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SETEMBRO / 200634 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS CUIDADO REDOBRADO SETEMBRO / 200634 REVISTA PROTEÇÃO Máquinas participam de quase 50% do total de acidentes do trabalho PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Trabalhadores que utilizam máquinas e equipamentos convivem com uma situação bastante paradoxal do ponto de vista da segurança. De cada dois acidentes de trabalho registrados nos últimos anos, no Brasil, um deles envolve a participação de máquinas de diversos tipos, embora esforços multilaterais venham sendo promovidos com significativo su- cesso para reverter essa realidade. Segundo o Anuário Estatístico da Previ- dência Social de 2004, 49,1% dos 371.482 acidentes de trabalho típicos registrados naquele ano envolveram danos a mãos, bra- ços, dedos e partes anatômicas correlatas, como antebraços e punhos (veja Quadro). Essa proporção não foi muito diferente da verificada no ano de 2002, embora a eleva- ção da soma de todos os agravos ocupacio- nais envolvendo essas partes do corpo te- nha sido praticamente igual (15,3%) ao au- mento do número total de acidentes, entre 2002 e 2004 (14,1%). Como explicar que avanços expressivos em termos de acordos coletivos e normati- zações técnicas, especialmente nas áreas de prensas e injetoras, pareçam ser apenas um grão de areia num oceano de parques industriais que tiveram a chance de passar pela modernização tecnológica estimulada pela abertura comercial do país especial- mente a partir da década de 90? A resposta inclui um complexo de fatores. O primeiro deles é que o uso de máquinas está bem disseminado, mas muito desigualmente, en- tre empresas estruturadas e capitalizadas – uma minoria – e empresas de pequeno Reportagem de Cláudia Viegas porte – um verdadeiro turbilhão onde sub- sistem máquinas cuja idade remonta à épo- ca da segunda onda de industrialização do país, quando não mais antigas. É nelas que fica o paraíso disperso das chamadas prensas por engate de chaveta, hoje comparadas por muitos a um carrasco mutilador por sua ori- ginal impossibilidade técnica de sustar o ciclo de acionamento, que, se disparado por equí- voco, põe em risco a integridade física do tra- balhador (veja “Múltiplos usos, altos riscos”). Só em São Paulo, maior parque industrial do país, “55% das metalúrgicas utilizam pren- sas ou máquinas similares, ou seja, têm es- tamparia”, informa o diretor do Instituto Na- cional de Prevenção aos Acidentes em Má- quinas e Equipamentos (Inpame), engenhei- ro Josebel Rubin. Segundo ele, tal dado pro- vém de pesquisa realizada entre 1997 e 1999 pela Fundacentro/SP e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e acredita-se que “os números não mudaram muito, pelo menos em termos proporcionais”. Assim, uma das maiores causas da elevada presença de má- quinas como fatores de acidentes de trabalhos está relacionada à falta de recursos das em- presas para modernizarem suas instalações. REVISTA PROTEÇÃO 35SETEMBRO / 2006 REVISTA PROTEÇÃO 35SETEMBRO / 2006 D IV U LG A Ç Ã O : F RA S- LE - J Ú LI O S O A RE S/ O BJ ET IV A SETEMBRO / 200636 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Aida Becker (direita) constata melhorias em injetora vertical IN V EN SY S/ V IC TO R FA C C H IN Que as prensas lideram essa problemá- tica, não há dúvida. O diretor do setor Jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Jodanias Marins de Oliveira, afirma que 40% das empresas de abran- gência da instituição, que representa cer- ca de 40 mil trabalhadores, apresentam desconformidade quanto à segurança das prensas que utilizam. E, conforme Rubin, do Inpame, “o uni- verso maior de máquinas são as prensas de conformação mecânica, que implicam diferentes graus de segurança e dificul- tam a definição da proteção”. Ele atesta que “o universo produtivo das prensas é pelo menos 50 vezes maior que o das injetoras”. E mais: o uso de prensas é muito mais variado, ou seja, “é difícil en- trar em uma empresa que não tenha uma prensa ou máquina similar”, garante o engenheiro, pois elas prestam-se a mui- tas utilidades. Guilhotinas, dobradoras, perfiladoras, cilindros de processamento de borracha e laminadoras estão no mes- mo status de perigo. INFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕES A falta de recursos para proteger má- quinas vem acompanhada da carência de informações, que não é apenas do com- prador ou do usuário final da máquina (trabalhador), mas começa já no fabrican- te. Há mais de uma década, o Ministério do Trabalho, por meio de algumas DRTs, vem costurando convenções coletivas e realizando ações paulatinas, calcadas em normas da ABNT, para que as empresas disponham de máquinas mais protegidas. Tal trabalho iniciou-se no centro nervo- so do setor metalúrgico, onde, em 1999, foi firmada convenção coletiva abrangen- do o Sindicato dos Metalúrgicos que hoje representa a capital paulistana e a região de Mogi das Cruzes. “Em 2001, foi firma- da a convenção estadual”, conta o coorde- nador técnico do Departamento de Segu- rança e Saúde do Trabalho do sindicato, Adonai Ribeiro. O marco mais relevante nesse processo foi, conforme ele, a Con- venção Coletiva de Melhoria das Condi- ções de Trabalho em Prensas e Equipa- mentos Similares, Injetoras de Plástico e Tratamento Galvânico de Superfície nas Indústrias Metalúrgicas de São Paulo, assi- nada em novembro de 2002. No anexo II desse documento de nome suntuoso es- tá o Programa de Prevenção de Riscos em Prensas e Similares (PPRPS), que deveria servir de guia para melhorar a oferta de máquinas seguras. A realidade, porém, mostra um des- compasso entre o esforço normatizador e a capacidade de a maioria das empresas acompanhá-lo. “O problema mais grave que vejo é que, muitas vezes, o fabricante não dá atenção para as normas da ABNT. Elas tratam desde princípios gerais para a apreciação do risco – que valem para qualquer tipo de máquina – até princípios de projeto para fabricação de máquinas. Existem também normas sobre aspec- tos de dispositivos de segurança e as es- pecíficas para cada família ou tipo de má- SETEMBRO / 200638 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS quina, como injetoras, cilindros, prensas”, relata a engenheira de segurança e audi- tora fiscal da Subdelegacia do Trabalho de Caxias do Sul (RS), Aida Cristina Bec- ker. Mas, reconhece a auditora, as nor- mas da ABNT não têm validade em si, do ponto de vista legal como lei, embora sejam mencionadas no PPRPS e sirvam de base para documentos subseqüentes ao da convenção coletiva, como as Notas Técnicas 37/2004 e a recente NT 16/ 2005, que está dando origem a um ma- nual sobre segurança em prensas elabo- rado por um grupo de entidades gaúchas lideradas pelo Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Contrab/RS). EVOLUÇÃOEVOLUÇÃOEVOLUÇÃOEVOLUÇÃOEVOLUÇÃO O manual visa justamente combater a desinformação reinante principalmente entre pequenas empresas na área de proteção de máquinas e equipamentos, atesta a advogada Beatriz Santos Gomes, integrante do Contrab, onde recente- mente foi criado um Grupo de Prensas, formado por profissionais da área de Se- gurança do Trabalho, para o estudo da NT 16 e posterior orientação à classe pa- tronal. Desse grupo, participam também a Subdelegacia do Trabalho de Caxias do Sul e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico daquele município. Con- forme Beatriz, a equipe dedicou dez me- ses à elaboração do manual para que ele pudesse refletir informações essenciais numa linguagem do cotidiano. Prestes a ser distribuído aos vários escalões de produção nas empresas, com tiragem inicial de cinco mil exemplares, ele deve- rá ser um ponto chave de comunicação entre todos os que lidam com prensas e similares, inclusive tendoa função de sub- sidiar treinamentos. Diante de tantos instrumentos norma- tivos, cabe compreender como os mes- mos evoluíram e que impasses se têm à vista. Num primeiro momento, fica claro que as ações, embora direcionadas na li- nha prevencionista comum, variam quan- to às estratégias entre os Estados, prin- cipalmente em razão da cultura empresa- rial vigente em cada região e da confor- mação – estrutura e tipologia do parque fabril. Em São Paulo, por exemplo, foi criado há mais de quatro anos, pela DRT local, o Programa Estadual da Indústria Metalúrgica, o qual, num primeiro mo- mento, teve como compromisso divulgar a convenção coletiva quanto aos prazos e procedimentos a serem cumpridos. Hi- delberto Bezerra Nobre Junior, auditor fiscal da DRT/SP, explica que a NT 37/ 2004 surgiu como decorrência natural do prazo da convenção de 2002, que estava prevista para durar dois anos. Em 2004, antes do término de vigência da conven- ção de 2002, foi publicada a NT 37 do Ministério do Trabalho. “A NT é muito mais avançada do que a convenção, pois aprimora dispositivos de proteção. A no- va convenção coletiva de 2006, firmada em abril, incorpora os conceitos da NT 37”, observa Nobre. “Já a NT 16/2005 tem um olhar mais sistêmico sobre as máquinas”, compara. Aida Becker, uma das elaboradoras da NT 16 e do manual que está sendo editado pela Fiergs, ga- rante que a grande vantagem das NTs 37 e 16 é a especificidade. Para ela, tanto a NR 12 quanto a Convenção 119 da OIT, ratificada no Brasil, são ferramentas im- portantes para a fiscalização, mas muito amplas no seu escopo, uma vez que de- terminam a obrigatoriedade de as máqui- nas e equipamentos serem protegidos, mas não detalham meios de consecução dessa obrigatoriedade. “A NT 16, antiga NT 37, foi criada para dizer o que é condi- ção segura para prensas e similares. Ela especifica regras básicas, que foram re- tiradas de normas da ABNT já existen- tes”, completa Aida. ADESÃOADESÃOADESÃOADESÃOADESÃO No Estado de São Paulo, em que pe- sem as dificuldades inerentes à composi- ção de uma base de dados confiável, re- presentadas sobretudo pela renitente subnotificação mesmo em relação a aci- dentes nada imperceptíveis, a DRT per- cebe aumento na adesão das partes en- volvidas: “Consolidamos o conhecimen- to em relação à proteção de prensas e injetoras, disseminamos a idéia da neces- sidade de proteção – e existe conheci- mento técnico para isso. Assim, sindica- tos patronais e de trabalhadores passa- ram a cultivar a idéia de que é necessário proteger as máquinas, e isso não se dis- cute mais”, reflete Hidelberto Bezerra. “É claro que temos resistências, mas, hoje, esse conhecimento é pacífico, e a- vançamos também, muito, do ponto de vista tecnológico”, reitera. O auditor con- segue mensurar a diferença: “A conven- ção coletiva de 1999 tinha 12 cláusulas e um anexo que tratava apenas de prensas; a de 2006 tem 22 cláusulas, quatro ane- xos e 81 itens”. Além disso, “enquanto em 1999 tínhamos um sindicato patro- nal e sete de trabalhadores assinando o documento, no ano de 2006 tivemos 16 sindicatos de empregadores e 59 de tra- balhadores como signatários”, diz. Em Minas Gerais, também foram con- tabilizados progressos com a aplicação dos sucessivos instrumentos normati- vos, apesar de ainda haver uma significati- va resistência do meio empresarial à ade- quação às exigências da fiscalização. O chefe da seção de Segurança e Saúde do Trabalho da DRT/MG, Ricardo Ferreira Deusdará, ressalta que, na área de pren- sas, o índice de regularização das empre- sas quanto à proteção em máquinas é de 77%, mas isto é resultado de uma luta cotidiana que envolveu um trabalho sis- temático de acompanhamento de ade- quação das empresas, não sem uma quota significativa de interdições, que atingiu o montante de 1,5 mil máquinas, em 2003, e até mesmo impasses desgastan- tes. Ele aponta como uma das barreiras a negligência de algumas empresas, que insistem em manter situações insegu- Acidentes de trabalho típicos atingindo mãos, dedos e braços 2002/2004 Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social/2004 Parte(s) atingida(s) Total 2002 Total 2004 Variação % (a) Mão (exceto punho ou dedos) 35.753 37.000 3,5 (b) Dedo 86.185 106.514 23,6 (c) Membros superiores 2.852 2.812 -1,4 (partes múltiplas) (d) Membros superiores 3.125 3.100 -0,8 (não informado) (e) Antebraço (entre punho e 11.836 15.428 30,4 cotovelo) (f) Braço (entre punho e ombro) 13.269 12.921 -2,6 (g) Braço (acima do cotovelo) 5.321 4.719 -11,3 Total de acidentes 158.341 182.494 15,3 (de “a” até “g”) Total de acidentes no ano (em geral) 323.879 371.482 14,1 YA LE LA FO N TE SETEMBRO / 200640 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Máquinas de conformação mecânica, como prensas e similares, são as mais comuns na indústria, dada a sua versatili- dade de aplicação. Prestam-se a uma grande gama de processos produtivos, especialmente em casos nos quais mu- danças de ferramentas permitem multi- plicar o número de itens fabricados por uma empresa. Quando se trata de pren- sas por engate de chaveta, então, é con- senso que está-se lidando com um dos maiores vilões da segurança, seja na in- dústria mecânica, metalúrgica ou em outras que realizem processos de confor- mação. Apesar disto, seu uso é permiti- do pelas Notas Técnicas 16/2005 e 37/ 2004 e também pela Convenção Coletiva de São Paulo, desde que as mesmas este- jam adequadamente protegidas e desde que estejam na produção antes de no- vembro de 2002, para o caso de São Paulo. A permissão de uso, contudo, não quer dizer que possam ser livremente fabrica- das e vendidas no Brasil. “A fabricação e a comercialização dessas prensas é proi- bida, para o caso do Estado de São Paulo, expressamente pela Convenção Coleti- va das Indústrias Metalúrgicas, que vigo- ra com essa proibição desde novembro de 2002”, observa o diretor do Inpame, Josebel Rubin. Para os demais estados brasileiros, prossegue, a proibição da fa- bricação e da comercialização dessas prensas é garantida pela aplicação com- Múltiplos usos, altos riscos Prensas servem para uma gama de processos produtivos pleta da NBR 13930. “Tal norma, ainda que sem poder de lei, é aplicável para todos os fabricantes de máquinas, na me- dida em que o Sindimaq e a Abimaq, são formalmente comprometidos com o cumprimento das normas técnicas, como sócios da ABNT”, explica. Na prática, isto significa que não pode haver prensas por engate de chaveta funcionando sem pro- teção. Fabricadas e vendidas assim, tam- pouco. REALIDADEREALIDADEREALIDADEREALIDADEREALIDADE Na prática, porém, basta um passeio, real ou virtual, para desafiar um trabalho sério de anos e anos de tentativas de con- senso e conscientização. O passeio real pode ser na Rua Piratininga, em São Pau- lo, onde há um pegue-pague de máquinas descomprometido com a proteção dos trabalhadores. O virtual está, por exem- plo, no chamado “mercado livre”, onde o engenheiro de Segurança do Trabalho e professor Paulo Souto Mayor, do Rio Grande do Sul, identificou, a pedido da reportagem de Proteção, dois exemplos de negligência (vejam-se os sites http:// produto.mercadolivre.com.br/MLB- 45816117-prensa-excentrica-45tn-ri- cetti-_JM e http://produto.mercadoli- vre.com.br/MLB-45574698-prensa-ex- centrica-walvi-wag-65-ton-_JM). Ali apa- recem ofertas-relâmpago de prensas de chaveta negociadas em uma média de 20 ras mesmo depois que a DRT as fiscaliza e determina a realização de mudanças. “Viramos as costas, e as empresas reti- ram a proteção. Existem processos no Ministério Público Federal por causa da reincidência das empresas, em instância criminal. Fomos ameaçados várias vezes por trabalhadores e chegamos a ficar pre- sos numa empresa porque até mesmo os empregados não admitiam a paralisa- ção de máquinas inseguras”, conta. “Ho- je, istonão ocorre mais. As empresas sa- bem que o projeto está disseminado por todo o Estado”, acrescenta. De acordo com Carlos Piancartelli, também auditor da DRT mineira, uma análise de todos os acidentes graves e fatais ocorridos no Estado revela que a principal causa dos acidentes típicos são máquinas e equi- pamentos, compondo 19% dos casos. MAMAMAMAMATURIDADETURIDADETURIDADETURIDADETURIDADE Dificuldades semelhantes às de Minas Gerais são verificadas no Rio Grande do Sul, onde a DRT constata lacunas quanto ao grau de maturidade das empresas na forma de encarar o problema. “Houve progressos nos últimos dez anos, algu- mas iniciativas foram adotadas de forma pontual. Mas é tudo de forma reativa. A interdição é comum com relação a pren- sas laminadoras”, nota o auditor fiscal da DRT/RS Alfredo Scienza. Para ele, “é a ausência de políticas de tratamento da segurança, por parte das empresas, que leva a tal situação. “Não faz parte da cultu- ra das empresas pensar na segurança. Elas compram máquinas sem proteção. Deveriam seguir o ‘princípio da falha segu- ra’ pelo qual, mesmo o operador falhan- do, a máquina impede o acidente por con- ter dispositivos de proteção redundan- tes”. A razão é simples: “Nenhuma pes- soa tem atenção oito horas por dia, seis dias por semana. A máquina tem que es- tar apta a absorver o erro humano, de forma que o acidente não ocorra”, argu- menta. Do ponto de vista das autorida- des fiscalizadoras, o que falta são ações menos reativas e mais propositivas. “Isso teria conseqüências sobre o mercado de compra e venda de máquinas, de desen- volvimento, no sentido de termos equi- pamentos melhores. As empresas não deveriam esperar que chegasse a autori- dade policial, que houvesse uma interven- ção e que parasse o seu processo produ- tivo. Deveriam elas mesmas buscarem a segurança”, aconselha Scienza. Prensas por engate de chaveta só podem funcionar com proteção D IV U LG A Ç Ã O Y A LE LA FO N TE SETEMBRO / 200642 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS dias por R$ 14 mil e R$ 18 mil, respecti- vamente. Sem entrar em julgamentos éticos ou legais, a causa dessa realidade é muito facilmente compreensível, embora não justificável: proteções, mesmo as mais simples, exigem um desembolso que, para a maioria das empresas, não é acessí- vel. Podem encarecer a máquina em 30% a 50% do seu valor original, dependendo do modelo, do processo em que é usada e do tipo de dispositivo aplicado. Na Springer Carrier, por exemplo, uma das mais conceituadas fabricantes de condi- cionadores de ar, com sede em Canoas (RS), a proteção mecânica de uma única máquina chegou a custar R$ 500, informa a gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança, engenheira Rita Rutigliano. Pode ser pouco para a empresa, que des- de 1997 já investiu R$ 1,5 milhão em se- gurança de máquinas e ainda está com um cronograma de desembolsos, nessa área, previsto em R$ 800 mil, até 2008. “Estamos trocando viradeiras mecânicas – são nove prensas mecânicas – por um centro de dobras mecânicas, com recur- sos próprios, da Carrier”, afirma Rita. Mas, para as pequenas empresas, um simples anteparo adicionado a uma má- quina muitas vezes é economicamente inviável. CASEIRASCASEIRASCASEIRASCASEIRASCASEIRAS Segundo Josebel Rubin, é possível, em muitos casos, a aplicação de soluções ca- seiras – feitas nas próprias empresas – de modo a atender adequadamente as exigências legais e normativas, oferecen- do máquinas protegidas aos trabalhado- res. As prensas de chaveta estão sujeitas a repique, por falha mecânica da mesa móvel, a qual pode acidentalmente des- cer e provocar acidentes graves envol- vendo as mãos do trabalhador, na retira- da ou colocação de material para prensar. A solução mais acessível é a compra do material para enclausuramento de todas as partes móveis da máquina, como vo- lantes, pontas de eixo, biela e janela para acesso ao eixo excêntrico. “Isto significa fechar o acesso ao movimento, com gra- des, que podem ser metálicas ou não, desde que feitas com material rígido, e que podem ser vazadas ou contínuas”, ensina Rubin. Algumas prensas apresentam pedais mecânicos, os quais são proibidos pela Convenção Coletiva de São Paulo e pelas NTs 16 e 37. “Este é o único caso em que a solução é um pouco mais sofisticada, mas ainda assim pode ser caseira. É ne- cessário substituir o pedal mecânico por pedais pneumáticos, elétricos ou eletro- pneumáticos”, sugere o engenheiro. Ele complementa que “todos os pedais preci- sam ser dotados de caixa de proteção, isto é, de uma peça metálica que os prote- jam, impedindo que terceiros – que não o operador – o acionem, acidentalmente ou involuntariamente”. Além de barreiras mecânicas, que impe- dem que as mãos dos trabalhadores in- gressem nas áreas de risco das máquinas, estão sendo bastante difundidos equipa- mentos de proteção à distância, que per- mitem que a máquina opere aberta, mas que, mediante recursos – geralmente ópticos, eletrônicos ou eletroeletrônicos – garantem a pronta parada da máquina quando os dedos, as mãos ou qualquer outra parte do corpo humano se aproxi- mem das áreas de riscos. Tais são as cor- tinas de luz, scanners e sensores do tipo Controladores Lógico Programáveis (veja “A automação que protege”). Po- rém, nada disso prescinde de iniciativas de capacitação dos operadores visando à disseminação do conhecimento para o uso correto das máquinas. “O que perce- bemos é que a grande maioria das em- presas tem máquinas com um certo grau de proteção, mas o funcionário não é bem instruído. Ele retira a proteção da má- quina para trabalhar mais rápido. Noto que existem empresas pequenas, e com alta tecnologia, que passam por isto. Presenciamos a ignorância operacional, principalmente em empresas na faixa de 50 a 1.000 empregados. Muitas não usam bem a proteção que têm. Precisam mu- dar sua mentalidade. Desconhecem os transtornos causados por acidentes que ocasionam mutilações de mãos e bra- ços”, avalia Rinaldo Antônio Montanher, professor do Senai e consultor de em- presas em São Paulo. Rita: investimentos planejados na Springer RA FA EL S C H IO Juntem-se políticas públicas de financi- amento desatentas perante um grande contingente humano vítima de máquinas obsoletas com produtividade buscada a qualquer preço, e o resultado será uma contabilidade que o tempo e a Justiça cobram: o passivo trabalhista. “O gover- no deveria liberar linhas de financiamento com juros menores para que as indústri- as pudessem amortizar esses investi- mentos em máquinas”, defende o econo- mista Paulo Castelo Branco, especialista em automação industrial na área de pren- sas e diretor da Tecnopress Automação Industrial, em São Paulo (SP). Ele não é o único a observar o lapso entre as ini- ciativas empresariais e as condições es- truturais para os investimentos em pro- dução utilizando máquinas. “Falta com- Aprendendo com os erros Empresas vencem desafios e saem vitoriosas petitividade às empresas nacionais, de- vido ao famoso custo Brasil, para que es- tas possam ter capacidade de investir, isto somado com a inexistência de linhas de créditos e financiamento para tais fi- nalidades”, atesta a advogada Beatriz Santos Gomes, do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. Precisa- mos nos preparar para enfrentar a con- corrência da China e da Índia, por exem- plo. Muitas máquinas importadas custam até 50% menos, sem proteção”, dispara o coordenador do Sindicato das Indústri- as de Artefatos de Metais Não Ferrosos no Estado de São Paulo (Siamfesp), Oduwaldo Álvaro, reiterando clamores de que “o governo deveria abrir mais li- nhas de financiamento, possibilitando às SETEMBRO / 200644 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS empresas terem máquinas mais segu- ras”. Contudo,segundo o coordenador de Comunicação do BNDES, Gélcio Siqueira, não existem, no Banco Nacio- nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) normas específicas para a obrigatoriedade de o tomador de em- préstimos comprometer-se com a com- pra de máquinas completas, incluindo itens de segurança. Em razão disso, as empresas buscam caminhos próprios, o que, em alguns ca- sos significa fazer por si mesmas as pro- teções ou, na pior hipótese, nada fazer até que haja uma pressão legal. Seja qual for a opção, há uma certeza: todas elas, mesmo as que passaram por processos traumáticos, tiraram alguma lição, seja pelo erro do improviso ou da inércia. LIÇÃOLIÇÃOLIÇÃOLIÇÃOLIÇÃO Um dos casos mais comentados de ação da DRT/RS com respeito à proteção de máquinas, neste ano, envolveu uma das 17 sistemistas do complexo da Gene- ral Motors (GM), em Gravataí, Região Metropolitana de Porto Alegre. O foco do problema foram máquinas do tipo car- rossel, utilizadas na injeção de poliureta- no para a fabricação de assentos de mo- delos do automóvel Celta. Após fiscaliza- ção da DRT, tais máquinas, da empresa Pelzer, foram interditadas, o que impli- cou, ao cabo do término dos estoques, na paralisação da produção do carro por dois dias, com prejuízos estimados em R$ 30,6 milhões. O gerente industrial da unidade, José Maria de Freitas, precisou fazer mudanças significativas, em dois ou três dias, para levantar a interdição, cum- prindo com as exigências preliminares da fiscalização. “Essa aprendizagem foi uma das melhores coisas que ocorreu nos meus 30 anos de trabalho no setor de injeção”, afirma Freitas. “Ela abriu nos- so foco”, confessa ele, sem deixar de ad- mitir que a empresa estava equivocada na sua abordagem. “Se não ficamos de olhos abertos para o quesito segurança, nos acomodamos. Se não muda, a fábrica fica sem segurança para o empregado. Só se vê com a intervenção da DRT, com en- genheiros e médicos do Trabalho. Nosso foco é produzir, mas com segurança e qua- lidade, fazendo com que o trabalhador se sinta seguro como se estivesse em sua própria casa. Para nós, o que aconte- ceu foi um alerta que serviu de lição”, observa. SEM TEMORESSEM TEMORESSEM TEMORESSEM TEMORESSEM TEMORES Para conseguir se adequar, a Pelzer, que tem 140 trabalhadores e opera em três turnos, recorreu aos serviços da Krafix, empresa localizada em Cachoeiri- nha (RS) que atua na área de soluções automatizadas para a proteção em má- quinas e equipamentos. Os carrosséis – prensas de fechamento vertical – não mais oferecem risco aos trabalhadores, pois estão montados sobre um grande e firme tablado cuja área circular é varrida por um scanner, que não permite a desci- da da parte superior e o conseqüente fe- chamento da máquina. Assim, os traba- lhadores trabalham na desmoldagem das peças sem o temor de ferimento em de- dos, mãos ou braços. O grande desafio, nesse caso, foi a rapidez das mudanças, para evitar maiores prejuízos ao Comple- xo, e, num segundo momento, a elabora- ção de um cronograma de mudanças vi- sando à melhoria geral da segurança em todos os ambientes da fábrica. “O laudo feito pela Krafix foi levado para a DRT, mostrando que todas as máqui- nas solicitadas receberam proteção”, conta o diretor da empresa de automa- ção, Leonardo Nascimento. De acordo com ele, mesmo antes da interdição, a Pelzer já havia definido como fazer a mu- dança, mas o cronograma previsto era de 40 dias, inviável para a dinâmica de trabalho necessária à fábrica. Além da im- plantação de scanner, CLP e cortina de luz para proporcionar uma proteção óp- tica, a Pelzer providenciou a colocação de botões de segurança em máquinas, enclausurou muitas delas, instalou uma escada de alimentação de uma injetora de grande porte, possibilitando maior se- gurança contra quedas aos operadores, e isolou robôs (braços mecânicos), de modo a impedir qualquer chance de con- tato dos mesmos com trabalhadores que atuam na linha de produção de compo- nentes de plásticos rígidos para conso- les e outras partes internas de automó- veis. “A DRT avalia e apóia nossos progra- mas. Dá o prazo de que precisamos”, afir- ma Freitas. Atualmente com 14 injetoras, a Pelzer firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Tra- balho do Rio Grande do Sul no qual se comprometeu com uma série de ações. Com isso, aplicou R$ 300 mil nas medidas iniciais de segurança. Automatizou vári- as máquinas, instalando nelas kits de se-Na Pelzer scanner (detalhe à direita) controla os equipamentos evitando o fechamento da máquina M A G M A T EC N O LO G IA D E IN FO RM A Ç Ã O Nascimento (esquerda) e Farias: parceria M A G M A T EC N O LO G IA D E IN FO RM A Ç Ã O REVISTA PROTEÇÃO 45SETEMBRO / 2006 gurança. “Ainda vamos aplicar R$ 100 mil para adequar as demais máquinas. Se estas máquinas já não tivessem certos dispositivos de segurança, seria uns 1.500% a mais de investimento”, estima Freitas. Conforme a procuradora do Tra- balho Paula Rousseff Araújo, o TAC cele- brado entre o Ministério Público do Tra- balho e a Pelzer vale por tempo indeter- minado. “Todas as 23 obrigações exigidas têm força de lei”, revela. Além disto, o inquérito já foi transformado em verifi- cação e cumprimento. “A Pelzer pediu prorrogação de prazo para o cumprimen- to de três obrigações, diz que vai preci- sar de 120 dias, e a DRT considerou ra- zoável o pedido, inclusive agendou uma visita lá”, informa. ORIENTORIENTORIENTORIENTORIENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO Fabricante de rodas de ferro fundido, revestidas de PVC e PU – as quais susten- tam e movem carrinhos de supermerca- dos e bagageiros de aeroportos –, a Me- talúrgica Schioppa, de São Paulo, com 220 empregados, não tem o mesmo aporte de recursos da sistemista de Gravataí. Daí por que sua saída foi buscar a ajuda do Inpame. “Recorremos a empresas especializadas para proteger as nossas máquinas. Compramos o material neces- sário para reformar as máquinas, nossos mecânicos e eletricistas fizeram as alte- rações. Em algumas prensas de chaveta, fechamos as ferramentas. Nas que não conseguimos, estamos usando pinças magnéticas, de modo que o trabalhador manipula a peça a ser estampada com um alicate e a leva até o martelo desta forma, solta a peça e usa o comando bi- manual para movimentar o martelo”, con- ta o técnico em Segurança do Trabalho da empresa, Pedro Falandes. De acordo com ele, os conhecimentos repassados pelo Inpame foram fundamentais para a empresa superar situações de insegu- rança no trato com máquinas. “Temos al- gumas prensas de chaveta”, afirma o téc- nico, acrescentando que todas estão protegidas. No total, a Schioppa tem 12 máquinas injetoras e dez prensas com capacidade acima de 60 toneladas. “Con- seguimos modificar 80% das máquinas. Temos uma prensa em que usamos 22 ferramentas diferentes, trocamos duas ou mais vezes por dia. Uma prensa de 1,5 tonelada leva uma hora e meia para a troca de ferramentas, isso é um tempo de setup muito eleva- do”, avalia. Além das mudanças mecânicas e de isolamento, a empresa instalou cor- tina de luz e cabine acústica em uma má- quina – “só a cortina saiu R$ 12 mil”, apon- ta Falandes, surpreso com os valores. De acordo com ele, “para fazer proteções bimanuais, gastamos R$ 50 mil só com a compra de materiais, sem contar a mão- de-obra, pois nossos funcionários, eles mesmos, fizeram a proteção”. FIM DA CHAFIM DA CHAFIM DA CHAFIM DA CHAFIM DA CHAVETVETVETVETVETAAAAA A Budai Indústria Metalúrgica, com se- de em Jandira (SP), livrou-se de um pesa- delo. “Com o PPRPS, conseguimos tro- car as prensas de chaveta por prensas de freio e fricção, que são mais seguras e dão condições de brecar antes que faça o ciclo completo. Essas prensas conse- guem parar numa emergência. São má- quinasde 25 a 600 toneladas”, diz o téc- nico em Segurança do Trabalho da empre- sa, Antônio Tozadori. Fornecedora de peças para o setor automotivo, com cer- ca de 400 empregados – dos quais 80 prensadores –, a Budai apostou, ao mes- mo tempo, em dispositivos de automa- ção como cortinas de luz. Um dos fato- res de sucesso das melhorias foi a ênfa- se no treinamento: “Foi dado pela pró- pria área de Segurança do Trabalho da empresa, usando apresentações em da- tashow e filmes. Agora, temos um pro- grama novo, que segue a convenção coletiva do setor”, informa Tozadori. Um dos dilemas que acomete as inicia- tivas de proteção em máquinas tem ori- gem no medo da perda de produtividade. Servir simultaneamente a duas senhoras bem diferentes – grande escala e segu- rança – pode soar pecaminoso. Mas quem já passou pelo impasse garante que essa incompatibilidade tem solução. “O que acontece é que a produtividade, primeiro, cai, depois, volta a subir e pode ser até maior do que antes. É como estar dirigin- do um Fusca 66 e depois passar a dirigir uma Ferrari. No começo, é difícil, mas, depois, se pega o jeito”, afirma a gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança da Springer Carrier, Rita Rutigliano. Ela é testemunha: “Nossa produtividade, aqui, caiu 30% a 40%, inicialmente, manten- do-se assim por três a quatro meses. De- pois, voltou a subir. Cresceu quase 75%”, atesta. Como? “As pessoas pegam o jeito e ganham ritmo com a proteção”, ga- rante. SETEMBRO / 200646 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Em 1992, as injetoras respondi- am por metade dos casos de ampu- tações e mutilações de membros superiores registradas em São Pau- lo e Região Metropolitana. Em 1998, esse percentual caiu para 27%, in- forma Rodolfo Andrade Vilela, pes- quisador e coordenador do Progra- ma de Saúde do Trabalhador do Ce- rest de Piracicaba. Acredita-se que esta melhoria ocorreu graças, prin- cipalmente, ao progresso das nego- ciações entre representantes de empresas e trabalhadores do setor e Ministério do Trabalho, culminando na Convenção Coletiva sobre Prevenção de Acidentes em Máquinas Injetoras de Plástico, cujo primeiro embrião, um acor- do, foi firmado em 1995, tendo uma re- dação mais recente em outubro de 2004. Segundo Leonardo Mello e Silva, profes- sor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, de 1995 a 2001, a con- venção possibilitou o treinamento de 5.159 trabalhadores e foram expedidos 3.350 selos atestando a segurança das respectivas injetoras. “Quando tiveram início os trabalhos tri- partites com injetoras, não havia pratica- mente nenhuma proteção. As conven- ções envolveram a ABNT e fabricantes, estabelecendo requisitos mínimos de se- gurança para injetoras. Foram chamados fabricantes e usuários e traduziram a norma européia do setor”, lembra Vilela. Entre os principais avanços da convenção estão a criação de uma Comissão Per- manente de Negociação, em caráter tri- partite; o compromisso de as partes en- volvidas buscarem mecanismos de finan- ciamento para a compra de máquinas seguras (14ª cláusula do texto da con- venção de 2004); a introdução de requi- sitos de segurança para máquinas inje- toras (Anexo I); e dois mecanismos que funcionam como ferramentas de au- ditoria: o Anexo II (checklist da existên- cia e do funcionamento de dispositivos de segurança para essas máquinas); e o Anexo III, que tem por objetivo checar o cumprimento da convenção. DANOS E ESPECIFICAÇÕESDANOS E ESPECIFICAÇÕESDANOS E ESPECIFICAÇÕESDANOS E ESPECIFICAÇÕESDANOS E ESPECIFICAÇÕES Os principais danos que podem ser Risco diminuído Fabricantes e usuários se unem para tornar injetoras mais seguras causados por máquinas injetoras são es- magamento de mãos e braços durante o fechamento do molde ou na introdução de dedos na área da máquina em que o plástico é derretido e homogeneizado. Também são possíveis queimaduras cau- sadas pelo contato do trabalhador com o cilindro sem isolamento térmico, ou pelo espirramento de material plástico aqueci- do, quando injetado no molde pelo bico de injeção. Para incrementar a segurança no uso dessas máquinas, especialistas lançaram mão de normas da ABNT, es- pecialmente a NBR 13.757, a qual define as partes da injetora e mecanismos de proteção gradativos que elas devem ter – de 1 a 6, em grau crescente. Também utiliza-se a NBR 13.536, que define re- quisitos técnicos de segurança para pro- jeto, construção e uso dessa família de máquinas. Embora causem seqüelas tão graves quanto as ocasionadas por prensas, as injetoras levam vantagem quando se tra- ta de proteção porque os dispositivos são facilmente adaptáveis a elas e apresen- tam custos menores. Segundo a auditora Aida Becker, da Subdelegacia Regional do Trabalho de Caxias do Sul (RS), a pos- sibilidade de redundância na proteção – com o funcionamento de sistemas mecâ- nicos, hidráulicos e elétricos, coexisten- tes – em muito colaborou para a redução do número de acidentes com tais tipos de máquinas. “Temos alguma dificulda- de no monitoramento dos sensores de portas. Quando abre-se a porta, não pode ser fechado o molde. O sensor de posição envia sinal de que a porta não pode fechar. As pessoas, porém, para burlar o sistema, amarram a chave de modo a permitir que trabalhem mais rápido. Porém, isso não deve acontecer, pois deve haver um relés ou CLP de segurança”, observa. Entre os maiores problemas na área de injeto- ras estão a presença de máquinas im- portadas, a preços bem mais acessí- veis, sem dispositivos de proteção, e a própria cultura da burla, que se disse- mina nas empresas na tentativa de obte- rem-se ganhos de produtividade sem respeito à segurança – são fitas crepes, jumpers e outros macetes que tentam enganar os dispositivos de proteção, co- locando abaixo esforços e investimen- tos. A convenção coletiva apresenta u- ma arma contra esse tipo de fraude, que são os checklists periódicos, os quais devem ser feitos a cada seis meses. CHECAGEMCHECAGEMCHECAGEMCHECAGEMCHECAGEM “É o Sindiplast (Sindicato da Indústria de Material Plástico no Estado de São Paulo) que nos fornece um checklist pa- drão para verificar se a máquina cumpre requisitos de segurança. A máquina já sai da fábrica com selo. Atende a NR 12 e a convenção coletiva de injetoras. O sindi- cato, a cada seis meses, analisa se a máqui- na está cumprindo os requisitos, verifica documentos e número de série. Só en- tão, se aprovado o checklist, é fornecido o selo verde-amarelo”, explica o enge- nheiro de Segurança da empresa Igara- tiba, Anderson Pellegrini. Se não for re- metido esse checklist, o sindicato envia um auditor até a empresa para verificar o que aconteceu”. Localizada em Elias Fausto, na região de Campinas (SP), a Igaratiba produz frascos plásticos que embalam xampus, entre outros produtos. Conta com apro- ximadamente 1.000 funcionários e pos- sui 20 máquinas de origem chinesa, ad- quiridas neste ano, “todas com proteção”, destaca o engenheiro. No total, a empre- sa tem 50 injetoras, e a menor tem capa- cidade para 200 toneladas. “As máqui- nas mais modernas vêm programadas com sensores inteligentes, os quais não são possíveis corromper, pois nessa ten- tativa, elas simplesmente travam. Con- tudo, as adaptações de máquinas, para a colocação de segurança, são fáceis de burlar. Nenhuma de nossas máquinas permite que o trabalhador coloque a mão na área de prensagem. Para ter acesso a essa área, ele precisa abrir e fechar a por- ta, necessariamente e, ao fazer isso, acio- na-se o sensor de segurança”, relata. Proteção elétrica, mecânica e na área do molde IN V EN SY S/ V IC TO R FA C C H IN SETEMBRO / 200648 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Um personagem que ganhou a alcunha de “cilindro carioca assassino” saiu de ce- na lentamente, ao longo da última déca-da, para alívio dos trabalhadores que põem a “mão na massa”. “Tínhamos, até 1996, um grande número de acidentes com cilindros. Eram muitos e gravíssi- mos, com seqüelas permanentes – perda de membros e mãos”, recorda o diretor de Saúde e Segurança do Sindicato dos Panificadores de São Paulo e Região Me- tropolitana (Sindipan), Aparecido Alves Tenório. Ele descreve o dito “assassino” como “dois rolos de aço com 50 quilos cada um, onde o panificador jogava e pu- xava a massa, media a abertura do vão entre eles com os dedos”. Um dos atri- butos acidentais causados pelo algoz era realmente de fácil solução: “O cilindro corria no sentido horário, mas, com a que- da de energia, invertia o sentido da rota- ção. O padeiro esquecia e esmagava as mãos. A média era de dois a três aciden- tes por mês”, conta. Dez anos e muitas negociações depois, a situação dos filiados ao sindicato – em torno de 45 mil trabalhadores – está bem melhor. “As máquinas, de 1996 em dian- te, tiveram melhorias no projeto. Houve acordo coletivo sobre segurança no uso de cilindros de massa. DRT, Ministério Público, Sindicato das Indústrias, Sindica- to dos Trabalhadores e Fundacentro de- senvolveram um kit de segurança”, rela- ta. Tenório informa que uma das mudan- ças foi na parte elétrica: “O cilindro pas- Mão na massa com tranqüilidade? Cilindros estão mais seguros, mas masseiras ainda têm risco sou a ser bifásico, o que impede a inver- são da polaridade com a queda de ener- gia”. Mas a principal alteração foi a intro- dução do cilindro auxiliar ou morto, de celeron, material plástico rígido. “Não foi fácil. Custou muito a mudarem as máqui- nas entre 1996 e 2000. Fizemos um kit para adaptação dos cilindros antigos. O cilindro morto é inerte e aumenta a dis- tância entre os cilindros de metal e o tra- balhador. Mesmo que o padeiro queira colocar a mão, não alcança mais a área de risco. Ele joga a massa por trás e pega na frente”, descreve. Hoje, para a limpeza, é necessário desligar a máquina. Para au- mentar mais o grau de segurança, foram introduzidos botões de emergência. Atu- almente, é proibida a fabricação de cilin- dros de outra maneira, a não ser com essas características. “Em São Paulo, não se vende cilindro sem o kit de segurança. A DRT tem uma atuação muito firme”, garante o sindicalista. DISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃO De acordo com Tenório, acidentes de menor monta acontecem com masseiras – equipamentos parecidos com grandes batedeiras. Neles, o trabalhador mexe com a mão a parte de baixo da tigela, e o que roda é a parte de baixo (motor), que é mais lenta. “As masseiras atuais vêm com trava na tampa. Só ligam quando tampadas. Mesmo as mais lentas podem causar fratura de dedos”, observa, lem- brando que, as mais antigas não tinham tampa de proteção. “Estamos discutin- do com a Fundacentro/SP a colocação de um dispositivo de proteção nas masseiras usadas, mais antigas. Esse trabalho está em andamento. Pretendemos fazer um acordo coletivo quando tivermos uma so- lução para isso”, afirma. Segundo o engenheiro de Segurança do Trabalho da Divisão de Processos In- dustriais da Fundacentro/SP, Roberto do Valle Giuliano, não existem normas da ABNT para garantir a condição segura de máquinas usadas na panificação como modeladoras e masseiras. Máquinas no- vas, contudo, têm dispositivos de segu- rança. “Mas seria mais interessante que o fabricante fizesse um kit para adaptar as máquinas que ele fabrica, acrescendo isso no valor da máquina”, sugere. É preciso que os empresários e funcio- nários percebam que uma ligeira perda de tempo de produção pode ser impres- cindível na prevenção de acidentes e no ganho do tempo total de produtividade. A Fundacentro/SP, segundo ele, realizou um levantamento completo dos riscos em cilindros e outras máquinas de panifi- cação. Como a convenção foi firmada em São Paulo, apenas os fabricantes do Es- tado se preocuparam em produzir má- quinas seguras. “Na convenção, havia a idéia de se in- cluírem masseiras e outros tipos de má- quinas, como fornos elétricos, mas os fa- bricantes consideraram que a convenção foi prejudicial para eles”, explica o enge- nheiro. Como o acordo coletivo não obri- gava todos os fabricantes a aderirem às normas de prevenção, começou a haver uma competição entre as empresas que modificaram seus equipamentos e aque- las que não seguiram essas normas. A diferença de custo entre estas empresas proporcionou o aumento das vendas de máquinas inseguras. Algumas empresas do setor que aderiram às normas de se- gurança chegaram a falir. No que diz res- peito ao design, está-se começando a tra- çar condições nesse nível, com o Inmetro, para uma construção atrelada à seguran- ça, a fim de se produzirem equipamen- tos certificados. A idéia é o Inmetro for- necer as especificações e um selo de con- formidade. A Associação Brasileira da In- dústria de Panificação (ABIP), contatada pela reportagem, informou, por meio de sua Assessoria de Comunicação, que não desenvolve ações específicas sobre se- gurança em máquinas do setor.Masseira: proteção móvel com intertravamento C LO D O A LD O N O V A ES /F U N D A C EN TR O Cilindro com dispositivos adequados C LO D O A LD O N O V A ES /F U N D A C EN TR O SETEMBRO / 200650 REVISTA PROTEÇÃO PROTEÇÃO DE MÁQUINAS Nos últimos anos, controladores aplica- dos à automação de máquinas, como Co- mandos Lógicos Programáveis (CLPs) e Comandos Numéricos Computadoriza- dos (CNCs), evoluíram muito em capaci- dade de controle, comunicação e veloci- dade de processamento. Isso trouxe au- mento de produtividade, qualidade do produto e segurança do processo para o setor industrial. Um maior nível de segu- rança foi alcançado na medida em que a necessidade de intervenção humana di- minuiu e, por conseqüência, os riscos de acidentes também caíram. Além da au- tomatização dos movimentos das máqui- nas, alguns dispositivos de alimentação e extração de peças também contribu- em para a diminuição da intervenção hu- mana no processo produtivo, como por exemplo, robôs, desbobinadores e siste- mas transfer – estes, muitas vezes, con- trolados por CLPs, CNCs ou sistemas si- milares dedicados. Mesmo com todo esse avanço tecno- lógico, dependendo da máquina, do pro- cesso ou dos recursos disponíveis para a automação, alguma intervenção humana ainda é necessária, e nestes casos, para a prevenção de acidentes, é imprescindí- vel a instalação de dispositivos especiais de segurança, como cortinas de luz, scan- ners de área, chaves de intertravamento de proteções móveis, dispositivos de acionamento bimanuais, sistemas de pa- rada de emergência, relés ou CLPs de segurança. Estes dispositivos são ditos A automação que protege Especialistas garantem que investimento compensa especiais porque estão preparados para detectar falhas internas e levar a máqui- na para um estado seguro. Isso garante que o dispositivo sempre estará disponí- vel quando alguém precisar dele. NOVNOVNOVNOVNOVAS TECNOLOGIASAS TECNOLOGIASAS TECNOLOGIASAS TECNOLOGIASAS TECNOLOGIAS Segundo Raphael Martins da Silva, en- genheiro da área de Automação e Con- trole – A&C Safety Integrated – da Sie- mens, apesar de to- do esse avanço, é importante estar atento, pois “mui- tos sistemas são construídos visan- do apenas ao au- mento de produti- vidade e à qualida- de do produto fabri- cado, deixando de lado a segurança das pessoas que estão ao redor da máquina”. Há algu- mas décadas, segu- rança e controle de máquinas faziam parte de sistemasPrensa pneumática com mesa rotativa V IC TO R FA C C H IN distintos. “É comum ainda encontrarmos sistemas eletromecânicos dedicados às aplicações de segurança da máquina, co- mo relés de segurança, operando em conjuntocom CLPs, responsáveis pela automação (controle) da máquina”, jus- tifica. Porém, hoje, “estão disponíveis tecnologias híbridas, como CLPs e CNCs com segurança integrada”. Martins res- salta que essas tecnologias reduzem consideravelmente a necessidade de es- paço em painel, a quantidade de fiação e o número de conexões, bem como as chances de erros na montagem do siste- ma, melhorando a disponibilidade das máquinas, através de sistemas de diag- nóstico de falhas, e diminuindo a possibi- lidade de intervenção de pessoas “mal intencionadas” no intuito de burlar os dis- positivos. “É o que chamamos de auto- mação segura”, sintetiza. Em se tratando dos valores pagos por esses dispositivos, quem os produz e ins- tala assegura que os transtornos causa- dos por acidentes, como seqüelas ao tra- balhador e processos judiciais aos em- pregadores, são inúmeras vezes mais onerosos: “Preferimos chamar de inves- timentos, pois, hoje, um acidente de tra- balho tem um custo muito elevado para a empresa, especialmente aqueles com amputação de membros. Podemos dizer que, na sua maior parte, um investimen- to nesses produtos de segurança não passam de 20% do custo de um proces- so com acidente”, calcula Maria Inês Fer- nandes, gerente comercial da Leuze, fa- bricante de equipamentos de seguran- ça de São Paulo (SP). Mas é preciso estar atento à forma de utilização das tecnologias de automação. Do contrário, elas podem se voltar con- tra a finalidade para a qual foram pro- jetadas. “Um erro comum é utilizar corti- nas de luz (um equipamento óptico ele- trônico, que é um EPC importante para o caso das máquinas) em distâncias ina- dequadas ou ainda instaladas erronea- mente em máquinas de ciclo completo, como, por exemplo, em prensas de enga- te por chaveta. Aí, um investimento sig- nificativo e de alta qualidade pode estar comprometido, porque a cortina de luz não vai garantir a segurança, pela má ins- talação”, alerta Marcelo Del Vecchio, en- genheiro de Segurança e presidente da Associação Nacional de Empresas de Proteção ao Trabalho em Máquinas e E- quipamentos (Anprame). Dobradeira: cortina de luz e comando TE C N O M O A G EI RA /L EO N A SC IM EN TO
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