer a mesma coisa do que se diz do português 
europeu? O tipo de colonização que se estabeleceu no Brasil é uma das mais variadas do 
mundo. Aqui criaram-se colônias alemãs, italianas e japonesas em diversas regiões do país e 
em diferentes épocas. A política de nacionalização estabelecida pelo governo Vargas, em 1937, 
com a criação do Estado Novo passa a proibir as manifestações linguísticas, sobretudo as de 
origem alemã e italiana. 
 
Temos ao longo da história diversos exemplos de minorias oprimidas que lutam há 
décadas por sua autonomia política e territorial como o Tibet, na China; os Bascos, na Espanha; 
os curdos, na Turquia e Iraque; os palestinos, no oriente médio para citar apenas os mais 
divulgados pela imprensa. Portanto, o fator linguístico é o veículo de transmissão dos valores 
religiosos, políticos, econômicos e culturais de um povo. Se a língua de determinado grupo 
enfraquece, sua cultura também enfraquece comprometendo sua identidade ou sua existência 
como provo autônomo. 
 
 
2.6 Em busca de uma definição da norma padrão e norma culta 
 
Soares (1986) define norma-padrão culta, ou, simplesmente, norma culta como o dialeto 
a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio. Ou seja, trata-se do dialeto 
falado pelas classes sociais privilegiadas em situações de maior formalidade, usado nos meios 
de comunicação de massa (jornais, revistas, noticiários de rádio e televisão etc.), ensinado nas 
escolas e codificado nas gramáticas escolares. Ainda segundo a autora, excetuadas diferenças de 
17pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto-padrão sobrepõe-se aos dialetos 
regionais, e é o mesmo em toda a extensão do país. É então a partir da constituição deste modelo 
considerado padrão que se passa a avaliar os demais dialetos. 
 
Para compreender melhor a formação da variedade padrão é necessário entender o 
conceito de norma. Um determinado padrão que se repete numa comunidade resulta em uma 
norma. As normas podem ser características do uso de toda uma região (normas regionais), do 
uso de diferentes classes socioeconômicas (normas sociais), dos usos em família (normas 
familiares), dos usos típicos de certas profissões (normas profissionais), dos usos das gerações 
(normas etárias). 
 
O importante na conceituação de norma é o seu caráter coletivo e sua condição de 
modelo de uso, que os membros da comunidade seguem, por escolha ou por força da herança 
sócio-histórica. 
 
Para Azeredo (2008) o que denominamos de língua comum ou língua padrão, dialeto 
regional ou dialeto social não corresponde, porém, a uma entidade homogênea e estável, de 
limites por si mesmos definidos, integrada na vida social à espera de que o pesquisador a 
encontre e a revele. Segundo o autor, esse padrão não é um corpo de limites rígidos nem, 
tampouco, um conjunto uniforme de meios de expressão. 
 
A seguir, são apresentadas algumas construções empregadas por falantes brasileiros para 
fins de ilustração (AZEREDO, 2008): 
 
a) Nós voltemo(s) da praia hoje. 
b) A gente voltamo(s) da praia hoje. 
c) Mais uma perca, você sai do jogo. 
d) Ele comeu um pão com mortandela. 
e) Se ele propor esse acordo, eu aceito. 
 
Estas formas pertencem à língua como um todo, mas não estão incluídas no modelo de 
uso referido acima. Por enquanto, as formas padrão correspondentes são: 
 
a) Nós voltamos da praia tarde. 
b) A gente voltou da praia tarde. 
c) Mais uma perda, você sai do jogo. 
d) Ele comeu um pão com mortadela. 
e) Se ela propuser esse acordo, eu aceito. 
 
Por outro lado, as seguintes construções emparelhadas: 
 
a) Eles assistiram o jogo pela televisão. 
b) Eles assistiram ao jogo pela televisão. 
c) Naquela época, importava-se todas essas mercadorias. 
d) Naquele época, importavam-se todas essas mercadorias. 
e) Deixem ele entrar. 
18 
 
 
 
f) Deixem-no entrar. 
g) Não sai agora daí, porque está chovendo muito. 
h) Não saia agora daí, porque está chovendo muito. 
 
Estas construções são consideradas variantes no mesmo padrão geral. O que as distingue 
é algum fator de uso, como o grau de formalismo ou a finalidade do texto em processo. O autor 
esclarece que as formas emparelhadas nos pares ―a-b‖ e ―c-d‖ são permutáveis no mesmo nível 
de linguagem. Já nos pares seguintes, a forma ―e-g‖ é corrente na fala espontânea (registro 
informal) e as formas ―f-h‖ pertence a um discurso mais tenso e elaborado (registro formal). 
Ou seja, como podemos ver, a variedade padrão é elástica e comporta usos alternativos. 
 
Os diversos contextos socioculturais e/ou situações sociocomunicativas permitem que os 
usuários adequem o que vão dizer/escrever, conforme seus interlocutores potenciais. 
 
 
2.7 Vamos praticar 
 
 
a) Gravar cinco minutos de um programa de entrevista de rádio ou televisão e analisar o 
tipo de emprego pronominal, a pronúncia das palavras (apagamentos dos ditongos, apagamento 
do ―r‖ final, concordância verbal e nominal, predominância da formalidade ou da informalidade, 
etc. ). 
19 
 
 
 
3 A ESCRITA NUM PAÍS DE CULTURA ORAL 
 
Sabe-se que a aproximadamente 35.000 anos o homo sapiens descobriu que podia 
comunicar-se a partir de uma combinação de sons, antes que a expansão demográfica e a 
prosperidade o levasse a viver em cidades (LECOURS, 1997). A escrita surgiu, posteriormente, 
em torno de 7000 a.C., culminando com a invenção do alfabeto pelos fenícios e gregos por volta 
do ano 750 a.C. 
 
A partir desta invenção estabeleceu-se o que Olson (1994) classificou como uma das 
maiores revoluções conceituais vividas pelo homem. A partir de um sistema de escrita passamos 
a ter um instrumento de registro das experiências humanas em todas as dimensões de sua vida 
sociocultural, religiosa, psicológica, econômica e científica. A popularização da escrita ganhou 
impulso com a invenção da imprensa, no século XV, com Gutenberg, todavia aprender a ler e 
escrever eram ofícios reservados aos nobres, e/ou às classes dirigentes e membros da corte. 
 
A massificação do livro é um fenômeno mais ou menos recente tendo mais ou menos 
100 anos. No entanto, grande parte da população, falamos no caso, a brasileira, viveu muito 
tempo, restrita às práticas orais, pelo tipo de colonização que se estabeleceu no litoral. Quando 
dizemos que o livro era um artigo de luxo nas mãos de poucos, entende-se também que o acesso 
à escola era restrito à elite. Temos, portanto, uma colonização que por cerca de duzentos anos 
baseou-se numa cultura essencialmente oral. Aliado a esses fatores some-se o analfabetismo, 
resultado de uma política secular de exclusão. 
 
 
3.1 A gramática e a produção escrita 
 
Sabemos que a pessoa pode muitas vezes expressar-se ou falar sem pensar, mas 
raramente escreve sem pensar. Portanto, a oralidade tem um estatuto fluido, sujeito a repetições, 
não é tão estruturada por depender do contexto de uso, enquanto a escrita exige reflexão, 
planejamento e domínio dos princípios gramaticais específicos para poder ser materializada. 
 
Faraco e Tezza (2004) advertem que é importante ter uma noção clara do que significa 
―gramática‖, considerando-se que o uso comum a define apenas como linguagem ―certa‖. É 
elementar segundo os autores que todo falante de uma língua fale de acordo com um sistema de 
regras em boa parte comum a seus interlocutores. Neste sentido ―gramática‖ define-se como o 
conjunto de regras que organiza as línguas humanas, ou seja, um conjunto que já está presente 
numa criança de dois ou três anos ou mesmo entre povos que desconhecem os livros, as escolas 
e qualquer sistema de escrita. 
 
Do ponto de vista científico não há como dizer que uma forma linguística é melhor que 
outra, a não ser que nos esqueçamos da ciência e adotemos o preconceito ou o gosto pessoal 
como critério. É verdade que há uma diferenciação valorativa, que nasce não da diferença desta 
ou daquela forma em si, mas do significado social que certas formas linguísticas adquirem na 
sociedade. 
 
20 
 
 
 
Azeredo (2008) identifica a variedade padrão escrita do português do Brasil ―como um 
conjunto sistemático de formas e construções da língua portuguesa empregadas razoavelmente 
em comum por escritores e jornalistas‖. Nesta mesma direção de raciocínio, Perini (2001, p. 26) 
afirma que existe uma linguagem padrão utilizada em textos jornalísticos e técnicos (como 
revistas semanais, jornais, livros didáticos e científicos), linguagem essa que apresenta uma 
grande uniformidade gramatical, e mesmo estilística em todo Brasil. 
 
Assim, seria difícil distinguir linguisticamente o editorial de um jornal de Curitiba do de 
um jornal de Cuiabá ou São Luis. Igualmente, a linguagem de um livro técnico ou didático 
publicado em Recife não se distingue da de um livro publicado em São Paulo ou Porto Alegre; 
os regionalismos não penetram tais textos. Pode-se concluir que existe um português padrão 
altamente uniforme no país em nível de escrita. 
 
O autor lembra, no entanto, que nos textos literários é possível encontrar os traços da 
variedade coloquial de uma ou outra região brasileira. Dessa forma, é possível identificar o 
próprio autor ao examinarmos as obras por ele escritas. Se colocarmos ladoa lado autores como 
Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Salim Miguel e/ou Jorge Amado verificaremos as diferenças 
dialetais presentes nas obras. 
 
No percurso histórico de formação da escrita o ―texto literário representava o grau 
máximo de prestígio da língua‖ (FARACO e TEZZA, 2004). Na sociedade contemporânea não 
é mais o livro a única referência da norma padrão da língua, haja vista que os meios de 
comunicação transformaram drasticamente esta realidade. Com o advento do rádio e da 
televisão a população passou a ter outros referenciais linguísticos que não os livros e a escola 
para quem pudesse frequentá-la. 
 
Há um amplo uso dos termos norma culta e norma-padrão como sinônimos. Porém, esses 
termos designam variedades linguísticas diferentes. Como afirma Bagno (2002), de um lado 
temos a norma-padrão lusitanizante, ideal de língua abstrato, usado como verdadeiro 
instrumento de repressão e policiamento dos usos linguísticos; do outro, temos as diversas 
variedades cultas, usos reais da língua por parte das classes sociais urbanas com escolaridade 
superior completa. 
 
Segundo Faraco (2002, p. 39), a norma culta diz respeito ―à variedade utilizada pelas 
pessoas que têm mais proximidade com a modalidade escrita e, portanto, possuem uma fala 
mais próxima das regras de tal modalidade‖. 
 
No Brasil, se considera como falante de norma culta apenas as pessoas que já se 
formaram no Ensino Superior (BAGNO, 2002, p. 185) e (LUCCHESI, 2002, p. 65). Por isso, 
seus falantes, em sua maioria, são pertencentes às camadas mais privilegiadas da sociedade. A 
expressão ―culta‖ ou a palavra ―norma culta‖ pode nos induzir a imaginar que só os falantes de 
tal variedade são cultos, ou seja, possuem cultura e que os outros são incultos e ignorantes. Essa 
idéia é amplamente difundida pelo senso comum e deve ser desconstruída. 
 
21 
 
 
 
Faraco (2002, p. 40) esclarece que o termo norma culta, como foi dito, designa ―a 
variedade utilizada pelas pessoas que possuem mais contato com a ―cultura escrita‖ e, por isso, 
tal vocábulo é utilizado‖. 
 
Nossos poetas retrataram os usos linguageiros do nosso povo com refinada percepção 
poética. Quando afirmamos que a língua é um conjunto de variedades, vejamos como Oswald 
de Andrade reflete o uso pronominal no seu poema sob o título: 
 
 
Características do Dialeto Culto Característcas do Dialeto Popular 
Indicação precisa de gênero, número e pessoa: 
Essas pessoas não fazem nada. 
Economia nas marcas de gênero, número e 
pessoa: 
Essas pessoas não faz nada. 
Correlação verbal entre tempos e modos: 
Se a encontrasse agora, contaria tudo. 
Falta de correlação verbal: 
Se encontrasse ela agora, contava tudo. 
Largo uso da coordenação e da subordinação: 
Não sei se já lhe disse que, quando terminei o 
curso, fui trabalhar, porque não tinha mais 
dinheiro. 
Redução do processo de subordinação, em 
benefício da frase simples e da coordenação: 
Já disse pra você, não disse? Quando eu 
acabei o curso, não tinha mais dinheiro. Aí, 
então, fui tabalhar. 
Maior utilização da voz passiva: 
Foi atropelada por um carro. 
Maior emprego da voz ativa: 
Um carro atropelou ela. 
Quadro 2 – Caracteríticas do diaelto culto e dialeto popular. 
Fonte: OLIVEIRA, A.T.P. Disponível em: www.google.doc.com.br – Acesso em: 23/10/13. 
 
 
Pronominais 
 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
 Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da nação brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro. 
 
 
 ―Dê-me um cigarro‖ – é a forma exigida pela gramática oficial, isto é, a gramática do 
professor e do aluno/ E do mulato sabido. Por outro lado, a forma ―Me dá um cigarro‖ é usada 
pelos falantes comuns ―o bom negro e o bom branco/ da Nação brasileira‖. 
 
Estamos diante do que se pretende que seja uso correto, aquele ensinado pela escola e o 
uso que as pessoas em geral fazem no seu cotidiano. Por que temos várias formas para expressar 
22 
 
 
 
a mesma significação ou informação? Por que damos tanta importância à forma de expressão 
uma vez que o conteúdo da informação é a mesma? O uso implícito ou inconsciente revela a 
gramática natural, que admite a formulação ―Me dá um cigarro‖, mas não permite, por 
exemplo, ―cigarro, me, um dá‖. Trata-se de um sistema de regras interiorizadas pelo falante em 
seu ambiente e que sabe usá-las intuitivamente. 
 
O que está em evidência, então, é a existência de duas gramáticas. De um lado a gramática 
natural, relacionada à natureza da língua, assim como é da natureza humana aprender sistemas 
de regras para sistematizar comportamentos, independente de estar ou não na escola (LUFT, 
1985). Já a gramática normativa é um conjunto sistematizado de regras ou normas e orientações 
para escrever e falar de acordo com o padrão culto da língua. 
 
Diante dos usos muitas vezes equivalentes destes termos, importa que observemos o que 
alguns estudiosos referem sobre esta temática. Diversos estudos conforme encontramos em Kato 
(1993), Duarte (1993), Figueiredo Silva (1998) e Loregian (1996) colocam em evidência que o 
paradigma flexional do português brasileiro demonstra que está em transformação, conforme 
demonstra o paradigma verbal a seguir: 
 
 
 Eu canto 
Você canta (em alguns dialetos: tu cantas; em outros: tu canta 
Ele canta 
A gente canta (nós cantamos, ou nós canta 
Vocês cantam 
Eles cantam 
 
 
Embora as mudanças do paradigma flexional do português sejam evidentes, as 
gramáticas continuam apresentando o paradigma tradicional da flexão verbal sem fazer a devida 
reflexão de que a língua muda no tempo e variantes novas competem ou concorrem numa 
dinâmica incessante de renovação do sistema linguístico. 
 As formas de exclusão não se situam somente nos níveis econômico e/ou político-social. 
As pessoas também podem ser excluídas pelo seu jeito de falar. A língua não é apenas um 
instrumento de comunicação, mas também a expressão da cultura, dos valores e crenças. Nos 
damos conta da língua que usamos quando alguém comete erros gramaticais grotescos, quando 
falamos com uma pessoa estrangeira, ou quando nos relacionamos com alguém que tem forte 
sotaque (pronúncia). Podemos chamar a atenção das pessoas pelo nosso sotaque. Muitas vezes 
conseguimos identificar a procedência geográfica dos falantes ao percebermos seu sotaque - 
(fala baiana, gaúcha, açoriana, nordestina, caipira ou carioca). 
Além disso, na região sul, temos o fenômeno do bilinguismo nas comunidades de 
imigração italiana, alemã e polonesa. Embora bem menos intenso hoje, o alemão (variedade 
dialetal platdeuch e o italiano (variedades dialetais trentina e vêneta) ainda persistem e não nos 
surpreende o fato de que ainda hoje tenhamos crianças que adquiram como língua materna um 
destes dialetos. 
23 
 
 
 
Questões bastante preocupantes surgem quando se pergunta como a escola ou a 
universidade trata a questão dialetal, ou seja, diferenças que dizem respeito ao vocabulário, à 
sintaxe e à pronúncia. A tarefa da universidade é qualificar os acadêmicos no domínio da norma 
culta, porém isto não significa que o falante deve abdicar de sua identidade linguística e cultural 
ou ser excluído porque pratica uma variedade não-padrão. 
 Às vezes se confunde uma pedagogia da qualificação com uma pedagogia da negação 
dos valores da cultura popular. A universidade deve estar consciente na sua tarefa da 
qualificação técnica, linguística e científica, mas não negar a cultura e a identidade linguística 
de seus alunos provenientes da periferia das cidades ou das áreas rurais.Como se processa essa 
negação? A negação começa com uma concepção errônea de certo e/ou de errado no uso oral 
da língua. Os grupos sociais marginalizados ou desfavorecidos usam uma língua considerada 
inferior em contraste com os grupos sociais abastados que usam a língua dos grupos dominantes 
e é considerada a variedade padrão. 
 Embora a linguagem não constitua um obstáculo à comunicação no Brasil, é sabido que 
a causa principal do fracasso escolar deve ser buscado na ordem social e socioeconômica e nos 
paradigmas questionáveis do ensino fundamental. Um exemplo que ilustra esta situação de 
fracasso dos negros americanos foi o racismo institucional a que foram submetidos por séculos 
e não devido às diferenças linguísticas. 
 Portanto, a raiz do problema parece estar na estrutura da sociedade. E a solução só 
ocorrerá com a mudança das relações de dominação existentes em nossa sociedade. Por outro 
lado, a escola precisa tomar consciência de que não dispõe de meios e nem pode ser uma escola 
redentora, mas deve levar em conta que sempre foi a principal agente e disseminadora dos 
preconceitos linguísticos além de ajudar na manutenção da estrutura de poder da classe 
dominante. O que se pretende é que a universidade se comprometa de uma vez por todas com a 
luta pela mudança social e isto passa pela consideração e respeito às expressões culturais e 
linguísticas das comunidades. 
 
3.2 Vamos praticar 
 
 Leia com atenção as orientações que seguem e realize as atividades solicitadas. 
24 
 
 
 
 
1 A partir da leitura do texto, como você classifica o diálogo acima em termos dialetais? 
Discuta com seus colegas. 
2 O texto a seguir é a letra de uma música popular, de autoria de Adoniran Barbosa
1
. 
Que tipo de variação a letra da música incorpora? Indique e classifique o tipo de variação. 
 
O SAMBA DO ARNESTO 
 
Domingo nós fumus 
Num samba no Bexiga 
Na rua Major 
Na casa do Nicola 
A ―mezza notte o‘clock‖ 
Saiu uma baita de uma briga 
Era só pizza que avoava 
Junto côas brajola. 
 
Nóis era estranho no lugar 
E não quisemo se meter 
Não fumo lá pra briga 
Nois fumo lá pra come 
Na hora h se infiemo debaixo da mesa 
Fiquemo ali de beleza 
Vendo o Nicola briga 
Dali a pouco escuitemo a patrulha chegar 
E o sargento Oliveira parlar 
Num tem portância 
Vô chamando as ambulância. 
 
1
 Extraído de Ellis Regina no fino da bossa. V. 3, faixa 7, 11.V030.V3.CD. 
25 
 
 
 
 
Aí ele disse assim: 
Carma, pessoar, 
A situação aqui tá 
Muito cínica: 
Os mais pior vai pras crínica. 
 
 
1) A leitura global do texto
2
 permite afirmar que: (assinale apenas uma alternativa) 
 
 
a) a variante linguística usada no texto é inapropriada, pois se trata de um dialeto rural. 
b) o dialeto usado é urbano, sem nenhuma mistura com outro linguajar. 
c) o dialeto usado é formado de palavras estrangeiras misturadas com o dialeto urbano de 
São Paulo. 
d) o dialeto usado contém traços típicos da linguagem dos imigrantes italianos e do 
dialeto caipira de São Paulo. 
e) a linguagem usada no texto contém palavras e expressões típicas de um dialeto urbano 
misturado com palavras e expressões da língua culta escrita. 
 
 
Leia com bastante atenção o diálogo entre a avó e o neto. O texto retrata as marcas dos 
usos orais e a percepção da avó de que o tipo de uso linguístico do neto não corresponde ao uso 
padrão da língua. Por isso, durante o diálogo a avó procura intervir a fim de corrigir a fala de 
seu neto. Veja o resultado do diálogo entre eles. 
 
 
A Avó e o Neto 
 
 
- Onde é que a gente vai agora, vó? 
- Lá na padaria da praça comprar um pão gostoso. 
Silêncio pensativo no banco de trás. E então: 
- Perto da minha casa também tem uma padaria. Os pão lá é muito bom. 
Momentos de indecisão. Ignorar ou corrigir? 
Compulsivamente: 
- Sabe, meu querido, a gente fala assim: os pães são muito bons. Um pão, dois pães. O 
pão é bom, os pães são bons. 
Novo silêncio pensativo no banco de trás. E então: 
- Quer dizer, vó, que pães é dois pão? 
 (Flávia de Barros Carone) 
 
 
 
2) Explique a dificuldade do neto em entender a explicação gramtical da avó. 
 
2
 In: PLATÃO, S. e FIORIN, L. C. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1997. 
26 
 
 
 
 
3) O que é variedade (variante
3
) linguística? Liste alguns exemplos (fonológicos, 
morfológicos, lexicais e sintáticos). 
 
4) Discutir/debater a definição de dialeto. 
 
5) Qual o papel da universidade quanto à problemática que envolve o ensino da Língua? 
 
6) Discutir/debater o que é preconceito linguístico e que consequências provoca. 
 
7) Em sua opinião, existe preconceito linguístico na sua comunidade ou na universidade? 
 
8) Trabalho em grupos: descrever os grupos étnicos que fazem parte da geopolítica de 
sua região: 
 
- País de origem, ano da emigração, motivos da emigração; 
- Dificuldades encontradas na nova terra (Brasil); 
- Principais regiões de concentração da emigração; 
- Características culturais: costumes (alimentação, organização, religião... ) 
 
 9) Os alunos, organizados em grupos, podem representar os diversos tipos étnicos (falas, 
vestimentas, alimentação...) existentes na sua região, Estado e no Brasil. 
 
10) Discutir/debater os níveis linguísticos e sua caracterização. 
 
11) Nos exemplos abaixo, sabemos que, apesar da opinião dos gramáticos, a alternativa 
(c) é a forma mais comum na língua atual. Descreva que tipo de norma caracteriza esta 
construção gramatical. 
 
a) AS MENINAS BONITAS 
b) AS MENINAS BONITA 
c) AS MENINA BONITAS 
 
 
12) Discutir/debater as modalidades - oral e escrita: em que se diferenciam? Comente a 
questão. 
 
13) Solicitar aos alunos que gravem partes do jornal nacional, entrevistas e outros 
programas, de cunho popular, e fazer a análise dos níveis de linguagem utilizada neste tipo de 
veículo. 
 
 
3
 Variante linguística: significa que em determinado momento da evolução da língua duas possibilidades de se 
dizer a mesma coisa, com o mesmo valor de verdade, começam a competir. Uma destas possibilidades se firmará 
entre os usuários enquanto a outra variante poderá cair em desuso. 
27 
 
 
 
14) Em sua opinião, por que as orientações da avó não surtiram o efeito esperado ao 
orientar o seu neto quanto à concordância nominal? Comente. 
 
15) Vídeo sugerido: Variação Linguística (TV Escola) 
28 
 
 
 
3.3 Atividade de leitura e interpretação de texto 
 
 Leia com atenção os textos a seguir para compreender como a língua pode apresentar 
formas variáveis porque as sociedades estão divididas em diferentes grupos sociais: há os mais 
jovens e os mais velhos, os que habitam uma região ou outra, os que têm esta ou aquela 
profissão, os que são de uma ou outra classe social. 
 
 
 
Texto 2 
Cuitelinho 
 
01 Cheguei na bera do porto 
 onde as onda se espaia. 
 As garça dá meia volta, 
 senta na bera da praia. 
05 É o cuitelinho não gosta 
 que o botão de rosa caia. 
 
 Quando eu vim de minha terra, 
 despedi da parentaia. 
 Eu entrei no Mato Grosso, 
10 dei em terras paraguaia. 
 Lá tinha revolução, 
 enfrentei fortes bataia. 
 
 A tua saudade corta 
 como aço de navaia. 
15 O coração fica aflito, 
 bate uma, a outra faia. 
 E os oio se enche d‘água 
 que até a vista se atrapaiaCantiga popular brasileira de Paulo 
Vanzolin. 
 
Fonte: Coperve/UFSC – Concurso 
Vestibular, 2005. 
 
 
Texto 3 
 
Domingo à tarde, o político vê 
um programa de televisão. Um assessor 
passa por ele e pergunta: 
 - Firme? 
 O político responde: 
 - Não. Sirvio Santos. 
 
 
POSSENTI, Sírio. Os humores da 
língua. Campinas: mercado de Letras, 
1998, p. 34. 
Fonte: Coperve/UFSC – Concurso 
Vestibular, 2005. 
 
 
Texto 1 
 
Mas, afinal, o que língua padrão? 
 
(01) Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante 
variado de formas linguísticas, cada uma delas com 
a sua gramática, a sua organização estrutural. Do 
(05)ponto de vista científico, não há como dizer que 
uma forma linguística é melhor que outra, a não ser 
que a gente se esqueça da ciência e adote o 
preconceito ou o gosto pessoal como critério. 
(10) Entretanto, é fato que há uma diferenciação 
valorativa, que nasce não da diferença desta ou 
daquela forma em si, mas do significado social que 
certas formas linguísticas adquirem nas sociedades. 
(15)Mesmo que nunca tenhamos pensado objetivamente 
a respeito, nós sabemos (ou procuramos saber o 
tempo todo) o que é e o que não é permitido... Nós 
costumamos ―medir nossas palavras‖, entre outras 
(20)razões, porque nosso ouvinte vai julgar não 
somente o que se diz, mas também quem diz. E a 
linguagem é altamente reveladora: ela não 
transmite só informações neutras; revela também 
nossa classe social, a região 
(25)de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa 
escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a 
linguagem também é um índice de poder. 
Assim, na rede das linguagens de uma 
(30)dada sociedade, a língua padrão ocupa um espaço 
privilegiado: ela é o conjunto de formas 
consideradas como o modo correto, socialmente 
aceitável, de falar ou escrever. 
 
(FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática 
de texto: língua portuguesa para nossos estudantes. 4. 
ed. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 30) 
 
Fonte: Coperve/UFSC – Concurso Vestibular, 2005. 
29 
 
 
 
1) Assinale a(s) proposição(ões) correta(s) a respeito dos textos 1, 2 e 3: 
 
01 Quando Faraco e Tezza, no texto 1, dizem que há uma diferenciação valorativa (linhas 10 a 
 11) estão se referindo apenas a variedades regionais. 
 
02 O falante, tendo envolvimento múltiplo nas relações sociais, normalmente domina mais de 
uma variedade da língua. Costuma medir suas palavras (linha 19 do texto 1) conforme a 
situação. Nesse sentido, ele é um camaleão lingüístico: adapta a sua fala à situação em que 
se encontra. 
 
04 O texto 2 registra uma variedade regional do interior de algumas cidades brasileiras, 
conhecida como dialeto caipira. Essa variedade, ilustrada em espaia, parentaia, bataia e 
atrapaia, é normalmente estigmatizada pela sociedade,servindo, muitas vezes, de piada. 
 
08 Quem domina apenas um dialeto caipira, a exemplo das variedades usadas no texto 2 e no 
texto 3, não terá dificuldade para ler um texto escrito em língua padrão, ou para produzir 
textos com ela. 
 
16 O efeito da piada (texto 3) está relacionado com os dois sentidos que a palavra firme 
manifesta: um, como cumprimento informal – ―Tudo bem?‖ – e outro, como variante 
popular de ―filme‖. 
 
Total de pontos: 
 
 
2) Ainda, sobre o texto 1, é correto afirmar que: 
 
01 O trecho ―a não ser que a gente se esqueça da ciência e adote o preconceito ou o gosto 
pessoal como critério (linhas 7 a 9) pode ser assim parafraseado: ―a não ser que a ciência 
seja esquecida e seja adotado o preconceito ou o gosto pessoal como critério‖. 
 
02 Os pronomes ―a gente‖ (linha 7) e ―nós‖ (linha 16) foram usados com o mesmo significado 
referencial. Esse recurso se caracteriza como variação lingüística e pode ser observado tanto 
na linguagem padrão como na linguagem coloquial. 
 
04 O conector assim (linha 29) foi usado com valor exemplificativo e complementar. O 
parágrafo introduzido por ele serviu para confirmar o que foi dito antes. 
 
08 No techo ―ela não transmite só informações neutras‖ (linha 23), as palavras sublinhadas 
indicam que existem informações neutras, além de outras informações. 
 
16 A expressão não somente... mas também em: ―nosso ouvinte vai julgar não somente o que se 
diz, mas também quem diz (linhas 20 a 22) estabelece uma relação de retificação do 
argumento da primeira afirmação com o argumento da segunda e acrescenta uma nova 
informação. 
Total de pontos: 
 
 
30 
 
 
 
Diálogo entre um estrangeiro e um húngaro nativo 
 
Extraído do filme Budapeste 
 
 
A narrativa segue eletrizante, quando a certa altura, no interior do bar, em plena capital 
da Hungria, uma voz ressoa do fundo do bar: 
 
- Eu quero um maço de cigarros fasceskë, por favor. 
- Não é fasceskë. Se fala fesceskë (Andorinha, em húngaro) – corrige o nativo. 
- Como é que é? Te conheço? – responde o nativo. 
- Não é fasceskë. Se fala fesceskë! (Repete) que é a pronúncia correta em húngaro. 
- Quem é você para me corrigir? Um estrangeiro! O húngaro é meu território – desafia o 
nativo. 
- Posso ser estrangeiro, mas não costumo maltratar meu idioma como você. 
- Como assim? – questiona o nativo. 
- Fasceskë - repete o estrangeiro. 
- Estou maltratando o húngaro? Minha língua materna? – desafia o húngaro. 
- Sua língua materna? – ironiza o nativo. 
- Sim – responde o nativo. 
- Minha língua materna (o homem pega alguns doces que estão numa lata sobre o balcão 
e os joga com força sobre a cabeça do estrangeiro). 
- Pare com isso! – Interrompe o dono do bar. Vão acabar destruindo meu bar. 
- Tudo bem – fala o homem nativo. 
- Sobrevivi aos alemães, aos russos e agora vocês? – grita o dono do bar. 
- Tudo bem – repete o nativo, acalmando-se. 
- Os dois têm razão – explica o dono do bar. 
- É fesceskë aqui em Budapeste e fasceskë na terra Székely. 
- Ponto – diz o homem nativo. 
- Desculpe – diz o homem nativo. 
- Tá bem. Até mais – diz o estrangeiro e os dois saem do bar, abraçados. 
Os dois contendores saem do bar e passam em frente a alguns cartazes que anunciam os 
filmes pornográficos do dia. 
- Bunda – grita o nativo. 
- Fesceskë, fasceskë. (o homem nativo repete quatro vezes). 
- Bunda... 
- Peito... 
- Peito, bunda – fala o estrangeiro. 
- Fesceskë – grita o estrangeiro. 
- Fasceskë – grita o homem nativo. 
 E os dois caminham alegres, cada um repetindo a sua variante linguística. 
 
 
1) Qual o motivo da discussão entre o nativo e o estrangeiro? Comente. 
 
 
31 
 
 
 
Texto para leitura: Assalto à brasileira 
 
Assaltante mineiro 
 
"Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai. Levantus braçu e fiketin quié mió prucê. Esse trem na minha 
mão tá chein di bala... Mió passá logo os trocado que eu num tô bão hoje. Vai andano, uai ! Tá 
esperanuquê, sô?!" 
 
Assaltante baiano 
 
"Ô meu rei... (pausa). Isso é um assalto... (longa pausa). Levanta os braços, mas não se avexe não... 
(outra pausa). Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado Vai passando a grana, 
bem devagarinho (pausa pra pausa ) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito 
pesado (pausa maior ainda). Não esquenta, meu irmãozinho (pausa). Vou deixar teus documentos na 
encruzilhada." 
 
Assaltante carioca 
 
"Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta os braço 
rapá ... Não fica de caô que eu te passo o cerol.... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto ..." 
 
Assaltante paulista 
 
"Isto é um assalto! Erga os braços! Passa logo a grana, meu. Mais rápido, mais rápido, meu, que eu 
aindapreciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Curintias, meu ... Pô, agora se manda, meu, vai... 
vai..." 
 
Assaltante gaúcho 
 
"O guri, ficas atento... isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e 
cuidado que esse facão corta uma barbariiidaaade, tchê. Passa as pilas prá cá ! Trilegal! Agora, te 
mandas, senão o quarenta e quatro fala." 
 
Assaltante de Brasília 
 
"Companheiros, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as 
seguintes tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento 
de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, Cofins." 36 
36 
32 
 
 
 
3.4 Exercícios 
 
 
1) Identifique as variações e registros presentes nos seguintes textos: 
 
a) Ê cara, tô azarando uma mina que é o maior barato. 
b) A única testemunha do crime, encontrada num bar de Ipanema, declarou: 
―Távamos malocados no Vidigal cafungando uma legal, quando embunecamos com a 
máquina de dois baitolas na viseira. Meu chapa, numa péssima, neurotizou adoidado, levou um 
caramelo no gorgolejo e meteu lá uma de decúbito sem retorno. Por aí‖. 
A polícia já está no encalço de um tradutor. (Veja, 21/09/77) 
 
2) (Fuvest - SP) ―A princesa Diana já passou por poucas e boas. Tipo quando seu ex-marido 
Charles teve um love affair com lady Camille revelado para Deus e o mundo.‖ (Folha de S.Paulo, 
5/11/93) 
No texto acima, há expressões que fogem ao padrão culto da língua escrita. 
Identifique-as. 
Reescreva-as conforme o padrão culto. 
 
3) ―É massa! Dessa vez a Atrevida arrepiou. Foi da hora a matéria NA PONTA DA 
LÍNGUA, com as gírias maneiras de todos os lugares. É por isso que me amarro cada vez mais nesta 
revista: descolada, divertida, diferente e trilegal.‖ 
(Mariana Alves Manso, Atrevida, set. 1996, p.18) 
Reescreva como se a leitora estivesse escrevendo para a revista Veja. 
 
4) Frases como estas são comuns em situações informais, porém, num texto escrito 
formal, são inadequadas. Reescreva-as observando o padrão culto: 
 
a) A rua que eu moro não é arborizada. 
b) O escritório que trabalho tem ar-condicionado. 
c) O homem que eu telefonei para ele ontem não estava em casa. 
d) A rua que eu gosto de correr é toda arborizada. 
e) O rapaz que a filha ganhou o prêmio é coreano. 
f) Os assessores da rainha Elisabeth queriam saber os assuntos que dona Ruth Cardoso 
gostava de falar 
. 
5) Segundo o padrão culto, estas frases estão corretas? Explique por quê. 
 
a) Os congressistas sobre os quais recaem tantas acusações e dos quais tanto se suspeita não 
vieram se defender. 
b) As notícias de que me valho estão no jornal em que você confia. 
c) O programa a que estou assistindo é aquele de que você gosta. 
d) A corrupção, com que ninguém se conforma mas que poucos denunciam, representa um 
risco para a democracia. 
 e) Essas foram as razões por que parti. 
33 
 
 
 
4 Signo Linguístico4 
 
 
Ferdinand Saussure (1857-1913), criador da Linguística Moderna, explica que o signo 
linguístico é formado pelo significado, a que corresponde um conceito e, pelo significante, a que 
corresponde uma imagem acústica ou gráfica do conceito. Deste modo, podemos dizer que o 
signo é uma entidade de duas faces, o significado e o significante, intimamente ligados, que se 
reclamam reciprocamente quando comunicamos. 
 
―Dizer que somos seres falantes significa dizer que temos e somos linguagem, que ela é 
uma criação humana (uma instituição sociocultural), ao mesmo tempo que nos cria como 
humanos (seres sociais e culturais). A linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao 
pensamento [...]." CHAUI (1994). 
 
O signo é aquilo que representa algo para alguém e compõe-se de um elemento material, 
perceptível – o significante – e um elemento conceitual, não perceptível, conceitual – o significado. 
Entre significante e significado se estabelece uma relação arbitrária proveniente de um 
acordo implícito ou explícito entre os usuários de uma mesma língua. Por isso, diz-se que essa 
relação é convencional, arbitrária e aprendida. 
 
 
 
 Figura 2 - Jornaleco, 2011. 
 
 
 
4
 Fontes consultadas para a elaboração desse capítulo: 
KOCH, Ingedore. Ler e compreender textos. São Paulo: Editora Contexto, 2006. 
JORNALECO – Um órgão anárquico-construtivo. Raimundo Mário Sobral. 
SAUSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 1° ed.bSão Paulo: Cultrix, 2006. 
34 
 
 
 
A linguagem é um sistema de signos capaz de representar mediante sons, letras, cores, 
imagens etc., significados resultantes de uma interpretação da realidade e da construção de 
categorias mentais representativas dessa interpretação. 
 
 
Figura 3 - Tirinha Tudo a partir de R$1,99 
Fonte: JORNALECO, 2011. 
 
O signo é um objeto no sentido físico mais geral, isto é, ele pode ser um corpo material, 
algum acontecimento ou determinada qualidade ou propriedade de um corpo ou de um 
acontecimento. A tipologia de Peirce que ficou mais conhecida foi aquela que separa os signos 
nos seguintes três tipos fundamentais: (1) ícones, (2) índices e (3) símbolos. 
 
Por ícone compreende-se o signo que se refere a determinado outro objeto em virtude de 
alguma semelhança entre eles. O exemplo clássico é o retrato de uma pessoa. Por sua vez, o 
índice é aquele signo que se refere a outro objeto em virtude de uma conexão factual entre eles 
(conexão que pode ser de natureza causal). Os exemplos típicos são: a fumaça vista de longe 
como índice de uma fogueira, a alta temperatura do corpo como índice de uma infecção etc. 
 
Finalmente, o símbolo é aquele tipo de signo que se refere a outro objeto em virtude de 
um hábito, norma ou convenção da parte do intérprete. E o melhor exemplo desse tipo de signo 
é justamente uma expressão de uma linguagem verbal que encontramos em uso pelos falantes de 
uma língua natural. 
 
 
 
35 
 
 
 
4.1 Interpretar é ativar conhecimentos de várias naturezas 
 
 
Para entender completamente um texto, o leitor/ouvinte precisa ativar uma série de 
conhecimentos que possui sobre práticas interacionais diversas, histórica e culturalmente 
constituídas. Baseando-se neste conhecimento o leitor compreende o objetivo ou propósito 
pretendido no quadro interacional desenhado. 
 
 
 
 
Figura 4 - Tirinha Sataninho 
Fonte: JORNALECO, 2011. 
 
 
Para entender este texto, é necessário fazer uma série de associações entre o conteúdo do 
texto, o aspecto simbólico das personagens, o gênero textual e suas intenções comunicativas. 
Ler é uma atividade bastante complexa e não se resume a junção e decodificação de sinais, vai 
muito além: a leitura pressupõe investigar, analisar, interpretar, decifrar e produzir sentidos. Por 
isso dizemos que há leitores e leitores. Explica-se. 
 
 Há os leitores competentes, aqueles que conseguem compreender o que está dito e o que 
está nas entrelinhas do texto, escondido em camadas e camadas de intenções e sugestões. 
Contudo, o que aqui buscamos é um leitor que ainda consegue ir adiante: ele não é apenas um 
construtor de sentidos, ele também consegue posicionar-se criticamente diante do que lê, pois 
sua leitura é de análise do texto e das condições de produção (quem fala, para quem fala, em que 
contexto e momento histórico, em que meio ou suporte de divulgação, com qual intenção, etc.). 
 
 O texto é uma unidade linguística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela 
visão (na escrita), que tem unidade de sentido e intencionalidade comunicativa. Já o discurso é a 
atividade

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