Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ISSN: 1981-3031 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM DESAFIO CONSTANTE Maria Jeane Bomfim da Silva 1 Edna Cristina do Prado 2 M.ª Betânia Gomes da S. Brito 3 Resumo O artigo apresenta reflexões acerca das políticas públicas educacionais para Educação de Jovens e Adultos - EJA a partir das reformas educacionais da década de 90 às políticas recentes. Aborda em que medida tais políticas contribuíram para a efetivação dessa modalidade de ensino. O percurso metodológico adotado pautou-se na revisão bibliográfica e análise documental. As discussões fazem parte de uma pesquisa de mestrado, cuja problemática estudada é gestão das políticas públicas de EJA da Secretaria Municipal de Maceió - AL. Os resultados parciais evidenciam que as ações para EJA se efetivam mais por meio de programas e projetos pontuais, por vezes de curta duração, do que propriamente por políticas públicas efetivas. Palavras-chave: Política pública - EJA - Reforma Educacional. INTRODUÇÃO O texto traz uma análise das políticas educacionais para a Educação de Jovens e Adultos, a partir das reformas educacionais da década de 90, cuja análise denota que o caráter homogeneizante dessas reformas prejudica o desenvolvimento da educação. Busca semelhanças e distanciamentos entre as políticas do governo Fernando Henrique Cardoso e as políticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva Apresenta os programas empreendidos pelas políticas públicas recentes, analisando até que ponto a EJA esteve presente na política educacional brasileira, ou se tais programas objetivam reparar lacunas educacionais, contribuindo para ratificar o caráter compensatório, da modalidade e a ênfase na educação de crianças. A partir das discussões de Di Pierro, (2000); Haddad (2000), (2003); Krawczyk, (2000), Rummert, (2007); Moura, (2000), entre outros autores, situa o leitor frente ao 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail: jeanebomfim@ig.com.br 2 Professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail wiledna@uol.com.br 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail: betebrito10@hotmail.com. 2 desenvolvimento da educação de Jovens e Adultos dentro do contexto das políticas públicas educacionais. O artigo ressalta que essa modalidade de ensino enfrenta uma posição marginal, sem o devido reconhecimento e fortalecimento para garantir de fato e de direito uma educação permanente e de boa qualidade à população desfavorecida de bens culturais e intelectuais. DESENVOLVIMENTO 1. A EJA NO CONTEXTO DAS REFORMAS EDUCACIONAIS DA DÉCADA DE 90: AVANÇOS, RETROCESSOS OU ESTAGNAÇÃO? A Educação de Jovens e Adultos - EJA se configura em seu processo histórico como uma educação compensatória e emergencial, considerada tão somente para atender ao modelo sócio econômico. Toma-se a educação como elemento preponderante para o desenvolvimento do país sem, contudo considerar o processo laboral e intelectual desses sujeitos: Devemos perguntar em que bases o projeto de desenvolvimento econômico e social do Brasil de hoje supera ou se acomoda à lógica da divisão internacional do trabalho que, historicamente, reduz os trabalhadores a fatores de produção e, em razão disso, torna sua formação um investimento em "capital humano", psicofísica e socialmente adequado à reprodução ampliada do capital. (FRIGOTTO, 2005, p. 1104) Marcada por políticas pontuais, essa modalidade de ensino foi tratada como um meio de desenvolvimento do país em momentos decisórios dos rumos da econômica brasileira, como nos mostra os objetivos do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, desenvolvido no país na década de 60: Os compromissos com a educação objetivavam a “formação de uma infra- estrutura adequada de recursos humanos, apropriada ás nossas necessidades socioeconômicas, políticas e culturais”. Para a implantação de tais objetivos, o Estado brasileiro se propunha a criar e programar um sistema de educação permanente, no qual a educação de adultos situa-se “na linha das operações”, por ser “poderosa arma capaz de acelerar o desenvolvimento, o processo social e a expansão ocupacional”. (HADDAD e PIERRO, 2000, p. 118). O Movimento teve início com o regime militar e foi extinto em 1985, substituído pela Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos – FUNDAÇÃO EDUCAR, que tinha um papel de fomentar recursos e dar apoio técnico financeiro a organizações não 3 governamentais, o papel pedagógico, não era sua responsabilidade, tal Fundação foi extinta em 1990, durante a gestão do então Presidente da República Fernando Collor de Melo. Para compreender as políticas públicas para a EJA se faz necessário recuperar parte das reformas educacionais que envolveram essa modalidade de ensino, durante a gestão do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Nesse governo, as ações para EJA limitaram-se à Alfabetização Solidária e à exclusão da modalidade no Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental – FUNDEF, substituído em 2007 pelo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB. Este governo firmou parcerias com os organismos internacionais, através do Banco Mundial 4 , para financiar as políticas para o ensino fundamental, desta forma apenas este nível de ensino recebe investimentos. Na década de 90 os países da América Latina passam por reformas econômicas, estratégias do Banco Mundial em nome do fortalecimento da economia dos países em desenvolvimento. Inicia-se um processo de privatizações, o público passa a ser privado, causando o enfraquecimento do Estado de bem estar social dos países da América-Latina. No Brasil as reformas, afetam boa parte da população, os desfavorecidos das políticas sociais. Trata-se da expansão do neoliberalismo, da manutenção do grande capital. Partes dessas reformas atingiram em certa medida a Educação de Jovens e Adultos. Nesse período, os investimentos nas políticas públicas educacionais do Presidente Fernando Henrique Cardoso - FHC voltavam-se com força maior para o ensino fundamental de crianças de 7 a 14 anos. 1.1. REFORMAS EDUCACIONAS: O QUE MUDA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS? As reformas educacionais no Brasil justificaram-se em nome da boa qualidade do ensino e do desenvolvimento do país. Tal desenvolvimento parece mascarar a estratégia para a manutenção do poder das classes dominantes. A crise econômica que atingiu com maior força os países em desenvolvimento desencadeou no Brasil uma série de reformas. Tais 4 Banco Mundial é composto atualmente por um conjunto de instituições lideradas pelo BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), que abrange quatro outras agências: a IDA (Associação Internacional de Desenvolvimento), a IFC (Cooperação Financeira Internacional), a ICSID (Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre Investimentos) e a MIGA (Agência de garantia de Investimentos Multilaterais). 4 reformas, seguindo, as determinações dos organismos internacionais com o consentimento do governo federal, apresentavamregras padronizadas a todos os credores: As reformas educacionais tiveram um caráter homogeneizante tanto nas leituras das realidades nacionais quanto nas propostas, pretendendo impor uma padronização de ações para a região (América latina). Entretanto, ao refletir sobre aspectos das condições de desenvolvimento dos países, observa-se que essas reformas se processam e sociedades com diferentes culturas políticas que, seguramente, intervêm na concretização da mudança. (KRAWCZYK, 2000, p. 6) Tais reformas atingiram consideravelmente a educação, sem considerar as reais necessidades educacionais de cada país. No Brasil, as maiores reformas ocorreram na gestão do governo FHC, dentro da lógica de desenvolvimento. Para Haddad (2003), o principal traço das ações foi implantar um modelo de reforma do sistema de ensino sem aumentar as despesas, procurando subordinar o sistema educativo às orientações prioritárias da economia. Contudo, suprir a demanda de vagas no sistema de ensino brasileiro tornava-se um grande desafio, haja vista, a manutenção da mesma quantia de recursos financeiros. Esses recursos deveriam atender às necessidades educativas de uma população que aumentava diariamente. Nesse período a política do MEC – Ministério da Educação e Cultura caracterizou-se por ações que determinavam seu campo de atuação: Reformar com menos recursos, aumentando sua produtividade e orientado a aplicação do orçamento; focalizar sua ação, priorizando o ensino fundamental regular apenas para crianças e jovens dos sete aos catorze anos; [...] privatizar alguns setores de ensino particularmente aqueles não priorizados pelas políticas gerais [...] (HADDAD, 2003, p. 74). Com o intenso processo de privatizações, impulsionado pelos acordos do Banco Mundial, que propôs uma série de reformas entre elas à reforma educacional, que disponibilizava recursos através de empréstimos e acordos. Seus credores eram submetidos a regras rígidas e mecanismos de controles que precisam ser seguidos em sua totalidade. Esta é forma que o BM encontra para que os países em desenvolvimento realizem reformas estruturais nas políticas públicas sociais, principalmente no que concerne à educação. No contexto das orientações gerais, inscrevem-se as reformas educativas, de modo a produzir um ordenamento no campo educacional necessário a: a) adequar às políticas educacionais ao movimento de esvaziamento das políticas de bem-estar social; b) estabelecer prioridades, cortar custos, racionalizar o sistema, enfim, embeber o campo educativo da lógica do 5 mercado econômico e c) subjugar os estudos, diagnósticos e projetos educacionais a essa mesma lógica. (HADDAD, 2000 p.11) É possível observar uma forte tendência de alinhamento entre política educacional e política econômica, as reformas são intencionais, planejadas para contribuir na manutenção dos projetos do governo, que conta com o apoio financeiro dos organismos internacionais. No âmbito dessas reformas a EJA, passou a ser modalidade de ensino da educação básica, regulamentada na LDB 9394/96. Mas o distanciamento entre legislação e políticas efetivas permaneceu no plano discursivo não havia distanciamento de políticas pontuais e compensatórias. Na esfera das reformas educacionais, o Presidente Fernando Henrique Cardoso investe no ensino fundamental e deixa a alfabetização de jovens e adultos sob a responsabilidade de uma ONG - Alfabetização Solidária Alfasol: Alfabetização Solidária (AlfaSol) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e de utilidade pública, que adota um modelo simples de alfabetização inicial, inovador e de baixo custo, baseado no sistema de parcerias com os diversos setores da sociedade. A Organização trabalha desde 1996 pela redução dos altos índices de analfabetismo no país (da ordem de 13,6 % segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). Sua missão contempla ainda a ampliação da oferta pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil. Oficialmente essa ação não era financiada diretamente pelo poder público, o discurso apelativo à sociedade pautava-se na adoção de um aluno, uma maneira de tornar o povo brasileiro solidário, mascarando a ausência do poder público na ação educativa dos sujeitos alunos da EJA, transpôs a responsabilidade para pessoas físicas da sociedade brasileira. Dessa forma, o governo eximiu-se da responsabilidade com a educação de jovens, adultos, cujo processo educacional é marcado por descontinuidades constantes. Nesse governo entra em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96. Nesta, a EJA recebe veto presidencial em relação recursos financeiros do FUNDEF. O único ganho é a inclusão da Educação de Jovens e Adultos, como modalidade de ensino da educação básica. Uma grande contradição, ao mesmo tempo em que passa a fazer parte da educação básica, fica fora da política de recursos financeiros desse nível de ensino. Compreender uma política de governo excludente é uma difícil tarefa, visto que, a educação como direito de todos consta na legislação brasileira, desde a Constituição de 1988. É possível 6 constatar que os pequenos avanços ocorridos nesse percurso contribuíram minimamente para o fortalecimento da EJA, haja vista, a existência em todo país de uma demanda educacional reprimida há anos. 2. GOVERNO LULA: AVANÇOS PARA A EJA? Ao assumir o Governo, o Presidente Lula mantém a política educacional para EJA através de programas. Toma como base a Alfabetização Solidária e, em 2003, cria o Programa Brasil Alfabetizado, totalmente financiado pelo MEC, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A fragmentação das políticas públicas educacionais dentro da mesma modalidade de ensino que faz parte da educação básica deveria ser voltada para a classe trabalhadora. Para Paiva (2003), não se trata apenas de qualificar para o trabalho em si, mas na vida na qual se insere o trabalho, pois o público da EJA carrega consigo o mundo do trabalho, contraditoriamente é chamado para qualificar-se em virtude de um mundo do trabalho no qual está inserido, mesmo que precariamente, a partir de sua história de vida, ou seja, o trabalho está intrínseco no cotidiano dessas pessoas. Em 2007 é lançado o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, em substituição ao FUNDF sua abrangência, inclui da educação infantil ao ensino médio, A EJA como também as demais modalidades de ensino. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio. Substituto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o Fundeb está em vigor desde janeiro de 2007 e se estenderá até 2020. ( MEC/2010) Os recursos destinados a EJA foram condicionados a uma proporcionalidade inferior aos demais níveis de ensino. A proporcionalidade desses recursos condicionou-se ao valor destinado a outros níveis de ensino, [...] o fator 0,70 para educação de jovens e adultos com avaliação no processo significa que o valor por aluno/ano para esse segmento corresponde a 70% do valor por aluno/ano dos anos iniciais do ensinofundamental urbano, e assim por diante, de forma que todos os segmentos encontram-se relacionados ao fator base (1,00) atribuído aos anos iniciais do ensino fundamental urbano (segmento mais expressivo, em quantitativo de alunos da educação básica). 7 Com a implantação do FUNDEB, pressupõe avanços para a educação em todos os níveis de ensino, no entanto, percebe-se que desigualdade na destinação dos recursos financeiros para a EJA. Se há democratização e universalização, não abrangem essa modalidade de forma igualitária. A população que não tem acesso às políticas sociais continua com tratamento diferenciado, pois aumenta a demanda, mas a quantidade de recurso permanece a mesma. A intenção do governo é atender a um número maior de alunos sem, contudo aumentar os investimentos em políticas públicas educacionais. 2.2 PROGRAMAS E MAIS PROGRAMAS O investimento em programas emergenciais perdura até os dias atuais. Ao assumir o governo o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lançou em 2003 o Programa Brasil Alfabetizado, que de acordo com o MEC é voltado para: [...] a alfabetização de jovens, adultos e idosos. O programa é uma porta de acesso à cidadania e o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. O Brasil Alfabetizado é desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a 1.928 municípios que apresentam taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%. Desse total, 90% localizam-se na região Nordeste (MEC 2003). Nesse sentido, elevar a escolaridade é necessário que os jovens adultos e idosos que fazem parte do programa sejam inseridos no sistema de ensino, além de alfabetizar, escolarizar, e para escolarizar, as redes de ensino deveriam absorver esses sujeitos, para tanto, precisariam de estrutura didática pedagógico para proporcionar educação de boa qualidade. Para Krawczyk (2000) é necessária a definição de uma política educacional que deva criar condições para o acesso ao conhecimento atualizado e significativo do conjunto da sociedade e a valores que permitam construir uma identidade coletiva democrática. Portanto, uma política educacional que massifica seus objetivos, perde a capacidade de imprimir na educação seu maior objetivo, a formação humana. É importante destacar que a ação pedagógica do programa fica sob a responsabilidade de alfabetizadores voluntários, sem qualificação específica para atuação na área pedagógica. No ano de 2005 é lançado pelo governo federal o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, Programa de caráter experimental regulamentado pelo artigo 81 da LDBN 9394/96, que na proposta original buscava atender jovens de 18 a 24 anos sem a conclusão do ensino fundamental. 8 A experiência-piloto do programa terá duração de 12 meses e visa apoiar jovens com idade entre 18 e 24 anos que tenham feito a 4ª série do ensino fundamental, mas não concluído a 8ª série e que estão fora do mercado de trabalho. Cada participante receberá do governo federal uma bolsa mensal de R$ 100,00 para concluir o ensino fundamental e fazer uma qualificação profissional. Para realizar o ProJovem, a União está autorizada a fazer convênios, acordos e ajustes com os estados, Distrito Federal, municípios e entidades de direito público e privado sem fins lucrativos. (Portal do Mec) Para Rummert (2007) o PROJOVEM representa uma perda para a educação, além de seu caráter assistencialista, representa uma iniciativa que não oferece a juventude efetivo acesso á educação, apenas, a certificação de conclusão do Ensino Fundamental de discutível qualidade. O PROJOVEM constitui um exemplo de ação política que, sob a aparência de inovação, gera a continuidade da submissão ao instituído. O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA surge a partir do Decreto 5.478/2005, revogado em seguida, pois responsabiliza os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia como a única instituição que viabilizaria a execução do programa, assim como, deixou fora da oferta o ensino fundamental na modalidade de EJA. A partir de discussões que denunciavam essa lacuna, esse Decreto logo foi revogado pelo Decreto 5.840/2006, que Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. A abrangência do Decreto 5.840, de 13 de julho de 2006, no Art.1º especifica o campo de atuação do programa: § 3º O PROEJA poderá ser adotado pelas instituições públicas dos sistemas de ensino estaduais e municipais e pelas entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional vinculadas ao sistema sindical (“Sistema S”), sem prejuízo do disposto no § 4º deste artigo. § 4o Os cursos e programas do PROEJA deverão ser oferecidos, em qualquer caso, a partir da construção prévia de projeto pedagógico integrado único, inclusive quando envolver articulações interinstitucionais ou intergovernamentais. (DECRETO 5.840/2006) O PROEJA, também se configura em política temporária, ou seja, política de governo com marcas de transitoriedade. Um programa voltado para um público jovem, adulto trabalhador, que em sua maioria, sequer foram alfabetizados. Sobre programa afirma Moura (2006, p.61): O PROEJA surge, então com a dupla finalidade de enfrentar as descontinuidades e o voluntarismo que marcam a modalidade EJA no Brasil, 9 no âmbito do Ensino Médio e, além disso, integração básica uma formação profissional que contribua para a integração socioeconômica de qualidade desses coletivos. Para minimizar as descontinuidades de estudos dos sujeitos educandos da EJA, é necessário medidas efetivas que se constituam de fato em políticas públicas permanentes. Integrar formação básica com formação profissional é um desafio a ser enfrentado certamente não será sanada através de programas emergenciais. Para que o PROEJA se constitua em uma política consistente, é necessário enfrentar os desafios impostos pela exclusão social, que historicamente tem marginalizado os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos. Firmar compromisso com as políticas educacionais para a EJA, é elevá-la ao patamar de importância dos demais níveis de ensino, considerando ainda, suas especificidades de uma educação de jovens e adultos trabalhadores, que trazem consiga experiências vividas fora do espaço educacional, experiências que se consideradas contribuem com uma aprendizagem significativa. Para Freire (1999, p.38): Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas desmascarcrdora da ideologia dominante. Portanto, o PROEJA deve se constituir de fato em uma política pública consistente, que sua metodologia esteja pautada em uma concepção capaz de imprimir na educação dos sujeitos alunos a formaçãohumana, política, cultural. Pensar a educação apenas para atender ao mercado é manter a ideologia da classe dominante. 3. CONCLUSÃO Constatou-se, com base nos estudos realizados, que durante a década de 90 a Educação de Jovens e Adultos não se configurou em prioridade para o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. O investimento nas políticas públicas para EJA se limitou ao Programa de Alfabetização Solidária, uma ONG, a quem coube a responsabilidade de alfabetizar os jovens e adultos analfabetos do País. Durante as gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva os programas federais ganham força em estados e municípios, o que tornam as políticas públicas que deveriam ser 10 permanentes, políticas pontuais através de programas de governos sem garantia de continuidade. Dessa forma, a EJA ainda é vista como uma educação de menor valor, contrariando o direito subjetivo à educação. Constatou-se ainda, que uma política pública para atender a EJA necessita de investimentos capazes de garantir o acesso dos sujeitos alunos na escola e a permanência com sucesso, além, da continuidade da oferta de estudos aos jovens, adultos e idosos. O caráter de uma política pública compensatória continua presente nas políticas educacionais brasileiras. O fortalecimento dessas políticas é de fundamental importância para que a EJA ultrapasse a condição de campanhas e programas emergenciais. REFERÊNCIAS ALFASOL. http://www.alfasol.org.br/site/affasol.as. Acesso em 11/01/2011. BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional nº. 9394/96. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FRIGOTTO, Gaudêncio. Os circuitos da história e o balanço da educação no Brasil na primeira década do século XXI. 33ª Reunião da ANPED. Caxambu, Brasil, 2010. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. A política de educação profissional no Governo Lula: um percurso histórico controvertido. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 92, 2005b. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302005000300017&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11/01/2011. HADDAD, Sérgio; PIERRO, Maria Clara DI. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira de Educação, mai-ago. Número 014. São Paulo 2000. MOURA, Dante Henrique. O PROEJA e a Rede Federal de Educação e Tecnológica. Salto para o futuro – EJA: formação integrada ao ensino médio, Rio de Janeiro, boletim 16, set. 2006.Acesso em: 12/01/2011 NORA, Krawczyk; CAMPOS, Maria Malta; HADDAD, Sérgio. O Cenário educacional Latino-americano no limiar do século XXI: reformas e debates. Campinas-SP: autores Associados, 2000. NORA, Krawczyk.; WANDERLEY, Luiz Eduardo. In. América Latina: Estado e reforma numa perspectiva comparada. São Paulo: Cortez, 2003. 11 PIERRO, Maria Clara DI. Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas públicas de educação de jovens e adultos no Brasil Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 92, p. 1115- 1139, Especial - Out. 2005 1115 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. Acesso 09/12/2010. PIERRO, Maria Clara DI. As políticas públicas de educação básica de jovens e adultos no Brasil no período de 1985/1989: Tese de doutorado. São Paulo, 2000. PAIVA, Jane. Direito à educação de jovens e adultos: concepções e sentidos. Rio de Janeiro, GT: Educação de Pessoas Jovens e Adultas / n. 18. PAIVA, Jane. Os sentidos do direito à educação de jovens e adultos: Rio de Janeiro, FAPERJ: Petrópolis, 2009. PAIVA, Vanilda. História da Educação popular no Brasil: educação popular e educação de adultos. São Paulo: Loyola, 2003. RUMMERT, Sonia Maria (2007). A Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores brasileiros no Século XXI. O “novo” que reitera antiga destituição de direitos. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 2, p. 43 ISSN 1649 – 4990.
Compartilhar