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O PEDAGOGO E A GESTÃO EDUCACIONAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A DOCÊNCIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ORTEGA, Adriana Cunha – FECILCAM (autora) CRUZ, Greice Mara – FECILCAM (co-autora) Eixo Temático: Formação de professores e profissionalização Resumo O tema que norteia o trabalho é “o pedagogo e a gestão em favor da docência nas séries iniciais do Ensino Fundamental”, tendo em vista a dificuldade que alguns professores mostram frente ao desenvolvimento de práticas pedagógicas no sentido de contribuir para o desenvolvimento pleno de seus alunos. Assim, o presente texto tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a prática de Estágio Curricular Supervisionado II, na área de Gestão Educacional, desenvolvida numa escola pública municipal de Campo Mourão, Paraná. Além disso, buscamos discutir de que maneira o pedagogo pode assessorar os professores visando à superação em suas dúvidas. A elaboração e desenvolvimento do referido projeto pauta-se numa concepção histórico-cultural de educação, com base em autores cujos pensamentos convergem à abordagem escolhida. Assim, foi possível esboçar algumas considerações, como a evidente importância de se compreender que teoria e prática são indissociáveis, bem como é necessário estudar e pesquisar, visando ao desenvolvimento de uma prática pedagógica cada vez mais eficiente e coerente. Mas, para isso é preciso que os professores atentem para o fato de que uma prática pedagógica eficiente, exige um comprometimento total, pois, pressupõe-se que ser professor é dedicar-se à superação dos problemas que vão se apresentando no decorrer de suas atividades, e não se deixar abater com o primeiro obstáculo, que geralmente são as dificuldades de alguns alunos no processo de alfabetização. Ainda, observamos em alguns professores apatia em relação aos problemas que se apresentam em seu cotidiano de educadores. Nesse sentido, o que se quer deixar claro, é que o fato da falta de valorização do professor no Brasil, não o “desresponsabiliza” de sua função enquanto educador. Palavras – chave: Educação. Conhecimento. Docência. Teoria. Práticas Pedagógicas. Introdução Pensar a gestão escolar envolve a compreensão de que todas as áreas de trabalho que compõem uma escola e sua organização – tanto os seus aspectos administrativos (diretor (a), 7302 bibliotecário (a), secretário (a), laboratorista) e pedagógicos (professores, orientadores, coordenadores pedagógicos), quanto os de apoio (zeladores (a), vigias, cozinheiros (a)). De acordo com Libâneo (2001, p.78), a Gestão é “a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingir os objetivos da organização”, sendo esta “organização” uma “unidade social que reúne pessoas que interagem entre si e que opera através de estruturas e processos organizativos próprios, a fim de alcançar os objetivos da instituição” (LIBÂNEO,2001, p.77). Nesse sentido, a escola tem como principal objetivo possibilitar aos educandos a aquisição dos saberes historicamente acumulados pela humanidade. De certa forma, dentro de uma escola todos são “gestores”, no sentido de estarem conscientes do compromisso com a função que exercem, sendo a figura do diretor aquela que coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola. Assim, o pedagogo, também enquanto gestor, assume papel importante na escola, tendo como função, inclusive, promover ações educativas e sociais que viabilizem o ensino-aprendizagem dos alunos, ou seja, cabe a ele o papel de mediador da prática educativa escolar. Diante disso, desenvolve-se a prática de Estágio Supervisionado II, na área de Gestão Educacional em uma escola municipal de Campo Mourão- PR, com as professoras do 1º ano e 1a série do Ensino Fundamental. O principal objetivo foi assessorá-las no desenvolvimento de práticas pedagógicas, visto a dificuldade que as mesmas apresentaram. Para elaboração do estudo, além de observação participativa em sala de aula, também foram realizadas entrevistas com as professoras que trabalham com essas turmas, e numa segunda etapa, fez-se a devolutiva considerando o posicionamento das professoras frente às colocações levantadas. Prática Pedagógica Compreendendo a necessidade de um estagiário do curso de Pedagogia em posicionar- se e comprometer-se com seu processo de formação, é fundamental a apropriação da teoria que subsidiará sua prática, sendo essa relação (teoria e prática) indissociável. Para tal, torna-se importante o desenvolvimento de práticas educativas que venham ao encontro das necessidades da instituição em que irá estagiar. O Estágio na área de Gestão Escolar foi desenvolvido em uma escola municipal da cidade de Campo Mourão, PR, com professoras da 1a série e 1º ano do Ensino Fundamental. O 7303 atual 1º ano é formado por alunos na faixa etária de seis anos vindos da Educação Infantil, e a 1a série é formada por alunos retidos no ano anterior, por se tratar do último ano em que a escola terá uma classe de primeira série. Em uma primeira conversa com a diretora da escola, manifestamos a vontade de elaborar e desenvolver um projeto que fosse necessário à realidade escolar. Diante disso, foi sugerido que trabalhássemos com as professoras que estavam apresentando dificuldades em relação às práticas pedagógicas destinadas aos alunos de 1a série e 1º ano, respectivamente. A professora de 1º ano demonstrava dúvidas em relação à maneira de conduzir as práticas pedagógicas em sala de aula, de forma que precisaria trabalhar com alfabetização e letramento com os alunos. Semelhante dificuldade apresentou a 1a série, que em virtude de se tratar de seu último ano, necessariamente promoverá os alunos para o próximo ano, sendo necessária assim, sua alfabetização. Tendo em vista, que tais alunos foram retidos no ano anterior, novas estratégias precisariam ser apresentadas para que se apropriassem dos pré-requisitos necessários para a série seguinte. A partir desse contexto, levantamos a seguinte problemática: quais as contribuições que o pedagogo pode oferecer ao docente com relação as suas dúvidas quanto ao encaminhamento metodológico? De acordo com Libâneo (2001, p.104), cabe ao pedagogo, “sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógico-didática aos professores e suas respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho interativo com o aluno”. Diante da diagnose elaboramos um projeto que teve como principal objetivo prestar apoio pedagógico às professoras. Tal projeto visou a superação de suas dificuldades em relação às atividades pedagógicas e subsídios teóricos e metodológicos para que possam desenvolver junto aos alunos o processo de alfabetização e letramento. Pois, segundo Libâneo O coordenador pedagógico responde pela viabilização, integração e articulação, do trabalho pedagógico-didático em ligação direta com os professores, em função da qualidade do ensino. A coordenação pedagógica tem como principal atribuição a assistência pedagógico-didática ao professores, para se chegar a uma situação ideal de qualidade de ensino (considerando o ideal e o possível) auxiliando-os a conceber, construir e administrar situações de aprendizagem adequadas às necessidades educacionais dos alunos (2001, p. 183). O encaminhamento das atividades a fim de trabalhar tais questões levantadas está embasado na concepção histórico-crítica e deu-se por meio de exposição dialogada e pesquisa bibliográfica. Conforme Facci, 7304 Se o professor não tem um domínio adequado do conhecimento a ser transmitido, ele terá grande dificuldade em trabalhar com a formação dos conceitos científicos e também com a zona de desenvolvimento próximo de seus alunos. Se o professor não realiza um constante processo de estudo das teorias pedagógicas e dos avanços das várias ciências, se ele não se apropriardesses conhecimentos, ele terá grande dificuldade em fazer de seu trabalho docente uma atividade que se diferencie do espontaneísmo que caracteriza o cotidiano alienado da sociedade capitalista contemporânea (2004, p. 244). Ao iniciarmos a observação participativa, em um primeiro momento levantamos algumas questões para as professoras regentes de ambas as salas, com objetivo de conhecer um pouco sobre as concepções que norteavam suas práticas pedagógicas e a maneira como interpretavam as “dificuldades” de trabalhar com os respectivos alunos. Para tanto, elaboramos as seguintes questões: o objetivo das aulas ministradas; o entendimento que têm sobre alfabetização e letramento; a metodologia utilizada em sala de aula; o motivo a que atribuem o fato de os alunos não aprenderem e o que fazem para ajudá-los; o que é um professor comprometido e qual a função da escola; se utilizam os materiais pedagógicos da escola; se percebem que as atividades em sala de aula mobilizam os alunos; o que consideram como indisciplina, assim como atitudes desejáveis e indesejáveis por parte dos alunos; como acompanham a aprendizagem dos alunos e as dificuldades vivenciadas por esses; como avaliam sua respectiva formação e sua opinião acerca da formação continuada. Diante de tais informações, iniciamos a segunda etapa da observação participativa em sala de aula, na qual pudemos detectar que algumas respostas eram incoerentes com as práticas desenvolvidas, principalmente na 1a série. Em relação à dificuldade de alfabetizar, tanto Vygotsky (1991) como Cagliari (1998) atentam para o fato de a escrita ter se tornado um ato mecânico, sendo ignorada sua importância cultural típica do ser humano. Ambos afirmam ser necessário reconhecer sua importância para o pleno desenvolvimento do homem, pois, por meio dela o homem transmite seus saberes elaborados durante todo seu processo histórico cultural. Ademais, de acordo com Luria (1991), memoriza-se aquilo que se entende, que representa algum significado. Discutimos com as professoras que trabalham com as referidas turmas (Artes, Literatura, Psicomotricidade e regente do 1º ano), que aprender a ler e a escrever consiste em processos complexos: [...] a escrita é uma função lingüística distinta, que difere da fala oral tanto na estrutura como no funcionamento [...] mesmo seu mínimo desenvolvimento exige um 7305 alto nível de abstração [...] A escrita exige uma ação analítica deliberada por parte da criança. Na fala, a criança mal tem consciência dos sons que emite e está inconsciente das operações mentais que executa. Na escrita, ela tem que tomar conhecimento da estrutura sonora de cada palavra, disseca-la e reproduzi-la em símbolos alfabéticos, que devem ser estudados e memorizados antes. Da mesma forma deliberada, tem que por as palavras em uma certa seqüência, para que possa formar uma frase (VYGOTSKY, 1991, p.85). Diante da dificuldade de abstração que algumas crianças apresentaram, sugerimos para as professoras regentes a utilização, com maior freqüência, dos materiais da sala de recursos da escola. Alguns materiais poderiam ser trabalhados auxiliando o desenvolvimento da percepção, atenção voluntária, memória voluntária e concentração. Sugerimos, também, o trabalho com a construção de textos coletivos com os alunos. Cagliari (1998) menciona que, durante o processo de alfabetização, a produção de textos tem como objetivo ensinar aos alunos a passar seus conhecimentos sobre a linguagem oral para a forma escrita. Além disso, contribui para que a criança exercite a imaginação e “solte as amarras” para escrever. Propusemos para a professora regente do 1º ano algumas modificações em relação à organização da sala de aula, as quais foram acatadas. Na sala há um aluno que apresenta dificuldade em falar, comunicando-se na maioria das vezes por gestos. Sugerimos para a professora que esse aluno ficasse próximo a ela e, preferencialmente, junto a algum outro aluno mais “falante”. Além disso, propusemos que ela procurasse não responder quando ele gesticulava, incentivando-o, dessa maneira, a “falar”. Justificamos nossa colocação dizendo que, de acordo com Luria (1985), a linguagem é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança e que a mesma se desenvolve a partir de uma necessidade e estimulação (exceto quando a criança apresenta alguma lesão de ordem cerebral). A linguagem organiza o pensamento. A capacidade de representação e generalização de uma criança oralizada é bem maior que a de uma com dificuldade de oralidade. Ainda em relação à organização da sala de aula, evidenciamos que os alunos sentavam-se individualmente em fileiras. Sugerimos que passassem a formar duplas ou grupos, já que, segundo Vygotsky (1988), aprendemos melhor em pares. Frente às observações participativas no 1º ano foi possível considerar que as professoras estavam trabalhando de forma fragmentada e que as dúvidas em relação à maneira de trabalhar com as crianças ocorriam, principalmente, não por conta do “ensino de nove anos”, especificamente, mas por conta do pouco entendimento do processo de aprendizagem. Não existe somente uma única matéria destinada à alfabetização, pelo contrário, ela deve ser 7306 trabalhada por meio de suas múltiplas linguagens englobando todas as disciplinas. Para Vigotskii (1988, p.117) “cada matéria escolar tem uma relação própria com o curso de desenvolvimento da criança”. Conversamos sobre a possibilidade das professoras de Literatura e Artes desenvolverem um trabalho em conjunto, assim, as práticas pedagógicas poderiam ser mais proveitosas para os alunos. Na reunião com a professora de Literatura, sugerimos que as atividades trabalhadas em suas aulas pudessem ser integradas às aulas de Artes. Por exemplo, a partir de uma história trabalhada em Literatura, a professora de Artes poderia dramatizá-la. Sugerimos, inclusive, o trabalho com textos da literatura brasileira, como os de Monteiro Lobato, por exemplo. Segundo Bussato (2003), a literatura infantil é muito rica e possibilita ao educador explorar várias temáticas e promover amplo desenvolvimento cognitivo e emocional. Diante do exposto e com a leitura do material escrito, a professora de Literatura afirmou que a proposta era interessante, mas inviável, visto que ela e a professora de Artes lecionavam em dias diferentes, o que dificultaria a realização do trabalho. Na reunião com a professora de Psicomotricidade do 1º ano, expusemos nossa preocupação com o fato de algumas crianças apresentarem dificuldade de lateralidade e do esquema corporal. Segundo Fonseca (1995), a finalidade do movimento é estabelecer envolvimento mental e emocional do ser humano, além da compreensão dos limites corporais ser importante para que a aprendizagem se efetive. Tivemos uma única reunião com a professora regente do 1º ano juntamente com a orientadora educacional da escola. Entretanto, essa professora permitiu que realizássemos observação participativa em sua sala. Sendo assim, freqüentemente conversávamos sobre as práticas pedagógicas. Nessa reunião com a orientadora, além da entrega do segundo material escrito, assistimos a um DVD (TV Escola sobre alfabetização). A professora não demonstrou interesse pelo vídeo e, quando indagamos se já assistiu algum outro DVD que a escola dispõe, respondeu não ter tempo. A reunião planejada com a professora da 1a série não foi realizada e entregamos o material por escrito em sua hora-atividade. Ela se comprometeu em ler o material. Como se percebe as professoras estão delegando responsabilidade pela aprendizagem ou não de seus alunos a eles e/ou a fatores externos à sala de aula (família desestruturada, criança mal nutrida, família que não incentiva o aluno e tampouco o ajuda na realização das tarefas de casa, problemas emocionais e transtornos psicológicos), isentando-sede sua parcela 7307 de responsabilidade. Em momento algum questionaram sua prática e intervenção pedagógica. Patto (apud MANTOVANINI, 2001, p. 26) menciona estar “enraizado” em muitos professores o enfoque (tão antigo e infelizmente tão atual) da psicologização do início do século passado. “Essa tendência de atribuir problemas de aprendizagem a fatores orgânicos e psicológicos é fruto da forte influência médica na construção teórica e instrumental da psicologia”. Nesse sentido, consideramos necessário respeitar a especificidade do aluno, não no sentido de “deixá-lo” no estágio de desenvolvimento em que se encontra, mas no de acreditar em suas possibilidades de desenvolvimento e, a partir do que conhece oportunizar um maior nível de desenvolvimento por meio da intervenção pedagógica. E essa tarefa é do professor, não da família, do médico, do fonoaudiólogo. Em relação à “vilã” indisciplina na sala de aula são necessárias algumas pontuações. Observamos que ser disciplinado em sala de aula para as professoras, principalmente para a da 1a série, é ficar durante a aula sentado e calado, exceto quando a professora faz alguma pergunta. Será que alguém saudável consegue permanecer assim durante quatro horas, com um intervalo de meia hora? Para essas professoras, o não movimento é pré-requisito para a aprendizagem, porém, o movimento pode contribuir para a aprendizagem. Ainda sobre a indisciplina, Rego (1996) chama atenção para o fato de a mesma ser interpretada por “diversos olhares”, de acordo com a cultura ou subjetividade de cada um, bem como os fatores que a ocasiona. A escola, muitas vezes, atribui a indisciplina à família, e essa à escola. Segundo Rego (1996, p.96) “o comportamento indisciplinar não resulta de fatores isolados [...], mas da multiplicidade de influências que recaem sobre a criança e o adolescente ao longo de seu desenvolvimento”. Portanto, ambas colaboram para a disciplina ou não do aluno. Rego (1996) atenta para o fato de que embora a família exerce um importante e imprescindível papel na educação da criança., afirma que esse tipo de educação refletirá em seu comportamento (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral), mas não se pode “dar por finalizada” a personalidade da criança, com uma visão determinista. Desse modo, o posicionamento do professor em sala de aula, da mesma maneira como dos pais, também influenciará no comportamento desse aluno. Se autoritário, beirando ao desrespeito e à violência, não conseguirá um aluno disciplinado, mas um ser totalmente amedrontado, e possivelmente que “odeie” a sala de aula e o professor. Esse sentimento pode refletir no rendimento escolar do aluno. A disciplina deve ser o resultado e não o meio para a aprendizagem e “condução” da sala de aula. Sendo assim, entendemos que a escola tem um 7308 papel fundamental no que se refere à disciplina, tornando-se um dos espaços que possibilite a apropriação e construção de regras e valores. Outro ponto que merece atenção é a formação continuada do professor. As professoras regentes afirmaram que somente a formação que possuíam é insuficiente para trabalhar em sala de aula e que o professor precisa estar em constante busca de conhecimentos. Mas, ao entregarmos o material escrito para que pudessem ler, ao propormos a participação em encontros para discussão de pontos levantados no texto, ao indagarmos sobre a participação em cursos oferecidos pela Secretaria Municipal de Educação, a resposta foi não disporem de tempo para freqüentar esses cursos, participar dos encontros propostos, assistir aos DVDs que a escola dispõe e, ainda, ler o material entregue. Também, observamos que os professores não “interagem”, sendo que alguns permanecem em sala planejando suas atividades, inclusive quando não estão em aula. Não ocorre troca de experiências, diálogo. Ao comentarmos esse fato e o aparente desinteresse pelos estudos com a orientadora, a mesma afirmou que isso realmente acontece entre os professores da escola. Embora ela possa orientá-los acerca dessas questões que podem ser modificadas durante o tempo que dispõem, ela não pode “forçá-los”, cabendo a eles a decisão. De acordo com Vasconcellos (2002), ao referir-se ao posicionamento do que ele chamou de equipe diretiva (direção, supervisão, coordenação pedagógica, orientação educacional), deve- se ter “cuidado” com a relação de poder, inclusive no que diz respeito, ao “medo” em exercê- lo, como se toda forma de poder fosse “despótica”. Entendemos que o educador deve ter uma presença marcante, ser uma forte referência para a coletividade; não é ser tirano nem omisso: é ter proposta e dialogar. E isto vale tanto para a sala de aula (professor), como para a escola como um todo (equipe). [...] A equipe ajuda quando não impõe, mas propõe, provoca [...] É necessário administrar uma tensão no processo: respeito pelo professor e ao mesmo tempo posicionamento, provocação. [...] O coordenador, ao mesmo tempo em que acolhe e engendra, deve ser questionador, desequilibrador, animando e disponibilizando subsídios que permitam o crescimento do grupo; tem, portanto, um papel importante na formação dos educadores, ajudando a elevar o nível de consciência [...] (VASCONCELOS, 2002, p. 54-89). Ao mesmo tempo, também corre-se o risco de parecer autoritário e desrespeitoso com o colega de profissão. Por isso o respeito, aliado ao conhecimento (que contribui para analisar a situação numa perspectiva de totalidade) e às possibilidades de intervenção, devem caminhar juntos. Neste sentido, esta prática deve ser permeada por diálogo sincero e problematizador 7309 com o professor, quando ambas as partes possam expor suas dúvidas e observações, deixando ao coordenador claro que trata-se de uma mediação. Em relação à formação continuada dos professores da escola, a Projeto Político Pedagógico da escola reforça a importância desta para a atuação docente. A formação continuada deve ser de vital importância para todos os profissionais da educação, para que os mesmos possam refletir sobre temas e estratégias de melhoria, minimizando a problemática que surge no dia-a-dia de nossa escola, através de uma prática pedagógica eficiente e democrática, não devendo limitar-se aos conteúdos curriculares, mas se estender à discussão da escola como um todo e suas relações com a sociedade (PPP, p.98). No entanto, embora sejam informados todos os cursos que ocorrem no município sobre formação continuada, e no PPP da escola esteja estabelecido que essa formação poderá ocorrer, inclusive por meio de seminários, reuniões pedagógicas e grupos de estudo, a maioria dos professores não participam, alegando que os cursos oferecidos pelo município são repetitivos e, em sua maioria, não auxiliam em suas práticas pedagógicas, pois tratam apenas de teorias e pouca ou nenhuma sugestão de práticas. Tudo isso permite, inclusive, a afirmação da dicotomia entre teoria e prática realizada pelos professores. Essa questão de muita teoria e pouca prática também nos foi colocada na devolutiva que fizemos com as professoras. A professora de Artes não leu o material, mas disse que esperava mais de nosso estágio, pois ao propormos auxiliar na aprendizagem dos alunos, sua expectativa era de que apresentássemos práticas. No entanto, sob a análise dela, apresentamos apenas teorias e essas não a ajudará em suas aulas. A professora de Literatura disse que leu o material, achou viável desenvolver algumas das atividades sugeridas e reconsiderou a hipótese de trabalhar em conjunto com a professora de Artes no ano seguinte. De acordo com a professora regente do 1º ano, nossas sugestões são viáveis e ela acatou a maioria delas. A sala de aula foi reorganizada como sugerimos e muitas das atividades foram desenvolvidas, como por exemplo, trabalhar com textos coletivos, a oralidade dos alunos,usar os materiais da sala de recursos e a dramatização de histórias. A professora de Psicomotricidade, embora tenha lido todo o material entregue e participado das reuniões, não desenvolveu as atividades sugeridas pelo fato de ter saído de licença. A da 1a série não leu o material por falta de tempo (o texto foi entregue há mais de dois meses da devolutiva), dessa forma, não pudemos dar continuidade à devolutiva. 7310 Perguntamos para as professoras de Artes, Literatura e Psicomotricidade se conversavam com a professora regente sobre as dificuldades dos alunos e como poderiam trabalhar com eles a aquisição da leitura e escrita, visto ser essa uma das principais preocupações dela. A professora de Psicomotricidade afirmou comentar com a professora regente sobre as dificuldades das crianças durante as suas aulas, no mais, ainda não sabe como ajudá-la. As de Artes e Literatura acreditam que essa preocupação “cabe” à professora regente, conversam com ela às vésperas do Conselho de Classe ou quando percebem algum aluno disperso nas aulas. Para finalizar perguntamos sobre a possibilidade de formar um grupo de estudos, ao menos a cada quinze dias para discutirem sobre a aprendizagem dos alunos, as dificuldades observadas em sala de aula, os encaminhamentos pedagógicos, trocar experiências, enfim, estudar de que forma poderiam contribuir para o desenvolvimento cognitivo desses alunos. Ambas responderam ser interessante a proposta, mas pouco provável de se consolidar, uma vez que não há um horário em que todas possam estar reunidas. Após a devolutiva com as professoras, conversamos com a orientadora da escola e comentamos sobre as respostas e posicionamentos das mesmas. A orientadora disse que infelizmente as respostas coletadas condizem com a realidade. Afirmou que os professores querem uma maneira fácil de trabalhar que não exija muito esforço para que eles continuem no comodismo de sempre. Disse, também, que os professores não gostam de fazer leitura e sim de materiais resumidos e com muitas sugestões de atividades. Dificilmente lêem algum material de estudo e quando isso ocorre, na maioria das vezes, não compreendem ou esquecem. Em relação ao grupo de estudos que propusemos, disse que seria possível uma reunião entre elas a cada quinze ou trinta dias, mas que, certamente, elas iriam dificultar esse trabalho, pois no entendimento dos professores, os orientadores devem trabalham somente com os alunos e as famílias. Alegam que os orientadores não têm contato com o cotidiano de sala de aula, portanto, não têm direito de interferir na prática pedagógica. Considerações finais Por meio do estágio realizado, ficou evidenciada a importância de se compreender que teoria e prática são indissociáveis. Uma é crucial para o bom desempenho da outra. Assim como é necessário estudar e pesquisar, visando ao desenvolvimento de uma prática pedagógica 7311 cada vez mais eficiente e coerente. Por outro lado, não pretendemos ignorar a complexa problemática que envolve a profissão de professor no Brasil, que perpassa desde a desvalorização perante a sociedade e descaso perante as políticas educacionais, até questões de ordem prática, como baixos salários e péssimas condições de trabalho. Entretanto, certamente, não será sua falta de comprometimento e apatia que melhorará a situação. Ademais, esse fato não o “desresponsabiliza” de sua função enquanto educador. Vasconcellos (2002) comenta a resistência de muitos professores em mudar seu posicionamento e considerar os apontamentos feitos pela equipe diretiva. Esse fato deve-se a vários motivos, por exemplo, falta de conhecimento, falta de segurança, defesa psicológica diante de situações novas, posicionamento ideológico, entre tantos outros. Parafraseando Limongelli (2004), não nascemos professores (as), mas aprendemos a ser ao longo de nossas carreiras. Contudo, consideramos que, para que esse processo seja efetivado, é imprescindível muito estudo e pesquisas, compromisso com a profissão e com o aluno. REFERÊNCIAS BUSSATO, Cléo. Contar e encantar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização sem o ba-bé-bí-bó-bú. São Paulo: Scipione, 1998. FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2004. FONSECA, Vitor. Manual de observação psicomotora: significação psiconeuroloógica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas,1995. LIBÂNEO, José Carlos. Organização da Escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001. LIMONGELLI, Ana Martha de Almeida. A constituição da pessoa: dimensão motora. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho (Orgs). A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2004. LURIA, Alexandre Romanovich. Curso de Psicologia Geral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. v. II. ______. Linguagem e desenvolvimento intelectual na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. 7312 MANTOVANINI, Maria Cristina. Professores e alunos problema: um círculo vicioso. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. REGO, Teresa Cristina. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygotskiana. In: AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002. VIGOTSKII, Lev Semenovich. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988. ______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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