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REGIME DE BENS E SUCESSÃO Wilson Ricardo Ligiera DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA Conforme dispõe o art. 1.829 do Código Civil de 2002, a sucessão legítima defere-se na seguinte ordem: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. DA SUCESSÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE De acordo com o art. 1.830 do Código Civil brasileiro, somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. O art. 1.831 dispõe que ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar. Uma das maiores inovações trazidas pelo Código Civil de 2002 foi incluir o cônjuge como herdeiro necessário, juntamente com os descendentes e ascendentes (art. 1.845), bem como introduzi-lo na primeira classe, em concorrência com os descendentes, e na segunda, em concorrência com os ascendentes (art. 1.829). Todavia, não é em qualquer regime de casamento que o cônjuge concorrerá na primeira classe, conforme será explicado a seguir. DA CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES Após estabelecer a regra segundo a qual o cônjuge sobrevivente concorre à sucessão do de cujus, o Código tratou das exceções. Ou seja, declarou que o cônjuge não concorre nos seguintes casos: 1) se casado com o falecido no regime da comunhão universal; 2) se casado com o falecido no da separação obrigatória de bens; 3) se casado pelo regime da comunhão parcial, sem ter o falecido deixado bens particulares. Partindo dessas situações em que o cônjuge não concorre, podemos chegar, por exclusão, às seguintes hipóteses em que ele concorrerá: 1) se casado pelo regime da comunhão parcial, tendo o falecido deixado bens particulares; 2) se casado pelo regime da separação de bens (não obrigatória); 3) se casado pelo regime de participação final nos aqüestos. De acordo com o art. 1.832, quando concorrer com os descendentes caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer. DA CONCORRÊNCIA COM ASCENDENTES Estabelece o art. 1.836 que, na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. Nesses casos, o cônjuge terá direito de concorrer à herança independentemente do regime de bens adotado. Segundo o art. 1.837, concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança, cabendo-lhe a metade desta se houver um só ascendente, ou se for maior aquele grau. DA SUCESSÃO DO CÔNJUGE COMO ÚNICO HERDEIRO Preceitua o art. 1.838 que, na falta de descendentes e ascendentes, a sucessão será deferida por inteiro ao cônjuge sobrevivente. REGIMES DE BENS E SUCESSÃO DO CÔNJUGE: DA CONCORRÊNCIA COM OS DESCENDENTES REGIME DA SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS Suponhamos que um homem, casado sob o regime da separação total, possua um patrimônio de seiscentos reais. Falecendo tal homem, seus descendentes herdarão o patrimônio, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. Cada um dos filhos herdará, portanto, duzentos reais, sendo que igual quantia também receberá a esposa sobrevivente. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL No exemplo anterior, a mesma divisão ocorreria se tal homem fosse casado sob o regime da comunhão parcial e o patrimônio de seiscentos reais constituíssem seus bens particulares, adquiridos, por exemplo, antes do casamento. Diferente seria a distribuição da herança no regime da comunhão parcial, sem a existência de bens particulares. A esposa não teria direito à herança, mas apenas à metade dos bens comuns, que sobrevieram ao casal na constância do casamento. A parte dos bens pertencente ao marido passaria aos filhos. REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL A transmissão dos bens dar-se-ia de modo semelhante ao exemplificado acima se o regime do casamento fosse o da comunhão universal. Neste caso, a esposa teria direito à meação de trezentos reais, enquanto que os trezentos reais do marido seriam herdados somente pelos filhos. Cada um dos filhos herdaria, outrossim, 150 reais. A esposa, neste caso, não seria herdeira. Teria direito apenas à meação. REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA No caso do regime da separação obrigatória de bens, se os seiscentos reais pertencessem ao marido, cada filho herdaria metade da herança. A esposa sobrevivente não teria direito a nada. REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTOS No regime de participação final dos aqüestos, teria de ser verificado se o referido valor de seiscentos reais integravam seu patrimônio próprio, adquirido a qualquer título, por exemplo, antes do casamento, ou durante, a título gratuito. Nessa hipótese, a esposa concorreria com os filhos: Por outro lado, se o patrimônio de seiscentos reais fosse composto apenas de bens adquiridos, quer pelo marido, quer pela mulher, a título oneroso, na constância do casamento, a esposa teria direito à metade dos bens, em virtude da dissolução da sociedade conjugal, sendo que os filhos receberiam a herança. Imaginemos, porém, que dos seiscentos reais, trezentos constituíssem patrimônio do marido, já existente à época da celebração do matrimônio, e os outros trezentos fossem adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Neste caso, ocorreria o seguinte: a esposa concorreria com os filhos em relação aos trezentos reais que fossem exclusivamente do marido (recebendo cada qual cem reais); ao mesmo tempo, teria direito à metade dos outros trezentos reais adquiridos durante o casamento (tendo ela direito, portanto, a 150 reais), enquanto os filhos receberiam os restantes 150 reais. Em suma, a situação seria a seguinte: DA CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE COM OS ASCENDENTES Na hipótese de o de cujus não ter descendentes, a sucessão legítima defere-se aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge, neste caso, independentemente do regime de bens adotado no casamento (art. 1.829, II). Tendo o falecido, por exemplo, um patrimônio de seiscentos reais, este será dividido entre seus ascendentes mais próximos e o cônjuge sobrevivente. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, José Luiz Gavião de. Código civil comentado. (Coord. Álvaro Villaça Azevedo). São Paulo: Atlas, 2003. V. XVIII. CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Curso avançado de direito civil. (Coord. Everaldo Cambler) Vol. 6. Direito das sucessões. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. CHINELATO, Silmara Juny. Comentários ao código civil. (Coord. Antônio Junqueira de Azevedo). São Paulo: Saraiva, 2003. V. 18 DANELUZZI, Maria Helena Diniz. Aspectos polêmicos na sucessão do cônjuge sobrevivente. São Paulo: Letras Jurídicas, 2004. DIAS, Maria Berenice. O inc. I do art. 1829 do Código Civil: algumas interrogações. Disponível em: <http://www.mariaberenicedias.com.br>. Acesso em : 20 abr. 2006. ________. Ponto e vírgula.Disponível em: <http://www.mariaberenicedias.com.br>. Acesso em : 20 abr. 2006. DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. ________. Curso de direito civil brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. V. 5 Direito de Família) ________. Curso de direito civil brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. V. 6 (Direito das Sucessões) DOWER, Nelson Godoy Bassil. Curso moderno de direito civil. São Paulo: Nelpa, 2004. V. 6 (Sucessões) FARIA, Mario Roberto Carvalho de. Direito das sucessões: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das sucessões. 7. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2004. V. 4. Coleção Sinopses Jurídicas. HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Comentários ao código civil. (Coord. Antônio Junqueira de Azevedo). São Paulo: Saraiva, 2003. V. 20. LEITE, Eduardo de Oliveira. Comentários ao novo código civil. (Coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira) 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. V. XXI. LISBOA, Roberto Senise. 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