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Aula 07 – Variedade de Gêneros Discursivos como Objeto de Ensino – Cont. Met. e Prat. de Ensino da Língua Portuguesa 1. Entender o conceito de gêneros discursivos; 2. Conscientizar-se da importância de trabalhar a leitura de gêneros variados de textos na formação do leitor competente; 3. Compreender a diversidade de enunciados nas modalidades de usos da língua portuguesa. Introdução Nesta aula, vamos chamar a atenção para importância de trabalhar a leitura de gêneros variados de textos na formação do leitor competente. Vamos ressaltar a questão da diversidade de enunciados nas modalidades de usos da língua portuguesa. Em seguida, analisar o papel do professor na apresentação dos gêneros textuais. Variedade de gêneros discursivos como objeto de ensino Ao tratarmos da questão dos gêneros discursivos, precisaremos iniciar a apresentação dessa aula com um texto extraído dos PCNs de Língua Portuguesa a respeito da prática de produção de textos: “Para aprender a escrever, é necessário ter acesso à diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz da escrita em diferentes circunstâncias, defrontar- se com as reais questões que a escrita coloca a quem se propõe produzi-la, arriscar-se a fazer como consegue e receber ajuda de quem já sabe escrever. Sendo assim, o tratamento que se dá à escrita na escola não pode inibir os alunos ou afastá-los do que se pretende; ao contrário, é preciso aproximá-los, principalmente quando são iniciados “oficialmente” no mundo da escrita por meio da alfabetização. Afinal, esse é o início de um caminho que deverão da cultura escrita.” Se o objetivo é formar cidadãos capazes de utilizar a escrita com eficácia, que tenham condições de assumir a palavra – também por escrito – para produzir textos adequados, é preciso organizar o trabalho educativo para que experimentem e aprendam isso na escola. É necessário, portanto, ensinar os alunos a lidar tanto com a escrita da linguagem – os aspectos notacionais relacionados ao sistema alfabético e às restrições ortográficas – como com a linguagem escrita – os aspectos discursivos relacionados à linguagem que se usa para escrever. Para tanto, é preciso que, tão logo o aluno chegue à escola, seja solicitado a produzir seus próprios textos, mesmo que não saiba grafá-los, a escrever como lhe for possível, mesmo que não o faça convencionalmente. Quando se analisam as principais dificuldades de redação nos diferentes níveis de escolaridade, frequentemente se encontram narrações que “não contam histórias”, cartas que não parece cartas, textos expositivos que não expõem ideias, textos argumentativos que não defendem nenhum ponto de vista. Além disso, e apesar de todas as correções feitas pelo professor, encontram-se também enormes dificuldades no que diz respeito à segmentação do texto em frases, ao agrupamento dessas em parágrafos e à correção ortográfica. Uma das prováveis razões dessas dificuldades para redigir pode ser o fato de a escola colocar a avaliação como objetivo da escrita.” (págs. 66 a 68). A partir deste texto, podemos perceber que a prática de produção de textos em sala de aula perpassa não somente pela valorização do que cada aluno produz, como também, pela importância em se valorizar a diversidade de gêneros discursivos que circulam tanto no nível formal quanto informal para que o aluno identifique as diferenças e aprenda que para cada contexto social, há um tipo, um estilo de texto escrito que deve se adequar ao memento. EXERCÍCIO A sombra do meio-dia A Sombra do Meio-Dia é o belo título de um romance lançado recentemente, de autoria do diplomata Sérgio Danese. O libro trata da glória (efêmera) e da desgraça (duradoura) de um ghost-writer, ou redator-fantasma – aquele que escreve discursos para outros. A gloria do ghost-writer de Danese adveio do dinheiro e da ascensão profissional e social que lhe proporcionaram os serviços prestados ao patrão – um ricaço feito senador e ministro, ilimitado nas ambições e limitado nos escrúpulos como soem ser as figuras de sua laia. A desgraça, da sufocação de seu talento literário, ou daquilo que gostaria que fosse talento literário, posto a serviço de outrem, e ainda mais um outrem como aquele. As exigências do patrão, aos poucos, tornaram-se acachapantes. Não são apenas discursos que ele encomenda. É uma carta de amor a uma bela que deseja como amante. Ou um canto, com que acrescentar, às delícias do dinheiro e do poder, a glória literária. Nosso escritor de aluguel vai se exaurindo. É a própria personalidade que lhe vai sendo sugada pelo insaciável senhorio. Na forma de palavras, frases e parágrafos, é a alma que põe em continuada venda. Roberto Pompeu de Toledo, Revista VEJA, ed. 1843, 3 de março de 2004. Ensaio p. 110. O texto foi escrito com o objetivo de: ( ) conscientizar o leitor. ( x) apresentar sumário de uma obra. ( ) opinar sobre um livro ( ) dar informações sobre o autor. ( ) narrar um fato científico. A diversidade de textos escritos que circulam, antes de ser um empecilho e uma dificuldade para o professor em apresentar e elaborar atividades significativas ao aluno, deve ser um estímulo e uma fonte de pesquisa tanto da parte do professor como do aluno, pois ao longo do tempo tem surgido novas práticas textuais em nosso ambiente. Um exemplo dessas novidades de gêneros textuais ou também chamados de gêneros digitais são os e-mails, blogs, os chats, os atuais tablets e tantas outras mídias que produzem a forma escrita num nível mais informal e com novas ou diferentes formas de se escrever. Com o advento da Internet, todos nós podemos acessar diversos tipos de informações através de janelas que se abrem denominadas homepages, dentro desta janela qualquer pessoa pode acessar textos, parágrafos, trechos, páginas, ou apenas palavras num processo que vai formando uma cadeia ou links que tecem o caminho para mais informações e vamos, assim, ampliando as informações num encadeamento de textos no qual denominamos a todo este processo de hipertexto. Ou seja, o hipertexto permite produzir e interpretar as informações de modo não linear, pois simultaneamente acessamos uma diversidade de textos a partir de um único e primeiro texto que foi o ponto de partida para esta série de operações e de interações pela Internet. Aliás, nesses novos espaços, muito tem se discutido o nível e a forma de se escrever a língua portuguesa. Muitos gramáticos, estudiosos, professores, além de pessoas comuns criticam o formato e dizem que muitas crianças e jovens estão desaprendendo o “português”, pois escrevem de modo “errado”. Se lembrarmos de nossas últimas aulas, a noção de certo e errado, e a questão dos níveis formais e informais dependem muito dos diversos contextos situacionais, assim como a capacidade de discernimento do falante da língua. Devemos recordar que cada momento social de uma comunidade falante, as crianças e os jovens sempre inovam, criam e burlam, de modo criativo e diferente, as normas da língua. Sempre teremos inovações tanto na fala quanto na escrita, já que a língua é fruto dos aspectos sociais e geográficos que modificam-se ao longo do tempo. O que devemos levar em consideração no trabalho com a produção de gêneros discursivos é criar condições necessárias e ambiente adequado para que os textos surjam em cada fase do aprendizado do aluno de modo que este possa construir a partir das diversas leituras de textos e da sua produção uma maior e melhor capacidade linguística e ter uma visão de mundo mais ampla e crítica. Para tal fim, é necessário que o professor seja um leitor efetivo, que goste de ler e produzir textos, que estude e conheça os diversos gêneros textuais e saiba o lugar de cada um conforme a necessidade de comunicação. De acordo com Koch (2002: 53): O contato com os textos da vida cotidiana, como anúncios, avisosde toda a ordem, artigos de jornais, catálogos, receitas médicas, prospectos, guias turísticos, literatura de apoio à manipulação de máquinas, etc., exercita a nossa capacidade metatextual para a construção e intelecção de textos.(Grifos nossos). KOCH, Ingedore G. Villaça. Os gêneros do discurso e a produção textual na escola. Campinas: UNICAMP, [mimeo]. Nessa perspectiva, é função do professor, enquanto agente de letramento, criar situações de familiarização ou inserção dos alunos nas práticas de usos da escrita que informam ou integram esses mais diversos espaços ou situações interativas da vida diária. Antes de continuarmos com a nossa aula, é relevante definirmos aquilo que é o tema de nosso assunto: Gêneros discursivos. O escritor russo Mikhail Bakhtin foi o primeiro autor a fazer uso do conceito de “gênero” com o objetivo de definir todas as práticas orais e escritas da linguagem. Num de seus textos, Bakhtin apresentou a seguinte definição para os “gêneros discursivos”: “Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de se surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e sobretudo, por sua construção gramatical. Esses três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual. Mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.” (p.279) Bakhin, Mikhail. Os gêneros do discurso. Estética da criação verbal. 3. Ed. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Desse modo, aprendemos que: O termo discurso refere-se à relação entre os usos da língua e os fatores extralinguísticos presentes no momento em que esse uso ocorre. Ou seja, o gênero, discursivo pressupõe uma interação por meio da linguagem através de recursos presentes no cotidiano do usuário da língua que faz uso daquilo que melhor se apresenta ao momento situacional. Os gêneros discursivos são estruturas padrões de composição de texto determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo tipo de público a que se destinam, por sua finalidade, pelo tipo de público a que se destinam, por sua finalidade, pelos espaços de circulação, além de outros aspectos. São exemplos de gêneros: revistas científicas, histórias em quadrinhos, receitas de culinária, anúncios, documentos, contos, poesias, charges, bilhetes, cartas, e-mails, blogs entre outros. Para cada momento da comunicação, seja verbal ou escrito, o indivíduo precisa saber que há uma especificidade, um gênero discursivo que determina os contextos interacionais. Os espaços sociais (família, clubes, escolas, parques, além de outros) promovem e estimulam a interação de gêneros discursivos específicos que devem ser estimulados e ampliados no espaço escolar. Ou seja, a produção de textos que permeiam estes ambientes deve sim fazer parte da vida escolar do aluno de modo que este perceba o quanto faz sentido ampliar o seu contexto de produção oral e escrita. Cabe também à escola ampliar o horizonte discursivo do aluno, não apenas na leitura, mas também, estimulando a produção de textos com caráter jornalístico, científico, investigativo, literário, além de resenhas, resumos que podem ser produzidos a partir de textos similares. Para tanto, o professor deve ser um produtor de criticidade e formação destas leituras para que o aluno se familiarize e tenha competência e habilidade na diversidade de gêneros textuais. Ainda com relação à produção do texto, deve-se entender que a palavra isolada, a oração pura e simples não formam um sentido, um enunciado, ou seja, não se constituem um ato comunicativo em si, pois para que tal ato ocorra é necessário que haja uma intencionalidade, tem que haver uma situação discursiva, uma resposta na interlocução para que as especificidades da palavra, da oração sejam carregadas de sentido e provoquem uma atitude, um enunciado concreto e completo. Nesse sentido, quanto maior for o contato do aluno com os diferentes tipos de texto, quer sejam de situações informais do cotidiano, quer sejam de situações mais formais ou complexas (textos científicos, literários, teatro...) maior será a sua capacidade de identificar e de refletir sobre os mecanismos linguísticos e extralinguísticos que constituem o processo comunicativo. Atenção! Importante deixar claro que toda produção discursiva na escola não pode ser apenas um mero processo de avaliação e de atividades escolarizadas sem que se atinjam o objetivo maior que é o ato comunicativo pleno. Afinal, produzir linguagem significa produzir discursos que não podem ser compreendidos sem que se considerem seus vínculos com a situação concreta de produção. Assim, como iniciei nossa aula, também gostaria de finalizá-la com mais um trecho dos PCNs: “Interagir pela linguagem significa realizar uma atividade discursiva: dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um discurso não são aleatórias, ainda que possam ser inconscientes, mas decorrentes das condições em que o discurso é realizado. Quer dizer: quando um sujeito interage verbalmente com outro, o discurso se organiza a partir das finalidades e intenções do locutor, dos conhecimentos que acredita que o interlocutor possua sobre o assunto, do que supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm, da posição social e hierárquica que ocupam. Isso tudo determina as escolhas do gênero no qual o discurso se realizará, dos procedimentos de estruturação e da seleção de recursos linguísticos. É evidente que, num processo de interlocução, isso nem sempre ocorre de forma deliberada ou de maneira a antecipar-se à elocução. Em geral, é durante o processo de produção que as escolhas são feitas, nem sempre (e nem todas) de maneira consciente. O discurso, quando produzido, manifesta-se linguisticamente por meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma sequência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. Caso contrário, não passa de um amontoado aleatório de enunciados. A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. A esta relação entre o texto produzido e os outros textos é que se tem chamado intertextualidade. Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindoformas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura.” (págs. 20-21) EXERCÍCIO Texto I Carta (Fragmento) A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. O que fere a terra fere também os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará. Carta do cacique Seattle ao presidente dos EUA em 1855. Texto de domínio público distribuído pela ONU. Texto II Dicionário de Geografia (Fragmento) Segundo o geógrafo Milton Santos: “o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho”. E “o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções”. GIOVANNETTI, G. Dicionário de Geografia. Melhoramentos, 1996. Os dois textos diferem, essencialmente, quanto ( ) à abordagem mais objetiva do texto I. ( x ) ao público a que se destina cada texto. ( ) ao rigor científico presente no texto II. ( ) ao sentimentalismo presente no texto I. ( ) tema geral abordado por cada autor. Síntese da Aula Nesta aula, você aprendeu: • Compreendeu o conceito de gêneros discursivos. • Aprendeu também a importância de trabalhar a leitura de gêneros variados de textos na formação do leitor competente. • Assimilou também o papel do professor na apresentação dos gêneros textuais. • Percebeu que o aprendizado da língua também se faz na diversidade de enunciados nas modalidades de usos da língua portuguesa.
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