Buscar

AVAL PSICO E PSICOPATOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E 
PSICOPATOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3 
UNIDADE 1 – A VALIAÇÃO PSICOLÓGICA ........................................................ 6 
1.1 Testes padronizados .................................................................................... 7 
1.2 Entrevista psicológica ................................................................................. 12 
1.3 Avaliação e perícia psicológica ................................................................... 18 
1.4 Lei, ética e avaliação psicológica ................................................................ 23 
UNIDADE 2 – PSICOPATOLOGIA FORENSE ................................................... 27 
UNIDADE 3 – DETERMINANTES BIOPSICOSSOCIAIS DO COMPORTAMENTO
 ............................................................................................................................. 33 
UNIDADE 4 – A CAPACIDADE DE IMPUTAÇÃO E INIMPUTABILIDADE DO 
PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL ......................................................... 37 
4.1 Definição de conceitos básicos ................................................................... 37 
4.2 Responsabilidade e inimputabilidade ......................................................... 40 
UNIDADE 5 – TRANTORNOS MENTAIS NA CID-10 ......................................... 45 
5.1 Classificação Internacional de Doenças – CID-10 ...................................... 45 
5.2 Transtornos mentais e Psicologia Jurídica ................................................. 50 
UNIDADE 6 – TRANSTORNOS COGNITIVOS ................................................... 53 
UNIDADE 7 – TRANSTORNOS AFETIVOS........................................................ 59 
UNIDADE 8 – TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE .................................... 60 
8.1 - F60.2 – Personalidade dissocial (psicopatia ou transtorno de 
personalidade antissocial) ................................................................................ 62 
UNIDADE 9 – DEPENDÊNCIA QUÍMICA............................................................ 67 
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 70 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
Iremos entrar numa parte bastante intrigante: a avaliação psicológica e 
psicopatologia forense. Desde o início, temos reforçado a visão de que a prática 
do psicólogo jurídico não pode se restringir à aplicação de testes, realização de 
perícia e consequente emissão de laudos, porém, não se pode deixar de afirmar 
que esta parte é muito importante e merece a atenção de muitos profissionais 
como psicólogo, psiquiatra e assistente social. Como mostra a citação a seguir, a 
avaliação é uma prática complexa, de grande responsabilidade e envolve várias 
questões: 
 
A avaliação psiquiátrico-forense da responsabilidade penal é realizada 
com base na análise da capacidade de entendimento e determinação. 
Por sua vez, a avaliação desses aspectos envolve o estudo cuidadoso 
dos autos do processo, de antecedentes pessoais, familiares e 
psicossociais do periciando, além do exame psicopatológico. Este último 
implica o conhecimento da psicopatologia e exploração minuciosa de 
todas as funções psíquicas do indivíduo durante a entrevista psiquiátrica, 
como consciência, juízo de realidade, sensório-percepção, inteligência, 
afetividade e vontade. Sem dúvida, o exame psicopatológico constitui 
peça fundamental na avaliação da responsabilidade penal (VALENÇA et 
al., 2005, p.252). 
 
O ser humano é único e complexo, seu comportamento é determinado a 
partir de influências biopsicossociais e, em certas situações, os juízes – 
responsáveis pelas decisões finais – recorrem à ajuda de profissionais técnicos 
em saúde mental para realizar perícias e auxiliá-los em sua tomada de decisões. 
Como falamos na apostila sobre Sistema Penal, a sociedade, a partir de 
uma série de influências ideológicas, cobra das autoridades o controle social, 
assim deseja que os mesmos levem os criminosos para a prisão, acreditando que 
as instituições que visam vigiar e punir determinados grupos sociais 
marginalizados por si só sejam responsáveis por garantir a reabilitação dos 
detentos, ao mesmo tempo em que garantam a segurança da população. 
Entretanto, sabe-se que a prisão por si só não é responsável por garantir 
a reabilitação dos cidadãos infratores e a segurança do restante da população. 
4 
 
Além dessas situações gerais, nas quais se cometem delitos intencionalmente, há 
casos particulares em que as pessoas, devido a transtornos mentais, cometem 
delitos sem terem consciência do que fizeram, assim, fica subentendido que elas 
não têm condições de serem punidas por um delito que nem elas mesmas sabem 
terem cometido. Nesses casos, a perícia multiprofissional se faz essencial para 
buscar constatar a real presença de um transtorno mental para, assim, dar aos 
indivíduos o tipo de tratamento adequado. 
“Às vezes, usamos nossa mente não para descobrir fatos, mas para 
encobri-los... ainda que nem sempre de maneira intencional” (DAMÁSIO, 2000, p. 
49 apud FIORELLI; MANGINI, 2015, p.7). A citação ilustra o cuidado que os 
profissionais da área jurídica e da saúde mental devem tomar. Deve-se investigar 
cuidadosamente a verdade, a sanidade ou insanidade mental e a possibilidade de 
simulação ou dissimulação, bastante presentes nesse contexto: 
 
Sidney Shine em Avaliação Psicológica e lei, afirma que a relação que 
une o psicólogo – perito ao sujeito – periciando será permeada por 
intenções conscientes de simulação e dissimulação no limite da 
possibilidade de resguardar seus próprios interesses. Portanto, este 
cenário se apresenta como bastante distinto da relação de ajuda própria 
do trabalho psicológico em enquadre clínico, onde o interesse do sujeito 
que demanda ajuda coincide com o fato de ser ele próprio veículo e 
objeto da ação do profissional, ou seja, há uma convergência de 
interesses entre a demanda e a motivação do sujeito para a ação 
profissional. No contexto jurídico, a demanda apresentada pelo operador 
do Direito requer uma resposta do perito que pode ser ou não benéfico 
ao interesse próprio do sujeito – periciando. Este fará tudo para que o 
interlocutor (psicólogo) seja intermediário de uma boa resposta ao 
destinatário (operador do Direito) da informação relevante (MAIA, 2015, 
p.6). 
 
Os objetivos deste material já foram explícitos ao início desta apostila. As 
principais obras serão AMBIEL; RABELO; PACANARO; ALVES; LEME (2011); 
FIORELLI; MANGINI (2015); DALGALARRONDO (2008); MIRA Y LÓPEZ (2015); 
GONÇALVES; BRANDÃO (2011); ROVINSKI; CRUZ (2009), dentre outros livros, 
artigos científicos e documentos consultados, citados e devidamente 
referenciados. 
5 
 
6 
 
UNIDADE 1 – A VALIAÇÃO PSICOLÓGICA 
 
Como afirmamos no início deste material, o início da profissão do 
psicólogo jurídico foi marcado pela intensa realização de avaliações psicológicas 
e consequente elaboração de laudos psicológicos, os quais auxiliavam os juízes 
em suas tomadas de decisões. A obra de Mira y López (2015) detalha claramente 
esse trabalho, tema que reforçaremos ao longo deste material. 
Com o passar dos anos, a práxis do psicólogo jurídico foi se ampliando 
para além das avaliações psicológicas.Ao longo dos estudos pudemos observar 
várias possibilidades de atuação que ultrapassam esse contexto, sejam elas em 
meio à Justiça de Família; junto a vítimas e agressores em situações de violência 
de gênero e violência contra o idoso; juntamente com menores, nos abrigos, 
internatos, atuando em contextos de adoção e defendendo as medidas 
socioeducativas junto aos adolescentes infratores; assim como diretamente no 
sistema penitenciário. 
Recapitulando conteúdos que já foram abordados anteriormente, em 
todos esses contextos reforçamos que há demanda para a realização de 
avaliações psicológicas, porém o trabalho do psicólogo jurídico não pode se 
reduzir a esse tipo de atividade. As avaliações realmente podem auxiliar os juízes 
em sua tomada de decisão, porém há críticas a esse respeito. Sabe-se que o ser 
humano é um ser dinâmico, possui traços estáveis de personalidade, mas, ao 
mesmo tempo, é marcado por sua capacidade de adaptação e mudança. Com 
isso, concluímos que, em muitas situações, confiar apenas num laudo psicológico 
poderia ser um ato preconceituoso e responsável por reafirmar estigmas e 
prejudicar determinados grupos, ao invés de promover seres humanos dignos, 
livres e comprometidos com a sociedade. 
A partir de conteúdos que já foram estudados nos materiais anteriores, 
percebemos que a avaliação psicológica (seja ela na forma de entrevista ou com 
a aplicação de testes) é defendida por leis e decretos – como, por exemplo, em 
pessoas que desejam adotar um filho e em presos. Em ambas as situações há 
justificativas plausíveis à sua realização, ao mesmo tempo em que existem 
críticas a esse tipo de prática. 
7 
 
Também já defendemos desde o início deste material que, por ser um 
curso a distância, optamos por não detalhar testes e instrumentos psicológicos, 
visto que são uma área destinada exclusivamente a psicólogos e, num curso a 
distância, essa exclusividade pode ser questionada. Assim, nessa seção, iremos 
discorrer acerca da avaliação psicológica, abordar os tipos de avaliação que o 
psicólogo jurídico precisa realizar, comentar prós e contras dessa prática, sem, no 
entanto, detalhar o processo de aplicação de cada teste especificamente. 
 
1.1 Testes padronizados 
Já falamos de avaliação psicológica ao longo desse curso, mencionamos 
que o psicólogo jurídico lança mão de instrumentos de avaliação, por isso, faz-se 
indispensável compreender o que é avaliação psicológica. Para isso, 
primeiramente, iremos recorrer à definição de teste: 
 
A palavra teste, tal como usada em português, originou-se do termo latim 
testis, que significa testemunha, e, posteriormente, do inglês test, com o 
sentido de prova. Portanto, etimologicamente, realizar um teste é realizar 
uma prova e dar testemunho de alguma coisa. Nesse sentido, quando se 
trata de testes psicológicos, seu principal uso é como ferramenta na 
tomada de decisões que envolvem pessoas, a partir do desempenho ou 
do autorrelato em provas, questionários ou escalas que avaliem 
características psicológicas (URBINA, 2007 apud AMBIEL; PACANARO, 
2011, p.11-12). 
 
Observa-se claramente, a partir da definição anterior, que o objetivo da 
testagem coincide com o primeiro objetivo da psicologia jurídica, em seus 
primórdios: avaliar os indivíduos para fornecer provas que auxiliassem os 
magistrados em suas decisões. 
 
Destaca-se que, nas primeiras décadas do século XX, os testes 
psicológicos, independente do seu tipo, rapidamente atenderam às 
necessidades da sociedade da época e foram inseridos nos contextos 
militar, industrial e institucional. [...] No final dos anos oitenta, surgiram 
processos judiciais em decorrência de decisões referentes ao 
psicotécnico na área da seleção, bem como a descrença da prática de 
8 
 
alguns psicólogos despreparados para a utilização de testes psicológicos 
(ALVES; SOUZA; BAPTISTA, 2011, p.112). 
 
A citação anterior ilustra claramente a preocupação do psicólogo que irá 
lidar com a aplicação de testes. É imprescindível conhecer bem o instrumento que 
se está aplicando, suas finalidades, visto que o teste irá fornecer resultados 
precisos sobre os aspectos investigados, porém, caso o psicólogo não demonstre 
segurança junto ao teste, o indivíduo testado poderá questionar o resultado 
obtido. Convém ressaltar que a citação ilustra casos dos quais se recorreram na 
justiça devido a resultados de testes utilizados no processo de seleção de 
pessoal. Imagine a situação do psicólogo jurídico, o qual, durante processos de 
avaliação psicológica, precisa definir, por exemplo, se um indivíduo é apto à 
adoção; ou imagine na hora de realizar a avaliação psicológica de um preso, já 
excluído socialmente? A questão é demasiadamente séria e exige do psicólogo 
jurídico a formação continuada na área dos testes. 
Convém destacar que, como enfatizam Ambiel e Pacanaro (2011), além 
de serem objeto de aplicação exclusiva dos psicólogos ou estagiários de 
psicologia sob supervisão de um profissional capacitado, no contexto brasileiro, 
inicialmente, os testes psicológicos eram usados de maneira indiscriminada, com 
bastante empolgação por parte dos profissionais. Houve também períodos 
marcados por várias críticas ao uso dos mesmos, sendo que, após esse período, 
aconteceu um processo de organização e regulamentação do uso dos testes. 
Dentre essas críticas, vale a pena destacar algumas que também podem dizer 
respeito aos testes aplicados no contexto jurídico: uso indiscriminado de testes 
estrangeiros sem adaptação à realidade brasileira, baixa qualidade da formação 
dos profissionais quanto ao uso dos testes, dentre outras. 
Em 2003, o CFP publicou a resolução 02/2003, a qual instituiu critérios 
mínimos de qualidade para se considerar um teste psicológico apto para o uso 
profissional (AMBIEL; PACANARO, 2011). A partir dessa resolução, testes que 
não se enquadraram às exigências foram retirados do mercado, o que gerou 
transtornos para muitos profissionais, já acostumados ao uso desses 
instrumentos, mas foi um acontecimento positivo, pois sinalizou maior critério 
quanto aos testes disponíveis (o que garante mais segurança não só aos 
9 
 
profissionais, mas àqueles que são submetidos aos mesmos) e, de certa forma, 
motiva o profissional a buscar formação continuada frente a um trabalho tão sério. 
Dois quesitos se fazem essenciais em relação aos testes psicológicos: a 
validade e a precisão dos mesmos. Em relação à validade, é importante 
considerar que os testes possuem “evidências de validade”. Um mesmo teste 
pode servir a um objeto de avaliação e não servir a outro diferente. Podem ocorrer 
variações em decorrência da população testada (estudantes, pacientes 
psiquiátricos, população em geral, entre outros) e do contexto no qual ocorre a 
avaliação (clínica, instituição, entre outros) (ALVES; SOUZA; BAPTISTA, 2011). 
Também se faz importante compreender sobre a precisão dos testes, pois 
a validade e a precisão são essenciais para a aplicação correta dos mesmos e, 
consequentemente, para se chegar a resultados confiáveis a partir dessa análise: 
 
A precisão (também conhecida como confiabilidade ou, ainda, 
fidedignidade) refere-se à estabilidade do teste, de maneira que, quanto 
mais próximas forem as pontuações obtidas por métodos ou em 
situações diferentes, maior será a consistência do teste (ANASTASI; 
URBINA, 2000; CROMBACH, 1996 apud ALVES; SOUZA; BAPTISTA, 
2011, p.120). 
 
Nesse sentido, é importante destacar que há várias situações que podem 
comprometer a precisão dos testes, como se pode observar a seguir. Segundo 
Alves, Souza e Baptista (2011), nenhuma medida está livre de erros, os quais 
interferem noresultado do teste e podem ser decorrentes de diversas fontes, 
relacionados ao contexto da testagem (avaliador, aplicador, ambiente e motivos 
de aplicação do teste), ao testando e ao teste em si. 
 
Essas fontes de erro incluem condições emocionais, como disposição, 
ansiedade, fadiga, ou acertos ao acaso em determinadas situações, 
familiaridade com o conteúdo, subjetividade, ambiente barulhento, dentre 
outras. Se os devidos cuidados forem tomados no desenvolvimento, na 
seleção, na aplicação e na correção dos testes, parte dos erros 
provindos dessas três fontes pode ser anulada ou minimizada. Em 
contraposição, em situações nas quais o testando não responde às 
questões ou tenta falsear respostas que pensa ser desejáveis, não é 
10 
 
possível manipular o erro, porém pode ser possível detectá-lo. Por isso, 
é importante saber das práticas adequadas e dos procedimentos 
padronizados no uso dos testes, porque são formas de reduzir os erros 
na testagem (URBINA, 2007 apud ALVES; SOUZA; BAPTISTA, 2011, 
p.121). 
 
Refletir sobre a possibilidade de erro no resultado de um teste e por quais 
motivos esse erro pode acontecer é importante para o psicólogo jurídico. Em 
contexto de avaliação, é comum os profissionais recorrerem ao uso de testes, 
pois os resultados dos mesmos são objetivos, embasados cientificamente, o que 
ampara o profissional responsável pela sua aplicação, correção e consequente 
elaboração do laudo psicológico em caso de suas conclusões serem 
questionadas. Entretanto, é essencial saber que, mesmo se o teste for aprovado 
devido aos seus critérios de validade e confiabilidade, seus resultados podem ser 
comprometidos em função de variáveis do ambiente, da forma como o mesmo foi 
aplicado e corrigido (ou seja, do avaliador) e do avaliado, que pode tentar burlar 
seus resultados em busca de algum tipo de benefício próprio. 
 
É importante padronizar as condições de aplicação dos testes 
psicológicos com o intuito de garantir que a coleta de dados sobre o 
sujeito seja de boa qualidade. Uma má aplicação pode comprometer o 
resultado dos testes, tornando-os inválidos, mesmo quando da utilização 
de uma boa ferramenta. Vale ressaltar que uma má aplicação não 
invalida a qualidade psicométrica do teste, mas, sim, invalida o protocolo 
do sujeito, ou seja, os dados obtidos na avaliação não serão confiáveis 
(RABELO; BRITO; REGO, 2011, p.134). 
 
A tabela a seguir ilustra alguns requisitos que o psicólogo deve levar em 
consideração visando a aplicação correta dos testes psicológicos. 
 
Tabela 1: Cuidados necessários para a aplicação de testes psicológicos 
Requisitos Cuidados necessários 
Material de testagem Qualidade do teste: utilizar apenas instrumentos válidos e precisos, visto 
que, se esses parâmetros não forem obedecidos corre-se o risco de 
processos judiciais e condenações éticas, o que inviabilizaria o processo. 
Pertinência do teste: conhecer bem o teste para assim escolher aquele 
11 
 
que melhor se aplica à necessidade do sujeito naquele momento. 
Adaptação: seguir à risca as recomendações explícitas nos manuais, 
porém tomando o cuidado de adequar o teste à realidade da pessoa 
avaliada (intelectual, profissional, entre outras). 
Ambiente de 
testagem 
Ambiente físico: minimizar a presença de distratores ou excluir os 
mesmos, tonar o ambiente agradável, com móveis adequados e 
confortáveis, boa higiene, iluminação e temperatura adequadas. 
Condições psicológicas (do profissional e do avaliado): observar se o 
avaliado apresenta-se em condições normais de saúde (física e 
psicológica) e se entendeu as orientações. Estabelecimento de um bom 
rapport
1
 ajuda a minimizar a ansiedade do avaliando. 
Momento: quando a bateria de testes for muito extensa, recomenda-se 
dividir a mesma para que se evite fadiga e outros inconvenientes que 
poderiam interferir negativamente no andamento da testagem. 
Situações adversas: deve-se levar em consideração que alguns tipos de 
avaliações – como perícias e seleção de pessoal – o avaliado pode se 
encontrar em situações físicas e psicológicas adversas, o que também 
pode interferir negativamente no andamento do processo. 
Condições de 
aplicação 
Condições desfavoráveis para a aplicação de testes psicológicos podem 
causar efeitos no desempenho. Deve-se atentar para os seguintes 
fatores: 
 tempo suficiente; 
 nível de dificuldade das palavras e maneira de apresentar as 
instruções; 
 controle dos fatores que podem diminuir a atenção do avaliado. 
Aplicador do teste Formação profissional necessariamente em psicologia, já que os testes 
são de uso exclusivo deste profissional. Atentar-se para: conhecimento 
profundo do material utilizado, o que transmite segurança; boa aparência, 
evitar excessos; conduzir as sessões de forma a manter um clima de 
ordem e respeito; gravação das sessões somente com o consentimento 
do avaliado. 
Fonte: adaptado de Rabelo, Brito e Rego (2011). 
 
 
1
 Rapport: assumir uma postura que faça o cliente sentir-se à vontade ao fazer o teste. Para isso, 
o examinador deve se mostrar motivado, não se irritar ou manifestar expressões faciais ou 
corporais que poderiam ser interpretadas pelo avaliado como atitudes desagradáveis (RABELO, 
BRITO, REGO, 2011). 
12 
 
1.2 Entrevista psicológica 
Ao contrário dos testes que são de uso exclusivo do psicólogo, a 
entrevista pode ser utilizada por diversos profissionais que compõem a equipe 
multiprofissional. No contexto jurídico é muito usual que psicólogos e assistentes 
sociais realizem diversos tipos de entrevistas. Em algumas situações, a atuação 
multiprofissional se faz de suma importância, visto que os dados coletados podem 
se complementar ou contradizer. Nesse sentido, importante destacar o 
compromisso ético com o sigilo profissional, porém, no trabalho em equipe 
multiprofissional, compartilhar as informações não se caracteriza como falta de 
ética. 
 
A entrevista psicológica é o principal instrumento utilizado pelo psicólogo 
para chegar ao conhecimento do outro [...]. Na área forense, a entrevista 
psicológica pode estar relacionada a vários objetivos, dependendo da 
demanda jurídica a que estiver associada. Conforme Melton e 
colaboradores (1997), nas avaliações psicológicas forenses o objetivo 
será buscar, através da compreensão psicológica do caso, a resposta a 
uma questão legal expressa pelo juiz ou por outro agente jurídico. As 
demandas das avaliações forenses, geralmente, versam sobre situações 
da vida real, como cuidar dos filhos, capacidade para o trabalho, ou 
outras que envolvam previsibilidade de condutas, extrapolando questões 
exclusivamente voltadas a um diagnóstico clínico. Um outro diferencial 
dessas avaliações, conforme discutido por Rovinski (2004), é a 
necessidade dos entrevistadores forenses lidarem constantemente com 
a possibilidade da simulação ou dissimulação dos entrevistados. Aqui 
não se faz referência à possibilidade de resistência no relato das 
informações por conflitos inconscientes, mas a atuações premeditadas 
de distorção e omissão. De modo geral, poder-se-ia dizer que a 
entrevista no contexto de avaliação forense deve extrapolar o objetivo da 
investigação do mundo interno do avaliando, para valorizar, também, 
aspectos de sua realidade objetiva (ROVINSKI; STEIN, 2009, p.67-68). 
 
Segundo Dalgalarrondo (2008), além dos dados verbais coletados na 
entrevista (fala do avaliado), o entrevistador deve estar atento também aos dados 
não verbais (postura, expressões faciais, entre outros), já que os mesmos podem 
informar dados bastante importantes que o indivíduo pode não ter falado.13 
 
Importante destacar que uma entrevista pode ter finalidades informativas 
ou terapêuticas. O psicólogo jurídico normalmente não lança mão das finalidades 
terapêuticas deste instrumento, ele e os demais profissionais que podem compor 
a equipe multidisciplinar usam a entrevista como um importante método de coleta 
de dados, o qual pode fazer parte da avaliação psicológica. 
Ainda em relação às diferenças entre as entrevistas realizadas no 
contexto forense e cínico, tem-se que a entrevista clínica busca a investigação do 
mundo interno, com a descrição de sua dinâmica e das percepções pessoais de 
cada indivíduo. Por outro lado, a entrevista forense objetiva a valorização do 
mundo externo e a discriminação entre as experiências internas em relação 
àquelas realmente vividas (ROVINSKI; STEIN, 2009). 
A citação a seguir diz respeito à entrevista em saúde mental, mas serve 
para ilustrar acerca desse tipo de instrumento na prática jurídica: 
 
Sullivan afirmava que o domínio da técnica de realizar entrevistas é o 
que qualifica especificamente o profissional habilidoso. Nesse sentido, 
por exemplo, ele define o psiquiatra (poderia ser um psicólogo clínico ou 
enfermeiro em saúde mental) como ‘um perito do campo das relações 
interpessoais’, ou seja, um expert em realizar entrevistas que sejam 
realmente úteis, pelas informações que fornecem e pelos efeitos 
terapêuticos que exercem sobre os pacientes (SULLIVAN, 1983 apud 
DALGALARRONDO, 2008, p.66). 
 
A técnica e a habilidade em realizar entrevistas são atributos 
fundamentais de alguns profissionais, como o psicólogo e outros profissionais da 
equipe de saúde. Essa habilidade é, em partes, aprendida, mas não se pode 
deixar de levar em consideração que em partes deriva da personalidade do 
profissional, de sua habilidade frente às relações interpessoais. Essa habilidade 
se caracteriza pelas perguntas que o mesmo formula, por aquelas que ele evita 
formular e pela decisão de como falar, o que falar, ou permanecer em silêncio. 
Para a realização de uma entrevista proveitosa, o profissional deve, também, ser 
capaz de estabelecer, com o entrevistando, uma relação que seja ao mesmo 
tempo empática e útil do ponto de vista técnico (DALGALARRONDO, 2008). 
14 
 
O entrevistador pode recorrer a um roteiro de entrevista estruturado, 
padronizado por ele mesmo ou pela instituição, semiestruturado, ou pode deixar 
que a entrevista flua de maneira mais natural, porém sem deixar se perder de 
seus objetivos. Segundo Dalgalarrondo (2008), o profissional, ao realizar uma 
entrevista, precisa acolher e ouvir o entrevistado, tendo paciência e, ao mesmo 
tempo, habilidade para estabelecer limites frente a indivíduos agressivos ou 
invasivos. Há boas entrevistas em que o profissional pouco fala, dando espaço 
para o paciente se colocar, enquanto há outras também favoráveis nas quais o 
profissional precisa ser mais ativo e participante. 
O estilo da entrevista pode variar em função das seguintes variáveis 
ilustradas por Dalgalarrondo (2008): 
1. Do paciente: da sua personalidade, do seu estado mental e emocional no 
momento da entrevista, de suas capacidades cognitivas, entre outros. 
2. Do contexto institucional no qual ocorre a entrevista (voltando-se para a 
psicologia jurídica, podemos citar o fórum, a prisão, o abrigo, o internato – no 
caso do psicólogo jurídico técnico judiciário – e o consultório particular – no 
caso do psicólogo clínico externo à justiça que pode ser nomeado pelo juiz 
para realizar a avaliação). 
3. Dos objetivos (no caso da psicologia jurídica, destacam-se o diagnóstico 
clínico e as finalidades forenses em geral). 
4. A personalidade do entrevistador: que define, por exemplo, o estilo da 
entrevista (se irá permanecer mais silencioso ou ser mais participativo). 
Na entrevista, o profissional deve estar ciente que os dados obtidos podem 
ser superestimados ou subestimados pelo entrevistado. “O profissional deve 
exercer toda a sua habilidade para buscar diferenciar as informações verdadeiras, 
confiáveis e consistentes das falsas consistências” (DALGALARRONDO, 2008, 
p.77). 
Um tipo de entrevista muito utilizado no contexto forense é a entrevista 
investigativa. Seu objetivo é recuperar informações relacionadas a determinado 
evento de forma a elucidar fatos que possam ter ocorrido e ser ou não de 
interesse da Justiça. As entrevistas investigativas são utilizadas na avaliação 
psicológica de crianças supostamente vítimas de abuso sexual. Nesses casos, o 
objetivo não é avaliar as condições emocionais da criança, mas sim buscar dados 
15 
 
detalhados acerca da experiência sofrida, para o profissional fornecer 
informações necessárias aos autos relacionadas ao evento sofrido (ROVINSKI; 
STEIN, 2009). 
Em outros momentos, já mencionamos sobre a importância da 
recuperação de memórias para o psicólogo jurídico. A Psicologia do Testemunho 
é uma área bastante delicada, já que evidências mostram que, além de poder 
falhar, a memória humana também pode “pregar peças”, o que seria 
extremamente prejudicial à justiça. Vimos também que na Justiça de Família, 
essa observação também se faz pertinente, visto que nos casos de alienação 
parental, o alienador busca incessantemente plantar falsas memórias na criança 
de forma a denegrir a imagem do genitor alienado. No processo de perícia, o 
psicólogo pode ser convocado a realizar entrevistas com o intuito de se recuperar 
dados da memória. 
O processamento da memória é altamente complexo, mas podemos 
esquematizá-lo em três estágios: a codificação, o armazenamento e a 
recuperação da informação. Há muitas variáveis presentes nesses três estágios e 
que interferem diretamente nos mesmos, tais como relações entre o evento, o 
contexto, o estado de espírito, o conhecimento do observador acerca dos fatos 
que ocorreram, crenças, estereótipos do observador e as novas informações que 
ele passa a receber. No momento de recuperação das memórias já codificadas e 
armazenadas, que ocorre através de um controle consciente, ocorre o erro de se 
acreditar que as informações, uma vez armazenadas, podem ser acessadas 
sempre que se desejar (ROVINSKI; STEIN, 2009). A entrevista investigativa pode 
ser de grande aplicabilidade para o perito porque: 
 
O foco da entrevista investigativa está centrado nesta última etapa do 
processo de memorização, nos mecanismos de recuperação. No 
momento de realização da entrevista não se tem acesso a informações 
de como se deu o processo de codificação e nem se sabe que tipos de 
dados podem ser codificados. Toda a fonte de informação do 
entrevistador restringe-se ao seu próprio entrevistado (ROVINSKI; 
STEIN, 2009, p.70). 
 
16 
 
Assim, conforme Pinho (2006 apud ROVINSKI; STEIN, 2009, p.70), a 
estratégia da entrevista deve ser no sentido de guiar a testemunha dos fatos na 
busca de informações que estão armazenadas em sua memória e que possam ter 
relevância para a questão legal, facilitando a comunicação das mesmas ao 
entrevistador. 
A entrevista investigativa com crianças é uma situação ainda mais 
delicada, pois, além das dificuldades características em relação ao acesso das 
informações armazenadas, conforme explicado na citação, soma-se a questão da 
criança ser um ser em desenvolvimento, imaturo. A experiência do profissional é 
decisiva para o sucesso do processo, deve-se levar em conta que o ambiente 
forense pode inibir a criança. O profissional deve conhecer os limites e 
potencialidades da criança para se buscar relatos mais detalhados e acurados, 
porém precisa evitar uma atitude sugestiva, a qual poderia auxiliar a produção da 
prova esperada (ROVINSKI; STEIN, 2009). 
Detectar mentirasnuma entrevista forense é de suma importância para os 
profissionais que as realizam, como os psicólogos, os assistentes sociais, os 
advogados, os juízes, os policiais, os médicos, dentre outros que podem exercer 
esse tipo de função. 
O depoimento de um suspeito ou testemunha pode ser caracterizado nas 
seguintes categorias (GRIESEL; YUILLE, 2007 apud BULL; FEIX; STEIN, 2009): 
1. Informações corretas baseadas na memória do indivíduo (que 
podem conter erros não intencionais). 
2. Enganoso / mentiroso (relato de informações inverídicas, de forma 
intencional, para induzir o entrevistador ao erro). 
3. Narrativa equivocada, mas subjetivamente verdadeira (o relato é 
baseado em recordações que não correspondem exatamente às 
situações vivenciadas, mas que, para o entrevistado, corresponde 
à realidade, ou seja, não há intenção em induzir o entrevistador ao 
erro – corresponde ao fenômeno de falsa memória). 
Importante diferenciar mentiras e falsas memórias. Enquanto as mentiras 
se caracterizam por tentativas deliberadas de enganar os outros, as falsas 
memórias não são intencionais, devido a uma distorção, o indivíduo também 
acredita em seu próprio relato. 
17 
 
Os profissionais buscam detectar mentiras a partir do pressuposto de que 
a intenção de simular cria consequências emocionais e cognitivas passíveis de 
serem detectáveis através do comportamento do indivíduo que mente. Deve-se 
levar em consideração que as pessoas podem reagir de forma diferente. 
Quando as pessoas sentem fortes emoções frequentemente, torna-se 
mais difícil de se lembrarem de eventos, mesmo se forem recentes. Essa 
dificuldade em recordar gera ansiedade, especialmente quando a pessoa se 
encontra em situações específicas e tensas, como um interrogatório. Devido a 
essa ansiedade que desencadeia sintomas fisiológicos já não se consideram o 
uso do polígrafo adequado para a detecção de mentiras (BPS, 2004 apud BULL; 
FEIX; STEIN, 2009). 
 
Por outro lado, alguns criminosos podem não se sentir mobilizados 
emocionalmente pelos seus crimes, nem durante as entrevistas forenses 
(as quais eles podem ter experimentado diversas vezes). Além disso, 
elas podem, em alguns casos, estar preparados para o interrogatório, 
praticando a sua versão inventada dos fatos, de modo que as 
lembranças venham à mente com muita facilidade. Desse modo, 
especialmente criminosos experientes conseguiriam desenvolver certa 
naturalidade ao simular durante uma entrevista (BULL; FEIX; STEIN, 
2009, p.77). 
 
Também deve-se levar em consideração que há muitas informações 
sobre possíveis sinais das mentiras, assim, algumas pessoas treinam para não 
apresentar nenhuma dessas reações características e assim, consequentemente, 
não levar o outro a encontrar possíveis provas de seu comportamento (BULL, 
1989 apud BULL; FEIX; STEIN, 2009). 
Em síntese, a detecção de mentiras é algo um tanto delicado, visto que 
sinais comportamentais por si só não são suficientes para fornecer um relato 
fidedigno da situação, associado ao fato de que o entrevistado pode buscar, a 
todo curso, enganar o entrevistador através de sua narrativa ou mesmo pela 
comunicação não verbal. 
18 
 
Treinamento e experiência do entrevistador não são garantias absolutas 
na detecção de mentirosos. Recomenda-se o uso de entrevista investigativa que 
enfatize o uso estratégico da informação (BULL; FEIX; STEIN, 2009). 
 
O entrevistador deve buscar motivar o suspeito a fornecer um relato o 
mais complexo possível da sua versão de fatos, encorajando-o a falar o 
máximo possível desde o início da entrevista. Somente depois de ter 
fornecido informações suficientes é que o entrevistador pode desafiar 
mais efetivamente as inconstâncias do relato do suspeito, com base nas 
informações que coletou antes da entrevista. Esse método parece 
corroborar não apenas com o resultado de pesquisas recentes, mas 
também com o enfoque psicológico sobre o motivo pelo qual, muitos 
criminosos, ao final da entrevista, escolhem voluntariamente por 
confessar (BULL; FEIX; STEIN, 2009, p.85). 
 
1.3 Avaliação e perícia psicológica 
Cabe aqui ressaltar que os testes psicológicos são instrumentos 
peculiares de avaliação psicológica, porém, os mesmos não são os únicos 
recursos para se realizar uma avaliação psicológica, e é importante que o 
psicólogo jurídico compreenda isso, como mostra claramente a citação a seguir: 
 
Os testes psicológicos diferenciam-se de outras técnicas de avaliação, 
por se tratar de procedimentos referenciados a normas e a diretrizes 
interpretativas padronizadas, com base em categorias preestabelecidas. 
Outros procedimentos também são utilizados em contextos de avaliação 
psicológica, como meios de acesso ao universo psicológico do indivíduo, 
visando a maior compreensão de sua singularidade para melhor 
adequação das formas de intervenção quando necessárias. Alguns tipos 
de entrevistas, técnicas de observação, aplicação de atividades lúdicas, 
entre outros, constituem exemplos de estratégias de avaliação 
psicológica que não pertencem à categoria de testagem (RABELO; 
BRITO; REGO, 2011, p.129). 
 
Retornamos novamente à questão da importância de se conhecer bem o 
teste, saber aplicá-lo, corrigi-lo e redigir um laudo consistente para se fazer uma 
avaliação psicológica criteriosa e confiável. Segundo Urbina (2007 apud RABELO; 
19 
 
BRITO; REGO, 2011), o psicólogo, ao realizar testagem psicológica ou outras 
formas de avaliação, deve levar em consideração a experiência profissional, o 
conhecimento do constructo que está sendo avaliado e o embasamento teórico 
consistente. Associando-se esses fatores a outros métodos de observação e 
análise, torna-se possível garantir a confiabilidade dos resultados que se 
integrarão com o objetivo de compor uma avaliação coerente com os objetivos de 
tal avaliação. 
Já definimos o que são testes, mas, o que se entende por avaliação 
psicológica? 
 
Pode-se definir a Avaliação Psicológica como um processo técnico e 
científico de coleta de dados e interpretações, com pessoas ou grupos 
de pessoas, por meio de informações obtidas em questionários, 
métodos, instrumentos psicológicos, entrevistas, entre outros 
(NORONHA; ALCHIERI, 2002; PRIMI; FLORES-MENDONÇA; 
CASTILHO, 1998; WESCHLER, 1999). 
 
 
Enquanto a Avaliação Psicológica refere-se a um processo amplo que 
envolve a integração de informações provenientes de diversas fontes, 
como testes, entrevistas, observações, análises de documentos, entre 
outras, a testagem psicológica deve ser considerada como uma das 
etapas da avaliação, por meio da utilização de testes psicológicos de 
diferentes tipos (PELLINI; LEME, 2011, p.163-164). 
 
O Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2003, p.3) também fornece uma 
definição detalhada para avaliação psicológica e seus respectivos resultados: 
 
A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico 
de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito 
dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo 
com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – 
métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem 
considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus 
efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos 
para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses 
20 
 
condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a 
conclusão do processo de avaliação psicológica. 
 
Os testes são instrumentos específicos para utilização do psicólogo 
devidamente capacitado para trabalhar com essestipos de materiais, porém há 
várias outras formas de avaliação psicológica que podem ser usadas em conjunto 
com o objetivo de se chegar a conclusões mais precisas e embasadas. O 
psicólogo jurídico, em sua função de avaliador, pode lançar mão desses 
diferentes recursos, porém é imprescindível conhecer bem cada método, saber 
que cada um pode se enquadrar melhor a determinada situação, assim como 
saber que alguns podem não ser adequados para determinados casos: 
 
Métodos que envolvem o ato de desenhar, narrar histórias, realizar 
encenações ou brincar com bonecos, em geral, não se propõem a 
apresentar estudos normativos ou indicadores metodológicos de 
interpretação, ficando assim também caracterizados fora do que é 
considerado testagem psicológica. Apesar de não pertencer à categoria 
de testes, os resultados de tais instrumentos podem ter credibilidade, 
desde que as conclusões apresentadas pelo psicólogo estejam 
correlacionadas a um referencial teórico válido, que sustente as 
interpretações segundo o pressuposto do determinismo psíquico 
(RABELO; BRITO; REGO, 2011, p.130). 
 
Uma avaliação psicológica de qualidade relaciona-se à utilização de 
técnicas de avaliação reconhecidas pela Psicologia. Segundo Pellini e Leme 
(2011), além de só utilizar testes devidamente reconhecidos e aprovados pelo 
CFP, o psicólogo precisa se comprometer a não copiar os materiais de testes, os 
quais são devidamente comercializados e não passar os mesmos para outros 
profissionais que não são formados em psicologia. 
O psicólogo e o assistente social que atuam como técnicos judiciários têm 
a incumbência de realizar perícias quando solicitados pelo juiz ou promotor. O 
termo “perícia” pode apresentar vários significados. Definimos brevemente que os 
serviços de perícia objetivam “elucidar situações, fazer averiguações e assim por 
diante”. Importante destacar que a perícia pode ser feita na esfera judicial, a 
pedido do juiz, e na esfera extrajudicial, a serviço do processo, com o intuito de 
21 
 
constituir-se num documento, a serviço de quem o solicitou, para evidenciar 
determinada questão (PIZOL, 2009, p.26). 
 
[...] as partes e o Ministério Público podem requerer a produção da prova 
pericial, porém, o profissional que irá efetuá-la é da confiança do juiz. 
Dentro do possível, o juiz deve procurar nomear profissional 
especializado, de sua confiança e que responda fidedignamente, de 
forma imparcial e com o devido conhecimento técnico (PIZOL, 2009, 
p.27). 
 
Convém destacar que, nos trabalhos de perícia psicológica (realizada 
pelo psicólogo) e perícia social (realizada pelo assistente social) é comum que o 
perito perceba a demanda de intervenção, porém a intervenção não é objetivo da 
perícia, mas sim tomar conhecimento da situação e oferecer uma solução 
concreta. Ao final da perícia, o profissional deve elaborar um laudo e, nesses 
casos, no documento, deve-se mencionar essa necessidade de intervenção. Nos 
casos em que o laudo é multiprofissional, a coleta de dados e a observação 
podem ser conjuntas, mas cada profissional deve emitir seu laudo separadamente 
(PIZOL, 2009). 
A partir dos dados coletados durante a perícia e a elaboração do laudo é 
necessário esclarecer que: 
 
[...] o parecer do perito e a sentença da autoridade são coisas de forma e 
valores diferentes. O perito deve, em seu parecer ou em suas 
conclusões, expressar o seu posicionamento técnico sobre os fatos e, se 
for o caso, sugerir a melhor solução para a situação concreta, sem 
pretender ou almejar adiantar o que poderá ser decidido, pois seu 
trabalho não passa de efetuar investigação, diagnóstico e conclusão. A 
decisão que a autoridade solicitante venha a tomar, por certo, faz parte 
do que lhe é assegurado, ou do que lhe é obrigado, pela função que 
desempenha (PIZOL, 2009, p.31). 
 
Há outros detalhes específicos acerca da perícia, tais como a nomeação 
do perito, prazos para entrega do laudo, honorários do perito, importância da 
22 
 
perícia judicial, dentre outros, porém não iremos nos ater a esses pormenores 
para não deixar o material muito exaustivo. 
No contexto jurídico, após a realização de avaliação ou perícia psicológica 
– solicitada pelo juiz ou outra autoridade – o psicólogo precisa emitir um laudo 
psicológico acerca de suas conclusões ou mesmo um relato do caso por escrito. 
Quando a avaliação também foi composta pela aplicação de testes, os resultados 
obtidos a partir da aplicação dos mesmos também precisam constar nesse 
documento, especificando o tipo de teste utilizado, o período em que a avaliação 
psicológica foi realizada e outras informações pertinentes. Em síntese, o 
profissional deve levar em conta que: 
 
O relato escrito de um caso tem, além de valor médico, importante valor 
legal. É um documento que, sendo bem redigido, poderá ser decisivo em 
questões legais futuras, impensáveis no momento em que a avaliação 
está sendo feita. No momento em que o entrevistador redige os dados 
que coletou, deve lembrar que a história clínica deve ser redigida com 
uma linguagem simples, precisa e compreensível. O relato deve ser 
pormenorizado, mas não prolixo, detalhado naquilo que é essencial ao 
caso e conciso naquilo que é secundário (DALGALARRONDO, 2008, 
p.79). 
 
O conteúdo das devolutivas deve obedecer a certas características, além 
de resguardar ao máximo possível as informações confidenciais do paciente, as 
mesmas devem ser redigidas direcionadas especificamente à entidade que as 
solicitou, quando for esse o caso. Preocupação especial com o uso da norma 
culta da Língua Portuguesa, essencial nesse tipo de redação. Especificamente 
quando a solicitação se dá por ordem judicial deve-se levar em conta que: 
 
Uma solicitação feita por um juiz, por exemplo, que nomeia um psicólogo 
como perito no sistema judiciário, deve resultar em um laudo ou em um 
parecer, sendo que esses tipos de documentos escritos devem ser 
formulados com os devidos cuidados de redação e transmitindo somente 
o que for necessário para a tomada de decisões e para que os 
operadores de Direito possam compreendê-los (PELLINI; LEME, 2011, 
p.173). 
 
23 
 
O CFP elaborou o Manual de Elaboração de Documentos Escritos 
Produzidos pelo Psicólogo (Resolução CFP 007/2003), o qual explica claramente 
a padronização deste tipo de material. Ressalta-se que a linguagem deve ser 
clara, bem estruturada, respeitando-se os padrões da norma culta da língua. A 
comunicação deve se caracterizar pela clareza, concisão e harmonia. Importante 
destacar que documentos como Declaração, Atestado, Relatório/Laudo 
psicológico e Parecer psicológico são diferentes entre si e devem seguir as 
diretrizes expostas nesse mesmo documento. 
 
1.4 Lei, ética e avaliação psicológica 
O psicólogo é um profissional perito e, conforme temos ressaltado, a 
aplicação de testes é uma exclusividade de sua profissão. 
 
Por lei, os peritos devem prestar serviços de qualidade à sociedade, e 
essa qualidade pode ser judicialmente procurada por parte das leis 
pertinentes. O psicólogo responde por sua conduta nesta área de testes. 
A lei considera o psicólogo como perito e, portanto, legalmente 
responsável em sua atuação profissional (RABELO; BRITO; REGO, 
2011, p.139-140). 
 
Deve-se ressaltar que o psicólogo deve seguir os princípios do Código de 
Nuremberg (1947), o qual postula que se deve respeitar os seres humanos 
participantes de experimentos médicos e científicos e da Declaração de 
Helsinque, que reafirma a necessidade do consentimento livre e esclarecido e 
prioriza o bem-estar do sujeito. Os Comitês de Ética e Pesquisa em Psicologia, 
inclusive noBrasil, elaboram normas a serem seguidas na aplicação de testes. As 
diretrizes da American Psychological Association (APA) definem bem essa 
questão (RABELO; BRITO; REGO, 2011). 
Em relação ao sigilo profissional, já apresentamos, em outros estudos, 
resoluções e documentos do CFP que versam a esse sentido. Cabe ressaltar que 
a pessoa submetida ao teste tem direito aos resultados da avaliação, assim como 
também o solicitante, como, por exemplo, os juízes em caso de perícia judicial. 
Ressalta-se que, nesses casos, o solicitante tem direito apenas às informações 
24 
 
estritamente necessárias à resposta da solicitação (RABELO; BRITO; REGO, 
2011). 
Os registros do profissional acerca da avaliação devem ser arquivados 
sob a responsabilidade do profissional, as identidades dos indivíduos devem ser 
codificadas de forma que somente o profissional responsável possa identificar o 
indivíduo que foi submetido aos testes. 
 
Em processos judiciais, o juiz pode solicitar a abertura de registros 
sigilosos. É preciso ter em mente que o indivíduo não pode sair 
indevidamente prejudicado com a exposição de informações sigilosas 
(RABELO; BRITO; REGO, 2011, p.141). 
 
Pellini e Leme (2011) reforçam que o material produzido que fundamentou 
uma avaliação psicológica deve ser guardado pelo profissional responsável por 
um prazo mínimo de cinco anos. 
Resta a reflexão de que o psicólogo deve ter sempre claro em seu 
trabalho o objetivo de se estar realizando uma avaliação, o que pode acontecer, 
como já mencionamos, não a partir da demanda do próprio avaliando, mas a 
partir da solicitação de pessoas e instituições, como no caso do Judiciário. A 
questão da avaliação é tão séria que o resultado obtido através da mesma pode 
ser responsável por ocasionar modificações profundas na vida do avaliado, tais 
como mudar o destino de uma pessoa, de uma família, o desenvolvimento de 
uma criança ou uma decisão judicial. 
A Comissão Técnica de Avaliação (CTC) visa à obtenção de dados sobre 
a personalidade dos condenados à pena privativa de liberdade, visando classificar 
e estabelecer parâmetros do tratamento penal (CARVALHO, 2011). Em suma: 
 
Ao longo dos 25 anos de vigência da Lei de Execução Penal (LEP), 
consolidou-se determinada forma de atuar dos peritos-criminólogos 
voltada quase exclusivamente à satisfação das demandas do Poder 
Judiciário através da elaboração de laudos e pareceres. No entanto, 
alteração produzida com o advento da Lei 10.792/03 possibilitou 
reavaliar o papel dos autores da execução, dentre eles o corpo 
criminológico formado por profissionais das áreas da psicologia, 
medicina (psiquiatria) e serviço social (CARVALHO, 2011, p.175). 
25 
 
Algumas leis foram se modificando no decorrer dos anos, entidades como 
o CFP se posicionaram contra tal medida. Não iremos pormenorizar a situação, 
visto que já foi abordado em outros estudos, porém não é possível falar de 
avaliação psicológica em psicologia jurídica sem mencionar essa situação. 
Destaca-se que a LEP foi criada a partir de um discurso psiquiátrico-social 
que propunha legitimar o discurso jurídico, atuando como seu suporte. Assim, a 
teoria criminológica proclamou-se como o único discurso da verdade no processo 
de execução penal, o que acabava por se constituir num sistema de provas, 
objetivo que rejeitava outros tipos de contraprova ou contra-argumento. O objeto 
de discussão do direito deixa de ser o fato concreto em detrimento para a 
valorização da identidade do indivíduo como um fator decisório, fonte da única 
verdade possível. “Não por outro motivo os diagnósticos [laudos e pareceres 
criminológicos] são repletos de conteúdo moral e com duvidosas doses de 
cientificidade” (BATISTA, 1997, p.84 apud CARVALHO, 2011, p.192). 
Ainda a este respeito, enfocando a questão da ética profissional: 
 
 
[...] a pena privativa de liberdade não pode ter, sob nenhuma justificativa, 
o efeito de comprometer a personalidade e a intimidade do condenado, 
de tal sorte que os técnicos que atuam na execução não estão isentos 
do segredo profissional inerente aos seus cargos (CARVALHO, 2011, 
p.195). 
 
 
Ao final desta seção, ressaltamos que, como já havia sido avisado, não 
iríamos detalhar acerca de testes psicológicos que podem ser utilizados no 
contexto de avaliação psicológica jurídica ou forense, pretendemos discorrer 
acerca do processo de avaliação psicológica em si, questões éticas e legais que 
norteiam esse tema. A leitura do Manual do CFP citado e referenciado é de suma 
importância para a confecção de documentos padronizados e válidos. 
Em suma: 
 
 
Evidencia-se a necessidade de reunir-se o saber das diversas disciplinas 
das ciências sociais e psicológicas para responder às complexidades 
26 
 
destas demandas – contribuindo-se para a eficácia da prestação 
jurisdicional e, inclusive, evitando-se nulidades processuais. Os 
auxiliares judiciais, por sua vez, devem ser conhecedores do 
compromisso e da missão da Justiça. Devem ter ciência dos serviços 
que lhe compete e da adequada aplicação de seus conhecimentos 
profissionais diante da questão judicial em andamento. O trabalho do 
auxiliar da justiça tanto no aspecto operacional, assim como no 
oferecimento de subsídios teóricos, deve contribuir substancialmente 
com o magistrado para que a sentença venha a ser a mais justa, 
exequível e adequada (PIZZOL, 2009, p.42). 
27 
 
UNIDADE 2 – PSICOPATOLOGIA FORENSE 
 
A psicopatologia forense é uma área que desperta o interesse, aguça a 
curiosidade, mas também causa o medo das pessoas em geral. De tempos em 
tempos, é comum vermos na mídia casos de delitos os mais variados, muitos com 
requintes de crueldade e torna-se importante para a polícia e as autoridades 
cabíveis descobrir quem é o autor do delito, quais foram suas motivações e, 
finalmente, se o mesmo é portador de algum transtorno psicopatológico que 
justificasse suas ações. 
Quando descoberto o real autor do delito, psicólogos e psiquiatras são 
convocados para realizar avaliação psicológica do mesmo em busca de encontrar 
evidências que possam apontar um transtorno psicopatológico ou mesmo para 
excluir essa possibilidade. Isso se faz indispensável, já que o doente mental é 
considerado inimputável e, quando sua reclusão se faz necessária como medida 
de proteção dele próprio e da comunidade, isso precisa acontecer em instituições 
especializadas ao tratamento psiquiátrico, sob a tutela do Estado, não em prisões 
comuns, junto com os demais cidadãos infratores. 
Neste material, iremos discorrer sobre os tipos de transtornos mentais, a 
questão da inimputabilidade, o tipo de atitude tomada pela Justiça junto a esses 
casos, além de discorrer sobre o papel da equipe multidisciplinar – na qual se 
inclui o psicólogo – junto a essas situações específicas. 
Nosso ponto de partida será o conceito de psicopatologia. Recorremos à 
definição de Campbell (1986 apud DALGALARRONDO, 2008, p.27): 
 
a psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial 
da doença mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais 
associadas a ela e suas formas de manifestação. Entretanto, nem todo 
estudo psicopatológico segue a rigor os ditames de uma ciência sensu 
strictu. A psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser definida 
como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do 
ser humano. 
 
Estudar a psicopatologia nos remete aos conceitos de normal e 
patológico. Em alguns casos, torna-se evidente compreender os quadros nos 
28 
 
quais há completa fuga da realidade, mas não se pode deixar de levar em conta 
situações pelas quais há poucoafastamento dos padrões de normalidade. Além 
disso, o conceito de normalidade também não é tão objetivo quanto se pode 
parecer. O mesmo está diretamente relacionado a questões biopsicossociais, 
históricas e culturais, por isso se torna bastante complexo. Pensar, então, sobre a 
normalidade implica em estabelecer comparações entre o normal e patológico. O 
conceito de saúde e doença mental possui diversos desdobramentos, em função 
da área que se deseja investigar. Iremos direcionar nosso estudo apenas à nossa 
área de interesse: 
 
Psiquiatria legal ou forense. A determinação de anormalidade 
psicopatológica pode ter importantes implicações legais, criminais e 
éticas, podendo definir o destino social, institucional e legal de uma 
pessoa (DALGALARRONDO, 2008, p.31-32). 
 
Vê-se claramente na citação que pelo viés da psicopatologia forense, a 
determinação da psicopatologia em determinado sujeito pode acarretar no mesmo 
diversas implicações, inclusive do ponto de vista criminal, legal e ético. As 
implicações de determinada condição psicopatológica impactam na vida daquele 
que sofre do transtorno e das pessoas ao seu redor. 
Aprofundando no conceito de transtorno mental, recorremos ao CID-10, 
no qual também é possível se deparar com a distinção entre normalidade e 
anormalidade: 
 
A expressão transtorno mental, adotada em lugar de ‘doença’, 
acompanha o critério da CID-10: o desvio ou conflito social sozinho, sem 
comprometimento do funcionamento do indivíduo, não deve ser incluído 
em transtorno mental. Há comprometimento quando: 
• funções mentais superiores recebem interferência, dificultando ou 
afetando a atuação (por exemplo, o indivíduo não consegue lembrar-se 
de compromissos); 
• atividades da vida diária, rotineiras, usualmente necessárias, sofrem 
comprometimento em algum grau (CID-10 1993, p. 5 apud FIORELLI; 
MANGINI, 2015, p.97). 
29 
 
Antes de voltarmos à questão da normalidade, vale a pena enfatizar o 
conteúdo da citação anterior, pois elucida que, ao contrário do que acontecia 
anteriormente, a condição de transtorno mental passa a se diferenciar do conceito 
de doença e só se caracteriza como tal quando o transtorno é responsável por 
comprometer o funcionamento do indivíduo. Para a psicopatologia forense, torna-
se importante investigar os transtornos que podem ser diretamente associados à 
ocorrência de um delito. Da condição de portador de transtorno mental, implica-se 
que o indivíduo não tem condições de ser responsabilizado por seu ato, visto que 
pode ter cometido o mesmo em estado mental alterado devido à sua condição 
psicopatológica. 
Fiorelli e Mangini (2015) continuam ao afirmar que o transtorno mental 
(conforme definido pela CID-10) impossibilita que o indivíduo se enquadre nos 
padrões de normalidade impostos em seu meio social e, ao mesmo tempo, faz 
com que as pessoas também inseridas nesse meio percebam essa fuga àquilo 
que é considerado como normal. 
Antes de prosseguirmos à definição de psicopatologia forense, faz-se 
necessário dar leves pinceladas sobre o contexto da história da loucura e da 
saúde mental no Brasil. Se pretendêssemos uma discussão mais aprofundada 
sobre o tema, precisaríamos recorrer a fatos relacionados à história mundial, 
como, por exemplo, as Bruxas da Inquisição da Idade Média, as histéricas de 
Freud, dentre outros exemplos que mostram claramente situações nas quais há 
fuga aos padrões de normalidade impostos pela época, o medo da população 
frente ao diferente e as diversas formas de “tratar” ou “conter” os diferentes – que, 
na realidade, sinalizavam formas de excluir essas pessoas do meio social, a 
despeito do que acontecesse com elas, numa forma de “proteger” a sociedade do 
imprevisível. 
Segundo Arantes (2011), a obra de Castel mostra que o sucesso da 
Medicina Mental da França ocorreu devido ao fato de que provia um novo tipo de 
gestão técnica dos antagonismos sociais. Assim, percebe-se que a Psiquiatria 
pode ser considerada uma Ciência Política, já que respondeu a um problema do 
governo ao reduzir a loucura às condições de sua administração. 
30 
 
No Antigo Regime, a responsabilidade pela interdição dos indivíduos 
considerados insanos era compartilhada pelo poder judiciário e 
executivo. [...] Ao postularem a minoridade do louco e o seu isolamento 
como medida terapêutica necessária ao controle de sua periculosidade, 
os alienistas ofereceram uma justificativa médica à sua repressão. 
Neste momento posterior, ao desfazer-se à rígida separação entre o 
normal e o patológico, sobre a qual repousavam as internações dos 
alienados, [...] as atividades de perícia se estendem aos vários setores 
da vida pessoal e social (CASTEL, 1978, p.20 apud ARANTES, 2011, 
p.18-19). 
 
Já citamos algumas noções sobre o contexto brasileiro na apostila de 
Sistema Penal. Mais uma vez recorreremos à obra de Arbex (2013), a qual relata 
a dura realidade de um manicômio bastante famoso no Brasil, localizado em 
Barbacena – MG, a Colônia. 
A despeito do que preconiza o CID-10, nesta época (bastante recente, 
como relatos de situações que ocorreram aproximadamente entre as décadas de 
1930 e 1970), variados eram os motivos que podiam ser enquadrados como 
doença mental e, consequentemente, culminavam com a internação compulsória 
nos hospitais psiquiátricos. Faltava critério médico para as internações, ao passo 
que tudo mais era padronizado, inclusive os diagnósticos médicos. Assim, tudo 
parecia motivo para a internação: tristeza, homossexualidade, militância política, 
alcoolismo, racismo, pobreza, falta de documentos e todos os tipos de 
indesejados. “A teoria eugenista, que sustentava a ideia da limpeza social, 
fortalecia o hospital e justificava seus abusos. Livrar a sociedade da escória, 
desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse alcançar” 
(ARBEX, 2013, p.26). 
Dada a multiplicidade de fatores que podiam ser caracterizados como 
doença mental e, consequentemente, acarretar na internação num local 
superlotado, sem as mínimas condições de higiene, respeito aos direitos 
humanos, humanização da assistência em saúde e, principalmente, métodos 
realmente eficazes e seguros de tratamento (quando realmente o interno sofria de 
algum tipo de transtorno), as pessoas chegavam até o hospital de diversas 
formas, muitas das quais envolviam autoridades policiais ou jurídicas, como se 
pode observar a seguir: 
31 
 
Além do trem, muita gente era enviada para o hospital de ônibus ou em 
viatura policial. Várias requisições de internação eram assinadas por 
delegados. Antes da construção da Colônia, muitos dos chamados 
loucos de Minas tinham como destino as cadeias públicas ou as Santas 
Casas de Misericórdia, onde eram mantidos em anexos. Como a 
psiquiatria se constituiu no Brasil somente no início do século XIX, a 
assistência aos alienados ainda era algo incipiente no país, que teve o 
seu primeiro hospício, o Pedro II, instituído por decreto em 1841. Por 
isso, apesar de ser um hospital, o Colônia era carente de médicos. Até o 
final da década de 50, psiquiatras e clínicos ainda eram uma raridade por 
lá (ARBEX, 2013, p.30). 
 
Assim, pode-se verificar que o destino de todos os considerados loucos 
ficava perdido ora entre a área da saúde, ora entre as autoridades policiais. 
Médicos, policiais e delegados respondiam pelo destino de pessoas, muitas das 
quais nem possuíam diagnóstico comprovado de saúde mental. A polícia 
intervinha de forma a retirar essas pessoas do convívio social e manter a ordem – 
a exemplo do que até hoje é feito com o segmento da população que é 
considerada marginalizada. 
Até hoje, sabe-se que alguns delitosacontecem em decorrência de 
transtorno mental – daí a importância da psicopatologia jurídica – e, além disso, já 
se sabe que não se pode punir essas pessoas a exemplo do que se faz com os 
ditos normais – aqueles que têm total consciência por suas ações. A 
psicopatologia forense é de suma importância para se realizar diagnósticos que 
realmente comprovem a existência de algum transtorno e, assim, poder garantir 
ao portador de transtorno mental que tenha cometido algum tipo de delito um 
tratamento digno, diferente do que acontecia na Colônia, mesmo que a exclusão 
social seja necessária como forma de garantir a segurança do paciente e da 
sociedade. 
Dessa forma, após apresentarmos o conceito de psicopatologia, 
mostrarmos a questão do normal e do patológico, além deste breve apanhado 
histórico sobre a saúde mental no Brasil, torna-se pertinente definir o que é 
psicopatologia forense. De forma bastante simples, pode-se compreender que a 
psicopatologia forense consiste na aplicação dos conhecimentos científicos na 
área da saúde mental (a partir de um viés da psicologia e da psiquiatria) em 
32 
 
situações em que se faça necessária a comprovação do estado mental do 
indivíduo. Esse tipo de avaliação pode ocorrer em consequência de situações 
civis, penais ou laborais e visa ao estudo dos casos mórbidos, assim como os 
limites e modificadores anormais da responsabilidade (penal), da capacidade 
(civil) e os problemas afins. A citação a seguir ilustra melhor essa definição, 
elucidando os vieses da psiquiatria e da psicopatologia: 
 
A psicopatologia, conhecida popularmente como psiquiatria, é o ramo da 
medicina que se ocupa do estudo e compreensão do fato psíquico 
patológico, do homem enfermo psicologicamente. A mesma, adota uma 
visão referente à perspectiva clinica, condizendo que a conduta delitiva, 
no caso de enfermos que chegam a cometer algum delito, é pura 
expressão de um determinado transtorno patológico da personalidade, 
ao qual aflige um determinado indivíduo. Porquanto, a psicologia busca 
delinear e explanar o estudo da estrutura, etiologia e desenvolvimento 
cognitivo do comportamento humano, tal conceito no âmbito da 
criminologia, a mesma tem por função primordial buscar o motivo de um 
dado indivíduo ter cometido uma conduta delituosa (ARAÚJO, 2010). 
 
Para avançarmos no estudo da psicopatologia forense, faz-se necessário 
aprofundar em algumas questões acerca do psiquismo humano. Pretendemos 
agora fornecer um panorama mais sintético para assim avançarmos em outras 
questões relativas a esta área. 
33 
 
UNIDADE 3 – DETERMINANTES BIOPSICOSSOCIAIS DO 
COMPORTAMENTO 
 
A partir da leitura de Mira y López (2015), estudamos que o 
comportamento do indivíduo é decorrente de muitas variáveis. Se pretendermos 
compreender os fatores responsáveis pelas reações do indivíduo, deve-se levar 
em consideração que há fatores genéticos, adquiridos ou mistos. 
Para compreender melhor as dimensões biopsicossociais, recorremos a 
estudos na área da psicologia da saúde, os quais enfatizam a importância desse 
modelo. 
A perspectiva biopsicossocial (mente-corpo) postula que as forças 
biológicas, psicológicas e socioculturais agem em conjunto para determinar a 
saúde e a vulnerabilidade do sujeito à doença, ou seja, tanto a saúde quanto a 
doença devem ser aplicadas a partir desses múltiplos contextos nos quais o 
homem se encontra inserido (STRAUB, 2014). 
Os contextos nos quais o homem está inserido serão brevemente 
apresentados a seguir de forma de fornecer uma compreensão acerca da 
perspectiva biopsicossocial: 
 
O contexto biológico abrange a constituição genética, os sistemas 
nervoso, imune e endócrino, os quais influenciam diretamente os 
processos de saúde e doença. No contexto psicológico, destacam-se as 
crenças do paciente acerca sua saúde, doença e tratamentos; as 
intervenções psicológicas utilizadas para administrar as tensões do meio. 
Finalmente, no contexto social destacam-se as influências culturais, 
familiares que norteiam a maneira como se pensa e se relaciona com os 
outros e o ambiente (STRAUB, 2014). 
 
A tabela a seguir ilustra, de forma sintética, os principais fatores e uma 
breve descrição dos mesmos. Importante destacar que a natureza dos 
determinantes (biológica, psicológica ou social) nem sempre é única, em 
determinadas situações não há consenso entre os autores, assim como há 
situações em que um único determinante deriva de mais de uma fonte. Também 
se deve levar em consideração que há muitos determinantes do comportamento, 
nem todos estão explícitos nessa tabela, da mesma forma que não hesitamos em 
34 
 
afirmar que um determinado comportamento pode ser proveniente de mais de 
uma fonte. 
 
Tabela 2: Determinantes biopsicossociais do comportamento 
Determinante Descrição 
Constituição corporal “Conjunto de propriedades morfológicas e bioquímicas transmitidas ao 
indivíduo pela hereditariedade” (MIRA Y LÓPEZ, 2015, p.40). 
Certas reações do indivíduo apresentam relação direta com sua 
constituição corporal, assim como há influência de fatores relacionados 
ao sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático (reações de 
ataque e fuga). 
 
Funções mentais 
superiores 
(percepção, atenção, 
memória, 
pensamento, 
linguagem, 
inteligência, entre 
outras) 
“O cérebro é palco das funções mentais superiores, o que a mente 
comanda não ultrapassa os limites de funcionamento das estruturas 
cerebrais e as possibilidades dessas funções, por meio do 
processamento do que ali se encontra armazenado.” 
“As funções mentais superiores (separadas apenas por motivos 
didáticos, porque se constituem num todo integrado) constituem uma 
espécie de programação por meio da qual os indivíduos desenvolvem 
imagens mentais de si mesmos e do mundo que os rodeia, interpretam 
os estímulos que recebem, elaboram a realidade psíquica e emitem 
comportamentos” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p.11). 
Emoções “Um completo estado de sentimentos, com componentes somáticos, 
psíquicos e comportamentais, relacionados ao afeto e ao humor” 
(KAPLAN; SADOCK, 1993, p.230 apud FIORELLI; MANGINI, 2015, 
p.30). 
Há uma íntima relação entre a emoção e a razão: “A emoção delimita o 
campo de ação e conduz a razão” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p.30). 
As emoções influenciam todas as funções mentais superiores. 
Temperamentos O temperamento é definido por Mira y López (2015) como “a resultante 
funcional direta da constituição, que marca a cada momento a especial 
modalidade da primitiva tendência da reação ante os estímulos 
ambientais” (p.40). 
Gazzaninga e Heatherton (2005) elucidam que os temperamentos 
podem ser compreendidos como tendências gerais a agir ou sentir de 
determinada maneira. 
Caráter O caráter constitui o termo de transição entre os fatores endógenos e 
os fatores exógenos integrantes da personalidade, e representa 
35 
 
definitivamente o resultado da sua luta. Os fatores endógenos 
impeliriam o homem a uma conduta puramente animal baseada na 
satisfação de seus instintos e tendência apetitivas ou repulsivas. Os 
fatores exógenos, ao contrário, o conduziriam à completa submissão ao 
meio externo; é a clássica oposição entre o homem e o mundo (a luta 
pela vida) a que é simbolizada na luta entre o elemento endógeno e o 
exógeno, isto é, o caráter (MIRA Y LÓPEZ, 2015, p.43). 
 
Personalidade Garante a singularidade do indivíduo. 
Segundo a abordagem psicodinâmica, os motivos e conflitos 
inconscientes que são experienciados durante toda a vida, mas 
especialmente na infância, moldam a personalidade. Os humanistas 
acreditam que cada pessoa é única ecapaz de realizar um grande 
potencial. Os teóricos do traço descrevem o comportamento das 
pessoas com base em disposições de traços. Os teóricos cognitivo-
sociais focalizam como as interpretações e crenças cognitivas afetam a 
percepção das pessoas de seu ambiente social. Essas variadas 
abordagens não se opõem, necessariamente, umas às outras. Elas 
compartilham o objetivo comum de tentar compreender de que maneira 
as pessoas são semelhantes e diferentes entre si (GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005, p.479). 
Aprendizagem A criança (ou o adulto) aprende a partir das situações e interações que 
ocorrem no meio em que ela está inserida. 
Fonte: adaptado de Gazzaninga e Heatherton (2005); Mira y López (2015); Fiorelli; 
Mangini (2015). 
 
Enfim, quando o comportamento relaciona-se à conduta moral há uma 
diversidade de variáveis a ser consideradas, além do que se devem levar em 
conta as variáveis individuais e situacionais do momento, como é possível 
verificar a seguir: 
 
 
a) conduta moral não obedece à existência de um só fator geral; b) 
em sua determinação intervêm muito mais eficazmente as atitudes 
afetivas que o raciocínio lógico; c) não existem critérios morais 
padronizados que permitam uma valorização ética constante dos 
distintos tipos possíveis de conduta moral perante situações 
concretas; d) não só varia consideravelmente o critério julgador dos 
36 
 
atos morais de umas e outras pessoas, mas também em uma só se 
observam notáveis diferenças de rigor ao colocar-se em atitude 
crítica perante os diversos tipos de ações imorais; e) existem grupos 
humanos que são coletivamente julgados como deficientes éticos e 
que, não obstante, em provas de conduta, se mostram mais 
generosos que os considerados como normais (MIRA Y LÓPEZ, 
2015, p.122). 
 
37 
 
UNIDADE 4 – A CAPACIDADE DE IMPUTAÇÃO E 
INIMPUTABILIDADE DO PORTADOR DE TRANSTORNO 
MENTAL 
 
Na tabela anterior recapitulamos que os comportamentos podem ser 
provenientes de diversas fontes – biológicas, psicológicas e sociais/ambientais – 
e mesmo da interação entre mais de um fator. Alguns desses fatores relacionam-
se às funções cognitivas e à personalidade. Quando o indivíduo apresenta 
transtorno associado a uma dessas instâncias e, após avaliação multiprofissional, 
é caracterizado como portador de transtorno mental e/ou doente mental. Fica 
subentendido que determinados comportamentos podem ser em decorrência de 
sua condição, ou seja, o indivíduo não tem condições de se responsabilizar por 
seus atos e, consequentemente, não tem condições de ser punido pelos mesmos 
a exemplo do que acontece com as pessoas consideradas normais. 
Nesta mesma apostila, já compreendemos a importância da avaliação 
psicológica e as críticas a esse tipo de trabalho. Entretanto, quando há suspeita 
de algum desvio psicopatológico, esse tipo de trabalho se faz necessário em 
busca de um diagnóstico que poderá direcionar o tipo de punição empregada, 
dentre outros fatores. 
 
4.1 Definição de conceitos básicos 
Antes de aprofundarmos no estudo, faz-se necessário realizarmos 
algumas definições: 
a) Responsabilidade penal: 
 
Do ponto de vista jurídico, a responsabilidade pressupõe no agente, 
contemporaneamente à ação ou à omissão, a capacidade de entender o 
caráter criminoso do fato e também a de determinar-se de acordo com 
esse entendimento. É possível então definir-se a responsabilidade como 
a existência dos pressupostos psíquicos pelos quais alguém é chamado 
a responder penalmente pelo crime que praticou (VALENÇA; CHALUD; 
MENDLOWICS; MESCLER; NARDI, 2005, p.249). 
 
38 
 
A responsabilidade penal pressupõe a obrigação do indivíduo de 
responder penalmente devido a alguma ação, desde que seja comprovada sua 
imputabilidade. Um indivíduo considerado responsável, ao cometer um delito, 
será submetido a uma pena. Termo relacionado ao Direito Penal (VALENÇA et 
al., 2005). 
 
A responsabilidade penal implica, então, em atribuir certo ato 
considerado como crime a um indivíduo, que somente sofrerá a punição 
adequada a sua ação se tiver capacidade (condições psíquicas, 
intelectovolitivas) de entender o caráter ilícito do ato praticado (NUNES, 
2003, p.27). 
 
Para que um indivíduo seja responsabilizado penalmente por ter cometido 
algum delito, as seguintes condições devem ser observadas: ter praticado o 
delito; à época dele ter tido entendimento do caráter criminoso da ação; à época 
ter sido livre para escolher entre praticar e não praticar (VALENÇA et al, 2005, 
p.249). 
Convém ressaltar que o termo capacidade civil relaciona-se à capacidade 
do indivíduo de realizar atos relacionados à vida civil, tais como contrair 
matrimônio e administrar bens (FIORELLI; MANGINI, 2015). 
 
b) Imputabilidade 
Define-se brevemente a imputabilidade como a condição psíquica da 
punibilidade (VALENÇA et al., 2005). 
De acordo com Vargas (1990), o conceito básico de imputabilidade seria a 
condição de quem tem aptidão para realizar com pleno discernimento um ato. 
Representa a imputabilidade uma relação de causalidade psíquica entre o fato e o 
seu autor. 
Com uma frase interessante, Von Liszt apud Lutz (1941), resume bem essa 
questão: “imputável é todo indivíduo mentalmente desenvolvido e mentalmente 
são” (VALENÇA et al. 2005, p.249). 
 
Compreende-se a imputabilidade como a capacidade do indivíduo de ter 
consciência se os atos cometidos por ele foram bons ou maus (NUNES, 2003). 
39 
 
c) Inimputabilidade 
Compreende-se como inimputabilidade, a incapacidade do indivíduo em 
responder por sua conduta delituosa, ou seja, o indivíduo não tem capacidade de 
compreender que determinado fato é ilícito e de agir de acordo com esse 
entendimento. A inimputabilidade exclui a culpabilidade, já que o indivíduo não 
possui condições de compreender o porquê de seu ato ser reprovável, por isso 
não é possível impor algum tipo de pena ao cidadão infrator (DIREITO NET, 
2015). 
 
São causas da inimputabilidade: a) doença mental ou desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado; b) menoridade; c) embriaguez completa, 
decorrente de caso fortuito ou força maior; e, d) dependência de 
substância entorpecente (DIREITO NET, 2015, s.p.). 
 
d) Periculosidade 
Questão bastante debatida, passou a ser criticada mais recentemente 
devido ao seu viés determinista, preconceituoso e, consequentemente, reforçador 
da exclusão social de determinados grupos pré-selecionados. Parte-se do 
pressuposto de que os comportamentos humanos podem ser determinados por 
uma série de fatores de ordem biopsicossocial. Em linhas gerais, todas as 
pessoas têm condições de tomar determinadas ações, dentre essas as 
delituosas. Assim, torna-se complicado afirmar com veemência quem seria mais 
propenso a tomar determinadas atitudes. 
 
Diferentemente dos liberais que tinham como objeto os delitos e as 
penas, os adeptos da Escola Positiva de Direito Penal voltam-se para o 
homem delinquente e as características que os distinguem dos demais. 
Com esse objetivo, tentam individualizar os fatores que condicionam o 
comportamento criminoso e, apoiados em pressupostos deterministas e 
na noção de hereditariedade, passam a criticar a noção de livre arbítrio e 
a questionar a responsabilidade dos criminosos. Segundo eles, a 
liberdade de escolha não podia ser considerada relevante no julgamento 
de um ato criminoso, uma vez que o comportamento humano estava 
predeterminado por causas inatas. No entanto, se os criminosos não 
podiam ser considerados, sob este ponto de vista, moralmente 
responsáveis, deviam ser tratados como socialmente responsáveis pelo 
40 
 
perigo

Outros materiais