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Aula 06 Variaes Dialetais e o Ensino de Lngua Portuguesa Cont. Met. e Prtica do Ensino de Lngua Portuguesa

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Aula 06 – Variações Dialetais e o Ensino de Língua Portuguesa – Cont. Met. e Prática do 
Ensino de Língua Portuguesa 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Entender as variações dialetais. 
2. Compreender o impacto das diferenças regionais no aprendizado da língua portuguesa. 
3. Entender o critério de adequação e uso da língua e sua repercussão sociocultural na aprendizagem da 
fala e da escrita. 
4. Identificar o papel do professor no tratamento das diferenças dialetais na construção linguística do 
aluno. 
Nesta aula, vamos chamar a atenção para o conceito de dialeto e destacar as diferenças 
dialetais em razão dos aspectos regionais e socioculturais. Vamos ressaltar a questão do 
certo, do errado e do diferente sob o ponto de vista dialetal na fala e na escrita. Em 
seguida, analisar o papel do professor no tratamento das diferenças dialetais na 
construção linguística do aluno. 
É importante iniciar esta aula dizendo que todos nós, falantes da língua portuguesa no 
Brasil, possuímos diferenças na fala e, em algumas situações, até mesmo na escrita, em 
decorrência das questões geográficas, sociais, históricas, de grupos e familiares que irão 
determinar um estilo, um perfil no modo de falar de cada membro. Desse modo, cada 
brasileiro fala do jeito próprio da região onde vive, a nossa Língua Portuguesa é composta 
por vários dialetos. 
Entende-se por dialeto não apenas as variações de pronúncia, vocabulário e gramática, 
pertencentes a uma determinada língua, mas também, as variedades regionais originadas 
das diferenças de região ou território, de faixas etárias, de sexo, de aspectos sociais, 
históricos e, também, estilísticas. 
Segundo Cagliari (2003): “Todo falante nativo usa sua língua conforme as regras próprias 
de seu dialeto, espelho da comunidade linguística a que está ligado” (p. 18)1. 
Ou seja, cada falante constrói e segue as regras próprias de sua comunidade linguística. 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. Scipione 
Essas diferenças e mudanças no modo de falar de cada grupo social e ou regional tem 
também relações temporais, conforme afirma Cagliari (2003): 
“Os modos diferentes de falar acontecem porque as línguas se transformam ao longo do 
tempo, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes, e os 
indivíduos aprendem a língua ou dialeto da comunidade em que vivem”. (p. 81) 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. Scipione, 2003. 
Por também termos as diferenças entre os sotaques regionais, Lyons afirma que: 
“A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas 
pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os 
dialetos o são. O sotaque e o dialeto de uma pessoa varia sistematicamente segundo a 
formalidade ou informalidade da situação em que se encontra”. (Linguagem e linguística. 
Uma introdução - John Lyons). 
LYONS, John. Linguagem e linguística. Uma introdução. 
Para ilustrar o que citamos, segue texto: Língua Brasileira, de Kledir Ramil 
Língua brasileira 
[...] O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas 
cheio de dialetos diferentes. 
No Rio de Janeiro é “e aí merrmão! CB, sangue bom!” Até em entender que merrmão era “meu 
irmão” levou um tempo. Para conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta com erre, você 
precisa aprender a chiar que nem chaleira velha: “vai rolá umasch paradasch ischiperrtasch”. 
Na cidade de São Paulo eles botam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, 
mas não to inteindeindo o que eu tô veindo”. E no interiorrr falam um erre todo enrolado: “a 
Ferrrnanda marrrcô a porrrteira”. Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles no 
inglês é ótima. 
Em Mins, quer dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora, Doidemais da 
conta, sô! Qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na 
plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: “Muié, pega os trem 
que o bicho tá vindo”. 
No Nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é voinha. E pra 
você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar a primeira sílaba de qualquer 
palavra numa nota mais aguda que as seguintes. As frases são sempre em escala descendente, ao 
contrário do sotaque gaúcho. 
Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoada por 
Nossa Senhora do Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos da Ilha, têm o 
linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho de parede. 
Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôschca). Carne moída é boi ralado. Se você quiser 
um pastel de carne precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, 
é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo eles chamam de 
semente de galinha e motel é lugar de instantinho. [...] 
Ramil, Kledir. Tipo assim. Porto Alegre: RBS Publicações, 2003. p. 75-76. (Fragmento). 
No texto Língua Brasileira, o autor, através do humor, busca demonstrar as diferenças 
dialetais e de sotaques entre as regiões do Brasil. Mas, de modo algum, deve-se pressupor 
uma ideia de que há lugares que se fala e se pronuncia melhor esta ou aquela expressão 
ou palavra. 
Devemos considerar estas diferenças dialetais com o objetivo de não apenas buscar 
entender e aprender tais peculiaridades de cada grupo ou região, mas também, assumir 
uma postura de respeito e permitir que cada indivíduo fale do modo que é próprio ao 
grupo que pertence sem que a comunicação torne-se prejudicada pelo preconceito do 
interlocutor. O que deve ser considerado em questão é o valor da transmissão da 
informação e da compreensão desta no contexto estabelecido. 
Um aspecto que também devemos mencionar com relação ao dialeto é referente ao estilo, 
ou a questão estilística que é determinada pelo contexto de uso da língua. Quanto maior 
o conhecimento ou domínio da língua, a produção do falante pode ser de modo coloquial 
ou formal conforme o ambiente inserido. 
Por exemplo, em situações familiares ou em grupos de amigos, a linguagem coloquial 
seria a mais oportuna. 
Já em grupos acadêmicos, reuniões empresariais, palestras técnicas e audiências 
jurídicas, por exemplo, a linguagem formal seria a mais apropriada. 
Somente para ilustrar a questão da linguagem formal ou informal, veja abaixo o quadrinho 
de Calvin: 
 
WATTERSON, Bill. O melhor de Calvin. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 27 ago. 2002. 
Neste quadrinho, podemos notar a irreverência do personagem Calvin que critica a forma 
pela qual o seriado policial apresenta a linguagem. Percebe-se o uso da língua de modo 
inadequado ao contexto (televisivo, seriado policial), assim como o seriado faz uso de uma 
linguagem fora da época e do cotidiano no qual Calvin está inserido. 
Logo, devemos saber que, para cada momento, para cada espaço social, a fala deve ser 
produzida adequadamente ao contexto de modo que o interlocutor compreenda e possa 
ter sentido para a situação. 
Por isso, o conceito de certo, errado e diferente deve pressupor a relação do falante com 
os espaços sociais, regionais e os níveis formais e informais por ele inserido para que este 
use adequadamente a produção oral sem que estabeleça uma inadequação de sentido. 
É preciso, para isso, que a escola seja o espaço da diversidade, do entendimento, do 
aprendizado dos diferentes modos de produção da fala em seus níveis sociais, regionais e 
históricos para que cada indivíduo, ao conhecer a linguagem própria de cada grupo, saiba 
que todos possuem uma riqueza em sua diferença e característica própria. 
Assim, mais do que aprender a falar a língua portuguesa, o aluno aprenderá a ser um 
falante competente e habilitado a transitaroralmente em todos os grupos sociais. 
Pois, como Freire já dizia, um indivíduo pode até falar “pra mim fazer”, mas cabe à 
escola e ao professor apresentar também o nível formal da língua oral para que, mais 
tarde, este, ao estar em outros grupos de maior prestígio, possa ter o domínio da fala 
“para eu fazer”, entendendo deste modo que a língua e a sua produção têm um caráter 
também político e social, sem que este mesmo falante perca as suas origens e deixe de 
produzir “pra mim fazer” quando estiver de volta ao seu grupo. 
Para aquele que aprende a língua portuguesa, as palavras devem ter a dimensão de 
liberdade de escolha e adequação conforme as necessidades de que o falante tenha para 
suprir a sua comunicação com o interlocutor. Fazer uso da palavra de modo que caiba ao 
falante a sua liberdade pressupõe domínio das estruturas e diversidades para que expresse 
seus pensamentos, ideias, sentimentos, sensações. 
Para expressar-se de forma plena com todas as palavras, o indivíduo deve ser inserido ao 
mundo com toda liberdade, mas também, consciência e criticidade de modo a ser 
coerente e ter clareza na transmissão e construção das frases e ideias. 
Afinal, de acordo com Luft (1993)1, a língua “não é propriedade privada de gramáticos ou 
linguistas, professores, doutores ou escritores” (p.66). 
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. Ática, 1993. 
Logo, o falante nativo da língua não deve ser proibido, cerceado, ou policiado no uso das 
palavras. Nesse sentido, a escola não pode ser um espaço de repressão na fala do aluno. 
Ela deve, sim, considerar que o uso da língua e o aprendizado de outros níveis da língua, 
sejam eles, formais ou informais, pressupõem liberdade de expressão. 
Em contrapartida, com relação à escrita, nós temos regras normativas padronizadas e que 
devem, sim, serem respeitadas e seguidas na construção de textos diversos, pois, num 
país de dimensões continentais como o Brasil e com tanta diversidade regional e social, 
se tivéssemos diferenças nos textos escritos, teríamos muita dificuldade de compreensão 
das informações, principalmente, em situações formais da língua, como por exemplo: 
• Livros didáticos, técnicas, literários (estes têm a liberdade de poder representar os 
espaços sociais, históricos e regionais de seus personagens); 
• Receituário, cartas e documentos de órgãos públicos e privados; 
• Além dos textos jurídicos e outras situações que requerem a produção formal da 
língua escrita. 
“Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo 
ortográfico de escrever as palavras, independente dos modos de falar dos dialetos, mas 
que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao modo de seu dialeto” 
(Luiz Carlos Cagliari. 2003. 32) 
Na verdade, ao estabelecer um padrão convencional para a escrita, não se pretendia e 
não devemos prever um cerceamento e controle social da língua e determinar o que é 
certo ou errado na fala e na escrita. Convencionou-se assim, na escrita, por uma questão 
de facilitar a todos os falantes uma forma de escrita que evite desentendimento, 
incoerência e inexatidão nas informações que se quer transmitir. 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. Scipione, 2003. 
Nesse sentido, a escola tem um papel importante na definição das diferenças entre a 
produção oral e escrita. Ao professor cabe informar e apresentar ao aluno as diferenças 
entre a fala e a escrita, demonstrando que cada um pode sim produzir conforme a sua 
comunidade linguística na qual ele está inserido, mas que ao escrever deve saber que 
precisa obedecer uma regra – a da escrita – para não cometer erros de coerência e coesão 
que tornam o texto de difícil leitura e entendimento. 
Devemos nos lembrar de que a forma de escrever precisa ser uniforme, homogênea, 
mesmo existindo tantas variedades linguísticas. 
Para entender melhor tudo o que foi dito em nossa aula, finalizaremos com uma citação 
do professor e filólogo Celso Cunha. 
EXERCÍCIO 
Texto para a questão 1: 
Luz sob a porta 
- E sabem que que o cara fez? Imaginem só: me deu a maior cantada! Lá, gente, na porta de minha 
casa! Não é ousadia demais? 
- E você? 
- Eu? Dei telogo e bença par ele; engraçadinho, quem ele pensa que eu era? 
- Que eu fosse. 
- Quem tá de copo vazio aí? 
- Vê se baixa um pouco essa eletrola, quer pôr a gente surdo? 
(VILELA, Luiz. Tarde da noite. São Paulo: Ática, 1998. p. 62.) 
1 – O padrão de linguagem usado no texto acima sugere que se trata de um falante: 
( ) escrupuloso em ambiente de trabalho 
( x ) ajustado às situações formais 
( ) rigoroso na precisão vocabular 
( ) exato quanto à pronúncia das palavras 
( ) contrário ao uso de expressões populares. 
Texto para a questão 2: 
Pressa 
Só tenho tempo pras manchetes no metrô 
E o que acontece na novela 
Alguém me conta no corredor 
Escolho os filmes que eu não vejo 
no elevador 
Pelas estrelas que eu encontro na crítica do leitor 
Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa 
Mas nada tanto assim 
Eu me concentro em apostilas 
coisa tão normal 
Leio os roteiros de viagem 
enquanto rola o comercial 
Conheço quase o mundo inteiro 
por cartão-postal 
Eu sei de quase tudo um pouco 
e quase tudo mal 
Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa 
mas nada tanto assim 
Bruno & Leoni Furtado. Greatest Hits ’80. WEA 
2 – Identifica-se termo da linguagem informal em: 
( x ) “Leio os roteiros de viagem enquanto rola o comercial.” (v. 14-15) 
( ) “Conheço quase o mundo inteiro por cartão-postal!” (v. 16-17) 
( ) “Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal.” (v. 18-19) 
( ) “Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa mas nada tanto assim.” (v. 20-21) 
 
Síntese da Aula 
Neste aula, você: 
• Compreendeu o conceito de dialeto e destacou as diferenças dialetais em razão dos aspectos 
regionais e socioculturais. 
• Aprendeu também o quanto é relevante o critério de adequação e uso da língua e sua 
repercussão sociocultural na aprendizagem da fala e da escrita. 
• Assimilou também a importância de se compreender a questão do certo, do errado e do 
diferente sob o ponto de vista dialetal na fala e na escrita. 
• Percebeu o papel do professor no tratamento das diferenças dialetais na construção linguística 
do aluno.

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